Dez anos de escolhas em Portugal: quatro gerações, uma oportunidade
O Programa Escolhas é um programa de âmbito nacional focado na promoção da
inclusão social de crianças e jovens de contextos socioeconómicos mais
vulneráveis, nomeadamente, descendentes de imigrantes e minorias étnicas, para
a igualdade de oportunidades e o reforço da coesão social. É tutelado pela
Presidência do Conselho de Ministros dependendo diretamente do Secretário de
Estado Adjunto do Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares e está
integrado no Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural.
Foi criado em 2001 e compreende quatro fases de desenvolvimento: a primeira
fase entre 2001 e 2003, designada por Programa para a Prevenção da
Criminalidade e Inserção de jovens dos bairros mais problemáticos dos
distritos de Lisboa, Porto e Setúbal, a qual abrangeu 6712 destinatários; a
segunda fase entre 2004 e 2007, a qual compreendeu o Programa Escolhas ' 2ª
Geração (E2G), com dimensão nacional e redirecionada para a promoção da
inclusão, que contemplou 87 projetos, 412 instituições 394 técnicos, e abrangeu
43200 destinatários; a terceira fase entre 2007 e 2009, a qual deu continuidade
ao modelo de consórcio adotado no E2G, compreendeu 121 projetos, 71 concelhos,
780 instituições, 480 técnicos, e abrangeu no total 81695 destinatários; por
fim, a quarta fase ainda a decorrer com início em 2010 e fim previsto em 2012,
designada por 4ª Geração, inclui 130 projetos, com possibilidade de
desenvolver mais 10 projetos experimentais, e cujo número total de
destinatários será contabilizado no final.
Na comemoração dos 10 anos de Programa Escolhas foram compilados e publicados
num livro os testemunhos de alguns destinatários e beneficiários dos projetos
distribuídos por todo o país.
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
A experiência dos indivíduos e fatores relacionados com o seu envolvimento
físico e social podem, por um lado, promover o desenvolvimento de
comportamentos de risco ou, por outro, atuar como fatores promotores de um
desenvolvimento saudável e positivo. Assim sendo torna-se fundamental o reforço
de escolhas saudáveis ao nível dos estilos de vida que deve passar por uma
reorganização do ambiente físico, social, cultural e económico. A literatura
tem-se interessado pelo estudo das capacidades adaptativas das pessoas face a
condições adversas, isto é, perceber porque indivíduos diferentes se comportam
de modo diferente face à mesma situação stressante e utilizam respostas
adaptativas diferentes. Um dos conceitos emergentes dos estudos é a
resiliência (Werner & Smith, 2001). Windle (1999) define a resiliência
como a adaptação com sucesso às tarefas da vida em condições de desvantagem
social ou situações fortemente adversas. Esta adaptação perspetiva-se sob a
forma de um processo ou resultado de processos que permitem ultrapassar riscos
significativos (Luthar, Cicchetti, & Becker, 2000; Trzesniak, Libório,
& Koller, 2011).
Estes riscos são especialmente significativos quando se acumulam e interferem
no bom ajustamento a nível psicológico e social dos indivíduos. A investigação
nesta área tem mostrado que a combinação de quatro factores de stress
quadruplica a probabilidade de desajustamento em relação à combinação de três
factores de stress. Esta hipótese, conhecida como risco acumulado (Rutter,
1987), refere que o número de factores de risco parece ter mais peso no
ajustamento psicossocial dos indivíduos do que propriamente no tipo de
problemas (Simões, Matos, Tomé, & Ferreira, 2008). Quando assim acontece
torna-se fundamental a implementação de mecanismos protectores para fazer face
ao risco. Rutter (1984, 1987) aponta quatro processos de proteção que conduzem
à resiliência. O primeiro processo envolve a redução do impacto dos fatores de
risco no indivíduo. Segundo o autor, este processo é um mecanismo crucial que
pode ocorrer de duas formas: alterando o significado ou o perigo que esse fator
representa para o indivíduo, ou alterando a exposição do indivíduo à situação
de risco ou o seu envolvimento próximo com essa situação. Um segundo mecanismo
apresentado envolve a redução das consequências negativas da exposição: as
consequências da exposição ao risco são geralmente nefastas, traduzindo-se
assim em mais risco. Esta reação cíclica de causa-efeito tem consequências
adversas a longo prazo, como será de esperar. Um outro processo protetor
envolve a promoção da auto estima e da auto eficácia, salientando Rutter neste
âmbito o papel fundamental das relações seguras e harmoniosas na proteção
contra envolvimentos de risco, na promoção de um sentimento de valor pessoal e
na crença de saber lidar com sucesso com os desafios que a vida coloca. Por
último, o autor fala na abertura de oportunidades que muitas vezes constituem
pontos de viragem na vida dos indivíduos. Estas oportunidades poderão traduzir-
se na participação em atividades, ou programas, que promovam o desenvolvimento
de competências sociais e o investimento em atividades pró-sociais. Estas
oportunidades poderão ainda aumentar as expectativas em relação ao futuro e,
simultaneamente, o esforço e a persistência para alcançar os objetivos. Para
além destes processos, Rutter (1984) salienta ainda como aspeto fundamental
para a resiliência, a capacidade de saber resolver problemas e a capacidade de
saber lidar com a mudança.
Neste âmbito, múltiplos programas têm surgido com o objectivo de optimizar um
ou vários aspectos da competência pessoal e social: comunicação verbal e não-
verbal, gestão de problemas, gestão de emoções, promoção da assertividade;
promoção de competências sociais simples e complexas (Matos, 2005) e, mais
recentemente, promoção da resiliência em si (Simões, Matos, Tomé , Ferreira,
& Equipa do Projecto Aventura Social, 2009 a e 2009 b) ou promoção da auto-
regulação e da aquisição e manutenção de uma rede social de apoio (Matos &
Sampaio, 2009; Matos, et al., 2011; Matos, et al., 2012; Matos & Tomé,
2012a, 2012b).
Segundo Brooks (2006) a resiliência é um fenómeno ecológico, ou seja,
desenvolve-se através da interação com os vários contextos onde o indivíduo se
encontra inserido, como sejam a família, a escola, os vizinhos e a comunidade.
O Modelo Conceptual da Resiliência e Desenvolvimento na Adolescência de Benard
constitui precisamente um dos modelos que assenta numa perspectiva ecológica
sistematizando a interação entre os vários fatores de resiliência, como sejam,
os recursos ambientais e os recursos internos (Institute of Education Sciences,
2007). Segundo o modelo, os recursos ambientais disponíveis nos principais
contextos de vida, tais como, na família, na escola, nos pares e na comunidade,
promovem resultados positivos nas áreas da saúde, a social e académica, e
desencorajam o envolvimento em comportamentos de risco ou que comprometem o
desenvolvimento positivo (Simões, Matos, Tomé, Ferreira, & Equipa Aventura
Social, 2009; Simões, Matos, Ferreira, & Tomé, 2009).
Benard (1995) destaca a importância dos seguintes processos de proteção em cada
um desses contextos: a importância das relações de afeto com adultos
significativos, as expetativas positivas e elevadas, e as oportunidades de
participação significativa.
A ligação afetiva com pessoas nos contextos significativos (o pai, a mãe, um
irmão, um amigo, um professor, um técnico de saúde) irá permitir ao jovem obter
suporte para um desenvolvimento saudável, sendo que, a existência de pelo menos
uma pessoa de apoio, é um dos fatores mais importantes para um bom ajustamento
face ao risco.
As expetativas elevadas são outro fator importante que promove processos de
proteção, sendo que, o sentimento de que os outros esperam algo de positivo do
jovem e acreditam que este seja capaz de fazer o seu melhor, conduz os
indivíduos a desenvolver sentimentos de auto estima, autoeficácia, autonomia e
otimismo.
Como consequência das expetativas elevadas as oportunidades de participação
aparecem nos contextos significativos, levando a desenvolver um sentido de
pertença e de responsabilidade e a capacidade de tomada de decisões.
De acordo com o modelo de Benard (Institute of Education Sciences, 2007), os
recursos ambientais desencadeiam o desenvolvimento de recursos internos como a
cooperação e a comunicação, a empatia, a resolução de problemas, a auto
eficácia, o auto conhecimento, os objetivos e aspirações e a auto estima.
As competências de cooperação e comunicação estão associadas à flexibilidade
nas relações, à capacidade de trabalhar com os outros, de transmitir informação
e ideias e de expressar sentimentos e necessidades aos outros
A capacidade de cooperação envolve a entreajuda e a união de ações para atingir
objetivos comuns.
As competências de comunicação compreendem o comportamento verbal e não-verbal
(postura, gestos, expressão facial, etc.), o comportamento para linguístico ou
para verbal (aspetos associados à voz, como a velocidade, o volume, o tom, o
timbre, etc.) e a comunicação assertiva (lidar competentemente com os outros em
situações que podem criar problemas para o próprio e para o outro).
A empatia traduz-se na compreensão e preocupação com as experiências e
sentimentos dos outros, e é considerada como um factor essencial para o bem-
estar pessoal e social. Pode ser dividida em dois tipos: a cognitiva,
relacionada com a capacidade de compreender o ponto de vista das outras
pessoas, e a afetiva, por sua vez relacionada com a capacidade de experimentar
reações emocionais através da observação ou conhecimento de situações que
envolvem outras pessoas.
A resolução de problemas é entendida como a capacidade de planear, pensar
criticamente, refletir e examinar de forma criativa várias perspetivas antes de
tomar uma decisão ou realizar uma ação. As competências de resolução de
problemas parecem ter um papel fundamental na avaliação de riscos, avaliação de
recursos, e na procura de envolvimentos ou relações mais saudáveis, bem como na
criação de planos realistas, aspectos essenciais para a adaptação e resiliência
A auto eficácia entende o sentimento de valor pessoal e da crença de saber
lidar com sucesso com os desafios que a vida coloca, revelando-se determinantes
na forma como as pessoas enfrentam os problemas. Os indivíduos com uma forte
crença na sua eficácia reconhecem e valorizam as suas competências, têm mais
confiança para iniciar o confronto com as situações, desenvolvem mais esforços,
diversificam as estratégias para lidar com as situações e persistem mais
perante obstáculos e problemas que surjam no confronto com as situações
problemáticas
O auto conhecimento é o conhecimento e a compreensão de nós próprios, no qual
se inclui a compreensão de como determinadas situações podem influenciar o
nosso comportamento, sentimentos e humor, bem como, as alterações que ocorrem.
O autoconhecimento parece assim ser uma realização, ao invés de algo dado ou
prontamente disponível ao sujeito. Para se conhecer a si mesmo, o sujeito
precisa de analisar, reflectir e interpretar os seus pensamentos, acções,
posições individuais e sociais.
Os objetivos e aspirações estão associados a qualidades como objetivos para o
futuro, motivação, expetativas de um futuro melhor, sentido de antecipação e
coerência. Ter objectivos e aspirações constitui um aspecto determinante para a
participação activa dos adolescentes na construção da sua história de vida, o
que por sua vez requer intencionalidade, antecipação, ação, regulação e
avaliação.
Os principais objetivos deste trabalho são:
1) Identificar os recursos internos e externos percebidos pelos indivíduos
decorrentes da participação nos projetos do Programa Escolhas e compreender a
importância/o impacto da participação nos vários contextos da vida dos
indivíduos;
2) Identificar os recursos reconhecidos pelas famílias e pelos profissionais
envolvidos.
MÉTODO
Participantes
A amostra total é composta por 365 sujeitos / depoimentos incluídos no livro
comemorativo dos 10 anos do Programa Escolhas: 149 são crianças e jovens, 40
são familiares das crianças e dos jovens e 126 técnicos dos projetos que
integram o Programa Escolhas e ainda 50 parceiros, representantes das entidades
parceiras.
Procedimentos
Considerando os objetivos deste estudo exploratório e descritivo, optou-se por
uma metodologia qualitativa na análise da informação relatada através de 365
testemunhos escritos. Para tal, partindo das categorias ilustradas por Benard
(Institute of Education Sciences, 2007) procedeu-se a uma leitura exaustiva dos
testemunhos escritos, com vista a verificar se as categorias referidas por
Benard se adequavam e esgotavam o conteúdo dos textos, e se novas (ou
diferentes) categorias emergiriam. Trechos ilustrativos das categorias foram
seleccionados (Caregnato & Mutti, 2006). Os trechos assim classificados
obtiveram o acordo de três investigadores.
Análise de dados
Os discursos foram integralmente analisados procedendo-se então à confirmação
de categorias, tendo por base, o já referido Modelo Conceptual da Resiliência e
Desenvolvimento na Adolescência de Benard (Institute of Education Sciences,
2007), que serviu de base à análise dos discursos.
RESULTADOS
Os resultados são apresentados através de categorias de análise contendo
extratos do discurso dos próprios participantes, das crianças e jovens, das
famílias, dos técnicos e dos parceiros.
RECURSOS INTERNOS DOS JOVENS
Nos recursos internos consideraram-se as seguintes categorias: capacidade de
cooperação e comunicação, empatia, resolução de problemas, autoeficácia, auto
conhecimento, os objetivos e as aspirações.
Na categoria capacidade de cooperação encontramos um discurso que reflete a
preocupação dos indivíduos que participaram nos projetos de, por um lado,
apoiar as equipas técnicas para retribuir o benefício próprio que já receberam,
e por outro, contribuir para melhorar a vida de outros através de um objetivo
comum:
Foi a frequentar o Mais jovem, que me apercebi o quanto podemos crescer ao
ajudar os outros. Por isso mesmo procuro fazer trabalhos de voluntariado,
durante todo o ano, contribuindo também para a melhoria da qualidade de vida
das outras pessoas. (p 8)
Eu faço a minha parte, participo em todas as atividades e ajudo os outros
colegas a estudar. (p.12)
Hoje estamos unidos em prol de um objetivo: aprendermos uns com os outros.
(p.15)
Tento sempre fazer pelo projeto tanto quanto ele fez por mim. (p.24)
Procuro retribuir o que o projeto tem feito por mim e, como tal, tenho uma
participação ativa em todas as atividades. (p.26)
Os participantes identificam como um dos benefícios do projeto a melhoria da
capacidade de comunicar tanto na forma de se relacionarem com os outros, como
no aumento da facilidade de falar de si próprio e ou de se expor.
( ) também consegui melhorar as minhas capacidades para comunicar eficazmente
com os outros. (p.13)
Agora até consigo expressar os meus sentimentos sem chorar e esforçar-me mais
para alcançar os meus objetivos. (p.16)
Tenho aprendido a saber estar, saber falar e a respeitar os mais velhos, que
era uma coisa que eu nunca soube fazer. (p.17)
Aprendi a ser mais sociável, pois tinha problemas nesse âmbito tinha sempre
receio de trabalhar em grupo e de enfrentar as pessoas em geral. Desde que que
o projeto me ajuda, já consegui apresentar três peças de teatro e enfrentar o
público sem medos. (p.41)
O projeto ajudou-me a compreender melhor as coisas da vida a socializar e a
partilhar. (p.9)
Os participantes nos vários projetos revelam ter melhorado a sua empatia face
às dificuldades dos outros, destacando-se as económicas e as sociais.
Gosto também de poder ajudar quem precisa mais do que eu ajudar é uma
experiência inesquecível. (p.10)
Tento sempre incentivar os mais novos a recorrer ao projeto, pois é lá que
eles vão ter oportunidades, bons conselhos e mais recursos para avançarem na
sua formação. (p.13)
Melhorou a convivência social, pois hoje sou uma pessoa mais atenta aos
problemas dos outros. (p.42)
Aprendi a pôr-me no lugar do outro, a respeitar as outras culturas e até a
falar uma nova língua. (p.45)
Os indivíduos relacionam a participação nos projetos com a capacidade de
resolver e perceber os problemas, nomeadamente, ao nível pessoal, académico e
profissional.
O projeto ajudou-me a compreender melhor as coisas da vida, a socializar mais
e a partilhar. (p.9)
Ajudou-me a crescer, mudou a minha maneira de agir e, hoje, já consigo ter uma
postura mais calma perante os problemas. (p.19)
Atualmente, consigo resolver mais facilmente os problemas, sou uma pessoa mais
extrovertida, animada, sociável. (p.25)
Para além do apoio na escola, ajudou-me a lidar com os problemas insuportáveis
que tinha em casa e a entrar num caminho mais promissor a nível profissional.
(p.40)
Os indivíduos parecem percecionar-se como mais auto eficazes na resolução de
problemas, revelando nos discursos que se consideram agentes quando precisam de
enfrentar os problemas, e referem-no como benefício ao nível pessoal, académico
e profissional.
Evoluí como pessoa e sou hoje bastante autónomo a tomar as minhas decisões,
assim como a tratar das burocracias que enfrentamos diariamente. (p. 13)
O Escolhas tem um significado enorme na minha vida. Muito do que sou hoje devo
ao projeto, pois conheci pessoas que me orientaram para um bom caminho. (p. 7)
O projeto ajudou-me a descobrir que somos todos diferentes uns dos outros e
temos mesmo que saber lidar com essa realidade. (p. 15)
O projeto mudou a minha vida ao evitar que eu me metesse em confusões. (p.17)
O Intercool ajudou-me a descobrir que a escola pode ser mais fácil do que
parece. (p.18)
Acerca do auto conhecimento, nos discursos dos participantes esta categoria é
muito frequente e quase todos os indivíduos referem a importância do projeto na
forma como se vêm a si próprios e na influência das alterações que sofreram
para as outras áreas da sua vida, como sejam, social, académica e profissional.
Neste projeto passei a valorizar a minha formação académica, tirei um curo
dentro da área de informática, o qual já serviu para conseguir um emprego
dentro desta área, que adoro. (p.6)
Aprendi que, só através de esforço pessoal, quer a estudar, quer a trabalhar,
se consegue ser alguém na vida. (p.7)
As atividades às quais temos acesso permitiram-me fazer amizades consistentes,
construindo o meu lugar no grupo, respeitar e ser respeitado (p.10)
A confiança que a equipa do Tu decides+ depositou em mim motivou-me
bastante, permitindo-me sonhar mais alto e ter mais autoconfiança. (p.27)
Com o Bom sucesso, descobri a forma de melhorar o meu comportamento e de ser
um melhor aluno, filho e amigo. (p.17)
Se hoje sou uma pessoa melhor, com personalidade forte, valores sólidos e
conhecimentos, é devido à ação do Escolhas. (p.27)
Ajudou-me a crescer, mudou a minha maneira de agir e, hoje, já consigo ter uma
postura mais calma perante os problemas. (p.19)
Os indivíduos revelam uma atitude positiva em relação ao futuro e às suas
aspirações, sendo que, em alguns caso, conseguem identificar os seus objetivos
pessoais e profissionais.
Eu estou a batalhar por um futuro melhor, pois estudo e trabalho e, em
paralelo, participo como voluntário em projetos de ação social. (p.7)
No futuro gostaria de poder ajudar os países em dificuldades, acabar com a
guerra no mundo e apoiar as crianças carenciadas fazer a diferença. (p.9)
Estou bem ciente da realidade que nos rodeia e sei que é agora, enquanto sou
jovem a altura ideal para projetar o que quero fazer da minha vida. (p.13)
O projeto apostou em mim e isso deu-me perspetiva na vida, assim como um olhar
mais aberto para o mundo. (p.27)
A partir daí interessei-me pelos estudos, construi novos objetivos e fiz uma
reavaliação das minhas metas. Para ter a vida estável que ambiciono, tinha que
mudar de atitude. (p.37)
Agradeço muito ao Escolhas por me ter ajudado a descobrir a minha paixão pelo
surf e ainda por ter conseguido dar-me autoconfiança, pois eu achava sempre que
não conseguia e desistia de tudo. (p.23)
Estou a aprender a ler melhor e um dia gostava de ser professora de dança.
Antes pensava que já não tinha futuro, casava e já não aprendia mais. (p.22)
A nível escolar, o projeto motivou-me para o sucesso escolar. Chumbei várias
vezes e tinha negativas a quase todas as disciplinas. Este ano no primeiro
período tive positiva a tudo. (p.23)
RECURSOS EXTERNOS DOS JOVENS
Novas oportunidades, participação social e novas redes sociais de apoio
Neste sentido, pude conviver com pessoas, que ainda hoje agradeço por terem
surgido na minha vida, pois incutiram-me valores como a tolerância e o respeito
pelas diferenças. (p.7)
Era tudo muito parado e com o Puerpolis vieram as ideias, as iniciativas, as
atividades. Hoje estamos todos unidos em prol de um objetivo: aprendermos uns
com os outros. Por tudo isso, a onde vou, por onde passo, falo sempre no
Escolhas. (p.15)
Devo muito ao projeto por me ter ajudado a ver a vida de uma forma mais clara
pelos intercâmbios que me deram a conhecer e regiões diferentes, contribuindo
para o meu crescimento pessoal. (p.20)
Os técnicos do Encontros interessaram-se por mim e deram-me apoio. (p.21)
No entanto, posso dizer que o projeto tem contribuído muito para a renovação
da Freguesia para além de dar resposta às necessidades dos mais desfavorecidos
e de procurar desenvolver competências, a equipa sempre se mostrou disponível
para apoiar. (p.8)
Esta é a minha segunda casa, pois sempre fizeram muito por mim (p.11)
O Escolhas foi a minha tábua de salvação as técnicas da equipa ajudaram-me a
fazer os trabalhos de casa e agora já domino o Português! (p.12)
A equipa do projeto está connosco para o divertimento, para estudar,
desabafar, tomar decisões, para tudo. (p.15)
Tudo isto só foi possível com o apoio dos técnicos do projeto, pois foram eles
que me encaminharam para um Curso Profissional de Cozinha, ajudaram-me a
procurar emprego e ainda a desenvolver oficinas de cozinha. (p.26)
Neste projeto Escolhas, descobri um novo eu! O carinho, a dedicação, a atenção
e o empenho de todos os técnicos marcaram a minha vida, tornaram-me uma pessoa
melhor. (p.25)
Os técnicos do Encontros interessaram-se por mim e deram-me apoio. Antes eu
não tinha educação, não sabia responder a nada, não era capaz de ter atenção às
coisas. Agora já ultrapassei as dificuldades iniciais e já tenho objetivos
definidos: tirar um curso e organizar a minha vida. (p.21)
É um espaço de aprendizagem onde jovens e adultos têm acesso à informática.
(p.20
O Raízes ajuda as crianças a aprender coisas novas sobre a vida e também dá
apoio aos pais. (p.12)
o Escolhas fez tanta coisa por mim que até perdi a conta é o melhor apoio
que se pode ter. (p.35)
Diria que o Escolhas é um amigo com quem podemos contar se o nosso objetivo é
melhorar a nossa vida social e profissional. (p.19)
As mudanças sociais na zona são visíveis: os pais estão mais presentes na vida
dos seus filhos, o comportamento de algumas crianças e jovens melhorou, todos
podem ter acesso aos estudos, novas perspetivas e objetivos de vida.(p.24)
RECURSOS ESCOLHAS VISTOS PELOS FAMILIARES
O Programa Escolhas envolve os familiares nos seus projetos com os jovens,
favorecendo:
(1) A promoção das relações afetivas entre pais e filhos;
(2) A criação de expetativas mais positivas dos pais face ao futuro dos filhos;
e
(3) A possibilidade de participação e contribuição do jovem.
De acordo com a análise ao discurso dos familiares das crianças e dos jovens
emergem as seguintes categorias, algumas das quais também presentes no modelo
atrás referido.
Ligações afetivas:
Nos discursos do grupo familiares verifica-se que o Programa Escolhas é
valorizado pelos familiares.
De acordo com o este grupo, o Programa Escolhas promoveu:
A comunicação:
Isso nota-se em tudo, até na relação com os meus filhos aprendi a conversar
com eles e a ter mais calma. (p.147);
O diálogo familiar fica igualmente favorecido. (p.151).
A relação afetiva:
Sou viúvo e educar uma filha sozinho não tem sido fácil, mas contei com o
auxílio do Escolhas e consegui melhorar o meu relacionamento com ela que, por
sua vez, mudou também o seu comportamento para muito melhor. A equipa do
projeto tem sido uma influência positiva nas nossas vidas. (p.144);
Agora, sei bem como gerir as questões práticas do quotidiano: aprendi a
poupar, a lidar com a casa, a agir em situações de doença, bem como, a
relacionar-me melhor com os filhos. (p.145);
Aprendi a ser boa mãe e a estar mais atenta aos problemas deles. (p.153).
A participação da família na vida académica dos filhos:
Este projeto ajudou-nos a nós, como pais, a ter mais consciência de como
educar os nossos filhos, proporcionando-lhes melhor ambiente familiar e, por
conseguinte, um contexto mais propício ao estudo e à melhoria das notas.
(p.143);
Antes deste projeto, os jovens do bairro não tinham qualquer tipo de
atividades e nós não tínhamos ninguém a quem recorrer quando precisávamos de
ajuda a nível educativo. No meu caso em particular, o meu filho não sabia ler e
chegava a chorar porque não queria ir. (p.148);
Na relação com o meu filho tudo corre melhor eu mudei também procuro estar
mais presente e estudar com ele. (p.152)
Expetativas elevadas
Auto eficácia:
A minha filha frequentou o projeto Percursos Integrados e é agora Dinamizadora
Comunitária do Projeto. Dá-me muito orgulho ver esta evolução. (p.149).
Otimismo:
Nunca é tarde para mudar seja o que for. (p.143);
É fundamental que as nossas crianças aprendam com a escola, amigos,
professores e técnicos, para que tenham um futuro diferente. Agora é possível!
E sei que quando precisarmos, eles estão lá para nós e por nós. (p.146);
Quero que na vida dos meus filhos não falte afeto e bons valores. Vou lutar
por isso! (p.153);
Estabeleci objetivos para a minha vida, estou mais confiante e acredito que
posso ter um futuro melhor com a ajuda do Escolhas. (p.157)
Autonomia:
o convívio no projeto, os ensinamentos dos Técnicos e a melhoria das relações
em família têm contribuído para uma alteração positiva do seu comportamento.
Está mais integrada socialmente. As famílias são estimuladas a serem mais
independentes e, por sua vez, a transmitir uma postura mais confiante e segura
aos filhos, educando-os com mais regras e a definir objetivos. (p.143);
A relação que tenho com a minha filha saiu fortalecida. Antes não a deixava
sair sozinha e superprotegia-a, mas depois da sua entrada para o grupo, pude
ficar mais tranquila finalmente, ela estava a participar em algo útil,
divertido e, em segurança. ( ) Melhorou muito messe sentido e eu ganhei
confiança nela. (p. 154).
Auto estima:
Todas as atividades criadas são sempre uma mais-valia para as crianças e
jovens, assumindo um papel fulcral na construção de um desenvolvimento
saudável, levando-as a estabelecer objetivos próprios. A autoestima aumenta e
são adquiridos valores morais, tais como o respeito pelos outros, a organização
e a tolerância. (p.150)
Oportunidades de participação
Família acredita nas suas capacidades:
Os miúdos aprendem a lidar com computadores e ainda ajudam os adultos quando
estes têm algum problema e não sabem como resolver. (p. 148);
O diálogo familiar fica igualmente favorecido. Eles partilham o conhecimento
connosco e nós aprendemos também. (p. 151);
Consigo agora rentabilizar melhor o tempo que estou com as minhas filhas e
isso é muito gratificante uma delas até já me ensinou a trabalhar com o
computador. (p.152)
Família valoriza ocupação dos jovens:
O meu filho tem necessidades educativas especiais e já pode aprender novas
atividades, adquirir novos conhecimentos e visitar lugares que desconhecia.
Todos estamos a perceber a importância da ocupação dos tempos livres com
atividades que nos enriquecem. (p. 145);
A minha filha está mais feliz também. Para além do apoio escolar, as
atividades lúdico-pedagógicas têm sido uma mais-valia para ela. (p.157)
É ainda comum encontrar nos discursos das famílias referências ao
desenvolvimento de competências parentais e também da importância do projeto
para a comunidade.
Competências pessoais dos Familiares:
Saber estar:
O Multivivências melhorou o meu comportamento e as minhas atitudes, pois
aprendi a saber estar e a saber fazer. Tem sido uma experiência pessoal
preciosa. (p.145);
Impacto na comunidade:
Pela mão do Escolhas somos, atualmente, uma comunidade com condições e
infraestruturas para as crianças poderem ocupar os tempos livres de uma forma
pedagógica e organizada, com a ajuda de profissionais muito competentes,
dotados de conhecimento e meios para as acompanhar. (p.143);
Todos estamos a perceber a importância da ocupação dos tempos livres com
atividades que nos enriquecem. (p.145)
Recursos:
Hoje vivemos numa casa limpa, os meus filhos andam na escola, têm médico de
família e temos as nossas necessidades básicas satisfeitas. (p.146)
Relações interpessoais:
Antes havia no bairro muitas crianças que não respeitavam os pais nem ninguém
e agora fazem-no. (p.147);
Talvez por esta troca de conhecimentos, há hoje mais respeito nas relações
sociais. (p.148).
Apoio ao emprego:
Como mãe trabalhadora devo muito ao projeto. Nas últimas férias eu estava a
trabalhar e a minha filha teve acompanhamento que, de outra forma, não teria.
(p.154);
Depois de alguns meses de desespero por estar desempregada, a equipa ajudou-me
a candidatar-me para os Censos 2011. (p. 155);
A Equipa do Tá-se Bem na Boba ajudou-me ainda a preencher alguns documentos,
pedido pelo Departamento de Recursos Humanos, pude efetivar o meu contrato,
agora tenho um emprego e uma vida nova! (p.156)
RECURSOS ESCOLHAS VISTO PELOS TÉCNICOS
No grupo dos técnicos, os discursos focam-se nos seguintes temas principais:
(1) Significado do programa,
(2) Aprendizagens pessoais,
(3) O papel ou importância do técnico na vida dos jovens e da comunidade, e
(4) As suas motivações.
Significado do Programa:
O Programa cresceu e evoluiu grandemente na sua ação e missão, e todos os
envolvidos, desde as crianças e jovens, famílias, técnicos, instituições,
voluntários, estagiários, com as crianças e jovens têm igualmente crescido e
evoluído com o Programa. ( ) Envolvendo um público diversificado e com
objetivos cada vez mais exigentes e orientados para o impacto da sua ação, o
programa tem sido e continua a ser a Escolha acertada! (p.182);
De aprendiz a mestre e de mestre a aprendiz este é o círculo escolhas que
tenho orgulho de procurar servir. (p.183).
Aprendizagens pessoais:
Agora com 33 anos avalio todo este percurso como grandioso e maravilhoso tem
sido um crescimento e uma evolução constante. As diversas experiências que
tenho tido dentro do Programa Escolhas têm permitido crescer profissionalmente
(desafiando todas as minhas inseguranças) e pessoalmente (tornando-me uma
pessoas mais capaz de cada vez mais sensível ao trabalho com crianças e
jovens). (p. 182);
O que me marcou, de fato, foi a perceção que os projetos escolhas são muito
para lá das suas atividades, são canais de comunicação da comunidade e para a
comunidade, são linguagem, são afetos e são verdade. (p.183);
Foram 10 anos da minha via profissional e pessoal muito intensos, pois ao
longo destes anos fui crescendo e aprendendo muito com os colegas de equipa,
com os projetos, com os jovens e com os diversos parceiros que foram passando
pelo Programa. (p. 184);
A experiência com estes dois projetos Escolhas foi muito enriquecedora, na
medida em que através de um contato direto com a realidade de organizações que
trabalham com públicos mais vulneráveis, fui desenvolvendo competências
variadas que me tornam mais apta para futuras intervenções em projetos de
desenvolvimento local e dinamização comunitária, numa perspetiva da educação
para o desenvolvimento pessoal e profissional de forma a promover a inclusão
social. (p. 186).
Importância do técnico na vida dos jovens e da comunidade:
Vemos crianças, que hoje são jovens a serem monitores de atividades a
dinamizadores comunitários, a construírem e a optarem por percursos de vida
que, à primeira vista seriam impensáveis e pela energia escolhas, algo que
não se consegue explicar, mas que se sente nas diversas atividades de âmbito
nacional (p.184);
O trabalho desenvolvido no dia-a-dia com os jovens, familiares, passando pela
comunidade e pela sociedade em geral, leva-nos a perceber a importância de
todos e o papel que cada um pode desempenhar em qualquer que seja o contexto.
Poder apoiar, mas acima de tudo, poder acompanhar lado a lado alguém, na
resolução dos seus problemas e na concretização dos seus sonhos, tem sem dúvida
um valor inestimável. (p. 185);
As aprendizagens e vivências que têm sido adquiridas no terreno, junto das
nossas comunidades, crianças, jovens, familiares, entre outros, permitiram-nos
estabelecer um compromisso efetivo com todos, trabalhando e atuando numa lógica
de corresponsabilização e sustentabilidade das iniciativas locais. (p. 187).
Motivações:
Foram anos de muito trabalho, mas também foram anos recheados de momentos de
gratificação e de reconhecimento do trabalho conjunto que temos vindo a
desenvolver com as equipas técnicas e com os consórcios. (p.184);
No meu trabalho o que me motiva é saber que, com o meu contributo, estas
pessoas já são aceites na sociedade. Com efeito, a comunidade com que trabalho
já é aceite na sociedade. (p.188);
Motiva-me saber que faço a diferença na vida destes jovens, que por pouco
impacto que possa ter a nível geral, nas particularidades do quotidiano, sinto
que estes jovens sabem que estamos aqui por eles. ( ) Mas sei que temos impacto
quando os jovens nos procuram a nós, quando nos telefonam para o nosso número
pessoal, a buscar apoio, ajuda, conforto nas mais variadas situações. Porque de
fato não têm mais para onde se virar. ( ) Gostava que vissem o potencial dentro
de si próprios e que lhes dessem uso. Gostava de criar oportunidades de vida,
mostrar-lhes que há outros caminhos, outras opções, que há um mundo lá fora.
(p. 187);
Para conseguir trabalhar com eles é preciso aliciá-los e definir estratégias
diversificadas para os manter motivados. Pois além de não se motivarem
facilmente, têm mais dificuldades de aprendizagem do que os meninos externos ao
bairro e não possuem resistência à frustração ( ) Motiva-me saber que temos um
papel importante na vida das crianças e jovens que frequentam o projeto, que os
provemos de competências que de outra forma não teriam, que os ajudamos a
integrarem-se na sociedade. (p. 191);
O que me motiva mais neste trabalho é poder ajudar as crianças e os jovens do
bairro, porque eu também sou um deles apesar de trabalhar no projeto, e sei as
dificuldades e as necessidades que as crianças e os jovens do bairro têm. (p.
193).
RECURSOS ESCOLHAS VISTOS PELOS PARCEIROS
Os parceiros são elementos de uma instituição exterior ao Programa Escolhas
(por exemplo, associações de bairro, câmaras, associações empresariais e
centros de formação), que se relacionam com o programa e participam nos
projetos como elementos dessas instituições através de uma parceria.
Os discursos dos Parceiros focam-se nos seguintes temas principais:
(1) Significado do programa;
(2) Impacto nas comunidades; e
(3) Motivações para a participação.
Significado do Programa Escolhas:
Embora não tenha acompanhado o programa desde o seu início considero-o um
projeto da maior relevância e da maior importância dentro das políticas
públicas ligadas à multiculturalidade e à inclusão. (p. 358);
O Escolhas permitiu contribuir para a Igualdade de Oportunidades pelo
desenvolvimento de competências pessoais, relacionais, escolares e
profissionais e capacitar/desenvolver nos jovens o exercício de cidadania e o
pleno direito à participação comunitária como fator de uma verdadeira
integração na sociedade. (p. 362).
Impacto nas comunidades:
No âmbito da nossa parceria, a nossa associação colabora na realização de
atividades com crianças e jovens do bairro. A comunidade residente é
marcadamente multicultural. O Percursos Acompanhados tem desempenhado um
trabalho útil em especial para as crianças e jovens do bairro. (p.357);
Independentemente da cidade e do bairro, os problemas sociais são sempre
numerosos e há que tentar ajudar as pessoas a encontrarem um rumo nesta
sociedade. ( ) ao longo destes quase 4 anos conseguimos certificar 75 adultos
(34 do nível secundário e 41 do nível básico). (p. 359);
A importância deste trabalho de parceria junto da comunidade deste bairro,
onde existe um serviço de proximidade da Câmara Municipal do Seixal, tem sido
um fator fundamental de inclusão social e de respeito mútuo pela identidade de
cada um. (p. 360);
Coesão social, cidadania, educação, ação, solidariedade, artes, orgulho,
otimismo, igualdade, conhecimento, inclusão, inovação, parceria, pertença,
culturas, Voluntariado, oportunidades, respeito, lusofonia, participação,
diversidades, ESCOLHAS! Dez anos depois de iniciarmos a caminhada da inclusão
social de crianças e jovens em maior risco de exclusão através do Programa
Escolhas, resumo com estas palavras o resultado dos projetos que desenvolvemos
nesta década. Até agora, ganhámos um grupo de Teatro muito especial,
valorizámos o nosso património humano e imaterial e aumentámos a coesão
social. (p.363).
Motivações para a participação:
Nesta comunidade gostaria de deixar os jovens com um projeto de vida, de modo
a que pudesse encarar/perspetivar o futuro de uma forma diferente. (p.357);
Tem sido de fato um prazer trabalhar com a equipa do programa, além de muito
enriquecedor ao nível profissional e humano. (p. 358);
Tem sido um privilégio trabalhar com estes projetos, pois desta forma
conseguimos trabalhar com públicos diversificados e é muito gratificante sentir
que de alguma forma também colaboramos para a integração social de tantas
pessoas.(p. 359);
Este é, estou convicta, um dos desafios que se colocam à atual sociedade
global, em nome de uma cidadania efetiva e assente na igualdade. Daí termos
abraçado o Programa Escolhas desde a sua primeira hora. (p. 360).
CONCLUSÕES
À data da conceção do Programa Escolhas, diversas medidas de promoção da
resiliência vinham a ser definidas enquanto novos paradigmas de intervenção
junto das crianças e jovens em maior risco de exclusão. A experiência decorrida
do modelo desenvolvido no Canadá foi para o Programa Escolhas uma fonte de
inspiração muito relevante, nomeadamente nas experiências do Canada's National
Crime Prevention Centre e do Canadian Council on Social Development. Para estas
organizações, quando as crianças se desenvolvem, o crime não.
Inspirado por essa aprendizagem, o legislador que delineou o Programa Escolhas
optou por olhar para estes jovens e comunidades com um novo olhar,
simultaneamente crítico e construtivo, focado nos problemas, mas igualmente nas
oportunidades, apostando no seu desenvolvimento integral e na concretização de
experiências e interações positivas.
No Programa Escolhas, esses pressupostos operacionais de desenvolvimento das
crianças e jovens, estruturam-se numa abordagem positiva da inclusão social dos
jovens, que se desagrega em três escalas complementares:
a) Indivíduo ' resiliência
b) Comunidade ' bonding ( ligações fortes num grupo restrito)
c) Mundo ' bridging ( ligações mais fracas mas num grupo alargado)
Assim, ao nível do indivíduo, encontramos quatro dimensões fundamentais no
domínio da promoção da resiliência:
1. Promover a interação positiva;
2. Desenvolver competências pessoais, sociais, cognitivas e morais;
3. Favorecer o sucesso;
4. Fornecer oportunidades para a construção de uma identidade positiva.
A capacidade de interação positiva é um elemento emocional indispensável que
torna possível à criança e ao jovem o relacionamento com as instâncias de
socialização, sejam elas a família, o grupo de pares, a escola, a comunidade ou
a cultura. Este é um elemento frequentemente destacado pela avaliação externa
do Programa Escolhas enquanto claro elemento diferenciador na sua abordagem: a
crença efetiva numa abordagem positiva das crianças, jovens, famílias e
comunidades em geral.
As interações positivas são essenciais na construção de modelos de ação
internos que incorporam comportamentos positivos. As interações entre uma
criança e os seus cuidadores constroem a fundação das ligações que serão a
chave do desenvolvimento da capacidade da criança para um comportamento
interessado e ativo. A ligação positiva com um adulto (em primeira instância a
família, mas muito frequentemente também com os técnicos do Escolhas) é crucial
no desenvolvimento de uma capacidade para respostas adaptáveis à mudança e ao
crescimento de um adulto saudável e funcional.
A interação positiva estabelece a confiança da criança nos outros e em si, e
inversamente, uma ligação inadequada estabelece padrões de insegurança e
desmotivação. Nesse sentido, a importância da inserção na família está na base
das ligações posteriores aos pares, à escola e à comunidade.
O Programa Escolhas pretende um desenvolvimento integrado da criança e do
jovem, através da construção positiva do seu desenvolvimento, incluindo
competências sociais, emocionais, cognitivas e morais. Os projetos procuram
desenvolver capacidades para integrar sentimentos (competências emocionais),
pensar (competências cognitivas) e agir (competências comportamentais), a fim
de ajudar a criança e o jovem a conseguirem concretizar objetivos específicos
que eles próprios definem e prosseguem.
As competências sociais referem-se a capacidades de relacionamento interpessoal
que ajudem os jovens a partilhar sentimentos, a pensar, a conseguir definir
objetivos sociais e interpessoais, gerando soluções eficazes e realistas para
os problemas, antecipando consequências e obstáculos potenciais.
As competências emocionais residem na capacidade para identificar e responder
aos sentimentos e a reações emocionais, de modo a identificar sentimentos em si
e no outro, controlar reações ou impulsos emocionais e capacidade para reagir
com tolerância.
Ainda de acordo com a avaliação externa que analisou o modelo teórico-
metodológico a partir da observação das experiências locais do Programa
Escolhas (CET, 2007), as competências cognitivas estão relacionadas com a
capacidade para entender situações de forma lógica e objetiva interpretando as
situações sociais e posicionando-se com clareza face a elas. Inclui ainda a
capacidade de resolução de problemas e de tomada de decisões de forma racional
e controlada. As competências comportamentais apelam a comunicações não
verbais, sobretudo no reforço de escolhas de comportamentos socialmente
saudáveis.
A competência moral é a habilidade de avaliar e responder às dimensões éticas,
afetivas, ou sociais da justiça de uma situação, considerando-se pois
desenvolvimento moral um processo em que as crianças adquirem padrões da
sociedade acerca do que está certo e do que está errado.
Indivíduos resilientes resultam, em larga medida, em cidadãos com uma
identidade própria reconhecendo-se como seres humanos com valor, capazes de
concretizar planos e projetos e com um sentido coerente do eu.
Os desafios ao nível individual, complementam-se ' a outras escalas ' com a
interação e coesão (bonding) desses mesmos indivíduos na sua comunidade. A
interação humana por via da participação, do reconhecimento da rede de
proximidade, do serviço à comunidade e no reforço da pertença e da filiação são
decisivos para um sentir da inclusão, que passa, também, por percecionarmos que
fazemos parte de algo maior do que nós. Por desenvolverem capital social na
proximidade, permitindo um maior sentimento de filiação às pessoas,
organizações e lugares.
Neste modelo, e no limite, trata-se de gradualmente reforçar a capacidade de
compreender o mundo que os rodeia (bridging). Neste nível macro, trata-se
afinal de reforçar as redes de contactos e o capital social das crianças e
jovens, a sua capacidade de serem mundividentes e tolerantes pela proximidade
com a diversidade e, no limite, na capacidade de construir coesão social pelo
reforço de competências pessoais e sociais em indivíduos que, devidamente
integrados no local, conseguem compreender e agir no global.
Trata-se, no fundo, de apoiar o desenvolvimento de crianças e jovens
resilientes. A partir da disponibilização de oportunidades estruturadas de
exercício do comportamento pró-social, e em parceria com as comunidades locais.
É aprender-fazendo, com o apoio de modelos de referência positiva, que a
fórmula melhor tem funcionado. A definição local de respostas simultaneamente
punitivas (quando as regras são quebradas) e recompensatórias (quando as metas
são cumpridas), com um forte cariz psicossocial (no mitigar dos problemas e na
potenciação dos fatores de sucesso), multidimensional (envolvendo diferentes
contextos, agentes e perspetivas) e multinível (congregando diferentes níveis
da administração, do central ao local) tem-se mostrado eficaz. Evita-se, numa
primeira barreira de proteção, que muitos se percam a jusante, com maior
eficácia e eficiência.
Monitorizar os inúmeros impactos de um Programa com tão grande alcance tem
sido, desde sempre, um dos seus maiores desafios e dificuldades. A avaliação no
âmbito do Programa Escolhas, resulta ' antes de mais ' da dimensão dos
resultados locais.
A esse nível, a equipa responsável pela avaliação externa do Programa Escolhas,
(DINÂMIA-CET, 2012) evidencia cinco domínios de resultados consolidados nas
seguintes áreas:
1. Uma intervenção generalizada na promoção do sucesso escolar tendencialmente
preventiva e com resultados maioritariamente alcançados;
2. Uma forte intervenção e impacto nas competências pessoais, sociais e
cívicas, dimensão apresentada como promotora e basilar na promoção dos
restantes resultados;
3. Uma aposta no encaminhamento para a formação profissional e para o mercado
de trabalho ainda que esta última revele resultados dificultados pela pouca
oferta de emprego, as baixas qualificações e algum desajuste entre a procura e
a oferta de formação. Este cenário obriga a que o encaminhamento para formação
profissional se torne um fim e, menos um meio, para uma inserção laboral mais
qualificada;
4. Uma aposta na promoção de inclusão digital, em alguns casos como objetivo em
si mesmo, outras como estratégia e contributo para a capacitação pessoal,
social, escolar e técnica;
5. Uma intervenção junto das famílias, centrada na promoção da valorização do
percurso escolar dos seus educandos e no incremento das suas competências
parentais, porém, com resultados aquém do esperado, ainda que a parca
apresentação de indicadores de resultado dificulte a sua apreciação.
O presente artigo procurou aportar um contributo para a leitura desses
impactos. Uma leitura centrada nas narrativas das crianças, jovens, familiares,
técnicos e parceiros que diariamente constroem o Programa Escolhas.
Assim, globalmente o Programa Escolhas foi bem-sucedido em termos do impacto
produzido tanto a nível pessoal, como a nível familiar ou mesmo a nível dos
outros agentes e cenários envolvidos na promoção da inclusão social de crianças
e jovens de contextos socioeconómicos mais vulneráveis.
Tendo por base o Modelo Conceptual da Resiliência e Desenvolvimento na
Adolescência de Benard, a análise dos trechos sugere a percepção de uma
evolução positiva centrada na promoção de aprendizagens, de competências
pessoais e sociais, da resiliência, da motivação e expetativas face ao futuro,
das relações interpessoais e da participação social .
Em síntese o ESCOLHAS aparece como uma janela de oportunidades, associadas a um
desenvolvimento de competências, num ambiente de troca afetiva intra e inter
geracional, possibilitando e promovendo a participação social e o
desenvolvimento de expetativas realistas mas positivas face ao futuro.
Não se trata aqui de prometer futuros de sonho, mas de permitir sonhar o
futuro mas antes prover um meio que permita sonhar o futuro e abrir caminho
para a concretização desses sonhos.
Estas competências adquiridas serão a base de cidadãos que, crescendo em
igualdade de oportunidades, serão certamente capazes de dar sentido prático ao
desafio de Amartya Sem (1999). Trata-se efetivamente de, criar condições nas
comunidades mais vulneráveis que permitam eliminar as restrições que limitam a
capacidade de fazermos escolhas livres. Esta é a verdadeira liberdade.