Nota Editorial
NOTA EDITORIAL
Nota Editorial
Ana Bénard da Costa*
*Centro de Estudos Internacionais (CEI-IUL), Instituto Universitário de Lisboa
(ISCTE-IUL), Avenida das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal,
ana.benard.costa@iscte.pt
Este número dos Cadernos de Estudos Africanos divide-se em duas partes. Na
primeira parte apresentamos um conjunto de três artigos que têm como elemento
comum a análise de temáticas essencialmente de cariz político ou militar. A
segunda parte estrutura-se em torno do dossier Multinational enterprises in
Africa: Corporate governance, social responsibility and risk management
organizado por Virginie Tallio e Luca Bussoti, ambos investigadores do Centro
de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa.
O conjunto de três artigos que compõem a primeira parte deste número da
Revista, embora centrados em questões políticas ou militares, focam estas
problemáticas em diferentes contextos do continente africano e sob diversos
ângulos. Os dois primeiros artigos têm em comum o facto de analisarem a
importância das ações de atores que não são de cariz estritamente político e
partidário – forças religiosas e forças militares – na arena política ao nível
da sua participação nos governos e estados. O último artigo, centrado na
questão dos conflitos internos e na ação que as intervenções externas têm
nestes, analisa a contribuição destas últimas para a promoção da paz.
David Nievas Bullejos, do Departamento de Estudos Árabes e Islâmicos e Estudos
Orientais da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Autónoma de
Madrid, reflete sobre as implicações que a questão do Islão tem na política do
Mali. O autor analisa a trajetória do Islão no Mali na época contemporânea e
conclui que embora haja uma crescente influência do Islão na política do país,
esta influência está sobretudo relacionada com o descontentamento das
populações em relação à classe política e que não existem riscos de o Mali se
vir a tornar um Estado islâmico.
O artigo de Eduardo Carreño, do Instituto de Estudos Internacionais da
Universidade do Chile, analisa o papel político dos militares na África
subsariana, particularmente na Nigéria, procurando determinar as causas e as
consequências dos sucessivos golpes de Estado, desde a Independência até à
atualidade. O autor detalha a análise examinando as estratégias implementadas
durante a Quarta República nigeriana para submeter os militares ao controle
efetivo dos governos civis. Eduardo Carreño defende que a presença dos
militares na política se relaciona com o facto de estes serem considerados uma
força de modernização capaz de conseguir tirar a população local da desordem e
do subdesenvolvimento. Carreño conclui que a presença dos militares na política
constituiu uma força de equilíbrio neste gigante país africano que necessita
da participação de todos os sectores da sociedade para não colapsar como
Estado.
O terceiro artigo é da autoria de Ricardo Sousa, do Centro de Estudos
Internacionais do ISCTE-IUL. Ricardo Sousa no artigo External interventions
and civil war intensity in south-central Somalia (1991-2010) socorre-se da
teoria do equilíbrio de forças para testar os efeitos que as intervenções
externas têm na intensidade dos conflitos internos. O argumento central da sua
análise é de que apesar de as intervenções externas em conflitos armados serem
consideradas mecanismos para a promoção da paz, estas raramente diminuírem a
intensidade dos conflitos. Analisa o caso da Somália no período entre 1991 e
2010 como fundamento empírico da sua reflexão e conclui que os objetivos de
promoção da paz concorrem com outros objetivos das intervenções externas.
Na sua introdução ao dossier Multinational enterprises in Africa: Corporate
governance, social responsibility and risk management, Virginie Tallio
salienta os diferentes ângulos através dos quais esta problemática é abordada
nos três artigos que este dossier reúne e refere alguns dos desafios mais
importantes que o envolvimento das multinacionais em países africanos coloca. O
questionamento dos efeitos da presença de multinacionais em África é de uma
pertinência indiscutível. Não só em termos do presente e do futuro dos países
africanos em que as análises se centram, nomeadamente Níger, Moçambique e
Nigéria, e de todo o continente africano, mas igualmente em termos globais e ao
nível das relações internacionais entre países pobres e países emergentes e
entre países e entidades que são por definição supranacionais. A leitura dos
artigos de Youssoufou Hamadou Daouda, Luca Bussoti e Eghosa Osa Ekhator permite
abarcar sob diferentes ângulos um conjunto complexo de questões como sejam a
responsabilidade social das empresas, as relações entre os sectores público e
privado, o papel dos média ou os riscos ambientais e sociais. Os argumentos
destes autores, alicerçados em sólidos dados empíricos e em revisões de
literatura, contribuem para nos dar novas perspetivas sobre o papel que na
atualidade as multinacionais desempenham em países onde os problemas políticos,
económicos e sociais têm sido e continuam a ser de enorme gravidade.
Contrariamente à diversidade temática, que caracterizou o número anterior dos
Cadernos de Estudos Africanos, neste número podemos encontrar, para além do
enfoque na mesma problemática que necessariamente une os artigos reunidos em
Dossier, alguns paralelismos temáticos e geográficos nos artigos que
apresentamos. Em seis artigos temos dois artigos que se debruçam sobre a
Nigéria e dois artigos que focam sobre a participação de atores não
estritamente políticos nos governos de estados chefiados por líderes de
partidos políticos. Contrariamente também a números anteriores, temos apenas um
artigo centrado num país dos PALOP, e apenas um dos artigos é de um autor
português (no último número publicámos quatro artigos de autores portugueses e
três artigos centrados nos PALOP). O facto de podermos diversificar e, por
outro lado, congregar temáticas em números alternados e de a Revista estar a
acolher um número crescente de autores de diversas nacionalidades e continentes
que trabalham sobre problemáticas africanistas sob diferentes perspetivas,
constituiu para todos os que trabalham e colaboram com esta Revista um motivo
de grande satisfação. Tal demonstra ainda que os esforços realizados em prol da
divulgação da Revista e da sua inserção em diferentes bases de dados estão a
ter resultados concretos.
A todos aqueles que aceitaram em regime de anonimato comentar os artigos,
elevando com os seus comentários os níveis de qualidade deste número da
Revista, queremos aqui expressar os nossos maiores agradecimentos. Igualmente,
e nunca é de mais realçar, não podemos deixar de elogiar o esforço conjunto de
toda a equipa editorial, de secretariado e de revisão e edição, bem como o
apoio de diversos membros da comissão científica e que contribuíram para a
realização deste número.