Suinocultura no Estado de Goiás: aplicação de um modelo de localização
1. Introdução
O deslocamento da fronteira agrícola para o Centro-Oeste aumentou o interesse
para implantação de projetos de produção moderna de suínos, conforme relata o
BNDES (1995). Esse deslocamento visa a busca da proximidade de matéria-prima
mais barata. Notadamente na segunda metade da década de 90, grandes
frigoríficos nacionais têm demonstrado grande interesse em se instalar na
região, em especial no estado de Goiás.
O objetivo geral deste trabalho é estudar a maneira mais eficiente de se
organizar as granjas de suínos bem como abatedouros, no Estado de Goiás, de
modo a se obter a minimização dos custos de transporte de matéria-prima (no
caso o milho e a soja), suínos e carcaças, de acordo com as previsões de safra,
bem como diferentes tamanhos de granjas de suínos. Serão consideradas granjas
de suínos de ciclo completo, isto é, da produção do leitão até o suíno
terminado.
O problema em questão consiste assim na realização de um estudo onde seja
possível identificar a melhor distribuição espacial da suinocultura e
abatedouros no Estado de Goiás, bem como determinar quais seriam as regiões
mais indicadas para o abastecimento de matéria-prima para a ração, de modo que
sejam minimizados os custos de transporte e de aquisição de insumos, obtendo
com isso uma redução nos custos de criação.
Dada a localização geográfica do Estado de Goiás e sua proximidade a grandes
centros consumidores, identificam-se grandes vantagens no processamento e
produção de alimentos naquele Estado, aproveitando a produção de matéria-prima
agropecuária. Vale ressaltar que o fator terra é, também, outro provedor de
vantagens, pois a mesma tem um custo menor, quando comparada com outros
Estados, tais como São Paulo. Além do mais, o Estado de Goiás está localizado
proximamente a diversos novos corredores de transporte, que no médio prazo
poderão caracterizar uma excelente via de exportação, inclusive para os países
do MERCOSUL.
2. A Teoria da Localização
A determinação sobre onde se produzir um determinado bem sempre representou uma
preocupação, até mesmo para os economistas clássicos, mesmo que de uma forma
superficial, conforme salienta Azzoni (1982). Um dos primeiros cientistas a
estudar o problema de localização foi o alemão Von Thünen, no ano de 1826
(citado por Leme, 1982). Nesse trabalho, o autor procurou determinar a
influência das cidades na produção agrícola, bem como a distribuição espacial
das culturas, em função de seu valor, constituindo-se no que se convencionou de
chamar "anéis de von Thünen".
O trabalho considerado como a gênese da teoria da localização foi desenvolvido
pelo alemão Alfred Weber em 1909 (também citado por Leme, 1982). Ele determinou
a localização da atividade industrial, através das forças de atração. Em seu
estudo, Weber considerou uma área onde existia somente um único mercado
consumidor e duas regiões fornecedoras de matéria-prima. As forças de atração,
neste caso, foram representadas pelo custo de transporte, sendo que o
equilíbrio de tais forças determinava a localização da atividade industrial.
Após se determinar a localização, o mesmo procurava, através de isodapanas,
verificar o efeito de outras forças de atração, como custo da mão-de-obra e
aglomeração.
No modelo proposto por Weber, só se trabalhava com duas fontes de matéria-prima
e uma região de demanda, constituindo, assim, um triângulo locacional. A partir
deste triângulo, através das forças atrativas, poder-se-ia determinar a melhor
localização da firma. Posteriormente, através de isodapanas, pode-se verificar
a atuação de outras forças, como custo de mão-de-obra, que podem promover o
deslocamento da firma para uma nova região.
Com o surgimento da programação linear, em meados da década de 40, em especial
o modelo de transporte, puderam ser introduzidas situações mais complexas que a
original. Pode-se então trabalhar com várias regiões de demanda, bem como com
várias regiões de oferta de matéria-prima. Segundo Bressler & King (1970),
uma das vantagens de se trabalhar com modelos multirregionais consiste em se
poder determinar, simultaneamente, o fluxo de produtos e os preços relativos de
mercado.
De acordo com Amaro et al. (1973), o modelo tradicional de transporte, embora
aprimorasse o modelo original, apresentava algumas limitações, conseqüência de
suas pressuposições básicas, que estão relacionadas a seguir:
considera um mercado em concorrência perfeita;
não considera economia de escala no transporte;
a tecnologia é considerada constante dentro da área de estudo;
as ofertas e demandas de cada região são conhecidas;
as variáveis observam relações lineares;
não considera economia de escala no processamento.
Um grande avanço na determinação da localização foi alcançado a partir da
utilização de novas formas de modelagem, como programação inteira/mista (mais
especificamente com a utilização de variáveis binárias no modelo), programação
dinâmica, e programação estocástica, que tornaram possível um maior relaxamento
das pressuposições envolvidas no modelo tradicional de transporte.
2.1 Aplicações em contextos agroindustriais
Para Stollsteimer (1963), o problema de localização deve se ater não somente
sobre a melhor localização, mas também sobre o número de firmas, tamanho,
localização das fontes de matéria-prima e forma de distribuição do produto
final, para que se possa programar os investimentos tanto na firma quanto em
equipamentos. Tal autor desenvolveu um modelo básico para se determinar o
número, tamanho e localização de packing-houses para pera na região noroeste da
Califórnia, nos Estados Unidos. Dentro dessa concepção, King & Logan (1964)
desenvolveram uma metodologia para se determinar a localização, número e
tamanho ótimo de abatedouros de bovinos para o estado da Califórnia, EUA. Em
seu trabalho incluíram tanto os custos de transporte da matéria-prima quanto os
custos de transporte do produto final. Já Baritelle & Holland (1975)
desenvolveram um procedimento matemático para a determinação de localização e
tamanho ótimo de firmas, onde algumas variáveis foram incorporadas ao modelo,
como custo da matéria-prima, estoque e carryover(estoque de passagem entre dois
períodos agrícolas) e firmas com múltiplos produtos.
Usando modelo tradicional de transporte, Amaro et al. (1973), estudaram a forma
eficiente de organizar o complexo das fábricas de processamento de laranja no
Estado de São Paulo. Determinou-se quais seriam as regiões que iriam atender
cada fábrica, inclusive identificando as áreas de conflitos, assim como as
unidades passíveis de ampliação (mediante uma situação de excesso de oferta),
ou ainda as regiões que permitissem a implantação de uma nova unidade.
Kilmer et al. (1976), através do uso de programação dinâmica, estudaram a
abertura de novos packing-houses, no estado da Flórida, EUA, uma vez que com o
deslocamento da produção, observado nos últimos 50 anos, muitos desses packing-
houses estavam ficando muito distantes da área de produção. Neste estudo, os
autores procuram traçar uma programação para a abertura de novos packing-houses
(estruturas onde se realizam as primeiras operações de classificação e limpeza
de hortifrutis) assim como o fechamento de estruturas mais antigas. Visto que
essa operação implicava custos adicionais, o objetivo do trabalho foi o de
minimizar tais custos dentro do horizonte de estudo. Os autores procuraram
ainda apresentar como seriam os ajustamentos de curto-prazo na localização. Foi
ressaltado que os modelos estáticos de localização representavam uma solução
ótima para o equilíbrio no longo-prazo, não havendo uma preocupação nos
ajustamentos no curto-prazo. A pressuposição de oferta fixa foi relaxada: ela
permaneceu fixa em um determinado período, mas observando níveis distintos em
cada um dos períodos analisados.
Von Oppen (1976), utilizando modelo de equilíbrio espacial em conjunto com
modelos de localização, determinou a localização, tamanho da área de mercado e
o comércio inter-regional para a indústria de soja na Índia, aplicando
importantes funções econômicas, tais como transporte de insumos e produtos,
custos médios, ofertas e demandas regionais. Foi inicialmente determinada a
localização das firmas por meio de um modelo de otimização, assim como o
comércio inter-regional de insumos e produtos, com auxílio de um modelo de
programação quadrática. Da solução ótima da localização se derivou o custo
médio regional de processamento, o qual foi inserido no modelo de comércio
inter-regional. Da solução ótima deste se derivaram as quantidades a serem
processadas e distribuídas pelas firmas, que foram então inseridas no modelo de
localização.
Almeida (1981) avaliou a viabilidade econômica de implantação e localização de
unidades produtoras de farinha de milho integral e desengordurada a ser
misturada com farinha de trigo. Para o caso da localização procurou-se
minimizar os custos de transporte do milho e farinha, em conjunto com os custos
de processamento, para se obter a localização ótima em função das restrições de
escoamento do milho e da farinha, localização das unidades fabris bem como suas
capacidades.
Brown & Drynan (1986) ressaltam fato de o problema dos modelos básicos não
considerarem variações tanto do lado da oferta quanto do lado da demanda, isto
é, os bens e insumos são considerados perfeitamente inelásticos, com relação ao
preço. Esta pressuposição bastante forte fez com que os mesmos autores optassem
pela utilização de programação estocástica discreta. Trabalharam basicamente
com variações estacionais, em conjunto com expectativas de safras (divididas em
boa, média e ruim), para determinar a localização e tamanho ótimo de
abatedouros de gado no Estado de Queensland, Austrália. Os autores chamam a
atenção para as diferenças entre as soluções dos modelos básicos e aquelas
obtidas pelo modelo por eles concebido.
Cruz (1990), através de sistema de redes não-capacitadas, determinou a
localização e o tamanho que tornavam mais eficiente economicamente as unidades
armazenadoras no Estado de Minas Gerais, através da minimização dos custos de
transporte e instalação de novas unidades armazenadoras a granel. Trabalhando
também com armazenamento de grãos, McCarl et al. (1985), determinaram a melhor
organização de terminais de cargas, através da minimização dos custos de
armazenagem e de transporte, tanto ao nível da fazenda quanto nos terminais.
Canziani (1991) estudou a localização de fábricas de suco de laranja
concentrado no norte e noroeste do estado do Paraná, visando a minimização dos
custos de coleta e reunião da produção, de processamento e de distribuição do
produto final. O autor considerou, no modelo, economia de escala no transporte
e processamento, projetando várias situações de oferta de matéria-prima.
Brown et al. (1996), utilizando modelo de programação linear, determinaram o
número ótimo, bem como os locais para a indústria de tabaco na região da
Virginia-EUA, baseando-se nos atuais mercados e nas produções vigentes.
Chegaram a conclusões sobre quais mercados deveriam ser fechados e quais
deveriam ser consolidados.
Todos estes trabalhos citados atestam a grande diversidade de aplicações de
modelos de localização desenvolvidas no contexto agroindustrial, com o auxílio
de instrumental de programação matemática. Neste trabalho será utilizada
programação mista, a mais adequada ao problema proposto, conforme será descrito
a seguir.
3. Desenvolvimento do Modelo de Localização
Para o processo de localização de granjas e abatedouros no Estado de Goiás, é
necessária a descrição das principais características do contexto envolvido, de
forma a se ter ao final, uma clara visualização da base para o processo de
formulação de um problema de localização.
O Estado de Goiás está dividido em 18 microrregiões homogêneas (ver Figura no
Anexo_I), que a princípio não apresentam nenhuma restrição quanto à instalação,
tanto de granjas suinícolas quanto de abatedouros. Em todas estas regiões
ocorre produção de grãos, no caso milho e soja, em quantidades distintas para
cada uma delas, e que naturalmente podem ser transformadas em proteína animal.
Aqui depara-se com a primeira parte do problema: será necessário realizar uma
distribuição física de grãos, através do transporte das regiões que apresentam
excesso de oferta para aquelas que apresentam excesso de demanda. Esta
distribuição dos fluxos de grãos deve ser tal que os custos de transporte sejam
minimizados. Para as regiões que se caracterizam como exportadoras, os grãos
consumidos internamente, acrescidos daqueles que foram exportados, não devem
ultrapassar sua capacidade de oferta. Para aquelas que se caracterizam como
importadoras, a totalidade dos grãos consumidos internamente, adicionada à
quantia que foi importada, deve ser inferior à demanda de grãos.
Para se dimensionar as demandas por grãos nas regiões, são considerados 15
tamanhos de suinoculturas, que poderão, ou não, ser instaladas nas regiões. A
determinação de instalação de uma granja suinícola numa certa região envolve,
de uma forma direta, os custos de implantação da mesma, além de fatores
indiretos, associados à demanda por carne suína. Portanto, cada região
apresentará um número de granjas de tamanhos distintos, a ser determinado pelo
modelo, em função da proximidade desta com o mercado consumidor e do
fornecimento de matéria-prima para a formulação de ração. Note-se assim que, ao
se instalar uma granja suinícola numa região cria-se, além da demanda por
grãos, uma oferta de animais para o abate.
Ao se definir a capacidade de oferta de suínos para cada região, parte-se,
então, para a terceira parte do problema. Nesta etapa será considerado o
sistema de transporte de animais, de sua origem até as regiões onde os mesmos
serão abatidos. O objetivo, como no caso dos grãos, é minimizar os custos de
transporte envolvidos, lembrando-se que a quantidade de suínos abatidos na
própria região mais os exportáveis não devem superar a capacidade de oferta da
região. Além disso, a quantidade de suínos abatidos internamente, mais as
importações, não podem ser inferiores à capacidade de abate da região.
A demanda por suínos pode ser definida em função dos abatedouros que podem ser
instalados nas diversas regiões. Aqui se irá considerar somente um tamanho de
abatedouro, de 3000 animais-dia, que representa o tamanho médio das grandes
empresas de embutidos. Tem-se, então, a quarta parte do problema a ser
formulada, que representa a identificação das regiões onde serão implantados
tais abatedouros. Por se tratar de abatedouros de grande porte, optou-se por
limitar o número dos mesmos a um máximo de 3 unidades. Da mesma forma que para
a granja, ao se instalar um abatedouro numa determinada região, cria-se
naturalmente uma oferta de carcaças de suínos.
Finalmente, chega-se à situação em que se faz necessário abastecer os mercados
consumidores através do transporte das carcaças, oriundas dos abatedouros. Os
mercados consumidores serão representados pelas próprias regiões do Estado de
Goiás, assim como pelos municípios de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro
e Brasília, que se constituem em grandes mercados consumidores potenciais. O
objetivo aqui é realizar tal distribuição de modo a se minimizar o custo de
transporte das carcaças. Deve-se lembrar que as quantidades de carcaças que
permanecem na região, mais as que serão transportadas, não devem superar a
capacidade de oferta da região. Ao mesmo tempo, a quantidade que permanece na
região, mais as que chegam de outras regiões, não devem ser inferiores à
demanda da região. Nota-se que a demanda por carcaças será determinada através
da população residente nas regiões e pelo consumo "per capita"
nacional.
Portanto, de acordo com o exposto, o objetivo do modelo de localização será o
de determinar os locais de instalação de suinocultura e abatedouros, de forma a
se atender às diversas demandas, respeitando-se as várias ofertas, de forma a
se ter ao final, de forma agregada, a minimização dos custos de transporte e de
implantação de granjas e abatedouros.
3.1 Modelagem
3.1.1 Especificação do Modelo
O modelo a ser utilizado diz respeito à minimização de uma função objetivo
representativa dos custos considerados para a localização da suinocultura,
sujeita a uma série de restrições físicas e comportamentais.
As principais variáveis e parâmetros utilizados respeitam a seguinte
nomenclatura:
= custo de transporte de grãos k da região
i para a região j;
<formula/> = quantidade de grão k transportado da
região i para a granja de tamanho l na região j;
<formula/> = quantidade total de grãos k disponível na
região de produção i;
<formula/> = quantidade total demandada de grãos k por
todas as granjas l instaladas na região j;
<formula/> = valor associado à granja de tamanho l na
região j;
<formula/> = variável binária associada à instalação
da granja de tamanho l na região j;
<formula/> = custo de transporte de suíno da região j
para a região i;
<formula/> = quantidade de suíno transportado da
granja l da região j para a região i;
<formula/> = capacidade de oferta das granjas de
tamanho l instaladas na região j;
<formula/> = valor associado ao abatedouro na região
i;
<formula/> = variável binária associada à instalação
do abatedouro na região i;
<formula/> = quantidade demandada de suíno pelo
abatedouro que venha a ser instalado na região i;
<formula/> = quantidade de carcaças de suínos ofertada
pelo abatedouro a ser instalado na região i;
<formula/> = custo de transporte de carcaça de suíno
da região i para a região consumidora m;
<formula/> = quantidade de carcaça de suíno
transportada da região i para a região m;
<formula/> = demanda por carcaças de suínos da região
m.
A especificação das equações e inequações pertinentes é apresentada a seguir.
3.1.1.1 Função Objetivo
Na função objetivo, representada pela equação (1), tem-se a função custo
considerada para o problema de localização associado a este estudo.
Na parte (1a) tem-se o custo total de transporte de grãos, identificado pelo
índice k, a partir das regiões de exportação, i, para as regiões de importação,
j. O objetivo é atender todas as granjas de tamanho l. Note-se que são
considerados 15 tamanhos possíveis de granjas, 2 tipos de grãos (milho e soja),
18 regiões de exportação e 18 regiões de importação (correspondentes às
microrregiões de Goiás).
Na parte (1b) tem-se o custo de implantação de uma suinocultura de tamanho l,
onde:
Kj
= representa o custo de uma granja suinícola de tamanho l instalado
na região j.
<formula/> =variável binária, tipo zero ou
um, associada à instalação de uma granja de tamanho l, na região [/
img/fbpe/pope/v20n2/11235x11.gif]
Na parte (1c) tem-se o custo total de transporte dos suínos produzidos pelas
granjas de tamanho l,na região j, até os abatedouros presentes na região i.
Na parte (1d) tem-se o custo de implantação de um abatedouro, onde:
Ki= representa o custo de um abatedouro instalado na região i.
Ai= variável binária associada à instalação de um abatedouro.
Finalmente, na parte (1e), tem-se o custo total de distribuição de carcaças de
suínos dos abatedouros das regiões i até os mercados consumidores m. Note-se
que foram considerados 22 mercados consumidores, representados pelas próprias
18 microrregiões de Goiás e pelos municípios de São Paulo, Belo Horizonte, Rio
de Janeiro e Brasília.
3.1.1.2 Restrições
Na inequação (2) tem-se representada a restrição da capacidade de oferta de
grãos da região i, onde a soma das quantidades de grãos k que permanecem na
região, adicionada às quantidades exportadas para as demais regiões, não deve
exceder a capacidade de produção da própria região.
onde:
<formula/> = quantidade total de grãos (k)
transportada da região de produção i para todas as granjas (l) instaladas nas
diversas regiões j;
<formula/> = quantidade total de grãos (k) disponível
na região de produção i.
Na inequação (3) tem-se o dimensionamento da demanda de grãos, onde a soma das
quantidades consumidas na própria região, mais as quantidades que chegam de
outras regiões, não devem ser inferiores à demanda desta região, representada
pelas granjas instaladas na mesma.
onde:
<formula/> = quantidade total de grãos recebida de
todas as regiões de produção i, para atender à totalidade de demanda das
granjas (l) instaladas na região j;
<formula/> = quantidade total demandada de grãos (k)
por todas as granjas (l) instaladas na região j.
Pela inequação (4) é tratada a questão da capacidade de oferta de suínos da
região j, onde a quantidade de suínos que permanece na região, mais a
quantidade que é transportada para os abatedouros de outras regiões, não devem
superar a capacidade de oferta total, representada pelas granjas que venham a
ser instaladas na região.
onde:
<formula/> = quantidade de suínos transportados pelas
diversas granjas l instaladas na região j e que irão abastecer os abatedouros
instalados nas diversas regiões i;
<formula/> = capacidade de oferta das granjas de
tamanho l instaladas na região j.
Já através da inequação (5), é mensurada a demanda de animais, onde o número de
suínos que permanecem na região mais as quantidades que chegam das demais não
devem ser inferiores à demanda propriamente dita, representada pelos
abatedouros que venham a ser instalados na região.
onde:
<formula/> = quantidade de suínos transportados das
diversas granjas l instaladas nas diversas regiões j para abastecer o
abatedouro da região i;
<formula/> = quantidade demandada de suínos pelo
abatedouro que venha a ser instalado na região i.
Na inequação (6) tem-se que a quantidade de carcaças transportadas dos
abatedouros presentes na região i para os mercados consumidores m deve ser tal
que não ultrapassem a capacidade total de oferta dos abatedouros, representada
por aqueles já presentes na região e por aqueles que venham a ser instalados na
região.
onde:
<formula/> = quantidade de carcaças de suíno
transportadas da região de abate i até as regiões de demanda m;
<formula/> = quantidade de carcaças de suínos ofertada
pelo abatedouro a ser instalado na região i.
Na inequação (7) representa-se a necessidade de carcaças de suínos do mercado
consumidor, onde o total de carcaças que chegam neste mercado não deve ser
inferior à sua demanda.
onde:
<formula/> = quantidade de carcaças transportadas para
a região de demanda m, oriunda de todas as regiões de abate i;
<formula/> = demanda por carcaças de suínos da região
m.
Finalmente, na inequação (8) apresenta-se a limitação do número de abatedouros
de grande porte (no caso, três) que poderão ser instalados nas regiões.
onde:
Ai =a variável binária associada à instalação, ou não, de um abatedouro na
região j.
Para a solução do modelo proposto foi utilizada a linguagem de otimização GAMS
' General Algebraic Modeling System (Brooke et al., 1992), juntamente com o
solver XA, em microcomputador com processador "Pentium II", 233 MHz,
32Mb de memória RAM. Os tempos de processamento observados para os cenários 1,
2 e 3 foram, respectivamente, de 4min02s, 4min06s e 5min03s.
4. Resultados e Discussões
4.1 Apresentação dos cenários
Para a determinação dos locais de instalação de suinoculturas, formulou-se três
cenários. Estes cenários representam situações de consumo per capita de carne
suína no Estado de Goiás, e quatro outros importantes mercados consumidores,
representados pelo Distrito Federal e pelos municípios de Belo Horizonte, São
Paulo e Rio de Janeiro.
O primeiro cenário representa um consumo de 8,0 kg/hab./ano, correspondente ao
consumo médio nos últimos anos, em nível nacional. As demandas a serem
atendidas foram limitadas aos Estado de Goiás e ao Distrito Federal. A este
nível de consumo admitiu-se que as demais regiões consideradas já são atendidas
por sua produção interna ou por outras regiões tradicionais na produção de
suínos.
O segundo cenário foi caracterizado pelo consumo per capitade 10 kg/hab./ano.
Além do mercado representado pelo próprio Estado de Goiás e Distrito Federal,
foram atendidos, também, os municípios de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de
Janeiro. Estes mercados foram supridos por uma oferta correspondente à
diferença entre o atual consumo realizado e o consumo considerado neste
cenário, isto é, de 2,0 kg/hab./ano.
O terceiro e último cenário representa a situação mais otimista, onde o consumo
per capita chegaria a 15 kg/hab./ano. Como no cenário anterior, os mercados
atendidos foram os mesmos, mas os mercados de Belo Horizonte, São Paulo e Rio
de Janeiro foram atendidos pelo hiato existente entre o atual consumo e o
considerado neste cenário, no caso de 7,0 kg/hab./ano.
4.2 Cenário 1 (consumo de 8 kg/hab./ano)
4.2.1 Fluxo de grãos
Observou-se neste cenário, para o caso do milho, que não houve a necessidade de
transporte inter-regional, sendo que todas as regiões apresentaram excedentes
de produção. Para o caso da soja, ocorreram dois casos de transporte inter-
regional. Uma movimentação ocorreu da região de Pires do Rio para a região de
Anápolis, e a outra da região de Palmeiras de Goiás para a região de Goiânia
(Tabela_1). Com exceção feita às regiões importadoras, todas as demais
apresentaram excedentes de produção.
4.2.2 Escala de produção de suinocultura
A economia de escala é um fenômeno comum a qualquer atividade econômica. Para o
caso da suinocultura isto também pode ser observado. Dentre as possibilidades
de instalação de granjas propostas pelo modelo, pode-se observar, através do
Figura_1, uma tendência de instalação de granjas de tamanhos maiores (900
matrizes). A participação desse tamanho de granja foi de 13,85% no total,
sugerido pelo modelo, em todo o Estado de Goiás.
4.2.3 Locais de instalação para abatedouro
O abastecimento do mercado consumidor, em equivalente-carcaça, foi atendido
pela instalação de um único abatedouro, suficiente para atendê-lo. Este mercado
consumidor ficou limitado ao Estado de Goiás e ao Distrito Federal.
O local determinado para a instalação do abatedouro foi a microrregião de
Luziânia. O abastecimento do abatedouro foi composto pela produção de 9
regiões. As principais regiões abastecedoras foram constituídas pelas regiões
de Luziânia e Pires do Rio, sendo ambas responsáveis por mais de 43% da demanda
do abatedouro. As outras regiões mais importantes no abastecimento são
Goianésia e Goiânia, conforme mostra a Tabela_2.
A escolha da microrregião de Luziânia para a instalação de um abatedouro pode
ser justificada pelo fato da mesma ser a mais próxima do principal mercado
consumidor, representado pelo Distrito Federal, e ser também próxima, e de
fácil acesso, a outro importante mercado consumidor, representado pela região
de Goiânia. Na Tabela_3 são apresentados os principais centros consumidores.
4.3 Cenário 2 (consumo de 10 kg/hab./ano)
4.3.1 Fluxo de grãos
Neste cenário passa a ocorrer movimentação de milho. No caso da soja também
existe a necessidade de se realizar movimentação de grãos. As regiões que
realizaram importação são Anápolis e Goiânia. As que realizaram exportações são
as de Palmeiras de Goiás e Pires do Rio. A região de Palmeiras de Goiás
constituiu-se na região que realizou o maior volume de exportação, superando
mais de 1.900 toneladas, atendendo à região de Goiânia (Tabela_4).
4.3.2 Escala de produção de suinocultura
A economia de escala de produção também se observa neste cenário, sendo
predominante a utilização de granjas de tamanhos maiores. A granja de 900
matrizes apresenta uma participação de 8,96%, seguida das de 600 matrizes, 800
matrizes e 1000 matrizes. Agregando-se por faixa de tamanhos, o grupo que vai
de 800 a 1000 matrizes apresenta uma participação de 37,33%, seguido dos grupos
relativos às faixas de 550 a 750 matrizes e 300 a 500 matrizes, conforme mostra
a Figura_2.
4.3.3 Locais para instalação de abatedouros
O abastecimento do mercado consumidor poderia ser realizado através da
instalação de dois abatedouros, que foram mais do que suficientes para atendê-
lo. Este mercado consumidor foi ampliado, em comparação ao cenário anterior,
considerando-se agora os municípios de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de
Janeiro, além do Estado de Goiás e do Distrito Federal, que fazem parte de
todos os cenários.
Luziânia e Itumbiara foram os locais escolhidos pelo modelo para a instalação
dos abatedouros. O abastecimento dos abatedouros foi obtido com as produções de
13 regiões. As principais regiões abastecedoras de Luziânia foram a própria
região de Luziânia, além de Pires do Rio e Catalão, responsáveis por mais de
61% da demanda do abatedouro. O abatedouro de Itumbiara foi atendido pelas
produções da própria Itumbiara, além de Rio Verde, Palmeiras de Goiás e
Quirinópolis, totalizando 85,30% da demanda deste abatedouro. Neste cenário
observa-se uma pequena competição pela produção suinícola de Catalão, sendo que
99,22% da produção deste município abastece o abatedouro de Luziânia e 0,78% o
abatedouro de Itumbiara. As regiões produtoras de suínos e os respectivos
abatedouros que as mesmas atendem podem ser melhor observados na Tabela_5.
A justificativa para a escolha destas regiões para a instalação dos abatedouros
pode ser explicada pelo fato das mesmas se localizarem mais próximas dos
principais mercados consumidores. O abatedouro de Luziânia atende ao mercado do
Distrito Federal, ficando para o abatedouro de Itumbiara a incumbência de
atender aos mercados de São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia, três importantes
mercados. Na Tabela_6 pode-se observar os principais centros consumidores,
assim como a distribuição das carcaças efetuada pelos abatedouros.
A instalação dos abatedouros no porte em que foi proposto provocará um
excedente superior a 75 mil toneladas, o que representa para este cenário a
opção por dois abatedouros de menor capacidade, ou por um único abatedouro de
maior capacidade. Por outro lado poder-se-ia, também, atender regiões que se
localizam além dos limites do Estado, transformando o Estado de Goiás num
grande exportador de carne suína.
4.4 Cenário 3 (consumo de 15 kg/hab./ano)
4.4.1 Fluxode grãos
Neste cenário observa-se a ocorrência de transporte de milho e soja, como no
cenário anterior. Para o caso da soja, a principal região exportadora foi a de
Palmeiras de Goiás, superando 27 mil toneladas, e a principal importadora foi a
de S. L. Montes Belos, com um volume importado superior a 10 mil toneladas
(Tabela_7).
4.4.2 Escala de produção de suinocultura
Dentre as possibilidades de instalação de granjas que foram propostas, observa-
se, através do Figura_3, uma tendência de se instalar granjas de tamanhos
maiores (800 e 900 matrizes). A participação de tal tamanho de granja foi de
8,33% no total instalado em todo o Estado de Goiás. Agrupando-se as granjas em
três grandes classes de tamanho, as cinco menores, as cinco medianas e as cinco
maiores, a participação deste último grupo predomina, com 37,24% de
participação, vindo os grupos menores e medianos logo a seguir.
4.4.3 Locais de instalação para abatedouros
Neste cenário, o abastecimento do mercado consumidor foi atendido pela
instalação de três abatedouros. Os locais determinados para a instalação dos
abatedouros foram as microrregiões de Itumbiara, Pires do Rio e Catalão.
O abastecimento destes abatedouros foi alcançado pela produção de 18 regiões,
conforme mostra a Tabela_8. As principais regiões abastecedoras de Itumbiara
foram a própria Itumbiara, Rio Verde, Quirinópolis e Goiânia, totalizando mais
de 86% da necessidade deste abatedouro. O abatedouro de Pires do Rio apresentou
como principais regiões abastecedoras os municípios de Luziânia, Pires do Rio,
Anápolis e Porangatu, que atenderam a mais de 84% da capacidade do abatedouro.
O abatedouro de Catalão foi atendido pelo próprio município e por Palmeiras de
Goiás, S.L. Montes Belos e Goianésia.6
Nota-se que neste cenário ocorre a disputa por todos os abatedouros pela
produção de Goianésia, que fornece 4,19% de sua produção para Itumbiara, 49,43%
para Pires do Rio e 46,38% para o abatedouro de Catalão.
A escolha de tais regiões para a instalação dos abatedouros pode ser
justificada também pelo fato de se localizarem próximas dos principais mercados
consumidores, representados pelo Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro e
Belo Horizonte. Na Tabela_9 são apresentados os principais centros consumidores
abastecidos pelos abatedouros.
A instalação dos abatedouros no porte em que foi proposto provocará um
excedente superior a 36 mil toneladas, referentes à produção do abatedouro de
Pires do Rio, além de 9 mil no abatedouro de Itumbiara. Poder-se-ia assim a
optar por abatedouros de menores capacidades para estes municípios, ou ainda
considerar a alternativa do Estado se tornar um exportador de carne suína,
visando atender a outros Estados.
5. Conclusões
A Região Sul tem apresentado uma série de limitações à expansão da
suinocultura, sendo o restrito espaço físico um dos problemas para a efetivação
dessa expansão. Outro fator de fundamental importância está relacionado aos
custos de produção de insumos, basicamente milho e soja, para a suinocultura.
Neste aspecto o Centro-Oeste tem-se caracterizado como uma grande fronteira
para a expansão da suinocultura, sendo considerado como um grande celeiro
agrícola do País. O Estado de Goiás destaca-se neste cenário pela sua
característica geográfica, ocupando uma posição eqüidistante dos principais
centros consumidores brasileiros.
Nesse contexto, é interessante o estudo da distribuição espacial da
suinocultura e abatedouros dentro do Estado, de modo a se obter a minimização
dos custos de transporte envolvidos. A teoria da localização desenvolvida por
Weber e aprimorada através da programação matemática e de uma série de avanços
computacionais constituiu-se num ferramental bastante apropriado a este estudo.
O estudo de localização desenvolvido priorizou três cenários, todos
relacionados ao consumo per capita de carne suína, em equivalente-carcaça.
Foram considerados, também, grandes centros consumidores localizados além dos
limites do Estado, tais como os municípios de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de
Janeiro e o Distrito Federal.
De acordo com os resultados apresentados, observou-se para todos os cenários
uma tendência à implantação de granjas de grande porte, o que possibilitaria
uma série de economias de escala. A localização das mesmas obedeceu à tendência
de localização próxima ao abatedouro, o que seria uma forma de se minimizar os
custos de transporte de animais. Por outro lado, observou-se, no cenário 1, que
todas as microrregiões apresentam milho suficiente para atender à demanda
projetada, ocorrendo somente nos cenários 2 e 3 a necessidade de transporte
daquele grão. Para o caso da soja sempre foi necessária a movimentação entre as
regiões. De uma forma geral, a produção de grãos sempre excedeu às necessidades
de consumo.
A mudança de locais de instalação das granjas, para todos os cenários, seria
viável, com algumas vantagens, nos locais onde houve a instalação de
abatedouros. Isto sugere que os locais onde ocorressem a instalação de
abatedouros viessem a se transformar em locais de grande concentração de
granjas de suínos. Tal fato pode ser verificado na Região Sul do País, onde a
grande concentração de suinocultura se dá exatamente onde estão localizadas as
grandes empresas do ramo de abate de suínos.
Para todos os cenários observou-se que à medida que o consumo per capita
aumentasse haveria uma tendência de se instalar um abatedouro mais ao sul do
Estado, tendo-se em vista a responsabilidade pelo atendimento ao principal
mercado consumidor brasileiro, que é São Paulo, em função da sua grande
população, e também por se localizar numa saída para outros importantes
mercados, como Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
Um aspecto importante do trabalho foi a caracterização da região sul do Estado
de Goiás como sendo de grande potencial para a produção de proteína animal, a
partir da proteína vegetal, uma vez que se verificou uma forte tendência em se
concentrar nesta região a instalação de granjas e abatedouros.
A implantação de granjas de suínos e abatedouros no Estado de Goiás já pode ser
considerada como um fato concreto, através do interesse e confirmação de
algumas empresas de grande porte em se instalar na região, principalmente na
área de Rio Verde.
De qualquer maneira, urge que extensões do modelo de localização sejam
formuladas, envolvendo, por exemplo, fatores não tratados diretamente neste
estudo.
Um aspecto importante a ser considerado na localização diz respeito às
vantagens que as empresas podem desfrutar nas chamadas "guerras
fiscais", tais como isenção de impostos, doação de terrenos e outros
benefícios. Outro fator importante a ser tratado em estudos futuros deve dar
conta de um maior detalhamento da definição das áreas de interesse, pois a
caracterização de um Estado da Federação como um todo talvez não seja a melhor
alternativa a ser considerada. Assim sendo, a caracterização dos custos por
região é recomendável não somente em Goiás mas em estados vizinhos.
Finalmente, para estudos de localização que envolvem produtos de origem
agropecuária, deve-se considerar sua competitividade em nível internacional,
uma vez que o país se destaca pelo seu grande potencial agro-exportador. Para
tais estudos, onde a exportação esteja sendo considerada, será preciso levar em
conta outros tipos de modais de transporte, tais como as ferrovias, assim como
os custos de movimentação em diferentes portos.