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BrBRCEEn0104-530X2016000100060

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National varietyBr
Year2016
SourceScielo

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Ideias para a inovação: um mapeamento sistemático da literatura

1 Introdução

Dado o atual ambiente de negócios, as organizações necessitam inovar em resposta às demandas e estilos de vida dos clientes, a fim de aproveitar as oportunidades oferecidas pela tecnologia e pelos mercados em constantes mudanças (Baregheh et al., 2009). Além disso, as organizações estão sob crescente pressão competitiva para manter a sua fatia de mercado, aumentar a gama de produtos, melhorar a eficiência e reduzir custos, sendo a inovação o processo que pode levá-las a alcançar estas melhorias (Flynn et al., 2003).

Ou seja, constantes demandas e mudanças do ambiente exigem uma incessante adaptação das organizações por meio da inovação, que pode ser realizada em relação a produtos, serviços, operações, processos e pessoas (Baregheh et al., 2009). Esses autores, ainda, afirmam que a [...] inovação é o processo de várias etapas por meio do qual as organizações transformam ideias em produtos novos/melhorados, serviços ou processos, a fim de avançar, competir e diferenciar-se com sucesso em seu mercado [...] (Baregheh et al., 2009, p. 1334, tradução nossa). O processo de inovação é dividido em várias fases ou subprocessos. De modo geral, a literatura separa em três fases: front end da inovação (fase inicial), desenvolvimento e comercialização (Koen et al., 2001).

Para as organizações, a inovação é um processo-chave para alcançar competitividade sustentada (Björk et al., 2010). A importância da inovação pode ser comparada com aquela dada à qualidade no fim dos anos 1960 (Gibson & Skarzynski, 2008).

Nesse sentido, a gestão da inovação bem sucedida envolve a coordenação de um portfólio de projetos de desenvolvimento de inovação em um quadro claro, norteado pela estratégia global do negócio (Flynn et al., 2003). Nessa linha, a sua capacidade de gerar e desenvolver ideias, de criar novas opções e oportunidades para o próprio futuro, e explorá-las efetivamente no sistema de negócios (Björk et al., 2010; Flynn et al., 2003) é vital para o sucesso do processo de inovação. No mesmo sentido, a geração das ideias é identificada como uma das mais importantes e críticas atividades da inovação (Roberts & Fusfeld, 1981) e, ao mesmo tempo, é reconhecida como uma parte vital do front end da inovação (Koen & Kohli, 1998).

Assim, considerando a relevância do tema para as organizações no atual contexto competitivo, o presente artigo tem como objetivo realizar um mapeamento sobre as pesquisas relacionadas a ideias e sua gestão, disponíveis nas seguintes bases de dados: Scopus, Web of Knowledge, EBSCO e Engineering Village.

Para isso, buscou-se, além do levantamento dos artigos nas bases, realizar uma análise bibliométrica, examinando padrões de comportamento das pesquisas, bem como a classificação dos trabalhos em função dos focos de estudo.

O trabalho está estruturado da seguinte forma: na introdução, apresentam-se os conceitos básicos pertinentes à questão das ideias no processo de inovação. A fundamentação teórica é o passo seguinte, em que são apresentados os conceitos norteadores sobre ideias e sua gestão. Logo depois, é detalhado o método utilizado no levantamento dos dados.

Posteriormente, é explicada a análise bibliométrica, descrevendo a coleta dos dados, categorização e o mapeamento da literatura, indicando as abordagens das pesquisas relativas ao tema e, por fim, são realizadas as considerações finais.

2 Fundamentação teórica

Ao longo dos anos diversas pesquisas têm focado o processo de inovação, sobretudo em formas de melhorá-lo como um todo. São pesquisas que abrangem desde a teoria Schumpeteriana ligada ao empresário inovador até às teorias neoschumpeterianas dos autores Richard Nelson, Sidney Winter, Giovani Dosi, Edith Penrose e Christopher Freeman, entre outros, os quais consideram a inovação o único caminho para a sobrevivência nos mercados de produtos e processos. também os estudos concentrados no desenvolvimento de novos produtos, com foco em bens.

Posteriormente, surgiram pesquisas com um olhar mais apurado sobre os demais tipos de inovação. Muitos desses estudos, acompanham a evolução cronológica e conceitual de Rothwell (1994), à qual Tidd et al.

(2008) chamam de jornada inovadora, composta de fases importantes, dependentes de uma série de circunstâncias em que novos modelos específicos do processo de inovação se apresentam. Haja vista que a literatura de desenvolvimento de produtos foi transposta para a área de inovação, agregando-se estudos sobre outros resultados do processo, entende-se aqui que o processo de desenvolvimento de novos produtos e o processo de inovação, são semelhantes, sendo a alteração principal o fato de que, no processo de inovação, podem-se ter múltiplos tipos de saídas.

Uma mudança importante na forma de visualizar o processo de inovação foi proposta por Smith e Reinertsen em 1991 (ainda com foco no desenvolvimento de produtos bens), que destacaram, no processo, o estágio inicial, ou seja, as atividades e o tempo até o desenvolvimento de um conceito de produto. A esse estágio, considerado aqui como um subprocesso, os autores chamaram de fuzzy front end (FFE). O termo fuzzy (difuso) foi utilizado em função de esse subprocesso envolver processos imprecisos e decisões ad hoc (Montoya-Weiss & O’Driscoll, 2000), ou seja, ele é [...] muitas vezes caótico, imprevisível, e não estruturado [...] (Murphy & Kumar, 1997, p. 32).

Assim, com base na proposta de Smith & Reinertsen (1991), pode-se dividir o processo de desenvolvimento de novos produtos em três subprocessos: 1) fuzzy front end; 2) desenvolvimento de novos produtos; 3) comercialização. Neste artigo, adotou-se o termo proposto por Koen et al. (2001), ou seja, front end da inovação (FEI), pois eles afirmam que o uso do termo fuzzy pode levar ao entendimento de que este subprocesso é misterioso e portanto impossível de gerenciá-lo. Deve-se observar também, em relação à terminologia, que, antes da contribuição de Smith & Reinertsen (1991), esse subprocesso era estudado (por exemplo, Cooper, 1988).

Partindo do fato de que o processo de inovação pode resultar em diferentes tipos de resultados (produtos bens e serviços, processos, métodos de marketing e métodos organizacionais), para o subprocesso de desenvolvimento de produtos, será utilizado o termo desenvolvimento e para o subprocesso de comercialização será utilizado o termo implementação, uma vez que uma inovação em processo, por exemplo, não precisa ser necessariamente comercializada.

Nesse sentido, divide-se o processo de inovação em: front end da inovação; desenvolvimento; implantação. O front end da inovação (FEI) é um dos subprocessos mais frágeis do processo, porém fundamentalmente determina o posterior sucesso da inovação (Koen et al., 2001). No FEI, ideias e oportunidades são interligadas, pois, reconhecer ou criar uma oportunidade é uma ocasião para gerar ou testar uma ideia, bem como uma ideia pode levar a uma oportunidade e pode-se exigir uma ideia para aproveitar uma oportunidade (Vandenbosch et al., 2006; Koen et al., 2001). Com base em resultados de estudos empíricos e argumentos lógicos para a redução da incerteza no FEI, as organizações devem investir em recursos intelectuais sobre essa parte do processo de inovação (Boeddrich, 2004), que toda melhora nesse subprocesso tende a representar melhoras substanciais no resultado final da inovação (Koen et al., 2001).

Para obter um número máximo de ideias de produtos e processos inovadores, uma visão holística do processo de inovação é necessária (Brem & Voigt, 2007). Apesar da importância das ideias para o processo de inovação, com algumas exceções, foi nas últimas décadas que as empresas trataram explicitamente com formas para fomentar a produção de ideias (Björk et al., 2010). As empresas não devem se preocupar apenas com a identificação de ideias, mas também devem assumir um papel ativo no estímulo à geração e formulação explícita de ideias, ou seja, no processo de gestão de ideias (Björk et al., 2010).

Gestão de ideias é considerada aqui o processo pelo qual organizações identificam a necessidade, geram (por criação ou captação), enriquecem, compartilham, armazenam, avaliam e selecionam ideias no contexto da inovação.

3 Procedimentos metodológicos

A bibliometria é o estudo dos aspectos quantitativos da produção, disseminação e uso da informação registrada (Macias-Chapula, 1998). Segundo Spinak (1996), a bibliometria estuda a organização dos setores científicos e tecnológicos a partir de fontes bibliográficas e patentes para identificar os atores, suas relações, o crescimento e tendências do conhecimento em uma área.

Os procedimentos metodológicos adotados neste artigo são similares e se aproximam dos procedimentos adotados por trabalhos anteriores, como Greenhalgh et al. (2004) e Kalluri & Kodali (2014). Greenhalgh et al. (2004) realizaram uma revisão sistemática com o intuito de discutir o conteúdo específico sobre difusão da inovação e apresentar um processo de revisão da literatura de forma sistemática e reprodutível. Kalluri & Kodali (2014) apresentam uma revisão sistemática e análise dos artigos existentes sobre o desenvolvimento de novos produtos (NPD) publicados no período de 12 anos, entre 1998 e 2009. , no estudo aqui descrito, optou-se por realizar uma revisão bibliométrica como forma de obter um panorama geral das pesquisas relacionadas a ideias no contexto da inovação. Para isso, além do levantamento sistemático da literatura, realizou-se uma revisão bibliométrica dos dados levantados, de forma a identificar os principais autores, países, fonte de publicação, publicações mais citadas. Adicionalmente, realizou-se um mapeamento das publicações com vistas a identificar diferentes abordagens das pesquisas, a partir de uma taxonomia emergente da análise dos trabalhos. O presente estudo foi realizado em sete etapas distintas: identificação das palavras-chave; buscas nas bases de dados; exportação para o EndNote.; filtragem das publicações; inclusão de publicações relevantes ao portfólio; padronização; análise bibliométrica; categorização das publicações; síntese das categorias.

Identificação das palavras-chave: teve como principal objetivo identificar quais palavras-chave foram utilizadas pelos autores quando tratam do assunto. Para isso, realizou-se busca exploratória na base Scopus, com os termos innovation e idea, da qual obtiveram-se os seguintes termos-chave, para a busca nas quatro bases de dados, combinados um a um com o termo innovation: basic idea; creative ideas; idea generation; idea generations; idea management; idea selection; idea screening; ideas; ideation; ideas generation; innovative ideas; new ideas.

Buscas nas bases de dados e exportação para o EndNote.: com relação à escolha das bases foram selecionadas as seguintes: Scopus; Web of Knowledge; EBSCO; Engineering Village.

Os critérios de escolha foram: por elas serem da área de gestão de negócios, por serem reconhecidas pela qualidade das publicações armazenadas e também por possibilitar melhor abrangência da pesquisa. Utilizou-se o software EndNote., o qual permitiu aos pesquisadores a realização de algumas funções da pesquisa bibliométrica, bem como a parametrização dos dados disponível em cada base ( que estas apresentam formatos diferentes).

Filtragem das publicações: com auxílio do software EndNote. foi possível: eliminar as publicações duplicadas entre bases; identificar os artigos que não eram relevantes para a pesquisa; realizar o download dos artigos. Esse processo foi realizado por três pesquisadores que leram os títulos e resumos de cada publicação e eventualmente o artigo completo.

Padronização: foi realizada a padronização das informações conforme os seguintes critérios: igualar nomes dos autores e periódicos; eliminar inconsistências encontradas em função de erros ou falta de cadastramento nas bases, como um nome incorreto de um periódico ou autor.

Inclusão de publicações relevantes ao portfólio: foram analisadas as referências do portfólio de artigos disponíveis procurando por artigos relevantes. Esses artigos foram adicionados ao portfólio final, compondo o portfólio de análise.

Análise bibliométrica: com o portfólio de análise formado e padronizado, tornou-se viável a realização da análise bibliométrica como consultas e contagem de frequência, isto é, quantidade de publicações por ano, quantidade de publicação por periódico, autores e coautores e seus correspondentes países, quantidade de publicação por autor e as palavras-chave.

Categorização e síntese das publicações: a partir da leitura dos títulos e resumos, e quando necessário do artigo, os artigos foram agrupados segundo sua temática principal. Desta forma, gerou-se uma taxonomia dos artigos, com o intuito de auxiliar outros pesquisadores na busca de publicações, além de possibilitar o entendimento das principais abordagens utilizadas nas publicações em relação a ideias e sua gestão no contexto da inovação.

4 Resultados do levantamento sistemático

Para se chegar ao portfólio de análise, ou seja, os artigos relevantes para o estudo, foi necessária a definição de vários critérios de exclusão e filtragem descritos nos procedimentos metodológicos. Partiu-se de um montante de 870 publicações, distribuídas da seguinte forma: Web of Science (173); Scopus (432); EBSCO (220); Engineering Village (45).

Depois dos autores realizarem a leitura dos títulos e resumos, e eventualmente por meio da leitura do artigo completo, chegou-se a um portfólio de 213, porém somente 139 artigos foram obtidos na íntegra.

Destes, buscaram-se, em suas referências, artigos relevantes que dispusessem do texto por completo.

Com essa estratégia, foram identificados mais 28 artigos relacionados ao tema, dos quais somente 21 deles disponíveis na íntegra. Esses 28 artigos foram adicionados aos 213 artigos anteriores, resultando, assim, em 241 publicações que compuseram o portfólio de análise. Porém, ressalta-se que somente 160 artigos estavam disponíveis na íntegra, o que pode ser justificado pelas restrições do convênio entre a Universidade Federal de Santa Catarina, a CAPES e as bases de dados. Considera-se que a indisponibilidade na íntegra de parte dos artigos do portfólio de análise é uma limitação do estudo.

Entretanto, deve-se considerar que o resumo dos trabalhos, em geral, é desenvolvido pelos autores, ou seja, parte do trabalho e das ideias desses autores.

5 Análise bibliométrica

A presente seção tem como objetivo apresentar os resultados da análise bibliométrica realizada sobre os artigos do portfólio de análise (241 artigos).

5.1 Dados bibliométricos

Quinhentos autores (incluindo coautores) de 31 países foram responsáveis pelos 241 artigos que compõem o portfólio de análise. Os artigos foram publicados em 138 periódicos e 1.198 palavras-chave diferentes foram utilizadas. Além desses números, foram realizadas as seguintes relações: palavras-chave mais recorrentes; quantidade de publicações por ano; quantidade de publicações por autor; quantidade de publicações por periódico.

Na Figura 1, é apresentado o gráfico com as palavras-chave com dez ou mais repetições nos trabalhos do portfólio de análise. Os termos innovation e idea generation foram utilizados em todas as buscas, logo aparecem nas palavras-chave como as mais recorrentes (120 e 60 repetições, respectivamente), sendo retirados do gráfico por serem as próprias palavras de busca.

As expressões criatividade e gestão da inovação se destacam como as palavras-chave dos artigos com grande frequência, sendo 47 e 31, respectivamente.

Isso ilustra a importância da gestão da inovação e da criatividade e técnicas no contexto da geração de ideias. Não basta gerar ideias, é necessário gerir o processo que inicia com as ideias e finaliza na inovação propriamente dita.

Com relação ao número de publicações ao longo dos anos, percebe-se uma irregularidade nas quantidades de publicações, conforme Figura 2.

Não foram encontradas explicações para os picos de publicações em alguns anos (2002, 2006 e 2010) e a queda em outros (2003 e 2005). Mas de um modo geral, percebe-se um crescimento no número de publicações nos últimos sete anos (a partir de 2006).

O número de artigos reduzido em 2012 é explicado pelo fato de o levantamento haver sido realizado no final de 2011, e alguns artigos de 2012 haviam sido cadastrados em algumas bases.

Com relação aos autores que mais publicaram sobre o tema, conforme pode ser observado no gráfico da Figura 3, verificou-se que 15 deles possuem três ou mais publicações no portfólio. Destacam-se aqui os autores B. A. Nijstad e W. Stroebe com sete e seis publicações, respectivamente. Esses dois autores são holandeses e trabalham na área da psicologia e têm publicado juntos com foco nos aspectos cognitivos no processo de compartilhamento de ideias no contexto de geração de ideias em grupo.

Separando os trabalhos dos autores apresentados no gráfico da Figura 3, tem-se 41 artigos, ou seja, os 15 autores que mais publicaram, são responsáveis por 17% do portfólio de análise. Verificou-se também que, entre os autores apresentados no gráfico, muitos publicam juntos, por exemplo: E. F. Rietzschel, B. A. Nijstad e W. Stroebe (Nijstad et al., 2002; Nijstad & Stroebe, 2006; Rietzschel et al., 2006, 2009, 2010); J.

Björk e M. G. Magnusson (Björk & Magnusson, 2009; Björk et al., 2010, 2011); e J. S. Linsey e K. L. Wood (Hey et al., 2008; Linsey et al., 2008, 2011).

Levantando os periódicos que mais publicaram sobre o tema, conforme pode ser observado na Figura 4, destacaram-se o Internacional Journal of Technology Management e Management Science com 11 e 10 publicações respectivamente. Além disto, verifica-se que dos 138 periódicos encontrados, os 13 (9,42%) que mais publicaram, o fizeram para aproximadamente 33% das publicações.

Os Estados Unidos é o país que mais publicou sobre o tema, totalizando 100 artigos, seguido da Alemanha (28), Reino Unido (12), Suécia (12), Canadá (11), Holanda (11) e de outros países com menos de dez publicações.

Entre os artigos mais citados nas bases, destacaram-se os trinta mais citados na base Scopus e Web of knowledge, conforme ilustra a Quadro 1.

Figura 1. Gráfico de frequência das 20 palavras-chave mais recorrentes (n = 1198). Fonte: Fonte: Bases de dados Scopus (2011), Web of Knowledge (2011), EBSCO (2011) e Engineering Village (2011).

Figura 2. Gráfico da quantidade de publicações por ano. Nota: n = 241 e dados dos últimos 20 anos. Fonte: Bases de dados Scopus (2011), Web of Knowledge (2011), EBSCO (2011) e Engineering Village (2011).

Figura 3. Gráfico da quantidade de publicações dos quinze autores que mais publicaram. Nota: n = 241 e corte em três publicações. Fonte: Bases de dados Scopus (2011), Web of Knowledge (2011), EBSCO (2011) e Engineering Village (2011).

Figura 4. Gráfico da quantidade de publicações por periódico. Nota: n = 241 e corte em quatro publicações. Fonte: Bases de dados Scopus (2011), Web of Knowledge (2011), EBSCO (2011) e Engineering Village (2011).

Quadro 1. Trinta artigos mais citados nas bases Scopus (SC) e Web of Knowlegde (WK).

Nota: NPB significa não presente na base. Fonte: Bases de dados Scopus (2011), Web of Knowledge (2011), EBSCO (2011) e Engineering Village (2011).

Observa-se que não se optou pelas bases EBSCO e Engineering Village, pois a forma como essas apresentam a citação não permite a extração dessa informação de forma automática. A escolha foi realizada pelo maior número de citações em qualquer das bases.

5.2 Categorização das publicações

A partir do portfólio de análise, os 241 artigos foram examinados com o objetivo de identificar o foco principal de cada um dos artigos. Nesse processo, emergiram nove categorias, sendo (os números entre parênteses representam a frequência de artigos nas categorias): fatores de influência (86); fontes de ideias (57); técnicas de geração de ideias (29); processo de gestão de ideias (22); ferramentas computacionais (17); avaliação/seleção de ideias (17); banco de ideias (4); difusão de ideias (5); e resultado do processo de gestão de ideias (4).

Todas as publicações foram classificadas em apenas uma dessas categorias, porém alguns trabalhos tratam de mais de uma, sendo que, nestes casos, os pesquisadores realizaram a classificação segundo o tema predominante (foco principal do estudo).

5.3 Discussão das abordagens encontradas na literatura

A seguir, cada uma das abordagens identificadas é explicada com a ajuda das pesquisas apresentadas pelos artigos do portfólio de análise. Sua apresentação será feita na sequência decrescente do número de artigos em cada categoria.

5.3.1 Fatores de influência sobre gestão de ideias

Nessa categoria estão os trabalhos que estudam fatores que influenciam a gestão de ideias. Pela análise dos artigos, identificaram-se ênfases específicas, ou seja, trabalhos que estudaram mais profundamente um dos fatores de influência (Quadro 2), quais sejam: ambiente organizacional, anonimato, criatividade, liderança, mercado e tecnologia, oportunidades, perfil individual e região geográfica.

Com relação ao ambiente organizacional, Rosa et al.

(2008), com base em estudos de caso em três empresas, estabelecem quatro princípios de gestão que geram criatividade e inovação nas organizações: gerir a organização de forma que o conhecimento base seja mais diversificado do que ocorreria normalmente; encorajar os funcionários a adotar uma atitude de colaboração; tornar possível aos membros da organização participarem de testes rápidos de suas ideias e soluções quando elas emergem; recompensar comportamentos que suportem esses princípios e punir a resistência à implementação deles. Nessa ênfase, destaca-se que o trabalho de Marx (1998) prescreve características de um programa de gestão de ideias e inovação com foco na aprendizagem.

Quadro 2. Artigos que têm como foco principal os fatores de influência à gestão de ideias.

Fonte: Bases de dados Scopus (2011), Web of Knowledge (2011), EBSCO (2011) e Engineering Village (2011).

Com relação ao anonimato, Connolly et al. (1990) e Jessup et al. (1990) estudaram o efeito do anonimato sobre a geração de ideias comparando grupos de trabalho anônimos com grupos identificados. Connolly et al.

(1990) focaram o anonimato na geração de ideias auxiliada por computador. Os autores concluíram que grupos anônimos produziram maior número de soluções originais e comentários gerais sobre as ideias, porém a qualidade média e a raridade das soluções não foram diferentes de grupos identificados.

Jessup et al. (1990) verificaram que os grupos anônimos geraram mais comentários sobre as ideias e foram mais críticos, bem como estavam mais propensos a enriquecer ideias propostas por outros membros.

Em relação à criatividade, os artigos destacam que a criatividade dos grupos tem implicações na qualidade das soluções de problemas e decisões.

Por esse motivo, as organizações buscam melhorar a criatividade no processo de desenvolvimento de produto novo, oferecendo programas de incentivo, programas de treinamento de criatividade, ou ambos.

No entanto, a criatividade continua a ser uma construção que não é bem compreendida.

Quanto à liderança, encontrou-se nos artigos a influência que os lideres possuem no comportamento inovador dos funcionários. Estes, por sua vez, podem ajudar a melhorar o desempenho empresarial por meio de sua capacidade de gerar ideias e construir novos e melhores produtos, serviços e processos de trabalho.

No que tange ao mercado e tecnologia, a capacidade de uma organização para identificar, adquirir e utilizar ideias (externas) podem ser vistas como um fator crítico no que diz respeito ao seu sucesso de mercado.

Ao tratar do assunto de oportunidades, os autores citam nos artigos que é um processo inicial e que é uma área de importância para o mercado e empresas industriais por causa de seu papel principal no novo processo de desenvolvimento de produto.

Em relação ao perfil individual, os artigos tratam da importância em fomentar a inovação entre os colaboradores.

Ao tratar das regiões geográficas, os artigos se referem aos estudos que têm demonstrado que proximidade geográfica incentiva a formação de relacionamentos e que a intensidade de interações favorece a transmissão de ideias e informações.

Essas inter-relações, dentro de contexto e locais específicos, incentivam o crescimento econômico e inovação local. Por fim, existem artigos que tratam de mais de um fator de influência. Estes, portanto, foram considerados como artigos gerais.

5.3.2 Fontes de ideias

Nessa categoria, estão os trabalhos que abordam as fontes de ideias para inovação (Quadro 3).

Duas vertentes de estudos nessa categoria se destacam: a que estuda os usuários como fontes de ideias e a que faz o mesmo para os colaboradores. Na vertente, com foco nos usuários, alguns trabalhos destacam o papel dos concursos de ideias, por exemplo, Hansen et al. (2011), Leimeister et al. (2009), Piller & Walcher (2006), Zheng et al. (2011), Schepers et al.

(1999), Morgan & Wang (2010), Ebner et al. (2009).

Hansen et al. (2011) analisaram um caso sobre concurso de ideias e verificaram que a maioria das ideias fornecidas pelos usuários está relacionada a inovações incrementais. Leimeister et al. (2009), Morgan & Wang (2010) e Zheng et al. (2011) discutem formas de incentivar a participação dos usuários nos concursos. Ebner et al. (2009), por sua vez, discute o suporte que as tecnologias da informação e comunicação podem fornecer para concursos dessa natureza. Ainda com relação aos trabalhos que focam os usuários como fontes de ideias, Grunert et al.

(2011) discutem o uso de técnicas de percepção do consumidor e concluem que essas técnicas podem: apoiar a identificação de oportunidades de mercado; certificar que as tecnologias empregadas são aceitáveis para os consumidores; auxiliar a seleção; otimizar novos conceitos de produtos e testar protótipos de produtos antes do lançamento final.

Quadro 3. Artigos que têm como foco principal a avaliação e seleção de ideias.

Fonte: Bases de dados Scopus (2011), Web of Knowledge (2011), EBSCO (2011) e Engineering Village (2011).

Rexfelt et al. (2011) descrevem os resultados de um projeto que teve como objetivo desenvolver e aplicar métodos de cocriação com usuários, focando as fases iniciais do desenvolvimento de novos serviços. Os autores concluem que uma abordagem estruturada para a cocriação é importante, porém não uma receita universal para a inovação em serviços.

Desenvolvimento de novos serviços com o auxílio dos usuários também foi estudado por Sorensen & Nicolajsen (2010), discutindo o envolvimento dos usuários no processo.

Com relação ao tipo de usuário utilizado como fonte de ideias para inovação, alguns trabalhos abordam a utilização de usuários líderes, por exemplo, Lilien et al. (2002), Mullins et al. (2008), enquanto outros abordam a utilização de usuários comuns, por exemplo, Magnusson et al. (2010) e Morrison et al.

(2000).

Na vertente com foco nos funcionários, percebe-se que os estudos reconhecem a necessidade da utilização das ideias destes. Santos & Spann (2011) apresentam um método para promover o empreendedorismo corporativo de forma a transformar o pensamento criativo dos funcionários em produtos valiosos.

Em uma outra linha, Hartman et al. (1994) estudaram as fontes de ideias utilizadas pelos funcionários.

Os autores concluíram que todos os funcionários estão de alguma forma ligados a atividades de inovação.

Em um sentido prescritivo, Leavy (2005) afirma que as empresas inovadoras compartilham pelo menos quatro fatores que são fundamentais para o sucesso: incluir as pessoas e as ideias no cerne da filosofia de gestão; dar às pessoas espaço para crescer, para experimentar coisas e aprender com seus erros; construir um forte sentido de abertura, comunidade e confiança em toda a organização; facilitar a mobilidade interna de talentos.

Com menor recorrência que os usuários e os funcionários, alguns trabalhos focam os concorrentes como fontes de ideias. Brolo (2009), com ênfase no início do processo de inovação, estuda a relação cooperativa entre empresas financeiras e conclui que a cooperação entre concorrentes pode ser uma vantagem na fase de geração de ideias porque a inserção em uma rede pode proporcionar confiança, uma compreensão normal das condições básicas e uma base mais ampla de conhecimento comum. O autor salienta ainda que a diferenciação entre as empresas ainda existirá em função de recursos específicos e modelos de negócio. A vantagem da cooperação também é identificada por Alam (2003), porém o autor salienta que não apenas na geração de ideias existem benefícios, mas também em todo o processo.

Hsu et al. (2009) propõem um processo que visa integrar a informação de patentes dos concorrentes, sem contudo ocasionar violações legais.

Os demais trabalhos classificados nessa categoria abordam uma relação mais ampla entre as fontes de ideias. Merecem destaque os trabalhos que procuram comparar a importância de diferentes fontes de ideias para as empresas. Bommer & Jalajas (2004) estudaram a importância de fontes de ideias para pequenas e médias empresas por meio do relato de profissionais de pesquisa e desenvolvimento. Chen et al. (2011) estudaram os fatores que influenciam a escolha das fontes de ideias. Pesquisando empresas de tecnologia da informação e comunicação, Hyland et al. (2006) verificaram as fontes que essas empresas utilizam e concluíram que elas não são as mesmas, porém os autores verificaram que a força de vendas, clientes e fornecedores são consideradas por estas empresas fontes importantes de ideias.

5.3.3 Técnicas de geração de ideias

Nessa categoria, foram enquadrados os trabalhos que tratam de técnicas de geração e/ou enriquecimento de ideias (Quadro 4). A maioria dos trabalhos concentra-se na verificação da qualidade e/ou quantidade de ideias geradas em determinadas técnicas.

Chan et al. (2011), Linsey & Viswanathan (2010) e Linsey et al. (2008) avaliam por meio de experimentos a utilização de analogias para a geração de ideias.

Nijstad et al. (2002) e Paulus & Yang (2000), em uma abordagem mais orientada ao enriquecimento de ideias, verificam o aumento de ideias quando estas são compartilhadas, abordando também condições para isto. Diehl & Stroebe (1991), Sutton & Hargadon (1996), Howard et al. (2010) e Valacich et al.

(1994) abordaram a técnica que talvez seja a mais citada quando se abordam técnicas para geração e enriquecimento de ideias: o brainstorming. De modo geral, os trabalhos evidenciam que se alcança maior efetividade na geração de ideias quando elas são geradas isoladamente e reunidas em um segundo momento. Complementarmente, Valacich et al.

(1994) verificam que a utilização de uma ferramenta computacional pode melhorar ainda mais o processo de gestão de ideias.

5.3.4 Processos de gestão de ideias

Os trabalhos classificados nessa categoria buscam estudar o processo de gestão de ideias ou parte dele (Quadro 5), em que se destacam artigos com foco em: modelos de gestão de ideias, ferramentas computacionais como apoio ao processo, capacidade de ideação (geração de ideias), conhecimento tácito e explícito, e processo de gestão de ideia.

Trabalhos como o de Brem & Voigt (2007), Flynn et al. (2003), Sandström & Björk (2010) e Kurkkio et al. (2011) apresentam modelos. Brem & Voigt (2007) abordam a questão da integração de interessados externos ao processo. Flynn et al. (2003) apresentam um processo de gestão de ideias apoiado por uma ferramenta computacional. Kurkkio et al.

(2011), com uma abordagem de front end da inovação, realizam um estudo de caso com foco no desenvolvimento de novos processos. Sandström & Björk (2010) abordam como um sistema de gestão de ideias, que trabalha com ideias de inovação contínua e descontínua, pode ser desenvolvido.

Outros trabalhos estudam aspectos relacionados ao processo de gestão de ideias, sem necessariamente abordar um modelo específico. Partindo do conceito de capacidades de ideação como processos gerenciais e organizacionais para a estimulação, identificação, seleção e implementação de ideias, Björk et al.

(2010) estudam quatro empresas suecas com foco na abordagem de ideação utilizada por elas. Os autores verificam que diferentes abordagens são utilizadas e apontam as dificuldades encontradas pelas empresas no que tange: ao grau de formalização do processo; à extensão do envolvimento dos funcionários; e ao grau de procura deliberada por ideias. Gabberty & Thomas (2007) estudam a evolução das ideias desde o conceito até a realidade e sugerem novas áreas de investigação entre o conhecimento tácito e explícito.

5.3.5 Ferramentas computacionais para a gestão de ideias

O estudo de ferramentas computacionais para a geração/gestão de ideias é o foco principal dos artigos agrupados nessa categoria (Quadro 6), em que se identificaram trabalhos com ênfase em: estado da arte sobre softwares, ferramentas computacionais para geração de ideias, ferramentas para brainstorming eletrônico, wikis e ontologias.

Kohn & Husig (2006) estudam a adoção de softwares de apoio à inovação por pequenas e médias empresas.

Posteriormente, Husig & Kohn (2009) fornecem um estado da arte sobre os softwares disponíveis na época para suporte ao processo de inovação.

Trabalhos como os de Westerski et al. (2011), Ardaiz-Villanueva et al. (2011), Bothos et al. (2009) e Fairbank et al. (2003) apresentam ferramentas para a geração de ideias. Nagasundaram & Dennis (1993) seguem a mesma linha, mas com foco no brainstorming eletrônico. Ainda, Standing & Kiniti (2011) estudam a utilização de wikis em todo o processo de inovação, inclusive na geração de ideias. Riedl et al. (2009), partindo da necessidade de troca e análise de ideias entre diferentes ferramentas, apresentam uma ontologia, fornecendo uma linguagem comum para promover a interoperabilidade entre as ferramentas.

Quadro 4. Artigos que têm como foco principal a geração e enriquecimento de ideias.

Fonte: Bases de dados Scopus (2011), Web of Knowledge (2011), EBSCO (2011) e Engineering Village (2011).

Quadro 5. Artigos que têm como foco principal a avaliação e seleção de ideias.

Fonte: Bases de dados Scopus (2011), Web of Knowledge (2011), EBSCO (2011) e Engineering Village (2011).

5.3.6 Avaliação e seleção de ideias

Nessa categoria, foram agrupados os artigos que tratam com mais ênfase da avaliação e/ou seleção de ideias (Quadro 7).

Dailey & Mumford (2006) avaliaram como as pessoas preveem recursos necessários e avaliam as consequências de ideias. Os autores verificaram que as pessoas foram mais precisas na previsão de recursos e avaliação de consequências em condições susceptíveis de gerar intenções de implementação, porém superestimaram os resultados e subestimaram os recursos quando tinham alguma familiaridade com o problema.

Trabalhos como os de Ferioli et al. (2010), Licuanan et al. (2007) e Lonergan et al. (2004) abordam o processo de avaliação de ideias. Ferioli et al.

(2010) apresentam um estudo que analisa a atividade de avaliação da ideia criativa nas fases iniciais do processo de Desenvolvimento de Novo Produto (NPD). Entre descobertas, os autores verificaram que seções longas de avaliação de ideias podem fazer com que boas ideias sejam perdidas ou excluídas.

Licuanan et al. (2007) focam a avaliação da originalidade de ideias, enquanto Lonergan et al. (2004) examinaram a influência das normas de avaliação e revisão sobre a solução criativa de problemas.

Esses autores concluíram que a avaliação poderia servir para corrigir deficiências nas ideias, mas que as normas aplicadas deveriam variar tanto de acordo com a natureza da ideia quanto com o contexto em que esta será implementado.

Rietzschel et al. (2006), partindo da premissa de que grupos nominais superam grupos iterativos na geração de ideias, testaram se a vantagem de produtividade de grupos nominais também resultaria em melhor seleção de ideia. Os autores concluíram que não houve diferenças de qualidade entre as ideias selecionadas. Em artigo mais recente, Rietzschel et al.

(2009) salientam que geração de muitas ideias criativas em si não é suficiente para chegar à fase de seleção com boas ideias, e que, ao invés disso, usar critérios de seleção adequados é essencial.

5.3.7 Banco de ideias

Nessa categoria os quatro artigos tratam do armazenamento de ideias (Quadro 8).

Trabalhos como o de Satzinger et al. (1999) e o de Cheung et al. (2008) estudam o efeito que os bancos de ideias têm sobre as novas ideias geradas.

Satzinger et al. (1999) concluíram que os indivíduos tendem a gerar ideias que correspondem ao paradigma de relacionamento de ideias que lhes são dadas como estímulo. De forma complementar, o trabalho de Cheung et al. (2008), que estudou repositórios de conhecimento baseados na intranet, encontrou que a reutilização de conhecimentos resultante desses repositórios, inibem o desempenho criativo dos indivíduos.

Quadro 6. Artigos que têm como foco principal ferramentas computacionais para gestão de ideias.

Fonte: Bases de dados Scopus (2011), Web of Knowledge (2011), EBSCO (2011) e Engineering Village (2011).

Quadro 7. Artigos que têm como foco principal a avaliação e seleção de ideias.

Fonte: Bases de dados Scopus (2011), Web of Knowledge (2011), EBSCO (2011) e Engineering Village (2011).

E, em uma linha diferente, Hill & Birkinshaw (2010) analisam a mente do empreendedor como banco de ideias empreendedoras. Os autores identificam um número de dimensões para as ideias, partindo do pressuposto de que o conjunto de ideias de uma pessoa pode ser comparado ao de outra: conteúdo; volume; estágio de desenvolvimento; lógica de valor; e novidade.

5.3.8 Difusão de ideias

Essa categoria relaciona os trabalhos que tratam da difusão de ideias em um determinado ambiente (Quadro 9).

O trabalho de Baccara & Razin (2007) trata da difusão de novas ideias entre os agentes que participam de uma determinada negociação, com foco na relação entre empresas e vazamento de informações.

os trabalhos de Brahmbhatt & Hu (2010) e McAdam et al. (2006) tratam da agregação de informações de mercado nas fases iniciais da inovação possibilitando melhoria do processo de inovação.

Brahmbhatt & Hu (2010) concluíram que o número e a qualidade de ideias de comunidades fornecedoras de ideias diminuem com a redução do nível de restrições relativas ao mercado. McAdam et al.

(2006) afirmam que novos conhecimentos gerados serão submetidos a filtros invisíveis dentro das organizações e que esses filtros podem negar ingênuas suposições sobre a aceitação da nova tecnologia e conhecimento do mercado.

O trabalho de Seshadri & Shapira (2003) aborda os efeitos de diferentes estruturas organizacionais sobre o fluxo de ideias e sobre a possibilidade de combinar propostas nas organizações, bem como discutem implicações para o desenho organizacional. Silveira & Wright (2010), por sua vez, estudam um mercado em que geradores de ideias podem vendê-las para empresários, que poderiam implantá-las.

5.3.9 Resultado do processo de gestão de ideias

Nessa categoria, são analisados os trabalhos que tratam do resultado do processo de gestão de ideias (Quadro 10).

Kornish & Ulrich (2011) estudaram a efetividade de esforços paralelos de geração de ideias. Eles concluíram, por meio do estudo de um conjunto de dados que: embora exista redundância de ideias em função de esforços paralelos, ela é pequena; ideias que possuem redundância tendem a ser mais valiosas. Os autores ainda propõem um método para extrapolar o número de ideias originais que resultaria de um esforço sem limites por um número ilimitado de geradores de ideias comparáveis.

Buggie (1995), por sua vez, aborda a utilização de ideias de peritos externos para a geração de novos conceitos. O autor conclui que para gerar novos conceitos as empresas devem estabelecer critérios de melhoria, definir metas de produtividade mínima e identificar subprodutos, adaptar-se a novas ideias e pôr o plano em ação aplicando os recursos necessários.

Quadro 8. Artigos que têm como foco principal o armazenamento de ideias.

Fonte: Bases de dados Scopus (2011), Web of Knowledge (2011), EBSCO (2011) e Engineering Village (2011).

Quadro 9. Artigos que têm como foco principal a difusão de ideias.

Fonte: Bases de dados Scopus (2011), Web of Knowledge (2011), EBSCO (2011) e Engineering Village (2011).

Quadro 10. Artigos que têm como foco principal o resultado do processo de gestão de ideias.

RESULTADO DO PROCESSO DE GESTÃO DE IDEIAS

Quantidade de artigos nesta categoria: 4

De forma geral tratam dos resultados do processo de gestão de ideias para alimentar a próxima atividade (desenvolvimento de conceito): Backman et al. (2007); Blau & McKinley (1979); Buggie (1995); Kornish & Ulrich (2011).

Fonte: Bases de dados Scopus (2011), Web of Knowledge (2011), EBSCO (2011) e Engineering Village (2011).

Backman et al. (2007) estudaram a questão de conceitos de novos produtos, enquanto resultado das ideias. Os autores concluíram que maior necessidade de investigação para melhor compreender a fase de conceituação do produto. Os trabalhos de Blau & McKinley (1979) e Kornish & Ulrich (2011) seguem uma linha semelhante, uma vez que estudaram o impacto das ideias nos resultados organizacionais.

6 Discussões, limitações e trabalhos futuros

O objetivo deste artigo foi mapear as publicações sobre ideias no contexto da inovação, visando identificar como os estudos vêm tratando a temática. Com base em 241 artigos obtidos de quatro base de dados, obtiveram-se os principais autores (B. A. Nijstad e W. Stroebe, ambos Holandeses); as palavras-chave mais utilizadas, além das utilizadas na busca, sendo creativity e innovation management, os journals que mais publicaram, Internacional Journal of Technology Management e Management Science; e os artigos mais citados: Connolly et al. (1990) e Sutton & Hargadon (1996), respectivamente. Além disso, percebeu-se que a quantidade de publicaçoes vem aumentando, o que pode caracterizar um aumento do interesse na temática, mesmo considerando-se o aumento de publicações ao longo dos anos, o que é normal no meio acadêmico.

Os 241 artigos ainda foram clusterizados de acordo com o tema principal abordado, o que resultou em nove categorias sendo: fatores de influência (86 artigos); fontes de ideias (57); técnicas de geração de ideias (29); processo de gestão de ideias (22); ferramentas computacionais (17); avaliação/seleção de ideias (17); banco de ideias (4); difusão de ideias (5); e resultado do processo de gestão de ideias (4). Observa-se neste portfolio que existe uma gama considerável de publicações no contexto dos fatores de influência e fontes de ideias, os quais se referem mais ao início do processo de gestão de ideias, do que em relação a banco de ideias, resultado do processo de gestão de ideias e difusão de ideias (os quais dizem respeito ao final deste processo). Desta forma, evidencia-se que necessidade de mais pesquisas nestas últimas categorias.

O presente estudo apresenta o crescimento da pesquisa sobre ideias para a inovação ao longo dos anos (1993 final de 2011). O uso de técnicas sistemáticas de busca e seleção de artigos, auxiliou a construção de um portfólio de artigos que possibilitou a sua análise e categorização. Esses são pontos em que se avançou na pesquisa sobre o assunto.

Porém, sabe-se também que o portfólio selecionado não representa as pesquisas sobre o tema em sua totalidade, embora tenha sido bastante exaustiva, pois apoiou-se em quatro bases, em que se destacam a Scopus e Web of Science, duas bases reconhecidas na área de gestão e negócios. Mas, por exemplo, não foram consideradas as pesquisas publicadas no Brasil, com exceção daqueles trabalhos que, por ventura, estivessem cadastrados nas bases de dados pesquisadas. Além disso, de modo geral a clusterizaçao deu-se com base na leitura dos resumos (apenas 160 artigos com acesso na íntegra), ou seja, a taxonomia utilizada emergiu da análise dos artigos.

Esta pesquisa representa um passo inicial na busca do mapeamento da literatura sobre gestão de ideias e, desta forma, carece de novas pesquisas em cada categoria, o que aprimoraria ainda mais a pesquisa e diminuiria a lacuna de fatores ainda não estudados na literatura sobre ideias no contexto da inovação.

Sendo assim, propõe-se como pesquisa futura o aprofundamento teórico em cada uma das categorias identificadas por este estudo, visando identificar lacunas de pesquisas. O mapeamento das pesquisas sobre o tema no Brasil tende a ser um tópico interessante para pesquisas futuras, principalmente para a comparação com este trabalho, que tem abrangência internacional.

7 Considerações finais

Os procedimentos metodológicos empregados neste artigo tiveram sua ênfase na análise bibliométrica.

Essa prática, além de auxiliar no mapeamento do portfólio de artigos, proporcionou, de forma sistemática, a aquisição de uma parte do conhecimento científico sobre o tema gestão de ideias e também possibilita que a pesquisa seja replicada. Outro fator que justifica a utilização de uma revisão sistemática para realizar pesquisa está fundamentado, principalmente, na capacidade de a análise bibliométrica possibilitar e auxiliar a síntese e a análise do conhecimento existente na literatura científica sobre um tema investigado. Outro detalhe se refere ao fato de a análise bibliométrica permitir a obtenção de informações que possibilitem aos leitores avaliar a pertinência dos procedimentos empregados na elaboração da revisão.

No caso do presente artigo, a busca pelo entendimento do cenário atual sobre o tema gestão de ideias, com a definição de critérios para a realização da busca, resultou em um portfólio de 241 artigos, o que ampliou o conhecimento acerca do panorama da produção científica sobre o assunto, porém destacando que o especial enfoque foi a inovação. Logo, destaca-se como contribuição do estudo a taxonomia proposta para a segmentação dos artigos. Nesse sentido, a taxonomia proporcionou categorizar um conjunto de informações, antes disperso e agora possível de ser analisado e tornado conhecimento para a área de inovação. Assim, considera-se que o estudo contribui: (i) ao evidenciar ideias e sua gestão como um tema emergente no contexto das pesquisas de inovação; (ii) ao identificar autores e periódicos que mais publicam sobre o tema, bem como os artigos mais citados; (iii) ao definir uma taxonomia para a categorização dos trabalhos relativos ao tema.

Espera-se que o trabalho possa ser útil para aqueles que desejam ter uma visão geral em relação à gestão de ideias para inovação, bem como possa servir de ponto de partida para novas pesquisas em relação ao tema. Finalmente, sugere-se uma pesquisa mais refinada na análise dos artigos relevantes dentro de cada uma das categorias, na busca de melhor entendimento do estado da arte e também na busca de identificar lacunas para pesquisas futuras.


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