INDUÇÃO DO AMADURECIMENTO DE FRUTOS CÍTRICOS EM PÓS-COLHEITA COM A APLICAÇÃO DE
ETHEPHON
INDUÇÃO DO AMADURECIMENTO DE FRUTOS CÍTRICOS EM PÓS-COLHEITA COM A APLICAÇÃO DE
ETHEPHON1
INTRODUÇÃO
Os frutos de laranja, cultivares 'Baianinha' e 'Hamlim', são consideradas
cultivares precoces em relação às outras variedades comerciais e são colhidas
com coloração mais verde que amarela ("de vez" ), e por isso recebem
melhor preço, pois são as primeiras que atingem o amadurecimento, que ocorre
entre os meses de março e abril, e, dependendo das condições climáticas, esse
processo pode ser acelerado ou retardado.
Em função desta precocidade e das altas temperaturas que ainda ocorrem nos
messes do início do amadurecimento (março e abril), tais variedades não
alcançam boa coloração de casca, sendo este um fator negativo para sua
comercialização, pois frutos com coloração intensa (amarelo/laranja) alcançam
preços melhores.
Para Chitarra & Chitarra (1990), na fase de maturação fisiológica do fruto,
este emerge de uma fase incompleta, atingindo crescimento pleno e máxima
qualidade comestível, com o fruto ainda na planta. O amadurecimento, por sua
vez, corresponde ao período final da maturação, durante o qual, o fruto
apresenta-se completamente desenvolvido, com aparência externa e qualidade
interna para consumo. O período subseqüente ao desenvolvimento do fruto é a
senescência, durante a qual, o crescimento cessa, e os processos bioquímicos da
senescência substituem as trocas químicas de amadurecimento, podendo ocorrer
antes ou após a colheita dos frutos, ou mesmo durante a maturação.
Segundo Pantastico (1975) e Hulme (1970), os fenômenos relacionados com o
amadurecimento incluem degradação das clorofilas a e b, degradação de pigmentos
subjacentes e síntese de novos pigmentos, como os carotenóides, alterações de
sabor, além da diminuição de acidez e adstringência, com elevação no teor de
sólidos solúveis, mudanças na textura e conseqüente abscisão dos frutos, que
são os outros fenômenos da maturação e senescência.
O Ethephon, quando aplicado em frutos cítricos, em pré ou pós-colheita, induz a
formação do etileno, que acelera a degradação desta clorofila e a síntese de
carotenóides, e, portanto, ocorre a mundança da coloração dos frutos da cor
verde para alaranjada (Casas et al., 1989).
Nos frutos cítricos tratados com etileno, é observado que a atividade da
clorofilase aumenta, promovendo a degradação da clorofila. Há redução no
tamanho dos cloroplastos em frutos de tangerina cultivar 'Satsuma' tratados com
etileno, que são diferentes do amadurecimento normal que ocorre com os frutos
na planta. Estes resultados indicam que o caminho da degradação da clorofila em
frutos tratados com etileno pode ser diferente dos caminhos da degradação da
clorofila que ocorre no amadurecimento dos frutos na própria planta (Yamauchi
et al., 1997).
Conforme relatam Chitarra & Chitarra (1990), os frutos cítricos não possuem
mecanismo bem definido de amadurecimento, onde o processo é gradual, e são
denominados de não- climatéricos. Já os frutos de banana, maça e abacate, que
são denominados de climatéricos, sofrem aumento repentino da taxa respiratória,
efetivando, assim, o amadurecimento. Ao contrário, os frutos cítricos, por não
serem climatéricos, amadurecem muito lentamente, mantendo níveis respiratórios
constantes, que podem levar até vários meses.
Os frutos cítricos, quando removidos da planta, sofrem pequeno aumento na
respiração e produção de etileno, assim, Abellles (1973) afirmou que o etileno
pode ser utilizado no amadurecimento e desverdecimento ou somente na quebra da
clorofila destes frutos, porém inúmeros fatores podem influenciar este
processo..
Segundo Casas et al. (1989), além do momento adequado de aplicação dos
reguladores vegetais, outros fatores podem influenciar os resultados a serem
obtidos com a aplicação de Ethephon, como a variedade ou cultivar a ser
utilizada, as condições climáticas no momento da aplicação e no período
posterior. Existem ainda fatores que estão relacionados com a translocação de
compostos nos frutos, que podem inibir ou diminuir os efeitos do Ethephon na
mudança da coloração.
Oh et al. (1979), aplicando Ethephon em frutos colhidos de tangerina-'Satsuma',
nas concentrações de 500 e 1000 mg.L-1, obtiveram resultados de mudanças na
coloração da casca dos frutos a partir de 5 dias após os tratamentos, ocorrendo
desenvolvimento total da coloração 8 dias após, onde ocoreu a degradação
completa da clorofila, sem prejudicar as qualidades interna e externa dos
frutos, como sabor, textura e boa coloração da casca.
Além de tangerinas, o Ethephon pode ser aplicado também em laranjas-doces, pois
Singh et al. (1978) aplicaram 1000 mg.L-1 de Ethephon, em laranja-'Hamlin',
obtendo mudanças na coloração 8 a 10 dias após o tratamento, também sem
prejuízos para a qualidade dos frutos, inclusive ocorrendo pequeno aumento na
porcentagem de sólidos solúveis e diminuição da acidez dos frutos. Quando
aplicada via gasosa, em câmaras fechadas apropriadas, a concentração de
Ethephon pode ser reduzida pela metade, proporcionando o mesmo efeito de
mudança na coloração da casca (Ahrens & Barmore, 1987).
Com isso, o objetivo do presente trabalho foi acelerar o processo de
amadurecimento, induzindo a mudança da coloração da casca, sem alteração na
qualidade interna dos frutos, com aplicação pós-colheita de Ethephon, em
laranjas-doces precoces cultivares 'Hamlin' e 'Baianinha'.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente experimento foi conduzido no Departamento de Botânica, Instituto de
Biociências ¾ Unesp/Botucatu, utilizando frutos colhidos precocemente de
laranja (Citrus sinensis (L.) Osbeck) cultivares 'Baianinha' e 'Hamlin', com
coloração ainda esverdeada ("de vez"), porém já fisiologicamente
maduras, no município de Itapetininga-SP.
Os frutos foram submetidos aos tratamentos com Ethephon por imersão em solução
durante diferentes tempos, e colocados em caixas de madeira à temperatura
ambiente onde foram submetidos à análise qualitativa e coloração de fruto, após
72 horas.
Os tratamentos foram os seguintes:
T1 ¾ Testemunha (água); T2 ¾ Ethephon ¾ 1000 mg.L-1 / 5 minutos de imersão;T3 -
Ethephon ¾ 2000 mg.L-1 / 5 minutos de imersão; T4 ¾ Ethephon ¾ 3000 mg.L-1 / 5
minutos de imersão; T5 ¾ Ethephon ¾ 4000 mg.L-1 / 5 minutos de imersão; T6 ¾
Ethephon ¾ 1000 mg.L-1 / 10 minutos de imersão; T7 - Ethephon ¾ 2000 mg.L-1 /
10 minutos de imersão; T8 ¾ Ethephon ¾ 3000 mg.L-1 / 10 minutos de imersão; T9
¾ Ethephon ¾ 4000 mg.L-1 / 10 minutos de imersão.
O produto comercial utilizado foi Ethrell, contendo 240 g.L-1 de ácido 2-
cloroetilfosfônico. Às soluções de tratamento, foi adicionado 0,05% de
espalhante adesivo Extravon, contendo 25% de alquilfenol-poliglicoléter,
diluídos em água.
Após 72 horas dos tratamentos, os frutos foram submetidos a avaliações
qualitativas do teor de sólidos solúveis do suco, textura e coloração dos
frutos com a determinação do teor de clorofila da casca.
O teor de clorofila foi determinado através do aparelho Minolta Chlorophyll
meter, e os dados expressos em SPD (silicon photo diode). A determinação da
textura foi realizada com o penetrômetro manual, sendo os dados expressos em
g.Kg-1, e o teor de sólidos solúveis através de refratômetro (0Brix).
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com 9
tratamentos e 4 repetições, contendo 10 frutos cada uma.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através da Tabela_1, pode-se verificar que houve efeito significativo dos
tratamentos sobre o teor de clorofila da casca dos frutos de laranja cultivares
'Hamlin' e 'Baianinha'. A aplicação de Ethephon pós-colheita proporcionou
alteração na coloração da casca dos frutos, ou seja, houve degradação da
clorofila. Segundo Korban (1998), o etileno na forma de Ethephon é utilizado
para estimular a degradação de clorofila e ativar a síntese de carotenóides em
frutos de laranja e tangerina e, assim, utilizado comunmente no desverdecimento
de frutos de citros. Pode-se observar, ainda, que tanto a imersão dos frutos no
tratamento com Ethephon, nas diferentes concentrações por 5 ou 10 minutos,
apresentaram resultados semelhantes no teor de clorofila da casca dos furtos.
Estes resultados concordam com Casas & Llacér (1989), que relatam haver
mudança na coloração devido à síntese de carotenóides em frutos de laranja,
mostrando coloração laranja intensa após 72 horas do tratamento. Também neste
trabalho, a coloração da casca dos frutos de laranja das duas cultivares
estudadas eram intensas, 72 horas após os tratamentos com Ethephon em todas as
concentrações empregadas.
De acordo com a Tabela_2, pode-se observar que não houve efeito significativo
dos tratamentos sobre a textura dos frutos de laranja tanto na cultivar
'Hamlin' como na 'Baianinha' . Portanto, os frutos de laranja tratados com
Ethephon não sofreram alteração na textura, não ocorrendo perda da qualidade
dos frutos. Assim, frutos de laranja-'Hamlin' e 'Baianinha' continuaram firmes,
após 72 horas da imersão nos tratamentos com Ethephon.
Foi observado também que, nas concentrações mais elevadas (2000 a 4000 mg.L-
1 de Ethephon), houve início de necrose na casca dos frutos, principalmente na
concentração de 4000 mg.L-1, podendo-se considerar esta concentração fitotóxica
para os frutos.
Em relação ao teor de sólidos solúveis, pode-se verificar que houve efeito
significativo dos tratamentos para a cultivar 'Hamlin', mas não para a cultivar
'Baianinha' (Tabela_3). Para frutos da cultivar 'Hamlin', o tratamento com
Ethephon a 3000 mg.L-1 por 10 minutos foi significativamente maior que os
tratamentos com Ethephon a 1000, 2000 e 3000 mg.L-1 por 5 minutos e com
Ethephon a 1000 mg.L-1 por 10 minutos, ou seja, o teor de açúcares foi menor
nas menores concentrações de Ethephon utilizadas por curto tempo de imersão. Em
geral, para esta cultivar, o tratamento dos frutos com altas concentrações de
Ethephon, 3000 e 4000 mg.L-1, durante 10 minutos, embora sem diferir da
testemunha, tendeu a apresentar maiores teores de açúcares, fato também
observado por Singh et al. (1978), discordando de Fisher & Monselise
(1971), que também verificaram que o Ethephon acelera a degradação da
clorofila, mas não afeta a qualidade interna dos frutos.
Já, frutos da cultivar 'Baianinha' não apresentaram teor de sólidos solúveis
totais alterado pelos tratamentos com Ethephon nas diferentes concentrações e
tempo de tratamento; portanto, foram menos sensíveis ao tratamento com
Ethephon.
Para antecipar a obtenção de frutos de laranjeira-'Hamlin' e 'Baianinha' com
coloração da casca alaranjada, o tratamento com Ethephon torna-se uma técnica
muito útil. Pelos resultados obtidos no presente trabalho, pode-se verificar
que a concentração de 1000 mg.L-1 de Ethephon, por um tempo de imersão de 5
minutos, já é eficiente para a degradação total da clorofila sem alteração da
textura da casca e do teor de sólidos solúveis. As demais concentrações e o
tempo de imersão de 10 minutos também foram efetivos na degradação da
clorofila, confirmando as informações de Casas & Llacér (1989), que o
etileno formado acelera a degradação da clorofila em frutos cítricos sem afetar
a qualidade interna dos frutos.
As concentrações de 2000 a 4000 mg.L-1 de Ethephon apresentaram resposta
semelhante à concentração de 1000 mg.L-1, não se justificando a utilização
destas altas concentrações que, além de aumentar o custo do tratamento, podem
causar lesão na casca dos frutos, inviabilizando a sua comercialização.
CONCLUSÃO
De acordo com os resultados obtidos durante o presente experimento, podemos
concluir que a aplicação de Ethephon, na concentração de 1000 mg.L-1, em pós-
colheita de laranjas-doces precoces, cultivares 'Hamlin' e 'Baianinha', foi a
mais viável para acelerar a mudança da coloração da casca, sem alterar a
qualidade interna dos frutos.