INFLUÊNCIA DO ENSACAMENTO DO CACHO NA PRODUÇÃO DE FRUTOS DA BANANEIRA-'PRATA-
ANÃ' IRRIGADA, NA REGIÃO NORTE DE MINAS GERAIS
INFLUÊNCIA DO ENSACAMENTO DO CACHO NA PRODUÇÃO DE FRUTOS DA BANANEIRA-'PRATA-
ANÃ' IRRIGADA, NA REGIÃO NORTE DE MINAS GERAIS1
INTRODUÇÃO
A bananeira é uma das fruteiras tropicais de maior importância e que suporta a
economia de vários países. As cultivares que se destacam nas áreas de
exportação pertencem ao subgrupo AAA subgrupo Cavendish e, portanto, sobre
estes clones, foi relatada a maioria dos resultados de pesquisa.
O Brasil é o segundo maior produtor de banana do mundo, com 6,8 milhões de
toneladas anuais (Agrianual, 2001), sendo que o Estado de Minas se destaca
nesta produção. A região Norte de Minas é uma das principais áreas produtoras
de banana do País, caracterizando-se por usar basicamente a cultivar Prata-Anã,
uma mutação natural originária de Santa Catarina, onde é conhecida como banana
Enxerto. Por ser uma cultivar do grupo AAB, pouco conhecida, e em expansão, a
Prata-Anã necessita de estudos básicos como validação de algumas tecnologias
consagradas pela pesquisa para as cultivares do grupo AAA, subgrupo Canvendish.
Entre estas técnicas, está o ensacamento dos cachos, objetivando a melhoria da
produção e qualidade dos frutos.
Apesar de onerar o custo de produção, o ensacamento de cachos é uma prática que
vem sendo recomendada em plantios comerciais de bananeira que produzem frutos
com melhor qualidade ou para exportação, por evitar danos nos frutos causados
pelo contato das folhas, ação dos ventos frios, granizo e ataque de pragas e
doenças (Lichtemberg et al., 1998; Alves et al., 1995; Soto Ballestero, 1992;
Belalcázar Carvajal et al., 1991; Moreira, 1987; Lichtemberg, 1996).
O uso de sacos impregnados com inseticidas torna a prática mais eficiente no
controle de trips, lepidópteros e afídios (Lichtemberg, 1996). Assim, foi
observado, em estudos realizados pelo mesmo autor, que o trips-da-erupção só
foi eficientemente controlado pelo ensacamento precoce com sacos impregnados
com cloripirifós (Lichtemberg et al., 1998).
Hinz et al. (1998) avaliaram o efeito da utilização de sacos de polietileno
tratados e não tratados com cloripirifós e da pulverização com enxofre e
carbaryl na proteção de cachos de banana -'Nanicão', contra o ataque de pragas,
em Corupá-SC. Ambos os sacos de polietileno foram eficientes no controle do
trips-da-ferrugem e do ácaro-da-ferrugem. No entanto, apenas o saco tratado,
colocado antes da abertura da inflorescência, foi eficiente no controle do
trips-da-erupção. O uso do enxofre e carbaryl foi eficiente no controle do
ácaro-da-ferrugem, sendo a pulverização com carbaryl eficiente no controle do
trips-da-ferrugem. Pigatti et al. (1979) avaliaram em Guarujá-SP, a utilização
de sacos de polietileno tratados e não tratados com cloripirifós, além da
testemunha, sem qualquer tratamento, para o controle da "traça" e não
encontraram efeito significativo para a ocorrência de lagartas vivas, ataque
inicial e ataque com estrago, não recomendando esta técnica para o controle
desta praga.
Os produtos utilizados nas pulverizações, para o controle fitossanitário da
bananeira, também podem causar danos nos frutos, que podem ser evitados pelo
ensacamento dos cachos (Lichtemberg, 1996 ; Alves et al., 1995; Soto
Ballestero, 1992). O ensacamento do cacho também uniformiza e melhora a
coloração das bananas (Moreira, 1987), que adquirem uma tonalidade mais clara,
aumentando a elasticidade e espessura da casca, melhorando o aspecto do fruto
(Lichtemberg, 1996). Além da melhoria na qualidade dos frutos, o ensacamento
promove também melhorias quantitativas como aumento no peso dos cachos (Alves
et al., 1995; Soto Ballestero, 1992; Belalcázar Carvajal, 1991), do tamanho dos
frutos (Lichtemberg, 1996; Soto Ballestero, 1992; Belalcázar Carvajal, 1991; e
Moreira, 1987),do diâmetro dos frutos (Soto Ballestero, 1992; e Belalcázar
Carvajal, 1991), da redução do período entre a floração e a colheita, reduzindo
o ciclo de produção (Lichtemberg, 1996; Alves et al., 1995; Soto Ballestero,
1992; Belalcázar Carvajal, 1991; e Moreira, 1987).
Lichtemberg et al. (1998), trabalhando com a 'Grande Naine' em Itajaí-SC ,
concluiu que o ensacamento propiciou a produção de cachos mais pesados e de
frutos mais longos e pesados e com maior diâmetro, na segunda penca superior. O
efeito dos diversos tipos de sacos foi variável quanto ao peso das pencas e dos
frutos, comprimento dos frutos e danos por frio, trips-da-ferrugem e ponta-de-
charuto. Não foi verificado efeito do ensacamento sobre o número de dias do
florecimento à colheita.
Lichtemberg (1996) salienta que, além das vantagens da utilização do
ensacamento, esta técnica acarreta o aumento do custo com aquisição de sacos
plásticos, fitilhos e mão-de-obra. Dificulta a realização em bananeiras de
porte alto; ocorre aumento na persistência dos restos florais; dificulta a
visualização dos frutos e a verificação do ponto de colheita,; aumenta o risco
de poluição ambiental; aumenta a incidência da ponta-de-charuto; provoca risco
de queimaduras na coroa, ráquis e frutos; acarreta branqueamento da casca à
maturação precoce dos frutos, além de aumentar os danos por fricção entre
frutos e atrito do saco (Lichtemberg et al., 1998) .
Sampaio e Simão (1970), estudando o efeito do ensacamento dos cachos realizado
no inverno de 1966, não observaram diferenças entre os cachos ensacados ou não.
Estes autores não recomendam o ensacamento com plástico azul, porque provoca
queimaduras pela ação da luz solar na 'Nanicão'. Alguns problemas foram
observados por Pigatti et al. (1979), ao realizarem o ensacamento dos cachos
novos, quando estes possuíam no máximo 3 pencas abertas: brácteas causando o
fechamento dos sacos após se soltarem, acarretando retenção de chuvas, o que
favoreceu o apodrecimento dos frutos; rasgamento dos sacos pelo vento;
apreensão de insetos e necessidade de repasse constante na área, exigindo maior
mão-de-obra.
Costa e Scarpare Filho (1998), trabalhando com a 'Nanicão' em Tietê-SP,
estudaram o efeito do ensacamento no inverno, verão e outono, não encontrando
diferença em relação ao pH e relação polpa/casca em frutos verdes. No entanto,
verificou-se, como efeitos do ensacamento dos cachos, o menor teor de sólidos
solúveis e firmeza dos frutos. Quando é feito o ensacamento dos cachos, há
formação de um microclima dentro do saco, com aumento de temperatura, o que
propicia mudanças fisiológicas nos frutos de bananeira (Soto Ballestero, 1992;
Lichtemberg, 1996). Além destas mudanças, existe diferença de resposta ao
ensacamento, de acordo com o clima e entre diferentes clones (Soto Ballestero,
1992).
O objetivo desse trabalho foi avaliar a influência do ensacamento do cacho da
bananeira-'Prata- Anã' conduzida na região semi-árida do Norte de Minas Gerais,
sob condições de irrigação, na produtividade, características dos frutos e
época de colheita, avaliados nos três primeiros ciclos de produção.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido na Fazenda Experimental de Mocambinho (FEMO)
pertencente à Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG)),
localizada no Projeto Jaíba, no Norte do Estado de Minas Gerais, cujas
coordenadas geográficas são 43o 29' e 44o 6' de longitude, 14o 33' e 15o 28' de
latitude sul com altitude de aproximadamente 515m. A pluviosidade média anual é
de 871mm concentrados de novembro a março. A temperatura média anual é de 24 0C
e as médias de verão e inverno são de 32 e 19,5oC, respectivamente. A insolação
é de 2763 horas anuais e umidade relativa média de 70,6%. No período seco, a UR
pode chegar a extremos de 20%.
O solo foi classificado como Latossololo Vermelho Amarelo Distrófico, com 22%de
argila, 68%de areia e 10%de silte (classe textural franco-argilo-arenoso) e
cultivado pela primeira vez. Foi feita amostragem do solo antes do preparo da
área. Fizeram-se as devidas correções, com aração seguida de calagem, gradagem
e preparo dos sulcos. Adicionaram-se 3,2 litros de esterco de galinha por metro
linear de sulco, formaram-se as covas com adição de fosfato e micronutrientes.
O experimento foi conduzido no período de julho de 1996 a setembro de 1998. As
mudas obtidas por cultura de tecidos foram repicadas para sacos de polietileno,
onde permaneceram por 30 dias e então levadas a campo. O plantio foi feito em
covas de 40cmx40cmx40cm abertas sobre sulcos de 30 cm de profundidade, no
espaçamento 3,0 m x 2,7 m.
As adubações de cobertura foram realizadas mensalmente, de acordo com as
análises de solo e folhas, feitas a cada 4 meses.
A irrigação foi realizada com aspersão convencional nos primeiros 45 dias,
sendo então substituída por microaspersão. Como o solo possui baixa capacidade
de retenção de água, a irrigação foi feita diariamente, calculando-se a lâmina
de água com base na evaporação do Tanque Classe A e Kc da cultura. Utilizou-se
Kc recomendado por Doorembos e Kassam (1994), porém mantendo o valor 1, a
partir do oitavo mês. Todos os dados climáticos necessários ao cálculo da
irrigação foram obtidos na estação meteorológica do INMET localizada na FEMO.
Foi feito controle de broca-do-rizoma, utilizando-se iscas do tipo queijo, para
monitoramento da incidência e controle químico quando necessário. A sigatoca-
amarela foi monitorada através da incidência de manchas nas folhas, para
definição da época e da utilização do controle químico .
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com dois
tratamentos, 21 repetições e três plantas por parcela. Os tratamentos foram
representados por cachos ensacados e cachos não ensacados.
O ensacamento foi realizado quando a última penca estava se voltando para
cima,sendo que uma das duas fileiras de frutos se encontrava na horizontal.
Antes do ensacamento, fez-se a limpeza dos cachos através da despistilagem,
retirada de brácteas que estivessem entre as pencas, retirada das duas
primeiras brácteas e corte de partes de folhas que estivessem em contato com o
cacho. Os sacos foram fixados com fita plástica na primeira cicatriz de bráctea
do engaço.
Nos cachos onde não foi feito o ensacamento, não foi realizada a sua limpeza.
Nos dois tratamentos, foi feita a retirada da inflorescência masculina, acerca
de 10-15 cm da última penca. A colheita foi feita segundo a metodologia
tradicionalmente utilizada na região, quando os frutos apresentavam mudanças da
tonalidade verde-escura para verde-clara e redução das quinas.
Utilizaram-se sacos de polietileno azul de baixa densidade, com espessura de
0,04 mm, comprimento de 120 cm e largura de 75 cm, contendo pequenas
perfurações circulares, para possibilitar a circulação de ar.
Foram avaliados os seguintes parâmetros: dias entre o florescimento e a
colheita; dias entre o ensacamento e a colheita; peso do cacho; peso total de
frutos; peso médio de frutos; peso médio de pencas; comprimento, diâmetro, peso
e espessura de casca do fruto central da segunda penca, nos três primeiros
ciclos de produção. Foi feita análise estatística dos dados e comparadas as
médias pelo teste de Tukey a 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apesar da tendência de redução nos períodos entre o florescimento e a colheita
e entre o ponto de ensacamento e a colheita do primeiro ciclo das plantas que
tiveram os cachos ensacados, não houve diferença entre os tratamentos (Tabela
1). Esta tendência foi confirmada no segundo ciclo, onde plantas com cachos
ensacados tiveram o período compreendido entre o ponto de ensacamento e a
colheita reduzido em seis dias, quando comparados com aquelas com cachos não
ensacados, e o período compreendido entre o florescimento e a colheita reduzido
em 12 dias (Tabela_1). Para a colheita do terceiro ciclo, também não foi
verificado efeito do ensacamento dos cachos, para o número de dias da floração
à colheita, e para o número de dias entre o ponto de ensacamento e a colheita.
Observou-se tendência de aumento no período floração-colheita com o uso do
saco.
O segundo ciclo de produção foi mais favorecido pelo efeito do tratamento que
recebeu o ensacamento, antecipando a colheita em 12 dias, devido ao
florescimento ter ocorrido nos meses de junho/ julho; portanto, o
desenvolvimento dos frutos ocorreu no período mais frio do ano na região, em
que a temperatura média mínima foi de 13,6oC em 1997. Devido às baixas
temperaturas, observou-se também um aumento no período entre a floração e a
colheita, que chegou a cinco meses, ao passo que, no primeiro e terceiro
ciclos, a floração ocorreu no mês de janeiro de 97 e 98; este período foi em
média quatro a quatro e meio, mostrando, assim, a influência do clima na
prática de ensacamento, como observado por Soto Ballestero (1992). Estes
resultados, portanto, não diferem daqueles obtidos por vários outros autores
(Moreira, 1987; Belalcázar Carvajal, 1991; Soto Ballestero, 1992; Alves et al.,
1995 e Lichtemberg, 1996).
Apesar de a temperatura média anual local ser de 24oC, a temperatura média
mínima do período de avaliação atingiu 13.9 0C, causando queima de alguns
frutos, no segundo ciclo, que não foram ensacados. Portanto, acredita-se que
foi criado um microclima pelo ensacamento, reduzindo as oscilações de
temperatura do cacho que, apesar de não ter resultado em aumento significativo
de produtividade, protegeu os frutos de injúrias provocadas pela baixa
temperatura.
Moreira (1987) afirmou que o cacho ensacado atingiu o ponto de corte quase duas
semanas antes, quando comparado a frutos não ensacados, em experimentos
realizados no Vale do Ribeira-SP, com variedade do subgrupo Cavendish. Estas
diferenças observadas foram atribuídas ao microclima criado dentro do saco,
onde a temperatura se mantém mais elevada que a temperatura externa ao saco
(Soto Ballestero, 1992, e Lichtemberg, 1996).
Não houve diferença estatística entre os tratamentos, para as variáveis peso do
cacho e peso total e médio dos frutos (Tabela_1). Este resultado discorda do
que foi observado em outros trabalhos (Moreira, 1987;Soto Ballestero, 1992;
Alves et al., 1995; Lichtemberg, 1996 e Lichtemberg et al., 1998) onde se
observou que o ensacamento interfere positivamente no desenvolvimento e
rendimento dos cachos ensacados. A diferença pode ser atribuída à variedade
Prata-Anã estudada e às condições climáticas, uma vez que todos os autores
citados trabalharam com cultivares do subgrupo Cavendish em experimentos
conduzidos em locais de climas diversos. Diferenças na resposta ao ensacamento,
em função do clima e clone usado, foram também observadas por Soto Ballestero
(1992). Para as demais variáveis estudadas (peso médio de pencas, comprimento,
diâmetro, peso do fruto e espessura de casca do fruto central da segunda
penca), também não foram detectadas diferenças estatísticas nos três ciclos de
produção avaliados (Tabelas_1).
Foi observada também mudança na coloração da casca dos frutos ensacados, que
adquiriram cor verde-clara, uniforme, enquanto os frutos descobertos
apresentaram cor verde-escura. Esta uniformidade de coloração e a alteração na
tonalidade de casca foram descritas por Moreira, 1987, e Lichtemberg, 1996,
respectivamente.
CONCLUSÕES
O ensacamento não afetou o número de dias compreendido entre o florescimento e
a colheita no primeiro e terceiro ciclos de produção, porém reduziu este
período em 12 dias no segundo ciclo, bem como o período entre o ponto de
ensacamento e a colheita em, aproximadamente, cinco dias, mas nas condições em
que o desenvolvimento dos frutos ocorreu no período mais frio do ano na região,
que atingiu a média mínima de 13.6oC.
Não foi observado efeito do ensacamento nas características: peso do cacho;
peso total de frutos; peso médio de frutos; peso médio de pencas; comprimento,
diâmetro, peso e espessura de casca do fruto central da segunda penca, quando
avaliados os primeiros três ciclos de produção.