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BrBRCVAg0100-29452002000100014

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National varietyBr
Year2002
SourceScielo

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Qualidade pós-colheita de goiabas 'Branca de Kumagai', tratadas com cloreto de cálcio

INTRODUÇÃO A goiaba 'Branca de Kumagai' é a cultivar de mesa mais cultivada no Estado de São Paulo. Apresentando frutos brancos e firmes, é bastante adequada para o consumo 'in natura', tanto para o mercado interno como para a exportação (Piza Jr. & Kavati, 1994). Entretanto, segundo Akamine & Goo (1979), por serem frutos climatéricos, as goiabas passam pelo processo de amadurecimento rapidamente e entram logo em senescência, o que reduz o seu período de conservação.

O papel do cálcio em retardar a maturação e a senescência em frutos e hortaliças tem sido relatado por vários autores. O cálcio tem um papel especial na manutenção da estrutura da parede e membrana celular, ativação de enzimas e interação com fitoormônios (Bangerth, 1979; Gleen & Poovaiah, 1990; D'auzac, 1994; Picchioni et al., 1998).

Em goiabas 'Sardar', Singh et al. (1981) verificaram que a imersão dos frutos em solução a 1% de nitrato de cálcio proporcionou menor perda de massa fresca, redução da taxa respiratória e manutenção das qualidades organolépticas dos frutos por mais de 6 dias, enquanto aqueles não tratados se mantiveram em condições aceitáveis para o consumo por apenas 3 dias.

Em mangas 'Julie' tratadas com solução de cloreto de cálcio pela metodologia da temperatura diferenciada (frutos a 28ºC e solução a 5ºC), Mootoo (1991) verificou aumento no período de conservação de 5 para 14 dias, menor perda de massa fresca e de firmeza, e desenvolvimento mais lento da coloração da casca.

Segundo Betts & Bramlage (1977), o maior incremento do teor de cálcio dos frutos através do tratamento de maçãs com solução de cloreto de cálcio a baixa temperatura foi devido a uma contração dos gases dos espaços intercelulares.

Em goiabas 'Branca de Kumagai', Carvalho et al. (1998) constataram aumento do teor de cálcio na polpa e epiderme dos frutos através da aplicação de cloreto de cálcio em solução à temperatura de 48ºC. Entretanto, os frutos apresentaram aparência externa prejudicada pela presença de manchas marrons na epiderme, e a polpa com aspecto gelatinoso e de coloração creme.

Baseando-se nos benefícios do cálcio na conservação de frutos, este trabalho objetivou estudar os efeitos do tratamento pós-colheita com cloreto de cálcio pela metodologia da temperatura diferenciada, em goiabas 'Branca de Kumagai' .

MATERIAL E MÉTODOS As goiabas da cultivar Branca de Kumagai foram obtidas em pomar comercial, com 14 anos de idade, localizado no município de Campinas-SP. Os frutos foram colhidos no estádio de maturação verde-escuro, segundo Ahwalat et al. (1980).

Posteriormente, estes foram selecionados, proporcionando amostras homogêneas, sendo em seguida lavados em água e secos ao ar.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com 10 repetições para as avaliações não destrutivas e 3 repetições para as avaliações destrutivas. As parcelas experimentais das avaliações não destrutivas e destrutivas foram constituídas de um e três frutos, respectivamente.

Para a aplicação pós-colheita de cloreto de cálcio, foi utilizada a metodologia da Temperatura Diferenciada descrita por Mootoo (1991). Após a lavagem e secagem dos frutos, a temperatura da polpa foi estabilizada em 26ºC através da manutenção dos frutos em incubadora B.O.D. à mesma temperatura. Depois de 24 horas da colheita, os frutos foram imersos em solução de cloreto de cálcio diidratado (CaCl2.2H2O, com 76% de CaCl2) e 0,1% de espalhante adesivo Tween 20â a 5ºC, por 2 horas. Em seguida, os frutos foram retirados da solução, secos ao ar, e colocados em caixas de papelão telescópica e mantidos sob condições ambiente (temperatura média de 25,3ºC e umidade relativa média de 71,2%).

Os tratamentos consistiram de 5 concentrações de CaCl2.2H2O (0%, 0,5%, 1,5%, 2,5% e 3,5%) e a testemunha foi representada por frutos que não receberam qualquer tipo de aplicação.

Amostra destrutiva Do homogeneizado de três frutos de cada uma das repetições, foram realizadas as seguintes análises: 1.Teor de sólidos solúveis totais: utilizando-se de refratômetro de mesa ATAGO- 3T, com autocompensação de temperatura (Lutz, 1985).

2. Acidez total titulável: uma alíquota de 5 g da polpa em 100ml de água destilada foi titulada com NaOH 0,1 N, utilizando-se de três gotas de fenolftaleína 10g.L-1 como indicador, sendo os resultados expressos em porcentagem de ácido cítrico (Lutz, 1985).

3. Teor de ácido ascórbico: o conteúdo de ácido ascórbico (após a oxidação a ácido deidroascórbico) foi determinado pelo método colorímetro com 2,4 dinitrofenil hidrazina, segundo Pearson (1976). A leitura foi realizada em espectrofotômetro e os resultados expressos em mg/100g de polpa.

Estas análises foram realizadas aos 0; 3; 6 e 9 dias após a aplicação de cloreto de cálcio.

Amostra não destrutiva Os frutos da amostra não destrutiva foram pesados diariamente para o cálculo da perda de massa fresca acumulada expressa em porcentagem, assim como estabeleceu-se o número de dias em cada fruto que permaneceu em condições aceitáveis para comercialização.

Os frutos foram considerados impróprios para comercialização quando apresentavam sintomas de podridões, como depressões e frutificações de patógenos na epiderme, ou amolecimento acentuado da polpa, verificado pela deformação sofrida pelos frutos durante o seu manuseio.

Avaliou-se também a alteração da coloração da epiderme através da observação visual, conferindo a cada fruto notas, numa escala de 1 a 5, de acordo com os índices sugeridos por Ahlawat et al. (1980): 1-verde-escuro; 2-verde-escuro início verde-claro; 4-verde-claro início verde-amarelo-claro; e 5-verde- amarelo-claro. Para a análise estatística, comportaram-se os dias necessários para cada fruto atingir a nota máxima 5.

Para a determinação da taxa respiratória, realizada diariamente, três frutos foram retirados aleatoriamente de cada tratamento e colocados individualmente, por uma hora, em campânula de vidro, sob fluxo contínuo de ar isento de CO2. A taxa respiratória expressa em mg de CO2.kg-1.h-1 foi determinada através da titulação de solução de KOH a 0,1N, com solução de HCl 0,1 N, calculando-se o peso de CO2 liberado pela respiração dos frutos, seguindo metodologia adaptada de Bleinroth et al. (1976).

Os resultados foram submetidos a análises de variância para experimento inteiramente casualizado, e teste de Tukey, ao em nível de 5% de probabilidade, excetuando-se os dados de taxa respiratória, para os quais se estudou-se a regressão polinomial.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Para os dados de período de conservação apresentados na Tabela_1, embora não tenha havido diferenças significativas entre os tratamentos e a testemunha, a aplicação de cloreto de cálcio, a 0,5%, aumentou em 34,8% (3,2 dias) o período de conservação. Resultados semelhantes foram constatados por Mootoo (1991) em mangas, e por Singh et al. (1981) em goiabas. Para a coloração da epiderme, esta tendência voltou a se repetir, ou seja, os frutos do tratamento a 0,5% de cloreto de cálcio atingiram a coloração máxima (índice 5), em média, 1,6 dia após a testemunha.

Quando se utilizou apenas água, sem adição de cloreto de cálcio, o período de conservação foi, em média, de apenas 6,6 dias, sendo significativamente inferior ao tratamento com cálcio na concentração de 0,5%. Possivelmente, houve um efeito prejudicial da baixa temperatura (5ºC), causando um tipo de "chilling injury". Observando-se a Figura_1, nota-se que a taxa respiratória destes frutos permaneceu alta. Alterações na taxa respiratória e, portanto, no metabolismo dos fruto, provocadas por baixas temperaturas, foram relatadas por Castro & Sigrist (1991) em goiabas híbridas (brancas).

Nos tratamentos em que se adicionou o cálcio, percebe-se que o efeito prejudicial do frio foi anulado. Chaplin & Scott (1980) também verificaram redução de incidência de "chilling injury" em abacates tratados com cloreto de cálcio.

Constatou-se ainda que o incremento na concentração de cálcio não proporcionou aumento na conservação dos frutos. Singh et al. (1981) também verificaram melhores resultados em termos de conservação pós-colheita de goiabas com soluções a 0,5% e 1,0% de cloreto de cálcio, enquanto as concentrações de 1,5% e 2,0% foram menos efetivas.

Conway et al. (1995) sugerem que as paredes celulares se saturam de íon cálcio, ou seja, um limite de sítios de ligação. Desta forma, maiores concentrações de cloreto de cálcio na solução resultam em aumento no conteúdo total de cálcio livre, porém um menor aumento de cálcio ligado à parede celular, podendo resultar em injúrias aos frutos, além de fitotoxidez.

Os fatores que contribuíram para reduzir o período de conservação dos frutos foram o amolecimento da polpa e a ocorrência de podridões. Os patógenos causadores de podridões foram identificados como sendo Macrophoma sp e Colletotrichum gloeosporioides. A manutenção da firmeza da polpa e a menor ocorrência de podridões nos frutos tratados com cálcio podem estar relacionadas ao papel deste cátion em ligar os componentes pécticos da parede celular, principalmente na lamela média (Gleen & Poovaiah, 1990). Além disso, o cálcio aumentaria a estabilidade das membranas, principalmente por atrasar o processo catabólico dos componentes lipídicos, mantendo o turgor das células (Picchioni et al., 1998).

Analisando ainda os dados apresentados na Figura_1, observa-se que todos os tratamentos com cálcio reduziram a taxa respiratória, principalmente na fase pré-climatérica, ou seja, até os 4 dias. O tratamento na concentração de 0,5% possibilitou também um atraso no pico climatérico, que ocorreu somente no 12º dia após imersão dos frutos, quando a taxa respiratória atingiu 55,52mg.kg-1.h- 1. Segundo Bangerth et al. (1979), a redução da respiração, observada em frutos tratados com cálcio, poderia ser parcialmente explicada pelas alterações na permeabilidade das membranas celulares, assim como pelo seu efeito direto nas enzimas respiratórias.

Embora não tenha havido diferenças significativas entre os tratamentos em termos de porcentagem de perda de massa fresca acumulada, observa-se, na Tabela 2, uma tendência de menor perda de massa fresca dos frutos tratados a 0,5% e 1,5% de cloreto de cálcio, estando de acordo com os relatos de outros autores (Singh et al.,1981; Mootoo, 1991). Por outro lado, os tratamentos a 3,5% e 2,5% provocaram maior perda de massa fresca, refletindo o efeito prejudicial de doses mais elevadas de cloreto de cálcio.

Para os dados das análises de acidez total titulável e teor de ácido ascórbico (Tabelas_4 e 5), não houve diferenças significativas entre os tratamentos pós- colheita e a testemunha. Nota-se, entretanto, que o teor de sólidos solúveis totais da testemunha e do tratamento na concentração de 0% de cloreto de cálcio apresentou valores ligeiramente inferiores no dia de avaliação (Tabela_3).

Segundo Singh et al. (1981), isto pode ocorrer em função do processo mais acelerado de oxidação dos açúcares devido às maiores taxas respiratórias.

CONCLUSÕES 1. Os frutos de goiaba 'Branca de Kumagai' são sensíveis à baixa temperatura quando tratados em solução a 5ºC, por 2 horas, levando a um distúrbio fisiológico, ou seja, um tipo de "chilling injury", verificado pelo aumento nas taxas respiratórias e menor conservação pós-colheita.

2. Entre os efeitos dos tratamentos pós-colheita com cálcio em goiabas 'Branca de Kumagai', destacam-se: aumento do período de conservação pós-colheita, redução da taxa respiratória e redução da suscetibilidade dos frutos a distúrbios fisiológicos causados por baixas temperaturas.

3. Entre as doses de cloreto de cálcio testadas, a solução a 0,5% foi a mais eficiente, sendo que doses mais elevadas reduziram a conservação pós-colheita dos frutos.


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