Métodos para acelerar a germinação de sementes de Bacuri (Platonia insignis
Mart.)
MÉTODOS PARA ACELERAR A GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE BACURI (Platonia
insignisMart.)1
INTRODUÇÃO
O bacurizeiro é uma árvore frutífera e madeireira, pertencente à família
Clusiaceae, distribuindo-se por toda a Região Amazônica, sendo o seu provável
centro de origem o Estado do Pará, atingindo também os Estados do Maranhão,
Goiás, Mato Grosso e Piauí. Ocorre naturalmente na vegetação aberta de
transição, nas áreas descampadas, poucas vezes na floresta alta, indiferente
aos tipos de solos, sejam pobres, arenosos ou argilosos. O fruto apresenta
grande potencial para essas regiões, tanto sob o ponto de vista do seu
aproveitamento industrial, como através do seu consumo "in natura"
(Alcoforado Filho et al., 1996;Carvalho & Müller, 1996; Cavalcante, 1991;
Mourão, 1992).
Por não constituir ainda uma cultura comercialmente estabelecida, a produção de
frutos é decorrente, na quase totalidade, de atividades extrativistas, sendo
raros os pomares com essa espécie.
O bacurizeiro pode ser propagado tanto por sementes como por processos
vegetativos, principalmente por enxertia. Na propagação por semente, o aspecto
mais importante é a utilização de sementes novas, pois a mesma apresenta
comportamento recalcitrante, possibilitando altas percentagens de germinação,
embora o processo seja extremamente lento e com acentuada desuniformidade. O
tempo para a emergência da radícula de 50% de um lote é de 17 dias, enquanto,
para a emergência do caulículo, é de 600 dias (Carvalho & Müller, 1996;
Villachica, 1996). Ainda que o método mais utilizado para a propagação seja o
uso de sementes, o excessivo tempo requerido para a germinação limita
freqüentemente a formação de plântulas por esta via. Assim, faz-se necessário
estudar formas para acelerar a germinação do bacuri, reduzindo o tempo de
formação de mudas.
Este trabalho foi realizado com o objetivo de estudar o efeito da remoção da
película e da execução de cortes em sementes de bacuri, combinados com lavagens
em água morna e solventes orgânicos, visando a reduzir o longo tempo de sua
germinação natural.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Embrapa Meio-Norte, em Teresina-PI, sob
condições climáticas do tipo Aw', segundo a classificação de Köppen, com
temperatura média anual de 26,5ºC, umidade relativa do ar de 70% e precipitação
pluviométrica anual de 1300 mm.
As sementes de bacurizeiro utilizadas foram obtidas de frutos adquiridos na
Central de Abastecimento (CEASA-PI), oriundos da safra 96/97. O processo de
extração envolveu primeiramente a abertura dos frutos, que foram cortados com o
auxílio de uma faca. Após a abertura, as sementes foram extraídas com a polpa
aderida à sua superfície. A remoção da polpa foi efetuada manualmente, com o
auxílio de uma faca, raspando-se a superfície das sementes. Após este processo,
as sementes foram selecionadas quanto à uniformidade de tamanho e, em seguida,
foram efetuados os cortes e a remoção da película (Figura_1) e posteriormente
imersas em água quente e solventes orgânicos, conforme os tratamentos
avaliados.
![](/img/fbpe/rbf/v24n1/9915f1.jpg)
O plantio foi realizado no dia 17 de fevereiro de 1997, utilizando-se de 400
sementes previamente selecionadas quanto à uniformidade de tamanho. A semeadura
foi feita em sacos de polietileno preto, medindo 15 cm x 22 cm, com substrato
composto de vermiculita, sob condições de casa de vegetação com 70% de
sombreamento. As sementes foram semeadas na posição horizontal, com a porção
onde está localizada a linha da rafe voltada pra baixo, de modo que a
superfície superior ficasse a 1 cm abaixo do nível do substrato. Foram
realizadas regas diárias com vistas a manter o substrato sempre úmido.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com quatro
repetições e dez tratamentos, sendo a parcela experimental constituída de dez
sementes. Os tratamentos avaliados foram: T1 - testemunha (semente sem
tratamento prévio); T2 - remoção do tegumento da semente; T3 - remoção do
meristema fundamental cortical, através de cortes em planos perpendiculares ao
plano dorsal/ventral, nos dois lados da semente, sem atingir o meristema
fundamental medular; T4 - T3 mais a remoção do meristema fundamental cortical
através de cortes em planos paralelos ao plano dorsal/ventral, na região
dorsal, sem atingir o meristema fundamental medular; T5 - T3 mantido em água a
40°C por 20 minutos; T6 - T4 mantido em água a 40°C por 20 minutos; T7 - T3
mantido em etanol 80% por 5 minutos; T8 - T4 mantido em etanol 80% por 5
minutos;T9 - T3 mantido em acetona 80% por 5 minutos; T10 - T4 mantido em
acetona 80% por 5 minutos.
Os parâmetros de resposta considerados foram a percentagem de emergência de
radículas (PEr), o índice de velocidade de emergência de radículas (IVEr) e o
comprimento de radículas (Cr). Os testes de emergência tiveram a duração de 35
dias e foram consideradas emergidas as radículas que apresentaram comprimento
igual ou superior a 3 mm. Na avaliação do índice de velocidade de emergência,
foi utilizada a metodologia citada por Popiningis (1985), na qual se
multiplicou o número de radículas normais retiradas a cada dia, pelo inverso do
número de dias após o início do teste e, em seguida, somaram-se os valores
obtidos. Os dados referentes ao comprimento de radículas foram obtidos até o
21º dia após a semeadura, devido às dificuldades no manejo das sementes, que
eram retiradas dos sacos, lavadas e feita a mensuração com régua.
Os resultados foram submetidos à análise da variância e, quando constatadas
diferenças significativas ao nível de 5%, suas médias foram comparadas pelo
teste de agrupamento de Scott-Knott.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve diferença significativa, ao nível de 5% de probabilidade, entre os
tratamentos para as variáveis PEr14, PEr21, IVEr e Cr, enquanto entre blocos
não se detectou diferença. As sementes submetidas aos tratamentos relativos à
remoção da película, dois e três cortes, com e sem imersão em água morna (T2,
T3, T4, T5 e T6), apresentaram percentagens de emergência de radículas aos 14
dias (PEr14) de 72,5%; 65,0%; 72,5%; 52,5% e 67,5%, respectivamente, sendo
superiores aos demais tratamentos. Na testemunha, não houve emergência de
radículas e, para os demais tratamentos, a percentagem de emergência variou de
22,5% a 30,0% (Tabela_1).
De acordo com Carvalho & Müller (1996), a emergência da radícula
caracteriza-se pelo rompimento do tegumento pela mesma, em local próximo ao
hilo e atinge o tempo de 17 dias para emergência de 50% de um lote de sementes.
No presente trabalho, verificou-se que, em um tempo menor (14 dias), alguns
tratamentos (T2, T3, T4, T5 e T6) apresentaram percentagem de emergência de
radículas (PEr14) superior a 50%, indicando os resultados que os tratamentos
relativos à remoção da película e/ou cortes da semente com ou sem banho-maria
podem acelerar o processo de emissão da radícula.
Todos os tratamentos foram superiores à testemunha em relação à percentagem de
emergência de radículas aos 21 dias (PEr21), indicando que a remoção da
película e a realização de cortes podem proporcionar uma melhoria nas trocas
líquidas e gasosas necessárias ao processo de germinação.
Não foram verificadas diferenças estatísticas significativas entre os
tratamentos, em relação à percentagem de emergência de radículas aos 28 (PEr28)
e 35 (PEr35) dias após a semeadura. Destaca-se que os tratamentos apresentaram
valores aproximados e elevados. Esses resultados vêm confirmar os estudos
realizados por Carvalho & Müller (1996) e Villachica (1996), os quais
afirmam que, embora com certa desuniformidade, a emergência atinge altas
percentagens.
Com relação ao índice de velocidade de emergência de radículas (IVEr) das
sementes de bacuri, aos 35 dias, houve diferença significativa entre os índices
alcançados pelas sementes submetidas aos tratamentos relativos à remoção da
película, dois e três cortes, com e sem imersão em água morna (T2, T3, T4, T5 e
T6), e os demais tratamentos (Tabela_2). Apresentaram-se, portanto, mais
eficientes quando comparados com os demais tratamentos, verificando-se, ainda,
que os demais tratamentos apresentaram índices com valores próximos ao obtido
pela testemunha, não superando a mesma. De forma geral, houve uma tendência de
os maiores valores de emergência de radículas estarem associados às maiores
médias de velocidade de emergência das mesmas.
Quanto ao comprimento de radículas (Cr), notou-se que os mesmos tratamentos
(T2, T3, T4, T5 e T6) apresentaram acréscimo significativo no comprimento da
radícula em relação aos demais tratamentos, observando-se, ainda, que todos os
tratamentos se destacaram em relação à testemunha (Tabela_2). Portanto, as
sementes que sofreram cortes e/ou banho-maria e remoção da película
apresentaram maiores valores de comprimento de radícula, indicando melhor
desempenho durante a emergência.
CONCLUSÕES
1. Os tratamentos relativos à remoção da película e à efetivação de dois e três
cortes, com e sem imersão em banho-maria, aceleraram a emergência de radículas,
o que poderá possibilitar redução no tempo e nos custos de formação de mudas,
além de proporcionar um maior índice de velocidade de emergência destas.
2. Recomenda-se, para acelerar a emergência de radículas, efetuar dois cortes
laterais ao plano dorsal/ventral da semente sem atingir o meristema fundamental
medular (T3), por se tratar de um método simples e mais econômico.