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BrBRCVAg0100-29452002000100034

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National varietyBr
Year2002
SourceScielo

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Porta-enxertos para a lima-ácida-'Tahiti' na região de Bebedouro, SP

INTRODUÇÃO A lima-ácida-'Tahiti' (Citrus latifolia Tanaka), popularmente conhecida no Brasil como um limão, atualmente vem despertando interesse para a ampliação dos plantios comerciais. Isso ocorre em função de seu bom comportamento diante das principais doenças e pragas que estão presentes nos pomares cítricos e que vêm causando grandes prejuízos para os produtores de laranjas doces.

Aliado a esta constatação, está o fato de que os europeus, acostumados a consumir os limões de casca amarela, estão aprendendo a consumir o 'Tahiti', de casca verde. Presentemente, existe um lento, mas significativo incremento nas importações de frutos dessa espécie, principalmente pelos países integrantes do Mercado Comum Europeu. Essa abertura de mercado constitui-se no principal estímulo ao cultivo do 'Tahiti'. Por outro lado, as árvores de 'Tahiti' apresentam a marcante característica de florescimento continuado, com duas safras bem definidas: a principal no primeiro semestre (janeiro a junho), quando os preços são menos atraentes, e uma segunda colheita concentrada nos meses de julho a novembro, com preços mais elevados (Figueiredo et al.,1976).

Assim, a estratégia para a comercialização de seus frutos constitui-se em exportá-los e industrializá-los para escoamento da safra no primeiro semestre.

No segundo semestre, quando a produção é menor e a demanda aumenta, o atendimento maior deve ser o mercado interno para consumo "in natura".

Em São Paulo, nos anos agrícolas 1996/97 e 1997/98, a produção de limas ácidas atingiu 28,26 e 31,82 milhões de caixas de 25,0 kg, respectivamente. O valor desta produção foi estimado ao redor de 119 e 76 milhões de reais, respectivamente. Isto corresponde a 1,17% e 0,67 do valor de toda a atividade agropecuária do Estado de São Paulo, superando assim a cultura do amendoim, da melancia, da uva fina de mesa, do arroz em casca, da mandioca para mesa, do tomate para indústria e do trigo. Por esses números, o Estado de São Paulo é o grande produtor brasileiro de 'Tahiti', com cerca de 73% da safra brasileira (Donadelli et al., 2000).

Considerando o uso de porta-enxertos, verifica-se que pequena quantidade de trabalhos realizados e feitos em São Paulo para o 'Tahiti'. O uso de outras espécies que não o limão-'Cravo', porta-enxerto que predomina nos plantios do 'Tahiti', é importante e necessário, uma vez que os fungos do gênero Phytophthora encurtam a vida útil das plantas com aquele porta-enxerto. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar porta-enxertos que pudessem substituir o limão-'Cravo' como porta-enxerto para o 'Tahiti' nas condições edafoclimáticas de Bebedouro. Dados iniciais desse trabalho foram apresentados de maneira preliminar por Figueiredo et al. (1996).

MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro (EECB), no Município de Bebedouro-SP (Latitude 20 º 53'16" S, Longitude 48º 28'11" W), altitude de 601 m, em um solo classificado como Latossolo Vermelho-Escuro, epieutrófico, endoálico, A moderado, textura média, (Haplustox). O clima é do tipo Cwa (subtropical com inverno moderado e seco, verão quente e chuvoso), com temperatura média máxima de 28,8ºC, média mínima 18,3ºC e temperatura média de 23,5ºC; a precipitação anual é de 1.522 mm (dados médios de 13 anos de observação no posto meteorológicos da EECB). Os dados de balanço hídrico em alguns anos do experimento estão no Quadro_1.

A instalação do experimento foi em 07-12-1988, com 11 tratamentos, em espaçamento de 8m x 6m e conduzido sem irrigação. A variedade copa proveio de um clone nucelar de 'Tahiti', denominado IAC-5, existente no Banco Ativo de Germoplasma de Citros localizado no Centro de Citricultura Sylvio Moreira, Cordeirópolis-SP. Esse material fora testado anteriormente em um experimento de seis clones de limão-'Tahiti' e apresentou o melhor comportamento entre eles (Figueiredo et al., 1976). O material não apresenta hipertrofia dos cálices florais (Donadio & Figueiredo, 1972) e é mais tolerante à tristeza que os outros clones estudados (Figueiredo et al., 1976; Rodriguez et al., 1973). As variedades porta-enxerto, também oriundas do BAG citros¾IAC, foram as seguintes: tangerinas-'Sunki' (Citrus sunki Hort. ex Tanaka); 'Cleópatra' (Citrusreshni Hort. ex Tan.); 'Batangas' e 'Oneco' (Citrus reticulata Blanco); trifoliatas-EEL (Poncirus trifoliata Raf.); limão-'Cravo' (Citrus limonia Osbeck); limão-'Volkameriano Catania 2' (Citrus volkameriana Ten. & Pasq.); tangelo-'Orlando' (Citrus reticulata Blanco x C. paradisi Macf.); citrumelo- 'Swingle' (P. trifoliata Raf. x C. paradisi Macf.); citrange-'Morton' (P.

trifoliata Raf. X C. sinensis (L.) Osbeck) e laranja-'Caipira DAC' (Citrus sinensis (L.) Osbeck). Os porta-enxertos estudados são tolerantes ao vírus da tristeza. Foram utilizadas dez mudas uniformes para cada tratamento em parcelas de uma planta, em blocos ao acaso, havendo somente bordaduras externas. Devido à característica de a cultivar apresentar multiplicidade de floradas, as colheitas e pesagem da produção foram realizadas até quatro vezes por ano, sendo somados os resultados obtidos em cada ano.

Foram coletados os dados da produção das plantas, em peso de frutos, nos anos de 1991 a 1998, do desenvolvimento vegetativo das plantas (altura, diâmetro), no ano de 1998, de sua resistência à seca, em 1991, 1994 e 1995 e da qualidade dos frutos, em 2000. Os valores de produção anual foram somados para a obtenção da produção acumulada de frutos por planta no período. Os diâmetros médios das copas foram obtidos por meio de duas medições em eixos perpendiculares, situados na metade da altura das plantas, com uso de régua graduada. A altura das plantas foi medida desde o nível do solo até o topo das plantas. Com os dados de altura e diâmetro da copa, obtidos no ano de 1998, calculou-se o volume da copa através da fórmula: V= 2/3 P R2H, onde V representa o volume em m3; R, o raio médio; e H, a sua altura (Mendel, 1956).

Os dados de resistência à seca foram obtidos por meio de uma escala de notas em avaliações visuais realizadas nos meses de setembro, nos anos de 1991, 1994 e 1995, anos estes de severo déficit hídrico (Quadro_1). Essa escala variou de um a três, sendo a nota 1 para o mais resistente (resistente), a nota 2 para resistência intermediária (intermediária) e a nota 3 para o menos resistente (sensível). As notas sempre foram atribuídas por dois observadores de forma independente e, posteriormente, calculadas as médias.

Em 1997, avaliou-se a influência dos porta-enxerto em três características físicas dos frutos; para isto, foram coletadas amostras de 10 frutos, em quatro das repetições. As amostras foram pesadas e calculou-se o peso médio (massa fresca) dos frutos em gramas. Os frutos de cada amostra foram medidos individualmente (altura e diâmetro) e calculou-se a média de cada uma das duas características.

Em 1998, realizou-se o levantamento do número de plantas mortas (falhas) por tratamento, sendo posteriormente calculado o percentual das mesmas em relação ao número inicial de plantas por tratamento, que era de 10.

Os dados de produção acumulada de frutos, de desenvolvimento vegetativo das plantas e de resistência à seca, em cada avaliação e na média do período, e daqueles referentes à qualidade dos frutos foram submetidos a análise de variância, e as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade de erro.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Produção Pode-se notar que a melhor produtividade foi induzida pelo porta-enxerto tangelo-'Orlando' que diferiu de 'Cleópatra', 'Batangas', 'Oneco' e 'Caipira', que apresentaram a menor produtividade (Tabela_1). 'Morton', 'Swingle', 'Catania 2', 'EEL', 'Cravo' e 'Sunki' não diferiram entre si, nem de 'Orlando'.

Note-se que o tangelo-'Orlando' apresentou esse desempenho, apesar de sofrer 40% de perdas de plantas devido à gomose de Phytophthora. Foi também o porta- enxerto mais sensível à seca, neste experimento, e também durante a forte estiagem do ano de 1994. Com relação à produção de frutos, de um modo geral, estes dados estão de acordo com os resultados iniciais obtidos do mesmo experimento (Figueiredo et al., 1996), para a maioria dos porta-enxertos. Fazem exceção o limão-'Cravo' e o citrumelo-'Swingle'. O limão-'Cravo' destacou-se no período inicial, mas foi apenas intermediário em produção no período total dos oito anos considerados. O citrumelo-'Swingle', que nos primeiros anos apresentou produções intermediárias, melhorou sua posição no total dos anos, colocando-se entre os três porta-enxertos mais produtivos, o que indica a sua boa adaptação às condições edafoclimáticas de Bebedouro. Outros porta-enxertos como 'Sunki', 'Batangas' e 'Caipira DAC' alteraram também sua posição, mas não apresentaram resultados de maior interesse.

Qualidade dos frutos Quanto às características de qualidade estudadas, não houve diferenças significativas, em função dos porta-enxertos (Tabela_2). Iriarte-Martel et al.

(1999) também não encontraram diferenças significativas, para massa fresca (peso) dos frutos, em função dos mesmos onze porta-enxertos estudados. Os valores encontrados de massa fresca dos frutos foram superiores ao valor médio relatado para o 'Tahiti' por Figueiredo (1991), que é de 70g e, no presente trabalho, a média geral foi de 91g, valor também encontrado por Iriarte-Martel et al. (1999). A altura e diâmetro dos frutos mostraram-se dentro das faixas citadas por Donadio et al. (1995), 5,5cm a 7cm e 4,7cm a 6,3 cm, para altura e diâmetro, respectivamente.

Resistência à seca Os porta-enxertos comportaram-se de uma maneira semelhante em relação à resistência a seca, tendo sido o 'Orlando' considerado sensível nas três avaliações e 'Cravo' e 'Volkameriano Catania 2', resistentes (Tabela_3).

Na média das três avaliações, os porta-enxertos mais tolerantes à seca foram 'Cravo', 'Catania 2', sem diferirem entre si. 'Cravo' e 'Catania 2' diferiram dos demais porta-enxertos, exceto de 'Sunki', que, por sua vez, não diferiu de 'Swingle', 'Morton', 'Cleópatra' e trifoliata EEL, com resistência intermediária. Os porta-enxertos mais sensíveis foram : 'Orlando', 'Oneco', 'Batangas' e 'Caipira'.

Desenvolvimento vegetativo das plantas O diâmetro médio das plantas foi influenciado pelos porta-enxertos, com destaque para o 'Catania 2' que induziu os maiores valores, diferindo significativamente da maioria dos porta-enxertos, exceto de 'Morton', 'Orlando' e trifoliata EEL (Tabela_4). A altura média das copas também foi influenciada pelos porta-enxertos com 'Orlando' proporcionando o maior valor, diferindo de 'Batangas', 'Cleópatra' e 'Sunki', mas sem diferir dos demais. Na Tabela_4, foram inseridos os valores de altura, diâmetro e volume de copa referentes a uma única planta remanescente, em 1997, dos porta-enxertos 'Cravo' e 'Caipira DAC', apenas como indicadores do tamanho das copas com esses porta-enxertos.

Notou-se afinidade entre a copa e alguns porta-enxertos, principalmente com a 'Cleópatra', fato relatado por Stenzel (1998), para o clone IAC-5 e por Stuchi et al.(dados não publicados), para a copa do clone 'Tahiti' premunizado oriundo do Centro Nacional de Pesquisa de Mandioca e Fruticultura Tropical, Cruz das Almas-BA, e cultivado em Bebedouro.

CONCLUSÕES 1) Podem ser recomendados como porta-enxertos alternativos ao limão-'Cravo', os seguintes, em ordem decrescente de produtividade: tangelo-'Orlando', citrange- 'Morton', citrumelo-'Swingle', limão-'Volkameriano', trifoliata-'EEL', ressaltando que 'Orlando' é extremamente sensível à seca.

2) As menores produções são proporcionadas, ainda em ordem decrescente, pelas tangerinas-'Sunki', 'Cleópatra', Batangas' e 'Oneco' e pela laranja-'Caipira DAC', que não devem ser utilizadas como porta-enxertos para 'Tahiti'.


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