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BrBRCVAg0100-29452002000200023

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National varietyBr
Year2002
SourceScielo

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Espécies e flutuação populacional de cigarrinhas em viveiro de citros, no município de Mogi-Guaçu-SP ESPÉCIES E FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE CIGARRINHAS EM VIVEIRO DE CITROS, NO MUNICÍPIO DE MOGI-GUAÇU-SP 1

INTRODUÇÃO No final dos anos 80, foi relatada, nas regiões Norte e Noroeste do Estado de São Paulo, a Clorose Variegada dos Citros (CVC), que se tornou uma das mais sérias e preocupantes doenças das plantas cítricas (Rossetti et al., 1990). A CVC disseminou-se rapidamente pelas regiões produtoras de citros, sendo hoje encontrada nos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Distrito Federal, Bahia, Sergipe e Pará (Rossetti et al., 1997).

O agente causal da CVC é a bactéria limitada ao xilema, Xylella fastidiosa (Chang et al., 1993; Lee et al., 1993; Hartung et al., 1994). Esta bactéria provoca doenças em várias culturas, tais como videira, amendoeira, alfafa, pessegueiro, pereira, cerejeira e outras, sendo transmitida por insetos vetores (Carlos et al., 1997). O patógeno da CVC pode ser transmitido através de borbulhas contaminadas (Jacomino et al., 1993) ou por insetos vetores das famílias Cicadellidae, subfamília Cicadellinae, que se alimentam nos vasos do xilema das plantas (Lopes, 1996; Gravena et al., 1997). Dentre as diversas espécies de cigarrinhas que ocorrem em citros, comprovou-se que Dilobopterus costalimai Young, Acrogonia sp., Oncometopia facialis (Signoret) (Roberto et al., 1996; Lopes et al., 1996), Bucephalogonia xanthophis (Berg), Plesiommata corniculata Young (Krügner et al., 1998), Acrogonia virescens (Metcalf), Ferrariana trivittata(Signoret), Homalodisca ignorata Melichar, Macugonalia leucomelas (Walker), Parathona gratiosa(Blanchard) e Sonesimia grossa (Signoret) (Descobertos, 1999) são vetores de X. fastidiosa.

Uma das estratégias adotadas para o manejo da CVC é o controle químico dos vetores, inclusive na formação da muda, quando esta se encontra nos viveiros.

Nessa condição, Garcia Júnior et al. (1997) realizaram levantamento das cigarrinhas D. costalimai, Acrogonia terminalis Young e O. facialis, constatando que seus níveis populacionais aumentaram a partir de dezembro, início do verão, permanecendo altos nesta estação e no outono, e diminuindo na primavera e inverno. Em viveiro localizado em Gavião Peixoto, região central do Estado de São Paulo, Roberto et al. (2000) observaram que a espécie B.

xanthophis foi a mais abundante. Também foram capturadas as espécies M.

leucomelas, Dechacona missionumBerg,F. trivittata, Hortensia similis(Walker), Acrogoniasp. e P. corniculata. As cigarrinhas ocorreram durante todo o período de permanência das mudas no campo e foram capturadas tanto na periferia como no centro do viveiro e na vegetação adjacente.

A ocorrência de cigarrinhas em viveiro de mudas cítricas faz com que aumente as chances de contaminação das mudas pela bactéria X. fastidiosa. Identificar as espécies, a dinâmica populacional e a abundância durante o processo de produção de mudas é importante para o manejo de cicadelídeos em viveiro e para a consolidação do processo de produção das mudas em ambiente protegido. Visando a identificar as espécies de cicadelídeos de ocorrência em viveiro cítrico e sua flutuação populacional, foi realizado o presente trabalho.

MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado em viveiro a céu aberto, localizado no município de Mogi-Guaçu - SP, com irrigação via aspersão. As avaliações iniciaram-se um mês após o plantio dos cavalinhos, da variedade limão-'Cravo' (Citrus limonia Osbeck) e estendeu-se até a retirada das mudas. O plantio do porta-enxerto foi realizado em fevereiro de 1997, e a enxertia da variedade copa 'Pêra' (Citrus sinensis [L.] Osbeck) foi realizada em julho de 1997, oriunda da borbulheira do Centro de Citricultura Sylvio Moreira/IAC ' Cordeirópolis-SP. O arranquio das mudas deu-se no mês de março de 1998.

A incidência e flutuação populacional de cigarrinhas foram avaliadas por amostragens quinzenais. Utilizaram-se armadilhas adesivas amarelas Stiky Strip (Olson Products Inc., Ohio, EUA), com dimensões de 7,6 x 12,7 cm. Foram distribuídas, uniformemente, 48 armadilhas no viveiro, sendo 28 em toda a periferia do talhão e 20 na área central. As armadilhas foram dispostas em suporte de ferro na altura das plantas e, conforme essas cresciam, as armadilhas também eram remanejadas para estarem na altura máxima das mudas.

Para conhecer a dinâmica populacional de cigarrinhas da mata para o viveiro, foram colocadas 5 armadilhas adesivas amarelas na periferia do viveiro, adjacente à mata, espaçadas a cada 5 metros, penduradas em cerca de arame, a um altura de aproximadamente 1,5 m.

Contou-se o número de cigarrinhas presas à superfície da armadilha, nas duas faces, separadas pela espécie. A freqüência de avaliação foi quinzenal; contudo, a troca das armadilhas foi realizada mensalmente. As avaliações iniciaram-se em março de 1997 e estenderam-se até março de 1998, totalizando 25 avaliações.

Para se determinar os períodos de maior atividade das espécies no viveiro, foram calculados, a partir dos dados mensais de coleta, os valores médios de cigarrinhas capturadas nas diferentes estações do ano: verão (dezembro, janeiro e fevereiro), outono (março, abril e maio), inverno (junho, julho e agosto) e primavera (setembro, outubro e novembro).

A partir dos dados de captura, efetuou-se também a comparação das espécies de cigarrinhas através da porcentagem de ocorrência da espécie nas amostragens mensais, ou seja, pela constância observada a cada ano de avaliação. Em função dos resultados obtidos, as espécies foram distribuídas nas categorias constante, acessória e acidental, de acordo com a classificação de Bodenheimer, citado por Dajoz (1973) e Busoli (1979). A freqüência de cigarrinhas foi estimada pela participação percentual do número de indivíduos dentro da subfamília Cicadellinae.

Durante todo o período de avaliação, realizou-se o controle químico das cigarrinhas em intervalo de aplicação de aproximadamente 7 a 10 dias. Foram realizadas tanto aplicação com pulverizador tratorizado de arrasto como através de pulverização aérea. Os produtos empregados foram escolhidos a critério do Engenheiro Agrônomo responsável pelo viveiro e encontram-se listados na Tabela 1.

Devido à importância de cigarrinhas da subfamília Cicadellinae, que engloba a maioria dos vetores de X. fastidiosa nas diversas culturas em que causa doença, analisaram-se somente os dados de espécies desta subfamília de Cicadellidae, e devido ao fato de as espécies da tribo Cicadellini serem consideradas vetores mais eficientes que Proconiini, realizou-se a análise separadamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO No período em que foi realizado o levantamento populacional, foram capturadas, na área do viveiro, 14 espécies de cigarrinhas da família Cicadellidae, subfamília Cicadellinae, sendo 10 espécies pertencentes à tribo Cicadellini e 4 espécies à tribo Proconiini (Tabela_2). Dentre as espécies comprovadamente vetoras de X. fastidiosa (Roberto et al., 1996; Lopes et al., 1996; Krügner et al., 1998; Descobertos, 1999), capturaram-se B. xanthophis, F. trivittata, M.

leucomelas, P. corniculata, Acrogonia sp. e O. facialis.

Considerando-se espécies da subfamília Cicadellinae, as mais freqüentes foram B. xanthophise Acrogoniasp. (Tabela_2), sendo respectivamente as mais freqüentes das tribos Cicadellini e Proconiini (Figura_1). A freqüência das espécies B. xanthophis eAcrogonia sp., juntas, foi de 69,4%, enquanto a das demais espécies vetoras de X. fastidiosa (D. costalimai,F. trivittata, M.

leucomelas, P. corniculata, S. grossa eO. facialis), juntas, foi de 19,3% e a das outras espécies da família Cicadellidae foi de 11,3% (Tabela_2). Roberto et al. (2000) constataram que B. xanthophisfoi a espécie mais comum durante todo o processo de formação da muda em viveiro localizado em Gavião Peixoto-SP, representando 92,3% do total de cigarrinhas capturadas.

As espécies B. xanthophis eAcrogoniasp.foram de ocorrência constante no viveiro, S. grossa foi de ocorrência acessória e as demais espécies de ocorrência acidental, inclusive as espécies D. costalimai e O. facialis,mais comuns em pomares em produção (Paiva et al., 1998; Roberto & Yamamoto, 1998). Roberto (1998) constatou que, em laranjeira em produção, as espécies Acrogoniasp., D. costalimai e O. facialis, nos anos de 1995 e 1996, foram de ocorrência constante em pomares das regiões Norte, Noroeste e Centro do Estado de São Paulo; entretanto, na região Sul, as espécies Acrogoniasp. e D.

costalimai foram de ocorrência acessória e O. facialis de ocorrência acidental.

Neste mesmo trabalho, o autor constatou, nos anos de 1997 e 1998, que todas as três espécies foram constantes nos pomares das 4 regiões estudadas.

Na periferia da mata capturaram-se 3 espécies da tribo Cicadellini (B.

xanthophis, D. costalimai e P. corniculata) e 2 da tribo Proconiini (Acrogoniasp. e O. facialis) (Tabela_2). Todas as espécies capturadas na periferia da mata foram de ocorrência acidental. A freqüência foi de 38,8; 27,8; 16,7; 11,1 e 5,6 %, respectivamente, para D. costalimai, Acrogonia sp., O. facialis, B. xanthophis e P. corniculata. A espécie D. costalimaifoi capturada em maior número na periferia da mata que no viveiro, enquanto Acrogonia sp. e B. xanthophisforam capturadas em maior número no viveiro.

As espécies da subfamília Cicadellinae foram capturadas no viveiro, durante todo o período de coleta, com exceção da primeira quinzena de setembro (Figura 2). Ocorreram três picos populacionais, um na primeira quinzena de maio, um outro na primeira quinzena de junho e um terceiro na primeira quinzena de dezembro. Na periferia da mata, ocorreram também três picos populacionais, o primeiro em abril/maio, o segundo em outubro e o terceiro na primeira quinzena de dezembro (Figura_2). No período de junho a outubro, não foram capturados espécimens na periferia da mata.

Comparando-se espécies das tribos Cicadellini e Proconiini, constatou-se que houve predomínio de espécies da primeira tribo (Tabela_2). As espécies da tribo Proconiini predominaram nos primeiros meses de coleta dos dados, da segunda quinzena de abril até o final de maio, e nas demais datas houve predomínio de espécies da tribo Cicadellini.

Em relação às estações do ano, constatou-se que houve um crescimento populacional de cigarrinhas até meados do outono e, posteriormente, uma queda populacional (Figura_3). No inverno, a população foi decrescente, atingindo ao final deste, níveis populacionais muito baixos, enquanto, na primavera, ao contrário, a população foi crescente. No verão, a população de cigarrinhas manteve-se constante, sem tendência de crescimento ou decréscimo.

A baixa população no verão, ao contrário do que foi observado por Garcia Júnior et al. (1997), provavelmente, seja decorrente do estágio das mudas. Nesta estação, as mudas encontravam-se na fase final de produção e, provavelmente, pouco atrativa para as cigarrinhas devido à pouca vegetação e maior porte das mudas.

Apesar do controle químico sistemático realizado no viveiro, mesmo com pulverizações aéreas, constatou-se a presença de cigarrinhas em praticamente todo o processo de formação da muda. Roberto et al. (2000) constataram a presença de cigarrinhas durante todo o processo de formação da muda em viveiro localizado em Gavião Peixoto-SP. A ocorrência de cigarrinhas em viveiro pode levar à contaminação das mudas pela bactéria X. fastidiosa, causadora da CVC.

Entretanto, a contaminação estará relacionada à infectividade das cigarrinhas vetoras da bactéria.

CONCLUSÕES 1. Em viveiro cítrico predomínio da espécie B. xanthophis.

2. Durante todo o processo de formação de mudas, ocorre presença de cigarrinhas no viveiro, com predomínio de espécies da tribo Cicadellini.

3. A população de cigarrinhas é crescente até meados do outono e, posteriormente, decrescente.

4. No inverno, a população é decrescente e, na primavera, crescente.

5. No verão, a população de cigarrinhas não apresenta um padrão de crescimento ou decréscimo.


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