Efeito do comprimento de estacas herbáceas de dois clones de umezeiro (Prunus
mume Sieb & Zucc.) no enraizamento adventício
EFEITO DO COMPRIMENTO DE ESTACAS HERBÁCEAS DE DOIS CLONES DE UMEZEIRO
(Prunus mume Sieb & Zucc.) NO ENRAIZAMENTO ADVENTÍCIO
1
INTRODUÇÃO
O umezeiro ou damasqueiro-japonês (Prunus mume Sieb & Zucc.) é uma rosácea
arbórea que produz frutos de elevado amargor, acidez e aroma característico,
muito apreciados pelos povos orientais que os consomem na forma de conserva
salgada ("umeboshi") e de licores ("umeshu"); podem também ser misturados às
geléias de pêssego e ameixa, realçando o aroma, acidez, sabor e consistência
(Campo Dall'Orto et al., 1998).
Esta frutífera foi introduzida no Brasil, provavelmente, por imigrantes
japoneses, que procuravam produzir as flores e frutos para manter suas
tradições. Após inúmeros fracassos, por utilizarem materiais muito exigentes em
frio, produções satisfatórias foram obtidas em Botucatu-SP, em 1970, com
material originário de Taiwan, provavelmente, da cultivar Koume, de baixa
exigência em frio (Campo Dall'Orto et al., 1998).
O maior interesse, entretanto, está verificando-se na possibilidade de utilizá-
lo como porta-enxerto para pessegueiro e nectarineira. Alguns trabalhos de
pesquisa comprovam a compatibilidade do umezeiro com algumas cultivares-copa
desta espécie, com redução do vigor das plantas em até 50%, comparando-se com
as copas enxertadas sobre a cv. Okinawa, comumente utilizado no Estado de São
Paulo. Esta redução no vigor, conferida pelo umezeiro, poderia viabilizar a
formação de pomares em alta densidade, especialmente em regiões de clima ameno
e seco (Campo Dall'Orto et al., 1992 e 1994; Nakamura et al., 1999). O umezeiro
ainda pode possibilitar que as copas produzam frutos com maior peso, teor de
sólidos solúveis e porcentagem de pericarpo vermelho (Campo Dall'Orto et al.,
1994).
A importância da manutenção dos caracteres genéticos da planta-matriz nos
descendentes verifica-se não só para a cultivar-copa, mas também para o porta-
enxerto. De fato, Kersten & Ibañes (1993) relataram que pomares formados
por mudas enxertadas sobre porta-enxertos oriundos de sementes apresentam
uniformidade apenas das copas, constatando que ocorria variabilidade entre os
porta-enxertos, devido à segregação genética proporcionada pela propagação
sexuada e concluíram que a propagação por estacas eliminaria tal variabilidade.
A propagação por estacas herbáceas em câmara de nebulização é uma prática que
apresenta sucesso para várias espécies de frutíferas. Nachtigal et al. (1999)
consideraram viável a utilização desta técnica para a propagação do umezeiro,
pois obtiveram percentuais de enraizamento de 14 a 36,8%, no período do outono.
A imersão da base das estacas, por 5 segundos, em uma solução de ácido
indolbutírico (AIB) a 2.000mg.L-1,aumentou o percentual de enraizamento e o
número de raízes por estaca. Mayer et al. (2000) observaram percentuais de
enraizamento que variaram de 78,13 a 93,75%, na primavera. O AIB, na
concentração de 2.000mg.L-1, também foi altamente benéfico, aumentando o
percentual de enraizamento, o número e o comprimento das raízes adventícias.
Zhang et al. (1994), utilizando estacas de 25cm de comprimento com uma folha,
obtiveram as maiores taxas de enraizamento com as cultivares Koukyou e Gyousin.
Segundo os autores, a taxa de enraizamento foi negativamente correlacionada com
o teor de açúcares totais e positivamente com o conteúdo de amido das estacas.
Lopes et al. (1993) estudaram o efeito do tamanho da estaca no enraizamento de
lima-ácida 'Tahiti' e concluíram que este fator não influenciou no percentual
de enraizamento, embora as estacas menores, com 10cm, tenderam a apresentar
menores percentuais de enraizamento. A diferença significativa entre os
tamanhos de estaca foi observada no volume de raízes, sendo que estacas com 20
ou 30cm apresentaram valores maiores que estacas de 10cm.
O presente trabalho teve como objetivo verificar o efeito do comprimento de
estacas herbáceas de dois clones de umezeiro no enraizamento adventício.
MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em câmara de nebulização intermitente, pertencente
ao Departamento de Produção Vegetal da Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias-UNESP, Câmpus de Jaboticabal-SP. O sistema de nebulização era
acionado por um "Timer" e foi programado, por observações visuais, para manter
uma fina película de água na superfície das folhas, permanecendo 5 segundos
acionado e 40 segundos desligado.
As plantas-matrizes foram mantidas em vasos plásticos (com volume de 23 e 15
litros), sob ripado (50% de luz natural) e constituíram-se dos Clones 10 e 15
de umezeiro, provenientes do Programa de Melhoramento Genético do Instituto
Agronômico de Campinas-SP. O substrato foi composto de uma mistura de solo,
areia de rio e esterco curtido de gado (3:1:1v/v).
O experimento foi instalado segundo o delineamento de blocos casualizados, com
4 repetições de 20 estacas, e consistiu em um fatorial 2 x 4, sendo o fator
clone em 2 níveis (Clone 10 e Clone 15) e o fator comprimento de estaca em 4
níveis (12; 15; 18 e 25cm). As folhas da parte basal da estaca (4-5cm) foram
eliminadas e então permaneceram, respectivamente, com 3 a 5; 4 a 6; 6 a 9 e 9 a
14 folhas por estaca, conforme o tratamento. Os ramos foram coletados aos 90
dias após a poda, com diâmetro médio de 3,0mm (Clone 10) e 3,3mm (Clone 15). As
estacas foram obtidas de diferentes partes do ramo, sendo que apenas a porção
basal de maior diâmetro e a porção apical foram desprezadas.
As estacas foram tratadas com solução fungicida de Benomil (0,5% p.c.), por 10
segundos, e após em solução líquida de ácido indolbutírico, na concentração de
2.000mg.L-1, por 5 segundos. O substrato utilizado foi a vermiculita expandida
de grânulos finos contido em caixas plásticas perfuradas (37,5 x 27 x 9,5cm -
comprimento x largura x altura). A estaquia foi realizada em 06 de março de
2000 e as avaliações foram feitas 60 dias após.
As variáveis analisadas foram porcentagem de estacas enraizadas, porcentagem de
estacas mortas, porcentagem de estacas brotadas, número e comprimento de
raízes. Os resultados foram submetidos à analise de variância pelo teste F e as
médias foram comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados referentes às variáveis analisadas encontram-se nas Tabelas_1; 2 e 3.
São apresentadas as médias originais, sendo que, para as comparações entre as
médias das variáveis expressas em porcentagem, realizou-se a transformação dos
dados originais para Arco-Seno .
Quanto à porcentagem de enraizamento (Tabela_1), observa-se que não houve
diferença significativa entre os clones. No entanto, a porcentagem de
enraizamento foi influenciada pelos comprimentos de estaca utilizados, sendo
que os melhores resultados, em geral, foram encontrados nas estacas maiores (25
e 18cm). Booner & Wildman (1946), citados por Ferri (1997), teorizaram que
a rizocalina, uma auxina intermediária específica à iniciação de raízes,
interagiria com o fitorregulador exógeno, quando aplicado. Assim sendo, estacas
maiores teriam maiores quantidades de rizocalina e, portanto, maior potencial
de enraizamento.
Outra explicação para os melhores resultados obtidos com estacas maiores
refere-se ao número de folhas por estaca, que foi de 6 a 9 e 9 a 14 folhas,
para estacas de 18 e 25cm, respectivamente. Assim sendo, a taxa fotossintética
é mais elevada nestas estacas, aumentando a concentração de fotoassimilados na
estaca, refletindo-se na resposta rizogênica. Estas observações concordam, em
parte, com Porlingis & Therios (1976), que verificaram que o número de
folhas interfere no enraizamento, matéria fresca e número de raízes em estacas
juvenis e adultas de oliveira. Fachinello & Kersten (1981) salientam que
estacas semilenhosas de pessegueiro só enraizam com a presença de folhas. Em
estacas herbáceas de goiabeira, Pereira et al. (1991) relatam que as folhas,
através do processo de fotossíntese, são centros de reserva e produção de
matéria seca, sendo mais importantes do que o caule na produção e exportação de
material para o crescimento das raízes formadas.
A porcentagem de estacas mortas não foi influenciada pelos clones, mas foi
novamente pelo comprimento de estacas, onde as estacas de 15cm apresentaram
mortalidade significativamente superior (49,38%) às estacas com 25cm (23,13%).
A queda das folhas das estacas postas a enraizar no período do outono pode ter
sido o fator responsável pela elevada mortalidade, o que foi mencionado por
Nachtigal et al. (1999).
A brotação só foi influenciada pelas diferenças genéticas entre os dois clones
testados. O Clone 10 apresentou uma maior capacidade de emissão da brotação
(40%) durante o período de enraizamento em relação ao Clone 15 (26,88%) e,
ainda assim, as estacas continham reservas suficientes para apresentar o maior
número de raízes. De acordo com Okoro & Grace (1978), durante o período de
enraizamento, a citocinina é gradualmente metabolizada em favor da brotação e
crescimento das raízes latentes ou simplesmente inativada pelo tecido da
planta.
O número de raízes por estaca foi bastante elevado em ambos os clones, embora
apresentando diferenças altamente significativas. O Clone 10 apresentou uma
média de 17,06 raízes por estaca, contra 14,07 observada no Clone 15. Esta
variável foi altamente influenciada pelo comprimento da estaca utilizado.
Qualquer um dos três maiores comprimentos de estaca testados (15, 18 ou 25cm)
emitiu um maior número de raízes do que as estacas com 12cm.
Os fatores clone e comprimento de estaca não influenciaram no comprimento das
raízes (Tabela_1). Todos os tratamentos apresentaram médias superiores a
5,29cm, evidenciando o potencial de crescimento das raízes no período de 60
dias.
Verificou-se efeito altamente significativo da interação clone x comprimento de
estaca somente para as variáveis número e comprimento de raízes por estaca. O
desdobramento da interação entre os fatores, para a variável número de raízes,
é apresentado na Tabela_2. Pelos valores de F (B dentro de A), pode-se observar
que existe diferença significativa entre os comprimentos de estaca, tanto no
Clone 10 quanto no Clone 15. Os tamanhos de estaca que apresentaram o maior
número de raízes, foram 18 e 25cm, no Clone 10, com 22,72 e 22,34 raízes por
estaca, respectivamente. No Clone 15, verificaram-se os melhores resultados com
estacas de 15cm (17,65), ainda que, neste caso, não tenham diferido
estatisticamente dos tamanhos de 18cm (12,24) e 25cm (14,94). As estacas com
12cm apresentaram certa tendência de emitir um menor número de raízes
adventícias, em ambos os clones.
Na Tabela_3, são apresentados os valores referentes ao desdobramento da
interação entre os fatores clone e comprimento de estaca para a variável
comprimento de raízes. Observa-se que, embora ocorram algumas diferenças
significativas, o comprimento das raízes obtido, mesmo nos tratamentos onde as
médias foram menores, foram muito satisfatórios, permitindo que as estacas
apresentem sistema radicular em adequadas condições para posterior pegamento.
A análise conjunta das variáveis estudadas em relação ao processo de
enraizamento de estacas herbáceas de umezeiro permite observar um melhor
comportamento das estacas de maior tamanho, porém, em geral, sem apresentar
diferenças estatísticas significativas das estacas menores. Em termos práticos,
porém, a utilização de estacas de menor comprimento, para este tipo de
propagação, permite a obtenção de um maior número de propágulos por planta-
matriz, resultando, assim, em um maior número de mudas. Além disso,
considerando-se que a enxertia de uma cultivar-copa de pessegueiro seja
realizada na brotação oriunda da estaca do umezeiro, esta opção atenderia à
portaria nº 173, de 27 de maio de 1984, que estabelece os padrões
mínimos para a produção, transporte e comercialização de mudas de pessegueiro.
De acordo com o Artigo I desta portaria, as mudas devem ter o enxerto realizado
entre 10 e 20cm do colo da planta, conforme citado por Finardi (1998).
CONCLUSÕES
1. A propagação do umezeiro por estacas herbáceas coletadas no outono é viável
para a região de Jaboticabal-SP, apresentando valores superiores a 49,38% de
estacas enraizadas.
2. A principal diferença entre os clones testados foi verificada no número de
raízes por estaca, sendo que o Clone 10 apresentou resultados superiores ao
Clone 15.
3. O comprimento da estaca influenciou a porcentagem de enraizamento e a
mortalidade das estacas. Estacas maiores apresentaram maiores porcentagens de
enraizamento e menores de mortalidade. Entretanto, a análise conjunta das
variáveis estudadas permitiu concluir que a utilização de estacas herbáceas com
12cm de comprimento apresentou resultados satisfatórios, viabilizando a
formação de plantas de umezeiro por este método.