Enraizamento de estacas lenhosas e semilenhosas de cultivares de ameixeira com
várias concentrações de ácido indolbutírico
ENRAIZAMENTO DE ESTACAS LENHOSAS E SEMILENHOSAS DE CULTIVARES DE AMEIXEIRA COM
VÁRIAS CONCENTRAÇÕES DE ÁCIDO INDOLBUTÍRICO1
INTRODUÇÃO
Na fruticultura mundial, a cultura da ameixeira exerce papel importante e, na
América do Sul, destaca-se em países como o Chile. No Brasil, é realizada
principalmente nos Estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São
Paulo. Em Minas Gerais, a produção ainda é pequena, mesmo havendo condições
edafoclimáticas favoráveis para o cultivo, especialmente nas regiões sul deste
Estado.
Um dos principais fatores que limita o aumento da produção nacional de ameixas,
é sem dúvida o clima, pois, como citado por Dutra et al. (1998), a exploração
de ameixa está em função da ocorrência de baixas temperaturas durante o
inverno. No entanto, outros fatores também contribuem para a baixa produção
brasileira desta fruta e, dentre as práticas essenciais para o sucesso da
cultura, está a utilização de mudas de qualidade. A propagação da ameixeira é
comumente realizada através da enxertia, utilizando-se do pessegueiro (Prunus
persica (L.) Batsch) como porta-enxerto, o qual é multiplicado por sementes.
Assim, há risco de ocorrer segregação genética deste material, produzindo
pomares desuniformes quanto ao porte e longevidade. Além disso, de acordo com
Kersten (1990), a vida útil da planta fica limitada devido ao pessegueiro
possuir uma menor longevidade que a ameixeira.
A estaquia vem sendo empregada com sucesso na propagação de espécies frutíferas
e é uma técnica de maior viabilidade econômica (Chalfun & Hoffmann;
Hoffmann et al.; citados por Antunes et al., 2000), porém, para a ameixeira,
não têm sido obtidos resultados satisfatórios no Brasil, seja pelo baixo
potencial de enraizamento apresentado por esta espécie, seja pelas deficiências
nas técnicas de enraizamento. Com o objetivo de incrementar a capacidade de
enraizamento de estacas de ameixeira, é que a aplicação de fitorreguladores
sintéticos vem sendo amplamente utilizada. Entre os mais empregados, destaca-se
o ácido indolbutírico (IBA), seja pela sua maior resistência à degradação por
ação de raios solar, seja pela sua maior resistência ao ataque por ação
biológica.
A capacidade de enraizamento de estaca varia de acordo com a espécie, tipo de
estaca e cultivar (Tofanelli, 1999). Pasinato et al. (1998) demonstraram que,
entre as cultivares de ameixeira All Producer, Ace, Sangal, Roxa de Itaquera,
Frontier, Reubennel e Beauty, a cultivar Roxa de Itaquera foi a que apresentou
maior porcentual de estacas lenhosas enraizadas (76,1%) quando foram tratadas
com 3000mg L-1 de IBA. Finardi & Camelatto (1995) recomendaram o tratamento
da base de estacas lenhosas da ameixeira Santa Rosa com solução de IBA, na
concentração de 2000mg L-1, durante 5 segundos para a obtenção de mudas.
Porcentagens de até 68,22 % de enraizamento em estacas medianas da cultivar
Frontier, colhidas em janeiro e de 65,99 % nas colhidas em março, foram obtidas
em experimento realizado por Dutra & Kersten (1996), quando utilizaram a
concentração de 3000mg L-1 de IBA.
O objetivo deste trabalho foi estudar o potencial de enraizamento de estacas
lenhosas e semilenhosas de cultivares de ameixeira tratadas com ácido
indolbutírico em diferentes concentrações.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo foi desenvolvido no Pomar Didático da Universidade Federal de
Lavras (UFLA), localizada no município de Lavras-MG. O experimento foi
conduzido em duas fases: na primeira, foram utilizadas estacas lenhosas e na
segunda, estacas semilenhosas.
O delineamento experimental adotado foi o inteiramente ao acaso, com quatro
repetições e quinze estacas lenhosas e, devido à pouca disponibilidade de
material, apenas dez estacas semilenhosas por parcela. Em cada fase, os
tratamentos das parcelas seguiram um esquema fatorial 4 x 2 x 4, envolvendo
quatro cultivares (Carmesin, Gema de Ouro, Januária e Reubennel), dois tipos de
estaca (lenhosa e semilenhosa) e quatro concentrações de IBA (0; 1000; 2000 e
3000mg L-1).
As estacas de ameixeira foram coletadas de plantas com 8 a 9 anos de idade
existentes na coleção de cultivares da UFLA. O material lenhoso foi coletado no
final de junho de 1997, quando as plantas se encontravam em repouso vegetativo,
aproveitando-se ramos descartados da poda de frutificação no inverno, e o
semilenhoso em início de dezembro de 1997, utilizando-se de ramos de plantas em
desenvolvimento vegetativo. Após a coleta, as estacas foram preparadas com
comprimento de 15 a 20cm e diâmetro de 5 a 7mm. Nas estacas semilenhosas, foram
mantidas duas folhas cortadas ao meio por estaca. O substrato utilizado foi a
areia lavada, colocada em sacos plástico pretos de polietileno medindo 10cm de
diâmetro por 20cm de altura. Após o plantio, as estacas lenhosas foram
colocadas em casa de sombreamento com 50% de sombra e as semilenhosas em casa
de vegetação, onde permaneceram nestes ambientes por um período de 60 dias.
Utilizou-se da irrigação manual periódica para as estacas lenhosas e a
nebulização intermitente da casa de vegetação para as estacas semilenhosas.
As variáveis analisadas neste trabalho foram a porcentagem de estacas
enraizadas, sendo consideradas as estacas que apresentassem pelo menos uma raiz
adventícia emitida, o número médio de raízes primárias por estaca enraizada e o
comprimento médio das raízes primárias por estaca enraizada. Os resultados
foram analisados, comparando-se os níveis dos fatores cultivar e tipo de estaca
através do teste de Duncan a 5% de significância e os níveis do fator IBA
através de análise de regressão. Efetuou-se transformação de dados segundo a
equação arco-seno para os valores em
porcentagem e <formula/> para os valores unitários, e,
para isto, realizou-se o teste de normalidade no sistema SAS em ambos os
experimentos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A cultivar Januária (16,31%) foi superior às demais quanto ao porcentual de
estacas enraizadas (Tabela_1). Alguns fatores podem ter contribuído para este
comportamento, como potencial genético de cada cultivar em formar raízes
adventícias, balanço hormonal e consistência dos tecidos nas estacas (maior ou
menor espessura do anel de esclerênquima). Além disso, as condições
edafoclimáticas também influenciam na variabilidade do potencial de
enraizamento de estaca entre as cultivares, pois, como relataram Kaundal et al.
(1993) em estudo para avaliar o efeito de fitorreguladores sintéticos (IBA e
Seradix B3) na rizogênese em estacas lenhosas de pessegueiro
("Flodarsun", "Shan-i-Punjab", "Florda Red",
"Sharbati" e "Nemaguard"), a exigência de horas de frio e a
condição fisiológica da planta-matriz dependem do agroclima e poderiam
influenciar na capacidade de formar raízes da estaca de acordo com as
características de cada cultivar. Garrido et al. (1998), estudando a formação e
crescimento de raízes em estacas de cravo (Diantus caryophillus L.) das
cultivares Solar e Master, mencionaram que a sensibilidade e a resposta à
auxina ao enraizamento depende de cada cultivar.
Também o tipo de estaca influenciou no porcentual de enraizamento (Tabela_1),
ou seja, as estacas semilenhosas (16,63%) foram superiores às lenhosas. O tipo
de estaca é um dos principais fatores que influenciam na capacidade de formação
de raízes em estaca de planta e, de acordo com Fachinello et al. (1995),
estacas semilenhosas tendem a enraizar com mais facilidade, pois elas se
apresentam menos lignificadas, não havendo, conseqüentemente, a presença de um
anel de esclerênquima altamente lignificado, que dificultaria a emissão dos
primórdios radiculares. Klein et al. (2000) consideraram a época de coleta da
estaca (tipo de estaca) um fator crítico na determinação do porcentual de
enraizamento. Sharma e Aier (1989), em trabalho desenvolvido para avaliar a
formação de raízes em estacas de cultivares de ameixeiras japonesas e
européias, observaram maior facilidade de enraizamento no material semilenhoso
e atribuíram à baixa capacidade de formar raízes adventícias das estacas
lenhosas, a presença do anel esclerenquimatoso e ao aumento de substâncias
inibidoras durante a dormência. Já Rossal et al. (1997) relacionaram altos
teores do precursor de auxina triptofano com a maior facilidade de enraizamento
em estaca menos lignificada e, em adição, mencionaram que esta acumula reservas
intensamente, que poderiam favorecer a formação das raízes.
Para estudo do efeito do IBA no enraizamento, realizaram-se regressões
polinomiais para as interações significativas. Para a interação cultivar ' IBA,
observou-se que as cultivares Carmesin e Gema de Ouro obtiveram maiores
porcentuais de estacas enraizadas na concentração de 3000mg L-1 de IBA (29,58%
e 36,82%, respectivamente) (Figura_1). As cultivares Januária e Reubennel não
obtiveram regressões significativas, Quanto à interação tipo de estaca ' IBA,
as estacas semilenhosas apresentaram regressão significativa, obtendo o maior
enraizamento na concentração de 3000mg L-1 de IBA (55,95%) (Figura_2). Tais
resultados sugerem o estudo de concentrações de IBA superiores a 3000mg L-1,
pois poderiam proporcionar maiores enraizamentos. As estacas lenhosas não
obtiveram regressão significativa. Este comportamento pode ser resultado do
balanço hormonal favorável ao enraizamento ocasionado pela maior dosagem do
fitorregulador. Biasi et al. (2000) observaram que a maior concentração de IBA
utilizada (2000mg L-1) proporcionou maior enraizamento das estacas semilenhosas
da cultivar de pessegueiro Coral (83,37%).
Para a variável número de raízes, observou-se efeito significativo de todos os
fatores, inclusive da interação tripla. Verifica-se, na Figura_3, que apenas as
estacas semilenhosas das cultivares Carmesin, Gema de Ouro e Januária (máximos
de 2,98; 3,08 e 5,47; respectivamente, com 3000mg L-1 de IBA) obtiveram
regressões significativas ao nível de 5% de probabilidade. Rufato & Kersten
(2000) também observaram que o IBA aumentou o número de raízes em estacas
lenhosas de pessegueiro das cultivares Esmeralda e BR2. Para estes autores,
isso ocorreu pela característica do fitorregulador em estimular a emissão de
raízes.
Para a variável comprimento médio de raízes, houve efeito significativo do
fator cultivar (Tabela_1), onde as cultivares Januária e Gema de Ouro
promoveram os maiores comprimentos de raízes (1,88 e 1,81cm, respectivamente).
Houve também efeito do tipo de estaca, onde as estacas semilenhosas (2,44cm)
foram superiores às lenhosas (0,13cm) (Tabela_1). Para a interação cultivar '
tipo de estaca, observaram-se resultados superiores de comprimento de raízes
nas estacas semilenhosas das cultivares Januária e Gema de Ouro (4,75 e 3,88cm,
respectivamente). O efeito do IBA foi semelhante ao ocorrido para o
enraizamento (Figuras_1 e 4; Figuras_2 e 5), pois, em ambas as variáveis, o IBA
influenciou nas cultivares Carmesin e Gema de Ouro para a interação cultivar '
IBA e somente nas estacas semilenhosas para a interação tipo de estaca ' IBA.
Esta relação entre enraizamento e comprimento de raízes é comprovada pela alta
significância demonstrada pela análise de correlação simples entre estas duas
variáveis (Tabela_2). Na cultivar Carmesin, houve aumento linear no comprimento
de raízes até 3000mg L-1 de IBA (2,45cm) e, na cultivar Gema de Ouro, o aumento
obedeceu a uma regressão quadrática com o máximo de 3,51cm na concentração de
2158,95mg L-1 (Figura_4). A regressão quadrática para tipo de estaca ' IBA
demonstrou um máximo de comprimento de raízes de 3,68cm com 2541,82mg L-1
(Figura_5).
Importantes correlações puderam ser observadas entre os parâmetros estudados
neste experimento (Tabela_2), pois verificou-se que quanto maior o
enraizamento, maior o número e comprimento de raízes.
CONCLUSÕES
A cultivar, IBA e o tipo de estaca influenciam no porcentual de enraizamento. A
estaca semilenhosa das ameixeiras possui maior capacidade de enraizamento do
que a lenhosa, e a concentração de 3000mg L-1 de IBA foi mais eficiente na
promoção do enraizamento. A propagação da ameixeira, utilizando-se de estacas
semilenhosas da cultivar Januária, constitui-se uma alternativa para a obtenção
de mudas.