Perfil do mercado varejista e consumidor de mamão dos grupos 'solo' e 'formosa'
do Distrito Federal -DF
Perfil do mercado varejista e consumidor de mamão dos grupos 'solo' e 'formosa'
do Distrito Federal 'DF1
Profile of retail market and consumers of papaya from 'solo' and 'formosa'
group in Federal District'DF
Sandro Bevilaqua RangelI; Geni Rodrigues FagundesII; Thales Cabral Cirqueira
FalcãoIII; Ricardo de Sousa MendesIII; Osvaldo Kiyoshi YamanishiIV
IEng. Agr. Msc. Bolsista DTI/CNPq do Setor de Fruticultura da Estação
Experimental da Biologia (EEB) da Universidade de Brasília (UnB). Tel. (61)
307-2997. E- mail: sbrangel_@brturbo.com
IIEng. Agr. MSc. Bolsista DTI/CNPq do Setor de Fruticultura da EEB/UnB. Tel.
(61) 307-2997.E-mail: genifagundes@bol.com.br
IIIGraduandos do curso de Agronomia ' UnB. E-mail: thalesfalcao@bol.com.br;
ricardounb@bol.com.br
IVEng. Agr. PhD, Professor Adjunto III da Faculdade de Agronomia e Medicina
Veterinária da UnB. Bolsista de Pesquisa 2C do CNPq. Campus Darcy Ribeiro, Cx.
P. 04508, CEP 70.910-970, Brasília-DF. Tel. (61) 307-3247. E-mail:
kiyoshi@unb.br
INTRODUÇÃO
Com o surgimento de novos canais de venda, vem alterando-se o perfil da
comercialização de frutas, com a comercialização sendo descentralizada, pequeno
decréscimo da participação dos grandes entrepostos e de centros de
abastecimento e crescente negociação direta dos produtores junto aos varejões e
supermercados.
Em razão da maior exigência dos consumidores, o mercado varejista passou a
investir mais na estrutura de comercialização por meio de medidas como:
treinamento para capacitar funcionários; melhoria na forma de exposição dos
frutos; ofertas promocionais em certos dias da semana; abertura de canais para
reclamações, e sugestões no próprio estabelecimento. Os novos canais de
comercialização são mais exigentes em qualidade e não dispõem de infra-
estrutura para trabalhar com as embalagens tradicionais madeira (Fipe, 1999).
No entanto, esses novos canais são os que pagam, em geral, o menor preço aos
fornecedores.
Hoje, o consumidor é bem diferente do consumidor do passado, pois tem acesso a
grande diversidade de informações sobre o produto que irá comprar, exigindo um
atendimento melhor e diferenciado (Gonçalves, 2001). Diversos aspectos
influenciam o hábito dos consumidores como: faixa etária; renda familiar; maior
grau de informação; aumento da preocupação com a saúde; maior atuação da mulher
no mercado de trabalho, e aumento das refeições feitas fora de casa (Amaro,
1998).
No Brasil, estudos sobre cadeias produtivas de frutas não determinam,
adequadamente, os perfis dos varejistas nem do consumidor final (Amaro, 1997).
Portanto, é fundamental que seja realizado um estudo visando a conhecer melhor
o perfil de ambos para que haja uma melhoria na estrutura de comercialização.
O trabalho objetivou analisar o perfil dos mercados varejista e do consumidor
de mamão do Distrito Federal, com a finalidade de fornecer informações que
poderão ser utilizadas pelo mercado varejista para traçar metas, estratégias e
ações táticas.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado em Brasília, de janeiro a dezembro de 2001, baseando-
se na coleta de dados por meio da aplicação de questionários específicos para
os mercados varejista e consumidor. Utilizou-se, como fonte de referência para
a determinação do plano amostral e elaboração dos questionários, a pesquisa
realizada pela Intelecto Consultoria, Estudos e Projetos (1998).
Selecionaram-se, aleatoriamente, 54 estabelecimentos varejistas, sendo 27
supermercados e 27 varejões distribuídos nas regiões administrativas do
Distrito Federal (DF), da seguinte forma: 16 estabelecimentos em Brasília+
(Brasília, Paranoá, Cruzeiro, São Sebastião, Lago Sul, Lago Norte e
Candangolândia), 8 estabelecimentos na Ceilândia, 8 em Taguatinga, 6 no Gama+
(Gama, Santa Maria e Recanto das Emas), 4 em Samambaia, 4 em Planaltina, 4 em
Sobradinho e 2 no Núcleo Bandeirante+ (Núcleo Bandeirante e Riacho Fundo). Em
cada mercado varejista, foram entrevistados 3 clientes, maiores de idade, que
se encontravam no setor de hortifruti. A definição do número de clientes por
loja foi arbitrária e buscou alcançar critérios de comparabilidade com
pesquisas semelhantes realizadas em outros Estados. Tentou-se não repetir,
dentro do possível, o sexo dos consumidores; se o primeiro fosse um homem, o
seguinte deveria ser uma mulher e assim por diante. Utilizou-se questionário
voltado aos gerentes e dirigentes dos locais de vendas (mercado varejista). Os
estádios de maturação foram divididos em: estádio 0 ' fruto 100% verde; estádio
1 ' até 15% da superfície amarela; estádio 2 ' 16 a 24% da superfície amarela,
estádio 3 ' 25 a 50% da superfície amarela; estádio 4 ' 51% a 75% da superfície
amarela; e estádio 5 ' acima de 75% da superfície amarela.
Por fim, a metodologia foi calcada na análise descritiva e análise de
correspondência múltipla para análise quantitativa e qualitativa dos dados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Perfil do mercado varejista (supermercados e varejões):
Os principais encarregados pela negociação e aquisição do mamão nos
supermercados são os encarregados da seção FLV (frutas-legumes-verduras),
enquanto, nos varejões, são os próprios proprietários (Tabela_1).
A Ceasa-DF é a principal fornecedora de mamão para o mercado varejista, porém
observou-se que 24% dos supermercados entrevistados adquirem os frutos
diretamente do produtor.
Tanto nos supermercados como nos varejões, os principais meios de transporte
utilizados na entrega do mamão 'Solo' e 'Formosa', do fornecedor até o
estabelecimento, são caminhões abertos e baú. Pela menor infra-estrutura dos
varejões situados fora do Plano Piloto, pôde-se observar a presença de
utilitários (Kombi, camionete, etc) no transporte.
Nos supermercados, é comum a utilização de caixas plásticas ou de madeira no
transporte dos frutos. Nos varejões, são utilizadas caixas de madeira e de
papelão. Nenhum dos estabelecimentos analisados recebe o fruto sem algum tipo
de embalagem ' a granel.
Observou-se que, em 44% dos supermercados, havia contrato com os fornecedores.
A maioria dos varejões (93%) não possuía contrato com os fornecedores.
A presença de danos físicos é o critério mais observado na compra dos frutos
pelos respectivos responsáveis dos supermercados e varejões, fator esse que
aumenta a importância de utilizar-se transporte e embalagens adequados.
A quantidade média semanal de mamões adquirida pelos estabelecimentos,
independentemente do grupo de mamão, foi menos de 300 kg na maioria dos
estabelecimentos pesquisados. Devido à grande estrutura dos supermercados, a
quantidade adquirida pode triplicar nos dias de promoções, podendo ultrapassar
300 kg. Observou-se que, em dias de promoções dos supermercados, os varejões
reduziam a quantidade adquirida.
Com maior espaço físico que os varejões, 74% dos supermercados apresentam
depósitos para o armazenamento dos frutos. Na maioria dos varejões, os frutos
adquiridos são colocados diretamente na prateleira de comercialização sem
passar por qualquer tipo de depósito. Os poucos varejões que possuem depósito,
encontram-se na região Brasília.
Como há um intenso fluxo de consumidores, alta comercialização de frutos e
existência de depósitos, é bastante evidente que a reposição dos frutos, na
maioria dos supermercados, seja feita, em média, 3 vezes ao dia. Já nos
varejões, em sua maioria, a reposição dos frutos nas prateleiras é realizada
uma ou duas vezes ao dia, pois apresentam um menor fluxo de consumidores e, em
sua maioria, não apresentam depósitos. O tempo de permanência dos frutos nos
supermercados é superior a 1 dia. Nos varejões, devido ao alto grau de
maturação dos frutos adquiridos, o tempo de permanência no estabelecimento é de
1 dia.
Os frutos ficam expostos, independentemente do tipo de mercado varejista, em
prateleira sem refrigeração, conforme informações obtidas por Fagundes e
Yamanishi (2002). A manutenção de temperaturas baixas na fase de exposição no
mercado varejista nem sempre é possível, mas, durante o armazenamento e
distribuição, os frutos devem ser acondicionados em ambientes com temperaturas
adequadas. Isso, no entanto, não elimina a importância de resfriar-se os frutos
nas prateleiras dos supermercados e varejões (Chitarra, 1999). Vale consignar
que alguns frutos apresentam preço unitário baixo que não cobre o custo de
armazenamento refrigerado (Vilas Boas, 2000). Porém, vale ressaltar a
importância de realizar-se futuros estudos para avaliar a relação entre os
custos de refrigeração do mamão no transporte, armazenamento e comercialização,
e a redução das perdas com uso de refrigeração.
Em relação às perdas de frutos, existe um maior acompanhamento nos
supermercados do que nos varejões. Em média, 90% dos supermercados e 60% dos
varejões possuem um acompanhamento das perdas.
Em 69% dos varejões, verificou-se que a perda média semanal de mamão 'Solo' foi
em torno de 3% a 10%. O maior volume de perda dos varejões provavelmente esteja
relacionado ao alto grau de maturação dos frutos adquiridos por esses
estabelecimentos, uma vez que os frutos em estádios mais avançados são mais
suscetíveis a injúrias causadas por choques mecânicos nas embalagens durante o
transporte e no manuseio dos consumidores.
Os supermercados preferem comprar frutos em estádio de maturação menos avançado
(estádios de 1 a 3), pois, segundo os responsáveis, o tempo de prateleira é
maior, e o fruto pode amadurecer e chegar em boas condições na casa do
consumidor, reduzindo as perdas que, em 69% dos supermercados, foi menor que
5%. A principal causa das perdas nos supermercados foi o excesso de frutos na
bancada e o excesso de manuseio do consumidor. Essas perdas em 69% dos
supermercados ficou abaixo de 5%.
Os varejões, por comprarem frutos nos estádios 3 e 4, atendem aos consumidores
do mamão 'Solo' que, em sua maioria, preferem consumi-lo no mesmo dia da
aquisição, enquanto os supermercados, por adquirirem frutos nos estádios 1 a 3,
atendem aos consumidores do mamão 'Formosa', que preferem esperar seu
amadurecimento em casa.
Verificou-se que grande parte das perdas ocorridas nos estabelecimentos
pesquisados foi atribuída à forma de exposição dos frutos, correspondendo a
77,7% dos estabelecimentos varejista, seguido do transporte do fornecedor até o
varejo (18,5%) e estocagem no mercado varejista (3,8%). Essa elevada perda na
exposição é conseqüência de prateleiras inadequadas e da falta de frutos de
qualidade que podem estar correlacionadas às atividades desenvolvidas na pré-
colheita (ex.: adubação) ou na pós-colheita (ex.: transporte, embalagem e
manuseio na propriedade rural), que induz o consumidor a manusear maior
quantidade de frutos para escolher o que lhe agrade.
Uma forma de auxiliar a escolha do cliente é a exposição dos frutos para a
degustação, pois o fruto, mesmo apresentando alguma injúria, pode estar
saboroso, enquanto a boa aparência externa não é garantia de que o fruto seja
saboroso. Segundo o Ministério da Integração Nacional (2001), os frutos
lesionados não devem ser colocados nas gôndolas, pois provocam grande rejeição.
O ônus das perdas nos supermercados ficou, principalmente, a cargo do próprio
estabelecimento, porém, em 33% dos supermercados analisados, o fornecedor
arcava com as perdas. Essa responsabilidade dos fornecedores em arcar com o
prejuízo foi, em grande parte, possível devido a contratos escritos ou verbais
entre os fornecedores e os estabelecimentos. O prejuízo com as perdas foi
absorvido pelo próprio varejão.
Perfil dos consumidores de mamão do Distrito Federal:
As Tabelas_2 e 3 tratam da apresentação do mercado consumidor do DF bem como da
pesquisa sobre os consumidores exclusivos do mamão 'Solo' e 'Formosa',
respectivamente.
Destas tabelas, depreende-se:
a) A procura pelo mamão nas regiões-satélite - Planaltina, Samambaia,
Brazlândia, entre outras, é considerada pequena. A procura por outras frutas
mais populares e com preços mais acessíveis, como a banana, também contribui
para a redução do consumo de mamão nessas localidades. A freqüência na compra
de mamão nessas regiões é uma vez por semana, quinzenalmente ou muito rara. Na
região de Brasília+, onde a renda dos consumidores, em média, é superior à das
demais regiões, a procura pelo mamão é maior, e a freqüência da compra, em
geral, é diária ou 2 vezes por semana.
b) No geral, a qualidade e o preço foram os atributos mais observados pelos
consumidores na escolha do estabelecimento para aquisição dos frutos.
c) Os consumidores gastam, em média, menos de 5 minutos na escolha do mamão.
Mas, observou-se que esse tempo pode ser superior aos 5 minutos. Segundo 28%
dos consumidores, isso era conseqüência de frutos inadequados nas gôndolas dos
mercados varejistas.
d) O sabor é o principal atributo na escolha do mamão 'Solo' em detrimento do
mamão 'Formosa'. Outro fator que influencia a escolha é o tamanho, pois o mamão
'Solo' pode ser consumido em um dia, e seu armazenamento é feito em fruteiras,
já o mamão 'Formosa' é consumido em mais de um dia, necessitando seu
armazenamento em geladeira. Esses fatores foram observados, também, pelo
Ministério da Integração Nacional (2001).
e) O grau de maturação preferido pelos consumidores do mamão 'Solo' são os
estádios 4 e 5, ou seja, quando o mamão já está maduro para ser consumido
imediatamente. Conforme sugerido por Souza et al. (1998), os frutos que
apresentaram melhores atributos sensoriais estavam no estádio 3.
f) O preço de venda do mamão 'Formosa' é determinante para que a procura por
esse mamão seja maior do que pelo mamão 'Solo' nas cidades-satélite. O mamão
'Formosa' é comprado quando está nos estádios de 1 a 3, e os consumidores
aguardam o seu amadurecimento para o consumo em sua residência.
g) As principais características que determinam a escolha dos frutos, são a
ausência de defeitos, firmeza e coloração, características, também, observadas
pelo Ministério da Integração Nacional (2001).
h) Apesar de a embalagem adequada proteger os frutos de danos físicos e de
outras injúrias, 52% dos entrevistados não pagariam mais por um fruto embalado.
Isso é reflexo da desconfiança do consumidor ao adquirir um produto embalado na
propriedade rural, enquanto, a granel, o consumidor tem a possibilidade de
escolher.
i) Os principais problemas observados pelos consumidores no momento da compra
do mamão são frutos com danos físicos e frutos com manchas. Isso mostra a
importância de manter a qualidade dos frutos para que esses cheguem aos
consumidores com boa aparência. Segundo Vilas Boas (2000), existem muitos
fatores que afetam a manutenção da qualidade e a incidência de perdas na pós-
colheita. Entre elas, destacam-se: a qualidade inicial dos frutos; a
temperatura e umidade em que o fruto é mantido durante o armazenamento;
transporte e comercialização; tipo de embalagem utilizada na comercialização;
forma de exposição dos frutos no mercado varejista.
CONCLUSÕES
1) Os resultados e discussões devem ser vistos com cautela em função do tamanho
da análise e do número de clientes entrevistados. Porém, oferecem boas
condições e características dos mercados varejistas e consumidor de mamão dos
grupos 'Solo' e 'Formosa' no DF.
2) Devido à infra-estrutura, maior poder de barganha e maior capacidade
instalada, os supermercados realizam contratos com os fornecedores que arcam
com o ônus das perdas, ficando na obrigação de entregar frutos de qualidade
superior. Essa infra-estrutura, por meio de depósitos, possibilita os
supermercados de repor, gradativamente, os frutos nas gôndolas. Por essa razão,
os supermercados preferem adquirir frutos em estádio menos avançado, apesar de
os consumidores de mamão 'Solo' preferirem estádios mais avançados de
maturação, quando comparados com os varejões que, por não possuírem, em sua
maioria, depósitos, adquirem frutos para a comercialização imediata.
3) Outra vantagem da infra-estrutura dos supermercados é um maior
acompanhamento das perdas dentro do estabelecimento, o que possibilita tomar
decisões mais precisas para reduzi-las. Falta, porém, nos estabelecimentos, um
programa de marketing a respeito das qualidades nutricionais dos frutos, as
formas em que se pode consumi-los e determinar a melhor maneira de armazená-
los.
4) A maioria dos consumidores de mamão 'Formosa' preferem-no devido ao menor
preço, se comparado ao do mamão 'Solo'. Por isso, ao reduzir-se as perdas,
podem-se diminuir os custos e o preço para o consumidor final, aumentando,
assim, o consumo de mamão dos grupos 'Solo' e 'Formosa'.