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BrBRCVAg0100-29452003000100044

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National varietyBr
Year2003
SourceScielo

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Resposta de mudas de goiabeira à aplicação de escória de siderurgia como corretivo de acidez do solo

INTRODUÇÃO A utilização de mudas de goiabeira com adequado estado nutricional, sadias e vigorosas, é um dos fatores que determinam o sucesso da implantação de um pomar. A fertilidade do solo a ser utilizado como substrato para a produção de mudas influi, diretamente, no desenvolvimento da planta. Entretanto, os solos das camadas superficiais (geralmente mais férteis) podem introduzir plantas daninhas e patógenos. Assim, por vezes, tem-se usado o subsolo para a produção de mudas (Picheth, 1987), livres de ervas daninhas (especialmente tiririca), que aliás é uma exigência do Ministério da Agricultura para produção de mudas certificadas (Barasil, 1977); porém, este substrato apresenta, normalmente, baixa fertilidade natural e reação ácida.

Assim sendo, para a produção das mudas, necessidade de aumentar a fertilidade do substrato, e como produto alternativo, têm-se os resíduos industriais, onde seu uso agrícola é cada vez mais freqüente, visando à reciclagem de nutrientes e à preservação do meio ambiente em torno das indústrias, sendo a escória de siderurgia o resíduo mais promissor, com ampla disponibilidade no centro Sul do Brasil (Prado et al.,2001).

O desenvolvimento da atividade de siderurgia no Brasil ocorreu na década de 80, com expansão do parque siderúrgico nacional. A produção destas siderúrgicas está centrada basicamente em aço e ferro-gusa. Cada tonelada deste tipo de ferro gera em torno de 750 kg de escória de siderurgia, constituída de um silicato de cálcio (Campus Filho, 1981). Anualmente, a produção da escória de siderurgia supera 3 milhões de toneladas, além do estoque que vem sendo acumulado ao longo do tempo (Prado et al., 2001).

Portanto, alternativamente, pode ser utilizada a escória de siderurgia como material corretivo para produção de mudas, pois além de corrigir a acidez do solo, aumenta os teores de cálcio, magnésio e, possivelmente, a disponibilidade de fósforo do solo (Prado & Fernandes, 2000a). A escória de siderurgia apresenta, ainda, um efeito residual prolongado no solo; desse modo, o grupo de plantas que apresenta maior potencial de resposta, seria o das culturas perenes, a exemplo do efeito positivo na cultura da cana-de-açúcar (Prado & Fernandes, 2000b). Essa escória é atualmente pouco usada na agricultura brasileira, ao contrário dos Estados Unidos, Japão e China.

Com base no exposto, procurou-se determinar a influência de doses crescentes de escória siderúrgica sobre alguns atributos químicos do solo, na nutrição e no crescimento de mudas de goiabeira.

MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido em vasos sob viveiro telado no município de Taquaritinga-SP. Foram utilizadas mudas obtidas a partir de propagação vegetativa de estacas herbáceas de matrizes selecionadas de goiabeiras cv.

Paluma (Psidium guajava L.). As estacas, compostas de um segmento com um par de folhas, correspondendo a um entrenó, foram inicialmente colocadas em caixas de madeira contendo vermiculita expandida, permanecendo em câmara de nebulização a pleno sol por 90 dias até enraizamento. Após o enraizamento inicial, as estacas foram podadas, eliminando-se todas as folhas e aparando o sistema radicular ficando com cerca de 10 cm de comprimento, obtendo-se, assim, a muda pronta para transferir ao viveiro telado (50% de sombreamento).

Utilizou-se como substrato o subsolo de um Argissolo Vermelho-Amarelo, distrófico arênico, latossólico, A moderado, textura média, floresta tropical, suave-ondulado (Embrapa, 1999), com as seguintes características químicas: matéria orgânica = 6 g dm-3; pH (CaCl2)= 4,3; P (resina)= 1 mg dm-3; K= 0,7; Ca= 6; Mg= 3; H+Al= 25 mmolcdm-3 e saturação por bases (V)= 28%, avaliadas segundo o método descrito por Raij et al. (1987).

Utilizou-se escória de siderurgia de aciária, proveniente de uma indústria siderúrgica produtora de aço do município de Piracicaba-SP, com as seguintes características químicas: CaO = 257 g kg-1; MgO = 64 g kg-1; PN e PRNT=61%.

O delineamento experimental adotado foi o em blocos casualizados, com seis tratamentos (zero; metade; uma vez; uma vez e meia; duas vezes e duas vezes e meia a dose para elevar V para 70%, correspondendo às doses de: 0; 1,68; 3,36; 5,04; 6,72 e 8,4 g por vaso de 2,8 dm3, respectivamente), e cinco repetições.

As doses de escória siderúrgica foram calculadas, considerando-se a saturação por bases ideal para a cultura de 70% (Santos & Quaggio, 1996). Após 90 dias de incubação do solo com o resíduo, realizou-se o plantio das mudas e aplicaram-se 75; 100; 37,5; 0,5 e 5 mg dm-3 de N, P2O5, K2O, B e Zn nas formas de sulfato de amônio, cloreto de potássio, superfosfato triplo, ácido bórico e sulfato de zinco, respectivamente. A umidade do solo foi mantida a 80% da capacidade de campo.

A adubação de cobertura foi de 225,0 e 112,5 mg dm-3 de N e K2O, respectivamente, aplicados parceladamente em três doses iguais, aos 30; 45 e 60 dias após o plantio das mudas. Utilizaram-se como fonte de nitrogênio, sulfato de amônio (1o e 2o parcelamento) e uréia (3o parcelamento), e como fonte de potássio, cloreto de potássio.

As avaliações dos tratamentos foram realizadas no momento em que as mudas estavam suficientemente desenvolvidas para irem ao campo (105 dias após o transplante). Determinaram-se o número de folhas, a altura de plantas e estimou-se a área foliar das mudas com o auxílio de um aparelho integrador de áreas portátil LI-COR modelo LI-3000A.

A seguir, as plantas foram cortadas rentes ao solo, separando-se a parte aérea das raízes. O material foi seco e pesado, realizando-se a análise química de P, Ca e Mg nos tecidos vegetais, conforme metodologia descrita por Bataglia et al.

(1983). Na mesma ocasião, procedeu-se a mistura do solo do vaso e retirou-se uma amostra para a análise química, para fins de fertilidade (pH, H+Al, Ca, Mg e P), utilizando-se da metodologia descrita por Raij et al. (1987) e, com os dados obtidos, calcularam-se a soma de bases (SB) e a saturação por bases (V%).

RESULTADOS E DISCUSSÃO A aplicação da escória de siderurgia aumentou significativamente de forma quadrática o valor pH, os teores de cálcio e magnésio, os valores da soma de bases e saturação por bases e diminuiu a acidez potencial do solo (Figura_1).

Resultados semelhantes dos efeitos da escória de siderurgia na neutralização da acidez do solo foram constados por Prado & Fernandes (2000b) em um Latossolo Vermelho distrófico e no Neossolo Quartzarênico, e por Prado & Fernandes (2001c), em um Latossolo Vermelho-Amarelo. Estes efeitos da escória na correção da acidez do solo e no aumento de bases deve-se à presença de constituinte neutralizante (SiO3 2-) e de Ca e Mg, respectivamente (Alcarde, 1992).

As doses crescentes de escória de siderurgia aumentou significativamente o teor de P do solo (Figura_2). Resultados semelhantes foram obtidos por Prado & Fernandes (1999; 2001a). Este incremento, segundo os autores, pode ser explicado pelo aumento do pH do solo e pela competição do ânion SiO4-4 presente na escória com o fósforo, pelos mesmos sítios de adsorção no solo, implicando a liberação do fósforo para a solução do solo.

A aplicação de doses crescentes da escória de siderurgia promoveu efeitos significativos lineares no crescimento das mudas de goiabeira quanto à altura, área foliar e número de folhas (Figura_3). Este maior desenvolvimento das mudas advém da melhoria do ambiente radicular com a neutralização da acidez do solo (Figura_1) e o incremento dos teores de Ca, Mg e P nas mudas de goiabeira (Figura_4). Ressalta-se que os incrementos de Ca, Mg e P na planta são explicados pelos respectivos aumentos no solo, discutidos anteriormente.

O maior crescimento das mudas resultou em aumento linear da matéria seca da parte aérea e das raízes da goiabeira (Figura_5). Notou-se ainda que o tratamento que apresentou a maior produção de matéria seca, correspondeu à maior dose de escória de siderurgia (8,4 g por vaso de 2,8 dm-3) que, por sua vez, apresentou a saturação por bases do solo de 65%. Esse valor é próximo do sugerido por Santos & Quaggio (1996) para a cultura no Estado de São Paulo.

Resultados favoráveis semelhantes da escória de siderurgia na produção de matéria seca foram obtidos por Amaral et al. (1994) na cultura da alface e por Prado & Fernandes (2001b) na cultura da cana-de-açúcar.

Respostas positivas à aplicação da escória de siderurgia demonstram a sensibilidade das mudas de goiabeira (cv. Paluma) à acidez do solo, indicando, assim, a necessidade desta prática para ótimo desenvolvimento das plantas.

Nesse sentido, corroboram os resultados da literatura, que indicam que a goiabeira na fase inicial não é tolerante ao Al (Salvador et al., 2000), respondendo positivamente à calagem (Natale  et al., 2000).

CONCLUSÕES 1) A aplicação de escória de siderurgia elevou os valores de pH, SB, V% e as concentrações de Ca, Mg e P no solo, e reduziu o H+Al.

2) Houve aumento significativo na altura, número de folhas e área foliar nas mudas de goiabeira, assim como na concentração de Ca, Mg e P da parte aérea e das raízes das plantas, além do incremento da matéria seca da parte aérea e das raízes, em função de aplicação da escória.

3) A escória de siderurgia mostrou-se viável na produção de mudas de goiabeira, como corretivo de acidez do solo e fornecedora de nutrientes, especialmente na maior dose (8,4 g por vaso de 2,8 dm3).


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