Temperaturas efetivas para a dormência da macieira(Malus domestica Borkh)
Temperaturas efetivas para a dormência da macieira(Malus domestica Borkh)1
Effective temperatures for apple tree dormancy (Malus domestica Borkh)
Gilberto Luiz PuttiI; José Luiz PetriII; Marta Elena MendezIII
IEng. Agr. M.Sc. Doutorando na Universidade Blase Pascal, Clermont Ferrand,
França. e-mail: gputti@valmont.clermont.inra.fr
IIEng. Agr. M.Sc. Epagri/Estação Experimental de Caçador, Caçador-SC, e-mail:
petri@epagri.rct-sc.br
IIIEng. Agr. PhD ' Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de Agronomia
Eliseu Maciel. Pelotas-RS. e-mail: mendez@ufpel.tche.br
INTRODUÇÃO
Por meio do melhoramento genético, têm sido obtidas cultivares de macieira com
diferentes requerimentos em frio para superar a dormência. Não só a quantidade
de frio, mas também a temperatura, que se mostra eficiente, diferem entre
cultivares.
As diversas fases da dormência podem ser superadas com total de horas de frio
acumuladas abaixo de 2 a 9ºC por períodos variáveis, dependendo da espécie e
cultivar (Samish, 1954; Saure, 1985). O efeito do frio é cumulativo e
geneticamente controlado, podendo variar com a cultivar. Para mensurar a
quantidade de frio necessária para superar a dormência, o método mais utilizado
durante muito tempo foi o da soma diária das horas abaixo de 7,2ºC durante o
período de outono e inverno (Petri et al., 1996). Por considerar uma
temperatura fixa, este método serve como um referencial, principalmente para as
novas cultivares de macieira com menor exigência em frio. Angelocci et al.
( 1979) desenvolveram equações para estimar o número de horas de frio abaixo de
qualquer temperatura base, para um certo período desejado. Entretanto, a
variabilidade genética entre as diversas cultivares limita a determinação das
exigências em frio se não forem conhecidas as temperaturas efetivas que são
eficientes para superar a dormência.Na região produtora de maçãs, em Santa
Catarina, a média do número de unidades de frio varia de 1077 em Caçador a 2019
em São Joaquim.
Erez & Lavee (1971) verificaram que as temperaturas mais eficazes para
superar a dormência de gemas vegetativas axilares e terminais de pessegueiro
foram de 6ºC e 8ºC, respectivamente. Porém, temperaturas de 13ºC também tiveram
ação positiva e, com 10ºC, obteve-se 50% da brotação do tratamento a 6ºC. Tais
autores ressaltam a importância do cálculo de horas de frio ponderadas,
considerando a eficiência relativa de cada temperatura.
Para Erez & Couvillon (1987), o frio contínuo a 8ºC foi mais eficiente na
superação da dormência do pessegueiro, enquanto a de 14ºC foi totalmente
ineficiente.
Zanette (1982), estudando a influência de diferentes temperaturas em macieira,
observou que as temperaturas de '3ºC e 3ºC tiveram igual ação na superação da
dormência e que a temperatura de 12ºC tem efeito de frio, porém também tem ação
de unidades de calor, favorecendo o crescimento.
No desenvolvimento de modelos para estimar a quantidade de frio, é necessário
conhecer as temperaturas efetivas para as diferentes espécies e cultivares.
Para estes estudos, existem diversos métodos que determinam o percentual de
brotação ou o tempo médio para a brotação. Um dos mais utilizados é o que
utiliza ramos de 15 a 25 cm, nos quais, se aplicam diferentes tratamentos de
frio e, após, leva-se à câmara de crescimento a 25ºC (Herter et al., 1992;
Bianchi et al., 2000).
O objetivo do trabalho foi determinar a quantidade de unidades de frio e as
temperaturas mais eficientes para a indução da brotação em diversas cultivares
de macieira, considerando-se diversos limites superiores de temperatura mínima
do ar.
MATERIAL E MÉTODOS
Ramos de macieira medindo 20 a 25 cm de comprimento das cvs. Condessa,
Baronesa, Daiane, Imperatriz, Fuji e Gala foram coletados de plantas com 7
anos, no dia 06-06-2000, as quatro primeiras oriundas de um pomar de Fraiburgo-
SC, e as duas últimas do município de Caçador-SC. Para cada cultivar, foram
separados 15 lotes de 20 ramos, e submetidos a diferentes quantidades de frio
(300; 600; 900; 1200 e 1500 horas) e temperaturas de indução da brotação (5; 10
e 15º C). Cada hora, a determinada temperatura, foi considerada uma unidade de
frio.
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com dez repetições,
e o esquema foi fatorial, com seis cultivares, cinco níveis de horas de frio e
três temperaturas de indução de brotação.
Após os tratamentos, cada lote foi dividido em duas partes: dez ramos foram
cortados, usando-se somente a parte intermediária com 8 centímetros, mantendo-
se somente a gema superior e eliminando-se as demais gemas axilares. A gema
superior ficou a 1 centímetro abaixo do corte, sendo a extremidade superior
protegida com parafilme. Estas estacas foram colocadas em bandejas com espuma
fenólica e mantidas em câmara de crescimento a 25ºC (± 1ºC), com fotoperíodo de
16 horas de luz. A variável analisada foi o tempo para brotação em dias, sendo
que a gema foi considerada brotada quando se observava clorofila nas gemas,
porém sem estarem com as folhas abertas.
Os dez ramos restantes foram colocados em bandejas com espuma fenólica,
deixando-se 10 gemas por ramo, eliminando-se a gema apical e protegendo a
extremidade superior com parafilme. Posteriormente, foram colocadas em câmara
de crescimento a 25ºC (± 1ºC), com fotoperíodo de 16 horas de luz, analisando-
se a percentagem de gemas brotadas aos 30 e 45 dias após terem sido colocadas
na câmara de crescimento, período em que ocorre o início e o final da brotação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O número de dias para a brotação das gemas de todas as cultivares foi menor
quando submetidas a 1.500 unidades de frio, independentemente se a 5; 10 ou
15ºC. As cultivares Condessa e Baronesa tiveram o menor número de dias quando
submetidas à temperatura de 15ºC, o que indica que estas cultivares podem
suprir suas exigências com temperaturas superiores a 10ºC (Figura_1).
Zanette (1982), em estudo realizado com porta-enxerto de macieira MM-106,
observou que a temperatura de 12ºC tem efeito de estímulo de desenvolvimento
(efeito de calor) e, ao mesmo tempo, propicia a superação da dormência das
gemas (efeito de frio). Todas as cultivares tiveram menor número de dias para a
brotação com 1500 unidades de frio, independentemente da temperatura. A
cultivar Fuji teve 14,2 e 14,4 dias para a brotação com 1500 unidades de frio a
10ºC e 5ºC , respectivamente, para a brotação. Considerando-se esta diferença
muito pequena, pode-se supor que a temperatura mais adequada para superar a
dormência situa-se entre 5º e 10ºC.
Das cultivares estudadas pelo número de dias para a brotação, pode-se afirmar
que Condessa e Baronesa são as de menor exigência em frio, a cv. Imperatriz no
nível intermediário e Daiane, Fuji e Gala podem ser consideradas de maior
exigência em frio, o que está de acordo com as descrições de Camilo &
Denardi (2002). A porcentagem de gemas brotadas aos 30 e 45 dias foi baixa para
praticamente todas as cultivares; entretanto, a cv. Condessa apresentou o maior
percentual de brotação (Figuras_2 e 3).
A cultivar Condessa, pela sua baixa exigência em frio e pela diferenciação
floral das gemas axilares, as quais têm menor exigência em frio que as
vegetativas (Petri et al., 1996; Samish & Lavee, 1962; Faust et al., 1997),
pode ser a razão da maior porcentagem de brotação em relação às demais
cultivares. Segundo Denardi & Camilo (1998), a exigência em frio da
cultivar Condessa é de 350 horas abaixo de 7,2ºC, com o que a maioria das gemas
brotam ao mesmo tempo, não apresentando a inibição da gema superior sobre as
demais.
Nas demais cultivares, a baixa percentagem de brotação pode ser devida à
inibição das gemas abaixo da gema superior, visto que esta geralmente brotava
antes que as demais.
Apesar de haver diversos métodos para medir as necessidades de frio (Mota,
1957;Erez & Lavee 1971; Richardson et al., 1974; Girealth & Buchanan,
1981; Shaltout & Unrath, 1983), pode-se observar que as cultivares com
menor exigência em frio, para superar a dormência, têm as temperaturas efetivas
mais altas que as cultivares de maior exigência em frio. As cultivares Condessa
e Baronesa apresentaram menor número de dias para a brotação na temperatura de
15ºC, mostrando que as exigências em frio podem ser satisfeitas com
temperaturas de até 15ºC, dependendo da cultivar. Com isto, podem-se sugerir
novos métodos para mensurar necessidades de frio com intervalos maiores de
temperaturas para as cultivares de menor exigência em frio.
CONCLUSÕES
1) A temperatura efetiva para acumular frio varia em relação às cultivares,
podendo chegar até 15ºC para cultivares de menor exigência em frio.
2) O tempo médio para a brotação reduziu com o aumento do número de unidades de
frio, independentemente da temperatura de indução da brotação.