Densidade de plantio e rendimento de frutos do meloeiro (Cucumis melo L.)
Densidade de plantio e rendimento de frutos do meloeiro (Cucumis melo L.)1
Plant density and fruit yield of muskmelon(Cucumis meloL.)
Paulo Sérgio Lima e SilvaI; Jailton Roberto da FonsecaII; Jaedson Cláudio
Anuncia MotaIII; Jaeveson da SilvaIV
IProf. Adj., Esc. Sup. de Agric. Mossoró (ESAM). Cx. Postal 137 - 59625-900 -
Mossoró-RN. Fone: (084) 312-2100. E-mail: paulosergio@esam.br
IIEng. Agr., Agrícola Cajazeira, BR 304, km 94, Aracati-CE
IIIEng. Agr., estudante de Agronomia da ESAM. Cx. Postal 137 - 59625-900 -
Mossoró-RN. Fone: (084)312-2100
IVEng. Agr., estudante de Mestrado da ESAM. Cx. Postal 137 - 59625-900 -
Mossoró-RN. Fone: (084)312-2100
INTRODUÇÃO
A região nordestina brasileira é responsável por mais de 90% da produção de
melão do País. O Estado do Rio Grande do Norte é o maior produtor brasileiro e,
em 1996, contribuiu com 63% da produção (Grangeiro et al., 1999a).
No referido Estado, a região compreendida pelo município de Mossoró-Açu
apresenta relevante importância na produção de melão. Nessa região, encontra-se
grande variação nos sistemas de produção do meloeiro. Existem desde pequenos
produtores a grandes empresas agrícolas. Os níveis tecnológicos, incluindo
cultivares e práticas culturais, são também bastante variáveis. Na realidade,
muitas das tecnologias praticadas com o meloeiro e com outras culturas foram
importadas de outras regiões, até porque, a citada cultura tem sido
relativamente pouco estudada no Rio Grande do Norte. Assim, muitas práticas
culturais são adotadas após tentativas de erro-acerto por vários agricultores.
No que se refere à densidade de plantio, Almeida (1992), em levantamento feito
na região, concluiu que o espaçamento adotado pelos produtores varia de 2,0 a
2,5 m entre fileiras e 0,3 a 1,0 m entre plantas, com 1 ou 2 plantas por cova ,
o que corresponde de 4 mil a 30 mil plantas/ha.
As baixas densidades de plantio adotadas pelos produtores do Rio Grande do
Norte, no cultivo do meloeiro, podem estar constituindo-se em problema
limitante ao aumento do rendimento. Vários autores (Nerson, 1999; Zahara, 1972;
Granjeiro et al., 1999a) têm demonstrado que o aumento da densidade de plantio
pode proporcionar aumentos no rendimento de melão. É bem verdade que nem sempre
o aumento da densidade proporciona aumento do rendimento de frutos (Faria et
al., 2000). Outro aspecto que aumenta o interesse dos pesquisadores pelo estudo
da densidade de plantio em meloeiro, e em outras culturas, é que ela depende
das cultivares avaliadas (Zahara, 1972) e das condições ambientais (Paris et
al., 1988).
O objetivo do presente trabalho foi avaliar os efeitos de sete densidades de
plantio sobre o rendimento e a qualidade de frutos da cultivar Gold Pride.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na empresa "Agrícola Cajazeira",
localizada no município de Tibau-RN, distante 30 km da sede do município de
Mossoró-RN (latitude 5º 11' S, longitude 37º 20' W, e altitude de 18 m,
aproximadamente), principal cidade da região Oeste Potiguar. A temperatura
máxima do ar nos meses de setembro, outubro e novembro foi 36,7 ºC; 37,4 ºC e
36,8 ºC, respectivamente. Os valores respectivos para a temperatura mínima do
ar foram 25,5 ºC; 21,5 ºC e 21,1 ºC
O solo, um Alfissolo Vermelho-Amarelo (Podzólico Vermelho-Amarelo), foi
preparado com uma aração e duas gradagens e recebeu, como adubação de plantio,
cerca de 10 t/ha de esterco bovino curtido, em sulcos com a profundidade
aproximada de 0,20 m. Após a aplicação do esterco, os sulcos foram cobertos com
solo. A semeadura foi feita à profundidade de 1,0 cm, em 09-09-1999, em covas
abertas acima dos sulcos onde foi aplicado o esterco. Aos cinco dias após a
semeadura, realizou-se um replantio, para redução do número de falhas.
A cultivar Gold Pride foi submetida às densidades de plantio de 7; 10; 13; 16;
19; 22 e 25 mil plantas/ha. Tais populações foram obtidas mantendo-se fixo (2,0
m) o espaçamento entre fileiras e variando-se o espaçamento entre covas.
Utilizou-se o delineamento de blocos completos casualizados com sete
repetições. Cada parcela ficou constituída por três fileiras com 6,0 m de
comprimento. Como área útil, considerou-se a ocupada pelas plantas da fileira
central, eliminando-se uma cova em cada extremidade.
O experimento foi irrigado por gotejamento. A água de irrigação foi aplicada
durante 2 h do 1ºao 5º dia após o plantio (dap); 1 h do 6º ao 12º e do 14º ao
16º; 1h30 no 18º, 20º e 22º; 2 h no 25º; 2h30 do 26º ao 30º; 3h30 do 31º ao
35º; 4 h do 36º ao 40º; 5 h do 41º ao 56º; e 3h30 do 57º ao 63º dap. A
quantidade d'água aplicada por hora foi de 23 m3/ha.Os adubos, aplicados via
água de irrigação, estão discriminados na Tabela_1. As pragas e doenças foram
controladas previamente por pulverizações realizadas aos 12; 15; 20; 33 e 41
dias após a semeadura.
Duas colheitas foram realizadas no período de 60 a 67 dias após o semeio. Foram
avaliados os números e massas de frutos, totais e comercializáveis, o
comprimento, a largura e o teor de sólidos solúveis dos frutos
comercializáveis. Como comercializáveis, foram considerados os frutos sem
deformações, manchas e evidências aparentes de problemas fisiológicos ou do
ataque de doenças e pragas. O comprimento e a largura dos frutos foram
estimados medindo-se, com um paquímetro, todos os frutos comercializáveis de
cada parcela. Na primeira colheita, foram retirados três frutos, de forma
aleatória, dentre os comercializáveis, para a determinação do teor de sólidos
solúveis. Os frutos foram cortados longitudinalmente ao meio, e as polpas de
uma das metades de cada fruto foram trituradas em conjunto num processador
doméstico de alimentos. O material resultante foi filtrado em tecido de náilon
e, em três gotas do suco obtido, determinou-se o teor de sólidos solúveis
totais, usando-se um refratômetro digital marca Atago, modelo Palette 100. Em
cada amostra, foram feitas três leituras. A média dessas leituras representou o
valor da parcela.
As análises de variância e de regressão foram efetuadas com os softwares SPSS-
PC (Norusis, 1990) e Table Curve (Jandel Scientific, 1991), respectivamente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O aumento da densidade de plantio aumentou os números (Figura_1) e os pesos
(Figura_2) totais de frutos e de frutos comercializáveis do meloeiro Gold
Pride. Acréscimos em tais características, em conseqüência do aumento da
densidade de plantio, também foram observados por outros autores (Grangeiro et
al., 1999a; Mendlinger, 1994; Paris et al., 1988; Zahara, 1972), com os
aumentos dependendo (Zahara, 1972) ou não (Grangeiro et al., 1999a) da
cultivar. Zahara (1972) verificou, como no presente trabalho, aumentos
contínuos no número de frutos comercializáveis de uma cultivar, mas decréscimos
nesta característica de outra cultivar, a partir de 16 mil plantas/ha, com o
aumento da densidade de plantio.
É bem aceito que as equações de regressão ajustadas devem ser consideradas
apenas no intervalo estudado. Contudo, parece razoável admitir-se, pelas curvas
apresentadas nas Figuras_1 e 2, que o número e o peso totais e de frutos
comercializáveis do meloeiro Gold Pride poderiam ser aumentados com densidades
de plantio superiores a 25 mil plantas/ha. Os resultados de Grangeiro et al.
(1999b), obtidos com três cultivares, sob condições edafoclimáticas mais ou
menos semelhantes às do presente estudo, apóiam esta suposição. Deve ser
mencionado, entretanto, que alguns agricultores relutam em usar maiores
densidades de plantio, para reduzir o gasto com sementes, que são adquiridas a
preços elevados.
Constata-se que o número e o peso dos frutos refugados também aumentaram com o
aumento da densidade de plantio (Figuras_1 e 2). A diferença entre as curvas
ajustadas para o número total de frutos e o número de frutos comercializáveis
indica que a estimativa do número de frutos refugados seria dada por 26.201,22
+ 1,1606 (x + 13,08 vx), onde x é a densidade de plantio. De acordo com essa
estimativa, nas populações de 7000 e 25000 plantas ha-1, os números de frutos
refugados seriam de 27.471 e 53.269, respectivamente. A estimativa do peso de
frutos refugados, utilizando-se do mesmo raciocínio, seria dada por 30.867,16 '
30.072.190/x. Neste caso, as perdas de frutos refugados, em termos de kg/ha,
seriam de 4.296 e 29.664, nas populações de 7.000 e 25.000 plantas ha-1,
respectivamente. Nerson (1999) e Grangeiro et al. (1999a) também verificaram
aumentos na percentagem de frutos refugados com o aumento da densidade de
plantio.
Tanto o comprimento como a largura dos frutos comercializáveis foram reduzidos
com o aumento da densidade de plantio (Figura_3). Portanto, maiores densidades
de plantio proporcionaram maiores números (Figura_1) de frutos menores. Maiores
quantidades de frutos menores, com o aumento da densidade de plantio, foram
observadas também por Mendlinger (1994) e Grangeiro et al. (1999a). As reduções
nas dimensões dos frutos devem resultar do aumento da competição entre plantas
por luz e nutrientes, que ocorre com o aumento da densidade de plantio. A
competição, embora aumente o número e o peso de frutos/ha, reduz as dimensões
dos frutos de cada planta.
Não houve efeito da densidade de plantio sobre o teor de sólidos solúveis. O
valor médio obtido foi de 8,70 %. Este resultado é concordante com os
observados por alguns autores (Faria et al., 2000; Grangeiro et al., 1999a;
Kultur et al., 2001). Contudo, deve ser mencionado que Zahara (1972) contatou
aumento da percentagem de sacarose, com a redução da densidade de plantio, nos
frutos de duas cultivares. Provavelmente, o teor de sólidos solúveis somente
seja alterado pela densidade de plantio, com a adoção de maiores densidades de
plantio. No presente trabalho, foram avaliadas densidades variando de 7 a 25
mil plantas/ha, enquanto Zahara (1972) avaliou densidades de 7 a 63 mil
plantas/ha. Nas maiores densidades, a competição entre plantas por luz, água e
nutrientes pode reduzir a produção de fotossintatos, influenciando
negativamente o TSST.
CONCLUSÕES
O aumento da densidade de plantio aumentou o número e o peso dos frutos totais,
comercializáveis e refugados, reduziu o comprimento e o diâmetro dos frutos
comercializáveis, mas não influenciou o teor de sólidos solúveis dos melões
comercializáveis.