Efeitos das condições de amadurecimento sobre a suscetibilidade de bananas 'SH
3640' ao despencamento natural
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
COLHEITA E PÓS-COLHEITA
Efeitos das condições de amadurecimento sobre a suscetibilidade de bananas 'SH
3640' ao despencamento natural1
Effects of ripening conditions on susceptibility of 'SH 3640' banana to finger
drop
Victor Martins MaiaI; Rodrigo Sobreira AlexandreII; Luiz Carlos Chamhum
SallomãoIII; Eldo Antônio Monteiro da SilvaIV; Renata Maria Strozi Alves MeiraV
IEng. Agrº, Doutorando em Fitotecnia, UFV, Viçosa, MG, 36570-000 - (31) 3899-
2641 - vmaia@alunos.ufv.br - Bolsista do CNPq
IIEng. Agrº, Doutorando em Fitotecnia, UFV, Viçosa, MG, 36570-000 - (31) 3899-
2641 -rsalexandre@click21.com.br - Bolsista da CAPES
IIIProfessor Adjunto, Departº de Fitotecnia, UFV, Viçosa, MG, 36570-000 - (31)
3899-1350 - lsalomao@ufv.br - Bolsista do CNPq
IVProfessor Titular, Departº de Biologia Vegetal, UFV, Viçosa, MG, 36570-000 -
(31) 3899- 1290
VProfessor Adjunto, Departº de Biologia Vegetal, UFV, Viçosa, MG, 36571-000 -
(31) 3899-2584. rmeira@ufv.br
O despencamento ou queda natural de frutos é um dos maiores problemas pós-
colheita da banana, restringindo a comercialização. Este fenômeno é resultado
do amolecimento e enfraquecimento fisiológico do pedicelo, que leva à separação
individual dos frutos da penca com muita facilidade (New e Marriott, 1983).
A bananeira 'SH 3640' (AAAB), híbrido da 'Prata-Anã' criado pela Fundación
Hondureña de Investigación Agrícola (FHIA), de Honduras, apresenta porte baixo
e alta produtividade (Cerqueira et al., 2002), mas é suscetível ao
despencamento natural (Pereira, 2002). Neste estudo, objetivou-se verificar os
efeitos do pré-condicionamento e amadurecimento dos frutos a baixa temperatura
sobre a suscetibilidade da banana 'SH 3640' ao despencamento natural.
Dois cachos de bananas no estádio ¾ natural (Lichtemberg, 1999) foram colhidos
na Fazenda Experimental da Sementeira, de propriedade da Universidade Federal
de Viçosa, e transportados para o Laboratório de Análise de Frutas do
Departamento de Fitotecnia. Foram utilizadas a segunda e a terceira pencas de
cada cacho, que foram lavadas em água corrente e imersas em solução contendo
500 mg L-1 de ethephon (Ethrel, Rhône-Poulene Agro Brasil Ltda.) por 10
minutos.
O experimento foi instalado segundo delineamento inteiramente casualizado, com
4 tratamentos: T1 - amadurecimento em temperatura ambiente (24,6 ± 1,7ºC e
umidade relativa de 84,8 ± 3,1%); T2 pré-condicionamento dos frutos a 5ºC por
6 horas, seguido de amadurecimento em temperatura ambiente; T3 pré-
condicionamento dos frutos a 5ºC por 12 horas, seguido de amadurecimento em
temperatura ambiente; T4 - amadurecimento dos frutos em sacos de polietileno de
baixa densidade a 18ºC. Foram utilizadas 6 repetições para as observações
anatômicas e 4 repetições para as avaliações de resistência ao despencamento,
consistência da polpa do fruto maduro e número de dias da colheita até o
amadurecimento, ou seja, até atingir o estádio de cor da casca 6 (Dadzie e
Orchard, 1997), sendo cada repetição constituída de um fruto.
A consistência da polpa foi determinada de acordo com Dadzie e Orchard (1997),
e a resistência ao despencamento foi determinada com o auxílio de um
despencador manual (Cerqueira, 2000).
Para as observações anatômicas, secções de um centímetro de comprimento da
região do pedicelo onde ocorre o despencamento natural, foram obtidas, conforme
descrição de Pereira (2002). Cada pedicelo foi fixado com FAA50 (Johansen,
1940) e estocado em etanol 70%. Posteriormente, cada um foi seccionado
longitudinalmente em seis partes, aproveitando-se duas delas para os cortes
anatômicos transversal e longitudinal (Pereira, 2002). Os cortes foram obtidos
em um micrótomo de mesa e corados com fucsina básica e azul de astra (Kraus e
Arduim, 1997). As lâminas foram montadas com gelatina glicerinada (Johansen,
1940).
As análises e documentações fotográficas foram efetuadas em microscópio
fotônico Olympus AX 70, pertencente ao Laboratório de Anatomia Vegetal do
Departamento de Biologia Vegetal. As características avaliadas foram a
distribuição e a coloração dos componentes dos tecidos da região em que ocorre
o despencamento natural dos frutos.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância. As médias dos fatores
foram comparadas, utilizando-se do teste de Tukey, a 5 % de probabilidade.
O acondicionamento em sacos de polietileno a 18 °C (T4) retardou o
amadurecimento dos frutos em relação àqueles pré-condicionados a 5 °C por 6 e
12 horas (T2 e T3, respectivamente) (Tabela_1). Os frutos sujeitos a estes
tratamentos (T2 e T3) apresentaram sintomas característicos de injúria por
frio, como o escurecimento subepitelial da casca, o que é prejudicial para a
comercialização, uma vez que o consumidor rejeita frutos com aparência
desagradável. Em função desta injúria, houve, provavelmente, um estímulo à
síntese de etileno (Buchanan et al., 2000), acelerando o amadurecimento dos
frutos.
Com relação à consistência da polpa, não foi observada diferença estatística
entre os tratamentos aplicados (Tabela_1), confirmando, juntamente com o
estádio de cor da casca, que os frutos estavam homogêneos quanto aos estádios
de maturação no período das avaliações.
Os frutos que amadureceram a 18 ºC (T4) e os mantidos a 5 ºC por 12 horas antes
do amadurecimento ao ambiente (T3), mostraram-se mais resistentes ao
despencamento que os dos demais tratamentos (Tabela_1). Nos frutos destes
tratamentos, houve maior deposição de lignina nas paredes das fibras
perivasculares dos feixes da região do pedicelo do fruto, conforme evidenciado
pela coloração mais intensa e de maior espessura da parede celular em relação
aos demais tratamentos (Figura_1).
![](/img/revistas/rbf/v26n2/21842f1.jpg)
A síntese e a deposição de lignina podem dar-se em resposta a estresses
(Buchanan et al., 2000), como, por exemplo, a injúria por frio. Uma vez que a
lignina está envolvida no mecanismo de resistência a esta injúria (Mulas et
al., 1996), sugere-se que o pré-condicionamento do fruto em câmara fria a 5 °C
por 12 horas e o amadurecimento do fruto a 18 °C promoveram estresse no fruto
suficiente para estimular a biossíntese de lignina, o que não se observou
quando os frutos foram pré-condicionados a 5ºC por apenas 6 horas .
Neste experimento, os valores médios de resistência ao despencamento
encontrados nos tratamentos 1 e 2 (17,29 N e 15,08 N, respectivamente) foram
semelhantes aos encontrados por Pereira (2002) para o mesmo genótipo (14,4 N),
o qual classificou como suscetível ao despencamento. Quando os frutos foram
submetidos a condições de amadurecimento de 18 °C e envoltos por sacos de
polietileno (T4) ou 5 °C por 12 horas e amadurecimento ao ambiente (T3),
obtiveram-se valores de resistência ao despencamento de 25,02 N e 23,18 N,
respectivamente, o que eleva sua classificação para medianamente resistentes ao
despencamento, segundo o mesmo autor.
Diante desses resultados, conclui-se que o pré-condicionamento dos frutos a 5
ºC por 12 horas, seguido de amadurecimento à temperatura ambiente (T3), e o
amadurecimento em polietileno de baixa densidade a 18 º C (T4) aumentaram a
resistência de bananas 'SH 3640' ao despencamento natural em conseqüência do
aumento da espessura e da maior deposição de lignina nas paredes das fibras
perivasculares.