Avaliação do método imunoenzimático (ELISA) para diagnóstico da infecção por
Helicobacter pylori em crianças e adolescentes
ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLEINTRODUÇÃO
O Helicobacter pylori (Hp) provoca resposta imunológica local e sistêmica. Os
títulos de anticorpos contra o Hp, em pacientes infectados, são maiores nas
classes IgG e IgA; já os títulos dos anticorpos IgM não diferenciam os
pacientes infectados dos não-infectados; por esta razão, é mais freqüente o uso
da dosagem de IgG e IgA, em especial da IgG(48). Um antígeno único não é
reconhecido pelo soro de todos os pacientes, deste modo, as preparações
antigênicas usadas para a detecção de anticorpos devem sempre conter múltiplos
antígenos.
Vários métodos sorológicos têm sido descritos na literatura(28, 33, 34), no
entanto, o método ELISA (Enzyme-linked immunosorbent assay) parece ser o mais
sensível e específico em pacientes adultos de países desenvolvidos(18, 32, 40)
A recomendação é de que o teste sorológico deve ser validado e padronizado
localmente antes de seu uso(19).
Por ser um exame não-invasivo, o teste sorológico tem sido utilizado em estudos
epidemiológicos(3, 15, 24, 41), mas por ser infecção restrita à mucosa, em
alguns casos, a estimulação antigênica pode ser lenta e resultados falso-
negativos podem ocorrer em poucas semanas ou meses após nova infecção(39).
Sensibilidade insuficiente para avaliação clínica tem sido relatada em crianças
menores de 10 e 12 anos(12, 16, 44).
A validação dos testes sorológicos comerciais em crianças, que representam a
população ideal para grandes estudos epidemiológicos, tornar-se-ia ferramenta
útil no diagnóstico da infecção por Hp. O objetivo deste estudo foi avaliar a
eficácia do método ELISA para diagnóstico da infecção por Hp em crianças e
adolescentes.
PACIENTES E MÉTODOS
Foram avaliados prospectiva e consecutivamente 120 crianças, encaminhadas para
realização de exame endoscópico ao serviço de Endoscopia Digestiva da
Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da Universidade Federal de São Paulo
- Escola Paulista de Medicina - UNIFESP-EPM, São Paulo, SP, por queixas
digestivas para afastar doença péptica ou para a realização de biopsias de
intestino delgado. Excluíram-se pacientes com patologias crônicas extra-
digestivas, imunodeprimidos ou em uso de imunossupressores, e em uso de
quimioterápicos, medicamentos antiinflamatórios não-esteróides, bloqueadores H2
e/ou derivados nitroimidazólicos por período mínimo de 2 meses anteriores ao
exame. Os responsáveis pelos pacientes foram orientados sobre os procedimentos,
sendo solicitado consentimento por escrito. Preencheu-se questionário clínico.
O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética Médica da UNIFESP-EPM.
Realizou-se endoscopia digestiva alta com aparelho de videoendoscopia da marca
PENTAX, modelo EG 2430. Foram realizadas seis biopsias de antro gástrico a
cerca de 2 cm do piloro, sendo dois fragmentos para o teste rápido de urease,
dois para a cultura e dois para o exame histológico. O teste rápido da urease
foi realizado utilizando-se solução caseira contendo 1 mL de água destilada,
duas gotas de fenol vermelho a 1% (como indicador de pH) e 0,1 g de uréia(42).
Esta solução foi preparada pelo médico endoscopista no dia do exame e mantida
em temperatura ambiente. O fragmento biopsiado foi imediatamente adicionado
nesta solução e a alteração na coloração foi observada por período de até 24
horas. Considerou-se positiva quando ocorreu alteração na coloração de amarelo
para róseo-avermelhado. Histologia (H): os fragmentos para histologia foram
colocados em papel de filtro e fixados em solução de formaldeído a 10%. A
pesquisa do Hp foi caracterizada como positiva com a presença de bactéria
espiralada, localizada na camada mucosa do epitélio gástrico ou na superfície
das células epiteliais, que se corava pelo Giemsa modificado e pela
hematoxilina-eosina. Cultura (C): os fragmentos de biopsia gástrica foram
introduzidos em tubo de ensaio estéril contendo 1 mL de solução de "brain heart
infusion" (BHI) e armazenadas em geladeira de isopor para manutenção da
temperatura em -4ºC. A semeadura foi feita com a técnica do rolamento
em placas com meio de cultura contendo Agar-BHI, complementado com sangue de
carneiro a 5% e meio seletivo contendo ácido nalidíxico (2,5 mg/mL),
vancomicina (2,5 mg/mL) e anfotericina B (0,25 mg/mL). Todas as amostras foram
manipuladas com técnicas assépticas. Após o cultivo, as placas foram colocadas
em jarras para anaerobiose (Merck) com sachê produtor de microaerofilia
(Anaerocult C-Merck) em amostras contendo de 5% a 7% de oxigênio e de 8% a 10%
de dióxido de carbono e incubadas em estufa a 37ºC. A leitura foi
realizada no 7º dia e o crescimento das colônias foi caracterizado pela
presença de pequenas colônias translúcidas, seguindo as estrias de inoculação.
Realizaram-se como exames comprobatórios: microscopia óptica com coloração pelo
método de Gram e testes da oxidase, catalase e urease. A cultura foi
considerada positiva quando houve a presença de bactérias Gram negativa, curvas
ou espiraladas, com reação positiva para oxidase, catalase e urease.
Considerou-se negativa quando houve ausência de crescimento bacteriano após 7
dias de cultivo.
As crianças foram consideradas infectadas quando o teste rápido da urease e a
histologia resultaram ambos positivos ou quando a cultura foi positiva e não-
infectadas quando todos os testes foram negativos. Do total de 120 pacientes,
foram excluídos 9, cujos resultados foram discordantes: 7 pacientes com teste
rápido da urease (+) e H (-) e C (-) e 2 pacientes com teste rápido da urease
(-), C (-) e H (+). O estudo foi realizado, portanto, em 111 pacientes.
Sorologia (S): no momento da punção venosa, coletaram-se 2 mL de sangue para
realização de exame sorológico. O sangue foi centrifugado e o soro estocado em
congelador a -20 ºC. Utilizou-se o kit "Cobas Core II" (Roche) com
método ELISA, sendo analisado em aparelho "Cobas Core II" no Laboratório
Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo. O método é baseado em ensaio imunoenzimático com duas fases,
permitindo a determinação quantitativa e qualitativa dos anticorpos IgG anti-Hp
no soro humano. Na primeira fase, as amostras e o soro controle (positivo e
negativo) foram diluídos e incubados com pérolas revestidas com antígenos Hp
altamente purificados. Os anticorpos específicos foram fixados na pérola e a
amostra sofreu lavagem para remoção do material não-fixado. Os complexos
antígeno-anticorpo fixados na pérola foram detectados pelo conjugado
peroxidase-anticorpo de carneiro anti IgG-humano. Nova lavagem removeu o
conjugado excedente e a pérola foi incubada com solução de substrato, contendo
tetrametilbenzidina e peróxido de hidrogênio. Ocorreu o desenvolvimento de
coloração azulada que é proporcional a quantidade de anticorpo específico IgG
anti-Hp. A reação enzimática foi interrompida pela adição de ácido e realizou-
se a determinação através de absorvância com densidade óptica de 450 nm em
aparelho de fotometria. O resultado foi considerado positivo quando a titulação
foi maior ou igual a 7 U/mL, conforme especificação do fabricante.
Analise estatística
Utilizou-se o teste do qui-quadrado para tabela de associação, obedecendo
sempre as restrições de COCHRAN(11) e, quando necessário, complementado com o
teste exato de Fisher. Para se estudarem concordâncias entre respostas
positivas ou negativas entre os testes, usou-se o teste para significância de
mudanças de McNemar. Calcularam-se medianas e médias a título de informação.
Considerou-se o nível de significância em 0,05.
RESULTADOS
A idade dos 111 pacientes variou de 3 meses a 16 anos (mediana = 9a 5m, média =
8a 7m ± 4.0). Destes, 45,0% (50/111) pertenciam ao sexo masculino e
55,0% (61/111) ao feminino. A idade predominante foi de 6a a 12a (52,2%)
(Tabela_1). Houve predomínio de pacientes melanodermas (63,0% - 70/111), em
relação aos leucodermas (37,0% - 41/111).
Dos 111 pacientes, 47,7% (53/111) foram considerados infectados e 52,2% (58/
111) não-infectados. A prevalência da infecção por Hp foi significativamente
menor na faixa etária de 0 a 6 anos (22,6%) (Tabela_1). A idade dos 53
pacientes infectados variou de 1a 3m a 15a 6m (mediana = 10a 7m, média = 10a
± 3.2), sendo 47,5% (29/53) do sexo feminino e 48,0% (24/53) do
masculino. A idade dos 58 pacientes Hp negativo variou de 3m a 16a (mediana =
8a 1m, média = 7a 6m ± 4.4), sendo 55,0% (32/58) do sexo feminino e
45,0% (26/58) do masculino. Das 31 crianças de 3m a 6a de idade, 9 delas
(29,0%) eram lactentes, todos em aleitamento materno exclusivo ou misto, sendo
2 (22,0%) Hp positivo e 7 (78,0%) Hp negativo.
Características clínicas
Quando se avaliaram a localização e o tipo de dor, consideraram-se os 80
pacientes (72,0%) que pertenciam à faixa etária de 6 a 16 anos de idade, já que
os mesmos podiam referir espontaneamente as características da dor. Dor
abdominal foi relatada em 99,0% (79/80) dos pacientes, sendo de localização
epigástrica em 84,0%. A presença do Hp em 66,0% pacientes que apresentaram dor
epigástrica foi significativamente maior em relação aos 30,0% pacientes que
apresentaram dor periumbilical (P <0,05). O tipo de dor foi predominantemente
do tipo queimação em 77,6%. Dor noturna que desperta o paciente foi relatado em
41,2% (33/80). Outros sintomas relatados foram: náuseas em 63,3%, vômitos em
71,7%, plenitude pós-prandial em 35,1% , sensibilidade abdominal em 37,8%,
flatulência em 20,7% e regurgitação em 3,6%. História familiar de doença
péptica esteve presente em 60/111 pacientes (54,0%), sendo referida em 56,6%
(30/53) dos pacientes Hp positivo e 51,6% (30/58) dos Hp negativo. Em relação
aos achados endoscópicos, presença do Hp foi significativamente maior na
vigência de exame endoscópico alterado. Hp foi positivo em 80,5% (29/36) das
gastrites, em 20,0% (1/5) das esofagites, em 100,0% (6/6) das úlceras duodenais
e em 50,0% (1/2) das duodenites.
Sorologia
Dos 111 pacientes, 55,0% (61/111) apresentaram títulos de anticorpos anti-Hp
maiores de 7 U/mL e 45,0% (50/111) apresentaram títulos menores de 7 U/mL. A
sensibilidade da sorologia foi de 83,0% (IC95% 76% - 90%) especificidade de
70,6% (IC95% 62% - 78,8%), VPP de 72,0% e VPN de 82,0% (Tabela_2).
Dividindo os pacientes em dois grupos etários a partir de 10 anos, o que tornou
a amostra mais homogênea, observou-se em menores de 10 anos de idade
sensibilidade de 71,4% com ponto de corte de 5 U/mL e 7 U/mL, e 75,6% e
especificidade de 70,2% e 75,6% com ponto de corte de 5 U/mL e 7 U/mL,
respectivamente. Em maiores de 10 anos, a sensibilidade foi de 90,6% e 96,8% e
a especificidade de 71,0% e 61,9%, com ponto de corte de 7 e 5 U/mL,
respectivamente.
Analisando a sensibilidade da sorologia, levando-se em consideração somente a
cultura positiva como padrão ouro, a sensibilidade foi de 86,6%; porém
utilizando como ponto de corte o valor de 5 U/mL a sensibilidade aumentou para
93,0%.
Os pacientes Hp positivo apresentaram variação de títulos de 0,00 U/mL a 857,77
U/mL, com média de 111,19 U/mL ± 146,8. Em nove pacientes, os
resultados foram falso-negativos. Nos pacientes Hp negativo, os títulos de
anticorpos variaram de 0,00 U/mL a 85,80 U/mL com média de 16,43 U/mL
± 27,58. Os resultados falso-positivos ocorreram em 17 pacientes. A
concentração de IgG em pacientes Hp positivo de acordo com as diferentes faixas
etária foram: 0 a 6a (mediana = 40,00 U/mL, variação 0,00 U/mL - 199,60 U/mL),
6 a 12a (mediana = 39,50 U/mL, variação 0,00 U/mL - 857,77 U/mL), 12 a 16a
(mediana = 102,40 U/mL, variação 1,30 - 294,40 U/mL). Todas as seis crianças
com úlcera duodenal apresentaram Hp positivo com sorologia positiva (59,26 U/
mL, 68,60 U/mL, 111,47 U/mL, 148,68 U/mL, 294,36 U/mL, 857,77 U/mL).
DISCUSSÃO
Foram estudados 111 pacientes de idade compreendida entre 3 meses a 16 anos,
incluindo lactentes, ao contrário de outros trabalhos com casuística similar ou
maior que a presente, que não incluíram crianças menores de 2 anos de idade(1,
25, 44, 49, 50). A distribuição de idade dos pacientes infelizmente não foi
uniforme, prevalecendo a faixa etária de 6 a 12 anos (52,0%).
A infecção por Hp foi detectada em 61,0% das crianças que apresentaram dor
abdominal, estando significativamente mais presente em pacientes com dor na
região epigástrica, comparado com aqueles com dor na região periumbilical.
Apesar da infecção não ser associada com sintomas específicos, alguns autores
relatam que dor epigástrica, dor em queimação, dor noturna, sensação de
plenitude pós-prandial, vômitos e náuseas estão relacionados com a infecção
pelo Hp(8, 23, 25, 27, 45). A mediana da idade das crianças não-infectadas
desta série foi menor que as infectadas, sendo a prevalência de Hp
significativamente menor na faixa etária de 3m a 6a (22,6%) quando comparado
com crianças maiores (58,6% de 6 a 12a e 54,5% de 12 a 16a) conforme observado
também em outros estudos(24, 43, 49). Quanto ao sexo, não houve diferença
estatisticamente significativa entre os pacientes Hp positivo e Hp negativo,
fato já observado por outros autores(4, 26, 35, 36, 37, 51, 52, 54). A maioria
dos pacientes desta casuística com gastrite apresentou infecção por Hp (80,5%),
fato descrito por outros autores(10, 13), e todos os pacientes com úlcera
duodenal eram Hp positivo.
Os testes sorológicos, apesar de descritos logo após a descoberta do Hp(31,
38), ainda se encontram em desenvolvimento. Diversos métodos têm sido
utilizados, incluindo a hemaglutinação e a fixação do complemento. Optou-se
pelo método ELISA por ser o mais amplamente usado devido a sua simplicidade de
execução e baixo custo(22). O desempenho dos testes sorológicos pode variar,
dependendo da natureza do antígeno utilizado(5, 9, 28, 56) da idade, raça e do
valor escolhido para ponto de corte(6, 28, 32, 44) devendo ser validado em cada
região geográfica.
Pouco se conhece sobre o desenvolvimento de anticorpos anti-Hp em crianças
menores de 24 meses de idade. A presença de IgA específica presente no leite
humano poderia ter importante papel no retardo do início da infecção. Nos nove
lactentes em uso de aleitamento materno exclusivo ou misto, apenas dois (22,2%)
tinham a infecção. Das duas crianças infectadas, uma apresentou sorologia
negativa (4,7 U/mL), com valor muito próximo do ponto de corte, isto podendo
ser justificado pela não-seroconversão, o que dificulta a validação do teste
nesta faixa etária(7, 20). Além disso, já que a infecção atinge somente a
mucosa, a estimulação antigênica pode estar diminuída, enfatizando a
importância dos valores do ponto de corte(38). O valor estabelecido em adultos
como ponto de corte, para determinar a presença ou ausência da infecção por Hp
através da sorologia, não é apropriado para o uso em crianças(19) devido a
resposta humoral ser diferente. Deve-se buscar o ponto de corte nesta faixa
etária, tendo como objetivo boa especificidade e sensibilidade para o método
(6,13,14). Resultado falso-negativo pode acontecer desde poucas semanas ou
inclusive meses após infecção por Hp, até que o paciente tenha resposta imune.
Dentre as sete crianças Hp negativo, uma lactente de 1a 5m apresentou sorologia
positiva (56,60 U/mL). Resultado falso-positivo pode aparecer após a
erradicação espontânea, mas a soroconversão pode ocorrer entre 3 e 6 meses de
idade em filhos de mães soropositivas(2, 21).
Embora o método ELISA tenha sido considerado de alta sensibilidade e
especificidade para o diagnóstico da infecção por Hp em adultos(47, 53, 55),
resultados discrepantes têm sido encontrados em crianças. O teste sorológico no
presente estudo apresentou sensibilidade de 83,0%, à semelhança de outros
autores(13, 27, 50) e inferior a outros(1, 10). Ao se compararem os resultados
desta série com as diversas faixas etárias com outro estudo similar utilizando
o mesmo kit de sorologia, realizado em Belo Horizonte, MG(44), verificou-se que
a sensibilidade foi superior nas faixas etária de 0 a 6 anos (71,4%) e 6 a 12
anos (85,2%) e inferior entre 12 e 16 anos (83,3%), comparados a valores de
sensibilidade de 2 a 6 anos (44,4%), 7 a 11 anos (76,7%) e de 12 a 16 anos
(93,1%). A baixa sensibilidade na idade de 12 a 16 anos verificada no presente
estudo, pode estar relacionada ao pequeno número de pacientes estudados, mas
quando se diminui o ponto de corte em 30% do valor sugerido pelo fabricante (5
U/mL) observa-se incremento da sensibilidade de 90,6% para 96,8% em pacientes
maiores de 10 anos.
A especificidade, no entanto, foi muito inferior quando comparada com os
trabalhos dos mesmos autores(13, 27, 50). Vale ressaltar que a comparação dos
resultados desta casuística com a literatura é dificultada pela utilização de
diferentes métodos com diferentes preparados antigênicos ou diferentes
conteúdos de determinante antigênico. JENSEN et al.(29) analisaram oito testes
sorológicos comerciais e observaram que a sensibilidade variou de 71,0% a 94,0%
e a especificidade de 65,0% a 83,0%. No presente estudo, encontrou-se grande
número de resultados falso-positivos(18) em pacientes com idade compreendida
entre 1a 5m e 15a 10m e títulos entre 8,52 U/mL e 85,80 U/mL. Isto poderia ser
decorrente da reação cruzada, da baixa sensibilidade da cultura ou à infecção
pregressa, onde ainda persistem títulos sorológicos elevados(15, 29, 30 46). Ao
se compararem as concentrações de IgG, verificam-se que os títulos foram
superiores aos de OLIVEIRA et al.(44). Fatores como duração mais prolongada da
infecção, presença de mais cepas ou mais carga bacteriana(57) poderiam
interferir nos resultados.
VANDENPLAS et al.(57), utilizando somente a cultura positiva como referência,
observaram S = 96,0%, E = 96,0%. Quando se analisou a sensibilidade da
sorologia, levando-se em consideração somente a cultura positiva como padrão
ouro, a sensibilidade foi de 86,6%.
Se fosse utilizada a cultura como padrão ouro, encontrar-se-iam quatro
resultados falso-negativos, porém dois destes pacientes apresentaram títulos
próximos ao ponto de corte (5,94 U/mL e 6,98 U/mL) e se o mesmo fosse diminuído
para 5 U/mL restariam dois resultados falso-negativos, o que incrementaria a
sensibilidade 86,6% para 93,3%. Os pacientes com cultura positiva apresentaram
concentrações de IgG maiores que os pacientes com cultura negativa, fato já
observado por outros autores(17).
Os resultados do teste sorológico poderiam ser mais precisos, desenvolvendo-se
método próprio com antígenos encontrados na região em estudo. KHANNA et al.(33)
desenvolveram um ELISA para deteção de IgG em crianças, na África do Sul, e
compararam com três testes comerciais, encontrando sensibilidade de 91,4%
versus 78,0%, observando que os testes comerciais não são aplicáveis em regiões
geográficas diferentes daquelas onde o teste foi desenvolvido, padronizado e
validado.
Conclui-se que o método imunoenzimático (ELISA) para diagnóstico da infecção
por Helicobacter pylori foi mais eficiente em crianças acima de 10 anos de
idade, utilizando o ponto de corte de 5,0 U/mL (96,8%), mas a especificidade
foi baixa (61,9%), sugerindo que diante de resultado de sorologia positivo,
seja realizado outro exame para confirmação diagnóstica.
O ideal seria se existisse padrão ouro com mais técnicas sensíveis e
específicas para a avaliação da sorologia, desde que utilizando somente a
cultura positiva com o ponto de corte de 5 U/mL, houve um grande incremento na
sensibilidade (93,3%).
AGRADECIMENTO
Ao Dr. Cristovão Luis Mangueira e membros do Laboratório de Imunologia do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo,
pelo apoio recebido na realização deste estudo.