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BrBRCVHe0004-28032006000200012

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National varietyBr
Year2006
SourceScielo

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A relação do uso crônico de fenobarbital com áreas potencialmente pré- neoplásicas em fígado de ratos GASTROENTEROLOGIA EXPERIMENTALEXPERIMENTAL GASTROENTEROLOGYINTRODUÇÃO A carcinogênese é um processo dinâmico que envolve os estágios de iniciação, promoção e progressão e nesse processo as alterações gênicas são acompanhadas de modificações no fenótipo das células(5, 7, 8, 9, 10, 21, 23).

Agentes químicos iniciadores induzem alterações celulares na interação com o ácido desoxirribonucléico (DNA) da célula-alvo, o que leva a uma alteração celular irreversível por meio de ligações covalentes, distorção ou quebra da molécula tornando, assim, a célula iniciada. Essa célula tem seu genoma alterado, mas sem expressão fenotípica. A eficiência da iniciação depende da capacidade da célula de se dividir após a interação com o agente iniciador.

Assim, a célula permanece, geralmente, em estado de latência.

Agentes químicos promotores proporcionam a expressão de alterações neoplásicas em células iniciadas, mediante a interação com receptores celulares específicos, interferindo na transdução e apoptose. Eles estimulam a proliferação celular e não alteram o DNA. Os agentes promotores são abundantes no meio ambiente, sua natureza química inclui polipeptídios, proteínas circulantes, hormônios esteróides, ésteres de forbol, fenóis e drogas como o fenobarbital.

O envelhecimento, a dieta, fatores hormonais, ambientais e tipo celular são fatores moduladores da atuação dos agentes promotores, bem como do estágio da promoção(3, 5).

O fenobarbital é um barbitúrico de ação prolongada, de administração oral, parenteral e retal, indicado como hipnótico ou sedativo no tratamento de insônia, sedação pré-operatória, manuseio de emergências convulsivas tônico- clônicas generalizadas e focais. Esse fármaco mostra-se um importante agente promotor hepatocarcinogênico em fígado de ratos, além de ser não-genotóxico, órgão-específico e dose-dependente, na presença de elementos indutores iniciadores da carcinogênese, administrados previamente, embora o mecanismo de sua ação ainda não esteja bem elucidado(6, 7, 8, 9, 13, 15, 16, 18, 19, 30).

Postula-se que a ação de promoção relaciona-se com a ruptura das junções "gap" intercelulares com o que as células estão liberadas do controle de divisão, permitindo uma proliferação celular descontrolada. Outras teorias apontam uma resistência seletiva das células iniciadas à ação de compostos citotóxicos inibidores da mitose, bem como a indução de crescimento adaptativo em resposta às mudanças químicas e à capacidade de aumento do volume hepático ocupado nos focos hepáticos alterados. A administração crônica de barbitúricos causa aumento importante no conteúdo protéico e lipídico do retículo endoplasmático liso hepatocitário, bem como na atividade da glucoronil-transferase e oxidases contendo o citocromo P450 (família de enzimas de maior poder de catalisação nas reações de biotransformação de drogas). O efeito indutor dessas enzimas resulta em aumento da taxa de metabolismo de drogas exógenas e substâncias endógenas (30).

Os modelos animais utilizam os estudos em ratos como forma de estimativa qualitativa e quantitativa na demonstração in vivo do estabelecimento do risco de câncer em humanos, mediante experimentos em que são tratados com agentes iniciadores, promotores e progressores, envolvendo protocolos de iniciação- promoção-progressão evidenciado pela relação entre as alterações pré- neoplásicas e neoplásicas hepáticas e a idade do animal na fase de iniciação(5, 7, 22).

As alterações fenotípicas podem ser estudadas utilizando-se marcadores para a detecção das lesões ocorridas nesse processo destacando-se entre eles o estudo imunoistoquímico com glutationa S-transferase forma placentária (GSTP). Em ratos idosos, após a administração de agentes hepatocarcinogênicos, detectaram- se hepatócitos individualmente aberrantes, expressando GSTP e sugerindo que essas células constituem uma população hepatocitária iniciada(5, 6, 7, 8, 9, 10, 16, 20, 21, 24, 25, 28).

Não se conhece a ação da administração crônica do fenobarbital em ratos com mais de 24 meses de vida (ratos velhos), desde o nascimento, na ausência de administração de agentes iniciadores, embora existam estudos até o oitavo mês de vida(9, 16). Entretanto, é conhecida a ação do fenobarbital administrado como indutor da carcinogênese em ratos de 12 e 36 meses de idade(4, 29).

A análise qualitativa, por meio da expressão de áreas GSTP positivas e de outras alterações fenotípicas, é possível mediante estudos morfométricos em que podem ser quantificadas as áreas de interesse no estudo do processo da carcinogênese(1).

O presente estudo objetiva verificar a ação do uso de fenobarbital sobre o fígado de ratos velhos (24 meses de idade), ministrado diária e cronicamente desde o nascimento, sem a administração concomitante de agentes químicos iniciadores da carcinogênese.

MATERIAL E MÉTODOS Para o experimento, aprovado pelo comitê de ética em pesquisa animal da Universidade de Munique, Alemanha, protocolo MT 95, usaram-se ratos machos Wistar (Wistar AF/Hann) do biotério do Instituto de Patologia da Universidade de Munique, mantidos em biotério climatizado, sob ritmo circadiano, abrigados em gaiolas de cinco roedores.

A administração de 20 mg/kg de peso de fenobarbital a 0,05%, ocorreu desde o nascimento até os 24 meses de idade, adicionado à dieta básica diária quando, então, os animais foram submetidos a hepatectomia parcial de dois terços do volume total hepático, conforme protocolo(2, 8, 12, 18, 21).

Os ratos foram divididos em dois diferentes grupos, a saber: 1. grupo controle: constituído por nove animais, que receberam dieta padronizada (Altromin-R, Lage, BRD) e água à vontade, depois submetidos a hepatectomia parcial de dois terços após 24 meses de administração diária de dieta básica; 2. grupo tratado: constituído por 10 animais, que receberam dieta padronizada (Altromin-R, Lage, BRD), a qual se adicionou fenobarbital e água à vontade. Estes animais foram submetidos a hepatectomia parcial de dois terços após 24 meses de administração diária de dieta básica, acrescida de fenobarbital.

O grupo tratado, decorridos 24 meses, foi submetido a hepatectomia parcial de dois terços(12), sendo retirados o lobo médio e o lobo direito, que foram submetidos a exame histológico padronizado pela coloração de hematoxilina- eosina (H-E) e imunológico pela técnica imunoistoquímica do complexo avidina- biotina-peroxidase com anticorpo anti-GSTP(7, 8, 9, 11, 18, 24). Para posterior estudo do fígado, os animais foram mantidos vivos, com dieta normal, até o momento de sua morte espontânea.

Consideraram-se áreas GSTP positivas aquelas que estivessem constituídas por cinco ou mais células com citoplasma e/ou núcleos evidentemente corados; não se levaram em conta as que somente apresentassem núcleos ou citoplasma corados, as que estivessem fracamente coradas e em que não se podia determinar o contorno celular, bem como os hepatócitos isoladamente marcados(27) (Figura_1).

A análise quantitativa das áreas GSTP positivas ocorreu de forma integrada, utilizando-se microscópio da marca Olympus BX40, acoplado a uma câmera de vídeo JVC, e o programa computadorizado de Sistema de Análise de Imagem LEICA Q 500 MC.

Para os dados de número de áreas GSTP positivas e suas respectivas áreas, foram calculados a mediana e os valores mínimo e máximo, uma vez que estas variáveis apresentaram assimetria. A comparação entre os grupos foi realizada pelo teste U de Mann-Whitney e confirmada pelo teste t de Student, realizado nos dados submetidos a transformação logarítmica. O nível de significância adotado foi de a= 0,05.

RESULTADOS Os cortes examinados sob coloração de H-E não revelaram alterações fenotípicas isoladas ou focais.

As áreas GSTP positivas caracterizaram-se histologicamente por serem múltiplas áreas de coloração amarronzada no parênquima, envolvendo hepatócitos isolados ou grupamentos focais com tamanhos variados e dispersamente distribuídos pelos cortes histológicos, assim caracterizando áreas onde era evidente a positividade da GSTP em núcleo e citoplasma, havendo áreas com contornos bem e áreas com contornos mal definidos (Tabela_1).

Ao se compararem os dois grupos, pôde-se observar que o número mediano de áreas GSTP positivas, apesar de ser nominalmente maior no grupo controle, não apresentou significância estatística. Além disso, tanto a área total GSTP positiva (TTAE), bem como o tamanho médio das áreas GSTP positivas (TMAE) não apresentou diferença significativa entre os grupos.

Assim, os dados deste estudo revelam uma semelhança nas áreas GSTP positivas observadas entre o grupo de ratos controle e o grupo de ratos tratados com fenobarbital.

DISCUSSÃO Os aspectos da promoção da carcinogênese química revelaram a presença de áreas focais características pré-neoplásicas tanto em ratos não tratados com fenobarbital, quanto em ratos tratados com essa droga desde o nascimento. Os ratos controle estiveram, por maior tempo, expostos à ação ambiental de possíveis agentes cancerígenos, o que poderia ter contribuído para o desenvolvimento de áreas focais iniciadas, de forma espontânea, positivas para o GSTP. Essas áreas, quando tratadas com fenobarbital, tendem a desenvolver-se e a tornarem-se áreas pré-neoplásicas focais, de características irreversíveis.

A administração crônica de fenobarbital causa inibição da mitose no hepatócito, porém sem qualquer citotoxicidade(8, 9). É possível que a ocorrência espontânea de células iniciadas também seja similar à ação de agentes promotores(7, 8).

Áreas pré-neoplásicas, expressando GSTP, podem ser encontradas em ratos não tratados com cancerígenos e o número de lesões aumenta com a idade. Ratos velhos são mais suscetíveis à ação carcinogênica da administração de agentes promotores(8, 17), embora haja contradição entre os autores(11). Em trabalhos prévios, após utilização de protocolo de iniciação da carcinogênese, a atividade de GSTP é significativamente aumentada em fígado de ratos púberes, assim como em adultos, quando comparados com animais controle não submetidos a processo de iniciação(10). Focos espontâneos aumentam com a idade e são mais visíveis em ratos machos(20). De igual importância é a ocorrência de células não iniciadas de forma espontânea como resposta a agentes promotores em condições semelhantes(7).

A perda de células iniciadas, na ausência de agentes promotores, pode resultar na remoção dessas células pela apoptose(7, 9, 13). Tanto a apoptose, quanto a proliferação celular estão relacionadas ao desenvolvimento de focos pré- neoplásicos e a inibição da apoptose pela ação de agentes promotores, incluindo o fenobarbital, sugerem um papel crítico na promoção tumoral(26). A ocorrência de neoplasias espontâneas em fígado de rato é muito rara e poderia depender da participação de um agente promotor como o fenobarbital. Estudos recentes revelam a estimulação do fator de crescimento TGF-beta em experimentos com fenobarbital(14).

A expressão de GSTP pode indicar hepatócitos iniciados na carcinogênese de fígado de ratos. Áreas pré-neoplásicas desenvolvem-se a partir de clone de uma única célula iniciada(7, 9, 20). Campos de hepatócitos isolados, expressando GSTP, têm sido detectados em ratos idosos, na administração de agentes carcinogênicos, o que sugere possam constituir uma população de hepatócitos possivelmente iniciados(7).

O crescimento clonal isolado de hepatócitos GSTP positivos, com a ação de um promotor, confirma o potencial papel precursor das áreas pré-neoplásicas e é evidência adicional do papel da GSTP como marcador de iniciação dos hepatócitos (7, 20). A regeneração e o crescimento celular rápido tendem a apresentar diminuição na adesividade celular, o que deve contribuir para a evolução do processo neoplásico(2).

Em fígados de ratos, o fenobarbital mostra diminuição no índice de crescimento de hepatócitos fora dos focos considerados pré-neoplásicos. Após administração de fenobarbital por períodos curtos ocorre aumento de síntese de DNA e mitoses, em áreas pré-neoplásicas. O mesmo não ocorre quando da administração crônica dessa droga(8). O fenobarbital aumenta a síntese de DNA com uma hiperplasia transitória, síntese de ácido ribonucléico (RNA), hipertrofia e proliferação do retículo endoplasmático liso e atividade microssomal aumentada. Em grupos experimentais submetidos a cancerígenos iniciadores, submetidos a dietas com fenobarbital, marcado aumento da carcinogênese hepática. Não existe, porém, evidência clínica experimental de que o fenobarbital seja intrinsecamente cancerígeno, sendo no entanto, reconhecidamente agente promotor da carcinogênese(19).

CONCLUSÃO O uso crônico de fenobarbital não alterou o número de áreas GSTP positivas.

Entretanto, os dados sugerem influência no tamanho médio de áreas GSTP positivas, com conseqüente aumento da superfície GSTP positiva, sendo este aumento provavelmente relacionado a maior capacidade evolutiva dessas lesões e possível irreversibilidade das mesmas.


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