Transdisciplinaridade na educação à distância: um novo paradigma no ensino de
Enfermagem
INTRODUÇÃO
As novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) vêm modificando o
paradigma do ensino/aprendizagem e das relações entre o indivíduo, o trabalho e
a sociedade como hoje os conhecemos(1-2). As inovações tecnológicas alcançadas
neste século foram de fundamental importância para a concretização do fenômeno
da globalização. No entanto, observa-se que a Enfermagem necessita de
diferentes competências para os processos de trabalho do enfermeiro, dentre
eles, a capacidade de buscar novos conhecimentos, trabalhando-os, divulgando-
os, nacional e internacionalmente, bem como a capacidade de produzir
conhecimento e tecnologia própria, desempenhando a profissão de forma
contextualizada e em equipe(3).
No campo da Enfermagem, a informatização surge como um alicerce para um salto
na qualidade da assistência, gerência e ensino, tornando interativa e dinâmica
cada fase do processo. A construção coletiva do conhecimento pode contribuir
para identificar melhores formas de fazer as coisas, conscientizando os
profissionais e melhorando a qualidade e a eficiência da prestação dos serviços
(2-3). Para isso, é preciso trabalhar no sentido de promover o inter-
relacionamento humano e de re-humanização do uso da tecnologia incorporada ao
trabalho(2,4).
Temos, então, a Educação à Distancia (EAD) como uma ferramenta de ensino e
aprendizagem extremamente adequada e desejável às demandas educacionais
decorrentes das mudanças da ordem mundial atual, tendendo, doravante, a se
tornar cada vez mais um elemento regular dos sistemas educativos, necessários
não apenas às demandas e/ou grupos específicos, mas assumindo funções de
extrema importância, especialmente, na educação da população adulta, o que
inclui o ensino superior(2,5).
Nesse sentido, o ensino à distância é a modalidade educacional de maior
inferência na sociedade moderna, em permanente mudança, exige que todos nós
estejamos engajados em um processo de educação permanente que perpassa ao longo
da vida. A educação convencional não consegue mais atender à demanda de
formação e atualização profissional no atual sistema. A evolução tecnológica
busca oferecer possibilidades na área da educação. Mas será que este ensino faz
mesmo diferença na construção do conhecimento? É uma evolução, como afirmam
alguns, ou questão de moda? Estamos vivendo em um mundo "líquido", isto sugere
a metáfora da liquidez para caracterizar o estado da sociedade de nosso tempo,
cuja característica é estar em processo de contínua mudança. Ao contrário da
"modernidade sólida", a "modernidade líquida", as instituições, os estilos de
vida, crenças e convicções mudam antes que tenham tempo de se solidificar em
costumes, hábitos e verdades "autoevidentes"(6).
Para desenvolver a educação à distância com suporte em ambientes virtuais e
interativos de aprendizagem, torna-se necessária a preparação de profissionais
que possam implementar e/ou utilizar plataformas de aprendizagem condizentes
com as necessidades educacionais, o que implica estruturar equipes
transdisciplinares constituídas por educadores, profissionais de design,
programação e desenvolvimento de ambientes computacionais para EAD, com
competência na criação, gerenciamento e uso desses ambientes(7).
As TICs são o veículo para transmissão, disseminação, transformação e criação
de conteúdos que podem estar ou não associados a uma tecnologia de ensino(8);
estão presentes na maioria dos campos da atividade humana, trazendo inúmeros
benefícios quanto à implementação e operacionalização das principais atividades
e processos realizados pelo homem. Assim que houve a disseminação do uso da
internet, diversas áreas têm procurado usufruir destes benefícios, fazendo com
que a informação se torne acessível(9).
Em relação ao ensino de Enfermagem, o uso das TICs ainda é incipiente. É
necessário que as Instituições de Ensino Superior adotem políticas de
investimento na capacitação tecnológica docente e discente, bem como na
implementação de infraestrutura para o desenvolvimento de projetos de EAD
estruturados em propostas pedagógicas que viabilizem a construção de
competências, habilidades e conhecimento nas áreas de tecnologia da informação
e de educação utilizando novas estratégias de ensino(4).
A sociedade atual sugere que o estudante seja alguém que busque construir seu
conhecimento, alguém flexível, que saiba lidar com as necessidades de maneira
criativa e que manifeste vontade de aprender, pesquisar e saber. Assim,
precisamos envolver professores e estudantes neste cenário e contextualizá-lo.
Para isto, é importante pensar sobre um projeto pedagógico dos cursos
superiores que contemple a perspectiva interdisciplinar e as TICs(10).
Diante do exposto, este artigo teve como objetivo refletir sobre a necessidade
da transdisciplinaridade na educação à distância em enfermagem.
UMA REVISÃO CONCEITUAL
Na Enfermagem brasileira, observa-se o crescimento da produção científica na
área de tecnologias com tendência em desenvolver ambientes virtuais de
aprendizagem a partir de pesquisas de mestrado e doutorado, com predomínio na
formação e na capacitação dos enfermeiros na área assistencial e na educação à
saúde da população(2,11).
À medida que a sociedade avança em direção a um modelo altamente especializado,
individualizado e competitivo na prestação de cuidado em saúde, é importante
refletir sobre os modelos de prática existentes, a fim de construir novos
modelos que sejam mais colaborativos, interativos, multicapacitantes e não
hierárquicos, ou seja, transdisciplinares. Jantsch, Vasconcelos, e Bibeau(12-
14) fazem uma detalhada classificação evolutiva das alternativas de interação
ou integração dos distintos campos disciplinares, e definem de maneira mais
contextual. Para os autores, pluridisciplinaridade implica a justaposição de
diferentes disciplinas científicas que, em um processo de tratamento de uma
temática unificada, efetivamente desenvolveriam relações entre si. Seria,
portanto, ainda um sistema de um só nível como na multidisciplinaridade, porém
os objetivos são comuns, podendo existir algum grau de cooperação mútua entre
as disciplinas(12-14),
A pluridisciplinaridade deve ser entendida como qualquer tipo de associação
entre duas ou mais disciplinas, não exigindo alterações na forma e organização
do ensino(15). Entretanto, o conceito de multidisciplinaridade aparece com
freqüência, ou como sinônimo de pluridisciplinaridade, ou em seu lugar(15).
Entende-se como interdisciplinaridade qualquer forma de combinação entre duas
ou mais disciplinas, objetivando-se a compreensão de um objeto a partir da
confluência de pontos de vista diferentes, e tendo como objetivo final a
elaboração de síntese relativa ao objeto comum(15). Uma visão interdisciplinar,
unificada e convergente implica estar presente tanto no campo da teoria como da
prática, seja essa prática da intervenção social, pedagógica ou de pesquisa.
Deste modo, a questão da interdisciplinaridade se aguça na área das ciências
humanas(16). Deve ser pensada como algo que se deve entender como mais do que a
pluridisciplinaridade e menos do que a transdisciplinaridade(17).
Transdisciplinaridade é o nível máximo de integração disciplinar que seria
possível alcançar, um esforço deliberado para re-ligação do saber fragmentado,
é o reconhecimento da interdependência de todos os aspectos da realidade, uma
grande relação e cooperação entre disciplinas diversas de tal forma que estas
compartilham um mesmo paradigma, um conjunto de conceitos fundamentais e/ou
elementos de um mesmo método de investigação"(15,12,18).
Está no cerne do caos criativo que a vivência transdisciplinar possibilita a
construção de estratégias de enfrentamento de problemas, passando também a ver
a sociedade sob um olhar integrativo e interativo, numa dimensão muito mais que
inter ou multidisciplinar, ou seja. Esse novo termo, principalmente em áreas de
educação e saúde, tem sido usado com freqüência cada vez maior na literatura
atual.
IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM
No Brasil, o ensino da Enfermagem já conta com diversas experiências utilizando
e produzindo softwares para estudantes de Graduação, com resultados positivos e
promissores, demonstrando boa aceitação por parte do público alvo e melhora no
processo ensino-aprendizagem. A maioria destes softwares busca instrumentalizar
os estudantes e capacitá-los a desenvolver atividades práticas, como exame
físico, preparo e administração de medicamentos, processo fisiológico do parto,
entre outros(2,19). O principal exemplo de utilização da EAD na Graduação em
Enfermagem é o uso de ambientes virtuais que favoreçam o processo de
aprendizagem, mas a inserção da Enfermagem na EAD ainda é incipiente, sendo
necessários capacitação docente e investimento em infraestrutura(4).
Esta modalidade de ensino apresenta grandes vantagens em relação ao ensino
formal, oferecendo maior flexibilidade e agilização do processo ensino-
aprendizagem por ser um sistema interativo de todos com um, um com todos e
todos com todos, ou seja, transdisciplinar favorecendo o trabalho em equipe e o
crescimento de todos os envolvidos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A EAD pode ser inteligente ou não, aproximar ou afastar professor/estudante.
Torna-se, portanto, necessário os questionamentos: que tipo de ferramentas deve
ser apresentado para uma aprendizagem significativa deste novo sujeito? Usarei
as ferramentas virtuais para que e por quê? Como essas ferramentas devem ser
elaboradas? Com o auxílio de quais profissionais? Em relação à educação em
Enfermagem, essa ferramenta deve ser voltada apenas para uma disciplina/curso
ou para todos os relacionados com o assunto?
Ao mesmo tempo, a EAD precisa ser vista com uma visão transdisciplinar, ou
seja, onde todos os profissionais (profissionais da área da informação e
comunicação, designers e educadores) trabalhem em equipe, interagindo entre si,
de forma que produzam material didático qualificado, atendendo às
características do perfil dos alunos da era contemporânea, ou seja, uma geração
digital, e às demandas do mundo do trabalho.