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BrBRCVHe0034-71672012000600014

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National varietyBr
Year2012
SourceScielo

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Baixa autoestima situacional em gestantes: uma análise de acurácia

INTRODUÇÃO A gestação é um período do ciclo vital que repercute significativamente sobre a autopercepção feminina e sobre sua relação com o mundo. As diversas modificações físicas e funcionais decorrentes da gravidez, sobretudo a partir do segundo trimestre, representam motivos de satisfação ou de insatisfação, de acordo com a concepção de cada gestante(1).

De uma maneira geral, os sentimentos negativos costumam aumentar com o avanço da gestação. Além disso, a instabilidade emocional resultante das mudanças hormonais pode repercutir em uma situação geradora de estresse. Para uma melhor adaptação da mulher a essas transformações e ao novo papel de mãe é necessária a aceitação do status de gestante, um fenômeno presente entre mulheres com autoestima elevada(2). Por outro lado, alterações psicopatológicas podem desencadear alterações fisiológicas(3).

A consulta de pré-natal é um momento oportuno para a avaliação da autoestima e do autoconceito da gestante, pois nela podem ser abordados problemas reais e potenciais associados ao período gestacional. Entretanto, a investigação destes aspectos junto a gestantes tem sido deficiente, e um dos motivos talvez seja a subjetividade das respostas psicológicas que dificulta o desenvolvimento de planos de cuidados específicos.

Uma abordagem específica da Enfermagem relacionada à autoestima é a avaliação da presença do diagnóstico de enfermagem Baixa autoestima situacional, contemplado pela Taxonomia II da NANDA Internacional (NANDA-I). A Baixa auto- estima situacional e o Risco de baixa autoestima situacional reportam-se a sentimentos negativos sobre si e suas próprias capacidades em resposta a uma situação atual(4).

Alguns estudos com foco em diagnósticos de enfermagem em gestantes têm sido desenvolvidos(5-6). Contudo, ainda uma carência de estudos que retratem as respostas psicológicas da mulher frente às alterações decorrentes da gestação.

Estudos voltados para a acurácia de características definidoras contribuem para o desenvolvimento de uma melhor inferência diagnóstica podendo repercutir diretamente na qualidade da assistência.

Não foi encontrada na literatura uma tecnologia para avaliar as características definidoras do diagnóstico citado, demonstrando a escassez de pesquisas na enfermagem relacionadas à autoestima e aos seus respectivos diagnósticos. No entanto, a Rosenberg Self-Esteem Scale (RSES) foi considerada pertinente para este propósito, pois se trata de um dos instrumentos mais utilizados para a avaliação da autoestima global(7).

A RSES é uma escala do tipo Likert, composta por dez afirmativas com quatro opções de resposta: concordo totalmente, concordo, discordo e discordo totalmente. Sua finalidade é classificar o nível e autoestima a partir de uma autoavaliação do indivíduo acerca dos sentimentos negativos e positivos a respeito de si mesmo, ressaltando questões de satisfação pessoal, autodepreciação, percepção de qualidades, competência, orgulho por si, autovalorização, respeito e sentimento de fracasso(8). A pontuação total da escala pode oscilar entre 10 e 40, de maneira que quanto maior a pontuação, maior a autoestima.

Desta forma, este estudo teve como objetivo identificar a acurácia das características definidoras do diagnóstico de enfermagem Baixa autoestima situacional e verificar a sensibilidade e especificidade da RSES para a identificação do mesmo em gestantes.

MÉTODOS Estudo transversal desenvolvido junto a gestantes acompanhadas em um centro de atendimento familiar, pertencente a uma universidade federal. Este serviço oferece acompanhamento pré-natal e prevenção ginecológica às mulheres da área adstrita realizados por enfermeiros.

Para o cálculo do tamanho amostral utilizou-se a fórmula para populações finitas, partindo de uma população de 208 gestantes cadastradas na unidade de saúde (número levantado mediante consulta aos registros). Atribuíram-se coeficiente de confiança de 90%, erro amostral de 10% e prevalência do evento de 50% devido à impossibilidade de se definir a quantidade de pessoas com o diagnóstico em estudo. Obteve-se um número de 52 gestantes na amostra, selecionadas de forma consecutiva à medida que buscavam atendimento no centro onde o estudo foi desenvolvido e atendiam aos critérios de seleção.

O estudo utilizou como critérios de inclusão o cadastro da gestante no centro e período gestacional a partir do segundo trimestre. Os critérios de exclusão foram: desorientação ou sequelas neurológicas e a história de depressão autorrelatada. A anuência ao estudo foi concedida, após o esclarecimento dos objetivos da pesquisa, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição responsável pela pesquisa, sob o protocolo 168/09.

A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista em sala privativa.

Utilizou-se um instrumento desenvolvido com base na NANDA-I(4) e na RSES(9).

Vale ressaltar que esta escala foi submetida à adaptação transcultural(8) e possui confiabilidade comprovada em estudos para a avaliação da autoestima de gestantes(10-11).

Utilizou-se a RSES para a identificação das características definidoras propostas pela NANDA-I, correlacionando-se cada característica a uma afirmativa da escala, com exceção de "Comportamento indeciso" e "Expressões de desamparo", que foram analisadas isoladamente. Das dez afirmativas presentes na RSES, foram selecionadas cinco, que tinham maior correlação com as características definidas pela NANDA-I para o diagnóstico de interesse (Tabela_1).

Considerou-se que as características definidoras estavam presentes quando a entrevistada concordava ou concordava totalmente com a respectiva afirmativa na escala de Rosenberg, com exceção de "Relata verbalmente desafio situacional atual ao seu próprio valor", que foi categorizada como presente nos casos de discordância ou discordância total em relação à afirmativa correspondente na escala.

A avaliação da característica "Comportamento indeciso" foi executada por meio da pergunta: "Você tem dificuldade para tomar decisões ultimamente?", enquanto "Expressões de desamparo" foi avaliada perguntando-se: "Você se sente desamparada ou sem alguém para te apoiar nas dificuldades?". Ambas as características foram consideradas presentes quando a resposta era "sim" ou "às vezes".

Além da aplicação da RSES, o instrumento contemplou dados de identificação e dados obstétricos. Com base nas recomendações para análise da acurácia diagnóstica(12-13), os resultados da coleta foram analisados pelos autores do estudo, cumprindo as etapas de raciocínio diagnóstico para a definição da presença do diagnóstico de interesse bem como de suas características definidoras.

Os dados foram analisados com apoio do software R versão 2.12. Dados sócio- demográficos, obstétricos e as respostas referentes às características definidoras de interesse foram considerados variáveis independentes, enquanto o diagnóstico de enfermagem em estudo foi considerado variável desfecho, a partir dos dados relacionados à pontuação final da escala e pela avaliação do especialista.

Procedeu-se à apresentação dos resultados em tabelas, sendo utilizado o teste de Kolmogorov'Smirnov para verificação da normalidade. Realizou-se análise descritiva com a apresentação de percentuais, medidas de tendência central e de dispersão. Na análise inferencial foram aplicados os testes de Qui-quadrado, para verificar a associação entre as variáveis, ou o teste de Fisher, quando as frequências esperadas eram menores que cinco. Para estimativa da magnitude do efeito foram calculadas as razões de prevalência e seus intervalos de confiança de 95%. As análises de diferença de média e mediana foram realizadas utilizando-se o teste t e o teste de Mann-Whitney, respectivamente. Medidas de sensibilidade, especificidade, valor preditivo, razão de verossimilhança, odds ratio diagnóstica, acurácia e área sob a curva ROC das características definidoras do diagnóstico de interesse foram analisados para a investigação da acurácia, sendo definido o ponto de corte de 80%. O nível de significância para as inferências estatísticas foi estabelecido em 0,05.

RESULTADOS A média de idade das mulheres avaliadas foi de 22,21 anos (DP = 4,88), sendo que 28,8% delas eram adolescentes. Em relação ao estado civil, 88,5% eram casadas ou moravam com o companheiro. Quanto à escolaridade, foi obtida uma mediana de 10 anos de estudo, contados a partir do primeiro ano do ensino fundamental, correspondente a ensino médio incompleto. A renda per capita média foi de R$186,02 (DP = 119,29) e 82,7% das gestantes estavam desempregadas.

Em relação aos dados obstétricos, a maioria das mulheres (53,8%) tinha menos de 26 semanas de gestação, sendo a média de 25,9 semanas. A altura uterina média foi de 25,7 cm. A gravidez foi referida como não planejada em 63,5% dos casos.

Do total, 46,1% eram primigestas e 63,4% fizeram pelo menos duas consultas de pré-natal (mediana de duas consultas). O número de multigestas correspondeu a 53,85% das mulheres e o de nulíparas a 51,9%. Sete gestantes (13,4%) referiram aborto anterior sendo, um destes, induzido (14,2%).

Tabela_2

As características definidoras com frequência superior a 40% foram: "Comportamento indeciso" (55,8%) e "Expressões de desamparo" (40,4%). A análise estatística evidenciou que gestantes que apresentavam a característica definidora "Comportamento não assertivo" também apresentavam idade gestacional média maior (p = 0,009), altura uterina também maior (p = 0,023) e comparecimento a um maior número de consultas de pré-natal (p = 0,023). Estas duas últimas diferenças de médias estão diretamente relacionadas à idade gestacional. Com relação à característica "Relata verbalmente desafio situacional ao seu próprio valor" observou-se que sua presença estava relacionada a uma renda per capita média menor (p = 0,041). Gestantes que apresentavam a característica "Verbalizações autonegativas" apresentavam tempo médio de escolaridade (p = 0,034). As demais variáveis não apresentaram significância estatística. Para uma investigação mais aprofundada, procedeu-se a análise da associação entre o diagnóstico de interesse e cada característica definidora (Tabela_3).

Todas as características definidoras apresentaram associação estatisticamente significante com o diagnóstico de enfermagem (p < 0,05), exceto "Relata verbalmente desafio situacional ao seu próprio valor" (Tabela_3). A razão de prevalência mostra que gestantes com "Comportamento indeciso" e "Comportamento não assertivo" apresentaram uma probabilidade três vezes maior de desenvolver Baixa autoestima situacional. a característica definidora "Verbalizações autonegativas" esteve associada a um aumento em quatro vezes da prevalência do diagnóstico. As características "Expressões de desamparo" e "Expressões de sentimento de inutilidade" se relacionaram a um aumento de seis e oito vezes, respectivamente, da probabilidade da presença do diagnóstico.

Com relação à análise da acurácia das características definidoras do diagnóstico de interesse, os melhores índices de sensibilidade foram obtidos pelas características "Comportamento indeciso" e "Expressões de desamparo", ambas com 82,35%. Estas também apresentaram bom poder preditivo negativo. As características com maior especificidade foram "Expressões de sentimento de inutilidade" e "Relata verbalmente desafio situacional atual ao seu próprio valor", ambas com 94,29%. O melhor poder de predição para a presença do diagnóstico (VPP) foi da característica "Expressões de sentimento de inutilidade" (86,67%). Esta, também, foi a única que apresentou valores preditivos positivo e negativo elevados, área sob a curva ROC acima de 80% eodds ratiodiagnóstica mais elevada (44,39). as características "Comportamento indeciso", "Comportamento não assertivo", "Expressões de desamparo" e "Verbalizações autonegativas" se destacaram com valores negativos altos.

Tabela_4

DISCUSSÃO O perfil sócio-demográfico da amostra estudada, composta por 52 gestantes, evidencia uma maior concentração de mulheres jovens, adolescentes, vivendo com companheiro, desempregadas, com escolaridade equivalente ao ensino médio incompleto e possuindo renda média de R$186,02. Este perfil é típico das populações que habitam bairros da periferia das cidades brasileiras, onde se concentram famílias com baixo poder aquisitivo. Estima-se que, atualmente, 22,4% das gestantes cadastradas no Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) são adolescentes, em concordância com o presente estudo(14).

Os achados referentes ao desemprego e à baixa renda podem ser correlacionados à idade das avaliadas, tendo em vista que prevaleceram adolescentes que eram estudantes. Estudos mostram que jovens, com menos de quatro anos de estudo, tendem a engravidar mais cedo e que o abandono dos estudos é frequente nestes casos(15). Nestas situações, é comum que haja uma preocupação e uma mobilização dos familiares para resolver as adversidades, sobretudo quando o companheiro não tem disponibilidade para tal(16).

Das gestantes avaliadas, 46,1% eram primigestas e 51,9% eram nulíparas. Estes resultados são representativos da redução da média do número de filhos por mulher na idade reprodutiva (taxa de fecundidade), fenômeno que vem ocorrendo no Brasil(14).

O diagnóstico de enfermagem Baixa autoestima situacional esteve presente em 32,7% das gestantes. É notória a escassez de pesquisas na enfermagem relacionadas a este diagnóstico, de maneira que não foram encontrados estudos que identificassem a prevalência deste, nem de suas características definidoras.

O comportamento assertivo é uma característica relacionada à afirmação social e à capacidade de defender os próprios direitos e de expressar as ideias de maneira honesta(17). Autores correlacionam o comportamento assertivo com uma alta autoestima(18), o que vai ao encontro dos achados do presente estudo, visto que as gestantes que tinham a característica "Comportamento não assertivo" apresentaram uma probabilidade três vezes maior de desenvolver Baixa autoestima situacional.

A característica definidora citada anteriormente também mostrou relação com idade gestacional avançada, aumento da altura uterina e maior comparecimento às consultas de pré-natal. Este achado é explicável tendo em vista que são elementos que caracterizam um estágio mais avançado da gravidez, marcado por mudanças mais visíveis que podem repercutir negativamente na autoestima. Outros estudos apontam, de maneira similar, uma pior autoestima entre mulheres com 28 semanas de gestação ou mais(10,19).

O valor próprio se baseia na percepção a respeito das próprias habilidades, realizações, posição social, recursos financeiros ou atributos físicos(17).

Esse conceito se relaciona com os resultados do presente estudo, visto que as mulheres que apresentaram a característica definidora "Relata verbalmente desafio situacional atual ao seu próprio valor" demonstraram menor renda per capita. Ademais, essa característica apresentou uma elevada especificidade.

Conforme apresentado nos resultados, a característica "Expressões de sentimento de inutilidade" apresentou os melhores valores entre os vários índices estudados. Esta característica deve ser considerada como uma das que melhor podem auxiliar o enfermeiro na detecção de baixa autoestima em gestantes.

As "Verbalizações autonegativas" se destacaram entre as gestantes com menor escolaridade e representaram um aumento em quatro vezes da prevalência de Baixa autoestima situacional. A baixa escolaridade é considerada um dos principais fatores de risco para a depressão gestacional, por estar relacionada, na maioria das vezes, a um cenário de pobreza, falta de apoio, despreparo e abandono por parte do parceiro, acarretando problemas de ordem psicológica, afetiva e social(20). Neste ponto, a característica definidora "Expressões de desamparo" apresentou elevada sensibilidade e valor preditivo negativo alto, além de aumentar em seis vezes a probabilidade do desenvolvimento do diagnóstico estudado.

A característica definidora "Comportamento indeciso" foi a mais prevalente, fato que chamou atenção, tendo em vista que 88,5% das gestantes apresentavam um relacionamento estável, contrariando o que a literatura aponta, isto é, que relacionamentos instáveis aumentam a indecisão das gestantes(21). É importante salientar que esta característica demonstrou alta sensibilidade e representou um aumento em três vezes da probabilidade do desenvolvimento de Baixa autoestima situacional.

Por fim, a literatura aponta que mulheres com baixa autoestima têm 39 vezes mais chances de apresentar sintomas depressivos quando comparadas a mulheres com alta autoestima(22). Portanto, pesquisas que avaliem a autoestima em gestantes são de suma importância, como medidas de prevenção da depressão pós- parto.

Neste ponto, vale ressaltar a importância do enfermeiro, enquanto membro da equipe de saúde da família, na identificação das situações de baixa autoestima e na oferta de suporte às gestantes com esta problemática. É inerente à consulta de enfermagem a investigação das respostas do organismo materno à gestação e dos problemas reais ou potenciais, ações que são potencializadas quando boa interação, confiança e credibilidade durante a assistência(23).

CONCLUSÃO O estudo possibilitou identificar a prevalência do diagnóstico de enfermagem Baixa autoestima situacional em gestantes e a acurácia das características definidoras deste (mediante a avaliação da sensibilidade e da especificidade); e subsidiou a avaliação do uso da escala de Rosenberg como ferramenta para a identificação do referido diagnóstico.

Os resultados podem contribuir com a identificação de problemas psicossociais durante o pré-natal. Considerando-se que o estudo foi realizado apenas com gestantes, as informações encontradas devem ser vistas com parcimônia. Além disso, ainda é pouco conhecida a real influência de muitas características definidoras como preditores deste diagnóstico.

As gestantes adolescentes e com menor nível econômico são, notadamente, susceptíveis a complicações psicológicas como a Baixa autoestima situacional.

Este fato mostra que pesquisas sobre intervenções de enfermagem direcionadas a este diagnóstico são particularmente importantes. A identificação de características definidoras acuradas é fundamental para uma sistematização eficaz da assistência, visto que contribui para tornar os diagnósticos da Taxonomia NANDA-I mais claros, facilitando o uso destes pelos enfermeiros.


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