Avaliação das competências de professores de enfermagem para desenvolver
programas educativos para adultos
INTRODUÇÃO
O processo de educação de adultos sempre esteve articulado às transformações
sociais, à evolução do homem, à percepção que este tem sobre si e de seu
amadurecimento. A Andragogia é uma teoria que surgiu nesse contexto e esse
termo consagrou-se em 1968, quando Malcom Shepherd Knowles passou a utilizá-lo
para nomear a teoria e a prática da educação de adultos(1-4).
Nos países latino-americanos, o uso da Andragogia iniciou-se com o projeto da
Fundação W. K. Kellogg, denominado "Uma Nova Iniciativa na Formação dos
Profissionais de Saúde: União com a Comunidade - UNI", que estimulou o
intercâmbio de metodologias de ensino entre países latino-americanos, a partir
da década de 1990(5), abrangendo cursos de enfermagem. Pesquisas sobre a
andragogia na saúde e na enfermagem demonstraram que se trata de um tema
impactante e que deverá se manter em destaque no futuro(6-7).
Em 1981, Knowles publicou um instrumento denominado - "Escala de Classificação
Autodiagnostica para a Educação de Adultos", com base em três categorias de
competências que o professor deveria desenvolver para atuar com adultos: a de
facilitador da aprendizagem, de desenvolvedor e a de administrador de programas
educativos para adultos(4). No presente texto, será abordada a competência dos
professores para desenvolver programas educativos para adultos.
A categoria competências para desenvolver programas educativos para adultos se
subdivide em dois domínios - compreender o planejamento do processo e planejar
e aplicar programas. Nesse nível de administração, os professores
administradores são responsáveis por desenvolver programas, materiais,
técnicas, professores (nas competências para a educação de adultos) e
pesquisas, em geral, de forma a promover o acréscimo de conhecimento no campo
da educação de adultos(8).
Desenhar programas educativos na perspectiva andragógica é uma tarefa que
requer preparo e experiência e comporta um processo bastante diferente da
pedagogia tradicional que costumeiramente é utilizada na educação de adultos.
Além disso, ensinar é um dos processos de trabalho do enfermeiro, e esse
processo é sustentado por leis, decretos e diretrizes que recomendam a
formação, a educação permanente de enfermeiros e a adaptação constante às
mudanças e à vida em sociedade. O professor, nessa perspectiva, deve deter
competências inclusive para desenvolver programas educativos para a educação de
adultos.
Diante do exposto, questiona-se: o enfermeiro docente de escolas de nível
superior paulistanas domina as competências necessárias para desenvolver
programas educativos para adultos na perspectiva andragógica?
Vale ressaltar que o índice de crescimento de escolas de formação de
enfermeiros no Brasil aumentou consideravelmente desde 1990. Conforme dados do
Ministério da Educação (MEC)(9), de 1991 a 2004, em São Paulo, houve
crescimento de 263,3% no número de cursos e, como consequência, o número de
docentes aumentou para atender à demanda. Questiona-se se esse aumento súbito
foi suficiente para estimular esses docentes a se formarem com as competências
necessárias para educar adultos, na graduação em enfermagem. Acrescenta-se que,
de 2004 a 2007, houve crescimento de 39,3% de estudantes e de 34,8% de cursos
em todo território brasileiro(10), o que também pode ter impulsionado a busca
pela formação docente.
A estrutura das escolas também é uma preocupação, uma vez que os dados do MEC,
com relação ao Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), permitiu
observar que há problemas na formação de enfermeiros, visto que a média geral
da Enfermagem (31,9%) foi inferior à média geral da Saúde (32,3%), em 2004(11).
O comportamento do Enade(10)de 2007 foi semelhante ao de 2004: o resultado
geral mostrou que o rendimento médio geral ficou abaixo do desejado, indicando
situação preocupante e necessidade de reflexão sobre a efetividade das práticas
educativas. As notas do Enade objetivam refletir o desempenho dos estudantes e
o grau de domínio das diversas competências, saberes e conteúdos previstos nas
Diretrizes Curriculares Nacionais(11). Notas baixas podem indicar formação
profissional de enfermeiros aquém das recomendações do MEC e das competências
necessárias para atuar profissionalmente. Mais tarde, essa formação certamente
irá se refletir negativamente no desempenho dos processos de trabalho do
enfermeiro, sendo que sua formação só pode se dar, com qualidade, em escolas
que tenham essa preocupação.
Escolas que promovem boa formação são representadas por pessoas que desejam
ensinar (docentes) e outras que desejam aprender (alunos); por esse motivo,
olhar para o professor e para as competências que este deve deter, no contexto
atual, é tão importante. Bons enfermeiros são formados por docentes
competentes, no caso, que detenham, entre outras, as competências para
desenvolver programas educativos para a aprendizagem de adultos.
Por fim, ressalta-se que há, na literatura brasileira, poucos estudos que
abordem competências de professores para desenvolver programas educativos para
a educação de adultos. Na Enfermagem, não há estudos que mensurem as
competências de professores enfermeiros que atuam na graduação de enfermagem na
perspectiva andragógica, com esse foco. Assim, justifica-se a realização da
presente pesquisa.
A presente pesquisa teve como objetivos: 1) Caracterizar a população de
enfermeiros docentes de enfermagem que atuavam em cursos presenciais de
graduação em enfermagem no município de São Paulo, em 2010; 2) Identificar como
o enfermeiro docente de enfermagem avaliou as competências que possui para
desenhar programas educativos para adultos e quais considerava ideal ter.
MÉTODO
Estudo descritivo e comparativo, transversal, com abordagem quantitativa, que
foi desenvolvido junto aos cursos de Graduação em Enfermagem, presenciais,
autorizados e em funcionamento no município de São Paulo, em 2010. Segundo
dados do MEC(12), nesse ano havia 27 cursos nessa condição, concordando em
participar do presente estudo 20 instituições de ensino superior.
A população do estudo compreendeu enfermeiros professores de cursos de
graduação presenciais em Enfermagem que estavam localizados e funcionando no
município de São Paulo; que possuíssem, no mínimo, um curso de graduação
presencial em Enfermagem com pelo menos dois anos de funcionamento e estivesse
em atividade, e autorizassem, por meio de seus diretores/coordenadores, a
abordagem do corpo docente. Os docentes que compuseram a população assinaram o
termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE); não estavam afastados de
suas atividades e exerciam a atividade docente por um período superior a seis
meses.
O projeto obedeceu à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do
Ministério da Saúde (MS), de 1996, tendo sido submetido ao Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP),
sendo aprovado sob o número 1620/10.
O contato com o corpo docente partiu da informação dos coordenadores dos cursos
sobre o número total de docentes, somando 653 sujeitos. Foram distribuídos 653
questionários e retornaram 226 (34,61%) instrumentos respondidos e com TCLE
assinados.
O instrumento de coleta de dados foi composto de duas partes: dados de
caracterização da população e escala de medida tipo Likert, sobre competências
para o papel do educador/instrutor de adultos. A escala utilizada foi proposta
e testada por Malcom Shepherd Knowles, e a permissão de seu uso é garantida sem
limitações(1). Denominado "Escala de Classificação Autodiagnóstica de
Competências para o Papel do Educador de Adultos", o instrumento se compõe de
três agrupamentos de competências que somam 54 asserções. O agrupamento para
desenvolver programas educativos para adultos se compõe dos domínios - I -
compreensão do planejamento do processo com quatro habilidades e II -
planejamento e aplicação de programas, com cinco habilidades.
A cada descrição de habilidades correspondia uma escala de medida de seis
gradações, em que o docente sujeito da pesquisa anotou, utilizando a letra "A",
o ponto em que avaliava se encontrar atualmente, e a letra "D", onde desejava
estar. Tratou-se de uma autoavaliação sobre as competências atuais e desejadas
do professor, para desenvolver programas educativos.
A coleta de dados se iniciou em junho de 2010, após a obtenção da autorização
dos diretores/coordenadores dos cursos e mediante a assinatura do TCLE, pelos
docentes, e encerrou-se em fevereiro de 2011.
As informações foram coletadas por meio do instrumento descrito e transcritas
para um banco de dados construído com a ferramenta Excel®, composto por 119
colunas, com os dados de caracterização da população e resultados da escala.
Depois de preenchido o banco, os dados da planilha foram transportados para
software para tratamento estatístico denominado Minitab® versão 16. No presente
texto, apenas os dados de caracterização da população e a parte da escala
referente às competências em foco foram relatados. Os demais podem ser aferidos
na obra de Draganov(13).
A análise dos dados de caracterização da população do estudo empregou
estatística descritiva - frequência simples (número absoluto) e relativa
(porcentagem), medidas de tendência central e de variabilidade, ou seja, média,
mediana, desvio padrão, valor mínimo e máximo.
Os dados da Escala de Avaliação Autodiagnóstica para o Papel de Educador de
Adultos foram tratados em três etapas, com foco no desenvolvimento de programas
educativos: 1) Os níveis atual e desejado dos docentes enfermeiros para cada
habilidade que compõe um domínio da competência em foco, 2) Os níveis atual e
desejado dos docentes enfermeiros para cada um dos domínios da competência em
foco e 3) Os níveis atual e desejado dos docentes enfermeiros de todos os
domínios de uma vez. Assim, cada linha da escala foi tratada separadamente,
utilizando estatística descritiva - soma, proporção (%), média, desvio padrão,
mínimo, mediana e máximo e, após, para a comparação entre os níveis de
competência atual ("A") e desejado ("D"), utilizou-se o teste não paramétrico
de Wilcoxon para a primeira e segunda etapa, e Friedman para a terceira. O
índice de significância, que determinou se o grau de diferença entre elas era
ou não relevante, foi considerado para os valores de P < 0,05 ou 5%.
Os dados que resultaram da análise descrita acima foram confrontados com a
literatura científica sobre o assunto para discussão dos resultados.
RESULTADOS
Os professores tinham entre 27 e 67 anos, sendo que 119 (52,65%) tinham entre
41 a 55 anos e era, na maioria, 198 (87,61%), do sexo feminino. Uma boa parte,
158 (69,91%), trabalhava de 31 a 40 horas semanais e tinha de seis a 10 anos de
docência. 176 (77,88%) atuavam em disciplinas teóricas e práticas. 122 (53,98%)
se formaram em escola pública, 201 (88,94%) fizeram especialização,
principalmente em Educação, Administração e Saúde Materno-infantil, 180
(79,65%) fizeram mestrado, principalmente em Enfermagem em Saúde do Adulto e
também em Administração, 77 (34,07%) professores eram doutores, principalmente
em Enfermagem, apenas 3 (1,33%) declararam serem livres-docentes e 28 (12,39%)
cursaram outra graduação. Esses dados podem ser observados nas Tabelas_1 e 2.
Os resultados permitiram identificar que, com relação à competência de
desenvolvedor de programa, no domínio compreensão do planejamento do processo
(denominado por I na Figura_1), a maior habilidade e também o maior desejo
esteve em descrever e executar os passos básicos (estabelecer clima, avaliar
necessidades, formular objetivos do programa, desenho e execução do programa e
avaliação) do planejamento na educação de adultos (média A1 = 2,79 e média D2 =
4,58), e a menor habilidade e menor desejo foram para usar estratégias de
análise de sistemas em planejamento de programas (média A= 2,37 e média D=
4,43).
![](/img/revistas/reben/v66n4/a12fig01.jpg)
1 A - atual 2 D - desejado
Com relação ao domínio planejamento e aplicação de programas (denominado por II
na Figura_1), a menor habilidade esteve em construir desenhos de programas para
atender às necessidades de diversas situações (treinamento de habilidades
básicas, desenvolvimento de supervisores, gerentes e desenvolvimento
organizacional) (média A = 2,43), e a maior habilidade em desenvolver e
executar plano de avaliação de programas de ensino (média A = 2,68). O maior
desejo esteve em desenhar programas com variedade criativa de formatos,
atividades, sequenciais, recursos e métodos avaliativos (média D = 4,62), e o
menor desejo esteve em usar mecanismos de planejamento tais como conselhos,
comitês e forças-tarefa (média D = 4,44).
A relação entre as questões de cada domínio permitiu identificar, pela relação
entre média e mediana de cada um, que os docentes estavam aquém do que
desejavam alcançar (índice de significância 0,000), concentrando as respostas,
na escala, em três para atual e cinco para desejado.
A Figura_1 indica que, na comparação entre os domínios das competências para
desenvolver programas, os índices de significância não demonstraram relevância
(P (A) = 0,112 e P (D) = 0,375).
DISCUSSÃO
Trata-se predominantemente de uma população feminina, de meia idade, com pós-
graduação, que atua em regime de aproximadamente 40 horas semanais e que
ministra disciplinas teóricas e práticas. A Enfermagem apresenta predominância
de mulheres e era esperado que os professores dessa área fossem desse sexo. O
fato de boa parte ser de meia idade pode relacionar-se à necessidade da
docência de nível superior requerer experiência profissional prática prévia e
exigência de pós-graduação para ingresso nessa carreira. Terem se formado em
escola pública pode estar relacionado a oportunidades de desenvolvimento
vinculadas à escola pública onde o docente cursou graduação que, geralmente,
tem tradição em pesquisa e pós-graduação. A quantidade de horas semanais
corresponde à jornada de trabalho da maioria dos trabalhadores brasileiros e
atende aos requisitos legais.
Os resultados dos dados sobre a titulação dos sujeitos dessa pesquisa
apresentaram compatibilidade com a prescrição da Lei das Diretrizes e Bases da
Educação Nacional nº 9394/96 e o Decreto nº 2.207/97(14). Isso posto, entende-
se que os professores são legalmente qualificados para o exercício da docência,
pois atendem aos requisitos exigidos de formação. Nesse contexto, o que
qualifica o professor para o exercício da docência é a pós-graduação estrito
senso e, nesse aspecto, o mundo acadêmico revela o valor maior que dá às
atividades de pesquisa, em comparação com as atividades de ensino.
Os saberes da docência são distintos dos da pesquisa, e os primeiros são menos
valorizados na cultura universitária. Assim, o professor segue modelos
profissionais de docentes de sua história pessoal, isto é, tem como base as
experiências que teve ao longo de sua formação estudantil. Essa condição
desfavorece inovações, pois são raros os professores que vivenciaram, como
alunos, experiências inovadoras(15).
Para as competências para desenvolver programas de educação de adultos, que
serão discutidas a seguir, para todos os domínios, a maior parte dos
professores declarou desempenho moderado e desejo máximo de desenvolver-se.
A. Competência para desenvolver programas de educação de adultos
Compreensão do planejamento do processo
Esse domínio reúne quatro habilidades. A maioria dos professores declarou
habilidade atual moderada e desejo máximo nas tarefas sobre descrever e
executar o processo andragógico (preparar o aluno, estabelecer clima, avaliar
as necessidades, formular objetivos, desenho e execução do programa e
avaliação), envolver representantes dos alunos no planejamento de programas e
desenvolver e usar instrumentos e procedimentos de avaliação das necessidades
de indivíduos, organizações e sociedade. Entretanto, os professores assinalaram
deter menor habilidade para usar estratégias para analisar sistemas envolvendo
planejamento de programas educativos. Análise de sistemas é uma ferramenta
utilizada para desenvolver programas que envolve o desenho de fluxos, esquemas
e diagramas por vezes altamente complexos e que incluem cálculos matemáticos
avançados. Grande parte dos professores não desenvolve atividades de elaboração
de projetos educativos, não detendo habilidades mais complexas nesse campo.
Por outro lado, construir, efetivar e avaliar projetos é prática rotineira na
atividade docente universitária, que tem, na pesquisa, uma de suas funções
predominantes. Para "projetar", enfermeiros são preparados nos programas de
pós-graduação senso estrito, e isso é parte essencial da caminhada acadêmica
(16).
Em algumas instituições, os professores são envolvidos em projetos de
disciplinas, porém grande parte não colabora com a construção de projetos
políticos pedagógicos, ficando isso sob a responsabilidade de grupos restritos
de professores e coordenadores de cursos. Talvez por esse motivo, os docentes
declararam não dominar com intensidade esse agrupamento de habilidades.
Vale ressaltar que professores devem dominar desenhos de programas de ensino
para adultos que especifiquem o quê, onde e quando ensinar, bem como a
sequência lógica do processo e o conteúdo que deve ser baseado em competências
básicas, valores e ética, e voltados para a prática(17).
Nesse rol de habilidades também se destaca a importância em se considerar, no
desenvolvimento de programas, as características do aluno e de grupos
heterogêneos que compõem as salas de aula que, por vezes, comportam indivíduos
advindos de culturas diversas. Para populações heterogêneas ou culturalmente
diferentes, como é o caso da população de alunos com quem os docentes
participantes do presente estudo desenvolvem o processo de ensino-aprendizagem,
há que se ajustar o programa à cultura dominante e estabelecer suporte social
para que o aluno se adapte ao programa e o programa a ele. Isso significa
humanizar o ensino. A Andragogia tem aproximação com a humanização por
considerar a heterogeneidade dos alunos, privilegiando as experiências
anteriores e a aplicação imediata do que se aprende, de modo a transformar a
realidade do aprendiz(18).
Planejamento e aplicação de programas
Esse domínio reúne cinco habilidades. A maioria dos professores declarou
domínio atual moderado e desejo máximo, nas tarefas para desenvolver desenhos
de programas que atendessem a diversas situações (treinamentos de habilidades
básicas, desenvolvimento de professores, supervisores e organizacional), com
variedade criativa de atividades, formatos, recursos e métodos, habilidade para
usar conselhos, comitês e força-tarefa, e para avaliar o programa e atender aos
requisitos institucionais.
O desenho de programas de ensino deve considerar os objetivos dos alunos, da
instituição e da sociedade. A Andragogia comporta características de adultos
que favorecem o estímulo e o desejo de aprender, sob a ótica da autodireção, em
que o aluno é sujeito de seu aprendizado, que se motiva e se desenvolve a
partir da concretização de suas conquistas. O aluno deve ser estimulado a
atender à demanda social, e a instituição, por sua vez, deve transformar-se
continuamente, para fazer a ponte entre o aluno e a sociedade(1).
Processos andragógicos envolvem desenhos de programas ecléticos, criativos e
variados, que estimulem a capacidade do aluno para se adaptar às mudanças,
gerar novos conhecimentos e melhorar continuamente seu desempenho. Isso irá se
refletir em práticas focadas em processos, com metas flexíveis e não
prescritivas(19).
Sob a ótica andragógica, professores devem facilitar a aprendizagem de modo que
o aluno alcance resultados e competências. A facilitação está diretamente
relacionada aos métodos escolhidos. Nesse contexto, alunos são responsáveis por
selecionar métodos que facilitem sua aprendizagem e, para atender a esse
requisito, estes devem assumir papel ativo em sua aprendizagem. Uma das
dificuldades de programas educativos é mensurar a performance e níveis de
competências adquiridos, e uma das maneiras de fazer isso é considerar os
conhecimentos, as habilidades técnicas, objetivos alcançados e habilidades para
o gerenciamento do tempo. Programas educativos com base na aquisição de
competências facilitam a autoavaliação da performance do aluno, pois aproximam
a teoria da prática e estimulam o processo de reflexão, que impulsiona o desejo
de estar constantemente aprendendo para conquistar maior autonomia e novas
competências(20).
B. Comparação entre as competências dos domínios para desenvolver programas de
educação de adultos
Para o desenvolvimento de programas educativos, a menor habilidade esteve em
construir desenhos de programas para atender às necessidades de diversas
situações (treinamento de habilidades básicas, desenvolvimento de supervisores
e gerentes) e a maior habilidade em desenvolver e executar plano de avaliação
de programas de ensino. O maior desejo esteve em desenhar programas com
variedade criativa de formatos, atividades sequenciais, recursos e métodos
avaliativos, e o menor desejo foi usar mecanismos de planejamento tais como
conselhos, comitês e força-tarefa. Com isso, pode-se concluir que a maior parte
dos docentes sabe executar suas ações educativas de maneira pedagógica
tradicional e que transmitir a condução do aprendizado para o aluno ainda é
algo pouco explorado e pouco experenciado. Consultar comitês de alunos implica
em reconhecer essa autonomia, o que grande parte dos docentes ainda não está
pronta para fazer, justamente porque a pedagogia tradicional não prescreve
essas ações.
A comparação entre os domínios desse rol não foi significante estatisticamente,
nem para o estado atual nem para o desejado, mostrando que os professores não
viram diferença entre um domínio e outro, e que experenciaram essas
competências menos que as de facilitação da aprendizagem, embora tenham
declarado possuir habilidade moderada para as tarefas. Os docentes devem ser
treinados para desenvolver esse papel. Geralmente essa tarefa fica a cargo de
professores administradores que desenvolvem equipes e essa tarefa ainda não é
comum, na maior parte das escolas de formação de enfermeiros.
As iniciativas dos órgãos reguladores do ensino superior para avaliação
institucional têm a proposta de envolver os professores no desenvolvimento e
administração de programas, mas, ainda assim, o distanciamento dessas tarefas é
significativo e facilmente observável, nos resultados do presente estudo. O
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) propõe a avaliação
sob uma perspectiva formativa e com suporte para a formação de professores(9).
O Sinaes tem, por objetivo, analisar as instituições, os cursos e o desempenho
dos estudantes. O processo de avaliação pretende levar em consideração aspectos
como ensino, pesquisa, extensão, responsabilidade social, gestão da instituição
e corpo docente. O Sinaes reúne informações do Exame Nacional de Desempenho de
Estudantes (Enade), das avaliações institucionais e dos cursos. As informações
obtidas devem ser utilizadas para orientação institucional de estabelecimentos
de ensino superior e para embasar políticas públicas. Os dados também podem ser
úteis para a sociedade, especialmente aos estudantes, como referência quanto às
condições de cursos e instituições(11). Na realidade, embora a avaliação de
programas educativos seja do cotidiano das escolas, a proposta do sistema de
avaliação Sinaes ainda é um devir, pois não atende, em sua plenitude, ao que
propõe. Assim, fica explicado o perfil de respostas dos docentes pesquisados
para esse conjunto de competências.
CONCLUSÕES
O presente estudo avaliou as competências para desenvolver programas educativos
para adultos, dos docentes que atuavam em cusos de graduação de enfermagem
paulistanos, por meio da Escala de Classificação Autodiagnóstica de
Competências Andragógicas para o Papel do Educador de Adultos, desenvolvida por
Malcom Shepherd Knowles(4).
O instrumento demonstrou que é capaz de avaliar o perfil dos professores com
relação às competências para atuar na educação de adultos e pode ser empregado
em outros estudos. É desejavel a realização de outros estudos que pretendam
replicar essa pesquisa em outras realidades, pois podem dar um panorama
ampliado desta característica, o que poderia contribuir consideravelmente para
os cursos de formação de professores, visto que há poucos referenciais nessa
área, que é carente e necessita de avanços.
Os sujeitos do estudo eram predominantemente mulheres maduras, formadas em
escolas públicas, mestres, com jornada de trabalho de 40 horas semanais, que
atuavam entre 6 a 10 anos na docência, em disciplinas teóricas e práticas.
Com relação às competências para desenvolver programas educativos para adultos,
os docentes declararam tê-las mais para compreender o planejamento de programas
de ensino do que planejá-los e aplicá-los. Sobre o desejo de desenvolver-se
nesse rol de competências para desenvolver programas, os sujeitos declararam
interesse contrário, ou seja, desejar mais planejar e aplicar programas
educativos do que compreender o planejamento de programas educativos.
Em resumo, o grupo de docentes sinalizou, de maneira geral, estar em nível
intermediário em comparação ao máximo que desejava atingir dos agrupamentos de
habilidades de facilitador de aprendizagem, ou seja, grande parte dos docentes
enfermeiros que atuavam na graduação em Enfermagem no município de São Paulo em
2010 encontrava-se distante do ideal de nível máximo de competência que
almejava. Assim, como esse grupamento valoriza e influencia consideravelmente o
sucesso da aprendizagem na Enfermagem, sugere-se a intervenção nos processos de
formação e aperfeiçoamento do professor de enfermagem, nessas competências,
para a melhoria do ensino.
A análise global dos resultados indicou ainda que, antes que qualquer
intervenção que considere a Andragogia como fundamento para a formação de
professores seja implementada, há que se mensurar o nível atual de competências
desses indivíduos. Isso foi feito na presente pesquisa justamente porque não
há, na Enfermagem, mensurações de competências na perspectiva andragógica
proposta por Malcom Shepherd Knowles.
Os limites desse estudo devem ser considerados pelos leitores e pesquisadores,
visto que se trata se um trabalho realizado em escolas e agrupamentos de
professores característicos da cidade de São Paulo e que não cabem em outras
realidades diferentes desta.
Considera-se, no entanto, que o estudo será útil para facilitar o planejamento
de programas para desenvolvimento individual e institucional de professores e
de instituições de ensino estudadas, e para os administradores, com relação às
competências relevantes para aumentar a performance de docentes e atender
melhor os alunos.