Dificuldades vivenciadas pelo enfermeiro na utilização de indicadores de
processos
INTRODUÇÃO
Atualmente, com o intuito de se manterem economicamente viáveis, os hospitais
têm que se adequar aos parâmetros legais cabendo ao gestor hospitalar escolher
o modelo de gestão mais apropriado à realidade da instituição. Dentre os muitos
modelos gerenciais, o de Gestão pela Qualidade tem recebido atenção por
destacar a qualidade no atendimento, indispensável na área da saúde, que requer
na sua essência a gestão por processos baseada em informações, análises,
controle e aperfeiçoamento.
É impossível trabalhar com gestão da qualidade sem a compreensão dos
referenciais do Modelo Donabediano, que descreve um tripé de sustentação de
qualquer organização, composto de "estrutura" (características estáveis das
instituições: área física, recursos humanos, materiais, financeiros e o modelo
organizacional), "processo" (conjunto de atividades desenvolvidas na produção
em geral, nas relações estabelecidas entre profissionais e usuários dos
serviços - desde a busca de assistência até o diagnóstico e o tratamento) e
"resultado" (características dos produtos ou serviços, cuja qualidade se traduz
nos efeitos na saúde do cliente e da população)(1).
A Gestão da Qualidade tem como princípio a gestão por processos devido a sua
eficiência na busca pela satisfação dos clientes e melhoria contínua de suas
tarefas de trabalho, administrando-as de modo a defini-las, descrevê-las,
analisá-las, documentá-las e melhorá-las permanentemente e de maneira
interligada(2). E, para se tornar eficiente, as principais atividades e etapas
do processo necessitam de constante avaliação, realizada por meio da utilização
dos indicadores que traduzam a qualidade esperada nas tarefas de cada etapa do
processo assistencial(2). Essa qualidade dos processos hospitalares é
averiguada pela Acreditação Hospitalar através de instituições avaliadoras
certificadas pela Organização Nacional de Acreditação (ONA).
Nesse cenário, o mercado de trabalho exige do enfermeiro o seu aperfeiçoamento
na utilização de instrumentos de gestão, como bases ideológicas e teóricas de
administração e prática do gerenciamento de recursos, no que se refere às metas
da instituição, à sua equipe de trabalho, e aos seus clientes. Porém, ainda não
foram produzidos modelos capazes de padronizar a gestão de informação nos
hospitais, sendo preciso que cada instituição desenvolva sua capacidade e
competência em utilizar os indicadores, fazendo da gestão da informação um
processo dinâmico e inerente ao serviço(3-4).
Há o entendimento da dificuldade de eleger os sistemas de avaliação, bem como
os indicadores de desempenho institucional adequados para apoiar a gestão
hospitalar, traduzindo a necessidade dos administradores hospitalares e
profissionais da área de aprofundar os estudos sobre o assunto(5).
Com isso surgiu a necessidade de entender como o enfermeiro utiliza essa
ferramenta, considerando que, no contexto em que o estudo foi realizado, a
Irmandade Nossa Senhora das Mercês de Montes Claros - MG, é possível afirmar
que tem sido difícil a utilização segura e adequada de indicadores na prática
de enfermagem, quer pela carência de melhor qualificar os enfermeiros para esta
ferramenta, quer pela necessidade de se estabelecer indicadores precisos e que
sejam de fácil mensuração e análise, e que, ao mesmo tempo, possam trazer
respostas para a melhoria assistencial, buscando fortalecer nesses
profissionais a necessidade de se capacitar técnica e cientificamente para
atingir uma maior qualidade nos serviços de enfermagem, ou que os habilite a
transformar os dados coletados em informações gerenciais.
Este estudo teve por finalidade identificar a(s) dificuldade(s) vivenciada(s)
pelo enfermeiro da Santa Casa de Montes Claros - MG em utilizar indicadores de
processos assistenciais, sejam esses indicadores pertencentes a qualquer fase /
etapa do processo. Ou seja, não é intenção do estudo abordar os tipos de
indicadores e suas variáveis, mas, sim, de investigar as dificuldades inerentes
à sua utilização, mapeando a informação sobre o tema recebida por esses
profissionais durante a sua graduação e no mercado de trabalho, e ainda,
verificar os obstáculos enfrentados para o envolvimento da equipe de enfermagem
na coleta dos indicadores, fundamental para qualquer tomada de decisão para
melhoria da assistência ao cliente.
REVISÃO DE LITERATURA
Atualmente é inaceitável a ideia de cuidar do outro sem qualidade, que nada
mais é do que colocar o cliente em posição de destaque em todos os processos
assistenciais, atendendo-o da melhor maneira possível e isso apenas se faz
praticável por meio de uma interligação dos processos e da estrutura
institucional, capaz de fornecer a melhor assistência ao paciente(6).
Como qualidade é um conceito abstrato, ela vem sendo definida de diversas
maneiras, de acordo com as necessidades de cada empresa e dos seus objetivos
para se trabalhar dentro de padrões reconhecidos. Assim, todas as significações
se complementam, representando a qualidade como um termo de excelência, de
valor, de conformidade a critérios a serem seguidos e de satisfação dos
clientes usuários dos serviços de saúde(4).
A preocupação com a Gestão de Qualidade é remota, sendo que seu auge é
considerado no pós-guerra de 1945, quando se viu desenvolvida nas indústrias
japonesas. Vagarosamente, essa preocupação com a qualidade foi sendo absorvida
pelo setor saúde no final da década de 1960(6).
No momento presente, há vários dispositivos legais reguladores da prática
assistencial, todos com objetivo comum de fornecer parâmetros e incentivos para
a prestação de uma assistência segura e com qualidade pelas instituições de
saúde. Merece destaque o Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar,
constituído por um conjunto de regras, normas e procedimentos relacionados com
a certificação da qualidade dos serviços prestados pelas instituições de saúde.
Criado em 1998, após vários estudos dos manuais internacionais e nacionais
obteve-se um consenso entre pesquisadores para se atingir os padrões de
avaliação dos serviços de saúde que seriam comuns a todos eles. Um ano após,
foi criada a ONA, uma organização não governamental com atuação nacional
responsável por iniciar a implantação das normas técnicas e o credenciamento
das instituições acreditadoras, além da capacitação dos avaliadores e
aprimoramento da qualidade da assistência da saúde em todo o Brasil(7).
Os dados obtidos com a utilização de um instrumento validado servem de
marcadores da qualidade, pois permitem avaliações subsequentes, possibilitando
os reajustes nas metas que almejam a melhor qualidade possível, melhorando
atuação gerencial(8).
Assim, torna-se necessário que o enfermeiro desenvolva habilidades na área de
administração em enfermagem, abandonando a visão de que gerenciar é menos
importante que cuidar do paciente, uma vez que não é possível existir um
cuidado desvinculado da coordenação desse processo(3).
Ainda não há na literatura uma concordância de ideias quanto à definição e
classificação dos indicadores de qualidade, mas é possível verificar uma
tendência em distinguir entre as dimensões estrutura, processo e resultados da
qualidade, conforme a formulação clássica de Donabedian, citada acima. E assim,
realizar estudos que analisem o processo assistencial por meio de mensurações
de resultados com os indicadores, que nada mais são do que "sensores que
auxiliam a verificar se os objetivos propostos foram ou não alcançados"(4,6).
A importância da utilização dos indicadores pelas empresas se justifica na
necessidade de acompanhamento e mensuração dos seus resultados, da verificação
do alinhamento desses com os objetivos da instituição, além da possibilidade de
avaliação das ações planejadas para o alcance das metas(9). Todas essas razões
são aplicáveis à área hospitalar, devendo o enfermeiro deter tal conhecimento.
Os indicadores são essenciais para o processo de tomada de decisão, pois
oferecem informações seguras acerca da empresa, e ao utilizá-lo o profissional
da enfermagem deve ter certeza do que medir, e quais são os requisitos
escolhidos para serem trabalhados(9).
Existe uma deficiência na seleção dos indicadores pelos administradores
hospitalares, pois na grande maioria dos casos, ela não é realizada consoante
às estratégias da instituição, mas simplesmente utilizados conforme solicitação
da Secretaria de Saúde ou pelo uso rotineiro, desconsiderando as necessidades
do gestor, a literatura científica e a importância das discussões internas e
experiências anteriores(5).
A escolha dos indicadores ou a sua elaboração pressupõe determinados
conhecimentos, exigindo uma sequência lógica (item de controle, maneira de
expressão, tipo, fonte de informação, método, amostra, responsável, frequência,
objetivo) na sua formulação, além do conhecimento dos clientes internos e
externos e as suas necessidades(10).
O Hospital da Irmandade Nossa Senhora das Mercês de Montes Claros-Santa Casa,
com o objetivo de acompanhar os novos modelos de saúde, buscou reestruturação
de seus serviços, em setembro de 2005, vislumbrando trabalhar com a gestão por
processos, buscando intercâmbio e melhor interação entre os diversos setores e
processos institucionais. O objetivo dos administradores da instituição era
gerenciá-la como uma verdadeira empresa, formada por um conjunto de processos
administrativos e médico-hospitalares direcionados para a "condição de saída do
paciente, cuja qualidade ao final depende da efetividade e eficiência de cada
um"(11).
Com a reestruturação, o hospital foi dividido em várias gerências, sendo que a
Assistencial, na qual se encontra a enfermagem, foi composta por seis áreas com
o objetivo de realizar um controle sistemático e eficiente da qualidade de seu
processo. Essa alteração organizacional tornou inadiável a medição de
desempenho e análise do ambiente interno, pois é através de medições que se
controlam e analisam as ações dos colaboradores(12), o que foi realizado em
todas as unidades da instituição.
Mas, antes de iniciar o novo modelo de gestão e a consequente utilização dos
indicadores, os gestores realizaram uma série de treinamentos ministrados por
uma empresa credenciada pela ONA como Instituição Acreditadora responsável pela
Avaliação e Certificação de Qualidade das Organizações Prestadoras de Serviços
de Saúde.
A citada Instituição Acreditadora, após realizar um diagnóstico situacional da
Santa Casa, baseado no Manual de Acreditação Hospitalar da ONA, executou
treinamentos para todos os gerentes, enfermeiros e chefes de clínicas médicas
com foco principal no desenvolvimento da qualidade e segurança do atendimento
dos clientes/pacientes, obtidos por meio da organização e interligação de todos
os processos internos hospitalares, sendo assim introduzidos na instituição os
princípios básicos para se trabalhar com indicadores.
Posteriormente, os treinamentos foram organizados e conduzidos pelo Escritório
da Qualidade e as dúvidas desse sanadas com consultores. Porém, é sabido que na
maioria dos treinamentos e consultorias, são repassados modelos teóricos ideais
para ser utilizado, o modus operandi é deixado totalmente sob a
responsabilidade da empresa contratante surgindo, assim, as dificuldades de
utilização prática das ferramentas.
Findados os treinamentos, cada gestor reuniu-se com sua equipe de trabalho para
delineamento do seu processo e definição dos indicadores principais para
trabalharem a qualidade e melhoria de suas tarefas e atividades. Diante dessa
realidade, os enfermeiros necessitaram aprender a trabalhar com indicadores,
surgindo dificuldades para a incorporação dessa prática na ação, quer
assistencial, quer gerencial do enfermeiro.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo exploratório e descritivo, de abordagem quantitativa. A
pesquisa descritiva consiste na descoberta e observação de fenômenos procurando
descrevê-los, classificá-los e observá-los. Por conseguinte, esse tipo de
pesquisa descreve as características de determinada população ou fenômeno ou
estabelecimento de relações entre variáveis e, em alguns casos, a natureza das
relações(13-14).
O cenário de estudo desta pesquisa foi a Irmandade Nossa Senhora das Mercês de
Montes Claros - Santa Casa, na cidade de Montes Claros - MG, caracterizada como
um hospital geral de referência em toda região do Norte de Minas Gerais e Sul
do Estado da Bahia composto por 320 leitos de cunho filantrópico sem fins
lucrativos, 50 cargos e mais de 1.100 funcionários, sendo que desse total, 65%
são da área de enfermagem que possui 06 enfermeiras que ocupam cargo gerencial
e 36 atuantes diretos da assistência ao cliente, totalizando 42 enfermeiras
(os).
A população da pesquisa foi constituída por 40 enfermeiros que atuam em todos
os setores assistenciais e unidades gerenciais, prestadores diretos ou
indiretos de cuidados ao paciente e que, concomitantemente, necessitam utilizar
indicadores para avaliação de resultados dos processos assistenciais.
O instrumento para a coleta de dados constituiu-se de um questionário que
englobava questões fechadas e alguns itens abertos que permitiram registrar as
opiniões dos enfermeiros dentro do contexto. As perguntas foram respondidas com
a mesma ordem e opção de resposta pelos participantes(15). É importante
ressaltar que, para verificar a viabilidade do questionário, o mesmo foi
previamente testado por meio de um pré-teste antes da coleta de dados, sendo os
erros encontrados corrigidos através da escala de Likert.
A coleta de dados foi realizada pela própria autora, no período de junho a
agosto de 2009, no setor de trabalho de cada participante, onde os pesquisados
foram instruídos sobre os objetivos e importância da pesquisa, assim como a
forma de preenchimento do questionário.
O estudo foi submetido aos Comitês de Ética da Universidade Estadual de Montes
Claros e da Universidade Federal de São Paulo, que avaliou e aprovou a sua
realização, com registro no Sisnep com CAAE nº 1887/08. Todos os sujeitos
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os dados foram armazenados em bancos de dados, tabulados em índices percentuais
e testes paramétricos com o auxílio de profissional da área. A análise dos
dados foi dividida em duas etapas: descrição da população dos enfermeiros e
análise das dificuldades de utilização dos indicadores por esses profissionais.
Na primeira, as variáveis numéricas foram descritas por meio de medidas de
tendência central e de variabilidade (média, mediana e desvio-padrão) e as
variáveis categóricas (qualitativas) trabalhadas através de frequências
absolutas e relativas. São exemplos dessas variáveis: gênero, idade, anos de
conclusão da graduação, tipo de faculdade (pública ou privada), tempo de
trabalho e cargo ocupado na Instituição e titulação (Especialista Mestre ou
Doutor). Já na segunda etapa, as variáveis foram agrupadas por similaridade e
apresentadas em frequências relativas, por se tratar de variáveis de natureza
qualitativa relacionadas às dificuldades do enfermeiro em utilizar indicadores.
Nas análises estatísticas, utilizou-se o teste não paramétrico do Qui-quadrado
de Pearson e o Coeficiente de Correlação de Sperman, com nível de significância
0,05. Para tabulação, descrição e análise dos dados utilizou-se o software SPSS
14.0.
RESULTADOS
A instituição onde o estudo foi realizado possuía na época da coleta de dados
42 enfermeiros integrantes da Gerência Assistencial, sendo que dois foram
excluídos do estudo por não aceitarem colaborar com a pesquisa.
Sobre o tempo de trabalho na Santa Casa, observou-se que 60,0% dos
participantes da pesquisa trabalhavam na instituição há mais de um ano e menos
de cinco, e que 22,5% dos enfermeiros foram admitidos há menos de um ano,
contrapondo com apenas 17,5% que estavam na instituição há mais de cinco anos.
O grupo era formado predominantemente por profissionais do sexo feminino (85%),
com tempo de formação inferior a três anos (50%), advindos principalmente de
entidades privadas de ensino superior (52%) e recém-inseridos no mercado de
trabalho. Embora 50% dos enfermeiros fossem graduados há menos de três anos,
apenas 30% desses receberam informações sobre indicadores na graduação.
Quanto à utilização de indicadores de processo como ferramenta para se avaliar
a qualidade dos resultados do processo assistencial, constatou-se que 70,0% dos
enfermeiros tiveram seu primeiro contato com indicadores na instituição onde o
estudo foi realizado e os demais, ou estudaram o tema na graduação (17,5%) ou
na pós-graduação (12,5%). Observou-se que 77,5% dos participantes da pesquisa
não haviam tido nenhum tipo de contato teórico ou prático com o tema durante a
graduação. Ainda, considerando todos os enfermeiros integrantes do estudo,
94,9% relataram dificuldades para utilização de indicadores de processo. A
relação entre o contato com indicadores e tempo de graduação encontra-se na
Tabela_1.
Abordando especificamente as dificuldades vivenciadas pelo enfermeiro na
utilização de indicadores, esse profissional pôde escolher durante a pesquisa
entre mais de uma alternativa citada como dificuldade e ainda, acrescentar
alguma outra ou outras não relacionadas no questionário, mas que o mesmo
vivenciou como sendo um fator dificultador para utilização da ferramenta.
O instrumento da coleta de dados considerou o tempo em que os profissionais
estão na instituição para analisar se havia ou não diferença, em relação às
dificuldades para utilizar indicadores de processos.
O presente estudo investigou a qualidade das informações transmitidas ao
enfermeiro no processo de implantação da utilização de indicadores, sendo
constado que 72,5% dos enfermeiros consideraram entre boa a muito boa a
qualidade das informações recebidas para se trabalhar com indicadores.
Quando abordado o enfermeiro sobre a importância da utilização de indicadores
para avaliar a qualidade dos processos assistenciais, 62,5% consideraram a
ferramenta extremamente importante e 27,5% muito importante; as demais
categorias, pouca importância e importante, perfizeram juntas 10%. Quando esse
profissional foi questionado se a utilização de indicadores é capaz de melhorar
as ações assistenciais da equipe de enfermagem, 57,5% consideraram que o
trabalho melhora de modo extremamente importante as ações da equipe, 27,5%, de
modo muito importante, 12,5% de maneira importante e 2,5% consideram de pouco
importância.
Quanto à coleta de dados realizada pela equipe de enfermagem, indagou-se ao
enfermeiro sobre a qualidade da coleta realizada por sua equipe, constatando-se
que 47,5% a consideram de boa a muito boa qualidade, 44,7% acham que a
qualidade é de regular a ruim e 7,5% não opinaram, por não terem essa
experiência. Boa parte dos enfermeiros participantes da pesquisa (52,5%)
considerou a equipe de enfermagem um agente facilitador para a coleta de dados,
contra 42,5% dos enfermeiros que a acharam dificultador e indiferente. Já a
sensibilização da equipe para o alcance das metas pactuadas conforme os dados
obtidos para contribuir com a melhoria da assistência de enfermagem Tabela_2.
DISCUSSÃO
Os dados obtidos demonstraram que a qualificação do enfermeiro relativa à
Gestão da Qualidade e por Processos, que trabalham com a mensuração dos
resultados assistenciais e não assistenciais dentro de uma unidade hospitalar,
está inadequada. O enfermeiro deveria ter se familiarizado com o tema em sua
graduação por meio das disciplinas de Administração/Gerenciamento dos Serviços
de Saúde, visto que a preocupação com a Gestão de Qualidade é mundial e se
originou em 1945, se intensificando no setor saúde no final da década de 1960
(6), mas o mesmo não ocorreu nas universidades formadoras dos profissionais
pesquisados.
O próprio Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar, criado desde 1998 para
se atingir padrões de qualidade dos serviços de saúde, no qual é inserida a
necessidade e importância de se trabalhar com indicadores, ainda não é
discutido em algumas graduações, o que demonstra que o período de dez anos é
insuficiente para a mudança em determinados cursos de enfermagem(7).
Quanto à dificuldade em utilizar indicadores para avaliar a qualidade dos
resultados de processos assistenciais, constatou-se que 94,9% dos enfermeiros
participantes relataram algum tipo de dificuldade ao iniciar o trabalho com
essa ferramenta.
Resultado confirmado em outro estudo quando o autor coloca que apesar do
desenvolvimento da utilização de indicadores nos últimos anos, ainda não foram
produzidos modelos capazes de padronizar a gestão de informação nos hospitais
devendo cada instituição desenvolver suas competências na utilização de
indicadores(2).
Assim, é razoável reconhecer que nem sempre o enfermeiro possui esse
conhecimento, resultando em dificuldade para a utilização adequada de
indicadores para mensurar a assistência de enfermagem. Essa dificuldade,
entretanto, pode trazer desvantagens para a instituição, uma vez que os
indicadores não são apenas uma ferramenta de controle, mas, principalmente, uma
maneira sistematizada de melhor compreender e conhecer a realidade
organizacional, além de analisar a validade das estratégias definidas pela
empresa(15).
Quando é revelado pela pesquisa que 77,5% dos participantes não tiveram nenhum
tipo de contato teórico e/ ou prático com o tema durante a sua graduação, não
sendo o conteúdo contemplado nos currículos da maior parte dos estabelecimentos
de ensino, encontra-se uma das razões da dificuldade do enfermeiro em utilizar
indicadores, que necessita ser urgentemente revista pelos cursos de graduação.
Esse resultado em muito se parece com o obtido em outro estudo(16), em que, da
amostra estudada, 84% nunca havia trabalhado com indicadores em outras
instituições, demonstrando que essa equipe iniciou o aprendizado e
desenvolvimento do trabalho juntamente com o hospital, o que denota a
inicialização das pesquisas.
Ao se analisar especificamente as dificuldades apontadas pelos enfermeiros como
fatores intervenientes na utilização de indicadores, as alternativas mais
citadas foram, em ordem decrescente: acúmulo de atividades privativas do
enfermeiro dentro da instituição (61,5%), falta de conhecimento teórico e
prático do tema (46,2%), pouco conhecimento da Gestão por Processo (43,6%),
pouco envolvimento da equipe na coleta de dados (30,8%), falta de conhecimento
prático do tema (20,5%), falta de conhecimento teórico do tema (17,9%), falta
de acompanhamento dos gestores durante a implantação da utilização de
indicadores (12,8%).
Com relação ao acúmulo das atividades que a instituição determina como sendo de
realização exclusiva do enfermeiro dentro do hospital, apontadas como principal
causa dificultadora de se trabalhar com indicadores, é preciso refletir sobre
essas atividades e analisá-las criticamente reorganizando o processo de
trabalho desse profissional dentro de suas unidades de trabalho. Pois, essas
atividades estão em desacordo com as privativas da regulamentação legal da
categoria profissional e torna custosa a ação do enfermeiro gerenciar os
indicadores de seu setor, tanto na coleta, análise e divulgação dos mesmos para
a sua equipe de trabalho.
Abordando a dificuldade de se trabalhar com indicadores devido à falta de
conhecimento teórico e prático do tema, segunda maior dificuldade entre os
enfermeiros participantes do estudo, retoma a discussão anterior sobre a
formação acadêmica dos profissionais recém-formados, mas também aponta para a
necessidade constante do aperfeiçoamento e atualização daqueles já inseridos no
mercado de trabalho. Afinal, é o mercado de trabalho que exige do enfermeiro a
sua capacitação para trabalhar com ferramentas administrativas e práticas do
gerenciamento de recursos para se alcançar às metas da instituição(3).
A terceira maior dificuldade para utilização de indicadores foi o pouco
conhecimento teórico sobre a Gestão por Processo, sendo as causas desse, os
mesmos itens acima abordados sobre o processo de formação e aperfeiçoamento
profissional. Aperfeiçoamento esse que perpassa a utilização de ferramentas
administrativas, aqui em voga a gestão por processos, eleita pela Acreditação
Hospitalar, por sua eficiência na busca contínua pela qualidade da assistência
prestada ao cliente, sempre focando os processos(2).
A quarta maior dificuldade em utilizar indicadores para melhoria da qualidade
da assistência apontada pelos enfermeiros foi o pouco envolvimento da equipe na
coleta de dados, o que já era de se esperar, até mesmo os administradores
hospitalares possuem dificuldades para trabalhar com essa ferramenta(5). Isso
não podia ser diferente com a equipe de enfermagem, principalmente com
auxiliares e técnicos, pois, até o momento, só lhes era cobrado o fazer, o
executar tarefas sem nenhuma visão do impacto que elas ocasionavam na qualidade
da assistência aos clientes. Trata-se da mudança de cultura e filosofia de toda
uma vida de trabalho baseada no cuidar sem se preocupar com a importância do
administrar e participar dessa administração definindo metas e ações para
alcançá-las.
Por fim, outra dificuldade apontada nos resultados do estudo foi a falta de
acompanhamento dos gestores da instituição durante a implantação da utilização
de indicadores demonstrando que apenas o conhecimento teórico sobre o assunto
não foi suficiente para solucionar dúvidas e minimizarem as dificuldades,
afinal, existe um consenso entre os administradores da complexidade de se lidar
com indicadores, existindo dificuldades desde a escolha do sistema de avaliação
até os tipos de indicadores mais adequados a realidade institucional(5). Porém,
ao se analisar a opinião dos pesquisados sobre as orientações recebidas à época
da implantação ou a sua inserção na instituição para utilização dos
indicadores, 72,5% consideraram que a orientação foi de boa a muito boa.
A pesquisa teve a preocupação de verificar, junto aos enfermeiros que
participaram do estudo, o que os mesmos achavam da importância da ferramenta
para avaliar a qualidade dos processos assistenciais de sua equipe de trabalho,
mesmo diante das dificuldades em utilizá-la, sendo o resultado encontrado
extremamente positivo, visto que 97,5% consideraram o uso de indicadores de
importante a extremamente importante.
Vê-se assim, uma mudança de cultura por detecção da importância de uma mudança
no fazer por fazer, mas fazer com planejamento e visão crítica de todo o
processo assistencial, pois também 97,5% dos participantes da pesquisa
acreditam que a utilização de indicadores é capaz de melhorar as ações
assistenciais da equipe de enfermagem. Ideia reforçada em outros estudos, que
afirmam existir a necessidade de cada instituição desenvolver sua capacidade
para incorporar e utilizar indicadores, obtidos por meio de uma coleta de dados
segura e com qualidade(4).
Outro fator pesquisado foi a sensibilização da equipe para o alcance das metas
pactuadas a partir dos indicadores, observando-se que a grande maioria dos
enfermeiros (67,5%) considerou a equipe técnica de enfermagem sensibilizada de
forma boa a muito boa para o alcance das metas. O que é muito importante para
se atingir a excelência desejada dentro da instituição, pois é necessário
compreender as pessoas e suas percepções para depois discutir a qualidade,
enquanto produto do trabalho dessas, e nunca se esquecendo de valorizá-las e
envolvê-las no processo de mudança capaz de alcançar a melhoria da qualidade
dos serviços(17). Afinal, o envolvimento dos colaboradores da instituição é a
força que viabiliza o alcance de resultados satisfatórios dos processos de
trabalho e, o que é mais importante, garante a prestação de uma assistência de
enfermagem segura, com qualidade e humanizada.
CONCLUSÕES
A análise dos resultados permitiu afirmar que 94,9% dos enfermeiros
participantes relataram algum tipo de dificuldade ao iniciar o trabalho com
essa ferramenta, sendo uma das principais causas relacionadas a essa
dificuldade, o acumulo de atividades privativas do enfermeiro dentro da Santa
Casa, o que demanda a necessidade de se refletir sobre as demais atividades
desse profissional e, se necessário, reorganizar seu processo de trabalho. É
preciso, também, citar o fato de alguns cursos de graduação em enfermagem
precisarem se atualizar quanto ao assunto, pois, em dez anos, desde a criação
da ONA até os dias atuais, a mudança foi insuficiente para as exigências do
mercado, que cada vez avança mais.
Outro ponto que necessita ser destacado é o de não existir no mercado modelos
prontos para se trabalhar com indicadores, bem como enfermeiros formados com
conhecimento suficiente para trabalhar com indicadores de processo, já que o
tema não é contemplado nos currículos da grande parte das instituições de
ensino. Fato que necessita causar inquietação para alterações nos cursos de
graduação.
Porém, comprovou-se que apesar das dificuldades encontradas em utilizar
indicadores, a grande maioria dos enfermeiros consideraram o uso dessa
ferramenta de importante a extremamente importante, o que demonstra a
conscientização desse profissional das exigências do mercado e da necessidade
de atualizações.
Mas, o mais importante foi a comprovação do envolvimento dos colaboradores da
equipe de enfermagem com o alcance das metas pactuadas por meio dos
indicadores, fazendo com que a excelência da assistência seja alcançada mais
facilmente, apesar dos obstáculos que, com certeza, ainda virão. Havendo
vontade, tudo é possível de ser alcançado e realizado, e a vontade já existe
instituição.