Uso de medicamentos por pessoas idosas na comunidade: proposta de ação de
enfermagem
INTRODUÇÃO
O processo de envelhecimento populacional no Brasil, no que diz respeito às
implicações sociais e de saúde pública, vem sendo muito discutido. Busca-se
compreender o aumento da população idosa, evidenciando a problemática e
estabelecendo medidas para satisfação das necessidades de saúde dessa população
(1).
As mudanças na faixa etária da população direcionam as transformações no perfil
epidemiológico, indicadas pela elevação das doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT), como hipertensão, diabetes, neoplasias, demências, entre outras, que
são problemas contínuos e que, para o tratamento, necessitam de equipe
especializada e recursos materiais com especificidades e em grande quantidade
(2).
As DCNT são as que mais contribuem para o aumento no número de fármacos a serem
utilizados pelos idosos, pois exigem tratamento longo e com diferentes
medicamentos ao mesmo tempo. As classes farmacológicas mais utilizadas nessa
faixa etária são aquelas direcionadas aos problemas do sistema cardiovascular,
do trato alimentar e metabolismo e do sistema nervoso(2-3).
O risco de eventos adversos e de interações medicamentosas é proporcional ao
número de fármacos consumidos. Os problemas relacionados com medicamentos, ou
seja, situações em que há um resultado negativo associado ao seu uso, são
comuns entre as pessoas idosas e estão principalmente relacionados com a
polifarmácia(4), uso de cinco ou mais medicamentos concomitantemente por um
período mínimo de uma semana(3).
Os riscos em relação ao uso de medicamentos são mais elevados nas pessoas
idosas, quando comparados aos da população mais jovem. Isso ocorre devido às
alterações específicas do envelhecimento, que refletem na vulnerabilidade, no
que se refere às interações medicamentosas, aos efeitos colaterais e às reações
adversas, na população idosa(2).
Nesse contexto, torna-se dever do enfermeiro prevenir eventos adversos e
garantir a segurança no processo de uso de medicamentos em idosos. Para
assegurar esses aspectos é essencial o amplo conhecimento dos enfermeiros
acerca do modo de ação, reações adversas e interações dos medicamentos(5).
O cuidado de enfermagem à pessoa idosa que vive na comunidade é desenvolvido
principalmente através da atuação dos profissionais da Enfermagem que atuam na
Estratégia de Saúde da Família (ESF). A ESF foi estabelecida pelo governo
federal na inserção do Sistema Único de Saúde e apresenta a relevância do
contexto familiar e espaço social como foco na assistência à saúde, em todas as
faixas etárias(6), dentre elas aquela relacionada às pessoas idosas, com 60
anos e mais.
A ESF no contexto familiar visa à realização de ações de prevenção de doenças e
promoção de saúde. Essas ações permitem a interação entre os sujeitos e
profissionais da saúde, na família e na comunidade. A relevância do enfermeiro
na ESF é salientada no cuidado à pessoa idosa, evidenciando que é necessário
observar a história de vida, com valorização de sentimentos e medos,
propiciando atividades de educação para instrução dos idosos e suas famílias
(7). Entre as ações a serem promovidas especificamente pelos enfermeiros que
atuam na atenção básica/ESF direcionadas à saúde dos idosos, com base na
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, está a de orientar o idoso e/ou o
familiar/cuidador sobre a utilização adequada de fármacos(8).
Evidencia-se a importância da ação do enfermeiro direcionada ao uso de
medicamentos pelos idosos, e essa atividade pode ser efetiva por meio da
identificação de diagnósticos/prescrição, compondo etapas do Processo de
Enfermagem (PE), o qual representa o principal instrumento metodológico para o
desempenho sistemático da prática profissional dos enfermeiros. O uso do PE
possibilita a aplicação, na prática, dos fundamentos teóricos da Enfermagem,
ordenando e direcionando o cuidado de forma individualizada, personalizada e
humanizada(9).
A partir do quadro pautado no aumento da demanda de idosos nos serviços de
saúde, principalmente nas unidades da ESF, torna-se imprescindível que os
trabalhadores de saúde, em especial o enfermeiro, se preparem/atualizem para
atender às pessoas idosas, uma vez que não bastam a dedicação ao idoso e a
ciência das suas necessidades básicas, cabe também aos profissionais procurar
meios diferenciados de conhecimento, para cuidá-los de forma mais adequada.
Diante dessa perspectiva, apresenta-se como questão de pesquisa: qual o perfil
sociodemográfico e de uso de medicamentos de pessoas idosas cadastradas em uma
unidade básica de Estratégia de Saúde da Família, e que ações o enfermeiro pode
realizar direcionadas ao uso de medicamentos para essas pessoas idosas,
utilizando-se da identificação de diagnósticos e elaboração de prescrição?
O objetivo deste estudo foi identificar o perfil sociodemográfico e de uso de
medicamentos de pessoas idosas cadastradas em uma unidade básica saúde e propor
ações de enfermagem por meio de identificação de diagnósticos e prescrições
correlatas, focadas no uso de medicamentos, direcionadas a essas pessoas.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem quantitativa. Foram
investigadas pessoas com 60 anos e mais, cadastradas em uma equipe de uma
Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF), em um município do extremo sul do
Rio Grande do Sul, Brasil. Foram critérios de inclusão: ter idade igual ou
superior a 60 anos; estar cadastrado na UBSF; estar lúcido, orientado e
comunicativo ou apresentar um familiar que possa responder ao formulário.
Adotou-se como critério de exclusão a pessoa idosa retirar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido a qualquer tempo da participação no estudo.
O estudo foi desenvolvido em uma UBSF que possuia uma área urbana, próxima à
unidade, e uma área rural que se encontrava mais afastada. Nessa UBSF atuavam
duas equipes de saúde da família (nomeadas 19 e 20) e uma equipe de saúde
bucal. O presente estudo foi realizado com as pessoas idosas cadastrados na
equipe 19.
A população total de pessoas idosas inscritas na área era composta por 521. A
amostragem utilizada foi a não probabilística, por conveniência. Devido às
dificuldades de acesso à área rural, foram selecionados para o estudo somente
as pessoas idosas da área urbana, próxima à UBSF, que corresponderam a 109
idosos ou 22% do total. Destes 109 idosos, quando da coleta de dados, cinco
tinham ido a óbito e sete não residiam mais nos endereços fornecidos pelos
agentes comunitários de saúde, ficando a amostra constituída por 97 idosos.
A coleta de dados foi realizada no período de novembro de 2011 a março de 2012,
por integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisa em Geriatria e Gerontologia,
que, após realização de treinamento quanto à aplicação do instrumento de coleta
dos dados, seguiram em pares para o local da pesquisa, orientadas pelas
indicações de endereços fornecidas pelos agentes comunitários de saúde que
atuavam na área selecionada, e aplicaram o instrumento nos domicílios das
pessoas idosas.
A coleta de dados se deu mediante entrevista e aplicando-se um formulário
estruturado, formado por duas partes, a primeira referente à identificação dos
idosos, versando sobre as variáveis: sexo, idade, condição civil, renda,
escolaridade, ocupação, diagnóstico médico, consultas médicas/enfermagem
durante o ano. Na segunda parte foram verificados os medicamentos, e os sinais
e sintomas autorreferidos pelos idosos.
As doenças presentes foram agrupadas de acordo com a Classificação
Internacional de Doenças, 10ª Revisão (CID-10)(10). Os medicamentos foram
classificados segundo o Anatomical Therapeutic Chemical Code (ATCC), adotado
pela Organização Mundial da Saúde(11). Nessa classificação, os medicamentos são
divididos de acordo com o grupo anatômico ou com o sistema em que atuam e suas
propriedades químicas, terapêuticas e farmacológicas. Para identificar as
substâncias a partir dos nomes comerciais, utilizou-se o Dicionário de
Especialidade Farmacêutica (DEF) (2010/2011)(12).
Os dados foram tabulados e processados em banco de dados eletrônico no programa
Microsoft® Excel 2007 (Sistema Operacional Windows XP, Microsoft Corportion,
Inc.), sendo tratados por meio da estatística descritiva e depois apresentados
sob a forma de tabelas, em frequência percentual simples, seguidos de análise
descritiva.
A partir de características definidoras/sinais e sintomas autorreferidos pelas
pessoas idosas que fizeram uso de medicamentos, identificaram-se os
diagnósticos de enfermagem. Considerou-se o processo de raciocínio diagnóstico
de Risner(13) e a Classificação da NANDA-I(14). Em seguida, foram estabelecidas
as prescrições de enfermagem em relação aos diagnósticos que foram encontrados
em pelo menos 10% dos idosos que utilizavam medicamentos.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Área de
Saúde (CEPAS) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), sob Parecer número
104/2011.
RESULTADOS
Na Tabela_1, constata-se que 64 (66,0%) dos entrevistados eram do sexo feminino
e que houve o predomínio de pessoas idosas na faixa etária entre 60 e 69 anos
de idade, que corresponderam a 44 (45,4%). Quanto ao estado civil, 42 (43,3%)
eram casados e 39 (40,2%), viúvos. Quanto à escolaridade, 64 (66,0%), estudaram
entre 1ª e 4ª série do ensino fundamental. Quanto à ocupação, 86 (88,6%) eram
aposentados. E quanto à renda, 58 idosos recebiam entre dois e três salários
mínimos, o que representa 60% da população entrevistada.
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Na Tabela_2, encontram-se os diagnósticos médicos referidos pelas pessoas
idosas e que tiveram acima de 40% de frequência, agrupados de acordo com a CID-
10. Dos 97 entrevistados, três não apresentaram diagnósticos médicos
explícitos. Os 94 restantes referiram 36 diagnósticos médicos diferentes, com
uma média de 1,97 diagnóstico/idoso e as doenças mais referidas foram às
relacionadas ao sistema cardiovascular: 94 (96,9%). Seguem-se a elas, as
doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, 34 (35,0%), as doenças do
sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, 31 (31,9%).
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Das pessoas idosas entrevistadas 91 (93,8%) utilizavam algum tipo de
medicamento. O número total de medicamentos utilizados foi de 333. Em média,
eram usados 3,66 medicamentos/idoso. Quanto à polifarmácia, 29 (31,86 %)
utilizavam cinco ou mais medicamentos. A Tabela_3 apresenta a distribuição das
pessoas idosas de acordo com o número de medicamentos que utilizavam.
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Os medicamentos mais utilizados pelas pessoas idosas foram os direcionados ao
sistema cardiovascular, com frequência de 127 (38,4%). Na sequência encontram-
se os medicamentos relacionados ao sistema digestivo e metabolismo,
correspondentes a 82 (24,8%) dos medicamentos utilizados. Os medicamentos que
atuam no sistema nervoso central representaram 30 (9,1%).
Quanto ao local onde as pessoas idosas conseguiam os medicamentos: 91 (100,0%)
dos idosos compravam em farmácia convencional, 61 (67,0%) deles adquiriam na
UBSF, 37 (40,6%) compravam na Farmácia Popular, outros 37 (40,6%) idosos eram
favorecidos pela farmácia da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
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Os sinais e sintomas mais comumente autorreferidos pelas pessoas idosas foram
dor nas articulações (23,1%), fadiga (20,9%), alteração visual (14,3%) e
tontura/instabilidade (13,2%).
Foram identificados sete diagnósticos de enfermagem que estiveram presentes em
pelo menos 10 idosos. Foram eles: Dor crônica, Risco de quedas, Ansiedade,
Intolerância à atividade, Mobilidade física prejudicada, Fadiga, Eliminação
urinária prejudicada.
Dor crônica foi identificado em 45 idosos pesquisados. Esteve relacionado às
incapacidades físicas e psicossociais crônicas. As características definidoras
presentes nos idosos foram: relato verbal de dor, fadiga e anorexia.
As prescrições de enfermagem incluem: avaliar os fatores etiológicos /
desencadeantes; levar em consideração o sexo e a idade do idoso; avaliar a
utilização pregressa e atual de analgésicos; fazer visita domiciliar assim que
possível, atentando para fatores como dispositivos de segurança, quarto
apropriado, cores suaves, presença de plantas, interações familiares,
observando o impacto do ambiente doméstico, que atuam no idoso e podem
influenciar a presença da dor; determinar a resposta do idoso à dor crônica,
aplicando uma escala simples para dor; avaliar o comportamento gerado pela dor;
avaliar os efeitos da dor no estilo de vida do idoso; estimular o desvio da
atenção devido ao comportamento gerado pela dor; identificar os grupos de apoio
da comunidade que possam atender as necessidades do idoso com dor crônica;
rever a utilização segura de fármacos e os efeitos colaterais que precisam ser
avaliados pelo médico/equipe de saúde da ESF.
Risco de quedas foi identificado em 35 pessoas idosas. Esteve relacionado aos
fatores fisiológicos e à utilização de medicamentos. As características
definidoras presentes nos idosos pesquisados foram: quedas anteriores, idade
acima de 65 anos, artrite, dificuldades visuais, problemas nos pés, urgência e
incontinência urinária, alteração auditiva, uso de medicamentos como:
ansiolíticos, diuréticos ou anti-hipertensivos.
Como prescrições de enfermagem: avaliar a fonte/grau de risco de quedas;
verificar o nível de conhecimento das necessidades de segurança/prevenção de
acidentes e a motivação para evitar acidentes, principalmente os domésticos;
identificar as intervenções e os dispositivos de segurança necessários para
promover um ambiente seguro para o idoso, como: iluminação adequada, piso
antiderrapante, iluminação e móveis adequados; rever o regime terapêutico e
possíveis consequências diretas na ocorrência de acidentes por quedas.
Ansiedade esteve presente em 35 pessoas idosas. Foi relacionado à dor,
estresse, ameaça ou mudança do estado de saúde. As características definidoras
presentes nos idosos foram: nervosismo, esquecimento, fadiga, náusea, dispneia
e tontura.
As prescrições de enfermagem indicam: avaliar o nível de ansiedade; rever a
história familiar e os fatores fisiológicos, e os fármacos prescritos em uso
recentemente; monitorar as respostas físicas; observar comportamentos
sugestivos do nível de ansiedade; ajudar o idoso a reconhecer os sentimentos e
começar a lidar com os problemas; proporcionar medidas de conforto, como
ambiente calmo/tranquilo; estimular para que o comportamento do idoso seja
expresso; rever os fármacos prescritos e as possíveis interações, realizando
encaminhamentos do idoso para terapia individual e/ou grupal, quando for
apropriado para lidar com os estados de ansiedade crônica.
Intolerância à atividade foi encontrada em 31 pessoas idosas. Foi relacionado
ao desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio e estilo de vida
sedentário. As características definidoras presentes nos idosos foram:
desconforto e dispneia aos esforços, e relato verbal de fadiga.
As prescrições de enfermagem incluem: detectar fatores que contribuem para a
fadiga; ajudar o idoso a lidar com os fatores contribuintes, realizando as
atividades dentro dos próprios limites; planejar, junto com o idoso/familiares,
as atividades para evitar esforço excessivo; determinar os fatores relacionados
com o tratamento, inclusive efeitos colaterais/interações dos fármacos;
administrar/monitorar a resposta aos fármacos e as alterações do regime
terapêutico.
Mobilidade física prejudicada foi identificada em 19 pessoas idosas. Foi
relacionado à dor, perda da integridade de estruturas ósseas ou prejuízos
musculoesqueléticos. As características definidoras presentes nos idosos foram:
dispneia e instabilidade postural.
Como prescrições de enfermagem apresentam-se: identificar os fatores
causadores/ contribuintes; detectar redução da agilidade motora associada à
idade; avaliar a capacidade funcional do idoso, aplicando uma escala para
atividade de vida diária; determinar as respostas emocionais/comportamentais
aos problemas de imobilidade; promover o nível funcional máximo no idoso,
evitando complicações; ajudar/instruir o idoso na alteração de posição
periodicamente; apoiar as partes corporais/articulações afetadas com
travesseiros/rolos, encostos para manutenção da posição funcional e redução do
risco de úlceras por pressão; administrar fármacos antes de atividade passivas
ou ativas, conforme necessidade, para alívio da dor, permitindo esforço/
participação máxima na atividade; estimular a participação do idoso/família no
processo de decisão, na medida de suas possibilidade, pois essa ação tende ao
aumento da adesão ao plano de atividades ativas/passivas e otimiza os
resultados.
Fadiga foi encontrada em 19 pessoas idosas e esteve relacionado a fatores
fisiológicos e psicológicos. A característica definidora presente nos idosos
que apresentaram esse DE foi cansaço.
As prescrições de enfermagem incluem: avaliar os fatores causadores/
contribuintes da fadiga; rever a prescrição/utilização de fármacos; determinar
estado nutricional e o balanço de líquidos do idoso; determinar a capacidade de
participar de atividades; verificar nível de mobilidade; determinar a gravidade
da fadiga/impacto na vida do idoso; entrevistar os familiares/cuidadores para
entender as alterações específicas observadas no idoso e avaliar a resposta
fisiológica à atividade; ajudar o cliente a lidar com a fadiga e a adaptar-se
dentro dos seus limites funcionais; ensinar métodos para conservar energia.
Eliminação urinária prejudicada foi encontrada em 11 pessoas idosas. Esteve
relacionado às múltiplas causas. As características definidoras presentes
foram: frequência urinária e incontinência urinária.
As prescrições de enfermagem incluem: avaliar os fatores causadores/
contribuintes; avaliar o grau de interferência/limitação física e psicossocial;
determinar a ingestão diária atual de líquidos pelo idoso; avaliar a condição
da pele e das mucosas e a coloração da urina, ajudando na determinar do nível
de hidratação; promover o bem estar através da sugestão de roupas largas para
facilitar a resposta ao desejo urgente de urinar, enfatizando a importância dos
cuidados perineais depois de cada micção, evitando irritação da pele.
DISCUSSÃO
No presente estudo foi evidenciada a prevalência de pessoas idosas do sexo
feminino, característica percebida em outros estudos(1-3) e que pode estar
relacionada à maior longevidade das mulheres em relação aos homens(15). Embora
a maioria dos idosos entrevistados apresentasse a condição civil de casado
(43,3%), um percentual elevado (40, 2%) deles era formado de viúvos. Ser do
sexo feminino e viver sozinho são fatores fortemente associados com o maior uso
de medicamentos, em idosos brasileiros(3).
Quanto à escolaridade, as pessoas idosas desta pesquisa estudaram da 1a à 4a
série. A baixa escolaridade está muito presente nos estudos realizados com a
população idosa(1,3,15). Esse aspecto pode dificultar a compreensão em relação
ao uso de medicamentos e à adesão à terapêutica prescrita, acarretando em
prejuízos à saúde do idoso. Esta passa a ser uma ação de importância para os
profissionais de enfermagem que atuam na ESF: orientar com muita atenção o uso
de medicamentos pelos idosos atendidos, para eles próprios, como também para os
familiares, que moram com e/ou acompanham esses idosos.
Em relação à faixa etária, foi maior a frequência de pessoas idosas entre 60-69
anos, resultados encontrados por outras pesquisas(1,15). Algumas pesquisas
referem um maior número de idosos com idade entre 70-79 anos(3,16). A questão
faixa etária pode ser influenciada pelas variáveis socioambientais de cada
população estudada.
Verificando a ocupação, observou-se prevalência de idosos aposentados que não
realizavam nenhum trabalho remunerado. Estudo realizado em Guarapuava/Paraná,
encontrou que 32,5% das mulheres idosas e 23,4% dos homens idosos, todos
aposentados, ainda realizavam um trabalho remunerado(16).
No presente estudo as doenças mais prevalentes foram as relacionadas ao
aparelho cardiovascular, e os medicamentos mais utilizados foram os
direcionados para doenças do aparelho cardiovascular, resultados que estão de
acordo com outros estudos(1-3). O número médio de medicamentos utilizados pelos
idosos entrevistados foi de 3,66, resultado semelhante ao encontrado em
pesquisa realizada em uma cidade do sul de Santa Catarina, onde a média foi de
3,5 medicamentos/idoso(3).
As pessoas idosas entrevistadas costumavam recorrer a diversos locais para
obter medicamentos, sendo a farmácia convencional o local onde a compra se dava
com maior frequência e indicando que o idoso investigado tinha recursos
financeiros próprios para conseguir os medicamentos. Os resultados do estudo
mostram que 60,0% dos idosos tinham renda entre dois e três salários mínimos, o
que difere do encontrado em outra pesquisa onde 60% dos idosos recebiam menos
de dois salários mínimos(3). O fato de terem que comprar os medicamentos pode
diminuir os recursos financeiros para alimentação e outras necessidades
básicas, refletindo de maneira negativa no estado de saúde e na qualidade de
vida do idoso.
Os enfermeiros ao identificarem os diagnósticos de enfermagem relativos à
população idosa poderão elaborar possíveis ações/prescrições de enfermagem para
minimizar e até mesmo sanar as necessidades dessa população. Assim, torna-se
imprescindível adquirir conhecimentos específicos dos idosos por meio de
pesquisas científicas.
Destaca-se que quanto aos diagnósticos de enfermagem identificados nessa
pesquisa, a dor é uma das queixas mais comuns entre as pessoas idosas. A alta
frequência de dor está associada a desordens crônicas, particularmente doenças
musculoesqueléticas como artrites e osteoporose(17). Em função da dor, o idoso
acaba utilizando mais medicamentos, mesmo sem prescrição médica.
Quanto ao Risco de quedas, a identificação desse diagnóstico possibilita o
estabelecimento de intervenção adequada, com vistas à prevenção da ocorrência
desse evento na pessoa idosa. As quedas resultam da interação de diversos
fatores de risco e múltiplas causas, sendo, por isso, consideradas eventos
multifatoriais e heterogêneos. O uso de medicamentos é um fator intrínseco de
forte relação com as quedas(18). O risco de quedas é aumentado pelo uso de
drogas cardiovasculares, drogas de maior uso pela população estudada, pois elas
podem ocasionar hipotensão, bradicardia, sonolência e fadiga(19).
Em relação à Ansiedade, nas pessoas idosas, pode estar relacionada às
limitações vivenciadas na velhice e, na maioria das vezes, interpretadas como
ameaçadoras. Em função da ansiedade muitos idosos acabam utilizando
medicamentos ansiolíticos. Esses fármacos podem provocar reações adversas como
hipotensão, fadiga, náusea e visão borrada e levar a desfechos clínicos, para
os idosos, como quedas e prejuízo na memória(19).
A presença dos diagnósticos de enfermagem Intolerância à atividade, Mobilidade
física prejudicada e Fadiga levam a refletir sobre a importância de práticas
que visem estimular deambulação, movimentação, alongamento, equilíbrio e força
muscular; ou seja, ações voltadas às atividades físicas sistemáticas.
O diagnóstico de enfermagem Eliminação urinária prejudicada apresentou como
principais características definidoras a frequência e a incontinência
urinárias, que, nas pessoas idosas, geralmente estão relacionadas a mudanças
funcionais e estruturais no sistema urinário. Um exemplo dessa situação seria
um declínio da habilidade para retardar a micção devido à presença de
estruturas de suporte pélvicas enfraquecidas tanto em idosos do sexo feminino
como do masculino(20), e surge, então, a importância de exercícios que possam
fortalecer o soalho pélvico.
A necessidade de busca constante de ferramentas que indiquem caminhos para a
melhoria da qualidade das ações de enfermagem é dever de todo o profissional de
saúde envolvido com a sua prática, e os DE propõem um caminho possível para o
desenvolvimento do raciocínio clínico e crítico junto às pessoas idosas que
vivem na comunidade.
Uma limitação do estudo diz respeito ao fato da amostra ter sido por
conveniência o que não possibilita a generalização dos achados.
CONCLUSÃO
A metodologia utilizada favoreceu o alcance dos objetivos. Os resultados da
pesquisa evidenciaram que a maioria dos entrevistados era do sexo feminino, com
predomínio da faixa etária entre 60 e 69 anos de idade, casados, estudaram
entre 1ª e 4ª série do ensino fundamental, aposentados, com renda entre 2 e 3
salários mínimos.
Quanto às doenças nas pessoas idosas, o estudo demonstrou que havia prevalência
nas que atuam no aparelho cardiovascular e os medicamentos mais utilizados
também foram para o sistema cardiovascular. As pessoas idosas do presente
estudo utilizavam 3,46 medicamentos/idoso e 31,86 % faziam uso de cinco ou mais
fármacos. Quanto ao local onde os idosos conseguiam os medicamentos 100,0 %
compram algum fármaco em farmácia convencional.
Os resultados deste estudo e a descrição dos diagnósticos, com suas prescrições
de enfermagem, podem contribuir tanto para a prática da enfermagem, favorecendo
a realização de ações eficazes para as pessoas idosas que fazem uso de
medicamentos na comunidade. Podem também ser utilizados como ferramenta para as
aulas de disciplinas que envolvam questões referentes aos idosos. E podem
fornecer informações que estimulem investigações futuras em relação ao uso de
medicamentos por pessoas idosas.