Práticas da equipe de enfermagem no processo de alta do bebê pré-termo
INTRODUÇÃO
A incorporação de novas tecnologias e especialização dos profissionais para
cuidar de recém-nascidos (RN) de risco propiciou a sobrevivência de bebês
prematuros considerados anteriormente como inviáveis(1-2). No ambiente
altamente tecnológico da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), os
profissionais geralmente se encontram envolvidos na execução de cuidados
complexos aos recém-nascidos (RN), comprometendo o estabelecimento de relações
impessoais, o que pode prejudicar a interação do profissional com a família
desses pequenos pacientes(3).
A necessidade de internação do filho na UTIN incita, nos familiares,
sentimentos de medo, angústia e impotência perante a iminente possibilidade de
óbito do bebê(2). Ao mesmo tempo, o longo período de internação interfere
negativamente no fortalecimento do vínculo entre mãe-filho, assim como no
desenvolvimento das habilidades da progenitora para o cuidado ao prematuro. A
reação da mãe ante os sentimentos negativos aflorados durante a internação do
filho é modulada de acordo com o suporte que esta recebe dos profissionais,
sendo que, quanto maior o apoio oferecido, menor a ansiedade materna(4).
A preocupação com a garantia da qualidade na assistência voltada para atender
às necessidades do binômio mãe e RN desencadeia a necessidade de identificar os
problemas subjetivos, para posterior planejamento de ações direcionadas à
singularidade de cada caso e aos aspectos biopsicossociais que interferem no
processo de aprendizado(5).
Partindo da premissa de que a escuta é um recurso assistencial, a equipe de
enfermagem deve direcionar o processo da alta de acordo com as dúvidas e as
ansiedades da família nos diferentes momentos, visto que a simples orientação,
sem considerar as subjetividades relativas à família e ao RN, repercute no
processo de ensino/aprendizagem ineficaz(6).
Para atender às necessidades de aprendizado da família, de modo a capacitá-la
para dar continuidade aos cuidados do RN no ambiente domiciliar, é necessário
que se desenvolva um processo de planejamento da alta. Este tem por finalidade
desenvolver a habilidade dos pais no cuidado com o neonato, diminuir o nível de
stress da família, evitar reinternações e identificar recursos comunitários
disponíveis para seguimento após a alta hospitalar(7).
A concretização deste estudo se deu a partir da vivência profissional na
atenção direta ao recém-nascido pré-termo, e da inquietação provocada pela
ausência de uma sistemática de preparo da família para a alta desses neonatos.
Desse modo, o objetivo do presente estudo foi identificar as estratégias
utilizadas pela equipe de enfermagem atuante na unidade neonatal durante o
preparo da família para a alta do prematuro.
METODOLOGIA
Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, realizado em um hospital-escola
localizado na região noroeste do Paraná, que realiza atendimentos
exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A instituição é referência
para atendimento de gestantes de risco e conta com uma UTIN, composta por seis
leitos e uma Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal (UCIN), com quatro
leitos. O hospital também disponibiliza três leitos destinados ao alojamento
conjunto, para que as mães possam permanecer acompanhando os filhos prematuros
em período integral nos dias que antecedem a alta hospitalar. Essa clientela
conta ainda com o atendimento do Banco de Leite Humano dentro do hospital que
auxilia as puérperas no manejo do aleitamento materno.
A equipe de saúde das unidades neonatais é composta por médicos, enfermeiros,
técnicos de enfermagem, fonoaudióloga, fisioterapeutas, assistente social e
auxiliar de serviços gerais. Ao todo, atuam nas unidades neonatais prestando
assistência direta ao RN e suas famílias, 12 enfermeiros e 14 técnicos de
enfermagem, divididos em cinco turnos de trabalho. Durante o dia, o turno é de
seis horas e, à noite, a carga horária é de 12 horas, alternadas em esquema de
rodízio entre três equipes que se distribuem em noites um, dois e três (sistema
12 por 60 horas). Os pais podem permanecer na unidade das 8 às 22 horas e toda
tarde é liberada, por uma hora, a visita de outras pessoas ou familiares.
Os dados foram coletados no período de março a junho de 2011, por meio de
observação não participante e entrevistas nos locais de trabalho, conforme
agendamento prévio. A observação ocorreu anteriormente às entrevistas, com o
propósito de possibilitar a verificação da existência ou não de rotinas de
assistência ao binômio prematuro e família, no que tange ao preparo dos pais
para a alta, bem como delinear como se dá essa assistência e o registro das
atividades em questão.
As observações ocorreram nos meses de março e abril de 2011 e contemplaram os
turnos da manhã, tarde e noite. Os prontuários dos prematuros foram
consultados, em busca de anotações e registros acerca das orientações e das
ações realizadas junto às famílias dos prematuros. Os sujeitos do estudo foram
selecionados utilizando-se a amostragem por conveniência, a partir da consulta
à totalidade dos indivíduos e de acordo com a disponibilidade e o interesse na
participação.
Foram entrevistados nove profissionais da equipe de enfermagem atuantes em
diferentes turnos de trabalho, sendo cinco enfermeiros e quatro técnicos de
enfermagem de todos os turnos, que prestam assistência direta aos recém-
nascidos e/ou suas famílias na UTIN e na UCIN. Para a coleta de dados,
utilizou-se um roteiro semiestruturado com as seguintes questões norteadoras: O
que você entende por processo de alta hospitalar? Que orientações você
considera importantes no preparo da família para a alta do prematuro?
As entrevistas foram realizadas nas unidades neonatais do hospital escola em
estudo, nos meses de maio a julho de 2011. Estas foram transcritas na íntegra
e, posteriormente, submetidas a sucessivas leituras dos depoimentos. Para a
análise dos dados, utilizou-se referencial metodológico da análise de conteúdo
(8) e, a partir do processo de inferência e de interpretação dos relatos, e da
organização destes a partir de suas unidades de significado, foi possível
definir duas categorias temáticas principais.
Foram respeitados os preceitos éticos contidos na Resolução nº 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde e a coleta de dados se deu
após aprovação pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres
Humanos da Universidade Estadual de Maringá, sob Parecer no 059/2011. Com o
escopo de garantir o anonimato dos sujeitos, utilizou-se a identificação por
letras referentes às categorias profissionais seguidas de um número indicativo
da ordem de realização da entrevista: Enfermeiros (E1...) e Técnicos de
Enfermagem (TE1...).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os nove sujeitos do estudo eram do sexo feminino, com idades variando entre 36
e 50 anos, e tempo médio de atuação nas unidades neonatais de 11,2 anos. As
cinco enfermeiras entrevistadas fizeram de um a três cursos de especialização.
As especializações incluíram as seguintes áreas: duas em saúde coletiva, três
em fisiologia humana e uma em administração dos serviços de enfermagem e outra
em obstetrícia. Com relação aos técnicos, estes apresentavam apenas a formação
básica para técnico de enfermagem.
Do processo de análise dos relatos provenientes das entrevistas, depreenderam-
se duas categorias temáticas: Orientações e estratégias profissionais acerca do
preparo da família para a alta do prematuro e Dificuldades e potencialidades no
espaço da atenção neonatal.
Orientações e estratégias profissionais acerca do preparo da família para a
alta do prematuro
No período de observação que antecedeu a realização das entrevistas, constatou-
se que nas unidades neonatais não há rotinas formalizadas para atendimento e
preparo da família para a alta hospitalar do bebê. As orientações realizadas às
famílias foram pontuadas por metade dos profissionais entrevistados, como
responsabilidade de todos os membros da equipe de saúde, incluindo médicos,
equipe de enfermagem, fonoaudióloga e todos os envolvidos no cuidado ao RN, o
que confirma o preditivo encontrado na literatura(2).
Eu acho que o médico, os enfermeiros, toda a equipe [devem realizar
orientações à família]. E quando a criança precisa da fono, ela deve
fazer o trabalho dela, então é a equipe multiprofissional mesmo (E1).
As orientações realizadas pelos profissionais se mostram pautadas,
principalmente, em cuidados de higiene, conforto e aleitamento materno,
corroborando com outros estudos que destacam essas temáticas de orientação(9-
10). Todos os entrevistados referiram os cuidados de higiene e o incentivo ao
aleitamento materno como elementos em seu processo de orientação para alta,
conforme demonstram os depoimentos a seguir:
São [orientados] mais os cuidados com banho, higiene, cuidados com
temperatura e horário de alimentação (TE1).
[...] [bebê] recebendo dieta por sonda, a gente ensina como que ela
vai passar. Se vai mamar no peito, a gente já começa a colocar no
peito e ensina ela como que vai dar mamá. Os cuidados de banho, de
proteção, de orientação de decúbito, de repouso (E1).
Outros cuidados abordados na orientação e que foram destacados pelos
profissionais incluíram: o uso de gavagem, necessidade do toque e cuidados na
manipulação do bebê, citados por quatro profissionais; posicionamento da
criança, medicação e retorno para consulta com especialista foram discriminados
por três entrevistados; cuidados em caso de engasgo e oferta de leite no copo
foram referidos por dois profissionais; acompanhamento pela UBS na
puericultura, prevenção de assaduras, verificação de temperatura e importância
da vacinação foram citados apenas uma vez.
Cabe destacar que o significado do cuidar parece diferir entre os atores
sociais envolvidos nesse processo. Em entrevistas realizadas junto às mães de
prematuros durante a internação na UCIN desse mesmo hospital, como parte do
projeto maior em que este estudo está inserido, percebeu-se que o conceito de
"cuidar" das mães é diferente do expresso pelos profissionais. Para as mães,
cuidar está relacionado ao sentimento de afeição, enquanto os profissionais
relacionam o cuidado à execução de procedimentos técnicos, ao atendimento das
necessidades fisiológicas da criança e à orientação da família.
Cuidar de um bebê é atender todas as necessidades que ele apresenta.
Tanto no cuidado com o bebê quanto na orientação com a família (E2).
Ao serem questionados sobre a definição do processo de preparo para a alta,
profissionais entendiam-no como "o momento em que a criança está pronta para ir
para casa". Entretanto, os sujeitos referiram que as orientações com a mães
devem ser realizadas a partir do momento em que o bebê é admitido na unidade e/
ou sempre que a mãe estiver acompanhando o filho, ratificando assim, a
necessidade de propiciar o contato precoce do bebê com a família, conforme se
pode depreender nas falas a seguir.
O preparo para a alta hospitalar na neo já começa na admissão da
criança, por serem crianças prematuras ou com má formação, a gente já
começa a trabalhar com a família os cuidados desse bebê (E3).
O processo de alta hospitalar é a preparação da família para receber
o bebê em casa, quanto aos cuidados, às medicações [...] (E2).
O entendimento do processo de alta como uma ação contínua que se inicia na
internação do bebê também é defendido por outros autores(2,10). Embora a
participação dos pais dentro da UTIN seja limitada em função da condição
clínica instável do bebê, o que muitas vezes impossibilita a manipulação deste,
percebe-se a iniciativa de alguns profissionais em propiciar à mãe
oportunidades de participar do cuidado ao filho.
Já que aqui elas [mães] não são visita, eu estimulo o cuidado, coloco
criança intubada no colo da mãe, quando a mãe tem condição para isso.
Eu dou banho de imersão em criança intubada e sempre quando os pais
estão presentes, eu conto com eles (E3).
Os benefícios do contato mãe-bebê foram evidenciados em estudo que investigou
estados comportamentais de recém-nascidos pré-termo (RNPT) em suporte
ventilatório durante o cuidado mãe canguru (CMC). Identificou-se que a prática
do método canguru em bebês intubados favoreceu o sono profundo e contribuiu com
significativa diminuição da dor nos RN(11). Tal constatação reforça a
recomendação da utilização do Método Canguru no cuidado ao RNPT, agregando o
cuidado ao bebê, assistência aos pais e à família extensa(12).
O credenciamento do hospital em estudo à Iniciativa Hospital Amigo da Criança
(IHAC) se revelou nas práticas de valorização ao aleitamento materno, na medida
em que se reconhece sua relevância para o crescimento e desenvolvimento do
RNPT. A IHAC foi idealizada em 1990 com o intuito de promover, proteger e
apoiar a alimentação adequada de lactentes e crianças na primeira infância.
Esse programa enfatiza o incentivo à amamentação exclusiva até o sexto mês de
vida, regulamentado pelo exercício dos Dez Passos para o Sucesso do
Aleitamento. Para qualificação da instituição como Hospital Amigo da Criança se
exige o ajustamento das práticas profissionais no cumprimento desses passos
(13).
Pelo hospital ser amigo da criança e por ser muito importante para o
prematuro o aleitamento materno, a gente trabalha assim, muito em
cima do aleitamento (TE2).
O atendimento dos Dez Passos Para o Sucesso do Aleitamento(14) parece estar
difundido no cotidiano dos profissionais, visto que, nas entrevistas, as
orientações relacionadas à amamentação se referiam aos passos preconizados, com
maior destaque para a administração do leite no copo, preterindo-se o uso de
mamadeiras e chupetas durante o período de internação.
A principal estratégia de preparo da família para a alta hospitalar revelada
nos depoimentos foi a inserção precoce da família no processo de cuidado, sendo
tal prática referenciada por seis entrevistados. Conforme enfatizado pelos
sujeitos deste estudo, o preparo para a alta hospitalar tem por objetivo
capacitar as mães, tendo como ponto de partida as inseguranças e as
especificidades de cada binômio, proporcionando, assim, maior autonomia às mães
dentro da unidade neonatal. A inserção da família nos cuidados cotidianos do
filho dentro das unidades neonatais visa também ao estabelecimento de vínculo
com o bebê e ao reforço da confiança materna para realizar os cuidados no
ambiente domiciliar(2,15).
Tem mãe que abre a incubadora, pega (o bebê), põe no peito, fica com
a criança no colo, então principalmente a gente trabalha com a mãe
pra ela ter essa autonomia (TE2).
O envolvimento das mães nos cuidados de higiene e conforto do bebê se mostra
como uma estratégia capaz de minimizar medos e angústias vivenciados por elas
durante o período de internação do filho, diminuindo o sofrimento e
contribuindo para o seu fortalecimento, no que tange ao exercício de seu papel
materno. Tal participação reforça a compreensão da mãe de que ela também está
contribuindo para o reestabelecimento da saúde do bebê(3).
O processo de trabalho da enfermagem deve ser conduzido visando à autonomia dos
pais. Para alcançar tal objetivo, as diretrizes do Programa Nacional de
Humanização, instituído como política de saúde, reforçam a necessidade de
fortalecer o trabalho em equipe multiprofissional e contribuir na construção da
autonomia dos sujeitos atendidos na rede do Sistema Único de Saúde(16).
O acolhimento dos pais nas unidades neonatais é essencial nesse sentido,
cooperando inclusive com a percepção do profissional acerca das necessidades
dos pais e fornecimento de informações que possam diminuir as ansiedades destes
(17). Outro estudo destaca que o acolhimento envolve algumas atitudes do
profissional de enfermagem como "ter disponibilidade e sensibilidade, ser
empático e extrovertido, aceitar a mãe na condição que ela se apresenta, ter
envolvimento e responsabilidade, afastando-se de uma postura rígida"(3). Estes
aspectos foram abordados por uma técnica de enfermagem:
Eu acho que a convivência da mãe dentro da UTI é importante, mas ela
tem que ser bem acolhida, tem que vir e se sentir a vontade para
tirar as dúvidas, pra ela aprender, pra conseguir se sentir acolhida
pela equipe (TE1).
O diálogo como ferramenta no preparo da família foi citado por alguns
profissionais, sendo este fundamental no estabelecimento de confiança na
relação entre os profissionais-família-bebê, contribuindo no estabelecimento de
vínculos. Estudo realizado com familiares de pacientes internados em UTIN
identificou que as necessidades de segurança e informação têm maior relevância
dentre todas as outras, visto que a falta de informações adequadas acarreta em
sentimentos de insegurança e de ansiedade, podendo prejudicar as famílias no
enfrentamento da situação(17).
Como pode depreender no discurso a seguir, os profissionais de enfermagem
sentem prazer ao realizar o cuidado ao RN e almejam não apenas a melhora da
criança, mas também que esse bebê encontre condições ideais de cuidado e
acompanhamento após a alta hospitalar, destacando, desse modo, a importância de
se assegurar o caráter de continuidade dos cuidados.
Eles estão brigando pra viver né, então é por isso que eu gosto mais
de cuidar dos prematuros [...] Muitas [mães] saem daqui já
preparadas, mas muitas a gente sabe que não têm estrutura social e um
suporte familiar pra acompanhar a criança (TE2).
O desejo intrínseco dos profissionais em "minimizar o sofrimento, a dor e as
sequelas do recém-nascido e promover o vínculo afetivo entre eles o os pais"
(18) foi identificado em um estudo como uma expectativa motivacional na prática
dos enfermeiros(18).
O prematuro hospitalizado passa por diferentes estágios de evolução clínica, as
orientações e condutas a serem realizadas para a família vão depender de cada
criança, das necessidades de cuidado, história familiar, condições
socioeconômicas e da patologia. Portanto, o planejamento de alta não pode
prescindir de uma avaliação cuidadosa de todos esses fatores, das necessidades
do prematuro e de sua família. A fim de proporcionar proteção e os cuidados
adequados ao filho, os pais devem estar conscientes de que as necessidades do
RNPT diferem daquelas apresentadas pelo bebê nascido a termo, em especial no
que concerne a padrões de crescimento e de desenvolvimento(10).
Dificuldade e potencialidades no espaço da atenção neonatal
Por meio deste estudo os profissionais apontaram dificuldades vivenciadas
durante o processo de preparo da família para a alta do prematuro. Dentre elas,
a ausência dos pais nas unidades neonatais se destacou na totalidade das
entrevistas. Tal situação foi justificada pelos sujeitos, apontando fatores
como: dificuldade de deslocamento das famílias, por residirem em outro
município e dependerem do transporte oferecido pela prefeitura do município
onde residem, para o deslocamento até o hospital; ter outros filhos pequenos em
casa e que necessitam de cuidados. Outro estudo realizado com mães de
prematuros também referiu tais dificuldades(19).
Uma das coisas que a gente tem bastante dificuldade aqui é a ausência
da mãe. Eles dependem às vezes de uma ambulância, e às vezes é muito
longe, não pode passar o dia aqui, vem a cada dois, três dias [...]
não que a mãe não queira aprender, mas precisa de uma ajuda, de
alguém que cuide da criança dela que está em casa (TE3).
A ausência da família durante a internação do prematuro dificulta a
implementação de ações voltadas à educação em saúde no período da
hospitalização, que por sua vez, implica despreparo desta para os cuidados
domiciliares após a alta hospitalar.
A gente tá retomando no projeto canguru as reuniões com a família. E
por incrível que pareça em três semanas conseguimos fazer só duas
[reuniões] porque não tem mãe (E3).
A sugestão proposta por um sujeito deste estudo, no intuito de solucionar tal
situação, foi que o hospital pudesse disponibilizar uma casa de apoio ou
alojamento para as mães de prematuros residentes em outros municípios, visto
que tal medida facilitaria a permanência das mães nas unidades neonatais e, por
conseguinte, permitiria ampliar as oportunidades de ensino durante a
permanência das mães no acompanhamento ao filho.
Elas ficarem um dia aqui com o bebê e a noite terem um local onde
pudessem descansar, jantar, e de manhã novamente estar aqui. Para nós
seria ótimo e para a mãe também (TE3).
Esta assertiva ratifica os resultados de um estudo realizado em um hospital
maternidade que conta com a estratégia de alojamento para as mães(20). Nessa
experiência, o alojamento emerge como um fator importante não apenas para
favorecer o acompanhamento materno ao filho internado, mas também se concretiza
como um espaço terapêutico marcado por vivências de solidariedade entre iguais,
que podem trocar experiências e se apoiarem mutuamente, reforçando a esperança
nesse momento em que estão fragilizadas.
O acesso livre para permanência dos pais na unidade neonatal durante todo o dia
emergiu nas falas como uma potencialidade do serviço visto que viabiliza o
fortalecimento de vínculo da família com o bebê.
Antigamente, pelas mães e pais virem só em horário de visita, esse
elo (com o bebê) era cortado e depois, para que a gente pudesse fazer
essa religação, era muito mais difícil [...] A gente trabalha muito
em contato com os pais, e eles se apegam bastante na gente (TE2).
Tal possibilidade de permanência dos pais também se configura como elemento
primordial no preparo da para a alta do prematuro, pois viabiliza a assistência
à família e amplia as oportunidades de ensino/aprendizagem. Neste estudo, o
vínculo estabelecido entre o profissional e a família também insurgiu como um
componente gerador de satisfação profissional.
Outro estudo também enfatizou a relevância da presença da família na UTIN,
possibilitando o cuidado diferenciado, facilitando uma maior percepção acerca
das perspectivas da família, inserindo os pais nos cuidados (principalmente por
meio do toque e do aleitamento materno); e estimulando o vínculo entre os pais
e o bebê(18).
A equipe deve procurar adequar a rotina para favorecer a participação da
família nos cuidados e na tomada de decisões relativas ao filho internado. Para
tanto, a parceria entre pais e equipe é considerada como elemento fundamental
na efetivação do cuidado, e no compartilhamento de saberes e práticas, de
maneira a fortalecer as habilidades e as capacidades de cada família(19).
A integração entre as diferentes categorias profissionais também foi sugerida
como estratégia para melhorar o atendimento à família. A coesão no trabalho dos
membros da equipe multiprofissional e interdisciplinar é essencial para
otimizar a integralidade da assistência à criança/família e garantir
uniformidade das informações transmitidas.
[...] maior integração com a equipe mesmo. Acho que as crianças vão
ganhar e nós também, porque os treinamentos (com as famílias) a gente
tá fazendo (E3).
Estudos realizados em unidades neonatais também revelaram falta de sincronia e
integração entre as diferentes categorias profissionais que atendem ao recém-
nascido, influenciando negativamente na assistência de enfermagem e suscitando
insatisfação nos profissionais(10,18).
A inexistência de rotinas escritas e de registros sistemáticos em prontuário,
no tocante às ações relativas ao preparo da família para a alta, foi
evidenciada no processo de observação não participante, em todos os turnos
acompanhados. Vale ressaltar que a sistematização da assistência poderia ser
concretizada a partir de um protocolo que direcionasse as orientações
essenciais para instrumentalizar a família.
No sentido de suprir essa lacuna, um dos entrevistados sugeriu a estratégia de
sistematização da assistência utilizando a "adoção das famílias" pelos
profissionais. Esta se mostra também como uma prática viável, passível de
execução sem a necessidade de grandes mobilizações na rotina. Ademais, sua
principal justificativa se baseia no fato de que tal estratégia potencializa as
relações de vínculo entre profissional-mãe, podendo otimizar o preparo da
família.
Sistematizar a assistência talvez [...] porque a gente iria se cobrar
mais pra ensinar, ao ter alguém responsável pra fazer essa orientação
[...] (E1).
Embora a prática da enfermagem esteja vinculada ao esforço contínuo para
capacitar as famílias, fatores intrínsecos às progenitoras foram enfatizados
pelos sujeitos como dificultadores para as ações de educação em saúde durante o
processo da alta. Dentre esses fatores, foram citados: a drogadição materna, a
baixa escolaridade e/ou deficiências cognitivas que dificultam a compreensão
das informações, e a maternidade na adolescência.
Em relação à educação materna, há referências na literatura de que a baixa
escolaridade interfere na capacidade de aprendizado, sendo primordial que o
profissional de enfermagem se empenhe para adaptar recursos que viabilizem a
capacitação materna(9).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo possibilitou compreender a prática da equipe de enfermagem atuante
em unidades neonatais acerca do processo de alta junto às famílias. Como
estratégias reconhecidas no processo de ensino foram elencadas a inserção
precoce da família nos cuidado de higiene e conforto requeridos pelo recém-
nascido internado, incentivo ao aleitamento materno e outras orientações
relacionadas à alimentação, à medicação e à necessidade de seguimento
ambulatorial e na rede de atenção primária, após alta hospitalar.
No âmbito das dificuldades encontradas, os resultados foram condizentes com
dados encontrados na literatura. Destacou-se como principal problema, a
ausência das mães no acompanhamento contínuo do filho internado. Emergiram,
ainda, outras dificuldades para a efetivação desse processo, tais como a falta
de sistematização do preparo para alta, além de fatores intrínsecos às mães,
como a baixa escolaridade, a drogadição e a maternidade na adolescência. Quanto
às potencialidades do serviço, apontadas pelos profissionais neste estudo,
destacaram-se o livre acesso dos pais às unidades neonatais e as práticas
promotoras da humanização da assistência como, por exemplo, as diretrizes
preconizadas pela IHAC.
Este estudo possibilitou depreender-se que a filosofia do cuidado centrado na
família está incutida nas práticas da equipe de enfermagem, fato que
potencializa as oportunidades de ensino/aprendizagem. As potencialidades e
limitações apontadas por este estudo revelam que o processo da assistência é
dinâmico, necessitando de constantes reajustes e adequações para atender com
excelência e integralidade o RN e sua família.