Transformações necessárias para o avanço da Enfermagem como ciência do cuidar
INTRODUÇÃO
Este artigo foi construído a partir de uma solicitação da Associação Brasileira
de Enfermagem para abordá-lo na Conferência de Encerramento do 17º Seminário
Nacional de Pesquisa em Enfermagem - SENPE, ocorrido em Natal, no Rio Grande do
Norte, em junho de 2013. Este Seminário tem o importante papel de propiciar
reflexões sobre um dos pilares de uma profissão que é a produção de
conhecimentos que sustentam o seu fazer.
A programação do 17º SENPE foi bastante significativa, iniciando pelo tema
central ao reconhecer a importância e os desafios que envolvem o "clássico e o
emergente na pesquisa em Enfermagem". No temário verificou-se, também, o
reconhecimento da importância da ética no processo de pesquisar, na realização
do trabalho da Enfermagem e na formação de novos profissionais, além da
importância de analisar criticamente o cenário no qual é realizado o trabalho
de pesquisa, de prestação de cuidados e de formação de novos profissionais.
Na estrutura do temário identificou-se que a profissão, expressa na proposta da
ABEn para o SENPE, reconhece a necessidade de discutir o "como pesquisar"
incluindo metodologias e técnicas de pesquisa, assim como de propor temas
político-profissionais pertinentes à finalidade do seu trabalho. Finalidade
esta que responde ao critério mais importante para a caracterização de um
trabalho como profissão - a sua utilidade social. É pelo fazer do conjunto dos
profissionais de Enfermagem que a sociedade reconhece a utilidade deste
trabalho, assim como a necessidade do mesmo ser organizado em padrões
profissionais. Enquanto um trabalho do tipo profissional e disciplina
científica do campo da saúde, a Enfermagem apresenta desafios permanentes.
Desafios demandados pela dinâmica do cenário macro social no qual este trabalho
se realiza, por mudanças no perfil demográfico e epidemiológico da população e
pela complexidade inerente ao processo de cuidar de seres humanos com carências
de saúde.
O conjunto do temário do seminário demonstrou o claro reconhecimento de que,
para atuar com competência e segurança, é necessário fortalecer os
conhecimentos já consolidados pela Enfermagem enquanto disciplina científica e,
ao mesmo tempo, manter uma postura permanente de abertura ao novo. É preciso
enfrentar os desafios sempre presentes em um trabalho que tem como identidade o
cuidado a seres humanos com necessidades do campo da saúde. Um trabalho
complexo e em permanente mudança, o que demanda da profissão sólida
consistência científica e respeito a padrões éticos que reafirmem valores como
a vida humana, a justiça social e o direito à saúde. É preciso, ainda, ter
abertura para analisar criticamente os diferentes cenários, propostas
terapêuticas e políticas de saúde.
O trabalho da Enfermagem desenvolve-se, majoritariamente, como um trabalho do
tipo coletivo e em colaboração com outros profissionais e trabalhadores do
campo da saúde. Fundamenta-se em um saber consolidado que deve fornecer bases
para o agir cotidiano, além de subsidiar a proposição de caminhos para o
enfrentamento de novos e velhos problemas do campo da saúde e específicos ao
seu núcleo profissional. Os desafios são constantes para um trabalho que
envolve seres humanos que vivem em sociedades históricas, em especial no caso
da sociedade atual que é dialeticamente local e globalizada, influenciando
tanto o surgimento e a disseminação de doenças quanto o acesso às informações
sobre possibilidades terapêuticas.
Neste cenário, o presente artigo tem por objetivo refletir acerca dos desafios
com vistas a fortalecer a Enfermagem enquanto ciência do cuidar. Foi organizado
articulando aspectos da Enfermagem enquanto disciplina, trabalho e profissão da
saúde e sustentado pela teoria sociológica. O referencial teórico articula
formulações acerca do processo de trabalho em saúde e enfermagem com base no
materialismo histórico-dialético, a sociologia das profissões em uma
perspectiva crítica e a filosofia da ciência.
A ENFERMAGEM E OS DESAFIOS PROFISSIONAIS
O debate acerca da classificação de um trabalho como ocupação ou profissão é
significativo e fundamenta-se nas características dos diferentes trabalhos e na
capacidade de seus exercentes demonstrarem a importância de seu trabalho e a
necessidade de disporem de prerrogativas legais de proteção. Dentre os
atributos de profissão destaca-se: realizar um trabalho que tenha utilidade
social, ou seja, a sociedade reconhece a sua necessidade e importância;
fundamentar-se em um saber especial a ser produzido pelos exercentes da
profissão e transmitido pelos pares na formação de novos profissionais; dispor
de autonomia para decidir sobre o seu trabalho; contar com legislação
especifica que define quem pode exercer a profissão; dispor de um código de
ética que estabeleça padrões orientadores para o agir profissional; e contar
com entidades que representem a profissão na sociedade e que defendam os
parâmetros ético-legais e as condições requeridas para este fazer.
A base teórica destes atributos origina-se de Max Weber(1) e da Sociologia das
Profissões, com contribuição especial da produção Norte Americana das décadas
de 1970 e 1980(2-5) e utilizada internacionalmente(6). No Brasil, tem sido
utilizada em estudos sobre o trabalho em saúde destacando-se Machado(7),
Pereira e Pereira Neto(8) e, em uma perspectiva crítica, por Pires(9-11) e
Bellaguarda e colaboradores(12).
O debate sobre ocupação e profissão não diz respeito somente a questões
teóricas, envolve a dinâmica da vida em sociedade e a luta política que demanda
analisar os atributos da sociologia das profissões relativizando sua aplicação.
Ou melhor, ao colocar atributos teóricos em práticas concretas podemos
questionar o tipo ideal formulado. Assim, analisar o trabalho da Enfermagem
relacionado aos atributos de profissão requer olhar para a utilidade social
deste trabalho, assim como para os determinantes histórico-sociais de seu papel
no campo multiprofissional de saúde. Diferentes posições e interesses se
expressam no aparelho de estado, no campo jurídico e no legislativo em
permanente movimento. Os resultados refletem a correlação de forças dos
diferentes grupos de trabalhadores que lutam por reconhecimento social, e do
movimento de empregadores que motivados pela dimensão econômica atuam, na
maioria das vezes, fortalecendo a estratificação e defendendo a atribuição de
diferentes valorizações econômicas e de status a distintos trabalhos. No campo
da saúde o modelo da biomedicina e a lógica da organização capitalista do
trabalho resultaram em fragmentação dos seres humanos e em fragmentação e
hierarquização do trabalho. Em sentido oposto, os conceitos de integralidade e
interdisciplinaridade tratam da necessidade de redirecionar a prática
assistencial para o foco no ser humano e nas trocas entre os diversos saberes
com vistas a impactar positivamente a qualidade, a segurança e a satisfação de
usuários e profissionais. Os resultados de práticas colaborativas
interdisciplinares poderiam contribuir, ainda, para a redução dos crescentes
custos do setor e para a redução dos efeitos adversos causados pelo desperdício
e pelos danos ambientais.
Neste cenário encontra-se quem defenda que a Enfermagem é uma semiprofissão por
não responder ao "tipo ideal" descrito para profissões como medicina,
advocacia, engenharia, clérigos e professores universitários(7). No entanto,
considerando-se a mesma base teórica que caracteriza determinados grupos de
trabalhadores como profissão e outros como ocupação ou "semiprofissão", podemos
afirmar que a Enfermagem é uma profissão do campo da saúde,
reconhecida desde a segunda metade do século que XIX quando Florence
Nightingale acrescenta atributos a um campo de atividades de cuidado
à saúde desenvolvidas, milenarmente, por indivíduos ou grupos com
diferentes qualificações e em diferentes cenários. Com Florence, o
cuidado ganha especificidade no conjunto da divisão do trabalho
social, é reconhecido como um campo de atividades especializadas e
necessárias/úteis para a sociedade e que, para o seu exercício,
requer uma formação especial e a produção de conhecimentos que
fundamentem o agir profissional(11).
Considerando-se ainda os atributos de profissão aplicados à realidade atual da
Enfermagem brasileira, podemos afirmar que se trata de uma profissão por: a)
ser desenvolvida por trabalhadores qualificados e especializados para a
realização de uma atividade socialmente necessária, fundamental para a vida
humana - o cuidado de pessoas com necessidades de atenção/assistência em saúde;
b) contar com entidades que a representam no conjunto da sociedade formulando e
propondo regras para o exercício profissional, destacando-se a definição de um
código de ética que orienta o agir profissional em bases moralmente aceitáveis;
c) ser reconhecida pela sociedade e pelo Estado, ao contar com uma Lei que
define quem pode exercer a profissão e os parâmetros para o seu exercício; e,
d) dominar "um campo de conhecimentos que lhe dá competência para cuidar das
pessoas, em todo o seu processo de viver", no âmbito individual e coletivo, e
entendendo que este processo de cuidar tem três dimensões básicas "cuidar de
indivíduos e grupos, da concepção à morte"; o educar/pesquisar "que envolve o
educar intrínseco ao processo de cuidar, a educação permanente no trabalho, a
formação de novos profissionais e a produção de conhecimentos que subsidiem o
processo de cuidar"; e a "dimensão administrativo-gerencial de coordenação do
trabalho coletivo da enfermagem, de administração do espaço assistencial, de
gerenciamento do cuidado e de participação no gerenciamento da assistência de
saúde e institucional"(11).
Ao pensar a Enfermagem como trabalho e profissão, é apropriada a ideia de
fortalecer/reafirmar conquistas e ser capaz de captar o emergente/tendências.
Em cenários complexos, de incertezas e em constante mudança cabe usar como
referência a defesa do direito à vida, à saúde e a cuidados seguros e de
qualidade. Assim como, defender a valorização da profissão orientando-se pelo
agir ético e pelo exercício do pensamento crítico para análise das políticas de
saúde, de seu saber, de sua prática e do paradigma hegemônico de ciência,
considerando os cenários sócio econômico, epidemiológico e demográfico da
população. Enquanto trabalho e profissão é fundamental, ainda, produzir
conhecimentos acerca de padrões éticos e do perfil da força de trabalho (em
termos de qualidade e quantidade) requerida para um agir profissional seguro
para profissionais e usuários dos serviços de saúde. É necessário produzir
conhecimentos que instrumentalizem o processo de tomada de decisões e a luta da
categoria por condições adequadas de trabalho, aqui entendidas em sentido
ampliado, o que, como formulado por Pires, Lorenzetti e Gelbcke(13), inclui:
salário; jornada; regras de aposentadoria; ambiente de trabalho adequado;
instrumentos de trabalho seguros, tecnologicamente apropriados e em quantidade
adequada; equipamentos de proteção individual e coletiva; situação contratual;
número e qualificação da força de trabalho; divisão do trabalho. Produzir
conhecimentos que fundamentem as lutas por legislação trabalhista apropriada
para o trabalho na saúde e na Enfermagem e por políticas públicas adequadas às
necessidades de saúde da população em cada momento histórico. E produzir
conhecimentos sobre gestão em saúde e Enfermagem, diferentes sistemas, culturas
e práticas de saúde e sobre protocolos clínicos e intervenções terapêuticas.
Resgatando as ideias de núcleo e campo formuladas por Campos(14), produzir
conhecimentos que fundamentem o núcleo profissional "Enfermagem" para sua
atuação qualificada no campo da saúde atuando em defesa da vida, do direito à
saúde e do viver com qualidade e segurança.
Cabe aos profissionais de Enfermagem produzir conhecimentos sobre o que
identifica o trabalho da Enfermagem no trabalho coletivo multiprofissional em
saúde; o que significa um trabalho interdisciplinar e como a Enfermagem se
coloca neste debate; qual a contribuição da Enfermagem para a assistência de
saúde incluindo a promoção da saúde, práticas de cuidado, o viver com
incapacidades e limitações e cuidados no processo de morrer.
Produzir conhecimentos sobre ética, bioética e suas implicações no fazer da
Enfermagem. Produzir conhecimentos sobre história do campo da saúde e da
Enfermagem e sobre educação em saúde e Enfermagem. No âmbito da educação estão
incluídos estudos sobre concepções pedagógicas, formulação de políticas
adequadas, formação de novos profissionais, e educação permanente como direito
e dever profissional para fundamentar ações seguras e de qualidade.
Não existe um a prioriexterno a profissão, atemporal, apolítico e sem
interesses econômicos e de classe, que estabeleça o que pertence e o que não
pertence à Enfermagem, como bem formulado por Fourez(15). Cada cenário é
histórico, socialmente construído e resulta da luta política, portanto cabe aos
próprios profissionais de Enfermagem definir parâmetros do que é requerido para
uma prática adequada e segura, para profissionais e usuários(16). Esses
parâmetros tem que ser fundamentados em pesquisas, servindo de subsídio para as
intervenções políticas de suas entidades organizativas. Segundo Freidson(5) a
expertise e o "credencialismo" sustentam as profissões e garantem a autonomia
profissional. Neste sentido, é fundamental dispor de entidades que defendam o
que cabe à profissão e que se posicionem contra o exercício ilegal.
"Credencialismo" tem relação com a capacidade de seus exercentes, através de
entidades representativas, convencer a sociedade e o Estado de que este
trabalho é especial e necessita de condições especiais para ser exercido.
Nesta abordagem cabem algumas perguntas:
O que temos a dizer em relação ao número de profissionais de enfermagem/
população? O perfil da força de trabalho da enfermagem disponível no país é
adequado em quantidade e qualidade? Qual o parâmetro utilizado para definir a
adequação ou não?
O que temos a dizer em relação ao custo da força de trabalho da Enfermagem?
Qual a relação entre trabalho e adoecimento dos profissionais de Enfermagem?
Qual a relação entre jornada de trabalho, adoecimento dos profissionais e
segurança nos cuidados prestados à população?
O que temos a dizer sobre o financiamento do setor saúde? Qual a análise
crítica que fazemos ao comparar com a realidade de outros países?
O que temos a dizer sobre regras requeridas para a formação profissional?
O que temos a dizer sobre os Projetos de Lei (PL) em tramitação no Congresso
Nacional como o que pretende criar a "profissão de cuidadores de idosos", o PL
2295/2000 que regulamenta Jornada de Trabalho dos Profissionais de Enfermagem,
e o PL conhecido como "Saúde mais 10"?
O que temos a dizer sobre políticas atuais do governo brasileiro para a saúde
como: a relativa às Urgências e Emergências explicitadas em Manual Instrutivo
elaborado pelo Ministério da Saúde (MS) em 2013; o Índice de Desempenho do SUS
(IDSUS); o Programa Nacional de Segurança do Paciente aprovado pela Portaria MS
529 de abril de 2013; o programa "Mais Médicos"?
Todas estas iniciativas constituem-se em políticas que atendem necessidades dos
usuários ou (no todo ou em parte)? De que modo as políticas prescritas
interferem no trabalho da Enfermagem? E o que temos a dizer sobre
pronunciamentos de autoridades governamentais que tem dado excessiva relevância
a necessidade de médicos e a déficits na infraestrutura dos serviços de saúde
como se saúde fosse feita com médicos, medicamentos e equipamentos médico-
hospitalares?
Para avançar a ciência do cuidar é preciso fortalecer-se como profissão
exercida por profissionais cidadãos que lutam para que seus exercentes possam
atingir, com qualidade, a finalidade de seu trabalho. Neste sentido é
prioritária uma aliança com os usuários em defesa do direito à saúde, à vida e
a cuidados de qualidade, assim como é responsabilidade indelegável dos
profissionais de enfermagem, definir parâmetros para a realização do seu
trabalho.
A ENFERMAGEM E OS DESAFIOS COMO CIÊNCIA DO CUIDAR: OS CAMINHOS DA PESQUISA
Como "ciência do cuidar", é fundamental analisar criticamente as bases
epistemológicas da produção do conhecimento disponibilizado pela profissão, no
sentido de defender o rigor científico e sua utilidade social.
Cabe à profissão a reflexão filosófica sobre o que é cuidado, cuidado humano e
cuidado de saúde? Qual a finalidade, a natureza e o significado do cuidado
humano? O que é cuidado de Enfermagem?
Cabe produzir conhecimentos que fundamentem intervenções de Enfermagem no
processo de cuidar da saúde das pessoas, da concepção à morte. Em cuidados
individuais ou coletivos, no âmbito da promoção da saúde, da prevenção de
doenças e da produção de tecnologias de cuidado em situações de adoecimento, de
dor e sofrimento.
Articulando o "clássico e o emergente" com vistas a fortalecer a Enfermagem
enquanto profissão do campo da saúde e enquanto disciplina científica do
cuidado humano, cabe intervir na defesa da mudança da árvore de enquadramento
das pesquisas em Enfermagem disponibilizada no site do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O CNPq constitui-se no
principal órgão financiador de pesquisadores do país e, ao apresentar
determinada árvore de classificação das pesquisas, orienta o financiamento em
pesquisa. Portanto, é indutor da produção de conhecimentos. Ao mesmo tempo,
mostra o que é a ciência da Enfermagem. Cabe aos profissionais e pesquisadores
da Enfermagem analisar, permanentemente, a sua adequação e propor mudanças.
Neste processo é necessário analisar a realidade da profissão considerando o
macrocenário econômico-social que define os constrangimentos institucionais e
jurídico-legais no qual o seu trabalho é realizado.
A atual árvore de conhecimentos, para a Área da Enfermagem (Figura_1),
disponível no site do CNPq(17), é constituída por 06 sub-áreas: Enfermagem de
Doenças Contagiosas, Enfermagem de Saúde Pública, Enfermagem Médico-Cirúrgica,
Enfermagem Obstétrica, Enfermagem Pediátrica e Enfermagem Psiquiátrica. Este
desenho é emblemático e representa a ciência normal de base positivista, além
de não mostrar o que identifica a Enfermagem como disciplina da ciência e como
profissão, no âmbito do trabalho coletivo em saúde.
![](/img/revistas/reben/v66nspe/a05fig01.jpg)
Os pesquisadores da área de Enfermagem, os Coordenadores de Programas de Pós-
Graduação e as representações da profissão na Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES), no CNPq e na Associação Brasileira de
Enfermagem (ABEn) têm assumido o papel requerido de discutir o que a Enfermagem
pesquisa e o que deve pesquisar. Neste processo de debates vem sendo
identificada a necessidade de mudança das subáreas disponíveis para
enquadramento das pesquisas de Enfermagem no CNPq.
Em busca de consensos provisórios (historicamente determinados, portanto
provisórios) para orientar a ação, a comunidade de pesquisadores de Enfermagem
elaborou uma primeira síntese coletiva em encontro ocorrido em 1998 em Niterói/
RJ, o qual reuniu a representação da área de Enfermagem na CAPES e as
Coordenações de Programas de Pós-Graduação em Enfermagem do país. Essa síntese
foi debatida, novamente, no ano seguinte em encontro realizado durante o SENPE,
na cidade de Gramado/RS. Essa síntese coletiva organizou a produção do
conhecimento em Enfermagem em três macro campos - profissional, assistencial e
organizacional - sinalizando uma aproximação com o fazer e a identidade
profissional e, ao mesmo tempo, a busca de um distanciamento do paradigma da
biomedicina.
Em maio de 2013, as representantes da área da Enfermagem no CNPq promoveram um
encontro, envolvendo pesquisadores da área, Coordenadores de Pós-Graduação e
ABEn, para debater a atual configuração da árvore de enquadramento das
pesquisas pelo CNPq. Neste encontro identificou-se um consenso de que o atual
enquadramento não corresponde aos anseios da profissão. No entanto, não se
chegou a formulação de uma nova proposta. Os diversos grupos de trabalho
apresentaram propostas, sendo todas acolhidas para posterior síntese
orientadora de intervenção junto a esse órgão do Ministério da Ciência e
Tecnologia.
Considerando o formulado por Fourez(15) ao tratar da filosofia da ciência, cabe
explicitar que é de responsabilidade da Enfermagem definir o que lhe pertence
enquanto disciplina do conhecimento científico. Considerando-se o produzido em
um dos Grupos de Trabalho do referido encontro e a perspectiva de associar "o
clássico e o emergente", apresento para debate uma proposta preliminar para uma
"nova árvore" de enquadramento das pesquisas em Enfermagem no CNPq (Figura_2).
[/img/revistas/reben/v66nspe/a05fig02.jpg]
A organização se daria em 06 subáreas: Cuidado de Enfermagem; Trabalho,
Organização e Gestão em Enfermagem e Saúde; História, Filosofia e Ética em
Enfermagem e Saúde; Educação em Enfermagem e Saúde; Tecnologias e Inovação
Tecnológica em Enfermagem e Saúde; Enfermagem, Políticas Públicas e Prioridades
em Saúde.
A primeira subárea, denominada "Cuidado de Enfermagem", incluiria pesquisas que
abordem práticas, ações e políticas de cuidado na dimensão individual e
coletiva e desenvolvidas em todos os espaços de intervenção em saúde (públicos
e privados), em todos os níveis de complexidade da assistência. Esta grande
subárea seria dividida conforme as práticas de cuidado durante o ciclo vital e
manteria a visibilidade de áreas já consolidadas. Ao escolher a subárea
"Cuidado de Enfermagem" o pesquisador(a) escolheria, também, uma das 05 opções
a serem disponibilizadas - na saúde da criança e adolescente, na saúde do
adulto e idoso, na saúde da mulher, na saúde mental e em situações de
adoecimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensar a profissão e a produção de conhecimentos requer articulação com a luta
político profissional de construção de um projeto coletivo que considere
intervenção no setor saúde e valorização profissional. É preciso que os
profissionais de Enfermagem tenham capacidade crítica e assumam o protagonismo
no setor saúde e na sociedade mostrando-se como uma profissão que defende o
direito universal à saúde e a cuidados seguros e de qualidade.
Esse protagonismo só será possível com entidades e organizações representativas
da profissão que atuem orientadas por preceitos éticos, fundamentadas na
representação e no agir democrático, que utilizem os recursos orçamentários de
forma responsável, transparente e aderente às necessidades da categoria. É
necessário, também, superar a fragmentação na representação profissional, tendo
como horizonte a unidade de ação, sem deixar de enfrentar as divergências e os
problemas vivenciados em nossas organizações, em especial no Sistema Conselho
Federal/Conselhos Regionais de Enfermagem. Atuar buscando acumular forças para
conquistas que atendam profissionais e população.