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BrBRCVHe0034-71672014000500684

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National varietyBr
Year2014
SourceScielo

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Agravos à saúde referidos pelos trabalhadores de enfermagem em um hospital público da Bahia INTRODUÇÃO O trabalho é essencial para a vida humana. A maneira como é desenvolvido associa-se às vivências objetivas e subjetivas dos trabalhadores. Nesse sentido, os agravos à saúde do trabalhador desenvolvem-se de maneira multicausal, devendo-se levar em conta a interação entre fatores patogênicos.

Os estudos sobre o adoecer dos trabalhadores e as formas como ele interage com o trabalho tem ganhado destaque na comunidade científica e propiciam uma compreensão mais ampla da ocorrência e do curso dos agravos à saúde bem como das suas consequências diretas e indiretas para os indivíduos, famílias e sociedade.

Estudos apontam para o entendimento que o trabalho não é neutro em relação à saúde, uma vez que seu desenvolvimento se mediante múltiplas situações como forma de organização e gestão, relações e contratos de trabalho que repercutem no viver, adoecer e morrer dos trabalhadores(1).

O trabalho de enfermagem em instituições hospitalares foi escolhido como foco deste estudo. No Brasil, os profissionais de enfermagem, em especial os que trabalham em instituições hospitalares têm reconhecidamente longas jornadas de trabalho. A escala de plantões permite que esses profissionais se dediquem a mais de uma atividade produtiva o que pode levar à exaustão e consequente adoecimento, podendo ainda afetar a qualidade da assistência aos pacientes(2).

A assistência de enfermagem é prestada por uma equipe com formação técnica diferenciada cabendo ao enfermeiro ações gerenciais, de supervisão e prestação de cuidados de maior complexidade. Ao pessoal de nível médio cabe executar, sob supervisão, atividades menos complexas, e assistência direta ao cliente, como banho, troca de roupas, administração de medicações, como dispõe a Lei 7498 de 25 de junho de 1986, que regulamenta o exercício da Enfermagem.

Essa divisão das atribuições torna o trabalho de enfermagem parcelado, fragmentado acrescido de elevada carga de trabalho, tensão emocional advinda do contato direto com a dor, a morte e o desenvolvimento de tarefas desagradáveis, repulsivas e aterradoras, pode gerar danos à saúde, propiciando a ocorrência de acidentes, adoecimento e morte(3).

Com relação ao adoecimento, os trabalhadores de enfermagem apresentam perfis diferenciados da população em geral, pois se encontram mais propensos a adoecer ou morrer por causas relacionadas ao trabalho e pela exposição às cargas e riscos inerentes a sua atividade laboral.

Frente a esta situação, o objetivo deste estudo foi estimar a ocorrência de agravos à saúde, referidos pelos trabalhadores de enfermagem (auxiliares, técnicos, enfermeiros) em um hospital público de Feira de Santana, Bahia.

METODOLOGIA Este estudo utilizou informações coletadas na pesquisa "Condições de trabalho e transtornos mentais comuns na equipe de enfermagem em um hospital geral público em Feira de Santana-BA", realizada por pesquisadores da Sala de Situação e Análise Estatística e Epidemiológica da Universidade Estadual de Feira de Santana, no ano de 2010. Trata-se, portanto, de um recorte dos dados existentes visando abranger apenas os agravos à saúde e fatores relacionados a estes.

Trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva, realizada em um Hospital Geral de Feira de Santana-BA, de grande porte, centro de referência na atenção à saúde de média e alta complexidade do Sistema Único de Saúde (SUS). A população do estudo foi constituída por enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem atuantes nos diversos setores do hospital no ano de 2010.

Participaram da pesquisa 309 trabalhadores: 85 enfermeiros, 233 técnicos e auxiliares de enfermagem.

Os critérios de inclusão foram: ser trabalhadores da equipe de enfermagem (enfermeiros, técnicos e auxiliares); estar desenvolvendo atividades assistenciais e aceitar participar do estudo após a leitura e assinatura do termo de consentimento livre esclarecido (TCLE). Foram excluídos do estudo aqueles que, no momento da coleta, estavam afastados do trabalho por doença, licença gestação, férias, e que não estivessem atuando em atividades assistenciais.

A coleta de dados foi realizada utilizando-se questionário padronizado respondido no próprio local de trabalho. O questionário levantou as características sociodemográficas; as condições de trabalho; as queixas de saúde e doença, acidentes de trabalho, problemas de saúde recentes e hábitos de vida. O questionário incluiu ainda instrumentos validados internacionalmente como o Job Content Questionnaire (JCQ). Para avaliação da saúde mental dos trabalhadores, foram utilizados os escores obtidos no Self Report Questionnaire (SRQ-20), com ponto de corte para suspeição de Sofrimento Mental (DPM) de sete ou mais respostas positivas. Como teste de triagem para detecção de abuso no consumo de bebidas alcoólicas, foi utilizado o Teste CAGE (Acrossomia referente a quatro perguntas do original em inglês: Cut down, Annoyed by cristicism, Guilty e Eye- opener), adotando-se como ponto de corte duas ou mais respostas positivas.

Na avaliação do padrão de sono utilizou-se o Mine Sleep Questionnaire (MSQ), que, de uma forma abrangente, avalia aspectos relacionados ao padrão de sono, classificando-o como: sono muito bom (0-9 pontos), sono bom (10-24 pontos), sono levemente alterado (25-27 pontos), sono moderadamente alterado (28-30 pontos) e sono muito alterado (acima de 30).

Foi levantado inicialmente o perfil da população estudada, a partir de frequências dos dados de interesse, sendo utilizado o programa estatístico "Social Package for the Social Sciences SPSS", versão 9.0 for Windows.

A análise descritiva buscou identificar as frequências absolutas e relativas para as variáveis categóricas. A descrição iniciou-se pela análise univariada do perfil de cada variável separadamente. A seguir, foi feita a análise da relação entre as variáveis referentes às condições do trabalho, variáveis referentes à saúde e variáveis sociodemográficas, através da análise bivariada.

Foram separadas duas categorias profissionais, a de Enfermeiros, agrupando-se a categoria de Técnicos e auxiliares de enfermagem, visto que, neste hospital, estes profissionais desenvolvem o mesmo tipo de atividade. A prevalência foi utilizada como medida de ocorrência para as variáveis de interesse.

O estudo obteve parecer favorável do Comitê e Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de Santana sob protocolo n. 14/2010; CAAE 09896012.6.0000.0053.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Características sociodemográficas Responderam ao questionário 309 profissionais de enfermagem, correspondendo a 100% da população elegível. Dentre os entrevistados 72,4% (223) eram Técnicos e auxiliares de enfermagem e 26,6% (85) eram enfermeiros. A proporção de enfermeiros na equipe é superior a relatada no estudo realizado com profissionais de enfermagem no Mato Grosso do Sul que identificou 15,7% da equipe como enfermeiros(4) e em estudo realizado em um hospital geral na Serra Gaúcha, onde 11,6% dos entrevistados pertenciam a esta categoria profissional (5).

Constatou-se que a maioria dos trabalhadores entrevistados pertence ao sexo feminino com 90,8% (278). A média de idade da população estudada foi de 36,9 ± 9,9, não havendo diferenças entre os grupos profissionais (Tabela_1). Este resultado reflete o fato de que, historicamente, a categoria de enfermagem tem se configurado como predominantemente feminina, razão pela qual as questões relacionadas ao gênero não podem deixar de ser consideradas na análise do processo saúde-doença dessa categoria de trabalhadores. Em especial, devem ser consideradas as interações entre o trabalho remunerado e o trabalho doméstico, geralmente atribuído às mulheres, que podem tornar-se potencializadores das cargas de trabalho, sendo este um aspecto-chave na compreensão do impacto diferenciado das condições de trabalho sobre a saúde de homens e mulheres.

Tabela 1 Características sociodemográficas dos trabalhadores de enfermagem de um hospital público de Feira de Santana, Bahia, 2010  Técnicos / Aux. de Enfermeiros Variável   enfermagem n % n % Sexo Feminino 200 90,9 77 90,6   Masculino 20 9,1 08 9,4 Faixa Etária Até 30 anos 61 29,8 38 35,0   31 a 45 anos 90 43,9 30 42,4   Mais de 45 anos 54 26,3 10 22,6 Situação conjugaCasado/União livre 104 49,5 44 53,0   Solteiro 80 38,1 31 37,3   Divorciado/separado/ 26 12,4 08 9,6 desquitado/Viúvo Naturalidade Feira de Santana 108 49,3 46 54,1   Outro município 99 45,2 32 37,6   Outro Estado 12 5,5 07 8,2 Ter Filhos Não 81 37,5 44 53,0   Sim 135 62,5 39 47,0 Escolaridade Até Grau 193 88,5 - -   Superior completo 25 11,5 84 100,0 * respostas válidas, excluídas as respostas ignoradas.

Com relação à situação conjugal este estudo demonstrou que a maioria eram casados ou conviviam em união livre, condição apontada por outro estudo semelhante como mecanismo protetor ao adoecimento físico e psíquico(5). No entanto, neste estudo essa associação não foi abordada. (Tabela_1).

No atual contexto da enfermagem os profissionais têm buscado cada vez mais qualificação. A pesquisa em questão revelou que, entre os enfermeiros, 27,1% possuem pós-graduação e, entre os técnicos e auxiliares de enfermagem, 11,5% apresentam nível superior. Este dado é relevante, visto que a qualificação profissional pode refletir na melhora do atendimento ao paciente, na medida em que favorece o melhor desenvolvimento de suas competências (Tabela_1).

No entanto, o fato de profissionais de nível médio adquirir qualificação igual ou superior à de seus superiores imediatos, mas permanecer em cargos de menor prestígio e com salários inferiores, pode ser condição desencadeadora de conflitos nas relações de poder e de agravos de ordem psíquica entre estes profissionais, fato que requer estudos mais aprofundados.

Com relação aos hábitos de vida, 87,5% (264) dos profissionais relataram realizar atividade de lazer, pelo menos uma vez por semana, sendo esta frequência levemente superior entre os enfermeiros 90,4% (75), quando comparado com os técnicos e auxiliares 86,3% (189). Entende-se que o lazer tem papel fundamental enquanto meio alternativo para o relaxamento e alívio dos problemas advindos do contexto e cotidiano do indivíduo (Tabela_2).

Tabela 2 Hábitos de vida dos trabalhadores de enfermagem de um hospital público em Feira de Santana, Bahia, 2010    Técnicos / Aux. de Enfermeiros Hábitos de vida enfermagem   n % n % Desenvolve alguma atividade de lazer Sim 189 86,3 75 90,4   Não 30 13,7 7 9,6 Frequência com que pratica atividade de Todos os dias - - - - lazer   3-4 x /semana - - 01 1,2   1-2 x / semana 219 100,0 82 98,8 Tipo de atividade Assistir TV / 123 58,6 26 31,3 Ouvir música Cinema / Teatro   /Shows / 67 31,9 33 39,8 Barzinho   Praia / Piscina 10 4,8 12 14,5   Visita/ Sair com 09 4,3 07 8,4 amigos   Prática de 01 0,5 05 6,0 esportes Tabagismo Nunca fumou 187 85,4 77 92,8   Ex fumante 22 10,0 06 7,2   Até 4 cigarros/ 03 1,4 - - dia   Mais 4 cigarros 07 3,2 - - / dia Etilismo Não 166 76,1 66 79,5   Sim 52 23,9 17 20,5 * respostas válidas, excluídas as respostas ignoradas O tabagismo e etilismo foram investigados, sendo os escores mais elevados na categoria de nível médio. Entre os que informaram fazer uso de bebida alcoólica 7,5% (04) foram positivos ao Teste CAGE e destes 100% eram técnicos e auxiliares. (Tabela_2).

As características profissionais são apresentadas na Tabela_3. Com relação ao tempo de trabalho na Enfermagem, os profissionais apresentaram, em média, 11,8 anos ± 9,9 de trabalho, sendo que a maioria informou até 05 anos, dentre os quais 36,8% (82) são técnicos e auxiliares e 47,1% (40) enfermeiros.

Tabela 3 Características do trabalho profissional dos trabalhadores de enfermagem de um hospital público em Feira de Santana, Bahia, 2010    Técnicos / Aux. de Enfermeiros Características do trabalho enfermagem   n % n % Tempo de trabalho na Enfermagem 0 - 5 anos 82 36,8 40 47,1   6 - 15 anos 63 28,3 23 27,1   16 - 25 anos 37 16,6 12 14,1   Acima de 26 anos 41 18,4 10 11,8 Turno de trabalho Diurno 89 57,4 27 56,3   Noturno 51 32,9 08 16,7   Outros 15 9,7 13 27,1 Número de locais de trabalho 01 123 55,4 19 23,6   02 85 38,3 49 58,3   03 11 5,0 14 16,7   04 ou mais 03 1,4 02 2,4 Tempo de deslocamento até o local de Até 30min 93 42,5 71 84,5 trabalho   30min - 2h 110 50,2 09 10,7   Acima de 2h 16 7,3 04 4,8 Renda mensal 1 a 3 salários 195 99,0 58 72,5 (SM)   4 - 7 salários 02 1,0 22 27,5 (SM) * respostas válidas, excluídas as respostas ignoradas SM = Salário mínimo O turno de trabalho mais frequente foi o diurno, não apresentando diferenças entre as categorias. No entanto, a frequência de trabalho noturno foi superior entre os técnicos e auxiliares. Destaca-se que, neste hospital, no período noturno, ocorre redução do quantitativo de enfermeiros e a maioria assume dois ou mais setores neste período, fator que pode aumentar sobrecarga física e mental (Tabela_3).

Estudos apontam que o trabalho noturno, o alternado e os plantões são muito nocivos à saúde dos profissionais, levando a alterações nos padrões do sono, nas funções gastrintestinais e no ritmo circadiano, dificultando a conciliação entre a vida familiar e social(6). Dessa forma, considera-se que o déficit de sono reduz a capacidade cognitiva, diminui a capacidade de execução de tarefas e expõe os trabalhadores de enfermagem a acidentes e falhas. Observa-se que o regime de trabalho, a depender do tipo, pode ser considerado como um fator de risco para o desenvolvimento de agravos a saúde.

Duplo emprego foi uma realidade para 58,3% (48) dos enfermeiros; a maioria dos técnicos e auxiliares da instituição em estudo não apresentava outro vínculo empregatício, 55,4% (123). Esses resultados corroboram com a realidade vivenciada por 50,3% das trabalhadoras de enfermagem de um hospital universitário de São Paulo(7). Na atual realidade econômica dos trabalhadores da saúde é comum a dupla e até tripla jornada de trabalho, em virtude dos baixos salários, os quais são insuficientes para o sustento adequado da família (Tabela_3).

O efeito da dupla jornada na saúde destes profissionais é marcante, em especial entre as mulheres, que tendem a agregar a realização do trabalho doméstico e o cuidado com os filhos. Essa duplicidade de papéis repercute no seu cotidiano, podendo levar a diminuição do rendimento no trabalho e do tempo dispensado ao autocuidado e lazer. Além disso, por conta dessa sobrecarga estes profissionais tem maior tendência ao adoecimento e absenteísmo(8).

Perfil de adoecimento dos trabalhadores de enfermagem A presença de doenças ocupacionais diagnosticadas por médico do trabalho foi informada por 14,3% (44) da população estudada. Entre os enfermeiros, 7,1% (06) referiram alguma doença, frequência que aumenta para 17,2% (38) entre os técnicos e auxiliares.

Na Enfermagem, a ocorrência de maior quantidade de relatos de adoecimento entre o pessoal de nível médio talvez se explique pela natureza do trabalho desenvolvido: assistência direta ao cliente, como banho, troca de roupas, transferências e administração de medicamentos, tarefas que exigem maior esforço físico, repetitivas e monótonas, além do contato muito próximo com o sofrimento(9). Estudo realizado em Minas Gerais evidenciou que auxiliares e técnicos de enfermagem foram os que mais demandaram atendimento médico 86,9%, seguidos pelos enfermeiros, com 10,9% dos atendimentos(10).

Entre os problemas de saúde referidos desde o início de suas atividades laborais na unidade hospitalar, 52,8% (163) apontaram a lombalgia como mais frequente, seguida por varizes em membros inferiores 46,3% (143) e infecção urinária 37,5% (116). Estes problemas de saúde não variaram quando separados por categorias profissionais. No entanto, entre os enfermeiros, as maiores frequências de agravos foram varizes em membros inferiores 47,1% (40), e infecções respiratórias repetidas 20% (17). Entre os técnicos / auxiliares de enfermagem os demais problemas apresentaram prevalências superiores (Tabela_4).

Tabela 4 Problemas de saúde referidos pelos trabalhadores de enfermagem de um hospital público de Feira de Santana, Bahia, 2010  Problemas de Saúde Sim NãoPrev.

Lombalgias     52,6  Técnicos/ Aux. de enfermagem 120 103 53,8  Enfermeiros 42 43 49,4 Varizes MMII     46,1  Técnicos/ Aux. de enfermagem 102 121 45,7  Enfermeiros 40 45 47,1 Infecção urinária     37,7  Técnicos/ Aux. de enfermagem 89 134 39,9  Enfermeiros 27 58 31,8 Hipertensão     19,8  Técnicos/ Aux. de enfermagem 51 172 22,9  Enfermeiros 10 75 11,8 Lesão por esforço repetitivo     15,9  Técnicos/ Aux. de enfermagem 40 183 17,9  Enfermeiros 9 76 10,6 Infecções respiratórias repetid     16,2  Técnicos/ Aux. de enfermagem 33 190 14,8  Enfermeiros 17 68 20,0 Sinusite crônica     14,3  Técnicos/ Aux. de enfermagem 32 191 14,3  Enfermeiros 12 73 14,1 * respostas válidas, excluídas as respostas ignoradas Os dados desta pesquisa são inferiores aos encontrados por outros autores, em estudo realizado em uma UTI de Ribeirão Preto-SP, onde a lombalgia acometeu 67% dos profissionais de enfermagem entrevistados(11).

A presença de varizes de membros inferiores encontrou elevada prevalência, provavelmente em razão dos longos períodos na posição ortostática e das longas distâncias percorridas no decorrer do trabalho; no entanto, o percentual foi inferior ao estudo realizado em Hospital Público de Curitiba-PR, em 2008, onde a prevalência dessa afecção foi de 57,23%(12).

Outra afecção bastante relatada foi a infecção urinária que, para os trabalhadores de enfermagem, pode estar relacionada a alterações no ritmo circadiano (trabalho em turnos), ambientes com temperaturas elevadas, exposição a gases e a substâncias químicas, assim como ao excesso de atividades. Esses fatores podem ser agravados por descuido na atenção às necessidades básicas de alimentação/eliminação e pela anatomia feminina.

A presença de Hipertensão Arterial também foi relatada pelos profissionais, sendo cerca de 2 (duas) vezes maior entre os técnicos e auxiliares quando comparado aos enfermeiros. Tais dados, no entanto foram inferiores aos encontrados em estudo realizado em Salvador-BA, que encontrou 40,1% de HAS em auxiliares de enfermagem(7); e em Fortaleza-CE, que identificou uma prevalência de 43,1% de HAS na mesma categoria profissional(13).

As queixas osteomusculares foram as mais referidas neste estudo. Os enfermeiros apresentaram a prevalência mais elevada, exceto para a dor nos braços (Tabela 5). Este resultado é contrário ao observado em outro estudo(10). A maior frequência destes sintomas entre os técnicos e auxiliares de enfermagem pode estar associada à execução da assistência direta ao cliente, a realização de movimentos repetitivos, aliados a exigências de força.

Tabela 5 Queixas e sintomas de alguns agravos à saúde referidos pelos trabalhadores de enfermagem de um hospital público em Feira de Santana, Bahia, 2010  Queixas e Sintomas Sim NãoPrev.

Sintomas Osteomusculares       Dor nas pernas     66,4  Técnicos/ Aux. de enfermagem 134 72 65,0  Enfermeiros 58 25 69,9 Dor nas costas     62,0  Técnicos/ Aux. de enfermagem 126 82 60,6  Enfermeiros 52 27 65,8 Dor nos braços     38,2  Técnicos/ Aux. de enfermagem 86 118 42,2  Enfermeiros 24 60 28,6 Formigamento nas pernas     35,4  Técnicos/ Aux. de enfermagem 70 130 35,0  Enfermeiros 29 51 36,3 Sintomas Respiratórios       Alergias     35,3  Técnicos/ Aux. de enfermagem 73 121 37,6  Enfermeiros 24 57 29,6 Rinite     32,7  Técnicos/ Aux. de enfermagem 66 137 32,5  Enfermeiros 27 54 33,3 Dor na garganta     27,9  Técnicos/ Aux. de enfermagem 60 141 29,9  Enfermeiros 19 63 23,2 Tosse     13,1  Técnicos/ Aux. de enfermagem 24 167 12,6  Enfermeiros 12 71 14,5 Rouquidão     9,0  Técnicos/ Aux. de enfermagem 18 178 9,2  Enfermeiros 07 75 8,5 Perda temporária da voz     4,0  Técnicos/ Aux. de enfermagem 10 181 5,2  Enfermeiros 01 80 1,2 Falta de ar     5,8  Técnicos/ Aux. de enfermagem 09 185 4,6  Enfermeiros 07 75 8,5 Sintomas Digestórios       Problemas digestivos     21,0  Técnicos/ Aux. de enfermagem 41 164 20,0  Enfermeiros 19 62 23,5 Sintomas Relacionados à Saúde Mental       Cansaço mental     47,1  Técnicos/ Aux. de enfermagem 82 113 42,1  Enfermeiros 49 34 59,0 Nervosismo     33,8  Técnicos/ Aux. de enfermagem 62 131 32,1  Enfermeiros 31 51 37,8 Esquecimento     24,4  Técnicos/ Aux. de enfermagem 47 148 24,1  Enfermeiros 21 63 25,0 Sintomas Relacionados ao Sono       Sonolência     36,4  Técnicos/ Aux. de enfermagem 67 125 34,9  Enfermeiros 33 50 39,8 Insônia     21,5  Técnicos/ Aux. de enfermagem 42 154 21,4  Enfermeiros 18 65 21,7 Sint. Relacionados aos órgãos dos sentido       Irritação nos olhos     14,6  Técnicos/ Aux. de enfermagem 32 168 16,0  Enfermeiros 09 71 11,3 Zumbido no ouvido     9,6  Técnicos/ Aux. de enfermagem 18 174 9,4  Enfermeiros 08 72 10,0 Não ouve bem     6,3  Técnicos/ Aux. de enfermagem 13 175 6,9  Enfermeiros 04 76 5,0 Sintomas Inespecíficos       Fraqueza     11,4  Técnicos/ Aux. de enfermagem 20 151 11,7  Enfermeiros 08 66 10,8 Tontura     9,9  Técnicos/ Aux. de enfermagem 20 172 10,4  Enfermeiros 07 75 8,5 Outros     7,8  Técnicos/ Aux. de enfermagem 05 60 7,7  Enfermeiros 02 23 8,0 Os sintomas relacionados ao aparelho respiratório 33,0% (94) apontaram rinite; e dor de garganta, com 28,2% (80) dos relatos. Quando separados por categoria profissional os enfermeiros apresentaram maiores prevalência para os sintomas de rinite 33,3% (27), tosse 14,4% (12) e falta de ar 8,5% (07) (Tabela_5). As infecções respiratórias têm sido pouco valorizadas pelos trabalhadores de saúde, provavelmente por que demandam poucas repercussões físicas e poucas faltas nas suas atividades laborais.

Estes profissionais acreditam que as afecções respiratórias podem ser provocadas por alterações climáticas ou baixa resistência, raramente relacionando-as à sobrecarga de trabalho, à alimentação. às condições inadequadas de trabalho e aos fatores de risco laborais. Ressalte-se que os agentes químicos podem causar também o comprometimento respiratório(6).

Com relação aos agravos relacionados ao sistema digestório, as prevalências foram semelhantes nos dois grupos profissionais; Acredita-se que problemas digestivos, como a gastrite nervosa, pode ser consequência do ambiente laboral estressante, em especial em ambiente hospitalar, onde é comum a falta de recursos materiais e humanos, que dificultam a prestação adequada dos cuidados de enfermagem(6). Para esta queixa os enfermeiros apresentaram prevalências superiores às apresentadas pelos técnicos e auxiliares de enfermagem.

As perturbações gastrointestinais, como úlceras pépticas e duodenais, gastroduodenites, anorexia e obstipação intestinal também podem ser ocasionadas por alterações no ritmo circadiano em decorrência do trabalho em turnos(6,14- 15).

Os resultados relacionados à saúde mental apontaram prevalência de 47,0% (131) para o cansaço mental, 33,7% (93) nervosismo e 24,3% (68) esquecimento frequente, sendo os enfermeiros mais acometidos por todos estes sintomas (Tabela_5). A ocorrência destes sintomas são condizentes com dados encontrados em outra pesquisa, onde o cansaço mental apresentou frequência de 40%, o esquecimento 27,9%. Estes eventos podem ocorrer como consequência da sobrecarga de trabalho, trabalho em turnos e altos níveis de exigência na execução das tarefas(16).

A prevalência de Distúrbios Psíquicos Menores (DPM) foi de 26,8% entre técnicos e auxiliares de enfermagem e de 32,1% entre os enfermeiros. O estudo apontou alta prevalência de sofrimento mental, em especial nos enfermeiros, sendo este índice superior ao obtido em outros estudos com trabalhadores de enfermagem e outros trabalhadores de saúde(5,7,14,16).

Nesse estudo foram encontrados elevadas frequências de trabalho de alta exigência, em especial entre os técnicos e auxiliares de enfermagem 16,6% (32) quando comparado com os enfermeiros 3,8% (03). A influência dos fatores psicossociais e a organização do trabalho em saúde tem revelado associação entre piores condições de trabalho com sintomas físicos e emocionais(17).

Dentre os problemas relacionados com o sono 36,6% (101) referiram sonolência e 21,8% (61) insônia. Entre os enfermeiros a prevalência destes sintomas foi maior quando comparada com os técnicos e auxiliares (Tabela_5).

Na análise do Mine-Sleep Questionnare verificamos que ambas as categorias apresentam padrões elevados de sono muito alterado, enfermeiros com 43,4% (36) e técnicos/auxiliares 44,9% (96). No entanto, os trabalhadores de nível médio apresentaram maiores prevalências de sono moderadamente alterado 13,7% (29), enquanto os enfermeiros relataram maiores escores de sono bom.

Corroborando estes achados, alguns estudos apontam que uma noite de privação de sono acarreta sintomas como insônia e sonolência excessiva durante o dia(18); além disso, o trabalhador de turno tem maior risco de desenvolver problemas cardiovasculares, gastrointestinais e outras afecções. A irritabilidade e a falta de memória e de concentração são apontadas como outros problemas decorrentes da privação do sono(18).

As alterações relativas aos órgãos dos sentidos foram relatadas por alguns autores e podem ser consequência da exposição a substâncias nocivas no ambiente laboral, como gases anestésicos, produtos químicos para limpeza e desinfecção de materiais e de superfícies, e ação de agentes biológicos (contaminação pelas mãos)(16).

Observa-se que os agravos à saúde do sistema respiratório e dos órgãos dos sentidos podem estar relacionados a infecções hospitalares, por meio de contaminação, ambientes fechados e pouco ventilados, baixa imunidade e estresse, fatores de risco presentes no cotidiano destes trabalhadores(15).

Os sintomas inespecíficos estudados foram classificados como tonturas, fraqueza e outros, que geralmente indicam que algo não está funcionando bem, podendo estar associados a outros agravos a saúde. Cerca de 19% dos agravos a saúde apresentados por trabalhadores hospitalares relacionavam-se a enfermidades psicossomáticas, "poliqueixas" e sintomas mal definidos(14).

CONCLUSÕES O presente estudo possibilitou a identificação de inúmeros agravos à saúde referidos pela equipe de enfermagem, muitos dos quais podem ser decorrentes das cargas presentes no ambiente laboral. A Enfermagem é reconhecida por ser uma atividade penosa, que lida diretamente com o sofrimento, o que exige muito, física e emocionalmente, do trabalhador. Soma-se a isso o frequente déficit de profissionais nas unidades, os turnos prolongados, as condições inadequadas de trabalho, limitado poder de decisão, entre outros fatores que contribuem para o processo de desgaste destes trabalhadores.

Evidenciamos neste estudo que os enfermeiros queixaram-se mais de sintomas osteomusculares, sintomas relacionados à saúde mental, sintomas digestórios e problemas com o sono, isso pode estar associado não apenas a sobrecarga física, mas principalmente a sobrecarga psíquica, visto que, estes profissionais são responsáveis pelo bom andamento das unidades (material, equipamentos, realização de exames) e também pela supervisão de atividades realizadas pelo pessoal de nível médio e algumas vezes pelas atividades desenvolvidas pelo pessoal de nível superior.

Entre técnicos e auxiliares de enfermagem as queixas mais frequências estavam relacionadas a agravos do sistema respiratório, o que pode ser justificado pelo contato mais frequente e próximo ao paciente.

Por fim, recomenda-se que os trabalhadores de enfermagem incorporem ao seu cotidiano atividades preventivas e ampliem a consciência do seu processo de trabalho e do desgaste decorrente deste, adquirindo conhecimento científico para prevenção dos agravos à saúde e fomentando o fortalecimento da categoria para lutar por melhores condições de trabalho e de vida.


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