Práticas de exposição e proteção solar de jovens universitários
INTRODUÇÃO
O câncer de pele é a neoplasia de maior incidência no Brasil. A doença
apresenta diferentes linhagens, sendo as mais comuns os tipos chamados de
câncer de pele não melanoma (CPNM) e o tipo melanoma (MC). O CPNM é o mais
frequente, responsável por 95% dos diagnósticos; trata-se de um tumor de
crescimento lento, localmente invasivo e de bom prognóstico se tratado de forma
adequada e oportuna, todavia a demora no diagnóstico pode levar a ulcerações e
deformidades físicas graves. O tipo melanoma é o menos frequente e mais grave,
detectado em 4% dos pacientes; nas fases iniciais é curável, mas, sem
tratamento, pode implicar no surgimento de metástases que causam elevada
mortalidade(1-3).
A estimativa de casos novos de CPNM do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para
2014 foi de 182.130 casos. O órgão prevê que este tipo de câncer continue sendo
o mais incidente no Brasil. Avalia-se que em 2020 o número de novos casos será
da ordem de 15 milhões em todo o mundo(2). A alta taxa de incidência, além de
representar forte impacto financeiro aos cofres públicos e aos sistemas
privados de saúde, determina graves repercussões psicossociais às pessoas,
comprometendo a qualidade de vida(3-4).
Estudos mostram que existe uma associação bem estabelecida entre a radiação
ultravioleta (UV), especialmente a luz ultravioleta-B (UV-B), e a incidência de
câncer de pele através da facilitação de mutações genéticas e da supressão da
resposta imunológica cutânea. Embora fatores como o tipo de pele, fenótipo e
histórico familiar também estejam envolvidos na cadeia causal da doença, a
exposição solar é reconhecida como o fator de risco mais importante(5,6).
O Brasil é um país que está localizado em uma região que recebe grande
intensidade de radiação solar. Soma-se a esse dado o fato de existir um número
expressivo de pessoas que exercem atividades laborais e de lazer em espaços
abertos. Dentre estas, estão os jovens adultos considerados candidatos a
sofrerem danos decorrentes da radiação, na medida em que estão frequentemente
expostos em atividades de esporte e lazer. Sujeitos à exposição cumulativa ao
longo de suas vidas, são mais propensos às influências conferidas pela
valorização estética do bronzeamento e estão na faixa etária mais predisposta à
exposição sem proteção(7-10).
A inclusão de ações de proteção ao sol pode contribuir de modo significativo
para minimizar os níveis cumulativos de exposição à radiação e sua relação com
os diferentes tipos de câncer e outros agravos. As mudanças nos hábitos de vida
podem, sobretudo, reduzir a necessidade de cirurgias mutiladoras e resultados
estéticos indesejáveis(3,11-12).
Recentemente, foi elaborado o Consenso Brasileiro de Fotoproteção, primeiro
documento oficial sobre fotoproteção desenvolvido no país e focado na população
brasileira(3). As recomendações básicas equivalem às internacionalmente
aceitas: exposição restrita ao sol, uso de vestimentas e acessórios (luva,
boné, chapéu, guarda sol, óculos) e fotoproteção tópica através de protetor
solar(2-3,11,13). Outra medida importante é o autoexame da pele. Esta prática
representa uma ferramenta potencial ao permitir o reconhecimento de alterações
precoces sugestivas de malignidade(2).
Apesar dos avanços da medicina, o câncer de pele representa hoje um grave
problema de saúde pública, tanto no Brasil como em muitos outros países, diante
do aumento exponencial dos tumores nas últimas décadas e da elevada mortalidade
por melanoma(10). O cenário atual exige atenção multidisciplinar, sendo a
enfermeira elemento fundamental, uma vez que reúne a formação adequada para
desenvolver ações de promoção da saúde da pele, prevenção de agravos
dermatológicos e recuperação da saúde cutânea.
Nesse sentido, é da maior relevância conhecer as práticas de exposição e
proteção solar de jovens e o conhecimento que possuem sobre os riscos da
radiação para a saúde. Práticas de exposição sem segurança e conhecimento
deficiente fazem parte dos fatores de riscos potenciais para o contínuo aumento
no número de casos de câncer e outros danos. Além disso, a falta de
entendimento desses aspectos dificulta o desenho de intervenções efetivas para
grupos sociais distintos.
Dentro dessa perspectiva foi desenvolvido o presente estudo cujos objetivos
foram conhecer as práticas de exposição e proteção solar de jovens
universitários e o conhecimento destes sobre os riscos da radiação.
MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo exploratório, transversal, de abordagem
quantitativa.
A população foi composta por jovens universitários de diferentes cursos de uma
universidade pública do estado de São Paulo. Optou-se por desenvolver um estudo
com universitários, visto que são considerados como grupo vulnerável à
fotoexposição e também por representarem um diferencial em relação ao perfil
educacional. Os critérios de inclusão adotados foram ter entre 18 e 29 anos e
não estar em tratamento dermatológico.
A seleção da amostra foi por conveniência e seu tamanho, de 385 alunos, foi
calculado considerando a aproximação das frequências das respostas através de
distribuições multi-nomiais. A coleta de dados foi realizada entre os meses de
agosto e outubro de 2012, por meio da aplicação de formulário anônimo
construído especificamente para o estudo e composto por questões fechadas. As
questões abrangeram caracterização da população, práticas relacionadas à
exposição e proteção solar e conhecimento dos riscos da radiação solar para a
saúde.
Para o participante responder à questão sobre fototipo, foi solicitado que se
baseasse na classificação de tom de pele elaborada por Thomas B. Fitzpatrick
(14) que considera além do tom da pele a reação à exposição solar. Para isso
foi apresentado um quadro explicativo contendo: tipo I - branca (pele muito
clara, sempre queima, nunca bronzeia); tipo II - branca (pele clara, sempre
queima e às vezes bronzeia); tipo III - morena clara (pele menos clara, algumas
vezes queima e sempre bronzeia); tipo IV - morena moderada (pele morena clara,
raramente queima e sempre bronzeia); tipo V - morena escura (pele morena
escura, nunca queima e sempre bronzeia); tipo VI - negra (pele negra, nunca
queima, sempre bronzeia). Os contatos com os alunos foram realizados nos
espaços abertos da escola e nos momentos em que não estavam em atividades de
estudo.
Foram respeitados os aspectos éticos e legais envolvendo a pesquisa com seres
humanos. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de
Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo.
O banco de dados eletrônico foi construído no programa Minitab 17. Os dados
foram submetidos à análise descritiva por meio de distribuição de frequências
simples absolutas e percentuais. As associações entre as variáveis foram
estudadas a partir do teste de Qui-quadrado, sendo considerado significativo
quando p < 0,05.
RESULTADOS
Participaram do estudo 385 jovens universitários com média de idade de 21,8
anos, sendo predominante na amostra o sexo feminino (60,7%). Os fototipos III e
IV foram os mais frequentes (62%) considerando que a designação foi por
autorreferência. Um quarto informou antecedentes pessoais de lesão de pele por
radiação solar e 17,9% declararam histórico de câncer de pele na família. Os
dados da caracterização dos jovens são apresentados na Tabela_1.
Tabela 1 Caracterização dos jovens universitários segundo sexo, fototipo,
antecedentes pessoais de lesão por radiação solar e histórico de câncer na
família, São Paulo, Brasil, 2012
SEXO (N = 385)
Variável Feminino Masculino Total
n % n %
Idade
18 a 21 137 35,6 41 10,6 178
22 a 25 93 24,2 89 23,1 182
26 a 29 4 1,0 21 5,5 25
Fototipo
I - II 66 17,1 30 7,8 96
III - IV 148 38,4 91 23,6 239
V - IV 20 5,2 30 7,8 50
Antecedentes de lesão por radiação solar
Não 171 44,4 118 30,6 289
Sim 63 16,4 33 8,6 96
Histórico familiar de câncer de pele na família
Não 193 50,1 123 31,9 316
Sim 41 10,6 28 7,3 69
Na Tabela_2, observa-se que 55% dos jovens, na maior parte do tempo, se expõem
à radiação solar no horário entre 10 e 16 horas e 67,4% ficam expostos ao sol
por mais de uma hora. O intervalo de exposição foi avaliado pelos
participantes, segundo critérios próprios, em curto, médio e longo. Do total de
80 (20,7%) que referiram expor-se ao sol por três horas ou mais ao dia, 29%
consideraram essa duração como um intervalo de tempo curto. Os motivos
mencionados para explicar a exposição foram deslocamento entre trabalho, escola
e casa (76%), exposição durante atividades de lazer e descanso (21%), práticas
de exercício físico (13%), atividades do trabalho (11%) e atividades no
domicílio (1%). Para essa questão, 80 (20,7%) jovens alegaram mais de uma
razão.
Tabela 2 Práticas de exposição e fotoproteção de jovens universitários, São
Paulo, Brasil, 2012
SEXO
Variável Feminino Masculino Total Valor de p*
n % n %
Exposição diária
< de 1h 84 21,8 41 10,6 125
1h a 3h 104 27,0 76 19,7 180 0,202
> 3h 46 11,9 34 8,8 80
Horário de exposição
< de 10h ou > 16h 76 19,7 53 13,8 129
Entre 10h e 16h 123 31,9 89 23,1 212 0,025
Todos os horários 35 9,1 9 2,3 44
Exposição intencional
Não 159 41,3 141 36,6 300 0,000
Sim 75 19,5 10 2,6 85
Adota medidas de proteção
Não 77 20,0 35 9,1 112 0,040
Sim 157 40,8 116 30,1 273
Tipo de proteção**
Nenhum 77 20,0 35 9,1 112
Protetor 115 29,9 86 22,3 201
Óculos 66 17,1 62 16,1 128 0,018
Busca pela sombra e uso de sombrinha 41 10,6 23 6,0 64
Vestimenta e uso de boné ou chapéu 18 4,7 23 6,0 41
Uso do protetor
Regularmente 35 9,1 23 6,0 58
Somente dias ensolarados, praia e piscina 58 15,1 43 11,2 101 0,575
Quando se lembra 23 6,0 19 4,9 42
Nunca 118 30,6 66 17,1 184
Reaplicação do protetor (N = 201)
Nunca 80 39,8 54 26,9 134
Uma vez 17 8,5 23 11,4 40 0,157
Duas vezes 14 7,0 6 3,0 20
Três vezes ou mais 4 2,0 3 1,5 7
Notas: * Teste Qui-quadrado;
**Mais de uma resposta por participante.
Os dados mostram que 22,1% se expõem intencionalmente ao sol com objetivo de
bronzeamento, sendo a frequência maior entre as mulheres. A análise estatística
mostrou relação de dependência entre as variáveis sexo e bronzeamento (p=
0,000).
Quanto às práticas de fotoproteção, é possível observar, nos dados da Tabela_2,
que 112 (29,1%) participantes indicaram não usar qualquer tipo de proteção. Os
argumentos apresentados foram falta de disciplina (87%), gostar de se expor ao
sol e de pele bronzeada (22%), alto custo de protetor solar (5%), proteção
desnecessária devido à cor da pele (5%), não apreciação da textura dos produtos
(4%), exposição ao sol menor de trinta minutos ao dia (3%) e não usar protetor
devido à química contida (1%).
Dos 273 (70,9%) jovens que adotam pelo menos um tipo de fotoproteção,
constatou-se que 121 (44%) usam protetor solar associado a pelo menos outra
medida (busca pela sombra, uso de vestimenta, uso de óculos, chapéu ou boné e
uso de sombrinha), 80 (29%) usam o protetor sem associar outro tipo de proteção
e 72 (27%) adotam práticas de proteção e não usam o fotoprotetor. Nenhum jovem
fez referência ao uso de todas as medidas preconizadas. Ao analisar a
frequência do tipo de proteção adotada, atestou-se que as mulheres apresentam
percentagem maior, sendo a diferença estatisticamente significativa.
Dos 201 (52,2%) jovens que utilizam o protetor solar, 50% usam somente em dias
ensolarados, praia e piscina e 67% nunca reaplicam o produto. O uso regular foi
mencionado por 58 (15%) jovens. A área do corpo mais citada para uso do produto
foi a face, seguida dos braços e mãos. Outros segmentos corporais informados
foram nuca, pernas e pés e orelhas. A minoria fez referência a cicatrizes e
tatuagens. O fator de proteção solar mais usado por esses jovens ficou na faixa
de 16 a 29 FPS (43%), seguido de 60 ou mais FPS (33%).
Os dados da Tabela_3 mostram a relação entre os fototipos, agrupados por tons
de pele aproximados, e outras variáveis. Verifica-se que houve associação (p <
0,05) entre o tom de pele e todas as variáveis estabelecidas, demonstrando
maior frequência de histórico de câncer na família e maior morbidade para lesão
de pele decorrente de radiação entre os jovens de pele clara (fototipo I e II),
menor exposição diária ao sol e maior adoção de práticas de proteção por esse
grupo.
Tabela 3 Fototipo de jovens universitários segundo histórico familiar de câncer
de pele, antecedente de lesão por radiação solar, exposição e fotoproteção, São
Paulo, Brasil, 2012
Fototipo Valor
Variável I - II III - IV V - VI Total de p*
n % n % n %
Histórico familiar de câncer de pele na
família
Não 45 11,7 222 57,7 49 12,7 316 0,000
Sim 51 13,2 17 4,4 1 0,3 69
Antecedentes de lesão por radiação solar
Não 15 3,9 227 59,0 47 12,2 289 0,000
Sim 81 21,0 12 3,1 3 0,8 96
Exposição diária
< de 1h 89 23,1 34 8,8 2 0,5 125
1 a 3h 6 1,6 139 36,1 35 9,1 180 0,000
> 3h 1 0,3 66 17,1 13 3,4 80
Tipo de proteção**
Nenhum 21 5,5 73 19,0 18 4,7 112
Protetor 70 18,2 121 31,4 10 2,6 201
Óculos 37 9,6 80 20,8 11 2,9 128 0,001
Busca pela sombra e uso de sombrinha 21 5,5 33 8,6 10 2,6 64
Vestimenta e uso de boné ou chapéu 11 2,9 20 5,2 10 2,6 41
Notas: * Teste Qui-quadrado;
**Mais de uma resposta por participante.
Os dados obtidos sobre o conhecimento dos participantes sobre os efeitos
nocivos da exposição solar estão apresentados na Tabela_4. Todos os estudantes
referiram pelo menos um agravo. A análise estatística mostrou associação entre
conhecimento sobre câncer de pele e fotoalergia e sexo; para os demais agravos,
não houve dependência entre as variáveis. De acordo com os participantes, o
conhecimento adquirido se deu por diversas fontes: 57% citaram a formação
escolar, 36% a mídia (televisão, rádio, internet e revistas) e 7% profissionais
de saúde.
Tabela 4 Conhecimento dos jovens universitários sobre os agravos provocados
pela radiação solar, São Paulo, Brasil, 2012
SEXO
Variável Feminino Masculino Total Valor de p*
n % n %
Câncer de pele
Não 22 5,7 29 7,5 51 0,006
Sim 212 55,1 122 31,7 334
Queimadura solar
Não 95 24,7 67 17,4 162 0,464
Sim 139 36,1 84 21,8 223
Fotoenvelhecimento
Não 141 36,6 101 26,2 242 0,189
Sim 93 24,2 50 13,0 143
Doenças oculares
Não 182 47,3 119 30,9 301 0,811
Sim 52 13,5 32 8,3 84
Fotoalergia
Não 205 53,2 142 36,9 347 0,039
Sim 29 7,5 9 2,3 38
Quase a totalidade desconhecia a existência de campanhas de prevenção de câncer
de pele, apenas três universitários mostraram-se informados.
DISCUSSÃO
O número expressivo de respondentes com histórico de câncer de pele na família
reflete os dados já bem conhecidos sobre a elevada taxa de pessoas acometidas
pela doença no mundo todo(2). Os antecedentes pessoais de lesão de pele por
radiação chamam atenção, tendo em vista os estudos epidemiológicos que mostram
forte associação entre a frequência de episódios de queimadura grave induzida
pela radiação ultravioleta e o desenvolvimento de melanoma. A atividade mais
relacionada à ocorrência de queimaduras é a exposição por bronzeamento, prática
encontrada entre os jovens deste estudo(5,10,15).
Os resultados sobre a exposição solar mostraram práticas desfavoráveis à saúde,
tendo por base que 55% dos jovens afirmaram expor-se ao sol em horários em que
a radiação UVB é mais intensa e prejudicial. Danos ao DNA, geração de
inflamação e carcinogênese são características associadas principalmente a esse
espectro de onda(16). Observou-se ainda que quase metade da amostra expõe-se ao
sol de uma a três horas por dia, sendo que os de pele clara se expõem menos e
os de pele intermediária mais, possivelmente por estes suportarem melhor os
efeitos agudos da radiação, como queimaduras. É bem conhecido que a epiderme e
a derme sofrem alterações químicas e histológicas após exposição solar
persistente e que o organismo repara os danos causados pela absorção da
radiação, mas o excesso de exposição pode tornar a reparação menos eficiente
(13). Os resultados obtidos se assemelham aos de outros estudos(10,15,17).
O tempo de exposição ao sol avaliado por alguns jovens como curto, quando
especialistas situam como alto, revela percepção de risco à saúde prejudicada.
Em situações de lazer e fins de semana em que o tempo de exposição tende a ser
bem maior, chegando a mais de seis horas diárias, a baixa percepção de risco
pode se tornar mais crítica(17).
O deslocamento entre o trabalho, escola e casa foi o principal motivo alegado
para a exposição solar, diferente de outros estudos em que as atividades de
lazer e esporte foram as principais razões(10,15,17-18). Essa informação tem
grande importância para os processos educativos na medida em que esses jovens
estão cinco dias da semana sujeitos à radiação por tais condições.
A prática de bronzeamento, outro agravante identificado e mais presente entre
as mulheres, indica que a pele bronzeada ainda é um padrão estético de beleza
desejável, revelando novamente baixa percepção de risco. Este costume é
alimentado, em parte, por três crenças: a de que a pele bronzeada torna a
pessoa mais atraente, de que o bronzeamento traz benefícios à saúde e de que o
bronzeamento prévio previne os efeitos indesejáveis de futuras exposições ao
sol. A literatura afirma que a faixa etária que mais busca por bronzeamento é a
jovem(10,19).
Quanto às práticas de fotoproteção, apesar dos dados serem mais positivos,
também causam preocupação. Número expressivo de jovens (29,1%) não adota sequer
uma medida protetora dentre as recomendadas. Este fato também é constatado em
outros estudos, incluindo aqueles com populações mais expostas, como carteiros,
professores de educação física e trabalhadores de praia(18,20-22).
Os motivos alegados para a não proteção foram diversos, incluindo razões
financeiras, concepções naturalistas, desconhecimento de recursos disponíveis,
culto à pele bronzeada e negligência em relação à saúde. Todos estes aspectos
precisam ser apreciados amplamente e contemplados nos processos educativos para
que as ações possam fazer sentido ao público-alvo.
O uso do protetor solar foi mencionado por mais da metade da amostra (52,2%).
Foi o recurso mais mencionado, no entanto, a maioria o utiliza de modo
irregular, somente em dias ensolarados. O protetor solar é visto por
especialistas como a primeira linha de defesa contra os efeitos nocivos da
radiação. É um elemento profilático e também terapêutico por conter moléculas
ou complexos moleculares que podem absorver, refletir ou dispersar a radiação
UV(13). Os recentes avanços em pesquisa mostram que a radiação UVA é tão nociva
quanto a radiação mais forte UVB, sendo o tempo para a ocorrência de um
problema de saúde o diferencial entre ambas. Em dias nublados, há incidência da
radiação UVA e a exposição contínua a esses raios podem levar a problemas de
saúde que poderiam ser evitados(23).
A reaplicação do protetor, medida igualmente necessária, foi declarada por
poucos. A tendência observada nas mulheres de usar protetor solar no dia a dia
mais que os homens está de acordo com a literatura(15,17,19). Apesar de a
mulher expor-se mais, ela se protege mais e tem maior percepção de risco(10).
O uso associado entre recursos físicos e protetores solar é fortemente
recomendado para garantir maior segurança à saúde da pele(1,3,11,13). Nesta
amostra, o uso isolado dos recursos foi maior que o uso associado, indicando
menor proteção dessa população. O fator de proteção solar (FPS) relatado por
43% da amostra também está abaixo do que se considera fotoexposição saudável,
isto é, FPS mínimo de 30. Por outro lado, número expressivo (33%) indicou alto
valor de FPS, acima de 60. Há uma preocupação atual a esse respeito conhecida
como paradoxo do filtro solar. Usuários de filtros mais altos estariam mais
propensos a se queimar por permanecerem mais tempo sob o sol, confiando na ação
prolongada do produto(10).
Os óculos foram a segunda medida mais citada pelos jovens, mas esse resultado
deve ser visto com reservas diante da possibilidade do uso ser por aderência à
moda e não por atenção à saúde ocular. Procura por ambiente com restrição de
sol e proteção por vestimenta foram poucos frequentes. O uso de sombrinhas foi
mencionado por mulheres e de bonés por homens. O uso de chapéu de abas e luvas
não foi citado. Considera-se que esses achados guardam relação com a moda
atual.
A região do corpo priorizada para o uso do protetor solar foi face,
possivelmente por ser área de maior visibilidade. Vários segmentos foram
lembrados, mas não foi feita alusão às pintas (nevos), consideradas como
marcadores para o melanoma e fator de risco(10).
Como esperado, os jovens de pele clara adotaram mais medidas protetoras do que
os de pele intermediária e escura. Uma das possíveis explicações seria a maior
frequência de lesões por radiação e maior atenção à pele em consequência dos
casos de câncer na família.
O conhecimento dos agravos decorrentes da radiação mostrou-se elevado para
câncer de pele e queimaduras, os demais problemas foram menos frequentes. As
informações que os jovens possuem procedem pouco de profissionais de saúde.
Apesar do conhecimento da associação entre radiação solar e câncer, outros
saberes importantes relacionados à doença e fotoproteção foram deficientes,
haja vista os achados sobre pele negra não ter risco de câncer, pouco tempo de
exposição solar não precisar de proteção e filtro solar ser usado somente em
dias ensolarados. Esses resultados se assemelham a de outros estudos que
apontam conhecimento sobre riscos e proteção inapropriada(9-24,25).
Importa observar que apesar de todos os jovens serem universitários, com base
escolar sólida e com facilidade de acesso às amplas redes de comunicação, esta
condição não garantiu a adoção de medidas fundamentais sobre segurança solar.
Além disso, número expressivo de estudantes desconhecia a existência de
campanhas de prevenção de câncer de pele.
As lacunas e fragilidades encontradas tanto nas práticas de exposição quanto de
fotoproteção podem ser um indicador de que as informações e orientações não
estão atingindo essa população que deveria ser alvo de maior atenção.
O estudo apresentou resultados que podem ser úteis e contribuir para direcionar
ações dos profissionais de enfermagem na busca pela promoção da saúde da pele e
subsidiar decisões específicas relativas ao fator de risco de maior prevenção
na carcinogênese do câncer de pele: exposição inadequada e falta de proteção à
radiação UV. Entende-se que o enfermeiro tem um papel importante na
consolidação das ações educativas. Ainda que essas não sejam suficientes para
mudar práticas, representam condição essencial em qualquer processo de
transformação.
É necessário que o enfermeiro empenhe esforços para assegurar que as ações
educativas contemplem orientações sobre fotoproteção e que as atividades e
linguagem sejam direcionadas também ao público adulto. É importante sua
participação no desenvolvimento de ações para percepção de risco dos jovens;
desestímulo às práticas de bronzeamento e não apoio à imagem da pele bronzeada
pela mídia; participação nas atividades de campanha de prevenção ao câncer de
pele e contribuição para suprir deficiências relacionadas a esta faixa etária;
cooperação em treinamentos contínuos das equipes de enfermagem, apoio à
inclusão de aulas sobre fotobiologia e fotoproteção nos currículos de
enfermagem; participação em ações educativas em escolas e universidades e apoio
à implementação urgente de política de proteção solar, entre outras medidas.
CONCLUSÃO
A limitação encontrada neste estudo refere-se à caracterização do fototipo da
amostra. A qualificação da cor e reação ao sol foi considerada segundo a
autoavaliação do participante, não sendo validada em condição real de exposição
solar.
O estudo permitiu identificar que os jovens universitários se expõem e se
protegem da radiação solar de modo impróprio, o que pode comprometer sua saúde
principalmente no futuro. O panorama geral da pesquisa reflete a necessidade
urgente de implementar políticas públicas que tratem da segurança e proteção
solar. Ações educativas devem ser fortalecidas e priorizadas tendo em vista a
magnitude do problema.
Cabe à Enfermagem, assim como a toda equipe multiprofissional, contribuir para
reverter o prognóstico epidemiológico do câncer de pele e dos demais agravos
decorrentes dos efeitos nocivos da radiação solar.
Sugere-se a realização de novos estudos a fim de aprofundar o conhecimento
sobre os fatores associados à exposição solar desprotegida.