Efeito direto e interativo do período de avaliação sobre a orientação temporal
dos gestores
1. INTRODUÇÃO
A literatura contábil tem procurado identificar os fatores determinantes da
orientação temporal dos gestores, isto é, o horizonte de tempo considerado
pelos gestores entre o momento de alocação de recursos e o momento do impacto
financeiro decorrente dessa alocação. Em geral, essa literatura tem dedicado
maior atenção ao efeito de fatores de incentivo associados aos sistemas de
controle gerencial, como tipo de medida de desempenho (DIKOLLI, 2001; DIKOLLI e
VAYSMAN, 2006; MARGINSON et al., 2010) e estilo de controle orçamentário
(MERCHANT, 1990; VAN DER STEDE, 2000). A partir de uma perspectiva mais ampla,
outros estudos têm buscado entender o efeito de outros fatores, como os
organizacionais e os individuais, além daqueles associados aos sistemas de
controle gerencial (FARREL, KADOUS e TOWRY, 2008; MARGINSON e MCAULAY, 2008). A
razão para o entendimento do efeito de outras variáveis associadas ao ambiente
organizacional sobre a orientação temporal dos gestores, além de fatores de
incentivo, decorre da própria dificuldade do tema e da busca pela identificação
das causas de uma orientação mais de curto prazo ou de longo prazo (LAVERTY,
1996).
Por sua vez, parte da literatura baseada em Economia e em Psicologia tem
procurado identificar as causas de escolhas intertemporais enfatizando fatores
cognitivos (FREDERICK, LOEWENSTEIN e O'DONOGHUE, 2002). Especificamente, tendo
por base o conceito de aversão à perda (KAHNEMAN e TVERSKY, 1979) e de
processos mentais (KAHNEMAN e TVERSKY, 1984; THALER, 1985), o modelo de aversão
míope à perda sugere que escolhas de indivíduos com aversão à perda são
afetadas pelo período de avaliação, isto é, indivíduos estão mais propensos a
assumir risco se seu desempenho for avaliado com menor frequência, envolvendo
períodos mais longos de avaliação (BENARTZI e THALER, 1995).
Período de avaliação representa o horizonte de tempo considerado desde o
momento de alocação de recursos até o momento de fornecimento de informações de
acompanhamento relativas ao impacto financeiro dessa alocação. Quanto mais de
curto prazo o período de avaliação, informações de desempenho são fornecidas
aos gestores com maior frequência; mas, se um período mais de longo prazo for
utilizado, informações de desempenho serão fornecidas aos gestores com menor
frequência.
Estudos em Contabilidade também têm investigado os efeitos desse fator
cognitivo sobre as decisões gerenciais. Hunton, Mauldin e Wheeler (2008), por
exemplo, oferecem evidências do efeito da frequência de monitoramento realizada
por auditores internos sobre o interesse dos gestores em continuar com projetos
arriscados, embora viáveis. Bhojraj e Libby (2005) também examinam o efeito da
frequência de divulgação de informações financeiras sobre a escolha gerencial
entre projetos de investimentos com diferentes perfis de resultado.
Embora esses estudos ofereçam evidências empíricas do efeito do período de
avaliação sobre escolhas gerenciais, estudos anteriores em Contabilidade têm
dedicado pouca atenção para avaliar se esse efeito pode ser dependente do tipo
de medida de desempenho usado para os propósitos de incentivo, exceção feita ao
estudo não publicado de Van Rinsum (2006), o qual examina o efeito do período
de avaliação sobre a orientação temporal dos gestores na presença de medidas de
desempenho com diferentes níveis de tendência de resultados futuros. No
entanto, seus resultados, por meio de um levantamento e um experimento, são
contraditórios quanto ao efeito do período de avaliação.
Visando oferecer evidências empíricas adicionais que contribuam para um
entendimento mais amplo do efeito de elementos do sistema de controle gerencial
sobre a orientação temporal dos gestores, o objetivo neste estudo é investigar
o efeito do período de avaliação sobre a orientação temporal dos gestores.
Especificamente, busca-se examinar qual o efeito direto do período de avaliação
sobre a orientação temporal dos gestores (OTG); além disso, procura-se
compreender se o efeito do período de avaliação sobre a orientação temporal dos
gestores depende do tipo de medida de desempenho usado para os propósitos de
incentivo, isto é, se uma maior ou menor importância de medidas não financeiras
altera o efeito do período de avaliação sobre a orientação temporal dos
gestores.
Elaboram-se e testam-se hipóteses prevendo o efeito direto e interativo do
período de avaliação sobre a orientação temporal dos gestores, tendo por base a
literatura contábil e a literatura econômica (aversão míope à perda): período
de avaliação mais de longo prazo (curto prazo) afeta positivamente
(negativamente) a orientação temporal dos gestores; e o efeito positivo de um
período de avaliação mais de longo prazo sobre a orientação temporal dos
gestores é maior no caso de maior importância atribuída a medidas não
financeiras.
Para testar as hipóteses, foi realizado um levantamento junto a gestores de
nível intermediário de empresas que atuam no Brasil, realizado por meio do
envio eletrônico de um questionário. Os resultados sugerem que o período de
avaliação não possui efeito direto e principal sobre a orientação temporal dos
gestores. No entanto, quando examinado seu efeito interativo com o tipo de
medida de desempenho, percebeu-se um efeito significativo sobre a orientação
temporal dos gestores. A principal implicação desses resultados é que um
período de avaliação mais de longo prazo, incluindo principalmente medidas não
financeiras de desempenho, afeta negativamente a orientação temporal dos
gestores.
Na sequência, a literatura contábil que investiga os fatores determinantes da
orientação temporal dos gestores é sumarizada. Depois, caracteriza-se o modelo
econômico de aversão míope à perda e suas expectativas quanto ao efeito do
período de avaliação sobre as escolhas dos indivíduos. Em seguida, essa
literatura é integrada com a literatura contábil para a elaboração das
hipóteses de pesquisa. A metodologia e a análise dos resultados são então
apresentadas. Por fim, os resultados e suas implicações são discutidos na
conclusão.
2. LITERATURA CONTÁBIL E ORIENTAÇÃO TEMPORAL DOS GESTORES
Escolhas intertemporais representam as decisões que envolvem trocas
compensatórias entre custos e benefícios que ocorrem em diferentes momentos no
tempo (FREDERICK, LOEWENSTEIN e O'DONOGHUE, 2002). Quando um peso maior é
atribuído aos efeitos financeiros de curto prazo, esse tipo de comportamento é
denominado de miopia, impaciência ou outros termos que designam uma preferência
pelo consumo imediato dos benefícios decorrentes de uma decisão; por outro
lado, quando um peso maior é atribuído aos efeitos financeiros de longo prazo,
essa preferência é denominada de hiperopia, paciência ou outros termos,
refletindo uma preferência por postergar o consumo dos benefícios decorrentes
de uma decisão. Orientação temporal dos gestores representa a aplicação desses
conceitos às escolhas gerenciais em um ambiente organizacional. Uma orientação
temporal mais de curto prazo seria uma preferência pela alocação de recursos em
tarefas cujo efeito financeiro é imediato, enquanto uma orientação temporal
mais de longo prazo seria o comportamento oposto, em que os recursos são
alocados principalmente a tarefas cujo efeito financeiro ocorrerá apenas em um
futuro distante. O que é curto prazo e o que é longo prazo pode ser entendido
em sentido relativo, implicando a predisposição em esperar um horizonte de
tempo menor ou maior, respectivamente, até o recebimento dos benefícios
decorrentes das decisões tomadas.
Diversos estudos em Contabilidade têm procurado identificar fatores externos e
internos à organização que afetam as escolhas intertemporais das empresas e dos
indivíduos. Fatores externos, tais como nível e tipo de investidores
institucionais (BUSHEE, 1998; 2001) e pressão do mercado de capitais (BHOJRAJ e
LIBBY, 2005; MARGINSON e MCAULAY, 2008), têm sido considerados como potenciais
causas para as preferências das empresas por resultados financeiros de curto
prazo em comparação aos de longo prazo. De modo semelhante, elementos dos
sistemas de controle gerencial, tais como medidas de desempenho, tipo de
remuneração e estilo de controle gerencial, também têm sido considerados como
fatores que afetam as escolhas intertemporais dos indivíduos no ambiente
organizacional (MERCHANT, 1990; VAN DER STEDE, 2000; DIKOLLI, 2001; CHENG,
2004; DIKOLLI e VAYSMAN, 2006; MARGINSON et al., 2010).
Em comum, esses estudos enfatizam fatores econômicos ou de incentivo para
explicar a preferência por resultados financeiros de curto prazo. No entanto,
outros tipos de fatores, tais como organizacionais e individuais, têm sido
explorados pela literatura contábil para explicar escolhas intertemporais
(FARREL, KADOUS e TOWRY, 2008; MARGINSON e MCAULAY, 2008), mas recebendo menos
atenção quando comparados aos fatores de incentivo. Sugere-se que a inclusão de
outras variáveis para explicar escolhas intertemporais, além dos fatores
econômicos, pode oferecer contribuições significativas para a identificação das
causas de uma orientação mais de curto prazo ou mais de longo prazo (LAVERTY,
1996).
Paralelamente aos estudos organizacionais que investigam escolhas
intertemporais, parte da literatura baseada em Economia e em Psicologia
enfatiza o papel de fatores cognitivos, tais como ponto de referência e
formação de hábitos (FREDE-RICK, LOEWENSTEIN e O'DONOGHUE, 2002). A literatura
contábil tem dado menos atenção a tais fatores para explicar a orientação
temporal dos gestores, sendo exceções os estudos de Bhojraj e Libby (2005) e de
Van Rinsum (2006), uma vez que incluem, além das variáveis econômicas, uma
variável que afeta o processo cognitivo de tomada de decisão, representado pelo
período de avaliação. Bhojraj e Libby (2005) realizaram um experimento para
investigar o papel da frequência de informações financeiras externas nas
escolhas gerenciais entre projetos com diferentes perfis de distribuição de
resultados ao longo do tempo. Van Rinsum (2006) desenvolveu tanto um
levantamento quanto um experimento para avaliar o efeito interativo entre o
período de avaliação e o nível de tendência das medidas de desempenho sobre a
orientação temporal dos gestores.
Neste estudo, também se investiga o efeito da frequência de informações a
partir da integração da literatura contábil com a literatura econômica,
especificamente com o modelo de aversão míope à perda. Diferentemente de
Bhojraj e Libby (2005), que enfatizaram informações financeiras para
finalidades externas, examina-se aqui o efeito da frequência de informações
financeiras para os propósitos de incentivo. Por sua vez, diferentemente de Van
Rinsum (2006), que examinou o efeito interativo entre período de avaliação e
nível de tendência das medidas de desempenho, explora-se o efeito interativo do
período de avaliação e da importância relativa de medidas não financeiras de
desempenho.
3. AVERSÃO MÍOPE À PERDA
Baseada em dois fatores, aversão à perda e período de avaliação, a perspectiva
econômica de aversão míope à perda prediz que, na presença de aversão à perda,
os indivíduos serão mais propensos a assumir riscos se seu desempenho for
avaliado com menor frequência; de outro modo, se um período de avaliação de
desempenho de curto prazo for utilizado, eles estarão menos propensos a assumir
riscos (BENARTZI e THALER, 1995).
O primeiro fator, aversão à perda, significa que mudanças no bem-estar de um
indivíduo implicando a perda de certa quantia de dinheiro parecem receber maior
peso do que o prazer associado com o ganho do mesmo montante (KAHNEMAN e
TVERSKY, 1979). Por exemplo, aversão à perda implica que a utilidade em perder
$50 é maior do que a utilidade em ganhar $50 (THALER et al., 1997). O segundo
fator, período de avaliação, é uma das principais estratégias de controle
mental em que os indivíduos se engajam para codificar e avaliar resultados
financeiros, além de servir como mecanismo de controle de comportamento
(BENARTZI e THALER, 1995; THALER et al., 1997).
Diversos estudos têm obtido evidências empíricas e validado a presença de
aversão míope à perda em diferentes cenários e diferentes tipos de decisão (por
exemplo: BENARTZI e THALER, 1995; GNEEZY e POTTERS, 1997; THALER et al., 1997;
BENARTZI e THALER, 1999). Gneezy e Potters (1997), por exemplo, oferecem
evidência da presença de aversão míope à perda em um estudo experimental em que
os indivíduos fazem uma sequência de decisões de risco. Eles manipulam o
período de avaliação de resultados financeiros: alta frequência (escolhas para
cada período) e baixa frequência (escolhas para blocos de três períodos). Os
indivíduos são confrontados com uma sequência de 12 escolhas independentes,
embora idênticas, em que a probabilidade de perda do montante apostado é de
dois terços e a probabilidade de ganho de duas vezes e meia o montante apostado
é de um terço. Se aversão míope à perda estiver presente, a expectativa é de
que os indivíduos com baixa frequência de avaliação apostem mais dinheiro ao
longo das escolhas do que os indivíduos com alta frequência de avaliação, o que
é confirmado pelos resultados.
A expectativa de propensão ao risco predita pela aversão míope à perda pode ser
trazida para o campo da atuação gerencial, em que um gestor avesso à perda não
estaria disposto a assumir o risco associado com tarefas cujo efeito financeiro
somente ocorrerá em um futuro distante, se a avaliação de desempenho dessa
tarefa ocorrer com maior frequência; por outro lado, uma menor frequência de
avaliação de desempenho induziria tais gestores a assumir o risco associado com
tarefas cujos efeitos ocorrerão em um futuro distante. Muito embora essa
perspectiva econômica possa oferecer contribuições relevantes para se entender
o efeito do período de avaliação de desempenho sobre orientação temporal, a
literatura em Contabilidade não tem dedicado muita atenção a essa abordagem
econômica, exceção feita ao estudo de Van Rinsum (2006) que, fundamentado nessa
perspectiva econômica, prevê o efeito direto do período de avaliação sobre a
orientação temporal dos gestores.
4. DESENVOLVIMENTO DAS HIPÓTESES
4.1. Efeito direto do período de avaliação sobre a orientação temporal dos
gestores
O modelo econômico de aversão míope à perda foi desenvolvido para explicar
escolhas individuais que envolvem alternativas com diferentes perfis de risco;
portanto, não tem por objetivo específico explicar escolhas intertemporais.
Entretanto, tem sido argumentado que decisões que envolvem efeitos de curto
prazo são relativamente menos arriscadas do que aquelas que envolvem efeitos de
longo prazo (PRELEC e LOEWENSTEIN, 1991); desse modo, é de se esperar que o
efeito do período de avaliação predito pela aversão míope à perda também ocorra
sobre as escolhas intertemporais, na medida em que tais escolhas estejam
associadas com diferentes perfis de risco.
A principal expectativa da aversão míope à perda é que indivíduos avessos à
perda sejam mais propensos a assumir riscos se tiverem o desempenho avaliado
com menor frequên-cia, representando um período de avaliação mais de longo pra-
zo; por sua vez, existe a expectativa de as pessoas serem menos propensas a
assumir riscos, se tiverem o desempenho avaliado com maior frequência,
implicando o uso de períodos de curto prazo para avaliação de desempenho
(BENARTZI e THALER, 1995). Logo, se indivíduos tomarem decisões com base em
relatórios de desempenho fornecidos com maior frequência, nos quais não é
possível a avaliação dos resultados de longo prazo de seus esforços, eles
provavelmente serão orientados para o curto prazo, enquanto se forem avaliados
em bases menos frequentes, em que se torna possível a percepção da sequência de
resultados ao longo do tempo, eles provavelmente pensarão sobre as
consequências de longo prazo de seus esforços, resultando em orientação
temporal mais de longo prazo (LOEWENSTEIN e PRELEC, 1993).
Em termos de decisões de investimento, evidências baseadas nos pressupostos de
aversão míope à perda têm demonstrado que um período de avaliação de curto
prazo induz os indivíduos a reduzir o nível de investimento; o que não ocorre
diante de uma baixa frequência de avaliação, na qual os gestores são
incentivados a aumentar o nível de investimento (GNEEZY e POTTERS, 1997;
BENARTZI e THALER, 1999). Portanto, é de se esperar que o período de avaliação
tenha uma relação positiva com a orientação temporal dos gestores, implicando
que um período de avaliação mais de longo prazo induz os gestores a um foco
maior em tarefas com efeitos financeiros de longo prazo.
A literatura contábil tem oferecido suporte para a expectativa de efeito
positivo do período de avaliação sobre a orientação temporal dos gestores. Tem
sido destacado que pressões externas e internas exercidas por meio de um
período muito curto de avaliação de desempenho são uma das causadoras de uma
orientação temporal de curto prazo (JOHNSON e KAPLAN, 1987). Evidências
empíricas também têm oferecido suporte para essas expectativas. Hoskisson, Hitt
e Hill (1993), por exemplo, realizaram um levantamento em que verificaram que o
horizonte de remuneração, isto é, o uso de incentivos que remuneram e mensuram
o desempenho gerencial tendo por base períodos mais curtos de tempo (por
exemplo, bônus anuais) reduz a propensão dos gestores em investir em pesquisa e
desenvolvimento (P&D), comportamento geralmente associado a uma orientação
temporal de curto prazo.
Em termos de decisões de investimento, Hunton, Mauldin e Wheeler (2008)
conduziram um experimento em que examinaram o efeito da frequência de
monitoramento e do horizonte de remuneração sobre decisões gerenciais.
Constata-se que uma maior frequência de monitoramento reduz a propensão dos
gestores em aumentar o nível de investimento em projetos que prometem gerar
resultados financeiros futuros, independentemente do horizonte de remuneração
(HUNTON, MAULDIN e WHEELER, 2008).
Em termos de escolhas intertemporais, Bhojraj e Libby (2005) realizaram um
experimento em que examinaram o efeito da frequência de evidenciação de
informações financeiras sobre escolhas entre projetos que possuem diferentes
perfis de retorno, curto prazo versus longo prazo. Os resultados sugerem que,
na presença de fortes pressões do mercado de capitais, um período de avaliação
mais de curto prazo - trimestral - induz os gestores a selecionarem aqueles
projetos com perfis de retorno de curto prazo, quando comparado a um período de
avaliação mais de longo prazo - semestral (BHOJRAJ e LIBBY, 2005). Van Rinsum
(2006) examinou se um período de avaliação mais de longo prazo afeta
positivamente a orientação temporal dos gestores, encontrando suporte para sua
expectativa por meio de um experimento, mas não por meio de um levantamento.
Espera-se então que um período de avaliação mais de curto prazo afete
negativamente a orientação temporal, induzindo os gestores a preferirem alocar
mais esforços em tarefas, cujos efeitos financeiros são de curto prazo; período
de avaliação mais de longo prazo, por sua vez, provocaria um impacto positivo
sobre orientação temporal. Espera-se ainda que tais efeitos ocorram
independentemente do tipo de medida de desempenho que estiver sendo utilizada.
Tendo por base essas expectativas, a seguinte hipótese é elaborada predizendo o
efeito direto do período de avaliação sobre a orientação temporal dos gestores
(figura_1).
Hipótese 1 - Um período de avaliação mais de longo-prazo (curto-prazo), usado
para os propósitos de incentivo, afeta positivamente (negativamente) a
orientação temporal dos gestores.
Figura 1: Hipótese 1
4.2. Efeito interativo do período de avaliação sobre orientação temporal dos
gestores
As evidências empíricas fundamentadas na perspectiva econômica de aversão míope
à perda também têm sugerido que o efeito do período de avaliação sobre as
escolhas dos indivíduos pode depender de outros fatores, tais como a
flexibilidade de investimento (bidding) (LANGER e WEBER, 2003; BELLEMARE et
al., 2005) e o perfil de risco associado às alternativas (LANGER e WEBER, 2001;
2005).
De modo semelhante, as evidências empíricas em Contabilidade têm indicado que o
efeito do período de avaliação sobre escolhas gerenciais pode depender de
outros fatores. Hunton, Mauldin e Wheeler (2008), por exemplo, destacam que o
efeito negativo provocado por uma maior frequência de monitoramento sobre o
nível de investimento é maior na presença de um horizonte de remuneração de
curto prazo (por exemplo, bônus anuais). Bhojraj e Libby (2005) também destacam
que o efeito do período de avaliação sobre as escolhas entre projetos
alternativos depende da existência de pressões do mercado de capitais.
Considera-se que o tipo de medida de desempenho poderá atuar como um elemento
moderador do efeito do período de avaliação sobre a orientação temporal dos
gestores. A literatura contábil tem dedicado grande atenção ao efeito do tipo
de medida de desempenho sobre a orientação temporal; em geral, as evidências
empíricas têm sido conflitantes (FARREL, KADOUS e TOWRY, 2008; MARGINSON et
al., 2010), apesar de expectativas oriundas de estudos analíticos sugerirem que
o uso de medidas financeiras provocaria um efeito negativo na orientação
temporal dos gestores (SLIWKA, 2002; DIKOLLY e VAYSMAN, 2006).
Uma das potenciais razões para a existência desses resultados conflitantes é a
não consideração do efeito de outros elementos do sistema de controle gerencial
sobre a orientação temporal dos gestores, tal como o período de avaliação.
Evidências empíricas em contabilidade têm fornecido suporte para essa
expectativa. Hoskisson, Hitt e Hill (1993), por exemplo, constataram que a
ênfase em desempenho financeiro de curto prazo para encorajar gestores
divisionais a investir em P&D é maior quando um período de avaliação mais
de longo prazo é considerado, em comparação a um período de avaliação mais de
curto prazo. Os estudos de Hunton, Mauldin e Wheeler (2008) e de Bhojraj e
Libby (2005) também oferecem evidências de diferentes efeitos de medidas
contábil-financeiras sobre as decisões gerenciais na presença de diferentes
frequências de monitoramento e divulgação de informações financeiras,
respectivamente.
Entretanto, poucos estudos empíricos em Contabilidade têm examinado se o efeito
do período de avaliação sobre escolhas gerenciais depende do tipo de medida de
desempenho. Exceção feita ao estudo de Van Rinsum (2006), o qual examinou a
interação entre o período de avaliação e o nível de tendência de medidas de
desempenho sobre a orientação temporal. Em seu levantamento, Van Rinsum (2006)
constatou que o efeito do período de avaliação ocorre somente quando
considerado o nível de tendência do indicador de desempenho, isto é, um período
de avaliação mais de longo prazo provoca um efeito positivo sobre a orientação
temporal dos gestores apenas quando estão presentes medidas de desempenho que
apresentam um maior nível de tendência. Esses resultados, entretanto, não foram
confirmados no experimento realizado por Van Rinsum (2006).
A literatura contábil tem sugerido que medidas não financeiras de desempenho
geralmente apresentam um maior nível de tendência de resultados financeiros
futuros, quando comparadas a medidas contábil-financeiras de desempenho (KAPLAN
e NORTON, 1996). Seria, portanto, de se esperar que o efeito de um período de
avaliação mais de longo prazo sobre a orientação temporal dos gestores fosse
maior quando medidas não financeiras fossem relativamente mais importantes para
os propósitos de incentivo, em comparação a medidas financeiras de desempenho.
De modo equivalente, uma menor importância relativa atribuída a medidas não
financeiras de desempenho poderia reduzir o efeito positivo de um período de
avaliação mais de curto prazo sobre a orientação temporal dos gestores. Tendo
por base essas expectativas e evidências empíricas, a seguinte hipótese é
elaborada (figura_2):
Hipótese 2 - O efeito positivo de um período de avaliação mais de longo prazo
sobre a orientação temporal dos gestores é maior (menor) no caso de uma maior
(menor) importância relativa de medidas não financeiras, usadas para os
propósitos de incentivo.
[/img/revistas/rausp/v48n1/06f02.jpg]
Figura 2: Hipótese 2
5. METODOLOGIA
5.1. Seleção da amostra e taxa de resposta
Nesta pesquisa desenvolveu-se um levantamento em que se coletaram dados de
gestores de empresas que atuam no Brasil. Foram selecionadas 150 empresas que
oferecem remuneração variável, a partir da publicação Melhores Empresas para
Você Trabalhar (2008). Foi realizado um contato inicial com as empresas por
meio do Departamento de Recursos Humanos (RH) e 11 empresas (7,33% do total)
concordaram em participar do estudo, o que caracteriza uma amostra
autosselecionada.
Para os propósitos deste estudo, seria fundamental a iden--tificação de
gestores que atuam nas atividades primárias criadoras de valor dentro da
empresa, que tenham responsabilidade de alocação de recursos a diferentes
tarefas e que tenham o desempenho avaliado e remunerado com base nesse processo
de alocação de recursos. Desse modo, foi solicitada ao Departamento de RH das
empresas participantes uma lista de gestores que atendessem aos seguintes
critérios:
•tivessem responsabilidades gerenciais, seja como principal executivo de um
departamento funcional, tal como vendas, produção etc., seja como principal
executivo de uma divisão, unidade de negócios, centro de resultados ou
semelhantes;
•trabalhassem em uma área comercial, tal como vendas, produção, P&D etc.;
•recebessem remuneração variável;
•tivessem passado por, pelo menos, um ciclo de avaliação anual de desempenho.
Foram garantidos o anonimato e a confidencialidade com relação às respostas dos
participantes. O processo de coleta de dados resultou em 129 gestores de nível
intermediário que concordaram em participar deste estudo.
Os passos subsequentes do procedimento de coleta de dados seguiram o Método do
Desenho Total (Total Design Method - TDM), com o objetivo de aumentar a taxa de
resposta (DILLMAN, 2007). Realizou-se um contato inicial com os gestores para
convidá-los a participar deste estudo indicando que teriam de preencher um
questionário a ser enviado eletronicamente. Em seguida, foi enviada uma
mensagem eletrônica contendo um acesso ao questionário o qual foi desenvolvido
e mantido em um sistema de coleta eletrônica de dados denominado Formsite Web
Form Builder. Como terceiro passo, mensagens eletrônicas de agradecimento foram
enviadas com dois propósitos: primeiro, agradecer aos gestores que já tivessem
respondido ao questionário e, segundo, solicitar àqueles gestores que não
haviam preenchido o questionário que o fizessem o mais breve possível. Por fim,
foi enviada uma mensagem eletrônica final, incluindo novamente o acesso ao
questionário. O objetivo dessa mensagem final foi notificar os gestores cujos
questionários ainda não tinham sido identificados e solicitar que eles
respondessem.
Ao final do processo de coleta de dados, foram preenchidos 70 questionários.
Desse total, quatro questionários foram descartados para os propósitos de teste
das hipóteses, uma vez que os gestores respondentes não atendiam aos critérios
estabelecidos para os respondentes. Portanto, 66 questionários foram
considerados úteis.
5.2. Mensuração das variáveis
5.2.1. Orientação temporal dos gestores
O instrumento para mensurar a orientação temporal dos gestores foi
originalmente desenvolvido por Jansen, Van Den Bosch e Volberda (2006).
Procura-se capturar o nível de importância de buscar por inovações para
clientes e mercados emergentes (exploratory innovation). Essa tarefa envolve
realizar esforços e investimentos hoje e esperar algum tempo até que os
resultados financeiros sejam afetados. Logo, um maior nível de importância
atribuída a essa tarefa irá refletir uma orientação mais de longo prazo. Foi
solicitado aos respondentes que indicassem seu nível de concordância com estes
seis itens:
•minha unidade aceita demanda que vai além dos produtos e dos serviços
existentes;
•minha unidade cria novos produtos e serviços;
•minha unidade testa novos produtos e serviços em seu mercado;
•minha unidade vende produtos e serviços que são completamente novos para ela;
•minha unidade frequentemente explora novas oportunidades em novos mercados;
•minha unidade normalmente utiliza novos canais de distribuição.
Esses itens representam apenas um fator que captura a tendência de inovações
para clientes e mercados emergentes. Uma escala Likert de cinco pontos foi
utilizada, parcialmente ancorada, com os seguintes extremos: 1 = discordo
totalmente e 5 = concordo totalmente.
5.2.2. Período de avaliação
Utilizou-se, para mensurar o período de avaliação de desempenho, o instrumento
adaptado de Van Rinsum (2006), que solicita aos respondentes, por meio de uma
questão aberta, a indicação da frequência com que eles recebem relatórios de
desempenho contendo a medida contábil mais importante. Duas adaptações foram
feitas nesse instrumento para os propósitos desta pesquisa. Primeiro, em vez de
uma questão aberta, foram apresentadas cinco frequências de avaliação de
desempenho: 1 mês ou menos; entre 1 mês e 1 trimestre; entre 1 trimestre e 1
ano; entre 1 ano e 5 anos; mais de 5 anos. A segunda adaptação foi transformar
esse instrumento de uma medida unidimensional para multidimensional, utilizando
os itens empregados para avaliar o uso de indicadores de desempenho para os
propósitos de incentivo empregados por Moers (2006). Tal modificação considera,
portanto, que o período de avaliação pode ser diferente, dependendo do uso
específico da avaliação de desempenho. Foi solicitado aos respondentes que
indicassem com que frequência o sistema de avaliação da empresa emitia
relatórios de desempenho. Realizou-se uma análise fatorial que resultou em dois
fatores que explicam 59,68% da variância total. O primeiro fator designa os
propósitos de avaliação (itens a, b, c e d) e o segundo fator designa os
propósitos de incentivo, monetários ou não monetários (itens e, f, g e h).
5.2.3. Tipo de medida de desempenho
Utilizou-se um instrumento originalmente desenvolvido por Moers (2006) para
mensurar o uso de medidas não financeiras de desempenho para os propósitos de
incentivo. Esse instrumento avalia a importância percebida de medidas não
financeiras de desempenho para avaliar e remunerar os gestores. São utilizados
oito itens em que os respondentes tiveram de indicar a importância relativa de
medidas financeiras e não financeiras de desempenho geral e regularmente
utilizadas por seu superior para: avaliar seu desempenho; elaborar relatórios
periódicos de monitoramento do desempenho; comparar seu desempenho em relação a
outros gestores; realizar discussões periódicas com você; determinar o aumento
de seu salário; determinar seu bônus anuais; aumentar suas chances de promoção;
aumentar sua autoridade dentro da organização. Esses itens formaram três
fatores, cada qual designando um uso específico das medidas de desempenho:
propósitos de avaliação (itens a, b, c e d); propósitos de incentivo monetário
(itens e e f); propósitos de incentivo não monetário (itens g e h). Foi
utilizada uma escala de cinco pontos, parcialmente ancorada, com os seguintes
extremos: 1 = medidas financeiras são muito mais importantes, 3 = medidas
financeiras e não financeiras são igualmente importantes e 5 = medidas não
financeiras são muito mais importantes.
5.2.4. Variáveis de controle
Quatro variáveis de controle são incluídas neste estudo: empresa, função
exercida, nível hierárquico e tempo médio na função. Na tabela_1 apresenta-se a
função dos respondentes. A tabela_2 fornece a informação referente ao nível
hierárquico dos respondentes. O tempo médio na função foi de 4,5 anos.
Tabela 1
Função dos Respondentes
[/img/revistas/rausp/v48n1/06t01.jpg]
Tabela 2
Nível Hierárquico dos Respondentes
[/img/revistas/rausp/v48n1/06t02.jpg]
6. RESULTADOS
O modelo teórico deste estudo é analisado utilizando-se mínimos quadrados
parciais (Partial Least Squares - PLS), que representam uma técnica para
estimar modelos de equações estruturais. O pacote estatístico utilizado para
desenvolver a análise foi o SmartPLS 2.0.M3 (RINGLE, WEND e WILL, 2005). A
significância dos relacionamentos estruturais foi avaliada por meio do
bootstrapping, uma técnica que estima os coeficientes de correlação entre as
variáveis independentes e a variável dependente. Portanto, a fim de avaliar a
significância estatística dos relacionamentos preditos nas hipóteses, foram
avaliados os testes t para a variável independente e para o termo de interação
(HARTMANN e MOERS, 1999).
6.1. Modelo de mensuração
O modelo de mensuração incluiu as variáveis orientação temporal dos gestores,
período de avaliação, medida de desempenho e as três variáveis de controle
(figura_3). A variável orientação temporal dos gestores representou uma
variável de primeira ordem (OTG). A variável período de avaliação (PAVAL)
representou uma variável de segunda ordem, uma vez que incluiu dois fatores:
propósitos de avaliação (PAVAL1) e propósitos de incentivo (PAVAL2). A variável
uso de medidas não financeiras (NFIN) também representou uma variável de
segunda ordem, uma vez que incluiu três fatores: propósitos de avaliação
(NFIN1); propósitos de incentivo monetário (NFIN2); propósitos de incentivo não
monetário (NFIN3) (MOERS, 2006).
[/img/revistas/rausp/v48n1/06f03.jpg]
Figura 3: Modelo de Mensuração da Pesquisa
Para todas as variáveis, foram utilizados modelos reflexivos em que os
indicadores representam diferentes manifestações das variáveis latentes (LAU e
WONG, 1999). A tabela_3 apresenta as cargas dos indicadores para as variáveis
latentes de primeira ordem, assim como a confiabilidade composta e a variância
média explicada para essas variáveis. A maior parte dos indicadores apresentou
correlações acima de 0,7 com suas respectivas variáveis latentes; além disso,
as variáveis latentes de primeira ordem apresentaram adequada confiabilidade
composta e variância média explicada.
Tabela 3
Avaliação do Modelo de Mensuração das Variáveis Latentes
[/img/revistas/rausp/v48n1/06t03.jpg]
Nota: * Fatores com cargas abaixo de 0,7.
Na tabela_4 apresentam-se as cargas das variáveis de primeira ordem em relação
à variável de segunda ordem. Apre-sentam-se, ainda, a confiabilidade composta e
a variância mé--dia explicada. Considerou-se adequada a avaliação do mode-lo
estrutural para as variáveis independentes. Em termos de validade
discriminante, a tabela_5 demonstra que, para todas as variáveis latentes de
primeira ordem, mais variância é com-partilhada entre a variável latente e seu
respectivo bloco de indicadores do que com os indicadores de outras variáveis
latentes. Em geral, o modelo de mensuração proposto neste estudo provou ser
adequado, permitindo a continuidade da análise com a avaliação do modelo
estrutural.
Tabela 4
Avaliação do Modelo de Mensuração da Variável de Segunda Ordem
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Tabela 5
Avaliação da Validade Discriminante das Variáveis de Primeira Ordem
[/img/revistas/rausp/v48n1/06t05.jpg]
6.2. Modelo estrutural
Na tabela_6 apresenta o modelo estrutural das variáveis latentes. Pode-se
perceber que a variável independente explica seus respectivos indicadores com
significância estatística.
Tabela 6
Avaliação do Modelo Estrutura das Variáveis Latentes
[/img/revistas/rausp/v48n1/06t06.jpg]
Nota: * O relacionamento é significante a um nível de 1% (bicaudal).
Em termos de relacionamentos estruturais entre período de avaliação e
orientação temporal dos gestores, a tabela_7 mostra a sua significância.
Tabela 7
Avaliação do Efeito Direto de PAVAL sobre OTG
[/img/revistas/rausp/v48n1/06t07.jpg]
Os resultados demonstraram que o uso do período de avaliação não está
significativamente relacionado à orientação temporal dos gestores. Assim, esse
resultado não oferece suporte para a primeira hipótese de pesquisa (H1) que
esperava um relacionamento positivo entre período de avaliação e orientação
temporal dos gestores. A ausência de efeito direto do período de avaliação
sobre a orientação temporal dos gestores pode sugerir que essa variável não
pode ser avaliada isoladamente, uma vez que seu efeito pode depender de outras
variáveis associadas aos sistemas de controle gerencial.
6.3. Análise do efeito interativo
Para analisar o efeito da interação entre o período de avaliação e o tipo de
medida de desempenho sobre a orientação temporal dos gestores, avaliou-se a
significância estatística do coeficiente Beta (β) da variável interativa
(tabela_8).
Tabela 8
Avaliação do Termo de Interação
[/img/revistas/rausp/v48n1/06T08.jpg]
Os resultados sugerem que o efeito do período de avaliação sobre a orientação
temporal dos gestores depende da importância relativa de medidas não
financeiras. Para entender a forma da interação e obter evidências para o teste
das hipóteses, rea-lizou-se uma análise gráfica, utilizando o recurso ModGraph
(JOSE, 2003). A análise da figura_4 permite verificar que, quando um período de
avaliação de longo prazo é utilizado, a orientação temporal é mais de longo
prazo, quando uma menor importância é atribuída ao uso de medidas não
financeiras de desempenho; de modo equivalente, quando um período de avaliação
mais de curto prazo é utilizado, a orientação temporal é mais de longo prazo na
presença de uma menor importância de medidas não financeiras de desempenho.
[/img/revistas/rausp/v48n1/06f04.jpg]
Figura 4: Forma do Efeito Interativo
Desse modo, a segunda hipótese desta pesquisa (H2) também não pôde ser
confirmada, uma vez que não se constatou um maior (menor) efeito positivo de um
período de avaliação mais de longo prazo sobre orientação temporal dos gestores
na presença de uma maior (menor) importância relativa de medidas não
financeiras. A principal implicação desse resultado é que o uso de um período
de avaliação de longo prazo, incluindo principalmente medidas não financeiras
de desempenho, tem um efeito negativo sobre a orientação temporal dos gestores,
contrário a expectativas da literatura contábil; significa dizer que o uso de
um período de avaliação de curto prazo, incluindo principalmente medidas
financeiras de desempenho, é que pode ser mais efetivo para induzir os gestores
a tomarem decisões com efeitos financeiros de longo prazo.
7. CONCLUSÃO
Neste estudo, procurou-se adotar uma perspectiva teórica mais ampla para
explicar o efeito de elementos dos sistemas de controle gerencial sobre a
orientação temporal dos gestores. Ao enfatizar o papel de fatores cognitivos,
especificamente do período de avaliação, buscou-se integrar a literatura
contábil sobre o tema ao modelo econômico de aversão míope à perda, elaborando-
se hipóteses em que foram previstos o efeito direto e o efeito interativo com o
tipo de medida de desempenho sobre a orientação temporal dos gestores.
Tendo por base a amostra autosselecionada de gestores participantes desta
pesquisa, os resultados da análise do efeito direto sugeriram que o período de
avaliação não afeta a orientação temporal desses gestores isoladamente. A
principal implicação desse resultado é que o efeito do período de avaliação
sobre a orientação temporal dos gestores participantes da pesquisa não pode ser
avaliado isoladamente, sendo necessário avaliar sua interação com outras
variáveis associadas aos sistemas de controle gerencial.
Esse resultado, para a amostra investigada, parece não oferecer suporte para as
predições de um efeito positivo de um período de avaliação mais de longo prazo
sobre a propensão ao risco (BENARTZI e THALER, 1995). Pode ser, no entanto, que
a equivalência feita entre decisões de risco e decisões intertemporais não seja
tão direta quanto a proposta neste estudo. De fato, estudos que integram
neurociência à economia (neuroeconomics) sugerem que diferentes partes do
cérebro são ativadas quando se envolvem decisões de risco (LEVY et al., 2010) e
decisões intertemporais (MCCLURE et al., 2004) e que, portanto, podem
representar fenômenos diferentes. Além disso, restrito à amostra
autosselecionada de gestores, este estudo confirma os resultados do
levantamento de Van Rinsum (2006), o qual também não identificou efeito
principal do período de avaliação sobre a orientação temporal dos gestores por
ele investigados.
Tal fato é confirmado quando se avalia o efeito interativo entre o período de
avaliação e o tipo de medida de desempenho sobre a orientação temporal dos
gestores. Entretanto, contrário às expectativas deste estudo, os resultados
para a amostra investigada indicam que uma maior importância de medidas não
financeiras de desempenho em combinação com um período de avaliação mais de
longo prazo parece induzir a uma orientação temporal mais de curto prazo. A
principal implicação do efeito interativo identificado neste estudo, portanto,
restrita à amostra autosselecionada de gestores participantes, é que o uso de
um período de avaliação de curto prazo incluindo principalmente medidas
financeiras de desempenho pode ser mais efetivo para induzir esses gestores a
tomarem decisões com efeitos financeiros de longo prazo.
Circunscrito aos gestores que participaram deste estudo, esse resultado oferece
evidências empíricas adicionais de que o efeito do período de avaliação sobre a
orientação temporal dos gestores não pode ser avaliado isoladamente.
Entretanto, tal resultado, com base nessa amostra de gestores autosselecionada,
vai de encontro às evidências empíricas de Van Rinsum (2006), que identificou
um efeito interativo entre período de avaliação e nível de tendência das
medidas de desempenho sobre a orientação temporal dos gestores investigados em
sua amostra. Pesquisas futuras, investigando grupos diferentes e mais amplos de
gestores, poderão ajudar a entender esses resultados, tanto em termos de sua
generalização quanto em termos de explicações teóricas.
Espera-se que este estudo tenha contribuído para a pesquisa contábil ao
oferecer evidências empíricas adicionais relativas ao efeito do período de
avaliação sobre a orientação temporal dos gestores, a partir de uma amostra
autosselecionada de gestores de empresas com atuação no mercado brasileiro. No
entanto, algumas limitações precisam ser destacadas.
Primeiro, o método de pesquisa utilizado envolveu o uso de uma medida de
percepção para a orientação temporal dos gestores que pode não refletir o real
processo de tomada de decisão dos gestores. Logo, uma oportunidade para estudos
futuros seria a utilização de outros métodos de pesquisa, como experimentos, e
o aprimoramento do processo de mensuração das escolhas intertemporais.
Segundo, é preciso reforçar que o tamanho da amostra é reduzido, tanto em
termos dos gestores participantes quanto em termos do número de empresas que
aderiu à pesquisa. Tal limitação impede que se possa fazer qualquer
generalização dos resultados obtidos neste estudo, os quais, portanto, se
restringem à amostra estudada. Assim, uma segunda oportunidade de pesquisa
seria, de um lado, obter dados de um maior número de gestores por empresa e, de
outro lado, aumentar o número de empresas participantes. No que se refere a um
maior número de gestores por empresa, estudos com esse perfil poderiam
investigar o efeito dos elementos do sistema de controle gerencial sobre a
orientação temporal dos gestores, considerando, por exemplo, as diferentes
funções desempenhadas pelos participantes. No que se refere a um maior número
de empresas, análises em nível mais agregado, como tipos de indústria, empresas
de capital aberto versus de capital fechado, possibilitaria o entendimento de
variáveis do ambiente institucional que potencialmente interferem no
relacionamento entre os elementos dos sistemas de controle gerencial e a
orientação temporal dos gestores.