Planejamento por cenários: preparando pequenas empresas do varejo de móveis
planejados para um futuro competitivo
1. INTRODUÇÃO
O exercício de construir cenários para diferenciados setores de atuação de
pequenas empresas pode ser um dos mais estratégicos aspectos adotados por elas
para sua sobrevivência e competitividade no mercado. Contudo, não há de se
contestar o quanto é difícil, especialmente para as pequenas empresas, praticar
o exercício de criar e analisar cenários, tendo que se desprender de crenças e
atitudes enraizadas em processos institucionalizados e, muitas vezes, já
obsoletos. Sabe-se, no entanto, que somente por meio da análise contínua das
interações entre as empresas e o seu ambiente é possível estabelecer objetivos
adequados e melhor aproveitar seus recursos.
Segundo Hamel e Prahalad (1995), a construção de cenários tem se apresentado
como importante ferramenta para identificar e analisar as possibilidades de
acontecimentos relevantes para os setores de atuação das empresas, dando
subsídios para soluções e alternativas flexíveis e consistentes.
Dessa forma, este estudo foi motivado pelo seguinte questionamento de pesquisa:
Como propor um modelo de construção de cenários para atender pequenas empresas
do varejo de móveis planejados? Assim, o objetivo na pesquisa foi a proposição
e a validação de um modelo para a elaboração de dois cenários envolvendo
pequenas empresas do varejo de móveis planejados, um positivo e outro negativo,
buscando soluções estratégicas para ambas as possibilidades. No estudo busca-se
também contribuir, de modo geral, para o aumento da competitividade das
pequenas empresas que atuam em setores tradicionais da economia pelo uso da
construção de cenários como ferramenta de apoio para a formulação de
estratégias durante o ciclo de vida das organizações de pequeno porte.
2. CENÁRIOS
Dessa forma, buscando contextualizar melhor os aspectos relevantes para a
compreensão do estudo proposto, nesta seção pretende-se elucidar os aspectos
conceituais, as vantagens e as dificuldades da implementação do método de
cenários nas pequenas empresas.
2.1. Aspectos conceituais
Conseguir prever as mudanças e antecipar-se a elas são duas ações estratégias
que estão entre os maiores feitos de uma boa administração nos tempos atuais.
Levando-se em consideração o ambiente contextual em que as empresas se
encontram inseridas, Van der Heijden (2009) afirma que o exercício de planejar
por cenários ajuda os gestores a identificar possíveis estratégias e considerar
sua força e robustez diante do cenário proposto.
De acordo com Ribas (2007, p. 4), os cenários podem ser estabelecidos "como uma
descrição aproximada das situações futuras possíveis para um fenômeno, que
estão de alguma maneira condicionadas à ocorrência ou mudança de estado de
algumas variáveis importantes que melhor explicam este fenômeno no presente".
Assim, como a empresa precisa trabalhar com situações futuras possíveis,
planejar os cenários significa trabalhar com incertezas e julgamentos de
possibilidades, que são traçados a partir de elementos predeterminados (Van der
Heijden, 2009).
Hamel e Prahalad (1995, p. 94) garantem que a presciência é fruto do ecletismo,
do livre uso das relações de semelhança entre setores distintos e do uso da
metáfora, "de uma disposição inerente de ser do contra, de ser mais do que
simplesmente guiado pelo cliente e de uma genuína empatia com as necessidades
humanas". Os autores alertam que nem todos os gestores são capazes de
raciocinar por meio de analogias e metáforas, mas a maioria das pessoas
consegue associar exemplos práticos de realidades semelhantes e, por esse
exercício, encontrar ideias e produzir insightsque as ajudem a preencher as
lacunas entre o que existe e o que poderia vir a ser.
Na concepção de Coral (2009, p. 108), "um cenário é a construção de uma
situação futura e dos acontecimentos que a definem a partir do quadro atual".
Para Ribeiro (2006), a formulação de um planejamento por meio de cenários vai
além das tradicionais metodologias de planejamento, uma vez que integra toda a
gama de incertezas na construção do futuro.
Nesse sentido, a grande dificuldade desse exercício de construir cenários é
justamente o fato de que a empresa não sabe o que vai acontecer no futuro de
que as interpretações dos gestores podem ser múltiplas e diferenciadas a esse
respeito.
Blois e Souza (2008) indicam que a técnica de analisar cenários, além de
apresentar possíveis projeções de futuros, também pode ajudar a identificar
ações que a organização deve tomar para criar o futuro desejado. Ribas (2007,
p. 2) corrobora esses autores ao contextualizar que as alternativas resultantes
da construção de cenários devem dar subsídios ao planejamento contingenciado,
visando "minimizar os impactos indesejados e otimizar o uso dos recursos
escassos".
Assim, entende-se que o método de elaboração de cenários ajuda a traçar as
diretrizes adequadas para o planejamento estratégico da empresa, reduzindo as
chances de insucesso ou fracasso do empreendimento.
2.2. A construção dos cenários por meio da análise ambiental
Bethlem (2010) afirma que alguns métodos de elaboração de cenários possuem
filosofia, passos definidos e base conceitual, tais como os métodos descritos
por Michael Porter (1999), por Michel Godet (2000), por Peter Schwartz (2000)
ou da Global Business Network (GBN) e o método descrito por Grumbach (2000),
que incorpora as vantagens dos métodos de Godet e de Porter.
No método descrito por Godet (2000) são propostas seis etapas: delimitação do
sistema e do ambiente; análise estrutural do sistema e do ambiente; seleção dos
condicionantes do futuro; geração de cenários alternativos; testes de
consistência, ajustes e disseminação; e opções estratégicas e planos de
monitoração estratégica.
O método descrito por Porter (1999) propõe as seguintes etapas: propósito de
estudo e histórico, e da situação atual; identificação das incertezas, críticas
e classificação; comportamento futuro das variáveis; análise de cenários e
consistência; análise da concorrência; elaboração das histórias de cenários; e
elaboração das estratégias competitivas.
Na concepção de Van der Heijden (2009, p. 120), quanto maior a incerteza dos
elementos fundamentais no ambiente de negócios, "significa menos variáveis nas
quais se concentrar". Segundo o autor, o planejador de cenários deve responder
à questão: "O que realmente faria diferença, ao identificar um pequeno número
de incertezas fundamentais no ambiente de negócios?" Os cenários, então, serão
construídos considerando-se uma situação tanto de incertezas quanto de
elementos predeterminados, conforme representado na Figura_1.
A ideia de Van der Heijden (2009) compreende entender os elementos
predeterminados (ou eventos estáveis, já conhecidos pela organização),
minimizar as complexidades e tentar imaginar esses elementos em uma situação
incerta, observando-se que quanto maior a incerteza, maior a possibilidade de
as análises ficarem mais generalizadas e mais superficiais. Portanto, caso
múltiplas incertezas sejam percebidas movendo-se independentemente, é
importante a empresa selecionar apenas os fatores de maior impacto sobre o
cenário para levar em consideração.
Nesse contexto, três categorias diferentes de incertezas são apontadas: riscos
(baseados em precedentes históricos capazes de estimar probabilidades);
incertezas estruturais (baseia-se em possibilidades, por meio do raciocínio de
causa e efeito, sem evidências suficientes para julgar por probabilidade); e
impossíveis de conhecer (quando não é possível sequer imaginar o evento) (Van
der Heijden, 2009). Assim, determina-se que as incertezas sejam avaliadas antes
das tomadas de decisão, sendo ainda possível calcular os riscos pelas
probabilidades e verificar os impactos que as múltiplas interpretações dessas
incertezas podem gerar nas decisões, preparando as estratégias de forma a se
reagir melhor ao inesperado.
3. O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS COMO FERRAMENTA DE GESTÃO E
COMPETITIVIDADE NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DE PEQUENAS EMPRESAS
As pequenas, médias e microempresas possuem papel importante no cenário
socioeconômico brasileiro, sendo reconhecidas pela sua capacidade de geração de
empregos e agregação de tecnologias. Por essa razão, são reconhecidas como
importantes fatores de promoção social que atuam como uma força propulsora do
desenvolvimento e servem de suporte para a estabilidade política. No entanto,
essas empresas apresentam várias dificuldades para sobreviver e se tornar
competitivas no mercado. Segundo Almeida (2010), as pequenas empresas são
eficientes no dia a dia, mas são ineficazes nas decisões estratégicas. Dessa
forma, o autor justifica a importância de um bom planejamento estratégico, uma
vez que a maioria dos problemas apresentados é de natureza estratégica,
enquanto apenas uma minoria ocorre por insuficiência de recursos, salientando
ainda que a grande questão para a sobrevivência e a competitividade dessas
empresas no mercado está intrinsecamente ligada à estratégia.
Nesse sentido, Hamel e Prahalad (1995, p. 83) afirmam que uma fórmula simples
de manter-se competitivo no mercado consiste em "criar a melhor base de
premissas possível sobre o futuro e, assim, desenvolver a presciência
necessária para moldar a evolução do setor", posicionando a empresa como "líder
intelectual" no direcionamento e na transformação desse setor. Os autores dizem
que "a luta pela previsão do futuro do setor frequentemente começa com um
possível cenário do futuro e, em seguida, retorna para definir o que precisa
acontecer para que esse futuro se transforme em realidade". Dessa forma, a alta
gerência não pode renunciar à sua responsabilidade de desenvolver, discutir e
tomar parte de uma perspectiva sobre o futuro, escapando das "ortodoxias do
atual 'conceito de ser' da empresa" (Hamel, & Prahalad, 1995, p. 93).
Almeida (1995) sustenta que as pequenas empresas não têm o hábito de fazer
reflexões estratégicas, mas, quando o fazem, com frequência percebem que
pequenas mudanças de rumo podem modificar completamente os resultados. Por
isso, os efeitos da utilização do planejamento em pequenas empresas costumam
ser bastante relevantes, à medida que auxiliam essas empresas a se concentrar
nas prioridades e oportunidades de longo prazo e buscar os fatores-chave de
sucesso. Hamel e Prahalad (1995, p. 94) alimentam que "muitas vezes, o que
impede a empresa de imaginar o futuro e descobrir um novo espaço competitivo
não é o desconhecimento do futuro, mas o fato de que os gerentes tendem a olhar
o futuro através da perspectiva estreita dos atuais mercados servidos".
Pequenas empresas costumam esquivar-se da análise do futuro, apresentando
obstáculos na formulação das estratégias em função de características que lhe
são peculiares, tais como a cultura, os limites de recursos, a estrutura e o
tamanho da organização e, além disso, porque planejar requer, na maioria das
vezes, manipular incertezas sobre as quais os gestores possuem pouco ou nenhum
poder de atuação. Assim, a falta de planejamento torna-se facilmente
perceptível nas pequenas empresas, nas quais, com frequência, se nota o mau uso
dos recursos financeiros, seja por falta de uma avaliação mais acurada do
mercado, seja pela falta de clareza quanto à forma de atuação nele (Almeida,
2010). Em muitos casos, pela dificuldade de utilizar a ferramenta nas pequenas
empresas, os planos permanecem latentes apenas na mente dos gestores, não sendo
formalizados e aplicados.
No processo estratégico das pequenas e médias empresas, os planos formais são
instrumentos que expressam os objetivos, contribuindo para o direcionamento e a
coordenação das ações da instituição e despertando o compromisso das pessoas
com os objetivos da empresa (Nakamura, & Escrivão Filho, 1998).
Almeida (2010) sugere que as inúmeras variáveis ambientais que envolvem as
empresas sejam classificadas em segmentos, abrangendo aspectos desde os mais
amplos e externos à organização até os mais próximos e diretamente ligados ao
setor de atuação da empresa. Para isso, o autor classifica as variáveis
ambientais dentro de quatro ambientes: Macroambiente Clima, Macroambiente Solo,
Ambiente Operacional e Ambiente Interno, conforme ilustrado no Quadro_1.
De acordo com Almeida (2010), para a análise do Macro-ambiente Clima, a empresa
deve atentar para a opinião de experts na área e praticar o brainstorming,
sendo ambas as práticas de cunho qualitativo. Já na análise do Macroambiente
Solo, a empresa pode realizar extrapolação de tendências e previsões
exponenciais através de análises estatísticas. Para a análise do Ambiente
Operacional, a empresa deverá contar com informações e projeções de cenários,
tanto simples quanto alternados. E, finalmente, para a análise do Ambiente
Interno, a empresa deverá analisar a cultura organizacional e fazer o
diagnóstico do clima organizacional.
Hamel e Prahalad (1995) atestam que prever o futuro de um setor requer uma
detalhada percepção das tendências de tecnologias, estilos de vida, geopolítica
e demografia, mas também envolve imaginação e prognósticos por meio de
representações visuais e verbais das possibilidades desse futuro.
A construção de cenários futuros interligada à análise ambiental pode ser
considerada uma das tarefas mais complexas e desafiadoras imbuída na arte de
administrar uma organização. Tal complexidade está associada ao fato de se ter
de identificar desafios ambientais futuros com os quais a empresa poderá se
defrontar, bem como os possíveis níveis de turbulência no seu ambiente. Outro
fator importante é a reação estratégica da empresa quanto às constatações
feitas, uma vez que ela também é determinante para o alcance dos objetivos
propostos dentro de determinado cenário e pode variar de acordo com a cultura
de cada organização (Ansoff, & McDonnell, 1993).
Por fim, é possível inferir que, ainda que os cenários tenham sido montados o
mais próximo possível da realidade futura, isso não garante que a organização
ficará isenta de resultados indesejáveis, uma vez que a montagem dos cenários é
apenas o início de um longo processo de realizações estratégicas a serem
adotadas pela empresa. Nesse aspecto, conclui-se que embora a empresa
compreenda e consiga fazer uma previsão adequada do mercado e de suas
incertezas, o sucesso ainda dependerá da sua capacidade de agir sobre as
estratégias formuladas e da sua flexibilidade às mudanças, caso necessário.
4. DESIGN DA PESQUISA
No intuito de alcançar os objetivos propostos no artigo, foi desenvolvido um
estudo de caso (Yin, 2007), de caráter qualitativo (Godoy, Melo, & Silva,
2006). De acordo com Amaratunga, Baldry, Sarshar e Newton (2002), a pesquisa
qualitativa é realizada para encontrar percepções, fazer suposições e
prejulgamentos. O estudo de caso, por sua vez, é utilizado como estratégia de
pesquisa, por tratar-se de uma investigação empírica que busca examinar um
fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto (Gil, 2007; Yin, 2007).
O trabalho foi desenvolvido em três etapas. Na primeira, fez-se uma revisão de
literatura acerca do tema proposto. Na segunda, realizou-se o estudo da
estrutura organizacional que envolve as empresas do setor de móveis planejados
para o entendimento dos processos da empresa, do sistema de comunicação e do
processo decisório. Nessa etapa, foram identificados os principais critérios de
eficácia para o setor e suas variáveis, por meio de dados obtidos na análise
documental da organização e nas entrevistas com os gestores. Em seguida, foi
traçado o modelo, considerando-se a ligação sistêmica entre os critérios
adotados. Naterceira, realizou-se a validação do modelo, por meio de sua
aplicação em uma empresa do setor de móveis planejados, na qual foi realizada
pesquisa documental e brainstorming, tendo participado sete profissionais da
área. Por fim, na filtragem dos dados utilizou-se o modelo de Almeida (2010),
permitindo a descrição dos resultados alcançados pela empresa. Nessa terceira
etapa, verificou-se a validação do modelo, bem como sua viabilidade e
aplicabilidade, identificando-se ainda suas potencialidades e fragilidades.
4.1. A criação do modelo
Nessa etapa de criação do modelo, houve o intuito de considerar o ambiente
geral das organizações do setor em estudo e também o caráter sistêmico que as
envolve. O objetivo do modelo é a construção de cenários como ferramentas para
a formulação de estratégias empresariais, proporcionando à empresa uma visão
sistêmica e um diagnóstico ampliado e geral de sua situação, em tempo para
corrigir os rumos, caso necessário.
O modelo utilizado para este estudo foi criado a partir dos estudos
desenvolvidos por Van der Heijden (2009) e Almeida (2010), pois, dentre todos
os modelos utilizados, esses pareceram mais simples na sua formulação para a
aplicabilidade em pequenas empresas, fator imprescindível para
institucionalizar o uso dessa importante ferramenta estratégica em empresas de
pequeno porte.
Dessa forma, definiu-se para este estudo o modelo de pesquisa representado na
Figura_2.
Para a formulação do modelo, foram adotados três critérios de eficácia
empresarial (Comunicação e Inovação, Produção e Operações e Análise do Ambiente
Organizacional), de onde foram posteriormente selecionadas as 14 variáveis
ambientais mais específicas ao setor de móveis planejados, conforme demonstrado
no Quadro_6, mais adiante. De acordo com Santos, Stecca, Munaretto, Faller e
Corrêa (2011, p. 12), "esses critérios baseiam-se nos princípios de aprendizado
organizacional, visão sistêmica dos processos, visão de futuro da empresa,
geração de valor, orientação por processos e inovação, valorização das pessoas,
clientes e mercado e busca da eficiência e eficácia".
O critério Comunicação e Inovação envolve a comunicação da organização com o
seu ambiente de negócios, ou seja, foi adotado no intuito de entender o mercado
e as necessidades dos clientes, identificando o impacto da inovação em produtos
e no desempenho da organização.
O critério Produção e Operações foi adotado para viabilizar o planejado pela
organização por meio da operacionalização dos seus produtos e processos, ou
seja, aborda a eficiência da empresa em relação às suas operações, demonstrando
sua capacidade de realizar com sucesso, no nível operacional, os seus
objetivos.
O critério Ambiente Organizacional foi inserido no intuito de entender os
principais fatores ambientais (Concorrentes, Fornecedores, Clientes e
Econômico-Financeiro) e, assim, possibilitar à empresa diferenciar e inovar
dentro do seu setor de atuação.
Todos os critérios adotados aparecem circundados por uma linha pontilhada, que
sugere a permeabilidade do sistema quanto aos aspectos Conhecimento e
Informação que, segundo a Fundação Nacional da Qualidade (2010), são
responsáveis pela gestão das informações da organização, pela gestão das
informações comparativas e pela gestão do capital intelectual.
A seta ao fundo da Figura_2 representa o fluxo do modelo em direção à
construção dos cenários e à elaboração das estratégias, que só devem ocorrer
após a análise das variáveis determinadas a partir dos critérios adotados. As
diferentes interpretações referem-se aos vieses da pesquisa quanto às
percepções e concepções dos atores envolvidos no processo.
4.2. As etapas da validação
A coleta dos dados para o estudo foi efetuada em cinco etapas e contou com a
participação de sete profissionais do ramo de móveis planejados, sendo dois
arquitetos, um designer de móveis e quatro gestores.
Na primeira etapa, foi efetivada uma análise documental na empresa escolhida
como referência para o estudo, envolvendo dados secundários provenientes de
fontes já existentes (relatórios, programas de trabalho, registros estatísticos
e dados da organização).
Na segunda etapa, foram realizadas entrevistas seguindo-se um roteiro
semiestruturado, conforme orientação de Gil (2007), e valorizando-se a visão
dos indivíduos envolvidos com a especificidade do negócio. Nesta fase, foram
entrevistados os quatro gestores, sendo dois da organização referência do
estudo e dois de organizações concorrentes diretas, considerando-se que todos
possuem uma visão significativa das questões a serem investigadas. O horizonte
de tempo para a construção dos cenários delimitou um período estimado de seis
anos (até meados de 2018).
Para a realização das entrevistas, antes da efetivação dessa etapa, julgou-se
pertinente que cada entrevistado compreendesse o modelo de classificação
ambiental de Almeida (2010), utilizado para o desenvolvimento da pesquisa.
Assim, para um melhor entendimento sobre as variáveis que compõem cada
ambiente, o Quadro_1 foi apresentado aos participantes com os segmentos
ambientais e as variáveis de cada segmento.
O roteiro semiestruturado utilizado para as entrevistas pode ser visualizado no
Quadro_2.
Na terceiraetapa, após a análise documental e a realização das entrevistas
individuais, foram diagnosticadas as principais variáveis políticas e
econômicas, passíveis de variações no período preestabelecido. Esta etapa
compreendeu a realização de uma rodada de discussão com os gestores para
análise, seleção e apuração dos principais eventos para posterior aplicação de
sessão de brainstorming com os demais integrantes do estudo.
A quarta etapa incluiu uma sessão de brainstorming,técnica que consiste em
reunir um grupo em torno de uma atividade estruturada com uma pauta previamente
definida, o qual divaga livremente sobre ela (Weiss, 1990; Barros, &
Oliveira, 2004). Nesta etapa, foram elencadas todas as possibilidades para cada
uma das 14 variáveis selecionadas (que constam no Quadro_6), tendo participado
os sete especialistas.
Na quinta e última etapa, foi efetivada a construção dos cenários propostos no
estudo, compreendendo-se as sugestões estratégicas para a empresa a partir dos
resultados encontrados e discutidos nas etapas anteriores. A coleta e a análise
dos dados ocorreram simultaneamente, retroalimentando-se e buscando-se novas
descobertas no decorrer do estudo.
5. A ESCOLHA DA EMPRESA REFERÊNCIA DO ESTUDO E SUA CARACTERIZAÇÃO NO CAMPO
EMPÍRICO
A escolha da empresa referência para a pesquisa justifica-se pela recente
realização de um estudo de planejamento estratégico (PE) feito nela, no qual
foram determinadas várias diretrizes de atuação sobre variáveis selecionadas a
partir do modelo de PE de Almeida (2010). Dessa forma, julgou-se pertinente dar
continuidade ao estudo, na tentativa de direcionar as variáveis determinadas
anteriormente para um campo desconhecido, o futuro. As pressuposições dos
cenários futuros foram construídas e analisadas sob a ótica de sete
profissionais do ramo de móveis planejados, por meio da técnica qualitativa de
previsão.
Nesse contexto, no estudo pretende-se dar subsídios estratégicos para a empresa
preparar-se com o auxílio das previsões e trabalhar melhor seus recursos,
readequando-se às incertezas do futuro e inserindo maior estabilidade nas ações
e precaução em relação aos possíveis riscos.
A Empresa Grenoble Móveis Planejados foi fundada em 1996 e trata-se de uma
constituição societária por cotas de responsabilidade. Especializada em
projetos de interiores, conta hoje com sete colaboradores, sendo um financeiro,
um designer, dois arquitetos, um montador e os dois sócios, que se distribuem
entre as funções administrativas e supervisão dos projetos. Os clientes da
empresa são, basicamente, pessoas físicas residentes em Santa Maria (RS), das
classes A, B e C. A empresa possui em seu cadastro mais de 900 clientes, sendo
pelo menos 20% clientes fiéis, que costumam voltar para comprar.
Os fornecedores localizam-se, na maioria, fora da cidade, estando o principal
deles situado em Sarandi (RS), a 246 km de Santa Maria. Os demais fornecedores
pertencem a diversas localidades, dentro e fora do estado, sendo a maior
concentração na serra gaúcha. As vendas da empresa concentram-se no próprio
município, embora, algumas vezes, aconteçam vendas para outras localidades.
A empresa é consolidada hoje como importante no ramo de móveis projetados de
Santa Maria, o que se deve, em grande parte, à competência e à capacidade dos
gestores, que buscam formas de fidelizar seus clientes por meio de produtos e
serviços de qualidade. No entanto, os gestores, assim como muitos proprietários
visionários de pequenas empresas, não dispõem de procedimentos estudados, pré-
determinados e planejados para os seus processos decisórios. O raciocínio
estratégico ainda é bastante incipiente e, não raras as vezes, cria caminhos
equivocados e improdutivos para a empresa.
Assim, mesmo competentes, esses profissionais nunca se ocuparam em analisar as
incertezas do mercado no seu setor de atuação, tampouco a visualização de
possíveis riscos, concedendo ao acaso toda a sorte de suas ações, fatores todos
que corroboram a necessidade de formalização de uma visão estratégica a partir
da formulação de cenários como ferramenta de gestão.
6. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Na análise dos resultados, procurou-se seguir uma sequência lógica, conforme os
tópicos desenvolvidos no modelo proposto, abordando os pontos principais e mais
relevantes para o contexto do setor estudado. Após a análise dos resultados,
realizou-se uma reflexão sobre a aplicabilidade, as potencialidades e as
fragilidades do modelo proposto e suas possíveis fragilidades.
6.1. A escolha dos profissionais e a seleção das variáveis
Para chegar à decisão dos profissionais que deveriam participar do estudo, foi
realizado um apanhado no mercado local, no qual se constatou a existência de 11
empresas que atuam no mesmo ramo de atividades, com produtos e serviços
similares. Dessas empresas, para que fosse feita a escolha dos gestores, foram
analisados aspectos como conhecimento, intimidade e interesse deles em
participar das entrevistas e reuniões, a fim de retirar dados igualmente
relevantes para as suas próprias diretrizes organizacionais. Da mesma forma,
para a seleção dos arquitetos e designer, entendeu-se o seu interesse em
participar com ideias e representações hipotéticas de um possível cenário
futuro para o setor de móveis planejados.
Assim, para a realização do estudo, foram selecionados dois gestores de
empresas concorrentes que atenderam aos requisitos citados, dois gestores da
empresa em estudo, um designer e dois arquitetos prestadores de serviços para
as empresas. É relevante destacar que esse trabalho somente foi possível pela
compreensão das partes da relevância do estudo e pelo comprometimento dos
gestores em colaborar na elaboração de um cenário mais fidedigno possível às
suas percepções e visões acerca das possíveis transformações no ambiente de
atuação das pequenas empresas varejistas do setor moveleiro.
Quanto à seleção das variáveis, optou-se por sua extração a partir do
entendimento da sistemática de Almeida (2010) para formulação de planejamento
estratégico, conforme demonstra o Quadro_1, ilustrado anteriormente.
Dessa forma, o roteiro das entrevistas foi elaborado considerando-se as
variáveis políticas e econômicas mais significativas envolvidas nos ambientes
Clima, Solo, Operacional e Interno das organizações, e os gestores elencaram os
principais fatores que interferem no desempenho de suas próprias organizações.
Em consenso, foram retirados das entrevistas os aspectos mais significativos e
classificados como "as variáveis a serem trabalhadas" no exercício posterior de
brainstorming, realizado com os arquitetos e o designer.
Ao realizar a análise do ambiente, os gestores levantaram os fatos ocorridos
nos últimos anos que foram significativos para o desempenho da empresa e
simularam esses acontecimentos no futuro, decidindo se poderiam ser desprezados
ou se deveriam ser reavaliados, na tentativa de construir o melhor cenário para
montar as estratégias futuras.
No Quadro_3 relacionam-se os aspectos alavancados segundo a percepção dos
gestores da empresa (denominados G1 e G2) por ocasião da elaboração do
planejamento estratégico realizado em fevereiro de 2011. Todas as variáveis
foram reavaliadas e adequadamente reajustadas de acordo com as atuais
conjunturas políticas e econômicas.
Os aspectos alavancados segundo os gestores G3 e G4 (concorrentes), de acordo
com as suas percepções e experiências profissionais no setor, foram agregados
no Quadro_4.
Verificou-se, por meio dos dados coletados, que muitas percepções dos gestores
G3 e G4 são semelhantes às colocações de G1 e G2, fato considerado aceitável
diante do posicionamento das empresas dentro de um mesmo ambiente de atuação e
do direcionamento feito através do roteiro de entrevistas respondido pelos
quatro gestores. Assim, o próximo passo foi filtrar os eventos mais relevantes
para serem discutidos na sessão de brainstorminge na posterior elaboração dos
cenários.
6.2. A filtragem dos dados
A filtragem dos dados atendeu aos seguintes critérios: observaram-se os dados
recolhidos das entrevistas e as diferentes interpretações dos gestores (Quadros
3 e 4); para justificar uma sequência coerente do estudo, optou-se por seguir a
metodologia de Almeida (2010) de classificação ambiental das variáveis (Quadro
5).
Após a filtragem dos dados, realizada em consenso com os gestores, as variáveis
selecionadas foram trazidas para a sessão de brainstorming com os arquitetos e
o designer, a fim de promover ideias sobre o futuro delas e a previsão dos
cenários a partir daí.
6.3. A sessão de brainstorming
A sessão de brainstormingfoi desenvolvida colocando-se cada segmento ambiental
separadamente, até esgotar as ideias a respeito de cada variável selecionada.
Para a proposição das ideias, o grande questionamento colocado em pauta foi:
"Como identificar os sinais de mudança que indicam onde e como o futuro será
radicalmente diferente do passado?".
As ideias foram trabalhadas até se chegar aos resultados apresentados no Quadro
6.
Na sequência do estudo, com a posse das variáveis ambientais mais relevantes e
com seus possíveis efeitos e consequências em um futuro próximo, foi possível
construir a proposição de dois cenários para o setor de atuação da empresa.
6.4. A montagem dos cenários
De acordo com Van der Heijden (2009), os cenários são estabelecidos a partir de
modelos mentais pré-concebidos e, por isso, contemplando as mais variadas
limitações, desde os condicionamentos humanos para mudanças até o
desconhecimento completo do futuro. Assim, a construção dos cenários abstém
seus idealizadores de qualquer espécie de culpa ou responsabilidade pelo
acontecimento ou não dos eventos, formalizando um instrumento de mera
especulação sobre o futuro e franqueando, assim, a possibilidade de a empresa
formular planos para agir em determinadas circunstâncias antevistas.
Nesse contexto, no presente estudo a montagem dos cenários foi formulada a
partir de duas premissas, considerando-se: o comportamento positivo das
variáveis, caracterizando-se um cenário favorável para a empresa; o
comportamento negativo das variáveis, caracterizando-se um cenário mais penoso
para a empresa.
6.4.1. Cenário 1: as imagens de um cenário positivo e as repercussões nas
estratégias
O Cenário 1 foi concebido considerando-se as variáveis em consonância com as
atividades do setor, ou seja, um cenário favorável à extrapolação das vendas e
ao consequente crescimento da empresa. As estratégias sugeridas têm a pretensão
de orientar as ações da empresa para as situações possíveis imaginadas para
cada variável ambiental, garantindo melhor aproveitamento das conveniências
políticas e econômicas do momento.
Diante das contribuições dos gestores, arquitetos e designer, foi possível
estabelecer ações estratégicas para cada variável selecionada, considerando-se
um cenário positivo para o mercado nos próximos sete anos, conforme aponta o
Quadro_7.
No entanto, na concepção do gestor G4, ainda que o cenário seja positivo, é
dado determinante para o sucesso o poder de compra dos consumidores, que
depende de fatores como a poupança (o que o consumidor possui), a renda (o que
o consumidor ganha) e a disponibilidade de crédito (o que ele pode pedir
emprestado). Para o gestor G3, um aspecto relevante para o insucesso das ações
estratégicas, ainda que em um cenário positivo, é a grande quantidade de
legislação sobre os negócios que, na sua concepção, favorece mais governos e
consumidores do que as organizações em si.
6.4.2. Cenário 2: as imagens de um cenário negativo e as repercussões nas
estratégias
De forma semelhante, utilizando-se as mesmas variáveis da construção do Cenário
1, foi concebida a extrapolação de ideias na busca de sugestões para a empresa
em caso de um cenário desfavorável à sua permanência e crescimento no mercado,
conforme consta no Quadro_8.
Por meio da elaboração dos dois cenários, foi possível entender as repercussões
e diferenças nas estratégias requeridas para as diferentes situações. De
qualquer forma, independentemente do cenário, é importante antes de traçar
planos de ação entender a estratégia vigente da empresa para uma melhor visão
das possíveis modificações que a organização terá de enfrentar, bem como
possíveis investimentos.
6.5. Aplicabilidade, potencialidades e fragilidades do modelo proposto
A proposta do modelo de construção de cenários para atender pequenas empresas
do setor de móveis planejados demonstrou viabilidade prática pela sua aplicação
em uma situação real, trazendo resultados satisfatórios e passíveis de
aplicabilidade, podendo ainda ser aplicado a outras empresas, observadas as
suas limitações.
Embora o intuito na presente pesquisa não tenha sido exatamente fazer o
planejamento estratégico da organização, a aplicação do modelo juntamente com a
filtragem dos dados utilizando-se o modelo de Almeida (2010) permitiu um
resultado satisfatório nesse âmbito. É relevante salientar a importância de
adotar-se um modelo de construção de cenários adequado, para que sua aplicação
possa trazer resultados positivos, principalmente para as pequenas empresas, em
que não existem processos estruturados e contínuos de planejamento estratégico,
como foi o caso estudado.
As potencialidades observadas no modelo referem-se à sua abrangência de
avaliação e à visão sistêmica entre os critérios e variáveis escolhidos para a
análise em pequenas empresas do setor de móveis planejados. Outro aspecto
positivo do modelo é a sua sugestionabilidade em relação às diferentes
interpretações, pois uma riqueza de informações e formulações mentais foram
amplamente debatidas e discutidas, trazendo possíveis soluções para os cenários
montados.
Contudo, após a aplicação do modelo também foram encontrados alguns aspectos
que podem ser considerados como pontos frágeis e devem ser aprimorados para
aplicações posteriores. A principal fragilidade apontada pelo modelo diz
respeito à sua especificidade, uma vez que foi concebido para atender a um
determinado setor, com critérios específicos desse setor, o que pode limitar o
seu uso para outras áreas de atuação. Outro aspecto verificado é a redefinição
ou a inclusão de alguns critérios, como meio ambiente e sociedade, entre
outros, que poderiam melhorar o modelo, embora eles tenham sido abordados nas
variáveis. O modelo também poderia ser explicado de forma mais dissecada, para
um entendimento mais adequado, o que também poderia proporcionar maior
amplitude e abrangência do seu uso.
De forma geral, a aplicação do modelo possibilitou à empresa visualizar dois
cenários, um positivo e um negativo, chegando-se ao entendimento das ações
necessárias para a obtenção de melhores resultados em ambos os casos, além de
compreender o próprio modelo e a sua contribuição para a eficiência e a
eficácia operacional.
7. CONCLUSÕES
A construção de cenários é uma estratégia que auxilia as empresas a decidir o
que fazer e como agir nas mais diversas possibilidades de variações do mercado,
sejam elas positivas, sejam elas negativas. O importante é avaliar o que a
organização pode ou deve fazer de acordo com seus recursos e competências, seus
valores e aspirações das pessoas e suas obrigações para com a sociedade,
capacitando a empresa para a velocidade e a flexibilidade diante das incertezas
do mercado. De toda sorte, as estratégicas devem ser aceitas à medida que
correspondam ao ambiente organizacional, envolvam uma vantagem competitiva
sustentável, sejam consistentes com outras estratégias da organização, forneçam
flexibilidade adequada para a empresa, estejam de acordo com os objetivos de
longo prazo e sejam factíveis do ponto de vista organizacional (Aaker, 2001).
No presente trabalho, teve-se como objetivo propor um modelo para a construção
de cenários, servindo como ferramenta de apoio para a formulação de estratégias
em pequenas empresas do setor de móveis planejados. Na construção do modelo de
pesquisa, foram adotados três critérios de eficácia empresarial, dos quais
foram posteriormente selecionadas as 14 variáveis ambientais mais específicas à
área de atuação dessas empresas.
Para sua validação, o modelo foi aplicado a uma pequena empresa do setor de
móveis planejados, por meio de um estudo de caso no qual participaram sete
profissionais da área. No estudo de caso, seguiu-se uma sequência lógica de
ações para a coleta dos dados e a formulação dos resultados, partindo da
aplicação do modelo proposto, pesquisa e análise documental, aplicação da
técnica de brainstorming, análise qualitativa dos dados, formulação dos
cenários e ações estratégicas, sempre considerando os critérios e variáveis
pré-estabelecidos pelo modelo.
Foram entrevistados quatro gestores de empresas do mesmo ramo de atuação e
participaram da seção de brainstorminge da formulação dos cenários os gestores,
dois arquitetos e um designer, totalizando sete pessoas. O roteiro das
entrevistas baseou-se em um planejamento estratégico feito no início de 2011
pela empresa em estudo e a extração das variáveis seguiu a sistemática de
Almeida (2010), orientando-se pelas variáveis políticas e econômicas mais
significativas envolvidas nos ambientes Clima, Solo, Operacional e Interno das
organizações.
A filtragem dos dados orientou o estudo para as seguintes variáveis:
Macroambiente Clima (inflação, incentivos financeiros, crises mundiais e
legislação); Macroambiente Solo (aumento da renda, aumento da classe C,
mudanças nos hábitos e trabalho feminino); Ambiente Operacional (concorrência,
tendências moveleiras em constante modificação, fornecedores exclusivos,
evolução tecnológica crescente); e Ambiente Interno (valores e aspirações das
pessoas, qualificação profissional).
Sobre as variáveis selecionadas, o modelo sugeriu a construção de dois cenários
diferentes, um positivo e um negativo, cujas conjecturas sobre o futuro delas
foram levantadas e apontadas na sessão de brainstorming.
O Cenário 1 pressupõe alterações positivas do mercado em relação ao setor de
atuação da empresa, sendo favorável em diversos aspectos para a alavancagem das
vendas e o crescimento físico e financeiro da organização. Os objetivos de
busca de lucro são complementados por objetivos não econômicos (valorização do
funcionário, trabalho satisfatório, manutenção do emprego, manutenção do bem-
estar do consumidor, responsabilidade social, uso consciente das tecnologias).
Esse cenário apresenta-se efetivo e promissor tanto para a organização quanto
para o governo e para a sociedade, uma vez que institucionaliza novos valores
dentro da empresa, possibilitando a passagem dela de um instrumento puramente
econômico para um instrumento socioeconômico da sociedade.
Em contrapartida, o Cenário 2 pressupõe alterações negativas do mercado em
relação ao setor de atuação da empresa, sendo desfavorável em diversos aspectos
para a continuidade e o crescimento da organização, o que implica decisões
estratégicas mais pontuais e limitação de ações em função das restrições do
mercado. As incertezas e as constantes alterações no ambiente (micro e macro)
demonstram afetar profundamente a empresa e, consequentemente, seu
posicionamento estratégico diante do mercado.
O Cenário 2 indica que restrições ou regulamentações excessivas podem causar
danos importantes à eficácia empresarial, exigindo muitas vezes ações meramente
paliativas e impedindo, assim, o desenvolvimento da organização e qualquer
possibilidade de contribuição social. Em um cenário negativo, a empresa corre o
risco de tomar uma posição de defesa em relação aos fatos, ficando à mercê
deles, em vez de posicionar-se no controle dos acontecimentos.
Nas duas situações propostas, no entanto, os gestores consentem que, ao lidar
com o ambiente, a empresa passa a lidar com a incerteza e com a
imprevisibilidade. Além desses aspectos, as pequenas e médias empresas possuem
características peculiares relacionadas a sua cultura, tamanho, limitações de
recursos e estrutura, fatores que representam sérios obstáculos nas tentativas
de planejamento e implementação de estratégias. Nesse sentido, o grande desafio
é promover uma mudança de cultura entre os colaboradores, considerando o
envolvimento e o comprometimento de todos em não deixar que as ações
estratégicas fiquem confinadas a um emaranhado de papeis e ideias nunca postas
em prática.
Considerando-se os resultados alcançados e a amplitude da pesquisa realizada,
entende-se que foram efetivadas contribuições tanto para o corpo gerencial da
empresa quanto para a academia, acreditando-se que a abordagem metodológica
concebida a partir do modelo criado tenha sido adequada para a construção dos
resultados e possa servir para outros estudos acadêmicos ou profissionais.
No âmbito organizacional, o estudo permitiu que a empresa pudesse visualizar as
diversas variáveis políticas e econômicas concernentes ao negócio, sobre as
quais ela deve manter constante estado de vigilância, independentemente de o
cenário se apresentar positivo ou negativo. O estudo obteve pleno êxito nesse
aspecto, restando agora aos gestores a difícil tarefa de tirar as estratégias
do campo das ideias e trazê-las para a prática, facultando à empresa a
possibilidade de um crescimento consciente e sustentável.
Quanto às contribuições acadêmicas, a pesquisa apresentou contribuição
científica a partir da formulação de um novo modelo para a construção de
cenários, servindo de apoio para a formulação de estratégias em pequenas
empresas do setor de móveis planejados. O estudo também demonstrou a
criticidade da formulação de cenários e ações estratégicas em pequenas
empresas, por meio da aplicação empírica e estruturada do novo modelo em uma
pequena empresa do ramo de comércio de móveis projetados. Já a contribuição
metodológica deu-se pela característica qualitativa da pesquisa, que permite ao
pesquisador chegar mais próximo da realidade estudada.
Dessa forma, o objetivo de estruturar um modelo para a construção de cenários
foi cumprido a partir do estudo realizado, no qual a aplicação prática permitiu
a validação e a percepção da necessidade de adequação do modelo à realidade da
empresa do segmento para o qual foi concebido. Constatou-se que se o modelo
estiver adequado à realidade da empresa e o mais ajustado possível a seu
padrão, tamanho e setor específico de atuação, ele garantirá melhores
abordagens para a construção dos cenários e a formulação das estratégias pelas
empresas.