Realizar pesquisa sem ação ou pesquisa-ação na área de Administração? Uma
reflexão metodológica
1. INTRODUÇÃO
As pesquisas científicas voltadas às contribuições dos avanços da área de
administração não são recentes, como assinala Reed_(1999), que vincula suas
origens ao capitalismo industrial do século XIX. No entanto, elas ganharam
alcance e escopo apenas com a consciência das organizações modernas, por meio
das propostas analíticas de Weber, Taylor e Fayol. Paulatinamente, à medida que
a sociedade se transformava devido a crescente complexidade e intensidade da
atividade coletiva, o progresso do campo administrativo constituiu-se com o
desenvolvimento de diferentes concepções de pesquisas na área, assim como de
diversas relações desse tipo de pesquisador com o objeto estudado, levando a um
paradoxo entre a teorização e a prática administrativa (Bertero,_2004).
Nesse sentido, durante algum tempo, os supostos orientadores de pesquisa em
administração contribuíram para o aumento da controvérsia teoria versus
prática. No quadro geral, o esforço por uma pesquisa isolada, temporariamente,
conduziu a assuntos superficiais, relegando-a ao “segundo plano como área
prioritária de discussão acadêmico-científica” (Vieira,_2005, p. 13). Ainda
assim, não se podem ignorar os estudos que vêm sendo praticados na área de
administração, tanto na esfera internacional quanto na nacional. De acordo com
a análise de Vergara_e_Peci_(2003), predomina a lógica positivista, que
fragiliza as avaliações e distancia-se do fenômeno, fornecendo resultados
inócuos para os pesquisados. Por outro lado, o anseio por superar tais
deficiências tem provocado inquietações nos pesquisadores dessa área,
conduzindo-os a buscar estratégias de investigação qualitativa para seus
estudos, que possam abarcar relações, interdependências e interações dos
diversos sujeitos nas ações sociais das quais participam.
Nessa identificação, assinalam-se, também, os objetivos da pesquisa-ação (PA),
uma metodologia(1) de pesquisa qualitativa, ministrada aos campos de pesquisa
relacionados às formas de ação coletiva. Volta-se à descrição de situações
concretas de coletividade e à intervenção dos sujeitos, orientada em função da
deliberação de problemas ou de objetivos de transformação (Thiollent,_2003).
Considerada por alguns autores como uma inovação epistemológica aplicada aos
campos de atuação das ciências sociais, dentre eles, o de administração, a PA
posiciona-se como uma corrente de princípios metodológicos de natureza
argumentativa, com interações entre pesquisador e pesquisado, sendo, portanto,
oposta ao ideário de não interferência das técnicas ditas tradicionais
(Thiollent,_2003; Barbier,_2007). Os redutos acadêmicos, outrora considerados
locais de destaque no que tange a recomendar soluções para a sociedade, vêm,
paulatinamente, afastando-se da produção de pesquisas que ofertem auxílio para
as demandas sociais que mais necessitam de contribuições para resolver seus
dilemas (Thiollent,_2003).
De acordo com a lógica de Thiollent_(2003), a apreciação contundente deve
recair nos pesquisadores do campo das ciências humanas, que empregam
metodologias para produzirem pesquisas que em nada são a favor da práxis. Nesse
sentido, Greenwood_e_Levin_(2006,_p._92)problematizam a questão: “O
comportamento de muitos cientistas sociais acadêmicos revela que o centro de
suas vidas está nos diálogos que eles mantêm com seus próprios colegas de
disciplina”, enfatizando o desengajamento social dos intelectuais. Para eles,
ao se observarem esses pesquisadores para além do estereótipo quali-quanti,
percebe-se que agem “demonstrando uma falta de interesse na aplicação dos
resultados de seu trabalho, ou mesmo rejeitam completamente essa aplicação, com
o argumento de que os vínculos com o mundo que ultrapassam os limites da
universidade invadem sua autonomia intelectual” (Greenwood_&_Levin,_2006,
p. 92). Entretanto, no círculo das metodologias que permeiam a pesquisa
qualitativa aplicada à área de administração, a que mais se aproxima de uma
postura decididamente comprometida com a produção de impactos significativos à
realidade estudada é a PA.
2. MAPA CONCEITUAL DE REFERÊNCIA
2.1. PA como prática social
A PA insere-se dentro da abordagem qualitativa como um modelo de investigação
teórico que se empenha em promover a participação ativa dos outsiders no
processo de pesquisa, vinculando-os e vinculando-se com a transformação direta
do fenômeno estudado (Thiollent,_2003). Nesse sentido, para entender o mapa de
referência que compõe o esteio deste trabalho, estabelece-se como ponto de
partida a afirmação de Lewin_(1970,_p._220) sobre o que deve ser considerado um
estudo indispensável às práticas sociais: “É um tipo de pesquisa ação, uma
pesquisa comparativa acerca das condições e resultados de diversas formas de
ação social e pesquisa que leva à ação social”. Em seguida, complementa:
“Pesquisa que produ- za apenas livros não será o bastante”. Concomitantemente,
Reason_e_Bradbury_(2008) apontam que ação sem reflexão nem entendimento é cega,
e teoria sem ação não possui sentido. Destaca-se que esses pressupostos
equiparam-se ao argumento da PA desenvolvido por Thiollent_(2003). O autor
pontua, criticamente, que, ao optar por utilizar a PA em seus estudos, o
pesquisador pretende “alcançar realizações, ações efetivas, transformações ou
mudanças no campo social”. A PA é concebida por ele como uma metodologia de
pesquisa social realizada “em estreita associação com uma ação ou com a
resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes
representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo
ou participativo” (Thiollent,_2003, p. 14, grifos nossos).
Nessas três características ressaltadas no parágrafo anterior, assume-se que os
dois principais grupos sociais que compõem a ação de pesquisa social,
pesquisador e pesquisado, trabalhem conjuntamente para levantar dados e
informações, diagnosticar problemas e implementar soluções. A razão que a essas
ações se soma é que uma investigação de natureza múltipla, mas imersa em um
contexto de convivência social, sobretudo, mais do que produzir conhecimento à
comunidade científica, deve intervir no mundo real para alcançar a resolução de
problemas de pesquisa, buscando evitar o que Reason e Bradbury (2008) reforçam
– o distanciamento que as pesquisas no ocidente adotam: uma visão integralmente
positivista, ou seja, que enxerga a ciência como distante do dia a dia e o
pesquisador como o sujeito dentro de um mundo com diferentes objetos que não
interagem. Ademais, argumenta-se: Qual a pesquisa que é isenta da interferência
de um pesquisador? (Stringer,_1996; Thiollent,_2003; Barbier,_2007).
Essa visão converge para o entendimento de Barbier_(2007, p. 14) sobre a
relação assumida pelo pesquisador ao adotar a proposta de PA: “A pesquisa-ação
obriga o pesquisador a implicar-se”. Por conseguinte, o autor avança no
argumento a favor da metodologia, destacando que quem pesquisa realidades
sociais descobrirá que na PA “não se trabalha sobre os outros, mas e sempre com
os outros” (Barbier,_2007, p. 14). Esse engajamento idealizado(2) para os
outsiders é similarmente percebido no seguinte comentário de Thiollent_(2003,
p._15,_grifo_nosso): “Para que não haja ambiguidade, uma pesquisa pode ser
qualificada de pesquisa-ação quando houver realmente uma ação por parte das
pessoas ou grupos implicados no problema sob observação”. Também decorrente
desse argumento é a explanação de Stringer_(1996). No entanto, diferentemente
de Thiollent_(2003) e Barbier_(2007), o processo de coleta de dados por ele
sugerido pode ser por meio tanto de técnicas qualitativas quanto quantitativas
(ainda que tanto Thiollent quanto Barbier sejam uníssonos em argumentar que,
desde que contribua à resolução do problema, qualquer técnica possa ser
utilizada). Barbier_(2007,_p._143-144)apresenta um guia prático de PA para
orientar sua operacionalização, assim sumarizado: situação problemática;
planejamento e ação número 1; avaliação e teorização; retroação sobre o
problema; planejamento e ação número 2; avaliação e teorização; retroação sobre
o problema; planejamento e ação número 3; avaliação e teorização; retroação
sobre o problema; planejamento e ação número 4; e assim sucessivamente.
Nesse trabalho, Barbier_(2007) desenvolve sua proposição metodológica no
formato de uma espiral, amarrando-a, em repetidas oportunidades, ao processo da
transformação dos atores da pesquisa. Isso vai ao encontro dos processos
circulares de estudos centrados nos resultados (planejar, agir, interpretar e
redigir os resultados), comumente empregados no campo de ciências sociais,
incluindo-se o de administração. De maneira singular, sobre essa dicotomia que
implica a visão paradigmática entre o argumento circular (com sua visão de
objetividade estática) e a espiral (e a noção de relatividade observacional) e
as complexidades que os envolvem, destaca-se a contribuição de Dias_e_Pantoja_
(2010,_p._3), distinguindo-os:
enquanto o círculo funciona por oposição, contradição e repetição, a
espiral funciona como um continuum processo de evolução e
desenvolvimento, que pode ser por meio de uma diferenciação das
formas concretas ou dos conteúdos psicológicos e/ou funcionais que
movem sua estrutura.
McKay_e_Marshall_(2007) ilustram essa duplicidade de intenções, por meio de uma
espiral, representada na Figura_1.
Fonte: Adaptada
de McKay_e_Marshall_(2007,_p._142).
Figura 1 Espiral da Pesquisa-Ação em Organizações
A espiral possui dois ciclos que se desenvolvem concomitantemente e se inter-
relacionam: o acadêmico e o da ação. No ciclo acadêmico, o pesquisador tem
interesse em gerar conhecimento por meio da pesquisa em uma organização,
segundo sua orientação epistemológica e temas de pesquisas. Preliminarmente,
busca na literatura acadêmica algumas referências que lhe permitam desenvolver
um retrato das questões, dos desafios e das perspectivas em discussão em sua
área de conhecimento; com essa reflexão, o objetivo de pesquisa é definido.
Faz-se necessário, então, estabelecer um referencial teórico a partir do qual o
objetivo poderá ser examinado e compreendido; desenvolve- se um plano de
pesquisa que deve conduzir o projeto ao alcance desse objetivo. O projeto é
estabelecido no ambiente e constantemente acompanhado e avaliado segundo o
interesse de investigação. Se, após a avaliação dos resultados, for verificado
o atendimento satisfatório do objetivo, o pesquisador afasta-se do ciclo
acadêmico. Nesse ponto, ressalta-se que o engajamento com a PA ainda permanece,
caso ainda haja etapas sendo desenvolvidas no ciclo. Além disso, por sua
natureza, a experiência proporcionada em um dos ciclos pode ser útil na
construção do conhecimento do outro ciclo. Caso o resultado não seja suficiente
às necessidades da pesquisa acadêmica, o investigador poderá alterar seu escopo
e procurar explicações adicionais, retornando ao processo inicial. Como produto
do processo, tem-se a geração de conhecimento científico.
Ao mesmo tempo, desenvolve-se o ciclo da ação, cujo compromisso é resolver
algum problema da realidade. Esse ciclo deve ser integralmente desenvolvido com
a participação do grupo interessado na resolução do problema. Inicialmente, o
grupo deve identificar a situação-problema e avaliar seu contexto, sua natureza
e seu alcance. Estão incluídas nessa etapa as análises da história e dos
contextos sociais, políticos e culturais e das perspectivas das diversas partes
interessadas no problema. A partir da definição contingencial da situação-
problema, desenvolve-se e implementa-se um plano de intervenção. O plano é
monitorado e avaliado e, se o problema for resolvido, o pesquisador afasta-se
desse ciclo. Caso a intervenção não seja satisfatória, um novo plano de ação é
preparado e retoma-se ao processo inicial. Os miniciclos inseridos na parte
inferior da Figura_1 representam o constante, iterativo e reflexivo processo
decisório inerente a cada etapa da PA.
É preciso mencionar ainda algumas questões sobre a PA. Cabe aqui comentar que à
PA não é dada, normalmente, a concepção de generalização, característica
recorrente de alguns estudos que empregam o método qualitativo. Outro viés, no
plano da ação, é alinhar sincronicamente a tomada de consciência dos outsiders
sobre as exigências técnicas e científicas, dentre elas, a publicação. A
escolha dos participantes para investigação e a proposta de ação na realidade
estudada é outra situação que levanta controvérsias, assim como a participação
desses atores. A construção da dinâmica de PA consiste de fases que não podem
ser aligeiradas. E, em termos de pressupostos, a PA por vezes é acoplada a um
quadro político-partidário (Stringer,_1996; Maciel,_1999; Thiollent,_2003;
Barbier,_2007).
Especificamente, falando-se da utilização da PA na área de administração, sobre
seu começo, não há de fato um consenso (Masters,_2000; Tripp,_2005). No
entanto, embora seu início pareça nebuloso, o que se constata por meio de
consulta à literatura é que, de fato, a construção dos pressupostos da PA
aplicados a essa área ocorre em meados de 1940, com Lewin, nos Estados Unidos,
em atividades associadas ao desenvolvimento de recursos humanos das empresas.
De acordo com Thiollent_(2003), seu emprego na área prossegue pela década de
1960, na Europa, com o intuito de analisar a inter-relação dos aspectos sociais
com os tecnológicos nas organizações. Stringer_(1996) relata que, durante essa
década, a metodologia, de um modo geral, sofre um declínio devido a sua
associação com o ativismo político radical. Todavia, Gajardo_(1986) assinala
que na América Latina seu período áureo na área de administração dá-se entre os
anos de 1960 e 1970. A despeito disso, uma década depois, encontram-se
trabalhos de PA no entorno organizacional, mas cuja aplicabilidade se limita à
solução de problemas no escopo dos sistemas de informação (Thiollent,_2003).
2.2. Emprego da pesquisa-ação na área de administração no Brasil
No Brasil, de acordo com Gajardo_(1986), a pesquisa acadêmica começa a empregar
a PA por volta de 1970. No contexto atual, McKay_e_Marshall_(2007) afirmam que
PA tem uma dupla orientação nos estudos aplicados às organizações: o
comprometimento com pesquisa e produção de conhecimento e o engajamento na
solução de problemas organizacionais. Assim, procurando traçar um perfil
coerente da PA, assume-se que, tal qual qualquer outra metodologia empregada na
área de administração, ela também expressa vieses em sua articulação.
Entretanto, faz-se necessário asseverar que os frutos desse contexto evolutivo
não foram em vão.
Desde o início dos anos 2000 até os dias atuais, observa-se uma redescoberta da
PA, proliferando iniciativas e formação de grupos de pesquisadores(3)
interligados em sites e comunidades virtuais relacionados à temática, embora
estejam no entorno das áreas de educação, psicologia, engenharia da produção –
citam-se, por exemplo, trabalhos nessa área que utilizam Soft System
Methodology (SSM)(4), como o de Conceição,_Rodrigues,_Azevedo,_Almeida,
Ferreira_e_Morais_(2009) – e saúde. Nesse sentido, Thiollent_(2003) analisa
criticamente a aplicação da PA na área de administração, traçando um panorama
analítico do desenvolvimento de suas pesquisas. O autor afirma que, embora em
administração impere o ideal inadequado de não interferência nos dispositivos
de pesquisa, já existe uma tradição, mas “quase nenhuma pesquisa e nenhuma ação
podem ser realizadas sem o acordo e o consentimento dos empresários”
(Thiollent,_2003, p. 83). É interessante observar que Thiollent_(2003)argumenta
que a PA foi distorcida por uma realidade presente em administração – a da
pesquisa aplicada aos interesses particulares em detrimento do proveito dos
pesquisados:
A área organizacional é muito malvista por parte de muitos
pesquisadores de outras áreas devido ao fato de que a organização é
muito marcada pelo espírito empresarial [...]. Além disso, no mundo
dos pesquisadores e dos consultores da área, há um clima de
competição, segredo, “arrivismo” [...] parecem sobretudo preocupados
em “faturarem”, recorrendo inclusive a métodos “participativos” sem
efetiva contribuição (Thiollent,_2003, p. 82-83).
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para alcançar o objetivo deste trabalho, levantaram-se artigos em periódicos
científicos nacionais e congressos da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Administração (Anpad) que fizeram uso da PA, aplicando-se os
procedimentos a seguir relatados. Primeiramente, selecionaram-se os periódicos
brasileiros de administração de empresas classificados no sistema Capes/Qualis
entre A2 e B4 em dezembro de 2010 (nesse período não havia periódico em
administração classificado no estrato A1). Para confirmar o relacionamento do
periódico com essa área, foi verificada sua vinculação ou a alguma unidade de
ensino ou pesquisa em administração de empresas de instituições de ensino
superior, tais como escola, instituto, departamento ou programa de pós-
graduação em administração, ou a associação representativa de programas de pós-
graduação ou de cursos de administração de empresas. Na Figura_2, apresenta-se
a lista de periódicos analisados, seus respectivos extratos e a quantidade de
textos identificados.
Figura 2 Lista de Periódicos de Administração Analisados
N ISSN Titulo Padronizado Quantidade Qualis
de Artigos
1 1807- BAR - Brazilian Administration Review 1 A2
7692
2 1519- Revista Contabilidade & Finanças (Impresso) - A2
7077
3 1679- Cadernos EBAPE.BR (FGV) - B1
3951
4 2178- RAE - Revista de Administração de Empresas (On-line) 1 B1
938X
5 1678- RAM - Revista de Administração Mackenzie (On-line) - B1
6971
6 1415- RAC - Revista de Administração Contemporanea (Impresso) - B1
6555
7 1982- RAC-e - Revista de Administração Contemporanea (On-line) - B1
7849
8 0034- RAP - Revista de Administração Publica 1 B1
7612
9 2178- Revista de Administração de Empresas - B1
938X
10 1413- Organizações & Sociedade - B1
585X
11 1413- REAd - Revista Eletronica de Administração (Porto Alegre. On-line) 3 B1
2311
12 1679- Revista Brasileira de Finangas - B1
0731
13 1984- RAUSP - Revista de Administração (Sao Paulo. On-line) 1 B1
6142
14 1984- Base (Sao Leopoldo. On-line) - B2
8196
15 1517- Organizações Rurais e Agroindustriais (UFLA) - B1
3879
16 1807- Revista de Gestao da Tecnologia e Sistemas de Informação (On-line) 1 B1
1775
17 1516- Cadernos de Pesquisa e Administração (USP) (Cessou em 2005. Cont ISSN 1809- - B3
7747 2276 REGE. Revista de Gestão USP)
18 1984- FACES - Revista de Administração (Belo Horizonte. On-line) 2 B3
6975
19 1516- Gestão & Planejamento (Salvador) 1 B3
9103
20 1679- Gestão.Org 1 B3
1827
21 1516- Revista de Ciencias da Administração (CAD/UFSC) 2 B3
3865
22 1809- RAI - Revista de Administração e Inovação 1 B3
2039
23 1982- Revista de Contabilidade e Organizações 3 B3
6486
24 1983- Revista Brasileira de Gestão de Negocios (On-line) - B3
0807
25 2177- REGE Revista de Gestao - B3
8736
26 1983- Revista Alcance (On-line) - B3
716X
27 1677- Revista Brasileira de Inovação - B3
2504
28 1980- Revista de Negocios (On-line) 1 B3
4431
29 1981- RGSA - Revista de Gestao Social e Ambiental - B3
982X
30 1516- Analise (PUCRS) 2 B4
2680
31 1984- E&G - Economia e Gestao (Cessou em 2008. Cont. ISSN 1984-6606 Revista - B4
6606 Economia & Gestao)
32 1981- RAMA - Revista em Agronegocio e Meio Ambiente - B4
9951
33 1677- RESI - Revista Eletronica de Sistemas de Informação - B4
3071
34 1518- Revista Angrad - B4
5532
35 1414- Revista Ciencias Administrativas (Unifor) - B4
0896
36 1516- Revista da FAE - B4
1234
37 1807- Revista de Administração da FEAD - Minas - B4
1937
38 1676- Revista de Economia e Administração (Impresso) - B4
7608
39 1518- Revista de Estudos de Administração (Unijui) - B4
3645
40 0034- Revista do Serviço Publico - B4
9240
41 1984- Revista Eletronica de Estrategia e Negocios 1 B4
3372
42 2177- Revista Gestao e Tecnologia - B4
6653
43 1677- Revista Portuguesa e Brasileira de Gestao (Rio de Janeiro) - B4
2067
44 1980- S&G. Sistemas & Gestao - B4
5160
Assim, foram identificados 44 periódicos, dos quais dois estavam classificados
no estrato A2 do Qualis, oito no B1, seis no B2, 13 no B3 e 15 no estrato B4. A
operacionalização da busca pelos artigos obedeceu aos seguintes critérios:
período de janeiro de 2000 a dezembro de 2010; disponibilidade de acesso aos
artigos por meio de site, quer seja do próprio periódico, quer seja de base de
dados, como o Proquest; termo de busca: pesquisa-ação, pesquisa ação e action
research no campo “Resumo” da ferramenta de busca; se nessa ferramenta não
havia o referido campo, utilizaram-se quaisquer outros mecanismos que
permitissem importar as palavras-chave; se não havia ferramenta de busca ou ela
não operasse de forma estável, optou-se pelo site Google, utilizando o seguinte
argumento de busca: os termos de busca pesquisa-ação, pesquisa ação e action
research e nome do periódico.
Os seguintes periódicos não disponibilizavam ferramenta de busca em seus sites
em janeiro de 2011: Revista Ciências Administrativas, Revista de Administração
da FEAD, Revista de Economia e Administração e S&G – Sistemas & Gestão.
Por outro lado, a ferramenta de busca dos periódicos Organizações Rurais e
Agroindustriais e Revista do Serviço Público apresentou instabilidade. Em ambas
as circunstâncias, optou-se pelo procedimento explanado no último item do
parágrafo anterior. Dos periódicos analisados, identificaram-se 22 artigos,
distribuídos conforme explicitado na Figura_2. Entretanto, foram utilizados
apenas 19 na análise, devido aos trabalhos de Souza_(2004) e Lima_(2005)
referirem-se a ensaios teóricos e, por isso, não terem sido analisados; e ao
artigo de Soares,_Paton,_Santos_e_Bezerra_(2009), por sua vez, abordar assuntos
de competência da área de contabilidade e, por isso, também não foi
considerado.
Quanto aos congressos científicos, selecionaram-se todos realizados pela Anpad
no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2010, no total de 38 encontros ou
simpósios. Utilizaram-se os termos “pesquisa-ação”, “pesquisa ação” e “action
research” na ferramenta de busca disponível no site da Anpad. Nesse contexto,
foram localizados apenas quatro artigos em congressos da Anpad (EnAnpad 2002,
EnAnpad 2006, EnEO 2010 e Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica 2008), dos
quais dois foram considerados para análise. O estudo de Novaes,_Nogueira_e
Amaro_(2010) não foi analisado por referir-se a um ensaio teórico; e o trabalho
de Faria,_Freitas_e_Marion_(2008), por ter sido publicado posteriormente na
Revista de Negócios, em 2009 (Faria,_Freitas_&_Marion,_2009), assim, por
referir-se ao mesmo objeto de investigação e aos mesmos achados, foi
considerado o do periódico.
Portanto, somando-se os artigos encontrados nos congressos científicos e nos
periódicos, 21 artigos foram analisados segundo critérios e categorias que
serão apresentados na seção seguinte. São eles: Barros_(2002); Macke_(2002);
Copelli_e_Piccinini_(2003); Affonso,_Notari,_Pilla_e_Nakayama_(2005);
Barcellos,_Andrade_e_Nóbrega-Filho_(2005); Mariani_(2005); Costa_(2006); Dias_e
Jóia_(2006); Gomes_e_Moreno_Jr._(2006); Maccari,_Riccio_e_Martins_(2006);
Pretto_e_Milan_(2006); Nassif,_Ghobril_e_Bido_(2007); Silva_(2007); Krafta_e
Freitas_(2008); Munck_e_Munck_(2008); Faria,_Freitas_e_Marion_(2009); Gomes_e
Liddle_(2009); Protil,_Fernandes_e_Souza_(2009); Faria,_Borinelli_e_Mantovani_
(2010); Miranda,_Tarapanoff_e_Duarte_(2010); Silva_Júnior,_Vasconcelos_e_Silva_
(2010).
Os trabalhos de Eden_e_Huxham_(2001) e McKay_e_Marshall_(2007) serviram de
referência para construção das categorias norteadoras da análise. Optou-se por
desenvolver essas categorias no intuito de organizar, orientar e facilitar o
entendimento e o exame dos artigos, uma vez que a natureza da PA implica uma
construção textual fundamentalmente narrativa. Além disso, como se trata de uma
pesquisa social com aplicação intervencionista, faz-se necessário abordar
aspectos inerentes ao processo de pesquisa em si e ao processo de abordagem e
alteração da realidade objeto de estudo. Em outras palavras, há diversos
elementos (pesquisa e ação) que, se não forem considerados e sistematizados,
podem comprometer a análise crítica dos artigos. Por outro lado, essas
categorias podem servir como orientação a outros pesquisadores dos elementos
básicos de uma PA, ainda que essa não seja sua finalidade precípua. Para esse
objetivo, sua natureza é meramente exploratória e não exime os pesquisadores da
necessidade de levantarem o estado da arte da metodologia ou explorarem outras
formas de operacionalizá-lo.
Assim, as categorias foram organizadas sob a égide de dois ciclos: o ciclo
acadêmico, que diz respeito ao processo de pesquisa social e aborda desde a
definição do objetivo ou problema de pesquisa até os resultados alcançados, sob
o ponto de vista científico; e o ciclo da ação, que se refere à intervenção do
pesquisador no ambiente objeto de estudo. Esse ciclo aborda, entre outros
itens, o contexto do problema enfrentado pela organização ou pelo território,
os objetivos da intervenção e os resultados alcançados. Antes de proceder-se à
análise de todos os artigos, a primeira versão de itens foi testada com três
artigos (dois advindos de periódicos e um de congresso científico) para
verificar o grau de discriminação entre eles, a redação e a pertinência aos
objetivos do artigo. Pretendeu-se identificar se foi necessário ajustar o
projeto sob o ponto de vista das necessidades acadêmicas (ciclo acadêmico) ou
se houve a necessidade de retificá-lo para empreender alguma mudança adicional
na organização ou no território (ciclo da ação).
4. A PESQUISA-AÇÃO NOS ESTUDOS BRASILEIROS EM ADMINISTRAÇÃO
As análise e discussão dos artigos estão agrupadas em, primeiramente,
apresentação dos aspectos gerais dos artigos e, em seguida, dos resultados do
ciclo acadêmico das intervenções. Depois, discorre-se acerca dos achados do
ciclo da ação e, por fim, debate-se a aplicação da PA em alguns artigos.
4.1. Aspectos gerais dos artigos
Dos 21 artigos, um descreveu um projeto de desenvolvimento socioeconômico
territorial no Ceará e os demais estudaram organizações. Desses, 12
investigaram empresas de natureza privada, três abordaram instituições de
ensino superior (IES), dois atuaram em organizações públicas e do terceiro
setor e, por fim, um investigou uma cooperativa. No que se refere às áreas de
conhecimento em administração, o quantitativo de trabalhos apresentou-se
disseminado em: quatro para gestão de pessoas e logística e produção; três para
administração pública e social, administração da informação e ensino em
administração; e dois artigos em finanças e estratégia empresarial. Nota-se que
não há uma concentração em determinada área, mas uma distribuição (quase que)
equânime. Em decorrência da limitada quantidade de artigos identificados, mais
importante do que estabelecer a frequência relativa é analisar os motivos pelos
quais se sobressaem publicações acadêmicas que aplicam a PA em determinadas
áreas da administração. Um dos possíveis motivos diz respeito à natureza da
disciplina que a aplica.
O reconhecimento da complexa interdependência entre pessoas, tecnologia,
processos de negócios e contexto sociocultural é crítico em algumas áreas de
orientação aplicada, tais como administração da informação (que abarca desde a
gestão do conhecimento até os sistemas de informações), administração logística
e da produção e administração financeira. Isto é, a incorporação de inovações
de natureza técnica traz consigo uma perspectiva mais abrangente de mudança,
não restrita apenas à metodologia propriamente dita, mas ampliada aos âmbitos
comportamental e organizacional (Roesch,_2001; McKay_&_Marshall,_2007). O
foco da PA na resolução de problemas relacionados ao dia a dia das organizações
mantém a importância da rica interdependência, dado que seu laboratório é o
próprio contexto organizacional. Dessa forma, em áreas de tendência aplicada,
estabelece ação e prática como essências do esforço de pesquisa, para que a
intervenção não se caracterize apenas como um apêndice da pesquisa (McKay_&
Marshall,_2007). Em outras áreas há, também, tradição de pesquisas que aplicam
a metodologia, como é o caso do desenvolvimento organizacional, ensino e
administração social (Roesch,_2001; Tripp,_2005). Roesch_(2001) ressalta,
porém, que a aplicação em administração não se deve limitar àquelas
disciplinas. O que se deve ter mente é se a PA é a metodologia adequada para
atender tanto ao interesse de pesquisa quanto à demanda organizacional (McKay
&_Marshall,_2007).
Checkland_e_Holwell_(2007) e McKay_e_Marshall_(2007) afirmam que o interesse de
pesquisa do investigador é que deve preceder e motivar a identificação da(s)
situação(ões) e da(s) organização(ões) que podem ser objeto de uma intervenção.
Em outras palavras, para esses autores, na PA, não é um problema organizacional
que determina o problema de pesquisa, mas o interesse do investigador por
determinado tema é que sinaliza a procura de um caso típico no mundo real.
Contudo, essa sequência não descarta a validade de achados originados de uma
consultoria organizacional, desde que aderentes a um projeto de pesquisa
científica (Eden_&_Huxham,_2001), como o trabalho de Dias_e_Jóia_(2006),
cujo estudo contou com a participação de consultores. Avison,_Baskerville_e
Myers_(2007) preveem a possibilidade de que a pesquisa seja proveniente de um
problema organizacional e não de uma questão de pesquisa acadêmica. Nessas
circunstâncias, a demanda da organização por especialistas exigirá do
pesquisador a adaptação dessas necessidades a seu programa de pesquisa e ele
deve dedicar-se a aprender por meio dessa experiência e extrair conclusões que
possam ajudá-lo no desenvolvimento de teorias (Avison_et_al.,_2007). Contudo,
seja na situação em que o pesquisador descobre os problemas organizacionais,
seja na última, em que os problemas encontram o pesquisador, o interesse pela
pesquisa científica deve preponderar.
Quanto aos objetivos de pesquisa, dos 21 artigos analisados, dez explicitaram
que os objetivos acadêmicos subsidiaram a escolha da organização estudada,
enquanto os outros 11 foram orientados pelas necessidades da organização;
desses, cinco não evidenciaram seus objetivos científicos. Cabe fazer uma
distinção entre os objetivos científicos da intervenção e os objetivos do
artigo. Copelli_e_Piccinini_(2003), Affonso_et_al.(2005), Mariani_(2005), Costa
(2006) e Pretto_e_Milan_(2006) indicaram o objetivo dos artigos (“descrever a
implantação de” ou “relatar uma experiência”), mas não o acadêmico. Pode-se
inferir, pois, que, nesses casos, a PA foi apropriada como uma metodologia
sistematizada para resolver problemas de organizações, em lugar de uma
metodologia para fazer pesquisa aplicada. Isso não significa dizer que esses
artigos deixaram de extrair implicações científicas de suas experiências, pelo
contrário, todos as apresentaram. Porém, essas evidências foram tratadas de
forma marginal (normalmente na conclusão) e desconectadas de um objetivo
acadêmico. Há a percepção de que a inclusão de achados dessa natureza se deve
mais a uma exigência da redação acadêmica, do que a um fim a ser perseguido.
Ainda que em uma PA os processos acadêmico e organizacional ocorram de forma
concomitante e integrada, para tornar a análise e a apresentação dos resultados
mais didática, optou-se pela separação desses processos. Esse procedimento
justifica-se porque, geralmente, o objetivo do primeiro é diferente daquele do
segundo. A despeito da evidenciação do objetivo de pesquisa, 19 artigos
explicaram minuciosamente a relevância científica de seus trabalhos e apenas o
de Pretto_e_Milan_(2006) não a informou. Com exceção dele, os trabalhos que não
evidenciaram o objetivo acadêmico justificaram a importância científica da
pesquisa. Todos os artigos procederam à revisão teórica dos temas-objeto de
suas intervenções, corroborando Eden_e_Huxham_(2001,_p._100), para quem “a
elaboração e o desenvolvimento teórico são preocupações explícitas do processo
de pesquisa [-ação]”. Todavia, oito artigos discorreram sobre a fundamentação
teórica da PA, seis limitaram-se à definição conceitual (sem se aterem a suas
particularidades), e sete não fizeram menção a do que consiste a metodologia.
Essa informação é coerente com o fato de que 13 artigos justificaram o porquê
de aplicar-se a PA ao objeto de investigação, enquanto cinco não examinaram sua
real contribuição a seus projetos. Por tratar-se de uma metodologia cuja
extensão de aplicação no Brasil em pesquisas acadêmicas organizacionais é
desconhecida (Roesch,_2001), a indicação da literatura seminal e a
fundamentação de sua legitimidade, como metodologia, podem ser pontos de
referência e de partida para outros estudos que pretendam aplicá-la.
Quanto à especificação, a pesquisa foi desenvolvida minuciosamente por seis
artigos; quatro trabalhos apenas citaram o que seria feito sem se aterem-se a
seu detalhamento; e 11 não apresentaram o desenho do estudo. Tal como discutido
por McKay_e_Marshall_(2007), os interesses acadêmicos solicitam planejamento e
delineamento específicos para responder a questão de pesquisa.
Consequentemente, metodologias e técnicas são empregadas para atender a esse
propósito, diferentemente dos objetivos da intervenção, os quais requerem um
conjunto distinto de procedimentos. Assim, ao largo de estabelecer-se uma
rígida categorização, espera-se que o pesquisador apresente de que forma cada
um deles contribuiu para alcançar ambos os objetivos, articulando os fins com
os meios. Verificou-se, porém, que os artigos esforçaram-se mais em explicar o
planejamento da intervenção, do que o acadêmico, que, geralmente, reduziu-se à
técnica de coleta de dados. No trabalho de Costa (2006), por exemplo, as
técnicas usadas foram úteis, de fato, ao objetivo da intervenção, já que os
objetivos acadêmicos dessa experiência não foram apresentados.
4.2. Resultados do ciclo acadêmico das intervenções
Ao se examinarem os resultados das categorias do ciclo acadêmico, observou-se
que seis artigos explicaram a finalidade da pesquisa e nela apoiaram as
técnicas de coleta de dados; 11 limitaram-se a citá-las (sem articulá-las com o
projeto); e quatro não fizeram menção alguma a elas. No que tange às fontes de
dados e informações, 14 artigos fizeram uso de documentos, 13 de entrevista em
profundidade, seis de observação participante, cinco de observação direta e
dois de grupo focal; também foram utilizados fotoimagens e cronometragem
(Affonso_et_al.,_2005) e levantamento tipo survey (Nassif_et_al.,_2007). Apesar
da diversidade de técnicas de coleta, poucos artigos estabeleceram ligações
delas com o objetivo do trabalho. Além dessas técnicas, todos se utilizaram de
reuniões com os sujeitos da PA, contudo, como já ressaltado, as informações
coletadas podem servir tanto ao interesse acadêmico quanto à intervenção
organizacional. Em relação às técnicas de análise dos dados e das informações,
três artigos relataram uso da análise de conteúdo; Munck_e_Munck_(2008,_p._14),
por seu turno, interpretaram as informações coletadas com base nas “percepções
subjetivas e objetivas dos autores e membros da organização sobre os itens
exigidos pelos quadros e modelo-base”.
Em uma PA, o pesquisador deve continuamente monitorar e avaliar se as
microdecisões conduzem às proposições de cada etapa e do objetivo do ciclo
acadêmico. A reflexão a respeito do conhecimento emergido, a ação e o
desenvolvimento teórico compõem um processo cíclico e iterativo que não é
restrito à etapa final, mas incorporado a cada decisão tomada (Eden_&
Huxham,_2001 ; Checkland_&_Holwell,_2007 ; McKay_&_Marshall,_2007).
Constatou-se que esse aspecto foi negligenciado em 19 trabalhos; apenas o
artigo de Krafta_e_Freitas_(2008) detalhou esse processo iterativo, enquanto o
de Protil_et_al._(2009) ateve-se a mencioná-lo. Como pesquisa e ação são
entrelaçadas, é possível que esse componente avaliativo tenha sido admitido
durante a intervenção nas organizações; tal aspecto será analisado em conjunto
com os resultados do ciclo da ação. Nenhum artigo relatou a necessidade de
ajustar o projeto sob o ponto de vista das necessidades acadêmicas.
O produto do ciclo acadêmico da PA é a geração de novas ideias, entendimentos e
conhecimentos acerca de determinada realidade (Checkland_&_Holwell,_2007).
Nesse sentido, 17 artigos detalharam os achados científicos de suas atividades
e um não os explicitou. Esse, o artigo de Pretto e Milan (2006), não expôs o
objetivo nem a relevância científica da intervenção. Os trabalhos de Copelli_e
Piccinini_(2003), Affonso_et_al._(2005), Mariani_(2005) e Costa_(2006), por seu
turno, ainda que tivessem discorrido sobre seus achados, não estabeleceram os
objetivos acadêmicos. O aprendizado decorrente de um processo de mudança em
organizações ou comunidades pode contribuir para o aperfeiçoamento da ciência,
contudo, questiona-se a forma como os pesquisadores acadêmicos poderiam
apreender esses novos conhecimentos, em uma PA, se previamente não almejaram
isso. Na PA, preveem-se alterações de objetivo ou técnicas de pesquisa quando
identificados, em seu percurso, novos insights ou fatos instigadores, mas não
se pressupõe que o pesquisador vá a campo sem considerar pelo menos uma
intenção científica na intervenção.
Sobre o tipo de conhecimento científico gerado, a maior parte dos artigos (18
no total, dos quais 15 efetivamente discorreram sobre os resultados) ensejou a
avaliação da aplicabilidade de modelos empíricos ou técnicas no ambiente
organizacional; no caso do trabalho de Barcellos_et_al._(2005,_p._322), que
relata uma “experiência de construção do futuro com grupos sociais complexos”,
o ambiente de transformação foi o estado do Ceará. Nenhum trabalho resultou na
avaliação de uma teoria propriamente dita. Igualmente, nenhum artigo teve como
resultado a emersão de uma nova teoria e, sim, de modelos: os trabalhos de
Macke_(2002) e Protil_et_al._(2009) tiveram como produtos um modelo conceitual
e um de intervenção em organizações, respectivamente. Por fim, dois trabalhos
ensejaram aperfeiçoamento de modelos e métodos: Munck_e_Munck_(2008),
relacionado à gestão de competências; e o de Nassif_et_al._(2007), que
desenvolveu melhoramentos em métodos de ensino em administração. Esses
resultados corroboram a afirmação de Eden_e_Huxham_(2001,_p._102) de que “não
seria usual a pesquisa-ação criar teorias fundamentalmente novas”, pois “é
provável que os insights da pesquisa estejam vinculados e, também, que sejam
elaborados com base em outros trabalhos”. Predominaram os estudos que
revisitaram modelos ou técnicas estabelecidos para verificar de que forma
explicam ou resolvem problemas da organização.
Dos 21 artigos analisados, 13 desenvolveram reflexões acerca da generalidade de
seus resultados e restringiram os achados a sua situação específica; no
entanto, conjecturaram sobre a possibilidade de extrapolá-los para outros
contextos. Sobre esse aspecto, Eden_e_Huxham_(2001) enfatizam que os resultados
devem pelo menos apontar outras possibilidades de investigação para além do
objeto estudado. Isso não implica afirmar que podem ser generalizados e
transferidos para outras organizações descaracterizados de seus contextos;
antes, podem servir como referências para pesquisas futuras (Eden_&_Huxham,
2001 ; Checkland_&_Holwell,_2007). Evidentemente, como a situação de
qualquer organização em um período particular do tempo é única, uma vez que
incorpora participantes únicos, detentores de histórias próprias e
compartilhadas, não se pode asseverar que os resultados sejam significativos
para pessoas em outras situações. Por esse motivo, para permitir a avaliação da
validade da PA, é importante que o pesquisador evidencie seu posicionamento
epistemológico, fundamentação teórica e, principalmente, procedimentos
metodológicos adotados. Dessa maneira, a pesquisa pode submeter-se ao
escrutínio de outros pesquisadores interessados no fenômeno estudado (Checkland
&_Holwell,_2007).
4.3. Achados do ciclo da ação
No que concerne aos resultados caracterizadores do ambiente pesquisado, ao
diagnóstico do problema enfrentado e ao objetivo da intervenção, 16 artigos
descreveram detalhadamente o ambiente em que se deu a intervenção, sendo 15 em
organizações e um em um estado da federação; dois trabalhos não aprofundaram a
caracterização das organizações; e três não fizeram menção alguma a esse
ambiente. A demanda da organização, ou do território, que precisava ser
resolvida foi explicitada por 18 dos 21 artigos. Quinze artigos explanaram
minuciosamente o contexto em que o problema das organizações e do se insere, e
cinco apresentaram superficialmente essas informações. O trabalho de Barros_
(2002) não especificou o objetivo da intervenção, apenas os acadêmicos, não
deixando evidente que tipo de mudança foi desejado nas organizações estudadas,
uma vez que a emancipação de grupos de pessoas era o tema central. Apesar de
relatar a realização de reuniões de discussão, não fica patente o que as
organizações poderiam esperar do pesquisador em termos de mudança de suas
práticas organizacionais, como pode ser observado na seguinte passagem:
Esta [última] etapa corresponde a um grupo de discussão (grupo focal)
no qual as imagens construídas serão decodificadas pelo grupo e em
seguida os temas geradores serão postos em debate. [...] A função do
pesquisador, neste processo de discussão, além de permitir um clima
de confiança e de troca livre entre os participantes, é de
possibilitar a constante problematização dos temas para os membros do
grupo (Barros,_2002, p. 61, grifos nossos).
O papel do pesquisador voltou-se à reflexão dos problemas das organizações em
conjunto com seus membros. Nesse ponto, limitou-se a ser um moderador dessas
discussões e não um agente de mudança: não atuou efetivamente na alteração dos
problemas identificados nas etapas anteriores. Seu objetivo de pesquisa gera a
expectativa de que seja relatada uma experiência de intervenção que constituiu
(ou aperfeiçoou) uma gestão emancipadora: “Especificamente, nós queremos
estudar a interação entre o discurso e a prática contextualizada e, a partir
daí, compreender quais são as influências da ‘cultura’ local sobre a
constituição de um projeto de gestão emancipadora” (Barros,_2002, p. 58, grifo
nosso). Portanto, limita-se a descrever as vivências dos projetos emancipadores
de duas organizações, comparando-as sob o exame de aspectos culturais.
Uma questão indispensável na PA é a participação ativa dos sujeitos sobre os
quais incidem as intervenções objeto do projeto (Thiollent,_2003; Avison_et
al.,_2007; Kristiansen,_2007), pois trata-se de um processo dialógico em que o
trabalho cooperativo com os participantes, especialistas em suas atividades,
pode melhorar a qualidade das relações mútuas e, portanto, interferir na
qualidade dos resultados da pesquisa (Kristiansen,_2007). Sobre esse atributo
da metodologia, 17 trabalhos consideraram a participação ativa dos grupos
diretamente interessados na intervenção, mas esse pré-requisito não foi
observado em quatro artigos. Em seu estudo, Copelli_e_Piccinini_(2003), por
exemplo, propuseram-se a desenvolver um sistema de remuneração por habilidades
dos funcionários de uma organização, mas argumentam ser “conveniente não
comunicar aos funcionários da área de produção o sistema de remuneração por
habilidades que estava sendo construído, visto que o objetivo era construir o
sistema, avaliar sua possível eficácia e, depois, se conveniente, implantá-lo”
(Copelli_&_Piccinini,_2003, p. 11).
Quando se analisam os tipos de sujeitos beneficiários da intervenção, de um
mesmo estudo era possível participarem tanto proprietários (ou dirigentes)
quanto funcionários. Os resultados apresentados indicam que esse tipo de
arranjo seria potencialmente influenciado, contudo, os artigos não lhe fizeram
menção. Dos 21 artigos, oito tiveram entre os principais intervenientes os
proprietários ou diretores das organizações; sete envolveram funcionários de
nível operacional; seis trabalharam com funcionários de nível gerencial; e
quatro envolveram clientes/alunos das organizações. Optou-se por enquadrar
alunos na categoria de clientes, uma vez que as três IES objeto dos projetos
eram de natureza privada. Os trabalhos de Nassif_et_al._(2007) e Silva_
(2007)explicitaram o envolvimento direto dos alunos na PA, porém, Maccari_et
al._(2006) limitaram sua participação às entrevistas. É importante enfatizar
que o relacionamento com os sujeitos da intervenção ocorre pelo diálogo, pela
participação e pelo envolvimento ativos deles no estudo (Kristiansen,_2007). A
realização de entrevistas com clientes (Macke,_2002; Maccari_et_al.,_2006;
Pretto_&_Milan,_2006 ; Protil_et_al.,_2009) ou com outros grupos de pessoas
(Gomes_&_Moreno,_2006 ; Maccari_et_al.,_2006) por si sós não são suficientes
para caracterizar o nível de participação apontado por Kristiansen_(2007).
Sobre a quantidade de artigos em que o tipo de outsider não era influenciado
diretamente pela resolução do problema, os resultados descritos anteriormente
podem ser compreendidos sob dois pontos vista, que não são mutuamente
excludentes: o envolvimento com o projeto de pesquisa – sete artigos relataram
intervenções em micro e pequenas empresas, mesmo considerando que normalmente o
processo decisório em seu âmbito é centralizado no proprietário –; e, por outro
lado, a possibilidade de que os resultados reforcem a crítica de Thiollent_
(2003) acerca do uso inadequado da PA em administração, a qual
preferencialmente tem sido mais útil aos interesses dos dirigentes do que dos
demais grupos de interesse (entenda-se, os empregados).
Especificamente falando a respeito do ciclo da ação presente, 18 trabalhos
explicitaram minuciosamente o planejamento, o delineamento e a implementação
das atividades desenvolvidas para atender aos propósitos das intervenções. De
acordo com Checkland_e_Holwell_(2007), esse detalhamento é necessário para que
pesquisadores ou gestores tenham a possibilidade de reproduzir a experiência em
outras realidades. Por outro lado, seis trabalhos explicitaram as diligências e
os mecanismos de monitoramento e a avaliação das intervenções, quatro artigos
apenas citaram que as atividades eram acompanhadas, e os demais não mencionaram
nenhum procedimento relativo a esse aspecto. Tal como no ciclo acadêmico, uma
grande parte dos artigos não relatou o processo avaliativo e reflexivo que
permeia um processo de construção conjunta da experiência intervencionista de
uma PA.
4.4. Aplicações da pesquisa-ação
A maioria dos artigos apresentou e debateu os resultados das intervenções, os
aprendizados proporcionados e a forma como o projeto alterou o ambiente interno
(produtos, processos ou pessoas) do ambiente investigado. Não se questiona a
legitimidade do êxito das intervenções, mas a forma heroica com que algumas
delas foram sustentadas, ou seja, trata-se de casos de sucesso. Por fim, 19
trabalhos detalharam as implicações gerenciais do projeto para além do contexto
examinado, e dois artigos limitaram-se a citar que as proposições poderiam ser
aplicadas a outras situações sob determinadas circunstâncias.
Em pelo menos quatro artigos, questiona-se se, de fato, foi empregada a PA em
seu sentido estrito. Nesses trabalhos, trata- -se ou de relatos sobre
experiências de mudanças empreendidas por empresas de consultoria (Silva_Júnior
et_al.,_2010) ou por acadêmicos (Barros,_2002; Mariani,_2005), ou da descrição
do desenvolvimento de uma proposta de mudança para uma organização (Affonso_et
al.,_2005). Em todos, os processos de intervenções tinham algumas
características comuns a uma PA, porém, outras etapas inerentes à metodologia
não eram consideradas. Reafirme-se aqui o entendimento de Roesch_(2001,_p._121,
grifo_nosso): “Na pesquisa-ação, não é suficiente estudar a ação dos outros;
implica envolvimento integral do pesquisador com a intenção de mudar a
organização”.
O argumento comumente empregado para designar o estudo como uma PA relacionou-
se à orientação intervencionista e à mobilização. Essa não é a única
característica que a diferencia de outras técnicas qualitativas; a
coparticipação, por exemplo, prevê a mudança de determinada realidade por um
pesquisador em conjunto com membros de uma organização detentores de
competências específicas (Hartley_&_Benington,_2000), contudo, nem por isso
é uma PA. As características e as etapas em seu conjunto, apontadas por Eden_e
Huxham_(2001), Thiollent_(2003), Barbier_(2007) e McKay_e_Marshall_(2007),
auxiliam na sinalização de que uma intervenção é ou não uma PA. O artigo de
Silva_Júnior_et_al.(2010), por exemplo, declara como objetivo descrever o
processo de mudança inteiramente desenvolvido por uma empresa de consultoria,
que executou a intervenção. A participação dos pesquisadores ocorreu apenas por
meio do levantamento de percepções dos participantes desse processo, sem terem
concebido, planejado e implementado a mudança. Os autores justificam-se dizendo
que a PA foi usada por possuir pontos comuns com o processo de desenvolvimento
organizacional e não por ser uma metodologia de pesquisa social.
Em seu trabalho, Mariani_(2005,_p._110) mencionou o termo PA apenas no tópico
resumo: “Busca-se neste trabalho estudar a implantação do método PDCA. (Plan,
Do, Check, Action), também reconhecido como metodologia de análise e solução de
problemas – MASP. É um estudo desenvolvido por meio de uma pesquisa-ação”. Já
Barros_(2002) não apresentou a intervenção efetiva do pesquisador na realidade
das duas organizações estudadas, conforme debatido anteriormente. Assim, o que
se infere desses artigos é que a chancela de uma PA confere maior
cientificidade e inovação aos trabalhos, dado que a ação intervencionista dos
pesquisadores pode assumir uma orientação científica e não unicamente de
consultoria organizacional e é uma metodologia pouco aplicada nos artigos
publicados nos principais periódicos brasileiros em administração e, portanto,
nem sempre detalhadamente conhecida pelos pesquisadores dessa área.
Affonso_et_al._(2005,_p._330), por seu turno, tiveram como resultado de sua PA
um conjunto de propostas de mudanças no processo de trabalho de funcionários do
setor de expedição de uma metalúrgica, tal qual havia sido previsto em seus
objetivos: “Assim, o objetivo geral da pesquisa foi apresentar propostas para
otimizar o trabalho dos funcionários do setor de expedição da Lunko Metalurgia
Ltda”. Para justificar que se tratava de uma PA, os autores citam Thiollent
(1997): “Desta forma, a pesquisa-ação busca alcançar objetivos de descrição da
situação-problema e de intervenção, onde há a elaboração de estratégias ou
ações (Thiollent, 1997), que é o que aconteceu no presente estudo” (Affonso_et
al.,_2005, p. 330, grifo nosso). Em outras palavras, segundo os autores, a
intervenção ocorre pela “elaboração de estratégias ou ações”; contudo, para
Thiollent_(2003,_p._41), a atuação do pesquisador não se restringe à confecção
de um plano, mas em “alcançar realizações, ações efetivas, transformações ou
mudanças no campo social”. É possível que a intervenção não seja bem-sucedida,
conforme ponderam Eden_e_Huxham_(2001), porém, precisa ser implementada (McKay
&_Marshall,_2007). Affonso_et_al._(2005,_p._338) evidenciam que o “presente
trabalho classifica-se no tipo ‘proposição de planos’, por apresentar soluções
para os problemas já diagnosticados. A implementação ou não dos planos
apresentados ficará a critério da empresa” e sugerem que, “se a empresa desejar
implementar as sugestões, recomenda-se que seja feita uma mensuração de
indicadores antes e depois da implementação para evidenciar se ocorreu
benefício em relação ao investimento” (Affonso_et_al.,_2005, p. 349).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, o objetivo foi analisar como a PA tem sido aplicada nos estudos
da área de administração no Brasil. Para tanto, procurou-se identificar se os
pesquisadores brasileiros dessa área utilizam a PA nos termos das proposições
fundamentadas em Thiollent_(2003), Barbier_(2007) e McKay_e_Marshall_(2007).
Nesse ponto, não se avaliou, simplesmente, a presença ou a ausência da
descrição de determinada etapa. O que permeou a análise foi sopesar como os
autores articularam e construíram, em conjunto com os sujeitos interessados,
experiências e conhecimentos influenciadores do progresso científico e da
alteração da realidade daqueles indivíduos. Analisaram-se objetivos,
procedimentos, nível de engajamento de outsiders e consequências dos ciclos
acadêmico e da ação, tanto para a ciência quanto para a realidade sob
intervenção (neste artigo, organizações e um estado federativo brasileiro). Nos
resultados da pesquisa, nota-se que, no geral, os autores não distinguem
apropriadamente as duas intenções da metodologia, salvo poucas exceções.
Fez-se evidente a dedicação empreendida nos estudos para relatar os
procedimentos da intervenção e os resultados alcançados sob o ponto de vista da
organização ou do território. Entretanto, o conhecimento acadêmico é, por
vezes, relegado a uma posição unicamente de supridor de técnicas para
operacionalizar as mudanças e não como uma ciência em processo de
aperfeiçoamento. Por esse motivo, há a percepção de que em alguns artigos a
fundamentação teórica e as técnicas de coleta de dados e informações empregadas
foram úteis apenas para proporcionar-lhes uma identidade científica. Isso fica
mais evidente pelo fato de que 24% dos artigos não estabeleceram os objetivos
acadêmicos da intervenção, e 52% não apresentaram os procedimentos para
responder a questão de pesquisa.
Identificou-se, também, que da maior parte dos artigos resultou como produto
acadêmico a certificação da viabilidade de determinadas metodologias ou
técnicas de administração no ambiente investigado. Poucos se dedicaram a
desenvolver ou aperfeiçoar modelos ou técnicas. É possível que esses resultados
reflitam a forma de fazer ciência em administração no Brasil. Essa constatação,
em conjunto com a reflexão anterior, pode suscitar a dúvida defendida por
Thiollent_(2003): a quem a pesquisa-ação aplicada às organizações deve servir?
Aos empresários e gestores? Aos empregados? Aos clientes? Aos acadêmicos? Os
resultados deste artigo não permitem oferecer uma resposta contundente, porém,
há indícios de que os interesses organizacionais têm prevalecido sobre os dos
empregados e, principalmente, sobre os da academia.
O conceito de PA é reconhecido e internalizado pelos autores, mas os relatos de
sua aplicação ainda são deficientes. Nesse sentido, não se pode afirmar que os
pesquisadores brasileiros em administração, em geral, desconhecem o processo de
uma PA, sobretudo na concepção de Reason_e_Bradbury_(2008) de que a PA advém de
um engajamento sustentável, evolucionário e educacional dos indivíduos não só
entre eles, mas também do indivíduo consigo mesmo. Assim, alguns elementos-
chave devem ser observados para os que pretendem utilizar a PA. Na Figura_3,
apresentam-se as etapas, de modo sequencial, observando-se simultaneamente o
Ciclo Acadêmico e o Ciclo da Ação.
Figura 3 Etapas e Ciclos da PA
Etapa Ciclo Academico Ciclo da Ação
1 Tema, interesse, pergunta de pesquisa Identificação do problema
2 Verificação do tema na literatura academica Verificação do contexto do problema
3 Planejamento e especificação do projeto de pesquisa para responder a pergunta Planejamento das atividades para resolução dos problemas
de pesquisa
4 Implementação Implementação
5 Geração de conhecimento e monitoramento, em termos do interesse de pesquisa Resolução do problema organizacional, aprendizado por meio da ação e
monitoramento em termos da eficacia da resolução do problema
6 Avaliação dos efeitos da intervenção, em termos da pergunta de pesquisa Avaliação dos efeitos da intervenção do problema
Saida do processo, se a pergunta for respondida satisfatoriamente; ou correçãoSaida, se o resultado for satisfatorio; ou correção do plano, se alguma
7 do planejamento e do delineamento do projeto, se explicações adicionais se mudanga adicional for desejavel, e retorno a etapa 1
fizerem necessarias, e volta-se a etapa 1
Contudo, ressalta-se que há pontos na descrição das experiências que podem ser
aperfeiçoados, especialmente aqueles que distinguem a PA de outras
metodologias, tais como a preocupação com pesquisa e ação e o envolvimento dos
sujeitos-objeto da intervenção. Reason_e_Bradbury_(2008) levantam
questionamentos quanto às perspectivas da PA em termos de quais são seus
resultados e se funcionam, quais são os processos de questionamento para
executá-la, e se realmente a aplicação da PA melhora a vida das pessoas
envolvidas. Sobre esse último aspecto, é necessário mencionar as questões
políticas que envolvem a PA. Para Thiollent_(2003), por ser inerentemente
empírica e estar inserida em uma proposta de transformação, a função política
da PA está profundamente relacionada com o tipo de ação apresentada e os atores
considerados. Em outras palavras, as relações entre as forças participativas
influenciam o modo como a PA é aplicada: quando o grupo possui ampla autonomia
de ação, a PA exerce a função de fortalecer essa relação grupal; por outro
lado, quando a relação de autonomia é fraca, a PA caracteriza-se por uma
polarização entre dirigentes e dirigidos, levando a possíveis deturpações de
sua concepção democrática.
Esse tipo de ação política proposta é o principal objetivo da PA. Quando se
observa, pela perspectiva metodológica, a PA – em comparação com outras
metodologias de pesquisa utilizadas em administração, que sucumbiram em
rivalidades entre pesquisadores – suscita, salvo algumas exceções, discussão
que se pauta pela escolha de dois extremos: ou o distanciamento ou a
aproximação dos sujeitos de pesquisa. Essa opção finda por espaçar a pesquisa
da formulação de um modelo de análise que contemple a transformação do contexto
estudado e se traduza em resultados reais às raízes da questão levantada. Como
bem alerta Reed_(1999), a autoconfiança na identidade intelectual dos estudos
organizacionais está cada vez mais abalada, em meio a expectativas incertas
sobre a natureza e o mérito de suas pesquisas. Sobre esse aspecto, deve-se
estar alerta para evitar o que Greenwood_e_Levin_(2006,_p._94) definem como “a
pesquisa inútil e o carreirismo acadêmico que se afasta da atenção a questões
sociais públicas importantes”. É, portanto, o momento de refletir sobre a
natureza da pesquisa que vem sendo praticada no campo da administração.
Nesse sentido, a ideia concebida e desenvolvida que, neste artigo, se pretende
sugerir, à guisa de conclusão, é que pesquisa e ação na área de administração
podem e devem caminhar juntas. Isso é pertinente quando se tem como propósito a
transformação da prática e não apenas o entrosamento da pesquisa e da ação
(Thiollent,_2003), haja vista que, para além da produção de saberes em
metodologias chanceladas pelo ambiente acadêmico, é possível, e faz-se
necessário, produzir conhecimentos indutores de mudança na realidade estudada.
Portanto, a PA deve ser concebida e realizada em estreita associação ou com uma
ação ou com a resolução de um problema coletivo, em cuja solução outsiders e
pesquisadores se envolvam de modo cooperativo e participativo.
Compreende-se, entretanto, que esse não deve ser um posicionamento leviano por
parte de seus pesquisadores seguidores, pois deve-se alertar que, em face do
posicionamento positivista que domina os meios acadêmicos atualmente (Vergara
&_Peci,_2003), quem opta por essa alternativa deve estar ciente de que ele
“está longe de ser o melhor caminho para ser rapidamente bem-sucedido no mundo
acadêmico” (Barbier,_2007, p. 33). Nos posicionamentos que incidem nessas
concepções dos principais autores de PA adotados pela comunidade acadêmica do
Brasil, pode-se perceber que se entrelaçam, basicamente, três tópicos
principais, que também se encontram presentes no âmbito do pensamento
contemporâneo dos estudos em administração: mudança social, colaboração por
meio da participação e empoderamento dos sujeitos (de pesquisa), o que
demonstra a pertinência da metodologia nos estudos dessa área.
Por fim, como sugestão de pesquisas futuras, julga-se importante desenvolver
uma análise semelhante com periódicos estrangeiros em administração e comparar
os resultados com os aqui encontrados. Sugere-se também identificar o
posicionamento filosófico dos artigos e se, de alguma maneira, esse aspecto
influencia a forma como os autores narram suas experiências e desenvolvem
intervenções. Faz-se relevante destacar como limitação que, neste texto, se
analisaram tão somente os estudos publicados em periódicos e eventos da área de
administração; contudo, outros domínios de conhecimento também desenvolvem
estudos em organizações. Assim, pesquisas podem ser realizadas comparando o
desenho com que o pesquisador em administração e os de demais áreas empreendem
a pesquisa-ação em organizações.
NOTAS
Sistema de Avaliação: Double Blind Review
Editor Científico: Nicolau Reinhard
(1)Toma-se como base a concepção de Thiollent_(2003)de que a PA é uma
estratégia metodológica e, assim, adota-se o entendimento de metodologia de
Richardson_(2011,_p._22): “São os procedimentos e regras utilizados por
determinado método”.
(2)Minayo,_Souza,_Constantino_&_Santos_(2005,_p._87), ao analisarem a PA,
põem em xeque a questão da participação voluntária de atores investigados,
contextualizando que “cada vez mais se tornou difícil o engajamento dos leigos,
a não ser de forma remunerada”.
(3)No Brasil, destacam-se os trabalhos desenvolvidos pelo grupo de pesquisa em
Ergonomia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) com a adoção da PA.
(4)SSM é uma metodologia desenvolvida, na década de 1960, por Checkland, que
inicialmente adotou procedimentos de PA na área de sistema de informações
(Checkland_&_Holwell,_2007).