Os fundos setoriais e a redefiniçao do modelo de promoção de ciência,
tecnologia e inovação no Brasil: uma análise à luz do CT-Agro
1. INTRODUÇÃO
O Brasil, seguindo as tendências internacionais, tem, desde a segunda metade do
século XX, procurado estimular a pesquisa científica e tecnológica. As
políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), implementadas no País
até o final da década de 1990, seguiram a lógica do modelo linear de inovação,
o que marcou a realidade brasileira em uma assimetria, com bons indicadores
acadêmicos, mas índices frágeis quanto a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)
privados.
Visando superar a desarticulação entre universidades e empresas, no fim da
década de 1990 foram criados diferentes mecanismos de financiamento no Sistema
Nacional de Inovação. Esse passou a entender o processo inovativo como um
modelo sistêmico, em que diversos atores (universidades, empresas e governo)
estão envolvidos e trabalham em rede (Associação_Brasileira_das_Instituições_de
Pesquisa_Tecnológica_e_Inovação_[ABIPTI],_2001; Kuhlmann,_2008; Godin,_2009).
Com isso, a empresa, como geradora de P&D, passou a ter papel central nas
políticas de financiamento nacionais.
Seguindo esse propósito de mudança, o governo criou, em 1999, os Fundos
Setoriais, cuja concepção deu início à implantação de um novo instrumento de
financiamento de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação no País.
Esses fundos teriam como foco o desenvolvimento científico e tecnológico de um
determinado setor, sendo um programa integrado, com participação de
universidades, centros de pesquisa e do setor privado.
Passada mais de uma década desde a criação dos Fundos Sociais, o objetivo geral
neste trabalho é analisar se os Fun dos Setoriais redefiniram o modelo de
promoção de CT&I, mudando de ofertista-linear para o modelo sistêmico, como
previsto em sua concepção. Para a consolidação de um modelo sistêmico, o setor
produtivo precisa estar inserido no processo inovativo. Dessa forma, apoiou-se
na análise da presença ou não da empresa em dois objetos distintos dos Fundos
Sociais: as demandas lançadas pelas agências de fomento; e os projetos
aprovados para essas demandas.
A metodologia empregada neste trabalho fundamentou-se em pesquisa documental de
dados secundários e registros públicos, constantes nas bases de informações do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e de suas agências de
fomento, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Foi escolhido, para coleta e
análise, o Fundo CT-Agro, do qual foram extraídas informações de caráter
populacional sobre as demandas e os projetos aprovados com seus recursos.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Modelos de inovação e suas dinâmicas
Um dos primeiros modelos teóricos desenvolvidos para entender o processo da
ciência e tecnologia e suas relações com a economia foi o modelo linear de
inovação. Nesse modelo, a pesquisa científica é a fonte de novas tecnologias,
implicando uma relação direta entre quantidade de insumos utilizados em P&D
e os resultados deles em termos de inovação tecnológica e desempenho econômico.
Nessa abordagem, a inovação é entendida como um ato de produção sequencial, em
vez de um processo social contínuo, envolvendo atividades de gestão,
coordenação, aprendizado, negociação, investigação de necessidades de usuários,
aquisição de competência, gestão do desenvolvimento de novo produto e gestão
financeira, dentre outras. (Viotti,_2003)
O Modelo Linear foi bastante influente e disseminado por parte das organizações
acadêmicas, a fim de teorizar e justificar o suporte governamental à ciência.
Como consequência, as políticas públicas voltadas à promoção da ciência e
tecnologia seguiram, por décadas, esse modelo, dando ênfase a recursos e
instituições dedicadas a P&D (Godin,_2006). Embora carregado de
condenações, o modelo linear possui defensores. Balconi,_Brusoni_e_Orsenigo_
(2010) argumentam que, embora a generalidade do modelo linear seja reduzida
pelo reconhecimento de que ciência não é a origem direta, nem a principal fonte
de inovação, a ciência continua sendo uma condição importante e um componente
essencial do progresso tecnológico, fundamental em indústrias baseadas em
ciência.
Na década de 1980, Kline_e_Rosenberg_(1986) desenvolvem um dos mais influentes
modelos não lineares de inovação. O chain-linked model, ou modelo elo da
cadeia, destaca a concepção de que a inovação é resultado de um processo de
interação entre a oportunidade de mercado e a base de conhecimento e
capacitação da firma. Além disso, enfatiza a importância de feedbacks
constantes durante as diversas fases do modelo, que permitem trocas de
informações entre os agentes envolvidos no processo.
A partir da década de 1990, ganha importância a abordagem de caráter sistêmico,
que leva em consideração a influência simultânea de fatores institucionais,
econômicos e organizacionais, originando-se da impossibilidade de se explicar o
porquê de alguns países apresentarem processos de desenvolvimento econômico e
tecnológico superiores a outros. Seu foco principal é centrado na ideia de
consolidação e organização de Sistemas Nacionais de Inovação. No modelo
sistêmico, o processo inovativo ocorre em um ambiente de redes de relações
diretas e indiretas entre empresas, institutos de pesquisas públicos e
privados, infraestrutura de ensino, além de uma economia nacional e
internacional favorável.
Indo além dos modelos de inovação, nos últimos tempos tem havido, na literatura
econômica, um esforço concomitante para que sejam definidos os elementos comuns
de um conjunto amplo de inovações, além da procura por certo tipo de força
motora da atividade inventiva. Nessa direção, duas abordagens básicas têm sido
definidas: a indução pela demanda (demand pull) e a tecnology push - ou teoria
do "impulso pela tecnologia" - (Dosi,_2006).
As teorias de indução pela demanda, ou demand pull, baseiam-se na ideia de que
a mudança tecnológica irá ocorrer em reconhecimento das necessidades da
sociedade por um determinado bem ou serviço, objetivando satisfazê-las. Do lado
oposto, estão as teorias que se fundamentam no impulso pela tecnologia, ou
tecnology push, em que a mudança tecno lógica seria consequência de uma
concepção unidirecional de "ciência-tecnologia-produção", independente e
neutra. Dessa forma, o caminho é investir em universidades e centros de
pesquisa, de onde iriam emergir inovações, independente da consulta ao mercado
(Dosi,_2006).
2.2. Sistemas setoriais de inovação
A ideia de desenvolvimento científico e tecnológico setorial tem seu início em
conhecimentos difundidos na literatura econômica da década de 1980, com Bell_e
Pavitt_(1995), Nelson_e_Winter_(2002; 2005) e Dosi_(2006). A emersão da Teoria
Evolucionista, como teoria de desenvolvimento econômico, abriu espaço para o
conceito de sistema setorial de inovação e processo, uma vez que ela dava
ênfase na dinâmica do processo e da transformação tecnológica, com base na
aprendizagem e no conhecimento (Pereira,_2007).
Com base nesses autores e, consequentemente, na Teoria Evolucionista, Malerba_
(2002) afirma que o conceito de setorização deve ser visto a partir de uma
visão dinâmica, integrada e multidimensional. Para ele, cada setor na economia
é caracterizado por uma gama de atores direta ou indiretamente relacionados ao
mercado; atores esses que podem ser indivíduos ou organizações em diversos
níveis de agregação. Esse reconhecimento de Sistema Setorial de Inovação
compreende que esses atores possuem processos específicos de aprendizagem,
competências, crenças, objetivos, estruturas organizacionais, que interagem por
meio de trocas, cooperações e comandos em competições.
Malerba_(2002) sustenta, também, que cada setor é caracterizado por específicas
bases de conhecimento, tecnologias, processos de produção, demandas,
heterogeneidade de firmas ofertistas e de organizações e instituições que o
compõem. Nessa direção, a vantagem dessa visão sistêmica setorial de inovação
reside no fato da possibilidade de se conhecer as particularidades de cada
setor, permitindo uma otimização dos recursos destinados às políticas de
ciência, tecnologia e inovação.
2.3. A criação dos fundos setoriais
Embora marcados pela oportunidade da vinculação de recursos, os Fundos
Setoriais foram idealizados como um novo instrumento de política científica e
tecnológica para o Brasil (Pereira,_2007). Uma de suas particularidades mais
notáveis como política de incentivo a CT&I é o fato de os fundos basearem-
se, conceitualmente, em modernas teorias de inovação, deixando para trás o
processo linear até então seguido (Pereira, Hasegawa, & Azevedo, 2006).
O modelo sistêmico de inovação, que passou a ser a base teórica dessa nova
política de ciência e tecnologia, reconhece que as áreas do conhecimento e os
campos de pesquisa são cada vez mais interdependentes e interativos, envolvendo
diversos atores e múltiplas instituições com papéis e funções diferenciadas
(Centro_de_Gestão_e_Estudos_Estratégicos_[CGEE],_2006).
Para que os Fundos Setoriais se caracterizassem como esse novo modelo de
inovação, eles tinham como objetivo (Galvão,_2007):
* Focal - maior comprometimento do setor privado na formulação da agenda,
nas decisões de aplicação de recursos e execução dos projetos:
o - empresa como foco da demanda tecnológica;
o - ambiente favorável às parcerias entre governos, institutos de
ciência e tecnologia e empresas;
o - estratégias definidas pelos principais atores do setor.
* Difuso - fortalecimento das atividades de CT&I no País, com ênfase ao
apoio às inovações nos setores selecionados:
o - infraestrutura de pesquisa e recursos humanos;
o - desconcentração regional;
o - cooperação.
Com a adoção da abordagem sistêmica, o setor empresarial foi colocado em
destaque, e os arranjos cooperativos, universidade - centro de pesquisa -
empresa, foram o meio para se promover o financiamento e a execução da pesquisa
científica e tecnológica pela empresa (Bagattolli,_2008).
2.4. Características dos fundos setoriais
Os recursos provenientes das arrecadações para cada fundo são canalizados para
o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), e
administrados pela FINEP, ambos sob responsabilidade do MCTI. O CNPq e a FINEP
são as agências encarregadas de administrar esses recursos, de acordo com as
diversas modalidades.
A gestão dos fundos ficou a cargo de comitês gestores, um para cada fundo,
presidido por um representante do MCTI. Cada Comitê Gestor é composto por
representantes de ministérios afins, agências reguladoras, comunidade
acadêmica, setor empresarial e agências do MCTI, FINEP e CNPq. Esse modelo de
gestão compartilhada, constituído pela participação de diversos setores da
sociedade tomando decisões sobre a aplicação dos recursos, é condizente com um
dos objetivos dos Fundos Setoriais, ou seja, o de articular a interação dos
vários atores envolvidos na implementação de políticas públicas de CT&I,
dando especial atenção à participação empresarial (Pacheco,_2007).
Os Fundos Setoriais possuem também outras características importantes, como:
obrigatoriedade de, no mínimo, 30% dos recursos serem destinados às regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste; viabilização de instrumentos para a
consolidação e a ampliação do sistema de CT&I de maneira consistente e
sustentável; implementação de programas integrados e de redes cooperativas
envolvendo o setor empresarial; fortalecimento das relações entre universidades
- empresas - centros de pesquisa.
Cada fundo, balizado por sua diretriz estratégica e por seu plano de
investimento, apresenta mecanismos de fomento para a implementação de suas
ações. Esses mecanismos, utilizados pelo CNPq e pela FINEP, visam ao apoio
financeiro a projetos que se encaixem nas demandas criadas pelo Comitê Gestor.
Cada agência lança, então, instrumentos de convocação de propostas de
financiamento, que podem ser feitas de três maneiras, dependendo do tipo de
demanda em questão (MCTI,_2011):
* Editais Públicos - também nomeados de chamada pública, essa demanda é
utilizada quando se define uma ou mais áreas temáticas ou setores
estratégicos de interesse dos programas de pesquisa cooperativa entre
universidades, centros de pesquisa e setor produtivo. A convocação das
propostas é pública e são selecionados os projetos que melhor atendam às
especificações da chamada.
* Carta-Convite - nessa demanda, cada fundo convida instituições a
apresentar propostas de projetos que visam à geração de produtos ou
processos produtivos inovadores que contribuam para a superação de
obstáculos ou conduzam a inovações estratégicas para o setor. As
propostas apresentadas pelas instituições são pré-qualificadas e,
posteriormente, avaliadas.
* Encomenda - essa demanda é utilizada em caso de urgência ou
especificidade, em que se encomenda a uma instituição específica de
reconhecida competência o desenvolvimento de um projeto, estudo ou evento
estratégico.
Para Pereira_et_al._(2006), as características dos Fundos Setoriais, ou seja,
mobilizar diversos agentes do processo inovativo na política de C&T, com
destaque à empresa e o estímulo ao surgimento e à consolidação de redes de
cooperação para a pesquisa, corroboram a negação à linearidade de tal processo.
Além disso, a garantia da constância de recursos para as políticas de ciência e
tecnologia, uma maior eficiência na gestão (permitida pela gestão
compartilhada) e o foco dado a setores tidos como estratégicos para a economia
brasileira a transformam em uma política inovadora para o País.
2.5. Alguns dados sobre os fundos setoriais
As expectativas quanto à implementação dos Fundos Setoriais eram grandes
(Pereira,_2005). As estimativas sobre o aumento dos recursos que seria
adicionado ao orçamento do MCTI, além da vinculação dessas receitas,
garantiriam o fluxo financeiro às atividades de CT&I, superando a crônica
instabilidade de recursos para P&D científico-tecnológico no País (Pacheco,
2007). Na Figura_1, apresenta-se a execução orçamentária do FNDCT entre os anos
1980 e 2005.
Fonte: FINEP_
(2008).
Figura 1 A Evolução da Execução Financeira do FNDCT (1980-2005)
Os dados contidos na Figura_1, embora um pouco defasados, mostram que, a partir
da criação dos Fundos Setoriais em 1999, e com a implementação dos demais
fundos ao longo de 2001 e 2002, não só se passou a manter um fluxo contínuo de
orçamento, como ele foi aumentando ao longo do tempo. De acordo com o próprio
FNDCT (FINEP,_2010), os Fundos Setoriais promoveram a revitalização do FNDCT,
viabilizando e ampliando seus recursos imediatamente após sua instituição.
Os recursos provenientes dos Fundos Setoriais, como se pode observar na Figura
2, continuaram a aumentar após 2006. Entre o que se pode destacar aqui, tem-se
o fato de que, embora tenha havido estagnação mundial nos últimos anos,
resultado da crise de 2008, a arrecadação dos fundos continuou ascendente. Além
disso, observa-se nessa Figura que a execução dos recursos fica aquém de sua
arrecadação, mostrando uma certa folga de recursos para o investimento em
ciência e tecnologia.
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0353-gf02.jpg]Fonte: FINEP_
(2010) e MCTI_(2011).
Figura 2 Evolução dos Recursos Arrecadados e Executados pelos Fundos Setoriais
(em Milhões de Reais)
Na Figura_3 apresenta-se a execução dos recursos provenientes da arrecadação
dos Fundos Setoriais por tipo de desembolso. Os recursos gerados pela
arrecadação de cada fundo são destinados a diversos instrumentos de política de
CT&I, entre eles projetos específicos de cada Fundo Setorial, Subvenção
Econômica, Ações Transversais e Recursos sob supervisão do FNDCT. Vale destacar
que, após a instituição de ações transversais, 50% dos recursos arrecadados por
fundo deveriam ter esse destino. O que se observa, por meio da Figura_3, é que,
ao longo dos anos, menos da metade dos recursos dos Fundos Setoriais está sendo
destinado a projetos específicos de cada fundo, fazendo com que o conceito de
setorização dos recursos de ciência e tecnologia venha se dizimando ao longo
dos anos.
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0353-gf03.jpg]Fonte:
Elaborada com dados do MCTI.
Figura 3 Evolução da Execução dos Recursos Provenientes dos Fundos Setoriais
por Tipo de Desembolso (em Milhões de Reais)
Quanto à obrigatoriedade de, no mínimo, 30% dos recursos serem destinados às
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o que se observa é que isso não foi
cumprido em alguns anos (Figura_4). De acordo com o FNDCT (FINEP,_2010), ainda
que o CNPQ e a FINEP se preocupem em contemplar essa exigência legal da
regionalização dos recursos, muitos dos fundos não conseguem projetos o
suficiente para atingir os percentuais almejados. Essa situação ocorre por
diversas razões, seja devido a problemas no julgamento dos editais, atraso ou
cancelamento na contratação dos projetos, seja pela própria configuração dos
setores, como no caso do CT-Aeronáutico, em que a maior parte das empresas de
ciência e tecnologia desse setor estão localizadas na região Sudeste do País.
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0353-gf04.jpg]Fonte:
Elaborada com dados do MCTI.
Figura 4 Evolução da Execução Orçamentária dos Fundos por Região (em
Porcentagem)
Com relação aos projetos aprovados, os números chamam bastante atenção. Desde a
criação do primeiro fundo, o CT-Petro, em 1999, já foram apoiados mais de
24.700 projetos. Na Figura_5, apresenta-se a evolução desse número e mostra-se
que o número de projetos aprovados teve seu ápice no ano de 2008, seguido por
uma ligeira diminuição em 2009 e uma diminuição abrupta em 2010. Essa queda
absoluta no número de projetos em 2009 representa que o valor dos projetos
aprovados nesse ano superaram, em média, os do ano anterior, uma vez que o
orçamento executado nesse período foi maior do que em 2008. Já no ano de 2010,
pode-se observar que a queda no número de projetos acompanha a diminuição no
orçamento executado no período.
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0353-gf05.jpg]Fonte:
Elaborada com dados do MCTI.
Figura 5 Evolução do Número de Projetos Aprovados com Recursos dos Fundos
Setoriais
Ainda sobre os projetos aprovados, o que se observa é uma variância
significativa quando relacionados ao número de projetos (acumulado) aprovado
por fundo (Figura_6). Embora só tenha sido aprovada em 2004, cinco anos após a
criação dos fundos, a ação transversal é responsável por mais de 9.300
projetos, representando 37,7%. Vale lembrar que, institucionalmente, 50% dos
recursos arrecadados por fundo devem ser destinados a esse tipo de ação.
Destaca-se, ainda, o número de projetos aprovados por instrumento de subvenção
e outros do FNDCT, que ultrapassam os 2.500 projetos. Esse representativo de
10% do total, somado aos 37,7% do Fundo Transversal, mostra que os Fundos
Setoriais estão perdendo sua visão setorial não só em valores financeiros
(Figura_3), mas também em quantidade de projetos aprovados.
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0353-gf06.jpg]Fonte:
Elaborada com dados do MCTI.
Figura 6 Número de Projetos Aprovados por Fundo (1999-2010)
3. METODOLOGIA
No presente trabalho, a proposta foi avaliar se os Fundos Setoriais alteraram o
modelo de política de promoção de CT&I no Brasil, passando a estimular a
interação dos diversos atores no processo inovativo, com foco na empresa.
Para tanto, foi selecionado o Fundo Setorial Agronegócio (CT-Agro), sendo ele o
terceiro fundo (entre os verticais) que mais arrecada recursos, atrás somente
do CT-Petro e do CT-Energ. Em número de projetos (ainda entre os Fundos
Verticais), o CT-Agro ocupa a segunda colocação, logo atrás do CT-Petro, o que
mostra a preocupação do Comitê Gestor dos Fundos com a inclusão da pesquisa
científica e tecnológica no setor de agronegócio. Além disso, o agronegócio
foi, em 2010, responsável por 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) com mais de
170 bilhões de reais gerados por esse setor, caracterizando esse segmento como
essencial para a economia brasileira.
Para a definição de indicadores que avaliassem a consolidação de um modelo
setorial de inovação, foram entrevistados responsáveis por formulação de
indicadores de CT&I, os quais indicaram os objetos de análise apontados a
seguir.
* Demandas - para avaliar a preocupação do Comitê Gestor do CT-Agro,
representado pelas agências de fomento responsáveis pelas demandas, em
estimular a interação dos diversos atores com foco na empresa, foi
efetuado um levantamento de todos editais / chamadas públicas lançados
com recursos desse fundo. Em cada uma dessas demandas, o objetivo era
saber se havia a especificação de prioridade a projetos que contemplassem
a participação da empresa.
* Projetos - para analisar se houve a participação da empresa nos projetos
financiados com recursos do CT-Agro, foi realizado um levantamento de
todos os projetos aprovados por esse fundo, verificando a participação ou
não da empresa.
Para se obter esses dados, foram contatados gestores dos Fundos Setoriais que
indicaram a disponibilidade de ambos os objetos de análise por meio de análise
documental. Quanto ao horizonte temporal, o período abrangido neste estudo é de
2002, quando foi lançada a primeira chamada pública do CT-Agro, até outubro de
2010, quando a base de dados do Sig/Fundos Setoriais foi atualizada pela última
vez, tratando-se, portanto, de um estudo populacional. Além disso, foram
analisados demandas e projetos das duas agências responsáveis pelos recursos
dos Fundos Setoriais: FINEP e CNPq.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Análise das demandas do CT-Agro
O primeiro edital com participação do CT-Agro foi lançado em dezembro de 2002
pelo CNPq. Essa seleção pública, chamada Edital Universal CNPq nº 01/2002, foi
criada com recursos de todos os fundos existentes na época, representando todas
as áreas do conhecimento científico tecnológico.
A partir daí, foram lançados editais anualmente, tanto universais quanto com
recursos específicos do CT-Agro. A Figura_7 mostra a distribuição dos editais
por ano.
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0353-gf07.jpg]Fonte:
Elaborada com dados do MCTI.
Figura 7 Distribuição dos Editais e Chamadas Públicas do CT-Agro por Ano
Pode parecer estranha essa disparidade entre os anos 2008/2009 e os demais,
mas, se comparada aos dados da Figura_8, que mostra os valores arrecadados e
pagos pelo CT-Agro, o que se pode ver é certo acompanhamento do orçamento com o
número de editais lançados no mesmo período. Além disso, não se pode deixar de
recordar o fato de que os editais são só um tipo de instrumento de fomento do
CT-Agro, representando, assim, somente uma parte das demandas criadas em cada
um dos anos.
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0353-gf08.jpg]Fonte:
Elaborada com dados extraídos do MCTI.
Figura 8 Evolução dos Valores Arrecadados e Pagos pelo CT-Agro (em Milhões de
Reais)
O edital lançado em 2002 não fazia menção alguma à priorização de propostas que
apresentassem ações cooperativas, nem quanto à participação de empresas, nem
quanto à cooperação entre instituições. Em ambos os editais de 2003, essa
situação se repete: nenhuma referência é feita à priorização de projetos que
contemplem a cooperação de empresas ou de outras instituições.
A partir de 2004, essa condição se altera. O primeiro edital lançado nesse ano
(Edital Universal CNPq 19/2004) passa a priorizar ações que apresentem
cooperação universidade/empresa, mostrando que essa agência de fomento começa a
dar importância a propostas que incluam a empresa em pesquisa e
desenvolvimento.
Esperava-se que, a partir de 2004, se tivesse ressaltado a importância de
projetos cooperativos e os editais passassem a indicar essa priorização em seus
documentos. Dos 33 editais, 14 indicam que a participação de empresas no
projeto é critério positivo para o julgamento da proposta, enquanto 13 editais
indicam a cooperação multi-institucional como pontos positivos nas propostas
submetidas. Na Figura_9, apresenta-se a distribuição dos projetos, por
indicação da priorização de propostas, que contemplem cooperação com empresas
ou instituições.
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0353-gf09.jpg]Fonte:
Elaborada com dados extraídos do MCTI.
Figura 9 Distribuição dos Projetos, por Indicação da Priorização de Propostas,
que Contemplem Cooperação com Empresas ou Instituições (em Porcentagem)
O que se analisa, a partir da Figura_9, é que menos da metade (42%) dos editais
se preocupa em priorizar propostas que incluam empresas em seus projetos. Isso
mostra que, embora um dos principais objetivos dos Fundos Setoriais seja a
inclusão do setor empresarial no processo inovativo para a consolidação de um
modelo sistêmico, as agências de fomento não têm se preocupado em priorizar em
seus editais projetos que contemplem a coparticipação de empresas.
Indo mais além, somente 39% dos editais (Figura_9) contemplam prioritariamente
projetos que possuam composição de parcerias entre instituições. Mais uma vez,
isso vai contra o modelo sistêmico que deu embasamento à criação dos Fundos
Setoriais, uma vez que, para a sua efetividade, é essencial que haja a
interação de agentes e instituições distintas trabalhando em rede.
Ainda conforme a Figura_9, o que se apresenta é que 43% dos editais não chamam
a atenção para a participação de empresas, tampouco para as parcerias multi-
institucionais, ignorando cooperações e sistemas de qualquer modalidade.
Em conclusão, o que se pode observar é que, apesar de a política de Fundos
Setoriais ter sido fundamentada no modelo sistêmico de inovação, em que há
diversos atores trabalhando em rede e a presença do setor empresarial é vital,
e o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação afirmar a preferência por
projetos que contem com a participação de empresas (MCTI,_2011), essa
prioridade ainda não é realidade nos editais lançados pelo CNPq. Isso mostra
que, por parte da oferta de recursos para ciência e tecnologia (tendo como foco
o CT-Agro), ainda não há preocupação concreta em se direcionar o financiamento
a projetos que tenham caráter sistêmico, seja priorizando a cooperação
institucional, seja incluindo a empresa no processo inovativo.
4.2. Análise dos projetos do CT-Agro
O CT-Agro teve sua primeira demanda lançada em 2002, quando foi criado o Fundo.
Desde então, foram viabilizadas diversas iniciativas de fomento. A Tabela_1
mostra como se distribuíram os projetos aprovados e seus recursos para cada uma
das demandas entre as principais modalidades de fomento de 2002 a outubro de
2010.
Tabela 1 Número de Projetos e Recursos Aprovados por Tipo de Demanda
Tipo de Demanda Número de Projetos% Recursos %
Total 1.427 100,0 227.128.673 100,0
Cartas-Convite 2 0,1 2.765.295,2 1,0
Encomendas 60 4,2 98.985.247,9 44,0
Editais/Chamadas Públicas 1.365 95,7 125.378.129,6 55,0
Fonte: Elaborada com dados extraídos do MCTI.
Assim como os demais fundos, são variados os tipos de demanda utilizados pelo
CT-Agro. O mecanismo de fomento mais popular é o edital, também nomeado de
chamada pública. Esse mecanismo, que pressupõe a competição e a seleção das
melhores propostas sobre o tema, foi a forma de fomento mais frequente,
representando mais de 95% dos projetos. Embora, em número de projetos, o edital
seja dominante, em recursos aplicados essa realidade não é a mesma. O orçamento
aprovado para esse tipo de demanda representou somente 55% do total. Então,
esses projetos receberam, em média, em torno de 92 mil reais.
O edital pode, ainda, ser classificado de duas maneiras: Demanda Induzida e
Demanda Espontânea. O Edital de Demanda Induzida é aquele que possui um
objetivo específico, atendendo a um tema exclusivo, que foi definido por metas
e prioridades elaboradas pelo Comitê Gestor. Já no Edital de Demanda
Espontânea, o apoio é dado sem direcionamento a um tema ou objetivo específico,
sendo os pesquisadores livres para elaborar projetos de interesse. Dos editais
lançados, somente um é de Demanda Espontânea, com a aprovação de apenas um
projeto com essa propriedade, sendo os demais editais de Demanda Induzida. Essa
característica do fundo, ou seja, de ter a grande maioria de seus projetos
aprovada por meio de Demandas Específicas, é condizente com o modelo de demanda
pull (dinâmica que vê o mercado como principal determinante da inovação), uma
vez que, a partir de deficiências observadas pelo Comitê Gestor, são
selecionados projetos científicos que as corrijam.
A Encomenda é a forma de fomento que consiste em um mecanismo auxiliar a ser
utilizado em caso de uma demanda específica, seja ela do governo, seja do setor
produtivo. Além disso, essa forma de fomento foi criada para ser utilizada em
caso de urgência, sendo encomendados projetos a institutos, universidades ou
centros de pesquisa especialistas no assunto proposto. A Encomenda aprovou
somente 4,2% dos projetos no período, mas utilizou 44% do orçamento, sendo que
cada projeto recebeu, em média, mais de R$ 1,6 milhão.
A Carta-Convite segue a mesma lógica da Encomenda, sendo que, nesse caso,
algumas instituições são convidadas a propor projetos para uma demanda
específica. Ela foi utilizada somente uma vez, com dois projetos aprovados, no
primeiro ano do fundo (2002). Cada projeto dessa categoria de demanda recebeu,
em média, mais de R$ 1,3 milhão.
Então, pode-se dizer que, em termos financeiros, o CT-Agro está dividido em
duas estratégias. A primeira delas está relacionada a projetos de grande valor
associado, em que instituições de excelência são convidadas a ofertar um
produto com base em uma demanda criada tanto pelo setor público quanto pelo
setor privado. Por outro lado, na segunda estratégia, poucos recursos são
destinados a projetos que cumpram as diretrizes estratégicas propostas pelo
fundo.
A distribuição regional dos recursos é uma informação fundamental para os
Fundos Setoriais, uma vez que um dos objetivos dos fundos era a desconcentração
regional da produção científica e tecnológica no Brasil. Nesse sentido, ficou
especificado que 30% dos recursos dos Fundos Setoriais deveriam ir
obrigatoriamente para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Na Figura_10,
apresenta-se a distribuição dos projetos do CT-Agro em duas grandes regiões:
Norte, Nordeste e Centro-Oeste; Sul e Sudeste.
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0353-gf10.jpg]Fonte:
Elaborada com dados extraídos do MCTI.
Figura 10 Distribuição em Duas Grandes Regiões dos Projetos do CT-Agro
De acordo com essa Figura, constata-se que, em número de projetos, o objetivo
de distribuição regional está sendo atingido, com 45% desses projetos sendo
aplicados por instituições e universidades presentes nas regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste. Por outro lado, cabe destacar, com a Tabela_2, que o
Norte é responsável por somente 5,6% dos projetos, o que coloca essa região em
certo isolamento.
Tabela 2 Número de Projetos e Recursos Aprovados por Região
Região Número de Projetos% Recursos %
Total 1.427 100,0 227.128.672,64 100,0
Centro-Oeste 236 16,5 96.681.900,22 42,6
Nordeste 327 22,9 27.090.148,31 11,9
Norte 80 5,6 8.569.793,05 3,8
Sudeste 504 35,3 68.752.087,57 30,3
Sul 280 19,6 26.034.743,49 11,5
Fonte: Elaborada com dados extraídos do MCTI.
Quando se comparam em termos de recursos tomados (Figura_11), as informações
são ainda mais animadoras. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste são
responsáveis pelo recebimento de 58% dos recursos do CT-Agro, atendendo à
preocupação prevista nos Fundos Setoriais.
[/img/revistas/rausp/v50n3//0080-2107-rausp-50-03-0353-gf11.jpg]Fonte:
Elaborada com dados extraídos do MCTI.
Figura 11 Distribuição dos Recursos do CT-Agro em Duas Grandes Regiões
Do lado oposto, analisando-se as três regiões separadamente (Tabela_2), houve
concentração de recursos no Centro-Oeste, responsável por 42,6% do orçamento.
Isso coloca a região Norte com somente 3,8% dos recursos, recebendo menos de R$
9 milhões em todo o período. Essa situação mostra que, embora esteja sendo
atendida a exigência de utilização de, no mínimo, 30% dos recursos dos fundos,
o Norte permanece como uma região isolada. Essa deficiência de recursos para a
região Norte poderia ser corrigida caso as demandas especificassem recursos
para essa região prioritariamente, como foi feito com as demais regiões.
4.3. Participação das empresas no CT-Agro
A política dos Fundos Setoriais é baseada em um modelo setorial sistêmico de
inovação, em que diversos atores tra balham em rede e o setor produtivo, como
foco da demanda tecnológica, tem papel de destaque. Nesse sentido, o que essa
política propunha era a inclusão da empresa no processo inovativo, a fim de que
ela pudesse se beneficiar dos resultados da inovação, promovendo
competitividade e desenvolvimento.
Assim, a proposta dos fundos é a constituição de redes cooperativas, que
direcionem atividades de pesquisa e desenvolvimento, e a formação de recursos
humanos, que atendam aos interesses das empresas de cada setor.
Por força da legislação brasileira, que não permite o financiamento de P&D
a fundo perdido direto a empresas, as universidades e centros de pesquisa têm
que atuar necessariamente como instituições proponentes dos projetos; as
empresas, quan do presentes em determinados projetos, são necessariamente
ligadas a uma instituição de pesquisa.
Nesse contexto, a fim de verificar a formação de redes cooperativas -
universidades, centros de pesquisa, empresas -, procedeu-se à identificação dos
projetos aprovados pelo CT-Agro que apresentam cooperação de outra(s)
instituição(ões) além da proponente. E, a partir daí, separaram-se os projetos
que possuíam a participação de empresas.
Dessa forma, foram encontrados 70 projetos aprovados com recursos do CT-Agro
que contemplam a cooperação interinstitucional. Entre os órgãos que
participaram dos projetos, há universidades, Embrapa, fundações, institutos de
pesquisa, além de agências do governo, associações e até mesmo ministérios.
Quanto à participação financeira, foram destinados a esses projetos mais de R$
32 milhões.
A Figura_12 apresenta os resultados obtidos na identifica ção de projetos que
contam com a participação de empresas no CT-Agro.
Figura 12 Projetos Aprovados pelo CT-Agro com Participação de Empresas e suas
Respectivas Demandas (de 2002 a Outubro de 2010)
Demanda Projeto
AUXÍLIO PESQUISA 05/2006 Geração e transferência de tecnologia para convivência com a Sigatokanegra
AUXÍLIO PESQUISA 05/2006 Sistema integrado de produção de carne bovina – SAPI BOV
CHAMADA PÚBLICA MCT/FINEP CTAGRO 01/ Sistemas de monitoramento, tomada de decisão, recomendação e intervenções para
2008* aplicação de fertilizantes em taxa variável e avaliação de indicadores
CHAMADA PÚBLICA MCT/FINEP CTAGRO 01/ Desenvolvimento de Inovações Tecnológicas Aplicadas à Mecanização da Cana-deaçúcar
2008* para Automação e Apoio à Decisão em Agricultura de Precisão
CHAMADA PÚBLICA MCT/FINEP CTAGRO 01/ Sistema de controle de adubação em tempo real pela identificação de condições
2008* nutricionais das plantas
CHAMADA PÚBLICA MCT/FINEP CTAGRO 01/ Sistemas para viabilizar monitoramentos e intervenções localizadas
2008*
CHAMADA PÚBLICA MCT/FINEP CTAGRO 01/ Sistemas para viabilizar monitoramentos e intervenções localizadas
2008*
CHAMADA PÚBLICA MCT/FINEP CTAGRO 01/ Sistema de controle automático para ajuste em tempo real dos componentes de
2008* aterramento e compactação de semeadoras diretas
EDITAL CT-AGRO MCT/CNPQ 04/2006 Desenvolvimento sustentável em fruticultura tropical para a agricultura familiar
Variabilidade espacial e temporal da qualidade da água de irrigação e seu impacto
EDITAL CT-AGRO MCT/CNPQ 04/2006 ambiental no sistema familiar de produção de morango do polo produtivo do município
de Turuçu – RS
EDITAL CT-AGRO MCT/CNPQ 04/2006 Unidades demonstrativas de diferentes sistemas de produção do morangueiro em APL
EDITAL CT-AGRO/MCT/MDA/CNPQ 20/2005 Experimentação participativa: apoio e sistematização de transição agroecológica em
São Miguel do Gostoso
EDITAL MCT/CNPQ/CT-AGRO 42/2008 Etiologia, danos, transmissibilidade e controle de patógenos em sementes de
forrageiras tropicais
EDITAL MCT/CNPQ/CT-AGRO/CT-HIDRO/ MAPA- Estudo da viabilidade ambiental de se aplicar lodos agroindustriais nos solos de
SDC-SPAE 44/2008 áreas degradadas pela mineração para posterior reflorestamento com espécies nativas
EDITAL MCT/CNPQ/CT-AGRO/CT-HIDRO/ MAPA- Sustentabilidade e recuperação de pastagens: aspectos técnicos, ambientais e
SDC-SPAE 44/2008 econômicos com transferência de tecnologia e tomada de decisão
EDITAL MCT/MESA/CNPQ/CT-AGRONEGÓCIO 01/ Recursos humanos para o agronegócio brasileiro
2003
EDITAL MCT/MESA/CNPQ/CT-AGRONEGÓCIO 01/ Cultivo integrado camarão-salicornia: redução da emissão e retorno econômico do
2003 efluente de viveiros
EDITAL UNIVERSAL 01/2002 Avaliação clínica e laboratorial de ovelhas com mastite induzida experimentalmente
com Mannheimia (Pasteurella) haemolytica
EDITAL UNIVERSAL MCT/CNPQ 02/2006 Fitossociologia e fenologia de lianas de fragmentos e corredores florestais em
Lavras, MG
ENCOMENDA CA 10/2004 Microbiologia de solos – desenvolvimento de inoculantes para culturas alimentares e
agroindustriais
ENCOMENDA CA 10/2005 Implantação do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Agricultura Orgânica do
Distrito Federal
ENCOMENDA CG / CT-AGRO 2005* Plataforma tecnológica para o manejo integrado da ferrugem asiática da soja
EDITAL UNIVERSAL MCT/CNPq - 14/2008 Projeto Ethopélagos – estudo do comportamento e uso do habitat por grandes peixes
pelágicos no Oceano Atlântico Sul Ocidental
ENCOMENDA VERTICAL 2006* Plataforma tecnológica para o manejo integrado da ferrugem asiática da soja – termo
aditivo
Nota: (*) São as demandas lançadas pela FINEP.
Fonte: Elaborada com dados extraídos do MCTI.
Dos 1.427 projetos aprovados com recursos do CT-Agro, somente 24 contam com a
participação de empresas em suas propostas, representando menos do que 2% do
total de projetos. Essa fraca participação do setor empresarial na composição
do fundo leva a crer que os esforços para a consolidação de um sistema setorial
de inovação estão longe de ser satisfatórios.
O grau de participação das empresas nos Fundos Setoriais também é medido pelo
volume de recursos aplicados nos projetos. Nessa direção, a Tabela_3 apresenta
os projetos aprovados que possuem participação da empresa e seus respectivos
valores contratados. Essa informação é relevante, uma vez que a participação da
empresa nos fundos se dá por meio de contrapartida financeira ou técnica (desde
que a última seja mensurável), dando aos projetos maior margem de
financiamento.
Tabela 3 Valor Contratado pelos Projetos Aprovados com Participação de Empresas
no CT-Agro (de 2002 a Outubro de 2010)
Projeto Valor
Contratado R$
Total 15.846.108,40
Geração e transferência de tecnologia para convivência com a Sigatokanegra 878.691,28
Sistema integrado de produção de carne bovina – SAPI BOV 406.828,60
Sistemas de monitoramento, tomada de decisão, recomendação e intervenções para 1.908.469,44
aplicação de fertilizantes em taxa variável e avaliação de indicadores
Desenvolvimento de inovações tecnológicas aplicadas à mecanização da cana-de-a 1.379.793,24
para automação e apoio à decisão em agricultura de precisão
Sistema de controle de adubação em tempo real pela identificação de condições 885.788,04
nutricionais das plantas
Sistemas para viabilizar monitoramentos e intervenções localizadas. 1.014.154,00
Sistemas para viabilizar monitoramentos e intervenções localizadas. 2.299.988,64
Sistema de controle automático para ajuste em tempo real dos componentes de 1.678.761,18
aterramento e compactação de semeadoras diretas
Desenvolvimento sustentável em fruticultura tropical para a agricultura familiar 121.393,00
Variabilidade espacial e temporal da qualidade da água de irrigação e seu impacto
ambiental no sistema familiar de produção de morango do polo produtivo do municíp 134.186,09
de Turuçu - RS
Unidades demonstrativas de diferentes sistemas de produção do morangueiro em APL 112.613,90
Experimentação participativa: apoio e sistematização de transição agroecológi 106.626,52
São Miguel do Gostoso
Etiologia, danos, transmissibilidade e controle de patógenos em sementes de 204.616,10
forrageiras tropicais
Estudo da viabilidade ambiental de se aplicar lodos agroindustriais nos solos de 103.683,76
áreas degradadas pela mineração para posterior reflorestamento com espécies nativas
Sustentabilidade e recuperação de pastagens: aspectos técnicos, ambientais e 154.156,26
econômicos com transferência de tecnologia e tomada de decisão
Recursos humanos para o agronegócio brasileiro 126.362,09
Cultivo integrado camarão-salicornia: redução da emissão e retorno econômico do 65.922,60
efluente de viveiros
Avaliação clínica e laboratorial de ovelhas com mastite induzida experimentalment 19.800,00
com Mannheimia (Pasteurella) haemolytica
Fitossociologia e fenologia de lianas de fragmentos e corredores florestais em 10.568,10
Lavras, MG
Microbiologia de solos – desenvolvimento de inoculantes para culturas alimentares 491.011,64
agroindustriais
Implantação do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Agricultura Orgânica do 600.000,00
Distrito Federal
Plataforma tecnológica para o manejo integrado da ferrugem asiática da soja 1.500.000,00
Projeto Ethopélagos – estudo do comportamento e uso do habitat por grandes peixes 143.260,00
pelágicos no Oceano Atlântico Sul Ocidental
Plataforma tecnológica para o manejo integrado da ferrugem asiática da soja – te 1.499.433,92
aditivo
Fonte: Elaborada com dados extraídos do MCTI.
Dessa forma, quanto ao grau de recursos contratados, os projetos do CT-Agro
seguem o mesmo caminho. Dos R$ 227.128.673 contratados com recursos do CT-Agro,
R$ 15.846.108 foram destinados a projetos que apresentam a empresa como
participante, representando menos do que 7% do total. Essa tímida participação
da empresa, também quanto aos recursos financeiros, corrobora o fato de que o
setor produtivo ainda não tem o seu lugar nos projetos de ciência e tecnologia.
Diante dos resultados apresentados, pode-se inferir que, embora a criação dos
Fundos Setoriais tenha buscado implementar um modelo setorial sistêmico de
inovação, dando foco principal ao setor produtivo, isso não tem ocorrido. A
inclusão da empresa no modelo inovativo tem sido dificultada por diversos
motivos. O primeiro deles é o fato de a legislação brasileira não permitir que
recursos de P&D sejam liberados a fundo perdido diretamente a empresas,
obrigando os recursos sempre a passar por universidades e centros de pesquisa.
Ainda quanto à legislação brasileira, conforme colocado por alguns gestores
contatados, outras políticas de estimulo a CT&I têm atrapalhado a inclusão
do setor privado em projetos dos Fundos Setoriais, como seria o caso da Lei do
Bem, que oferece subvenção às empresas.
Um terceiro fato está relacionado a editais e chamadas públicas lançados pelas
agências de fomento. Somente 42% dessas demandas, como foi destacado,
preocupam-se em dar prioridade a propostas que incluam a empresa em seus
projetos, negligenciando o setor produtivo nos demais casos.
Outro fato pertinente é que apenas três projetos aprovados estão classificados
em programas do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI)
relacionados às empresas, indicando uma preocupação muito pequena quanto a
temas que incluam a empresa por parte das instituições proponentes. Por fim,
está o fato de que menos de 2% dos projetos do CT-Agro contam com a cooperação
de empresas, advertindo para o fato de que a presença do setor produtivo em
seus projetos é, ainda, uma exceção.
Nessa direção, conclui-se que a política de promoção de CT&I no Brasil
continua seguindo um modelo linear, uma vez que os recursos dos fundos são
direcionados a instituições de pesquisa, principalmente a universidades e
centros de pesquisa de excelência no setor, sendo responsabilidade delas a
produção da inovação. A inclusão do setor produtivo está muito aquém do que se
espera para que haja um efetivo envolvimento desse setor, a fim de caracterizar
o modelo como sistêmico. Por outro lado, a maioria dos projetos aprovados segue
um objeto de pesquisa priorizado pelo Comitê Gestor do Fundo (composto, também,
por integrantes do setor produtivo), configurando o modelo demand pull,
dinâmica que vê o mercado como principal determinante da inovação tecnológica.
Assim, pode-se classificar o modelo científico tecnológico brasileiro como
linear impulsionado pela demanda.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, teve-se como objetivo investigar se os Fundos Setoriais
redefiniram o modelo de promoção de ciência, tecnologia e inovação como
proposto originalmente pela política, passando de uma lógica ofertista-linear
para uma lógica sistêmica. Além disso, buscou-se classificar essa política
dentro dos principais modelos de inovação, caso os Fundos Setoriais não
configurassem o modelo sistêmico proposto.
Pode-se concluir que, embora a criação dos Fundos Setoriais tenha buscado
implementar um modelo setorial sistêmico de inovação, dando papel principal ao
setor produtivo, isso não tem ocorrido. Esse foco central dado à inclusão do
setor empresarial ainda está limitado à sua participação nos comitês gestores
dos fundos, cuja responsabilidade está nas decisões de aplicação dos recursos e
temas de interesse do setor.
Portanto, a política de promoção de CT&I no Brasil continua seguindo um
modelo linear, uma vez que os recursos dos fundos são direcionados a
instituições de pesquisa, principalmente a universidades e centros de pesquisa
de excelência no setor, sendo responsabilidade delas a produção da inovação.
Por outro lado, como a maioria dos projetos aprovados segue um objeto de
pesquisa priorizado por seu comitê gestor, eles seguem a dinâmica inovativa
priorizada pela demanda. Em outras palavras, os Fundos Setoriais mantêm o
modelo linear de inovação, mas, agora, induzido pela demanda.
Há um ponto, em especial, que se deve ressaltar aqui. O fato de o setor
empresarial não ter sido incluído na produção de ci ência e tecnologia no País
não quer dizer, necessariamente, que os Fundos Setoriais falharam em termos de
política de CT&I. Os Fundos Setoriais são, por si só, uma política
inovadora para o contexto brasileiro, uma vez que garantiram a constância de
financiamento para P&D, com base em uma legislação que desvinculava seus
recursos do orçamento restrito da época em que foram criados.
Além disso, os fundos passaram a focalizar os setores individualmente, dando
ênfase às particularidades de cada um, assim como pregado pelo modelo setorial.
Mais ainda, os fundos procuraram descentralizar os recursos de C&T para
regiões menos privilegiadas, como Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o que, como
consta em dados do CT-Agro, tem sido alcançado ao longo dos anos.
Os Fundos Setoriais são, então, uma política sem precedentes para a pesquisa
científica e tecnológica no Brasil, mesmo que mantendo um modelo linear de
inovação. Cabe agora estudar os resultados dessa política, analisando se os
produtos gerados por esses bilhões de reais investidos em projetos de CT&I
têm retornado à sociedade em termos de desenvolvimento.
Uma limitação deste trabalho foi o fato de se estudar somente um dos 14 Fundos
Setoriais Verticais; entretanto, espera-se que ele seja representativo das
informações constantes nos demais fundos. O que se recomenda, então, é que este
trabalho seja replicado para os demais fundos, a fim de corroborar as
conclusões aqui encontradas.