A miragem da miscigenação
As temáticas em torno da miscigenação e da mestiçagem deram tons às
perspectivas comparadas dos estudos sobre escravidão e relações raciais
especialmente Brasil e EUA desde os anos 1940 com o projeto da Unesco e as
expectativas intelectuais da época. Ontem e hoje, em razão de vários
interesses, tem havido inúmeras reconstruções dessas (e outras) narrativas
temáticas, por meio das quais se argumenta a respeito de um suposto passado
visando a projetos de políticas públicas e esquemas sociológicos1. A sociedade
luso-brasileira na maioria das vezes foi apresentada como a única com
miscigenação originada do paternalismo, clima e aptidões essenciais ,
desconhecendo-se as lógicas para o Caribe e para outras áreas coloniais
ibéricas.
Mas o que o tema da miscigenação evoca? Muita coisa. E não se trata de
enfatizar ou negar misturas. Sociais, políticas e culturais. E também étnicas.
A questão é indagar o quanto essa temática como fator estrutural tem
validade (num pressuposto de exclusividade) para se pensar sociedades do
passado e aquelas do presente. Mais do que evidências, dados e mesmo
argumentação histórica e sociológica, a miscigenação tem se tornado uma
miragem, imagens que provocaram narrativas de viajantes, observadores
estrangeiros, literatos e intelectuais desde o final do século XVIII;
produziram classificações sociais, passando por ideologias que atravessariam o
pós-colonial e inventariam a nação. No Brasil, o passado e o presente
escravidão e relações raciais funcionariam como fios condutores de uma idéia
migratória, justapondo argumentos e interesses, em diferentes contextos,
escolhas e personagens, transformando miscigenação em algo naturalizado, real e
ideal. Dizer que somos misturados ou houve miscigenação é tão óbvio como
afirmar a nossa humanidade. Do que falamos e por que falamos? Ou de quem e com
quem dialogamos, afinal? Do passado escravista? Da nação romantizada no
alvorecer do século XX? Das narrativas que criaram a "nossa" identidade e
cultura? Das políticas públicas do ontem e do hoje? Debates se colocam.
Neste ensaio propomos uma reflexão dialogando com um artigo recente de Rafael
Marquese, "A dinâmica da escravidão no Brasil"2. Argumentamos em torno da
experiência e do processo ou das experiências e dos processos da escravidão
no (do) Brasil. A idéia não é insistir em polêmicas, eloqüentes e aparentemente
bem intencionadas, de folhetins ou dar autoridade aos debates contemporâneos
que margeiam abordagens sobre o passado histórico. Ainda que tornando
explícitas as críticas, não propomos modelos para pensar a "dinâmica" da
sociedade escravista, embora reconheçamos a sedução que eles provocam.
Sugerimos apenas contrapontos.
Deve ser bem recebido o artigo de Marquese sobre a "dinâmica da escravidão no
Brasil". Com tratamento típico de uma renovada história atlântica, misturou
teorias e reflexões. Parte do artigo (pelo menos as questões centrais) evocou
debates muitas vezes indiretos e silenciados que mobilizaram intelectuais
como Donald Pierson, Frank Tannenbaum, Octávio Ianni, Charles Boxer, Ciro
Cardoso, Marvin Harris, Florestan Fernandes, Charles Wagley, entre outros.
Surgem novos argumentos para uma idéia antiga: como entender a natureza das
sociedades escravistas? Qual a razão da reprodução social interna tão duradoura
em alguns casos? Quais os regimes sócio-raciais constituídos? Essas foram
algumas das indagações que permearam várias abordagens comparadas entre Brasil
e Estados Unidos, embora o Caribe e as sociedades escravistas como as da
Colômbia e Venezuela tenham ficado estranhamente ausentes. Marquese, porém,
escolheu caminhos próprios. Tentou explicar a não-reprodução de grandes
quilombos (comunidades de escravos fugidos) coloniais como Palmares e o
surgimento de "uma outra forma de resistência escrava coletiva", no caso as
revoltas, levando em conta a "configuração que o escravismo brasileiro adquiriu
a partir do final do século XVIII". Os eixos da sua argumentação são as
"relações entre o tráfico negreiro transatlântico, alforrias e a criação de
oportunidades para a resistência escrava coletiva (como a formação de quilombos
e revoltas em larga escala), do final do século XVII à primeira metade do
século XIX". Uma história escrita em grande escala, a partir da qual Marquese
pretendeu ver mudanças na "configuração de um determinado tipo de sistema
escravista". O que denominou "escravismo de plantation" no Brasil setecentista
ao contrário das áreas caribenhas, por exemplo teria se transformado ao
longo dos séculos XVIII e XIX. Com base em algumas "proposições teóricas", que
consideravam "escravidão e a manumissão como partes de um mesmo processo
institucional", sugeriu "um esquema interpretativo para o sentido sistêmico do
escravismo brasileiro na longa duração, sem dissociar a condição escrava da
condição liberta e o tráfico negreiro das alforrias".
PALMARES E PALMARES: UM TEMA REVISITADO
Acompanhando Marquese, estabelecemos, de início, um diálogo com o que denominou
"enigma", ao indagar "por que não houve outros Palmares na história do
Brasil?". Propomos não antes ou depois, mas ao mesmo tempo abordagens que
possam indagar como e por que se constituíram os mocambos de Palmares e quais
foram as narrativas sobre esses mocambos. Tal caminho nos coloca diante tanto
da dimensão histórica como da análise historiográfica sobre "a dinâmica da
escravidão" que se quis desenhar. São sugestivas abordagens que indicam "abalos
na consciência colonial" nos textos dos letrados entre os séculos XVI e XVIII,
destacando como a existência de comunidades de fugitivos e de revolta escrava
endêmica foi também fator (não único ou determinante) para uma inflexão da
ideologia escravista e das políticas de controle social. Isso não só a respeito
da utilização generalizada do capitão-do-mato, mas também das expectativas com
relação à mão-de-obra indígena e ao tráfico negreiro. As avaliações coevas de
Antônio Vieira, negando qualquer possibilidade de acordos com os "palmaristas"
ou a catequização deles, revelam expectativas senhoriais e coloniais. Também na
história intelectual da historiografia de Palmares surgem outras indagações.
Primeiro, por que Palmares foi excluído da historiografia pós-colonial que
inventou ao formular identidades e biografias de uma dada Nação a idéia de
"nativismo"? Segundo, uma trilha oposta foi tomada pelas abordagens marxistas
de Edison Carneiro, Clovis Moura e Décio Freitas entre os anos de 1946 a 1982
, que elegeriam Palmares como símbolo exclusivo de epopéia e heroísmo
anticolonial. O que estaria sendo esquecido, silenciado ou enfatizado nas
evocações sobre Palmares na literatura histórica do final do século XIX e ao
longo do século XX? Por perspectivas diversas, esvaziou-se o evento de Palmares
para o entendimento de uma determinada "dinâmica da escravidão" e suas relações
com políticas coloniais do império português. Como numa avaliação
desqualificadora, uma coisa seria Palmares, Zumbi, seu heroísmo e mitos étnicos
dos movimentos sociais; e outra, a escravidão, ideologias e políticas de
domínio. Esta pode ser uma equação complicada. O que Palmares nos ensina sobre
as lógicas coloniais dos séculos XVI, XVII e XVIII? Entre silêncios e
esquecimentos, como apareceu em fontes coevas? Visões românticas sobre
durabilidade, heroísmo e mimetismos africanos pouco ajudam.3
Retomemos algumas considerações de um trabalho recente, quando revisitamos
Palmares numa perspectiva atlântica. Na América Portuguesa, há informações de
mocambos desde o último quartel do século XVI. Na Bahia, desde 1575 já se
registram fugas coletivas em todo o recôncavo. Os mocambos de Palmares não
surgiram no século XVII, mas sim nos derradeiros anos do século XVI. Em abril
de 1597, o provincial jesuíta Pero Rodrigues relatava ao padre João Álvares
sobre questões da colonização e o problema da militarização. Dizia ter os
"portugueses moradores nestas partes, três gêneros de inimigos por mar e por
terra". Indicava: "os primeiros inimigos são os negros de Guiné levantados que
estão em algumas serras, donde vêm a fazer [assaltos] e dar algum trabalho, e
pode vir tempo em que se atrevam a cometer e destruir as fazendas, como fazem
seus parentes na ilha de São Tomé". Em segundo, eram os "gentios por extremo
bárbaros" e "os terceiros inimigos são os franceses". Além da ênfase, as
referências destacam a dimensão atlântica do fenômeno das comunidades de
escravos fugidos. No século XVI, um navio negreiro proveniente de Angola
naufragou próximo da Ilha de São Tomé, e os sobreviventes africanos e seus
remanescentes constituíram povoados denominados "angolares" e já consideráveis
em 1572.4
É fundamental redimensionar o que representou Palmares para os holandeses
durante a ocupação de Pernambuco. Sabemos que enviaram várias expedições para a
repressão dos quilombos. E que também a economia açucareira não foi totalmente
desorganizada muitos fazendeiros permaneceram na região (alguns se refugiaram
na Bahia e depois retornaram), enquanto outros ampliaram seus negócios nas
plantações e engenhos abandonados e que o tráfico negreiro continuou, em
parte clandestino e com apoio de traficantes luso-africanos. Não só isso, as
narrativas sobre o crescimento de Palmares nas décadas da ocupação devem ser
matizadas. Há evidências de fugas endêmicas e de pequenos grupos de quilombolas
nas franjas dos engenhos5. Por variados motivos, uma certa memória histórica
agigantou Palmares. Todos os escravos fugitivos rumavam para lá? A existência
de mocambos mais populosos, suas conexões com a sociedade e o simbolismo que o
envolvia atuavam como imagens de insurgência escrava generalizada, talvez
amedrontando holandeses e portugueses. São indagações à espera de cotejo com as
fontes e mais investigações, destacadamente holandesas. Na Jamaica, no século
XVII, quilombos surgiram e cresceram muitas vezes em oposição uns aos outros
durante as lutas coloniais entre espanhóis e ingleses. Não foram raros os
episódios, em torno deles, em período de guerras, invasões e disputas
intercoloniais. Para a América Portuguesa temos exemplos de quilombos nas
fronteiras da capitania do Grão-Pará com a Guiana Francesa na segunda metade do
século XVIII, e o temor de migração, alianças, movimentação e circulação de
"idéias revolucionárias".6
Imagens de vitórias e fracassos das lutas quilombolas têm explicações mais
complexas, constituídas também por simbologias de "histórias nacionais" e
reinvenções étnicas. Mesmo os tratados de paz impostos aos quilombolas da
Jamaica e Suriname não foram incomuns. Aconteceram no México e Panamá, embora
existam poucos estudos comparativos sobre as formas de negociação desses
tratados junto aos agentes coloniais. Um dos primeiros teria ocorrido no
México, em Vera Cruz, assinado em 1609, pelo líder Nyanga. Há indícios de
tentativas de paz com fugitivos do Panamá, em 1570 e antes disso em Cartagena,
em 1540, mas só efetivada em 1693. Na Martinica, em 1665, o líder quilombola
Fabulé propunha paz, com tentativas de reconhecimento e liberdade7. Na América
Portuguesa, capitania da Bahia, em 1640 portanto bem antes dos tratados de
paz com Ganga Zumba na década de 1670 , autoridades da Câmara de Salvador
chegaram a discutir a possibilidade de fazer um acordo com os mocambos baianos
com o envio de um jesuíta que falasse a língua deles. Deveriam se render e
serem engajados em tropas militares. Mas, por pressão de fazendeiros locais
temerosos de um mau exemplo para outros mocambos e a escravaria , esta
possibilidade de tratado, ao que se sabe, não foi levada adiante.
Sobre os tratados de paz em Palmares e suas possibilidades, há semelhanças com
os casos da Jamaica e Suriname em termos históricos, especialmente expectativas
sobre a estrutura agrária, posto haver áreas valorizadas e relações com a
autonomia de entrepostos circunvizinhos. Palmares também estava conectado com
vários setores da sociedade pernambucana. De um lado, a sua extinção era
fundamental real e simbolicamente para a elite local que se revezou no
poder da capitania na segunda metade do século XVII. Exterminá-lo se confundia
com o reconhecimento da lealdade lusitana e denodo colonial de alguns
governadores e homens da política que tinham atuado em outros postos do império
português. Por isso havia pressões junto ao Conselho Ultramarino. Não poucos
senhores reclamaram da continuada extorsão de recursos solicitados nas
expedições antimocambos. Vários outros setores pequenos lavradores e vilas de
indígenas aldeados podiam estar articulados a Palmares, localizados em áreas
de fronteiras econômicas em expansão. Havia ainda o interesse dos paulistas por
terra como sugere Alencastro para expandir a agricultura e atrair mão-de-
obra indígena apresada. Não é por acaso que parte substantiva da documentação
sobre Palmares é dos anos 1670 a 1690 e enviada ao Conselho Ultramarino,
tratando de negociações dos paulistas.8
Nos tratados de Palmares falava-se que os palmaristas poderiam continuar
mantendo trocas mercantis com comerciantes, vendeiros e lavradores da região;
as terras que os palmaristas iriam viver seriam agora demarcadas pela Coroa; os
cativos que continuassem fugindo para Palmares deveriam ser imediatamente
devolvidos para as autoridades coloniais e seus respectivos proprietários; e
passariam à condição de vassalos do rei. Nada muito diferente guardadas as
especificidades do que aconteceu na Jamaica. Como entender tal processo como
"derrota" sem refletir a respeito das dimensões desses tratados, por exemplo,
para as respectivas sociedades coloniais? E não dá para falar de "vitórias"
como sugere Marquese ao comparar com Palmares. Na Jamaica, quilombolas
assinaram um tratado, em 1738, com os ingleses após décadas de batalhas nas
florestas. Foram então reconhecidos a liberdade, a autonomia, a posse da terra
e o direito de caçar e cultivar9. Os tratados de paz da Jamaica e Suriname
principalmente os de Palmares também devem ser analisados do ponto de vista
das lógicas euro-africanas. Políticas coloniais andavam às voltas com tráfico,
alianças, conflitos, embaixadas, acordos, tratados e guerras com sociedades
africanas do Ndongo, Matamba, Cassange, além do Reino do Congo desde o século
XV. Há ainda muito que se analisar sobre as dimensões dos tratados de Ganga-
Zumba, em 1678, e ainda mais sobre a onda de repressão entre 1691 e 1697,
especialmente sobre a participação dos paulistas, disputas entre câmaras locais
e autoridades coloniais. Havia valorização das terras onde estava Palmares,
destacadamente áreas de fronteiras econômicas abertas. Muitas sesmarias foram
doadas nos anos 1670 e 1680. Mesmo antes, em 1660, retornando de um exílio
consentido quando da ocupação holandesa , "moradores e povoadores da
capitania da Bahia" solicitavam cartas de sesmarias para "povoar as terras
devolutas, e sertão desta Capitania de Pernambuco chegados e vizinhos dos
rebeldes dos mocambos e Palmares". Foram várias as terras demarcadas como áreas
"confinando com o mocambo e Palmares dos negros fugidos com todas suas
ribeiras, lagoas e matos". A ocupação da região sob controle colonial estava
contida pela existência de Palmares. Não poucos sesmeiros desistiram
inicialmente de montar seus negócios; e posteriormente, em 1694, passaram a
reivindicar doações anteriores. A expansão da fronteira agrária estaria agora
garantida com as informações a respeito da erradicação dos palmaristas e o
estabelecimento de aldeamentos indígenas realizados pela Coroa. Além disso,
Palmares como formação de inúmeros quilombos não é "derrotado" em 1695 com
o assassinato de Zumbi e o grande ataque à serra da Barriga. Há evidências de
movimentação de quilombolas até 1742 na capitania de Pernambuco, aquartelamento
de vilas de índios aldeados na região, lideranças palmaristas de Mouza e
Camoanga, e migração dos remanescentes para as capitanias da Paraíba e Bahia,
fugindo da repressão e da fronteira indígena das áreas do Rio Grande do Norte.
Sobre Minas Gerais no século XVIII, mais do que procurar grandes mocambos e
projetos abortados de outros Palmares, temos que refletir sobre os significados
coloniais da endemia das comunidades de fugitivos. Primeiro, conhecer a
localização de quilombos tanto próximos às zonas de produção aurífera como em
fronteiras e "sertões" abertos. Temos ali um grande fluxo de tráfico negreiro,
áreas de enriquecimento e empobrecimento meteóricos e tensões sociais
explosivas. Os argumentos citados de Ramos e Vallejos sobre quilombos como
"válvula de escape" não consideram a disposição sociodemográfica da escravidão
em Minas Gerais e a simbiótica e profundamente subversiva proximidade dos
quilombolas com os setores envolventes. Não amortecia as tensões, mas tornavam
as mesmas endêmicas e constantemente reconfiguradas. Temores de revoltas
escravas, também de setores livres, coexistiram com contrabando, corrupção
fiscal generalizada e mudanças nas políticas de domínio metropolitano.
Paupérrima, a população crescente de libertos dominava os cenários, sob forte
controle e repressão, de lavras esgotadas, das roças de alimentos, das áreas
urbanas em caos e do banditismo social. Nas Minas Gerais, autoridades coloniais
olharam sempre os libertos e a população negra e mestiça livre como solidários
aos quilombolas e dos planos de revoltas. Para explicar a mudança na
perspectiva do protesto escravo coletivo dos quilombos no caso daqueles mais
populosos , no século XVIII, não dá apenas para recorrer às explicações em
torno da "institucionalização da figura do capitão-do-mato e a definição de
quilombo como qualquer ajuntamento composto por alguns poucos escravos
fugitivos".10
Comunidades quilombolas seguindo lógicas próprias estavam ao mesmo tempo
fragmentadas, articuladas e avançando fronteiras, muitas das quais protegidas
por barreiras de ocupação indígena. O sucesso contra Palmares também pode ser
explicado pela mudança de estratégia na formação de alguns quilombos coloniais.
Quando da onda de destruição em 1689-1694, há notícias de migração de vários
grupos de quilombolas para as franjas das capitanias da Paraíba e Bahia. Mesmo
em Pernambuco, na década de 1830, os camponeses negros papa-méis da Cabanada
estavam estacionados nas serras onde habitaram os palmaristas coloniais. Em que
medida a dispersão em pequenos grupos não fez parte de estratégias empregadas
pelos quilombolas a partir do século XVIII? Para Minas Gerais, endemia,
migração permanente, fronteiras abertas e alianças com grupos indígenas devem
ser redimensionadas. As expectativas de que os quilombos mineiros deveriam
crescer até Palmares ou ter ganhado aspectos semelhantes de oposição
anticolonial estão mais na cabeça dos historiadores do que estiveram para
quilombolas e setores envolventes da economia mineira. Mais úteis seriam as
comparações entre os quilombolas de Minas Gerais e os das áreas mineradoras da
Colômbia, por exemplo.11
SOCIEDADES AFRICANAS, TRÁFICOS E ESCRAVIDÕES
Também precisamos saber mais sobre a história da África e seus intelectuais. E,
no Brasil, isso é um desafio acadêmico atual que deve dispensar apenas boa
vontade em reproduzir generalizações de manuais ou improvisos, ainda que bem
intencionados. Marquese se vale de uma proposição de Igor Kopytoff, antropólogo
com pesquisa de campo na Nigéria, que afirmou: "a escravidão não deve ser
definida como um status, mas sim como um processo de transformação de status
que pode prolongar-se uma vida inteira e inclusive estender-se para as gerações
seguintes". Tal argumento se insere numa discussão africanista sobre o caráter
da escravidão na África, não no Brasil. Resumidamente, essa historiografia se
divide em dois eixos, remanescentes de debates da década de 1960, que opunham
Walter Rodney a J. Fage12. O primeiro enfatizou o caráter transformador das
forças externas representadas pelo comércio europeu a partir do século XV.
Seria o comércio externo tráfico atlântico que teria transformado a
escravidão africana numa instituição de tipo comercial. O corolário foi uma
situação de guerra perene, estimulada pela absorção de produtos trazidos do
Atlântico, e sem reprodução biológica de populações escravizadas. Apesar de
variações e nuanças, as principais proposições de Rodney acabaram refletidas
nos diferentes estudos de Claude Meillassoux, Paul Lovejoy e Ralph Austen13. De
outro lado, surgiam historiadores que viam a escravidão como uma instituição
que precedeu os contatos com europeus, sendo intrínseca à vida social na
África. Nesta perspectiva, a escravidão seria caracterizada como etapa
transitória no processo de incorporação de indivíduos necessariamente
estrangeiros desprovidos de laços de parentesco numa determinada
comunidade14. Situada na segunda tradição referida acima, a análise de Kopytoff
encontra-se, portanto, mais preocupada com a incorporação de escravos dentro de
comunidades africanas do que com o fenômeno da manumissão em si15. Para
Kopytoff, a associação entre escravidão e propriedade comum nos regimes
escravistas das Américas não se aplica à África. Nesta, escravos não eram
propriedades, mas sim ocupavam uma condição liminar fadada a desaparecer.
Ademais, a relação entre escravidão e estruturas de parentesco africanas não
era de oposição. Menos uma instituição econômica do que um mecanismo para
arregimentar clientes, a escravidão podia ter efeitos decisivos no âmbito
político. Na condição de "estrangeiros", cativos serviam como instrumentos das
disputas locais, alterando estruturas de poder tradicionais. Aspectos como
conflitos sociais entre senhores e escravos, assim como a relação entre mercado
e transformações da escravidão, estão ausentes da análise16. De qualquer forma,
as duas tradições historiográficas sucumbiram na tentativa de generalizar para
toda a África modelos pautados em exemplos derivados de situações locais. Além
disso, se comparados com estudos sobre escravidão nas Américas, torna-se
evidente que a historiografia sobre escravidão no continente africano tem sido
vítima de dois problemas. Primeiro, a falta de fontes escritas, que são
relativamente abundantes para regiões sob influência portuguesa, como Congo e,
principalmente, Angola, mas dramaticamente escassas para outras regiões
africanas. O quadro em relação às fontes reflete a interação costeira dos
europeus com os africanos e só muda quando se iniciam as viagens de exploração
científica, na segunda metade do século XIX. O segundo problema deriva da
talvez excessiva preocupação dos especialistas com causas e contornos
institucionais do cativeiro, em detrimento de temas mais "visitados" pela
historiografia sobre escravidão nas Américas, tais como cotidiano, família e
comunidades.17
Essas considerações sobre os estudos africanistas reforçam argumentos ao nosso
desacordo com Marquese no tratamento da história africana e na avaliação que
faz sobre o papel do tráfico na "nova configuração do escravismo", como
variável quase a-histórica, exógena em termos demográficos e econômicos.
Freqüentemente nos estudos sobre a escravidão no Brasil, as sociedades
africanas, suas dimensões e significados do comércio (não só de mão-de-obra) e
tráfico atlântico têm sido vistos, muitas vezes, como variáveis passivas. As
dimensões atlânticas sul-sul não necessariamente só uma história dos Impérios
, no âmbito de uma história social e política, são raras nas reflexões
disponíveis. Vejamos algumas implicações. Nos 350 anos de tráfico atlântico,
40% dos cativos enviados para as Américas foram embarcados do Congo e Angola. O
Brasil, por outro lado, se constituiu no principal destino do tráfico,
recebendo em torno de 40% dos africanos enviados para as Américas. Ilustrando a
intensidade dos laços angolanos com o Brasil, cerca de dois terços dos
africanos trazidos para cá foram embarcados nos portos do Congo e de Angola.
Palmares foi criado na primeira metade do século XVII, quando os portugueses
sozinhos foram responsáveis por aproximadamente 70% dos escravos trazidos
para as Américas. Mais importante: 85% dos africanos embarcados naquela altura
saíram de portos da África Central.18
Na primeira metade do século XVII, o tráfico angolano era principalmente feito
a partir de Luanda, onde os suprimentos de cativos resultavam de operações
militares de forças "portuguesas" e seus aliados Imbangalas contra os reinos
Mbundu do Ndongo e Matamba. Constitui-se no único período em que houve uma
correlação direta entre militarismo e embarques de escravos em Luanda19. Não
surpreende, portanto, que, apesar de também populações indígenas, Palmares
tenha sido associado aos povos Mbundu. Mas não seria de todo impossível a
presença de africanos da Alta Guiné, bem como de outras regiões, sendo
traficados . Segundo Alencastro, em 1639, a Companhia das Índias Ocidentais
enviou para Pernambuco 2.400 africanos provenientes do Daomé, Benin, delta do
Níger, Calabar e Camarões20. Com a endemia das fugas e mocambos, muitos desses
africanos podem ter parado em Palmares.
Os povos Mbundu, na verdade, não foram os únicos afetados pelo tráfico na
África Central. Embora seja inegável que a maioria dos cativos embarcados por
Luanda fosse Mbundu, povos Kikongo e africanos oriundos do planalto central
angolano foram também embarcados naquela cidade. Isso se torna patente através
da análise das transformações do tráfico e das ligações comerciais entre Luanda
e outras regiões da África Central. No século XVI, o tráfico se concentrou no
norte da África Central, na costa do Loango e do Congo21. No início, os
embarques de cativos foram relativamente centralizados, mas não demorou muito
para que os interesses de negociantes locais baseados em São Tomé e Congo
prevalecessem em detrimento de grupos mercantis metropolitanos e do próprio
Estado português.22 Em parte como resposta à erosão dos interesses
metropolitanos na costa do Congo, a cidade de Luanda foi fundada em 1576. A
fundação de uma cidade "européia" em plena África Central criou um precedente
absolutamente singular, já que, pela primeira vez, europeus exerciam controle
total sobre o comércio costeiro de escravos23. Luanda acabaria se tornando o
porto mais importante do tráfico atlântico, onde mais de 2 milhões de pessoas
foram embarcadas para as Américas principalmente para o Brasil entre os
séculos XVI e XIX. Na primeira metade do século XVII, os embarques cresceram em
razão direta das operações militares que consolidaram as expectativas
comerciais de portugueses e luso-africanos no hinterland da cidade. As vitórias
portuguesas contra os exércitos Mbundu resultaram de alianças com guerreiros
nômades conhecidos como Imbangalas, cuja origem é até hoje motivo de
controvérsia historiográfica24. Muito mais do que forças portuguesas ou
eventuais apoios militares do Brasil, a aliança com os Imbangalas esteve na
raiz do processo que levou à criação dos presídios do hinterland de Luanda
Kambambe, Mbaka, Massangano e Mpungu a Ndongo. Na condição de aliados dos
portugueses, os Imbangalas formariam o reino de Kasanje, cujo processo de
"mbundização" criou um contraponto que enfraqueceu o poder português de
Luanda25. O resultado foi a crescente dificuldade para controlar redes internas
do tráfico; o que, por sua vez, forçou uma espécie de diversificação das fontes
de escravos trazidos para Luanda. Na segunda metade do século XVII, por
exemplo, negociantes de Luanda costumavam enviar seus navios para o "resgate"
de escravos em Cabinda e Loango. A estratégia tinha como objetivo evitar as
numerosas regras protecionistas que favoreciam grandes negociantes de Luanda
incluindo governadores de Angola. Em Cabinda e Loango, o tráfico estava sob
influência dos holandeses, que tinham lá se fixado após serem expulsos de
Luanda e Benguela em 1648. Mas, ao contrário de franceses e ingleses, que
também enviaram navios para essas regiões no final do século XVII, os
holandeses costumavam admitir o tráfico português. Em Luanda, os cativos do
norte eram conhecidos como Muxicongos, atraindo especial atenção dos
negociantes por causa de uma alegada propensão para o suicídio. No final do
século XVII, houve mudanças nos embarques a partir de Luanda, devido à
crescente autonomia das redes internas do tráfico e às dificuldades para
embarcar escravos. Uma nova região Benguela foi integrada ao tráfico
atlântico. Ao contrário de Luanda, onde burocratas se esmeravam para subtrair
ganhos muitas vezes ilegais dos negociantes, Benguela oferecia boas condições
para o comércio, embora anteriormente faltasse uma estrutura comercial que
impedia um maior desenvolvimento do tráfico, o que só surgiu depois de um ciclo
de guerras, que se estendeu por décadas, entre 1670 e 1720. Os africanos
embarcados de Benguela eram inicialmente levados para Luanda, onde os impostos
do tráfico eram cobrados dos capitães de navios, e só então eram embarcados
para o Brasil em geral para o Rio de Janeiro. Escravos "benguelas" se
tornaram tão comuns em Luanda que várias comunidades quilombolas com cativos
que conseguiam fugir do tráfico foram formadas nos arredores da cidade. Em
Benguela, os embarques diretos para as Américas ou seja, Brasil só
começariam na década de 1730.26
As dimensões para além do volume do tráfico e da história africana em
termos de ritmos, procedências, interiorização de áreas de resgates e
desembarques, personagens e eventos devem ser analisadas considerando margens
atlânticas, estruturas e agências. É aí que a "dinâmica da escravidão no
Brasil" pode ser conectada.
A INVENÇÃO DO MULATO
Marquese defende que a invenção dos mulatos teria sido uma experiência de
engenharia social que junto com o alto índice de alforrias teria dotado o
escravismo brasileiro de uma válvula de escape que contribuiu decisivamente
para sua longevidade. Aqui, fazendo o contraponto angolano, tomamos como
referência o importante estudo de Alencastro. Para este autor, os mulatos
angolanos tinham dificuldades para assimilar traços da cultura européia: "em
última instância, há mulatos no Brasil e não há mulatos em Angola". Essa
argumentação de Alencastro rompe com parte da historiografia africanista. Linda
Heywood, por exemplo, avalia que, em Angola, embora o número de mulatos fosse
bem menor do que no Brasil ou Cabo Verde, a mestiçagem biológica e cultural era
significativa. A causa seria a imigração basicamente masculina, assim como os
filhos e filhas das relações episódicas ou duradouras entre homens europeus e
mulheres angolanas27. Tal dinâmica é bom destacar é comprovada pelos
registros de batismos da paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, em Luanda, que
indicam que 95 dos 108 homens europeus que batizaram seus filhos entre 1722 e
1736 eram casados com mulheres nascidas naquela cidade. O contraste com o
número apenas 13 de homens casados com mulheres européias é brutal. Não
surpreende, portanto, que os mesmos registros indiquem que 5% das crianças
batizadas naqueles anos tinham ascendência mestiça.28
Na visão de Alencastro, a pouca densidade demográfica e os preconceitos
arraigados frustraram a criação de companhias angolanas militares formadas
apenas por mulatos, no século XVII. Na verdade, uma análise do recrutamento e
das forças militares não só demonstra que os mulatos cumpriram papel importante
nas guerras angolanas como também formavam grupo social coeso e distinto.
Mulatos trazidos de São Tomé lutaram nas guerras que permitiram aos portugueses
criar áreas de influência em Angola, que se estendiam de Luanda até regiões
interioranas ao longo do rio Kwanza. Para Cadornega soldado e membro da
câmaras municipais de Luanda e Massangano , "existem muitos mulatos que são
grandes soldados, principalmente nas guerras do interior".29 Talvez não se
referisse apenas aos mulatos trazidos do Brasil. Não sendo parte do exército
regular, sua participação estava restrita ao papel de forças auxiliares e
irregulares. No século XVII, devido à necessidade de fortalecer suas tropas, o
governador de Angola André Vidal de Negreiros tentou, em vão, convencer Lisboa
a permitir inclusão de mulatos nas forças regulares. A posição metropolitana
mudou devido ao recrudescimento das guerras contra o reino da Matamba, na
década de 1680. Além de finalmente dar aval régio ao projeto de recrutamento,
Lisboa tomou a ousada decisão de ordenar a criação de uma companhia de mulatos.
Segundo Alencastro, a idéia teria sido abortada por causa do preconceito das
elites de Luanda, porém é mais provável que o já significativo número de
mulatos nas companhias regulares tenha tornado a ordem desnecessária. Em 1682,
por exemplo, estes eram acusados de se tornarem membros de ordens religiosas
para evitar o recrutamento militar. Ao invés de preconceito, Lisboa ordenou que
recebessem salários iguais aos dos soldados brancos.30
Diante das dificuldades de recrutamento, propostas para libertar escravos
mulatos surgiram mais de uma vez, nos séculos XVII e XVIII. Em troca de
alforria, serviriam no exército colonial31. Em parte, a proposta foi
apresentada porque o peso dos mulatos na população escrava angolana era
pequeno. Em Luanda, apenas 344 dos 5.700 escravos eram mulatos, em 1781. Em
Benguela, o número era ainda menor, já que existiam apenas quinze escravos
mulatos numa população de 2.049 escravos32. Nos dois casos, o pequeno número de
escravos mulatos tinha relação com a prática de alforria dos filhos que os
senhores brancos tinham com suas escravas africanas. No século XVIII, mulatos
formavam parcela considerável das populações de Luanda e Benguela. Em Luanda,
seu número foi estimado em 26% e 18% em 1772 e 1781, respectivamente. Em
Benguela, manteve-se na ordem de 12% nos censos de 1798, 1799 e 180133.
Curiosamente, parte dos mulatos que viviam nas duas cidades não era nascida em
Angola, mas sim em Portugal e Brasil, de onde tinham sido enviados como
degredados políticos e religiosos. Entre 1714 e 1719, por exemplo, 40% dos
degredados enviados para Luanda vieram do Brasil, enquanto 60% eram
provenientes de Portugal. A distinção entre degredados portugueses e
"brasileiros" é marcante. Enquanto a vasta maioria dos primeiros era de
brancos, 90% dos "brasileiros" eram mulatos34. A regra era que degredados
fossem quase imediatamente obrigados a "sentar praça" nas forças militares
seja em Luanda, Benguela, ou nos presídios do interior. Não surpreende,
portanto, que o número deles fosse tão elevado nas Forças Armadas35. É
importante destacar que sua participação não era apenas como recrutas. Em 1781,
por exemplo, 16 dos 31 oficiais servindo em Luanda tinham nascido na própria
cidade, sendo provável que vários fossem mulatos36. Além de Luanda, eram também
destacados para servir em outras partes de Angola. Em Mpungu a Ndongo, formavam
35% dos soldados e quase a totalidade dos oficiais37. Em Benguela, sua
participação girou entre 35 e 45% nas tropas, no final do século XVIII.38
Tantos mulatos nas Forças Armadas acabou por gerar insatisfação entre os
oficiais brancos. No final do século XVIII, recém-chegados a Luanda, oficiais
reinóis amargamente reclamaram das posições de destaque que os mulatos ocupavam
no exército colonial. Sua posição parecia refletir o ponto de vista de Lisboa
e, curiosamente, a defesa mais ardorosa dos mulatos veio do próprio governador
de Angola, António de Mello, que declarou que "seria errado excluir das Forças
Armadas indivíduos por causa da cor da pele"39. Mello, que já tinha advogado
que Angola fosse "colonizada" por mulatos vindos do Brasil, deixou claro suas
divergências com o que, imaginava, era uma deliberada política de exclusão não
só de mulatos mas também de soldados negros das Forças Armadas40. Para
fortalecer seus argumentos, consultou o governador de Pernambuco, Tomaz José de
Mello, sendo informado de decisões da Coroa que recomendavam que, em
Pernambuco, os critérios de promoção de oficiais não poderiam ser condicionados
pela cor da pele.41
DALTONISMO SOCIAL
Argumenta Marquese que, no século XIX, a "maior ameaça ao escravismo brasileiro
veio de fora", no caso a "pressão antiescravista inglesa" para acabar com o
tráfico nas décadas de 1930 e 1940. Contrariamente, avaliamos que a
reconfiguração interna da sociedade escravista não foi levada em conta,
principalmente a densidade das áreas urbanas em desenvolvimento, cenários não-
existentes nos séculos XVI, XVII e primeira metade do XVIII. Para Marquese ao
contrário dos "dirigentes metropolitanos", as elites políticas e intelectuais
que formataram o Estado Nacional "instrumentalizaram" no século XIX o tema
da ideologia escravista brasileira, por meio das alforrias e da cidadania
(leia-se direito ao sufrágio) para libertos e filhos de escravos. Reforça sua
hipótese com evidências dos debates nas Cortes de Lisboa, quando da
independência, em 1822. Conclui então sobre a gestação de um modelo (definição)
de "cidadania altamente inclusiva". Estudos de Gladys Sabina e João Reis
entre outros têm destacado o contrário42. Qual seja, o quanto o debate sobre
participação política no período de independência foi profundamente marcado por
tensões raciais. Expectativas de libertos e homens de cor livres estavam em
pauta; nas ruas, conveses, tabernas, pasquins e "folhas incendiárias" nas
décadas de 1820 e 1830. O tema do "haitianismo" não era só panacéia metáfora
de controle , pânico manipulado sobre uma revolta escrava em gestação. Ao
contrário de algo relativo somente à escravidão e aos significados de liberdade
envolventes, evocava justamente o papel que a questão racial poderia ter em
termos políticos numa nação emergente. No Brasil, talvez mais do que em
qualquer outra sociedade escravista, o medo do Haiti não evocava somente
levantes escravos generalizados, mas fundamentalmente anarquia, desordem, caos
e ruptura da ordem social pós-colonial, também em termos de ideologias raciais
entre a população livre. Há evidências semelhantes para Venezuela em meio à
formação do Estado Nacional e o debate sobre fim do tráfico43. Quem eram os
cidadãos? Origens sociais e étnicas? Afinal, quais os limites dessa cidadania
em termos de imagens de raça e nacionalidade? A imprensa teve um papel
destacado na propaganda e circulação das idéias, mas o debate era mais amplo e
estava nas ruas. No Primeiro Reinado, um dos focos foi o jornal Nova Luz
Brazileira, identificado aos liberais exaltados e redigido pelo boticário
Ezequiel Correia dos Santos no Rio de Janeiro entre 1829 e 1831. Num tiroteio
jornalístico intenso, devemos perscrutar os deslizamentos sociais dos
significados desses debates. O Nova Luz Brazileira afirmava: "os pardos são
fortes, são talentosos, são verdadeiros amigos da Pátria, são nesta melhor que
muitos brancos"; acusando: "se trata na Corte, e nas províncias contra a
Constituição, e contra pardos e negros, aos quais se pretende fazer caso venha
o absolutismo o que fizeram a eles em São Domingos, os franceses".44 Não apenas
evocava o temor de revoltas escravas, mas o exemplo de uma sociedade sob
conflitos raciais e de classe. E mesmo o acesso "inclusivo" ao voto deve ser
matizado para a população negra.
Nessa parte, o salto olímpico das interpretações de Marquese é admirável.
Abandona os obscuros séculos XVII e XVIII com cativos rebeldes mas sem
consciência e de fazendeiros sem treinamento ideológico adequado e nos leva
rapidamente para o início do século XIX. Espaço privilegiado para a batalha
final de escravos obtusos versus senhores e elite política perspicazes. Andamos
longe de qualquer análise esfarrapada de luta de classe ou cultura política
para além das decisões racionais e eloqüentes vindas dos palácios, varandas e
alpendres. No Brasil, uma ideologia escravista para manter a segurança do
Estado Nacional numa nova "configuração sistêmica" do século XIX no "quadro
social escravista interno altamente estável" evitaria tanto "a repetição de
Palmares" como "qualquer chance de uma revolução escrava como a de São
Domingos". Enfim, um escravismo sem riscos? Como? Através da "blindagem
criada", mantendo a segurança por meio da ideologia de alforrias a partir da
qual haveria "o comprometimento social dos crioulos e mulatos sobretudo
quando livres e libertos com a instituição da escravidão". Marquese enfatiza
a "associação dos negros e mulatos libertos e livres com o sistema escravista:
o grande anseio econômico e social desses grupos era exatamente a aquisição de
escravos, ou seja, tornar-se senhor". No Brasil há narrativas sobre senhores
classificados como mulatos e pardos, e também evidências o caso de Minas
Gerais e a recente biografia do liberto Dutra, na Corte, são interessantes de
libertos possuidores de escravos, mas estas não podem constituir "prova
definitiva" da "equação" de Marquese45. Transformações econômicas e mobilidade
social podem namorar, até casar, mas também se divorciam. Em outras sociedades
escravistas nas Américas parte da população de libertos adquiriu escravos e
desenvolveu uma economia de mercado nas franjas da plantation e isso não
significava necessariamente uma nova "configuração sistêmica do escravismo".
Outras questões podem ser levantadas sobre a ideologia de racialização no
século XIX, destacadamente a respeito do controle sobre libertos e a população
livre de cor. Períodos de generalizados temores de insurreições via boatos e
denúncias serviram também para o desencadeamento e o recrudescimento da
repressão sobre a população negra livre, especialmente os libertos46. Foram
assim na Corte, em Recife, Salvador e São Luís. Mesmo as tipologias raciais
construídas na imprensa, nos censos e na literatura revelam disputas por
símbolos que escondiam tensões e expectativas47. As imagens sob a miragem da
miscigenação construindo inequivocamente harmonia foram narrativas
hegemônicas a posteriori. Marquese cita Koster para argumentar como viajantes
já percebiam um quadro mais amplo de livres de cor e libertos na sociedade
escravista brasileira no século XIX. Mas o próprio Koster um viajante
proprietário de escravos assinala como os libertos não procuravam se afastar
muito dos locais de onde tinham sido alforriados. Por quê? Estavam entrelaçados
pela ideologia paternalista da alforria? Ou temiam também a reescravização?
Ainda são pouco estudados o que se começa a fazer no Brasil e em Cuba os
processos de reescravização, além da "suspeição generalizada", em que libertos
eram confundidos com escravos nas cidades48. E aí entramos no debate sobre o
sistema de classificação racial do século XIX. Há evidências de interesses
deliberados da elite política do Império pela imigração no Sudeste e não pela
população das "províncias do Norte", associada aos exemplos de desordens. A
oposição aos recenseamentos por parte da população livre pobre tinha também o
significado de rejeitar formas de controle e os temores de reescravização. Foi
o caso da revolta camponesa dos Marimbondos em Pernambuco, em 1852, quando
camponeses em áreas de expansão econômica temiam a reescravização que
acreditavam ser iniciada pelo recenseamento provincial numa conjuntura de
pressão demográfica pós-cessação do tráfico.49
Marquese convence mais quando argumenta sobre os padrões de alforrias. Há
inúmeros e dispersos estudos para áreas coloniais e pós-coloniais. São
amplamente desenvolvidos na historiografia brasileira, com formulações teóricas
e tipologias50. Porém, não podemos somar generalizando o impacto de
alforrias no Recôncavo e em áreas urbanas da Bahia com os índices para Minas
Gerais no século XVIII; regiões cafeeiras de Campinas e aquelas urbanas do
século XIX, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. Evidências para alforrias no
século XVII ainda são escassas e não podem ser generalizadas, sob alegação de
que "ganharam impulso" no "período conturbado da economia açucareira". No Rio
de Janeiro elas aparecem ao mesmo tempo da montagem das empresas do açúcar51. A
interpretação "nacional" (freqüentemente urbana e novecentista) sobre as
alforrias deixa de fora quadros sociodemográficos e étnicos fundamentais.
Gorender mostra o recrudescimento das alforrias em Minas Gerais com o declínio
da mineração. Alencastro fala das mesmas para o Rio de Janeiro do século XIX
num momento de retração do mercado de trabalho e uma maior oferta de
trabalhadores com a imigração portuguesa52. Até podemos falar de "padrões"
(mulheres, crioulos e crianças), mas não de "norma básica". Em cidades como
Salvador, São Luís, Rio de Janeiro e Porto Alegre, verificam-se lógicas e
agências dos próprios escravos (especialmente africanos do setor de serviços)
numa cultura de classe e organização étnica do mercado de trabalho para pensar
as manumissões e suas séries53. Há matizes para contextos específicos. Sem
falar no papel das entidades associativas, pecúlio e alforrias de pia54. Uma
pergunta em tom de simulação: como eram as manumissões nas áreas cafeeiras do
vale do Paraíba (Vassouras, Valença e Paraíba do Sul) no século XIX? Será que
não teríamos ali um quadro semelhante de "escravismo de plantation, no qual a
produção econômica se concentrava em um único produto e o quadro social era
marcado por desbalanço demográfico entre brancos livres e escravos negros,
amplo predomínio de africanos nas escravarias, poucas oportunidades para a
obtenção de alforria e altas taxas de absenteísmo senhorial", sugerido por
Marquese? Não há notícias de índices de alforrias e grandes quilombos nesta
região, mas massivo tráfico interprovincial, crioulização, fugas temporárias
endêmicas e articulação das mesmas em microcomunidades de roceiros libertos e a
economia própria nas senzalas55. Avaliamos a necessidade de procurar outras
interpretações, comparando e não generalizando com áreas atlânticas. No
caso, não uma comparação entre Brasil, Cuba, Jamaica e Estados Unidos, mas sim
com algumas áreas do Sul algodoeiro americano com o vale do Paraíba cafeeiro;
zonas de mineração de Choco, na Colômbia, com Minas Gerais; Recôncavo baiano
com as montanhas venezuelanas por exemplo , tentando avaliar o fenômeno dos
quilombos/maronage, estrutura agrária e demográfica, pressões econômicas
externas, políticas de domínio, modos de trabalho, redes familiares e agência
de escravos e senhores.56
Ao procurar uma explicação para o não surgimento de grandes quilombos nos
séculos XVIII e XIX, Marquese acaba indiretamente reforçando uma interpretação
evolucionista de Genovese sobre a resistência escrava nas Américas,
"restauracionista" versus "revolucionária", na passagem do século XVIII, pois
vê em demasia diferenças entre quilombos e insurreições. Em Pernambuco no
século XVII houve rumores de revoltas em plena época de Palmares. Em Minas há
evidências de planos de revoltas nas áreas de mineração e no século XIX abundam
quilombos e revoltas, muitas vezes articuladas com setores de libertos. Nos
anos de 1820 são várias as evidências de levantes escravos no Grão-Pará, Bahia
e Maranhão. Na década de 1830, insurreições escravas se misturaram a movimentos
rurais como Cabanada, Balaiada, Farroupilha e Cabanagem. Havia quilombos
próximos a todos esses movimentos. No Maranhão e Pará foram numerosos e
populosos. Revoltas escravas se espalharam ao longo do século XIX: 1832, em
Campinas (SP); 1833, em Carrancas (MG); 1838, em Vassouras (RJ); 1854, em
Taubaté e São Roque (SP); 1857-1859, em Bananal (RJ); 1864, em Serro (MG);
1867, em Viana (MA); 1871, em Itapemirim (ES); 1882, em Resende (RJ); 1883, em
Campinas (SP); e 1884-1885, em São Mateus (ES). Rumores, denúncias, planos
descobertos, processos e condenações são exemplos. Isso não é pouco, embora só
agora tenham surgido estudos monográficos a respeito. Um relatório provincial
de Minas Gerais para a década de 1860 assinala inúmeras insurreições
escravas57. Marquese, como fez Nedell, pode objetar que se tratava apenas de
medos pânicos e que não mudaram o jogo de xadrez da sociedade escravista.
Enfim, algumas interpretações insistem em considerar que somente senhores e
elite política conhecem as peças e as regras do tabuleiro58. Podemos argumentar
sobre o papel da percepção e conjuntura política e demográfica em torno desses
episódios articulando macro e micropolíticas das elites, setores negros,
escravos num contexto interno e também internacional, com os debates
parlamentares das leis antiescravistas, abolição da escravidão no Caribe,
questão Christie, Guerra Civil norte-americana e Guerra do Paraguai. Mais do
que movimentos excludentes, levantes escravos e quilombos se articularam a
outros movimentos. Temos evidências disso em relação às revoltas baianas, a
Campinas (1832), Vassouras (1838), Serro (1864) e São Mateus (1884-1885). Isso
sem falar na insurreição quilombola de Viana, no Maranhão, em 186759. Ali, como
ocorreria na Jamaica e Guianas em fins do século XVIII, os quilombolas
articulados e sabedores das políticas e intenções de fazendeiros e autoridades
policiais invadiram vilas e produziram por escrito um protesto. A idéia de
revoltas abolicionistas (ou, como argumenta Craton, protocamponesas para o
Caribe) não está muito distante da experiência de alguns levantes no Brasil do
século XIX, embora as tentativas de tipologia tenham sugerido mais equívocos e
generalizações60. Também podemos falar de evidências históricas de tentativas
de "tratados" ou "rendição" entre clandestinas e oficiais entre quilombolas
e autoridades provinciais no século XIX, como Maranhão (1873 e 1879-1880), Pará
(1876) e Rio de Janeiro (1876).61
Mais complicado ainda é falar de "fracasso" ou "derrota" na revolta dos Malês,
em Salvador, em 1835. Esta, com repercussões internacionais, deu régua e
compasso para debates parlamentares, memórias e a produção de opinião pública
se não antitráfico, ao menos profundamente antiafricana nos anos 1830 a 1840.
Aconteceram como as revoltas do Caribe britânico, com uma dimensão atlântica
que ainda está à espera de reflexões mais conectadas. Por caminhos diferentes,
Reis, Carvalho e Rodrigues têm destacado o impacto da revolta Malê nas mudanças
de mentalidade de fazendeiros e da elite política na administração do Estado
Nacional. Mesmo a tipologia sobre a revolta de São Domingos e seu impacto em
termos de protesto escravo não pode ser tão esquemática como propôs Genovese.
Fick já destacou o papel da tradição da maronage nas décadas de 1780 para
entender a eclosão das revoltas de 1791.62
Ao contrário de uma inflexão de um certo modelo de "resistência escrava", tão-
somente explicada por uma engenharia senhorial ou política das elites, letrados
e fazendeiros, é possível propor uma explicação para a disseminação não a
nucleação de pequenos e médios quilombos no Brasil comparativamente a outras
partes das Américas. Os modelos da Jamaica e do Suriname não devem ser
absolutizados. No caso brasileiro, a difusão de comunidades em áreas de
fronteiras econômicas abertas (nada parecido com Jamaica ou Cuba) e a
perspectiva de atividades de roceiros que se articulavam com outros setores
econômicos, transformando-as quase em invisíveis, aproximam-se mais das
experiências dos quilombos colombianos (palenques) e venezuelanos (cumbes) dos
séculos XVIII e XIX.
Sem ironias desnecessárias que muitas vezes rondam o debate acadêmico e
intelectual sempre necessário e cada vez mais ausente , louvamos a idéia de
Rafael Marquese, ao propor o debate (um quase-convite), testando hipóteses e
ensaiando argumentos. Dentro do mesmo espírito, não fizemos neste ensaio nada
diferente disso. Perspectivas historiográficas, misturadas com pressupostos
teóricos, têm a sua validade, assim com expectativas ideológicas e narrativas
envolventes. Em termos historiográficos, as possibilidades de análises
comparativas abordagens atlânticas menos anglófonas sugerem caminhos
interpretativos novos. Corremos o risco talvez de procurar "explicações
nacionais" para fenômenos e experiências com dinâmicas próprias, embora
conectadas em termos internacionais e sujeitas a interpretações dialógicas. Há
muito de cotidiano, micropolíticas, eventos e não-eventos necessitando de
abordagens e interpretações63. E os horizontes interpretativos dos impérios
podem (en)cobrir em demasia as paisagens analíticas microscópicas, porém
atlânticas. Estreitar estas margens, isolar realinhando tempos e espaços
históricos, assim como refletir sobre projetos, processos, estruturas e
agências também como propôs Marquese pode aumentar focos, interesses e
mobilizar investigações em torno do conhecimento histórico.
[1] Stolcke, Verena. "Brasil: uma nação vista através da vidraça da raça".
Revista de Cultura Brasileña, Madrid, nº 1, mar. 1998. Essas
imagens sobre a escravidão no Brasil remetem ao século XIX e foram produzidas
em diálogos atlânticos com políticos, diplomatas, letrados, viajantes e
abolicionistas. Ver: Azevedo, Célia Maria Marinho de. "Irmão ou inimigo: o
escravo no imaginário abolicionista dos Estados Unidos e do Brasil". Revista
USP, São Paulo, nº 28, 1995, pp. 96-109; e Abolicionismo.
Estados Unidos e Brasil, uma história comparada (século XIX). São Paulo:
AnnaBlume, 2003, pp. 35-58.
[2] Marquese, R. B. "A dinâmica da escravidão no Brasil. Resistência, tráfico
negreiro e alforrias, séculos XVII a XIX". Novos Estudos, São Paulo, nº 74,
2006, pp. 107-123.
[3] Ver: Gomes, Flávio dos Santos. Palmares. Escravidão e liberdade no
Atlântico Sul. São Paulo: Contexto, 2005; Guimarães, Carlos
Magno. "Mineração, quilombos e Palmares. Minas Gerais no século XVIII". In:
Reis, João José e Gomes, Flávio dos Santos. Liberdade por um fio. História dos
quilombos no Brasil. São Paulo, Cia. das Letras, 1996, pp. 139-163; Lara, Silvia Hunold. "Do singular ao plural: Palmares, capitães-do-
mato e o governo dos escravos" In: Ibidem, pp. 81-109; Silva, Rogério
Forastieri da. Colônia e nativismo. A história como "biografia da nação". São
Paulo: Hucitec, 1997; Vainfas, Ronaldo. "Deus contra Palmares.
Representações e idéias jesuíticas". In: Reis, Gomes, op. cit., pp. 60-80; e idem, Ideologia e escravidão. Os letrados e a sociedade
escravista no Brasil Colonial. Petrópolis: Vozes, 1986.
[4] Manuscrito publicado em Anais da Biblioteca Nacional, vol. 20, 1898, p.
255. Ver também: Barros, Isabel Figueiredo de e Cruz, Maria
Arlete. "Revoltas de escravos em São Tomé no século XVI". Leba, Lisboa, nº 7,
1992, pp. 373-388.
[5] Ver Nascimento, Rômulo Luiz Xavier do. Os "boschnegers" nas matas de
Pernambuco e contra Nassau", 2004 (mimeo); idem, Pelo lucro da
companhia: aspectos da administração no Brasil holandês (1630-1639). Recife:
Dissertação de mestrado, Departamento de História, Universidade Federal de
Pernambuco, 2004; Puntoni, Pedro. A mísera sorte. A escravidão
africana no Brasil holandês e as guerras do tráfico no Atlântico Sul, 1621-
1648. São Paulo: Hucitec, 1999.
[6] Gomes, Flávio dos Santos e Soares, Carlos Eugênio Líbano. "Sedições,
haitianismo e conexões no Brasil: outras margens do atlântico negro". Novos
Estudos, nº 63, 2002, pp. 131-144.
[7] Genovese, Eugene. Da rebelião à revolução: as revoltas de escravos nas
Américas. São Paulo: Global, 1983; Klein, Herbert S. A
escravidão africana. América Latina e Caribe. São Paulo: Brasiliense, 1987; Price, Richard. "Resistance to slavery in the Americas:
Maroons and their communities". Indian Historical Review, nº 15, vols. 1-2,
1988-1989); e idem, Sociedades cimarronas. Comunidades
esclavas rebeldes en las Américas. Madrid: Siglo Ventiuno, 1981.
[8] Alencastro, Luiz Felipe. O trato dos viventes. Formação do Brasil no
Atlântico Sul, séculos XVI e XVII. São Paulo: Cia. das Letras, 2000; e Metcalf, Alida. "Millenarian slaves? The santidade de Jaguaripe and
slave resistance in the Americas. American Historical Review, dez. 1999, pp.
1531-1559.
[9] Campbell, Mavis C. "Marronage in Jamaica. It's origen in the seventeenth
century". In: Rubin, Vera e Tuden, Arthur. (orgs.) Comparative perspectives on
slavery in new world plantation societies. Volume 292, Nova York, 1977, pp.
389-419; Grott, Silvia W. de. "A comparison between the
history of Maroon communities in Surinam and Jamaica". Slavery & Abolition,
vol. 6, nº 3, dez. 1985, pp. 173-184; e Sheridan, Richard B.
"The Maroon of Jamaica, 1730-183: livelihood, demography and health". Slavery
& Abolition, vol. 6, nº 3, dez. 1985.
[10] Ver Guimarães, Carlos Magno. "O quilombo do Ambrósio: lenda, documentos e
arqueologia". Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, vol. 16, nº 1-2, 1990,
pp. 161-174; Uma negação da ordem escravista. Quilombos em
Minas Gerais no século XVIII. São Paulo: Ícone, 1988; Ramos,
Donald. "O quilombo e o sistema escravista em Minas Gerais do século XVIII".
In: Reis, Gomes, op. cit., pp. 164-192; Scarano, Julita.
Cotidiano e solidariedade. Vida diária da gente de cor nas Minas Gerais, século
XVIII. São Paulo: Brasiliense, 1994; e Vallejos, Júlio Pinto.
"Slave control and slave resistance in colonial Minas Gerais, 1700-1750".
Journal of Latin American Studies, vol. 17, parte I, mai. 1985, pp. 23-25.
[11] Karasch, Mary. "Os quilombos do ouro na capitania de Goiás". In: Reis,
Gomes, op. cit., pp. 240-262. Sobre Colômbia, ver McFarlane,
Anthony. "Cimarrones and palenques: runaways and resistance in colonial
Columbia". Slavery & Abolition, vol. 6, nº 3, dez. 1985, pp. 146-147.
[12] Fage, J. D. "Slavery and the slave trade in the context of West African
history". Journal of African History, vol. 10, nº 3, 1969; idem, "Slaves and society in Western Africa, c. 1445-1700". Journal of
African History, vol. 21, nº 3, 1980; Rodney, Walter, "African
slavery and other forms of oppression on the Upper Guinea Coast in the context
of the atlantic slave trade". Journal of African History, vol. 7, nº 3, 1996.
[13] Meillassoux, Claude, The anthropology of slavery: The womb of iron and
gold. Chicago: The University of Chicago Press, 1991; Lovejoy,
Paul, Transformations in slavery. Cambridge: Cambridge University Press, 1983; Austen, Ralph, African economic history: internal development
and external dependency. Londres, 1987.
[14] Para um balanço do debate, ver: Manning, Patrick. Slavery and African
life: Occidental, Oriental, and African slave trades. Cambridge: Cambridge
University Press, 1990; Miller, Joseph. "The world according
to Meillassoux: a challenging but limited vision". International Journal of
African Historical Studies, vol. 22, nº 3, 1989; Lovejoy,
Paul, "Miller's vision of Meillassoux". International Journal of African
Historical Studies, vol. 24, nº 1, 1991. No Brasil, parte
desse debate foi publicado em Manning, Patrick. "Escravidão e mudança social na
África". Novos Estudos, nº 21, jul. 1988, pp. 8-29.
[15] Miers, Suzanne, e Kopytoff, Igor. "African slavery as an institution of
marginality". In: Slavery in Africa: historical and anthropological
perspectives. Madison: University of Wisconsin Press, 1977.
[16] Klein, Martin, "The study of slavery in Africa". Journal of African
History, vol. 19, nº 4, 1978; Cooper, Frederick, "The problem
of slavery in African studies". Journal of African History, vol. 20, nº 1,
1979.
[17] Para exceções, ver vários trabalhos de Lovejoy sobre revoltas escravas:
Lovejoy, Paul. "Concubinage and the status of women slaves in early colonial
northern Nigeria". Journal of African History, vol. 29, nº 2, 1988; Ver também Glassman, Jonathon. "The bondsman's new clothes: the
contradictory consciousness of slave resistance on the Swahili coast". Journal
of African History, vol. 32, nº 2, 1991.
[18] Eltis, David. "The volume and structure of the transatlantic slave trade:
a reassessment". William & Mary Quarterly, vol. LVIII, n. 1, 2001, pp. 17-
42; "The transatlantic slave trade: a reassessment based on
the second edition of the transatlantic slave trade dataset" (mimeo).
[19] Thornton, John. Africa and africans in the making of the atlantic world,
1400-1800. Cambridge: Cambridge University Press, 1999; idem,
"Warfare, slave trading and European influence: Atlantic Africa, 1450-1800".
In: Black, Jeremy (ed.). War in the early modern world. London: UCL Press,
1999; idem, Warfare in Atlantic history. London: UCL Press,
2000.
[20] Ver inicialmente Kent, R. K. "Palmares: An African State in Brazil".
Journal of African History, vol. 6 nº 2, 1965; Allen, Scott
Joseph. Africanisms, mosaics, and creativity: the historical archaelogy of
Palmares. M. A. Thesis: Brown University, 1995; Bastide,
Roger. "The other quilombos". In: Price, Richard (org.). Maroon societies:
rebel slave communities in the Americas. 2a. ed. Baltimore: The Johns Hopkins
University Press, 1979, pp. 191-201; Schwartz, Stuart B.
"Mocambos, quilombos e palmares: a resistência escrava no Brasil colonial".
Estudos Econômicos. São Paulo: IPE-USP, v. 17, número especial, 1987, pp. 61-
88; Alencastro, op. cit.; Anderson, Robert N. "The Quilombo of
Palmares: a new overview of a maroon state in seventeenth-century Brazil".
Journal of Latin American Studies, vol. 28, 1996, pp. 553-562; Karasch, Mary. "Zumbi of Palmares: challenging the portuguese colonial
order". In: Andrien, Kenneth J. (ed.). The human tradition in Colonial Latin
America, Human tradition around the world. Wilmington: SR Books/Scholarly
Resources, 2002.
[21] Os primeiros embarques do Congo foram analisados por Hilton e Thornton,
mas o tratamento mais recente, e preciso, está em Elbl, Ivana. "The volume of
the early atlantic slave trade". Journal of African History, vol. 38, nº 1,
1997, p. 43.
[22] Thornton, Africa and Africans in the making of the atlantic world, 1400-
1800, op. cit., pp. 61-62; Klein, Herbert. "The atlantic slave
trade to 1650". In: Schwartz, Stuart B. Tropical Babylons: sugar and the making
of the atlantic world, 1450-1680. Chapel Hill: University of North Carolina
Press, 2004, pp. 211-212.
[23] Miller, Joseph. "The slave trade in Congo and Angola". In: Kilson, Martin
e Rothberg, Robert I. (eds.). The African diaspora: interpretative essays.
Cambridge: Harvard University Press, 1976; idem, "The
paradoxes of impoverishment in the atlantic zone". In: Birmingham, David e
Martin, Phyllis (eds.). History of Central Africa. London: Longman, 1983; idem, "Central Africa during the era of the slave trade, c.
1490s-1850s". In: Heywood, Linda. Central africans and cultural transformations
in the American diaspora. Cambridge: Cambridge University Press, 2002. Para uma visão diferente, que defende que Luanda foi criada no
contexto da expansão do tráfico privado, e não como resposta estatal ao
crescimento deste, ver Curto, Jose. Enslaving spirits: the portuguese-brazilian
alcohol trade at Luanda and its hinterland, c. 1550-1830. Leiden: Brill, 2004.
[24] Birmingham, David. "The date and significance of the imbangala invasion of
Angola". Journal of African History, vol. 6, nº 2, 1965; Vansina, Jan. "More on the invasion of Kongo and Angola by the Jaga
and the Lunda". Journal of African History, vol. 7, nº 3, 1966; Miller, Joseph. "The imbangala and the chronology of early central
african history". Journal of African History, vol. 13, nº 4, 1972; idem, "Requiem for the 'Jaga'". Cahiers d'Etudes Africaines, vol.
XIII, nº 1, 1973; Thornton, John. "A resurrection for the
Jaga". Cahiers d'Etudes Africaines, vol. XVIII, nº 1-2, 1978; Hilton, Anne. "The Jaga reconsidered". Journal of African History,
vol. 22, nº 2, 1981; Miller, Joseph, "Thanatopsis". Cahiers
d'Etudes Africaines, vol. XVIII, nº 1-2, 1978; Vansina, Jan,
How societies are born: governance in West Central Africa before 1600.
University of Virginia Press: Charlottesville, 2004.
[25] Ferreira, Roquinaldo "Transforming atlantic slaving: trade, warfare, and
territorial control in Angola, 1650-1800". Los Angeles: Tese de Doutorado,
UCLA, 2003.
[26] Ibidem.
[27] Heywood, "Portuguese into African", op. cit., p. 94. Para considerações
gerais sobre o caráter masculino dos colonizadores portugueses, ver Elbl,
Ivana. "Men without wives: sexual arrangements in the early portuguese
expansion in West Africa". In: Murray, Jacqueline e Eisenbichler, Konrad
(eds.). Desire and discipline: sex and sexuality in the postmodern west.
Toronto: University of Toronto Press, 1996, pp. 61-87.
[28] Livro de batismo da Paróquia dos Remédios, 1720-1736. Arquivo do Bispado
de Luanda (ABL).
[29] Ver Alencastro, op. cit., pp. 351-352 e Cadornega, António de Oliveira.
História geral das guerras angolanas. Lisboa: Agência Geral das Colônias, 1940,
v. 3, pp. 29-30.
[30] "Relatório do Governador Fernão de Sousa" [sem data mas certamente escrito
entre 1625 e 1630]. In: Heintze, Beatriz. Fontes para a história de Angola no
século XVII. Wiesbaden: Steiner-Verlag, 1985, p. 333. Ver
"Carta de André Vidal de Negreiros em 13 de maio de 1662". Arquivo Histórico
Ultramarino (AHU), Angola, cx. 7, doc. 63; "Carta do
Governador de Angola em 18 de março de 1682". AHU, Angola, cx. 12, doc. 72; "CCU em 3 de outubro de 1683". AHU, Angola, cód. 554, fls. 42-
42v.; "Carta Régia em 24 de março de 1684". AHU, Angola, cód. 545, fl. 30v. ; e "Carta do Governador de Benguela em 19 de janeiro de
1794". AHU, Angola, cx. 80, doc. 8. Ver também Cadornega, op.
cit., v. 1, pp. 346, 408-409; "CCU em 22 de fevereiro de 1689". AHU, Angola,
cód. 554, fl. 25; AHU, Angola, cx. 12, doc. 7.
[31] "Papel de Bartolomeu Bulhão em 14 de janeiro de 1655". AHU, Angola, cx. 6,
doc. 29.
[32] "Ofício do Governador de Angola em 15 de dezembro de 1784". AHU, Angola,
cx. 69, doc. 47; "Várias noções a respeito de Benguela e
Angola (1792)". AHU, Angola, cx. 77, doc. 86. Ver também
Corrêa, Elias Alexandre da Silva. História de Angola. Lisboa: Editorial Ática,
1937, vol. 1, p. 72.
[33] O "censo" de 1773 foi calculado a partir de duas listas de moradores de
duas freguesias de Luanda. Ver AHU, Angola, cx. 57, doc. 34; AHU, Angola, cx.
64, doc. 63. Para Benguela, ver AHU, Angola, cx. 89, doc. 88; Arquivo Histórico
Nacional de Angola (AHNA), cód. 442; AHU, Angola, cx. 89, doc. 88; AHNA, cód.
442, fls. 171v.-172.
[34] Biblioteca Municipal de Luanda (BML), cód. 16, fls. 86-108.
[35] Ferreira, op. cit.; AHU, Angola, doc. 34; "Ofício do Governador de Angola
em 1 de março de 1773". AHU, Angola, cx. 57, doc. 36. Ver
também Corrêa, op. cit., vol. 1, p. 71.
[36] "Relação dos Oficiais do Regimento de Infantaria de Luanda em 22 de maio
de 1781". AHU, Angola, cx. 64, doc. 22.
[37] "Notícias do Presídio de Pungo Andongo em 1797". Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro (IHGB), lata 29, pasta 14, fls. 15-15v.
[38] "Notícias de Benguela em 1797". IHGB, lata 32, pasta 2; AHU, Angola, cx. 89, doc. 88; AHN, Angola, doc. 441, fl. 88v; AHNA,
Angola, cód. 442, fls. 171v.-172. Em 1796, por exemplo, três dos sete
comandantes selecionados para os postos mais altos naquela cidade eram mulatos.
Ver "Ofício do Governador de Benguela em 12 de agosto de 1796". AHNA, Angola,
cód. 442, fls. 13 v.-14; "Oficio do Governador de Benguela em 2 de janeiro de
1799". AHNA, Angola, cód. 442, fls. 68 v.-69.
[39] "Carta do Governador de Angola em 31 de julho de 1800". AHNA, Angola, cód.
152, fls. 1 v.-8.
[40] "'Apontamentos' em 1795". AHU, Angola, cx. 82, doc. 62; "Ofício do Governador de Angola em 23 de agosto de 1800". AHNA,
Angola, cód. 6, fls. 148-151 e AHU, Angola, cx. 96, doc. 49;
"Ofício do Governador de Angola em 30 de abril de 1798". AHNA, Angola, cód. 5,
fls. 92-93.
[41] "Oficio do Governador de Pernambuco em 28 de novembro de 1798". AHNA,
Angola, cód. 250, fls. 35 v.-36; "Ofício do Governador de
Angola em 24 de dezembro de 1798". In: Arquivos de Angola. Luanda, 2ª Série,
vol. XX, nos 79-82, 1962, pp. 63-65.
[42] Flory, Thomas. "Race and social control independent Brazil". Journal of
Latin American Studies, vol. 9, nº 2, nov. 1977; Reis, João
José. "O jogo duro do Dois de Julho: O 'Partido Negro' na independência da
Bahia". In: Reis, João José e Silva, Eduardo. Negociação e conflito: a
resistência negra no Brasil escravista. São Paulo, Cia. das Letras, 1989, pp.
79-97; Ribeiro, Gladys Sabina. "'Pés-de-chumbo' e
'garrafeiros': conflitos e tensões nas ruas do Rio de janeiro no Primeiro
Reinado (1822-1831)". Revista Brasileira de História, São Paulo, vol. 12, nº 23
-24, set. 91/ago. 92, pp. 141-165; e idem, A liberdade em
construção. Identidade nacional e conflitos antilusitanos no Primeiro Reinado.
Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2002.
[43] Helg, Aline. "The limits of equality: free people of color and slaves
during the first independence of Cartagena, Colômbia, 1810-1815". Slavery &
Abolition, vol. 20, nº 2, ago. 1999, pp. 21-24, e "Simon
Bolívar and the spectre of pardocracia: Jose Padilla in post-independence
Cartagena". Journal of Latin América Studies, vol. 35, part 3, ago. 2003, pp.
447-471.
[44] Nova Luz Brazileira, sexta, 11/12/ 1829, pp. 10-12. Ver
ainda: Basille, Marcelo. Ezequiel Correa dos Santos um jacobino na Corte
imperial. Rio de Janeiro: FGV, 2001.
[45] Ver Luna, Francisco Vidal e Costa, Iraci del Nero da. "A presença do
elemento forro no conjunto de proprietários de escravos". Ciência e Cultura,
vol. 32, nº 7, jul. 1980, pp. 836-841; e Frank, Zephir.
Dutra's world. Wealth and family in nineteenth-century Rio de Janeiro. México:
University of New México Press, 2004.
[46] Cunha, Manuela Carneiro da. Negros estrangeiros; os escravos libertos e
sua volta à África. São Paulo: Brasiliense, 1985; e Reis, João
José. A rebelião escrava no Brasil. A história do levante dos Malês em 1835.
Cia. das Letras, 2003.
[47] Barickman, B. J. "As cores do escravismo: escravistas 'pretos', 'pardos' e
'cabras' no Recôncavo baiano, 1835". População e Família.
Centro de Estudos e Demografia Histórica da América Latina. São Paulo,
Humanitas/FFLCH/USP, 1988; e Lima, Ivana Stolze. Cores, marcas
e falas. Sentidos da mestiçagem no Império do Brasil. Rio de Janeiro: Arquivo
Nacional, 2003.
[48] Karasch apresenta algumas referências sobre revogação de alforria no Rio
de Janeiro do século XIX. Há pesquisas em andamento de Sidney Chalhoub sobre
reescravização e políticas de domínio no Brasil. Ver Chalhoub, Sidney. Machado
de Assis, o historiador. São Paulo: Cia. das Letras, 2003.
[49] Palacios, Guilhermo. "A 'Guerra dos Maribondos': Uma revolta camponesa no
Brasil escravista (Pernambuco, 1851-1852) Primeira Leitura". História: Questões
& Debates, Curitiba, vol. 10, nºs 18-19, jun.-dez. 1989, pp. 7-75.
[50] Cano, Jéferson. Escravidão, alforrias e projetos políticos na imprensa de
Campinas, 1870-1889. Campinas: Dissertação de mestrado em História, Unicamp,
1993; Damásio, Adauto. Alforrias e ações de liberdade em
Campinas na primeira metade do Século XIX. Campinas: Dissertação de mestrado em
História, Unicamp, 1995; Florentino, Manolo. "Alforria e
etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista: notas de pesquisa". Topoi, n. 5,
2002, pp. 25-40; Martins, Robson L. M. "Atos dignos de
louvor': imprensa, alforrias e abolição". Afro-Ásia, Salvador, nº 27, 2002, pp.
193-222; Moreira, Paulo R. S. Faces da liberdade, máscaras do
cativeiro: experiências de liberdade e escravidão, percebidas através das
cartas de alforria Porto Alegre (1858-1888). Porto Alegre: Edipucs, 1996; Nishida, Mieko. "As alforrias e o papel da etnia na escravidão
urbana: Salvador, Brasil, 1808-1888". Estudos econômicos, São Paulo, vol. 23,
nº 2, 1993, pp. 227-65; Oliveira, Maria I. C. de. O liberto:
seu mundo e os outros, Salvador, 1790-1890. Salvador: Corrupio, 1988; idem, "Viver e morrer no meio dos seus. Nações e comunidades africanas
na Bahia do século XIX". Revista USP, São Paulo, n. 28, dez. 1995/fev. 1996; Paiva, Eduardo F. Escravos e libertos nas Minas Gerais do
século XVIII: estratégias de resistência através dos testamentos. São Paulo:
Annablume, 1995; idem, Escravidão e universo cultural na
colônia: Minas Gerais, 1716-1789. Belo Horizonte: UFMG, 2001.
[51] Sampaio, Antonio Carlos J. de. "A produção da liberdade: padrões gerais
das manumissões no Rio de Janeiro colonial, 1650-1750". In: Florentino, M. G.
(Org.). Tráfico, cativeiro e liberdade: Rio de Janeiro, séculos XVII-XIX. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, pp. 287-329.
[52] Alencastro, L. F. "Proletários e escravos. Imigrantes portugueses e
cativos africanos no Rio de Janeiro, 1850-1872". Novos Estudos, n. 21, 1988,
pp. 30-56; e Gorender, Jacob. O escravismo colonial. São
Paulo: Ática, 1980, pp. 427-450.
[53] Ver: Cruz, Maria Cecília Velasco "Tradições negras na formação de um
sindicato: Sociedade de resistência dos trabalhadores em trapiche e café, Rio
de janeiro, 1905-1930". Afro-Ásia, Salvador, nº 24, 2000, pp. 243-229; Farias, Juliana Barreto. Entre identidades e diásporas: Negros Minas
no Rio de Janeiro (1870-1930). Rio de Janeiro: Dissertação de mestrado em
História Comparada, UFRJ, 2004; Mattos, Wilson Roberto de.
Negros contra a ordem. Resistência e práticas negras de territorialização no
espaço da exclusão social, Salvador, BA (1850-1888). São Paulo: Tese de
doutorado, PUC-SP, 2000; Reis, J. J. "De olho no canto:
trabalho de rua na Bahia na véspera da Abolição". Afro-Ásia, Salvador, nº 24,
2000, pp. 199-242; "A Greve Negra de 1857 na Bahia". Revista
USP, São Paulo, nº 18, 1993.
[54] Chalhoub, op. cit.; Moreira, Paulo Roberto S. Os cativos e os homens de
bem. Experiências negras no espaço urbano. Porto Alegre: EST, 2003, cap. 2.
[55] Ver os estudos de Maria Helena Machado: Crime e escravidão. Trabalho, luta
e resistência nas lavouras paulistas, 1830-1888. São Paulo: Brasiliense, 1987; e O plano e o pânico. Os movimentos sociais na década da
Abolição. Rio de Janeiro, UFRJ/Edusp, 1994. Ver ainda Donald
Jr., Cleveland. "Slave resistance and abolitionism in Brazil: the campista
case, 1879-1888". Luso-Brazilian Review, vol. 13, nº 2, 1976, pp. 182-193.
[56] Ver as tentativas de tipologias em: Geggus, David. "The enigma of Jamaica
in the 1790: New light on the causes of slave rebellions". William and Mary
Quarterly, vol. 44, nº 2, 1987, pp. 274-299; idem, "Slave
resistance studies and the Saint-Domingue slave revolt: some preliminary
considerations". Occasional Papers Series, Latin American and Caribbean Center,
Florida International University, 1983; e Patterson, Orlando.
"Esclavos y revueltas esclavas: análisis sociohistorico de la primeira guerra
cimarrona, 1665-1740". In: Price, Richard (org.). Sociedades cimarronas.
Comunidades esclavas rebeldes en las Américas. Madrid: Siglo Ventiuno, 1981,
pp. 187-235.
[57] Genovese, op. cit. Para Minas Gerais, ver: Mota, Isadora Moura. O 'vulcão'
negro da Chapada: rebelião escrava nos sertões diamantinos. Campinas:
Dissertação de mestrado em História Social, Unicamp, 2005.
[58] Needell no artigo citado por Marquese faz uma crítica à perspectiva dos
temores e das percepções políticas analisados por: Azevedo, Célia Maria Marinho
de. Onda negra, medo branco. O negro no imaginário das elites Século XIX. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1987; Chalhoub, S. "Medo branco de
almas negras: escravos, libertos e republicanos na cidade do Rio". Revista
Brasileira de História, São Paulo, vol. 8, nº 16, mar./ago., 1988; Gomes, F. dos S. Histórias de quilombolas, op. cit.; Graden, Dale T.
"Uma lei... até de segurança pública: resistência escrava, tensões sociais e o
fim do tráfico internacional de escravos para o Brasil (1835-1856)". Estudos
Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro, vol. 30, dez. 1996, pp. 113-150; e Slenes, Robert W. "'Malungu, ngoma vem !': África coberta e
descoberta no Brasil". Revista USP, São Paulo, n. 12, 1991/1992. Ver ainda: Needell, Jeffrey. "The abolition of the Brazilian slave
trade in 1850: historiography, slave agency and statesmanship". Journal of
Latin American Studies, v. 33, nº 4, nov. 2001.
[59] Andrade, Marcus Ferreira. Rebeldia e resistência: as revoltas escravas na
província de Minas Gerais 1831-840, Belo Horizonte: Dissertação de mestrado,
UFMG, 1996; Araújo, Mundinha. Insurreição de escravos em Viana
1867. São Luís: Sioge, 1994; Mota, op. cit.; Pirola,
Ricardo. A conspiração escrava de Campinas, 1832: rebelião, etnicidade e
família. Campinas: Dissertação de mestrado em História Social, Unicamp, 2005; e Reis, J. J. "Recôncavo rebelde: revoltas escravas nos
engenhos baianos". Afro-Ásia, Salvador, nº 15, 1992, pp. 100-126.
[60] Ver, por exemplo, Beckles, Hilary e Watson, Karl. "Social protest and
labour bargaining : the changing nature of slaves responses to plantation life
in eighteenth-century Barbados". Slavery & Abolition, vol. 8, nº 3, dez.
1987, pp. 282-289; e Craton, Michael. "Proto-Peasant revolts?
The late slave rebellions in the British West Indies, 1816-1832". Past &
Present, vol. 85, nov. 1979, pp. 99-125.
[61] Funes, Eurípides. "Nasci nas matas, nunca tive senhor". História e memória
dos mocambos do Baixo Amazonas. São Paulo: Tese de Doutorado, FFLCH/USP, 1995; e Gomes, F. dos S. História de quilombolas, op. cit. ; e idem, A Hidra e os pântanos: mocambos, quilombos e comunidades de
fugitivos no Brasil (séculos XVII-XIX). São Paulo: Hucitec/Unesp, 2005.
[62] Ver Carvalho, José Murilo de. Teatro de sombras. A política imperial. Rio
de Janeiro: Iuperj, 1988; Reis, J. J. O levante dos Malês, op.
cit.; e Rodrigues, Jaime. O infame comércio. Propostas e experiências no final
do tráfico de africanos para o Brasil(1800-1850). Campinas: Ed. da Unicamp/
Cecult, 2000; e também: Fick, Carolyn. The making of Haiti.
The Saint Domingue revolution from below. Knoxville: The University of
Tennessee Pres, 1990. O debate sobre as proposições de
Genovese continuaram em: Paquete, Robert L. "Social history update: slave
resistance and social history". Journal of Social History, 1991.
[63] Troillot, Michel-Rolph. Silencing the past. Power and the production of
history. Boston: Beacon Press, 1995 (especialmente o cap. 3: "An unthinkable
history", pp. 70-107).