POR UMA HISTÓRIA DA ARTE DE "OBJETOS INCOMPLETOS" — ENTREVISTA COM SÔNIA
SALZSTEIN
O projeto de pesquisa de longa duração “História e crítica de arte hoje:
referências, diálogos”, visa mapear, por meio de entrevistas, as perspectivas
teóricas de alguns dos principais historiadores e críticos de arte em atividade
atualmente no país. A entrevista realizada com Sônia Salzstein, professora do
Departamento de Artes Plásticas da Universidade de São Paulo, inaugurou o
projeto, cuja ideia central é constituir um quadro de referências que orientam
o pensamento sobre arte no Brasil, contribuindo para o trabalho dos estudiosos
de Teoria, Crítica e História da Arte ao revelar modelos teóricos e pontos de
vista que constituem a epistemologia da área entre nós. Do ponto de vista desse
projeto, a História da Arte e a atividade crítica são indissociáveis na
tradição brasileira e, sendo assim, as entrevistas devem contemplar também
convidados externos ao meio acadêmico.
O projeto foi proposto por mim, em 2013, como uma das atividades do Núcleo de
Pesquisa e Mediação do Centro Universitário Maria Antonia, da USP, do qual sou
coordenadora, e realizado com a participação dos estagiários1.
Atualmente, novos estagiários do Núcleo integram as atividades,
que,assim,contribuem para a formação desses alunos,tanto por meio do
aprofundamento no estudo da história e da crítica de arte no cenário brasileiro
e internacional, como por meio do contato direto com os entrevistados, que, ao
enviarem previamente suas referências teóricas, auxiliam na devida preparação
do grupo para a conversa.
Diante do quadro atual de ampliação e especialização do trabalho de críticos,
curadores e historiadores da arte, com a abertura de cursos de graduação,
centros culturais, públicos e privados, e políticas públicas de incentivo a
projetos de publicações e exposições, faz-se necessário um adensamento teórico
da formação desses profissionais. Nesse sentido,pensar sobre como se faz
História da Arte no país hoje também oferece instrumentos para a autorreflexão
e o aprimoramento daqueles que se inscrevem nesse campo de atuação
diversificado.
Considerando que a História Social da Arte e o formalismo são referências
centrais no pensamento sobre arte no Brasil pelo menos desde os anos 1960,
pedimos a Sônia Salzstein que discutisse essas abordagens a partir de sua
própria experiência. O resultado é um depoimento lúcido e uma avaliação extensa
do ambiente artístico, principalmente em São Paulo, apontando o papel atual da
universidade no debate sobre arte, os encaminhamentos da crítica de arte
contemporânea e as transformações e necessidades das instituições públicas
dedicadas às artes visuais, bem como dos desafios colocados para a atuação dos
novos profissionais nos espaços culturais.
Núcleo de Pesquisa e Mediação do Centro Universitário Maria Antonia – Como foi
sua formação como historiadora e crítica de arte?
Embora tenha passado por todas as etapas da vida universitária, julgo minha
formação essencialmente autodidata. Fui montando lacunas, conforme percebia que
elas apareciam. Essa pergunta pressuporia alguém com uma formação mais rigorosa
no campo disciplinar do que aquela que tenho. Fiz uma graduação em uma escola
de artes plásticas,tive interesse por trabalho gráfico e,quando jovem,cheguei a
fazer algumas coisas que hoje não me interessam, mas evidentemente como
diletante. Mais tarde, percebendo que tinha saído da universidade com uma
formação inconsistente, fui para a Filosofia, estudei mais rigorosamente,mas
não cheguei a concluir a graduação,embora tenha feito quatro anos muito
produtivos nos estudos, em termos de escrever, do contato com os professores.
Acabei fazendo a pós-graduação na Filosofia. No Brasil, ela dá um eixo, cria um
quadro de referências importantes, interlocutores. Embora a minha área de
formação seja primordialmente voltada à questão contemporânea, cada vez mais me
senti impelida a ter uma cultura histórica mais sedimentada para descontar a
falta de tradição das universidades brasileiras de um campo disciplinar na área
de arte. Então, titubeei muito, fui para diversas áreas e até hoje estou
tentando melhorar uma formação lacunar.
Entendemos que a História Social da Arte e o formalismo – termo atualmente
controverso – são abordagens centrais até hoje para a História da Arte que se
faz no Brasil. Você poderia falar um pouco sobre essas abordagens a partir da
sua experiência?
Um ensaio dos anos 1970 do T.J. Clark [a entrevistada provavelmente se refere
ao artigo “As condições da criação artística”, de 1974] é um texto importante,
de formação, para tratar desse assunto inclusive em sala de aula. É um texto de
quando ele era razoavelmente jovem, então não sei se ele se diria um
historiador social da arte. Quando o convidamos, através de uma iniciativa
conjunta do Departamento de Artes Plásticas, da Escola de Comunicações e Artes
da Universidade de São Paulo,e do Centro Universitário Maria Antonia,houve até
uma situação curiosa. Perguntei a ele como queria ser identificado nos créditos
do material de divulgação. “Historiador social” parecia-me algo que confina
mais do que aponta para uma intervenção contundente. Assim, chegamos à
conclusão de que seria “historiador com foco em História Social”, embora seja
claro que a tradição marxista, portanto, a tradição de uma História Social da
Arte, tem importância na constituição do trabalho e na própria trajetória
intelectual do Clark. Não sei se ele usaria os mesmos termos hoje.
Antes mesmo de ser traduzido aqui no Brasil, ele já era uma referência muito
importante para mim. Tomei contato com A pintura da vida moderna: Paris na arte
de Manet e seus seguidores (São Paulo: Companhia das Letras, 2004) na versão
original, logo quando comecei a dar aulas como professora convidada no
Departamento de Artes Plásticas da USP, antes de me submeter ao concurso.
Esse livro foi uma descoberta para mim no fim de 1990 e continua sendo uma
referência na abordagem do impressionismo, porque o Clark é um autor com uma
visão muito fina da História Social, fazendo frequentes análises de obras e sem
usar a palavra “contexto”. Essa palavra é sempre perturbadora em autores
ligados à tradição marxista porque sugere que a obra é uma coisa que está fora
do contexto. O Clark tem essa posição que é bastante exigente e rara de se
encontrar na tradição marxista menos sofisticada. No campo da arte, essa
diferença entre abordagens é importante: a tradição da Escola de Frankfurt é
admirável, mas há uma vulgata marxista que é determinista e positivista quando
se debruça sobre arte moderna e contemporânea. O Clark me surpreendeu porque
encontrei nele o argumento social encravado no cerne da obra, pois ele faz a
análise formal da obra aliada a uma percepção sofisticada do trabalho de arte.
Ele consegue destrinchar certas estruturas do trabalho de arte que são
representações formadoras de mentalidades. Essa foi a grande novidade. Apesar
de o Clark ser uma referência importante para meu trabalho, fica sempre uma
interrogação em relação ao desconforto dele em lidar com arte contemporânea,
embora ele transmita muito bem para a política os temas mais contundentes na
situação atual. É curioso que ele não tenha a mesma energia para a arte
contemporânea. Então, fico pensando se há algum instrumental teórico que barre
essa disposição para enfrentar a questão contemporânea.
E o formalismo...
Vou tomar um exemplo didático no sentido mais enfraquecido e mais banal, pois
gosto sempre de comparar, relacionando em sala de aula com os estudantes, a
maneira como Clement Greenberg analisa a lógica do plano,na pintura
moderna,sobretudo nas leituras da pintura francesa desde Manet, passando por
toda a arte europeia das décadas de 1910 a 1930.
A declaração enfática de uma arte de superfície é uma declaração da autonomia
da arte, de um conhecimento que chega à maturidade na Idade Moderna e reclama
seus fóruns sobre a emancipação de outras esferas do conhecimento postulando,
portanto, essa reflexividade. É o mesmo diagnóstico que aparece no trabalho do
Clark, sobretudo na abordagem da pintura parisiense do fim do século, onde há
uma reintegração de uma lógica da superfície. Mas, na compreensão do Clark, é
indissociável a lógica de superfície da própria topografia da cidade moderna,
que é quadricular, sistêmica, onde as relações não são mais os afetos. São
relações anônimas, impessoais. A própria lógica, do ponto de vista do
urbanismo, da atividade construtiva, da arquitetura, da configuração da cidade,
solicita uma lógica de superfície. É muito fina e sutil essa maneira de
encontrar num trabalho de Monet, Manet ou Renoir a percepção da cidade moderna
como um espaço fragmentado e de justaposição, onde as dimensões da ordem, do
arbitrário e do acaso convivem e se complementam. Existe, portanto, a
declaração ostensiva sobre esse espaço raso, que é dado e inconstante, que está
aqui, mas é permutado. É formidável a precisão do diagnóstico, que, aliás, é a
mesma que você encontra no Greenberg, embora se trate de uma visão muito mais
caudalosa e com capacidade de síntese e de apreensão da complexidade do
fundamento cultural que me interessa.
Seria uma história da pintura?
É absolutamente insatisfatória uma História da Arte que se reduzisse à história
da pintura ou a uma história da visualidade porque a própria evidência da
matéria cultural me sinaliza diferentemente. Toda a celebração do novo e do
fragmento na obra do Charles Baudelaire, tanto na poesia como nos textos de
crítica de arte dele, é indissociável da questão do urbanismo, da especulação
imobiliária, da constituição dos grands magasins – a moda é feita pela primeira
vez em escala industrial, não há mais a distinção de classe pelo modo de
vestir; ela ocasiona uma padronização das camadas médias das populações
urbanas. Portanto, essa lógica da justaposição do fragmento está em estruturas
materiais precisas. Seria obtuso dizer que ela é um acontecimento específico na
esfera da arte, embora na esfera da arte se dê problematicamente como uma
espécie de enunciação densa de toda a questão cultural. Essa é a complexidade
que as análises do Clark conseguem nos apresentar.
Há alguma análise de Clark que chame sua atenção por exemplificar essa
abordagem?
Sobretudo, me agrada muito a análise da obra Olympia (1863), do Édouard Manet,
porque demonstra a emergência de uma classe burguesa e a posição da mulher. Ao
mesmo tempo, há uma sutileza do autor em perceber como naquele momento preciso
e na relação de Ma-net com a modelo, de alguma maneira, há quase que uma
resistência daquele corpo a ser objetificado. Há uma insolência no olhar da
moça que a gente sabe que é um cálculo do pintor – em qualquer posição de que
se olhe para a obra, ela está sempre olhando para você de cima para baixo.
Parece uma indicação de que talvez ela não esteja se expondo como uma
mercadoria à venda, talvez ela tenha se assegurado de escolher o cliente. É um
partido tomado pela análise do Clark nesse livro.
Ainda dentro da tradição marxista, há todo o trabalho do Theodor Adorno sobre
indústria cultural. É um tipo de embocadura que me parece verdadeira,
descontada do pessimismo e da desqualificação de tudo. Entretanto, o que não me
parece satisfatório na maior parte das abordagens de esquerda que continuam a
se produzir hoje é um ranço de determinismo. Há uma certa visão condescendente,
uma mania de baratear a visão da arte. A arte é vista como algo sempre a
posteriori, da ordem da representação, ou seja, o trabalho de arte é sempre
tomado como documento de alguma outra coisa.
Como você chegou a essa conclusão?
Falo pensando nas minhas experiências mais recentes, do ponto de vista mais
rigoroso de leitura acadêmica, realizadas principalmente durante a preparação
do seminário internacional “Picasso: outros critérios” [realizado no Centro
Universitário Maria Antonia – USP, em novembro de 2012].
Acabei consultando muitas bibliotecas virtuais, ficando meses na internet em
arquivos digitais e procurando jovens autores para elaborar um mapeamento de
quem estivesse escrevendo coisas novas e importantes sobre o Picasso. É curioso
que dos anos 1980 para cá se produziram coisas importantes, se renovou a
literatura sobre o modernismo, inclusive com a vinda à tona de documentação
inédita sobre o construtivismo russo depois da queda do Muro de Berlim e da
reconfiguração geopolítica mundial, com o acesso de pesquisadores do mundo
inteiro aos arquivos da União Soviética. Sobre Picasso e Matisse, há muita
coisa importante.
Durante essa pesquisa, tive contato com o trabalho tanto de autores que me
pareceram suficientes, como de outros, insuficientes. Há, por exemplo, estudos
importantes sobre as colagens mostrando que, nos trabalhos do Picasso do começo
da década de 1910, os fragmentos de jornais e periódicos não são aleatórios. Há
toda uma narrativa da situação – uma situação grave, que antecede a Primeira
Guerra Mundial – na escolha desses papéis. Porém, a autora tem uma explicação
muito mecanicista: não traça a biografia de um Picasso militante social e acaba
fazendo um discurso eloquente das mensagens políticas, de uma carga ideológica
da qual as colagens seriam portadoras. Evidentemente, é uma informação para um
estudante de arte saber, mas providenciar uma explicação ideológica também é
empobrecedor.
Por outro lado,há os que se posicionam na linhagem “greenberguiana”. Um autor
importante, que tem que ser lido pelos jovens que se interessam por arte, é o
Michael Fried. Ele lançou há uns quatro anos um livro sobre fotografia que me
parece uma abordagem absolutamente insatisfatória, tecendo uma mesma mística da
autonomia,da pura visualidade em torno da fotografia, a mesma que se constituiu
em torno da pintura nos moldes “greenberguianos”. Fried tenta explicar a
emergência da fotografia no trabalho de arte contemporânea como uma espécie de
reivindicação de uma pureza da visão. Estou tomando, portanto, dois exemplos: o
de uma crítica rebaixada, calcada em uma tradição marxista, e uma crítica
calcada em uma linhagem “greenberguiana”,que me parece insustentável.
Portanto, não é mais possível construir quadros muito seguros de abordagem da
questão cultural. É preciso, modestamente, reconhecer a insuficiência ou as
presunções de pureza ideológica desse campo disciplinar estabelecido, sem abrir
mão dos avanços.
É impossível um estudante de arte não passar por um Greenberg, assim como ele
não pode deixar de passar por um Michael Fried, embora não existam quadros
teóricos seguros. A pretensão de construir teorias da arte sempre corre um
risco de charlatanismo, de mistificação. Os textos do Arthur Danto são
importantes, mas dizer que a arte finalmente morre porque ela se transforma em
filosofia é um diagnóstico que não se sustenta. Não é que ela morra, mas se
transforma em um império, um conceito, um pensamento, o artista agora elege
qualquer objeto. Esse diagnóstico acaba sendo triste muito mais pela condição
de prestígio que o marketing adquire, que a indústria do entretenimento
adquire, do que propriamente algo que diga respeito a um novo estatuto teórico.
Trata-se de uma pretensão generalizante. É preciso ter um pouco de humildade e
lidar com as coisas mais no “caso a caso”. Por conta disso, tenho dificuldade
até para nomear o que faço.
Você não se considera uma crítica de arte?
Durante muito tempo, desde quando comecei, eu me declarava crítica de arte.
Entretanto, faz alguns anos que, exceto por algumas situações muito esporádicas
em que escrevi sobre um ou outro artista que me ocorreu – pois continuo
acompanhando trabalhos de artistas que são importantes para a minha formação –,
não tenho desenvolvido essa atividade. Não vejo mais a mesma importância que a
crítica já teve no Brasil, especificamente, desde o começo do século, passando
por Mário Pedrosa e Ferreira Gullar. Nos anos 80, seguramente, Ronaldo Brito e
Rodrigo Naves. Essa situação se explica em face de uma fragilidade da tradição
universitária na área de arte no Brasil, mas hoje em dia nós conseguimos ver
com mais clareza que essa situação repercute, também, globalmente. Ela tem um
certo lastro em fenômenos históricos locais, mas também surge de um campo de
forças global. Dos anos 2000 para cá, me surpreende como aumentou o interesse
pela arte. Há muita gente jovem querendo pensar arte, escrever sobre arte. O
que mais me surpreende é como essa nova produção sobre arte contemporânea
praticamente varreu do mapa qualquer interesse por arte moderna. É como se
houvesse uma dissociação lancinante entre o que se fazia cem anos atrás e o que
se faz agora. Essa indiferença à experiência histórica me causa perplexidade.
Por que não colocar em contraste fenômenos heterogêneos? Por que a arte
holandesa do século XVII não deve interessar a um jovem artista? Falta um
interesse pela perspectiva histórica, por um olhar verticalizado, pela
experiência da análise comparativa não só no recorte da atualidade. Faltam
análises sobre a arte brasileira e por contraste, sobretudo, com experiências
cosmopolitas, como é o caso da Argentina, Venezuela, Uruguai. A literatura
sobre arte contemporânea se ressente dessa indiferença.
Como você vê o percurso da crítica no Brasil desde 1960 – Aracy Amaral, Walter
Zanini, Rodrigo Naves, Ronaldo Brito? Você não se inclui nesse percurso?
Não, pois estou muito distante. Não nos interesses, mas do ponto de vista de
intervenção pública. Minha última grande pesquisa foi sobre a obra do Alfredo
Volpi, publicada em livro pelo Centro Universitário Maria Antonia.
No começo dos anos 70, o meio de arte se profissionalizou,alguns arquivos se
organizaram. Pesquisou-se a obra da Tarsila do Amaral. A universidade, bem ou
mal, formou quadros, embora nem sempre seja o elemento a garantir uma boa
formação. Essa jovem geração, por exemplo, busca se virar por conta própria.
Trabalha com cultura, e esse contato bruto com o meio cultural me parece
salutar.
Como disse, não sei se posso falar com muita autoridade, pois não estou
acompanhando muito de perto o meio, muito voltada para o trabalho interno na
universidade. Já tive uma atividade muito mais intensa de falar publicamente,
dar conferência, fazer curadorias, e estou agora numa situação mais recolhida.
Estou em contato com uma jovem geração, um trabalho de formação, um trabalho
mais “interno”, digamos. Portanto, talvez não tenha conhecimento específico
sobre o que tem sido feito, mas, evidentemente, sou sensível ao meio e sei que
muita coisa tem sido feita. Essa jovem geração tem recursos estimulantes, como
sites sobre século XIX, a digitalização de bancos de informação de documentos
etc. No entanto, é um enorme desafio que há pela frente porque, ao mesmo tempo
em que houve essa profissionalização, que há quadros muito mais aptos e
profissionalizados para trabalhar com arte, por outro lado, houve uma
desagregação grande e importante de projetos culturais. É um desafio para
vocês, pois muitos dos espaços culturais atuantes dos anos 1980 para cá não
possuem acervo e frequentemente não têm projetos.E seguramente é nesses lugares
que vocês vão trabalhar!
Seria necessário providenciar uma conexão entre acervos e a experiência
sensível do trabalho de arte, pois esses espaços correm o risco de se tornarem
espaços geridos só por uma lógica de consumo, por uma relação de usuário e
prestador de serviço. Sendo assim, é preocupante essa proliferação de espaços
culturais e da ansiedade de militância que acompanhou o discurso sobre arte
especialmente desde os anos 2000, porque causou também a dissociação com a
experiência sensível do trabalho. Houve uma ansiedade muito grande para uma
ação e se perdeu a dimensão da elaboração. Essa ansiedade acabou elidindo a
exigência dessa decantação. Um dos sintomas talvez seja essa dissociação que se
encontra nos textos sobre a cultura contemporânea, nos quais as pessoas falam
só das coisas que aconteceram no último ano. É uma cronologia muito rasa,
superficial. Há um interesse posto, muita gente preparada, porque se criaram
departamentos de artes visuais nas grandes universidades brasileiras, e é
necessário um esforço para descompartimentar essa produção porque ela fica
muito confinada.
Precisaria haver uma repercussão do trabalho universitário de toda essa geração
que se preparou no tipo de ação intensa que resultou na criação de inúmeros
espaços culturais, que mobiliza a opinião pública, recursos públicos e
privados. É preciso intervir nessa dissociação entre uma massa impressionante
de eventos e a pouca possibilidade de intervenção de quadros preparados para
tomar decisões. Portanto, há pouca decisão sendo tomada, pouca forma sendo
burilada, pouca coisa sendo formalizada, para usar um termo importante na
História da Arte.
Esse diagnóstico diz respeito apenas ao meio artístico local?
Não, é geral. Não tenho uma experiência tão grande, nunca vivi fora do Brasil,
mas, pelo contato que tenho com o meio universitário, essa desqualificação do
passado, de algo que tenha uma espessura histórica, é geral. Você encontra
pouca gente, por exemplo, como o crítico Yves Alain-Bois, que é um crítico que
fala com desenvoltura sobre Manet, Barnett Newman, e sobre uma artista
contemporânea, como a Sophie Calle. É alguém que se põe nos diversos registros
e que, embora tenha uma cultura importante sobre o modernismo e uma cultura
histórica sofisticada, tem interesse pela situação contemporânea. A geração
dele circulou com muita desenvoltura, como a Rosalind Krauss, que consegue
escrever admiravelmente bem sobre o Auguste Rodin e, ao mesmo tempo, Richard
Serra. Trata-se de uma embocadura de visão. Não estou só falando de uma
cronologia, estou falando de acolher objetos muito heterogêneos. O que me
preocupa é o estreitamento do campo, se estamos sendo muito reativos às coisas,
muito sintomáticos em vez de sermos propositivos. Essas fronteiras que se
demarcaram entre o que é moderno e o que é contemporâneo – ao ponto de
contemporâneo virar quase um adjetivo – isso não é algo que se possa escolher.
Não há outro destino além de ser contemporâneo.
Como foi a discussão feita no seu mestrado, nos anos 1990, no qual você
confronta a produção artística e as instituições legitimadoras no Brasil?
O mestrado foi uma experiência importante. Meu interesse pela arte surgiu de
uma inquietação política. Eu era estudante nos anos 1970, um momento grave e
soturno, muito deprimido culturalmente e, portanto, difícil para se ser jovem.
Na verdade, deprimido-recalcado, porque tinha muita coisa vibrando por dentro.
Esse trabalho, então, focaliza de uma maneira privilegiada a experiência do
Centro Cultural São Paulo (CCSP) quando organizei um trabalho coletivo com uma
equipe estimulante – com Fábio Miguez, Célia Euvaldo, Paulo Monteiro. O círculo
foi se imantando, aumentando, trazendo camadas cada vez mais externas,
heterogêneas, pois a ideia do Centro Cultural é sempre colocar em contato
objetos muito díspares, “descaipirizar” um pouco aquela coisa paulista de ter
núcleos muito endógenos. Portanto, naquele momento, trazer Leonilson, de um
lado, e Nuno Ramos, de outro, eram expressões de campos bastante heterogêneos.
Hoje em dia pode não parecer, mas, naquele momento, recolhia dimensões
apartadas da realidade artística. E havia a pretensão de ser brasileira. Quando
a coisa funcionou bem, a gente começou a convidar gente de fora de São Paulo.
Então, a dissertação de mestrado sistematiza o trabalho que pôde tomar um curso
mais constante e se concretizar, amadurecer, porque havia essa solicitação do
meio cultural pelo adensamento da ação cultural.Eu já tinha tido algumas
passagens por órgãos públicos,sempre com uma vontade de pensar a arte a partir
dessa solicitação de uma intervenção de maior curso em uma realidade cultural.
Assim,embora a dissertação seja ancorada na experiência do CCSP, ela fechava
toda a expectativa política de uma geração que se torna adulta em meados dos
anos 1970. O trabalho institucional no CCSP me enfeixava a outras experiências
igualmente marcantes na minha vida: uma assessoria que fiz de alguns anos para
a Funarte, viajando sempre para o Rio de Janeiro, opinando muito sobre editais,
críticas e organizando muitos salões. Nos anos 1980, os salões tiveram um papel
importante na reordenação da vida cultural brasileira. O Salão de Minas Gerais,
em Belo Horizonte, era o mais importante culturalmente. Os salões de Brasília,
São Paulo e Rio de Janeiro trouxeram à tona o trabalho de muita gente. Isso me
deu experiência que, no CCSP, pôde tomar um outro fôlego articulando-se e
encontrando uma ocasião política favorável – foi o primeiro governo do PT, que
teve uma importância na renovação política. Também foi a primeira mulher a
assumir a prefeitura de uma grande cidade brasileira.Era um momento de muita
descoberta, um momento muito vigoroso culturalmente e bastante marcante para
mim.
E como era sua relação com a História da Arte?
Eu sempre me vi muito mais como crítica de arte, e isso talvez tivesse algo de
uma autoindulgência, pois eu achava que de um crítico se esperava beligerância,
inquietação, inconformismo, mas não necessariamente uma formação intelectual
rigorosa. O convívio mais profundo com a História da Arte veio muito depois,
por causa do meu trabalho como professora no Departamento de Artes Plásticas da
ECA-USP. A partir do final da década de 1990, comecei a estudar por conta
própria História da Arte porque dava aulas sobre Florença no século XV. Então,
estava dando aula sobre materiais que havia aprendido na noite anterior. Ainda
faço isso, não deve ser tão chocante! Mas sempre tive essa visão do trabalho de
crítica como uma intervenção muito presente que se dava pela oportunidade. A
preocupação com a formação acadêmica mais consistente foi posterior, e espero
que tenha agregado. Durante os quinze primeiros anos da minha atuação como
crítica, fui muito movida pelo desejo de intervir aqui e agora. Por conta dessa
busca de um domínio rigoroso, eu me vi forçada a ter uma biblioteca
razoavelmente vasta sobre Renascimento, Barroco etc. É um luxo que a gente se
dá aqui no Brasil, mas que pude me dar já tendo uma trajetória de alguns anos
de atuação como crítica. O risco de falar de si mesmo e do seu passado é o
risco de você edulcorar a origem. Mas, de todo modo, era preciso se pronunciar
politicamente; não era uma escolha, era uma condição de vida. Não era possível
ler o que se quisesse, então consultávamos pessoas mais velhas para emprestar
livros. Éramos jovens, não tínhamos domínio de outras línguas, então líamos
Adorno e Marx em espanhol. Havia toda uma tradição de esquerda que era proibida
durante a ditadura militar e por isso era fundamental se posicionar. Faço parte
de uma classe média que conseguiu colocar os filhos na universidade, um fato
novo. Os primeiros filhos de classe média que saem de universidades são dos
anos 1960 e 1970, são eles que se insubordinam contra os pais, contra o torpor
repressivo de uma vida burguesa. Todos vivíamos uma realidade familiar
sufocante e era preciso romper com o tipo de vida dos pais. Era preciso se
livrar de alguma coerção porque havia sempre um cabresto sendo colocado em
você, não só pela situação política geral, mas pelos costumes. A gente aprendia
a se tornar um adulto independente dizendo não, brigando muito com seja lá quem
for. Esse mau humor deve ter marcado uma geração.
Ainda há um descompasso entre a produção artística e as instituições culturais
que você anuncia no seu mestrado?
Não,nunca houve tanta adesão! Nunca houve tanta política oficial, política
pública para incentivar a produção de jovens artistas e curadores. Enfim, claro
que é bom, não estou dizendo que a situação da privação era boa. Mas acaba
trazendo outra ordem de poder. Não acho que você contribuir para a formação de
um jovem artista seja apenas prover espaços de exposição. A exposição adquire
uma importância social, cultural, absolutamente desproporcional, uma
fetichização. A exposição deveria ser a culminação de um processo. Além
disso,acontece muita coisa em termos de arte que não se resume à exposição: a
instância do colecionador, a universitária, a instância do jovem pobre que não
tem um ateliê e a da arte quando ela aparece na cidade, quando ela é instalada
em locais públicos. Há um processo complexo que envolve interlocutores sociais
e obstáculos sociais que a situação da exposição não consegue enunciar.
Então, me parece absolutamente tolo que haja quase que uma “filosofia das
exposições”. Abrem-se cursos universitários de curadoria. Não se trata apenas
de ter bons curadores, o que é ótimo, mas é bom ter pessoas formadas
intelectualmente, rigorosamente formadas, que possam atuar como curadores e
eventualmente também na retaguarda de um espaço cultural, não necessariamente
fazendo exposição. É curioso e sintomático que a exposição tenha se tornado um
objeto. Atualmente, a gente lembra muito mais o nome da exposição e o trabalho
de arte que foi mostrado do que o artista.
Ao compreender a situação cultural como se ela pudesse ser enunciada em uma
agenda de exposições, perde-se a dimensão do processo que envolve a produção de
conhecimento e que emboca a produção cultural propriamente.Por que se pensa que
é importante formar curadores, mas não arquivistas, educadores, montadores de
exposição, gente com experiência naquilo que se chama de expografia? Ou seja,
há uma complexidade na maneira como o conhecimento se produz na situação
contemporânea e é preciso sensibilizar as pessoas jovens para essas áreas. A
exposição é um dos objetos; entretanto, o campo editorial é também um campo que
exponencialmente se amplia com o mundo digital. Precisamos formar gente para
ocupar e intervir em todos esses espaços. É quase uma mistificação descrever as
grandes preocupações só como se fosse a curadoria, na verdade, é nesse momento
que se leva uma proposição ao público em uma situação institucional.
Como você vê os métodos, abordagens ou pontos de vista atuais da História da
Arte praticada no país?
É um lugar onde tudo está por fazer, tudo pede para ser reordenado,
reconfigurado. Deveríamos encarar com mais sobriedade e realismo essa modéstia
de não pretender mais essas grandes generalizações, os pontos de vista
totalizantes. Isso é uma particularidade brasileira, pois gostamos muito do
Giulio Carlo Argan. Todos os departamentos de artes visuais recomendam o Argan,
que é um autor com um resquício e uma nostalgia da arte moderna. Por muitos
anos, eu repetia para os alunos, logo que começava a dar aula: “Dois artistas
referenciais para a arte do século XIX: de um lado, Vincent Van Gogh e, de
outro, Paul Cézanne”. Nesse grande compêndio que é o Arte moderna: do
Iluminismo aos movimentos contemporâneos [São Paulo: Companhia das Letras,
1992], há uma formulação do Argan de que a arte moderna é uma culminação de
duas fontes antagônicas postas por esses dois artistas.De um lado, esse clamor
de inconformismo informe que é o Van Gogh e, do outro, as correntes
construtivas, que seria o Cézanne. Com o tempo, fui percebendo como era
limitadora, sobretudo nas aulas sobre o próprio Cézanne, a descrição desse
trabalho como movido somente por um ânimo construtivo. Há muito vazio, há muito
interstício na pintura do Cézanne, e por isso é importante perceber as
dimensões de desconstrução do trabalho. O Argan, ainda que seja um historiador
muito fino, que fornece tantas pistas importantes para pensarmos o presente,
tem algo dessa nostalgia do moderno que nos confina, nos delimita, impede que a
gente tenha uma visão mais livre do presente. Dessa convivência de construção e
desconstrução no Cézanne, e talvez no Van Gogh, há uma matéria que é amassada.
É um esforço titânico para não deixar o mundo escorrer, então posso dizer que
há construção também no Van Gogh.
Nós começamos a nossa conversa falando da insuficiência do campo disciplinar, e
talvez pareça contraditório reclamar uma embocadura de visão, ou seja, reclamar
que a gente não se interesse pelas coisas que foram feitas nos últimos doze
meses, ao mesmo tempo em que é uma condição de trabalho essa embocadura. Mas
solicito esse abrir mão da possibilidade dos grandes diagnósticos e das grandes
categorias. Espero que não sejam entendidos como contraditórios estes pleitos:
abrir mão dessa pomposidade e da visão monumental para se debruçar mais
modestamente sobre os objetos incompletos, mais rente sobre eles.
A Ana Avelar havia usado a palavra “metodologia” antes de iniciarmos a
gravação, mas não sei se essa palavra é boa porque “metodologia” parece que é
um instrumento neutro ao qual você recorre, e não há essa distinção entre o que
é meio e o que é fim no trabalho de compreensão. Para mim, são muito mesclados
os processos aos quais recorremos para compreender. É o próprio objeto que
sinaliza e que não pode ser abstraído. Eu me esquivaria de responder sobre
metodologia, embora todos os pedidos de verbas para agências federais perguntem
sobre metodologia. É um ranço positivista de cultura universitária: você finge
que está respondendo sobre metodologia. Não há uma instância de metodologia à
qual se recorre como se fosse um elenco de procedimentos que seja líquido e
certo.
Você identifica na História da Arte no Brasil uma “grande narrativa” nos moldes
modernos?
Nós não temos uma grande narrativa, e não sei se isso é uma insuficiência, pois
não sei se é bom ter uma grande narrativa. Talvez o problema brasileiro seja
que ainda não produzimos uma narrativa forte, convincente, que seja
multifacetada. Não estou dizendo que deva haver uma modelar, que sirva de
padrão, mas talvez nos falte ainda essa tarefa de percebermos uma articulação
cultural. Todas as pesquisas que foram feitas sobre os movimentos construtivos
dos anos 1950, não só no campo das artes visuais, mas também na arquitetura, no
cinema e até na música popular, produziram uma sistematização de bibliografia
sobre esse período. Isso demonstra que esse período é um capítulo importante no
século XX para qualquer História da Arte que se escreva, não só para a arte
brasileira. Você não pode passar sobre a modernidade sem falar como, por
exemplo, a bossa nova se apropria das raízes do samba, da música popular, do
jazz, e se irradia. Ao mesmo tempo em que tem um calor e uma espessura local
forte, ela consegue se universalizar. A respeito desse período já há muito
material importante consolidado. Entretanto, o empenho de vocês, que estão com
essa responsabilidade que está se apresentando hoje, talvez seja justamente
desconstruir essa ideia de grande narrativa. Talvez “construir uma grande
narrativa” tenha se tornado uma banalidade. Não é o caso de supor que se ponha
agora a tarefa de escrever histórias nacionais, histórias da modernidade
nacional em cada país porque isso é uma tolice, embora existam, seguramente,
modernismos. Esse foi um dos motivos pelos quais propus ao T.J. Clark dar esse
título ao livro dele [Modernismos: ensaios sobre política, história e teoria da
arte. São Paulo: Cosac Naify, 2007], pensando em uma visão multifacetada, mais
complexa do que terá sido a experiência da modernidade no século XX fora dos
grandes centros. Esse é um horizonte de ação importante para a arte brasileira:
compreender melhor as articulações no século XX, os momentos em que ela
culmina, em que ela formaliza, ganha essa consistência, se apresenta como um
capítulo no cenário internacional da pintura. É necessário esse trabalho de
sistematização.
Essa perspectiva nacionalista aparece em que momentos da História da Arte no
Brasil?
Há um clima de revisionismo militante a partir dos anos 1980, como se as
histórias nacionais pudessem ser uma resposta. Existem momentos importantes da
nossa História da Arte, mas eles não se explicam à luz de uma lógica
nacionalista, embora componentes de um nacionalismo, sobretudo no caso
brasileiro, sejam certamente relevantes. Você não vai encontrar um modernismo
uruguaio, um modernismo colombiano, um modernismo equivalente a cada nação
latino-americana.
Mesmo para a arte brasileira, há um momento culminante nos anos 1950 e 1960,
mas não sei se esse momento culminante se repetirá ao longo do século XX – me
parece que não. Não quer dizer que tenha havido um declínio, pode querer dizer
que tenhamos ingressado num certo ritmo de normalidade, estamos tão em sintonia
com o cenário internacional que não surpreendemos mais com uma manifestação
porque conquistamos uma qualidade média. Em um dos eventos que organizo com o
grupo de estudantes de graduação e pós-graduação no Departamento de Artes
Plásticas desde 2005, convidamos a crítica de arte indiana Guita Kapuri, acho
que em 2007 ou 2008, para dar uma palestra sobre o modernismo na Índia na
década de 1920.
São assuntos que a gente desconhece e que é importante a gente saber porque
provavelmente é alguma experiência que possui uma conexão com a dimensão
cosmopolita da experiência moderna, dos grandes centros, mas que, ao mesmo
tempo, tensiona algo da experiência cultural indiana. Conhecer o presente
pressupõe também essa visão mais livre. Se fez muito proselitismo, muita
militância, mas não se colocou nada no lugar. Desconstruir as grandes
narrativas não basta porque isso pode ser um rancor, um ressentimento. Então,
que a gente se lance agora à tarefa construtiva de compreender o que se
constitui, porque de outra maneira fica muito compensatório! Ao desconstruir as
grandes narrativas, você acaba construindo uma narrativa que é reativa à grande
narrativa. Minha expectativa é que a gente saia dessa lógica maniqueísta.
Para finalizar, quem você considera seus interlocutores?
No livro Art since 1900 (Londres: Thames and Hudson, 2004), os autores,
herdeiros de uma tradição marxista,que se lançaram à análise e à crítica da
situação contemporânea, expõem de onde falam – Rosalind Krauss, Hal Foster,
Benjamin H.D. Buchloh etc. Yve-Alain Bois, evidentemente, vem do
estruturalismo; um outro, da psicanálise; a Rosalind Krauss, também do
estruturalismo. Hal Foster dialoga um pouco com a tradição marxista, combinada
à psicanálise e à Escola de Frankfurt.
Eu não conseguiria delimitar fronteiras muito nítidas nem dosar minhas
referências teóricas. Para um pensamento crítico, não há como não partir da
Escola de Frankfurt. Até para avançar, para sair da ranzinzice, daquela
operação negativa, daquela depressão.
Ao contrário desses teóricos, não saberia escrever uma introdução para falar de
onde parto, o que não me tranquiliza, mas entendo que essa ambiguidade é
constitutiva do momento presente. Em vez de tentar fazer prospecções e
previsões,o que seria mistificador,o momento recomenda sobriedade, modéstia.
Mas vamos lá, vamos continuar brigando, embora agora a briga maior seja comigo
mesma.
[1]Da preparação e execução desta entrevista participaram os estagiários Ana
Carolina Roman, Caio Guedes, Leandro dos Santos, Mariana Cobuci e Irana
Magalhães, além de Thiara Grizilli. Agradeço a João Bandeira, coordenador de
Artes Visuais do Centro Universitário Maria Antonia, pelo apoio às atividades
do Núcleo e, em especial, ao projeto.
Accepted: April 30, 2015
Ana Cândida de Avelar é professora adjunta de Teoria, Crítica e História da
Arte do Departamento de Artes Visuais da UnB. Coordena o Núcleo de Pesquisa e
Mediação do Centro Universitário Maria Antonia, da USP, e é crítica de arte e
curadora.