O desenvolvimento sustentável em unidade de conservação: a "naturalização" do
social
Introdução
O desenvolvimento sustentável foi institucionalizado como solução para a
resolução de "problemas" causados pela ocupação humana em unidades de
conservação (UC), um dos aspectos polêmicos na administração de áreas
protegidas.
A proposta de delimitação de áreas protegidas sem ocupação humana, presente na
criação dos primeiros parques nacionais, foi gradativamente modificada pela
inexorável presença da sociedade no espaço que se pretendia proteger. A
aceitação da ocupação humana em áreas protegidas ocorreu via a regulamentação e
o controle do uso dos recursos naturais. No entanto, a ineficiência dessa
solução manteve sem resposta uma questão essencial para as atuais unidades de
conservação, isto é, o problema de como executar a conservação da
biodiversidade, objetivo principal da conservação, mantendo a ocupação humana
em seu interior. Atualmente, a resposta dos diversos agentes envolvidos com a
gestão de áreas protegidas refere-se à promoção do desenvolvimento sustentável.
Isto pode ser observado no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC),
instituído em 2000.
O SNUC é o resultado de uma década de debates e enfrentamento de interesses que
envolveram ambientalistas, cientistas, organizações não-governamentais (ONGs),
representantes de populações tradicionais, organizações ambientalistas
internacionais, organizações privadas, entre outros. Durante este período, a
ocupação humana em unidades de conservação foi bastante discutida. A saída
encontrada seguiu diretrizes internacionais sobre unidades de conservação,
adotando a proposição de uso sustentável dos recursos naturais (Lei 9.985/2000,
Art. 2º. II).
Partindo da idéia de uso sustentável, o SNUC estabelece como um de seus
objetivos "promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos
naturais" (Idem, Art. 4º. IV). Assim, incorpora a noção de desenvolvimento
sustentável da II Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (UNCED), conhecida como Rio-92.
Mas, antes mesmo do SNUC, a idéia de uso sustentável dos recursos naturais já
se manifestava em certas categorias de unidade de conservação no Brasil, desde
os anos de 1980. Além disso, principalmente após a Rio-92, uma série de
projetos de conservação e desenvolvimento passaram a ser executados em unidades
de conservação na esteira do desenvolvimento sustentável, envolvendo ONGs
ambientalistas.
Embora tenha sido adotada como uma saída consensual para solucionar problemas
relativos à ocupação humana em unidades de conservação, a utilização
generalizada da noção de desenvolvimento sustentável requer cautela. Instituída
como solução para o dilema entre desenvolvimento socioeconômico e conservação
ambiental, apresenta problemas relacionados ao próprio conceito de
sustentabilidade e às dificuldades da sua execução (ecológica, social e
econômica) no sistema capitalista.
A análise de propostas de desenvolvimento visando à conservação em unidades de
conservação pode contribuir para a identificação de elementos que questionem a
funcionalidade, as contradições e os limites do desenvolvimento sustentável,
envolvendo, em última instância, a reflexão sobre a relação entre a sociedade e
o ambiente. Este artigo apresenta o caso da Área de Proteção Ambiental (APA) de
Guaraqueçaba, localizada no litoral norte do Paraná, onde o uso e o
desenvolvimento sustentáveis foram propostos por sua administração (órgãos
governamentais ambientais em parceira com ONGs ambientalistas) no sentido de
solucionar os conflitos entre a conservação e o uso dos recursos naturais
realizado pela pequena agricultura local. Em Guaraqueçaba, a solução encontrada
fundamentou-se numa perspectiva de articulação entre a sociedade e o ambiente,
caracterizada pela "naturalização" da sociedade.
A ocupação humana em UC: da exclusão ao desenvolvimento sustentável
Os objetivos estéticos e científicos que justificaram a criação das primeiras
áreas protegidas ' os parques nacionais, a partir do final do século XIX ' eram
considerados incompatíveis com a ocupação humana em seus limites (Brito, 2000).
A partir dos anos de 1970, essa perspectiva foi sendo substituída pela
possibilidade de manutenção da ocupação humana em áreas protegidas mediante o
controle do uso dos recursos naturais. Isso pode ser observado na mudança das
diretrizes de organismos internacionais, particularmente da União Internacional
pela Conservação da Natureza (UICN), referência internacional das diretrizes
das áreas protegidas (Idem). Na década seguinte, a UICN condicionou a ocupação
ao uso sustentável dos recursos naturais, garantindo assim a prioridade da
conservação (Diegues, 2000).
A Unesco elaborou, em 1971, o programa Man and Biosphere (MAB), cujo objetivo
era encontrar uma relação de equilíbrio entre desenvolvimento econômico e
conservação ambiental. Este programa definiu, em 1976, o conceito de Reserva da
Biosfera como forma de alcançar a "otimização da relação homem-natureza". Tais
reservas seriam "exemplos de gestão harmoniosa de diferentes culturas [...]
sítios de experimentação do desenvolvimento sustentado e [...] centros de
monitoramento, pesquisa e educação ambiental" (Brito, 2000, p. 29). Por meio do
zoneamento,1 seriam preservadas áreas sem ocupação humana, cercadas por "zonas-
tampão", que poderiam ser habitadas.
Essas propostas respondiam aos efeitos perversos da exclusão de populações que
viviam nos parques, uma vez que o seu deslocamento e as restrições de uso de
recursos naturais em áreas protegidas demonstraram ser uma ameaça à reprodução
de populações consideradas tradicionais, geralmente já castigadas pela pobreza
(Idem). Além disso, observou-se que nem sempre as práticas produtivas dessas
populações eram incompatíveis com os objetivos da conservação (Diegues, 2000).
Paralelamente, os debates relativos às causas sociais da crise ambiental e à
contradição entre crescimento econômico e conservação ambiental desenvolviam-se
em conferências internacionais, cujos temas diziam respeito aos limites do
crescimento econômico, aos impactos da pobreza na degradação dos recursos
naturais e às possibilidades do ecodesenvolvimento (Nobre, 2002).
O Brasil incorporou as reflexões sobre ocupação humana em UC, seguindo o
programa Man and Biosphere, a partir dos anos de 1980. Diante da cobrança de
organismos internacionais para uma postura mais efetiva do país voltada à
conservação ambiental, o Brasil elaborou, pois, sua primeira proposta de
criação de um Sistema Nacional de Unidades de Conservação, com categorias nas
quais o uso sustentável era permitido (Brito, 2000).
Nesse mesmo período, a proteção ambiental passou a ser enfocada a partir do que
denominamos ecologismo social ou socioambientalismo, ou seja, diversos
movimentos sociais começaram a considerar a questão ambiental uma de suas
causas (Diegues, 1998; Leis e Viola, 1996). Assim, desencadearam-se propostas
para o extrativismo e a agricultura ' atividades que permitiam a reprodução de
populações tradicionais ', mantendo seu acesso aos recursos naturais e sua
participação no planejamento e na gestão das unidades de conservação. A Reserva
Extrativista (Resex), criada em 1990, constituiu-se dentro desse contexto e,
atualmente, é a principal categoria utilizada para conservação em áreas
ocupadas por populações tradicionais.
A constatação da compatibilidade entre o uso dos recursos naturais e a
conservação ambiental foi reafirmada em estudos sobre essas populações
realizados pelo Núcleo de Pesquisas sobre População Humana em Áreas Úmidas
Brasileiras (NUPAUB) da Universidade de São Paulo a partir de 1987. Esses
estudos foram importantes não só para analisar as especificidades da relação
entre sociedades tradicionais e meio ambiente, como também para identificar os
problemas socioeconômicos decorrentes da delimitação de áreas protegidas.
Dentre eles, destacam-se os conflitos entre população local e órgãos de
conservação, resultantes das restrições às práticas tradicionais de uso dos
recursos naturais necessários à reprodução socioeconômica dessas populações.
Na década de 1990, o desenvolvimento sustentável passou a ser utilizado como
referência para resolver problemas e conflitos relativos à ocupação humana em
unidades de conservação. Na conferência Rio-92, oficializou-se a noção de
desenvolvimento sustentável, definida no Relatório Brundtland, em 1987, como
paradigma para o desenvolvimento socioeconômico aliado à conservação dos
recursos naturais. O Estado brasileiro e outros países signatários da Agenda 21
Global2 assumiram o compromisso de adotá-la como orientação para suas políticas
de desenvolvimento.
Ao mesmo tempo, sob a ótica da promoção do desenvolvimento sustentável e
seguindo ainda as diretrizes internacionais, um número significativo de ONGs
ambientalistas em parceria ou não com órgãos governamentais envolveu-se na
questão relativa ao desenvolvimento socioeconômico. Essas instituições
propuseram e/ou realizaram ações voltadas para o aumento de renda ou a melhoria
da qualidade de vida de populações em unidades de conservação, cujo uso dos
recursos naturais era considerado incompatível com a conservação (Teixeira,
2004).
O atual SNUC incorporou o desenvolvimento sustentável, e as áreas em questão
passaram a ser denominadas Unidades de Uso Sustentável,3 das quais fazem parte
a Resex e a APA. Essas unidades objetivam "compatibilizar a conservação da
natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais" (Art. 7º
§ 2º), mediante plano de manejo elaborado por uma equipe técnico-científica.
Posteriormente à proteção da diversidade biológica, dos recursos genéticos, das
espécies ameaçadas e da diversidade dos ecossistemas, o SNUC estabelece ainda
outras regulamentações que procuram compatibilizar a conservação à ocupação
humana ' proteção de recursos naturais necessários à subsistência de populações
tradicionais, promovendo-as social e economicamente; desenvolvimento e
adaptação de métodos e técnicas de uso sustentável dos recursos naturais;
garantia da participação na criação; implantação e gestão das unidades de
conservação como, por exemplo, a formação de conselho consultivo ou
deliberativo nas Unidades de Conservação de Uso Sustentável; divulgação de
informações à população local e a outras partes interessadas; incentivo à
criação e à administração das unidades por parte das populações locais na
perspectiva de "co-gestão", entre outras medidas (Lei nº 9.985/2000).
A adoção das determinações do SNUC ocorre sob a dinâmica de gestão de unidades
de conservação já existentes no país. Algumas delas sequer elaboraram seus
zoneamentos e planos de gestão; outras, em menor número, além de já se
utilizarem desses instrumentos, contam também com projetos de ação de
desenvolvimento e de conservação em andamento. Este é o caso da APA de
Guaraqueçaba, administrada pelo órgão governamental ambiental federal,
responsável pela criação e gestão de unidades de conservação, do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em
parceria com uma ONG ambientalista paranaense, à qual se atribui uma influência
significativa sobre sua gestão.
A partir de 2000, a referida gestão incorporou a noção de desenvolvimento
sustentável, não só por determinação do SNUC, mas outras condições objetivas
exigiram a adoção de projetos de desenvolvimento sustentável para a pequena
agricultura.
Antes de analisar o caso da APA de Guaraqueçaba, algumas observações sobre a
noção de desenvolvimento sustentável serão discutidas de maneira breve para que
se reflita tanto sobre as possibilidades de realização, como sobre a própria
noção de desenvolvimento sustentável.
Os problemas advindos da noção de desenvolvimento sustentável
A noção de desenvolvimento sustentável utilizada para subsidiar ações
conservacionistas originou-se de uma discussão mais geral relacionada ao
confronto entre a necessidade de crescimento econômico e a necessidade de
conservação dos recursos naturais. Ademais, foi legitimada por estabelecer um
pretenso consenso entre essas duas dimensões, originalmente consideradas
opostas (Castells, 2000; Foladori e Tommasino, 2000; Nobre, 2002). Tal consenso
tem como princípio geral atender às necessidades do presente, sem comprometer
as possibilidades de as gerações futuras sanarem suas próprias necessidades.
Um primeiro grupo de críticas ao desenvolvimento sustentável concentra suas
discussões em torno de quais seriam a funcionalidade e os limites desse
desenvolvimento. Não se pode afirmar, como já argumentaram alguns setores do
movimento ambiental (Castells, 2000), que esse tipo de desenvolvimento se
oponha à "lógica" do modelo de crescimento econômico capitalista, uma vez que
ele não vai contra as causas estruturais da insustentabilidade, tornando-se,
pois, funcional ao sistema (Becker, 1999; Leff, 2000; Leis, 1999; Lelé, 1991;
Foladori, 1999; Middleton e O'Keefe, 2001).
Antes mesmo da Rio-92, Lelé (1991) afirmava que os "desenvolvimentistas" e o
movimento ambientalista deixaram de lado suas diferenças no sentido de
convergirem ambos para uma proposta de desenvolvimento sustentável. Assim,
passaram a enfrentar juntos os problemas relativos aos limites ambientais do
crescimento econômico e as questões sociais, basicamente pobreza e
desigualdade. Uniram-se sob o imperativo de uma possibilidade, qual seja, a
realização da sustentabilidade ambiental, mantendo a continuidade do sistema
produtivo e das relações sociais que o sustentam.
Segundo Leis (1999, p. 159), o conceito de desenvolvimento sustentável faria
parte de um processo de "adoção oportunista e instrumental [...]", por parte
dos estados e das empresas, de novos valores trazidos pelo ambientalismo, com o
objetivo de garantir a continuidade do sistema produtivo. Assim, a
racionalidade econômica dominante diluiu o potencial transformador das origens
do movimento ambiental, confundindo e dispersando suas ações (Leff, 2000).
O "capitalismo verde" tem como tese a funcionalidade desse tipo de
desenvolvimento, pois apesar da sustentabilidade "seriam preservados não apenas
os recursos naturais, mas também e acima de tudo, infelizmente, as relações de
produção existentes" (Vargas, 1999, p. 230). Para Foladori (1999), tais
relações estabelecem os limites do desenvolvimento sustentável.
As causas sociais da insustentabilidade passaram a ser abordadas, e a
sustentabilidade social foi incluída como parte imprescindível do
desenvolvimento sustentável (Lelé, 1991). Porém, isso não significou o
reconhecimento das relações sociais como responsáveis pela insustentabilidade
ecológica. Segundo Foladori e Tommasino (2000), a pobreza foi considerada uma
de suas causas, o que acarretaria a necessidade de se agir sobre a pobreza, ou
seja, encontrar a sustentabilidade social para promover a sustentabilidade
ecológica. A solução para o desenvolvimento sustentável, nessa perspectiva,
estava centrada no conhecimento científico e no desenvolvimento de técnicas de
produção adequadas à conservação dos recursos naturais. Os métodos de produção
deveriam ser menos agressivos ao meio natural e poderiam levar à melhoria da
qualidade de vida, ou ao desenvolvimento, minimizando os impactos antrópicos
sobre o meio ambiente. Esta perspectiva foi chamada de sustentabilidade
limitada:
[...] restringindo seu papel de ponte para a análise da
sustentabilidade ecológica [...] o que interessa são as relações
técnicas entre os pobres e o uso dos recursos naturais. As relações
sociais, que se referem a como determinadas relações entre os seres
humanos geram pobreza, desemprego, fome etc., não estão em discussão,
senão somente suas conseqüências técnicas na contaminação e
depredação do meio (Idem, pp. 46-47).
Nesse primeiro grupo de críticas encontram-se, ainda, análises que se referem à
operacionalização do desenvolvimento sustentável. Para isso, a escala da
"localidade" foi a saída encontrada, uma vez que as escalas de "humanidade",
"planeta terra" e "economia global" são aparentemente inoperantes, ou operantes
somente no nível Estados Nacionais. Becker considera que a sustentabilidade
configura uma nova racionalidade do sistema capitalista e reconfigura o
desenvolvimento a partir da localidade ou da região. Ela seria, segundo este
autor, um dos
[...] instrumentos pós-modernos que, ao mesmo tempo em que viabilizam
a dominação em escala mundial, abrem a possibilidade, embora dentro
de limites muito objetivos e concretos, e muito mais por necessidade
do próprio sistema capitalista, para as histórias locais, as
tradições do lugar, enfim, para os desejos, necessidades e fantasias
fragmentadas (1999, p. 64).
Ao analisarem a ação de ONGs em projetos "locais" na Europa, Middleton e
O'Keefe (2001) afirmaram que há dois equívocos na atuação baseada na
localidade. O primeiro refere-se aos limites do "empoderamento" (empowerment)
local, já que os mecanismos de opressão estão nas relações sociais, cujas
causas não são alcançadas. O segundo diz respeito aos limites da atuação, isto
é, as ações restritas à esfera local só poderão resolver problemas
circunscritos a uma determinada área, mas as causas da insustentabilidade estão
localizadas na escala da macroeconomia e da macropolítica.
À localidade alia-se a participação social. Segundo Lelé (1991), ao legitimar o
conceito de desenvolvimento sustentável, questões como justiça e eqüidade
sociais, que estavam presentes no conceito de ecodesenvolvimento, foram
abandonadas e substituídas pela participação social, mais especificamente pela
participação local. Partindo da sustentabilidade como referencial indiscutível,
e da solução técnica como saída para a recuperação e a utilização dos recursos
naturais (Foladori e Tommasino, 2001), observa-se que a participação local
ficaria restrita a decidir sobre rol de possibilidades técnicas possíveis para
promover a sustentabilidade ecológica. O saber local, por exemplo, é visto como
possibilidade de obtenção de mais informações sobre como lidar com os recursos
naturais, contribuindo para a elaboração de soluções técnicas no uso dos
recursos naturais.
O segundo grupo de críticas concentra-se na apropriação do conceito de
sustentabilidade ecológica para adjetivar o desenvolvimento socioeconômico, ou
ainda, para se referir à sustentabilidade social ou econômica. A noção de
sustentabilidade originada na ecologia para analisar os sistemas naturais
(sustentabilidade ecológica), deve ser deslocada para a análise das
organizações sociais (sustentabilidade social). Deve-se estabelecer uma
contraposição à tendência encontrada nas noções de sustentabilidade que
utilizam como referência "equilíbrio" e "estabilidade":
A noção de sustentabilidade ou de durabilidade se origina de
teorizações e práticas ecológicas que tentam analisar a evolução
temporal de recursos naturais, tomando por base a sua persistência,
manutenção ou capacidade de retorno a um presumido estado de
equilíbrio, após algum tipo de perturbação. A noção de equilíbrio é
tema polêmico e controverso, mesmo no domínio ecológico, já que os
sistemas naturais, incluídos neles os chamados recursos renováveis,
estão sujeitos a elevada variabilidade, expressa em distintas escalas
temporais e espaciais (Raynaut, Lana e Zanoni, 2000, p. 74).
Segundo Raynaut (1997, p. 370), a utilização dessa noção pode levar à
interpretação de uma história que não comporta outro movimento que não "a
reprodução incomensurável de um equilíbrio impossível" da natureza e da
sociedade. Esta história deve ser entendida como o resultado de uma relação
dialética entre reprodução e mudança, uma vez que cada sistema comporta a
reprodução e, ao mesmo tempo, se transforma, seja em função de suas próprias
contradições, seja em função de fatores externos.
Há uma relação de interdependência e autonomia entre esses dois sistemas. Ainda
que qualquer organização social exija materialidade para existir (corpo, terra,
água etc.), o sentido elaborado socialmente, referente às ações humanas sobre o
meio natural, torna-se autônomo em relação às determinações do meio físico-
químico e biológico, podendo ser transmitido para outras gerações e outras
sociedades diferentes daquelas (Zanoni e Raynaut, 1994).
Mesmo no campo das ciências biológicas a perspectiva do equilíbrio estável e
preditivo foi substituída por outras que constatam a existência de equilíbrio
dinâmico nos sistemas biológicos. Segundo Miranda (2003), novos conceitos têm
sido aceitos para a análise desses sistemas, como, por exemplo, os conceitos de
resiliência e de co-evolução. O primeiro considera mais de uma possibilidade de
equilíbrio e a extinção do sistema; o segundo considera a interatividade de
ajustamentos das espécies em um determinado sistema, em que as espécies evoluem
conjuntamente, e a evolução de cada uma é interdependente da evolução da outra.
Esses dois grupos de crítica levantam, ainda, a discussão sobre o sujeito da
sustentabilidade. Geralmente, a humanidade e o meio ambiente são definidos como
os beneficiários do desenvolvimento sustentável. Porém, a humanidade não pode
ser considerada "em bloco", uma vez que só existe na forma de organização
social. Nesta, desenvolvem-se as relações sociais que interferem nas relações
que os grupos sociais estabelecem de maneiras diversas com o meio natural, a
partir de interesses e possibilidades específicos a cada um deles (Foladori,
1999; Raynaut, 1994). Logo, reduzir o sujeito da sustentabilidade à humanidade
é retirar da sociedade suas características estruturais por meio das quais
devemos pensar sua relação com o meio natural. Isso fundamentaria, em última
instância, qualquer proposta de desenvolvimento integrado à sustentabilidade
ecológica.
A sustentabilidade na APA de Guaraqueçaba
Propostas de desenvolvimento para população em unidades de conservação só se
realizam a partir de um objetivo principal, qual seja, a conservação da
biodiversidade. Em Guaraqueçaba isto não foi diferente.
Há alguns estudos locais que enfocaram a questão da sustentabilidade a partir
da idéia dos limites do desenvolvimento sustentável. Particularmente foram
enfatizados a insustentabilidade de sistemas produtivos e a sustentabilidade,
ponte para atingir a conservação (Rodrigues, 2002; Tommasino, 2002).
Neste artigo, pretendo discutir uma outra dimensão do desenvolvimento
sustentável, que interessa particularmente às ciências sociais: a
"naturalização" da sociedade nas propostas e nas ações para a promoção da
sustentabilidade em uma unidade de conservação que se fundamentam em soluções
técnicas. Isto será analisado a partir do processo de proteção ambiental na APA
de Guaraqueçaba, a partir dos anos de 1990, quando, então, o uso e o
desenvolvimento sustentáveis tornaram-se referência das propostas de
desenvolvimento da agricultura local.
A proteção ambiental na APA de Guaraqueçaba
Distante 167 km de Curitiba, a APA de Guaraqueçaba possui uma extensão de 3.143
km (Ipardes, 2001), dos quais 81,83% é ocupado pelo município de Guaraqueçaba,
todo ele incluído na APA.4 Possui 8.288 habitantes, sendo que a maior parte '
68,85% ' vive na zona rural. A população distribui-se em vinte localidades ao
longo dos vales dos rios. A pequena agricultura corresponde à maior parte das
atividades produtivas locais, relativas à produção de banana e mandioca
(Rodrigues, 2002).
Para além da importância dada às suas características ambientais, Guaraqueçaba
é considerada um importante patrimônio cultural, representado por pescadores e
agricultores que guardam remanescentes da cultura "tradicional" caiçara,
inclusive nas práticas de uso dos recursos naturais (Ipardes, 2001).
A proteção ambiental na região de Guaraqueçaba iniciou-se nos anos de 1980, com
a criação de unidades de conservação e com a chegada de órgãos governamentais
para execução das ações de controle de uso dos recursos naturais. As
características ambientais da região aliadas ao desenvolvimento do movimento
ambiental no Brasil e no mundo atraíram a atenção de organismos internacionais,
dos governos estadual e federal e de ONGs ambientalistas. O meio natural,
considerado um ambiente conservado, encontrava-se em vias de degradação, por
causa da exploração da madeira, do palmito e da pesca (Teixeira, 2004).
A responsabilidade desse quadro foi atribuída à dinâmica social que ora se
desencadeava na região, decorrente da nova ocupação iniciada nas décadas
anteriores. Segundo Miguel (1997), no continente, os neolatifundiários ' grupos
de empresas madeireiras e grupos industriais e comerciais ' instalaram grandes
propriedades destinadas à exploração dos recursos naturais ou à especulação, em
geral realizada mediante a grilagem de terras, a partir da década de 1960. Além
da intensificação da exploração de recursos naturais (madeira e palmito),
agricultores e pescadores foram expropriados, o que acentuou a pobreza da
população local. Paralelamente, a superexploração dos recursos pesqueiros por
meio da pesca predatória e ilegal realizada no estuário acarretou a redução dos
recursos que abasteciam as comunidades de pescadores (Fundação SOS pró-Mata
Atlântica, 1986).
A proteção ambiental em Guaraqueçaba instituiu a conservação do meio natural em
um espaço caracterizado por sérios problemas econômicos e sociais5 e
insatisfatoriamente atingido por políticas e programas de desenvolvimento
estaduais e federais (Miguel, 1997). Ela se tornou mais um obstáculo para a
maior parte da sociedade local, na medida em que restringiu o uso dos recursos
naturais necessários à produção e à complementação das atividades produtivas da
população (Miguel, 1997; Miguel e Zanoni, 1998).
A história desse processo teve períodos distintos, nos quais se apresentaram
diferentes agentes e concepções sobre a proteção ambiental e sobre o
desenvolvimento da sociedade local (Teixeira, 2004).
No período que corresponde à década de 1980, a proteção caracterizou-se por
ações no sentido de implantar unidades de conservação na região (construção da
sede, zoneamento, entre outros). O órgão ambiental federal (Sema, Ibama),
responsável pela criação dessas unidades, possuía uma atuação bastante reduzida
na região. O controle de uso dos recursos naturais (licenciamento e
fiscalização) ficou basicamente a cargo do órgão estadual do Paraná com
atribuições ambientais. Este órgão atuou no sentido de aplicar a legislação já
existente, como o Código Florestal e a Lei de Uso do Solo estadual.
Nesse momento, não havia ainda uma articulação entre ações para a conservação e
ações de desenvolvimento para a sociedade local; tratava-se de ações paralelas.
As poucas iniciativas de desenvolvimento que lá chegaram estavam relacionadas
aos projetos estaduais para desenvolvimento da agricultura familiar e da pesca
e obtiveram resultados restritos e ineficientes (Miguel, 1997; Rodrigues,
2002).
A referida instituição estadual, que possuía também a atribuição de órgão de
terras, centrava seus esforços no impedimento tanto da ocupação de Guaraqueçaba
pelos neolatifundiários, como de ações que beneficiassem a exploração dos
recursos naturais (construção de estrada, desmatamento e loteamentos). Estes
foram considerados os principais responsáveis pela degradação ambiental em
Guaraqueçaba, não somente por suas atividades produtivas diretas (madeira,
palmito, búfalo), como também pelos efeitos da grilagem (Teixeira, 2004). Ao
expropriar os pequenos agricultores, a ocupação provocava o êxodo rural e o
deslocamento da pequena agricultura para terras menos férteis e mais "frágeis",
agravando os problemas ambientais e sociais da região (Miguel, 1997). A pequena
agricultura não era considerada responsável direta pela degradação, ainda que a
legislação fosse, sobre ela, aplicada. Refletindo a postura do governo do
estado (1982-1985) de defesa da pequena agricultura familiar e envolvendo-se
com a questão fundiária local, os técnicos do órgão ambiental atuantes em
Guaraqueçaba conseguiram articular as causas social e ambiental (Teixeira,
2004).
Nos anos de 1990, o órgão ambiental federal (Ibama), em parceria com ONGs,
intensificou suas ações em Guaraqueçaba, procurando efetivar a implantação da
APA (novo zoneamento, plano de gestão, organização dos grupos de trabalho
etc.). Ao mesmo tempo, o órgão ambiental estadual afastava-se da gestão da APA,
desligando-se em 2000.
Reafirmou-se a importância de Guaraqueçaba como área de proteção. Foi criada a
Reserva da Biosfera Vale do Ribeira ' Serra da Graciosa (1992), que abrangeu
todas as unidades de conservação da região. Os conflitos fundiários
praticamente cessaram e os neolatifundiários "abandonaram" a região. A
legislação ambiental tornou-se mais restritiva a partir do Decreto Mata
Atlântica (1991, 1993), acirrando os conflitos entre os pequenos agricultores e
as restrições impostas pelos órgãos ambientais. A "ótica ambientalista"
predominava sobre a "ótica social", e as propostas de articulação entre
conservação e desenvolvimento, calcadas na perspectiva da sustentabilidade
alcançaram a pequena agricultura familiar.
Dando continuidade ao período anterior, a partir de 2000 até o ano de 2003,6
novos elementos passaram a fazer parte da conservação e do desenvolvimento
local, acentuando algumas tendências anteriores e introduzindo outras ' a
reserva particular para seqüestro de carbono, o Pólo de Agroecologia e as novas
exigências colocadas pelo SNUC para implantação da APA, dentre elas, a
participação da população local na sua gestão.
A sustentabilidade do uso dos recursos naturais: solução técnica para a
ocupação humana
A partir dos anos de 1990, o Ibama passou a receber recursos financeiros do
Programa Nacional do Meio Ambiente (PNMA) para executar a implantação de
unidades de conservação, incluindo os planos de gestão. Como o Ibama não
possuía quadro técnico que pudesse realizar a implantação da APA de
Guaraqueçaba, compôs parcerias, seguindo a orientação geral deste órgão. Tais
parcerias foram firmadas, sobretudo, com uma ONG ambientalista paranaense, a
Sociedade de Pesquisa em Vida Silvestre e Educação Ambiental (SPVS), que ficou
responsável pela elaboração de diagnósticos e propostas voltadas à conservação
na APA. Ao atrair recursos de ONGs e empresas nacionais e internacionais e ao
estruturar um amplo quadro técnico, essa entidade tornou-se, também, o órgão
executor das propostas.
Inicialmente, em 1991, a ONG parceira elaborou o Plano de Gerenciamento para a
Região de Guaraqueçaba, com recursos da ONG norte-americana The Nature
Conservancy (TNC) e apoio do Ibama. Diante da constatação da pobreza local,
propôs como solução para os impactos da ocupação humana sobre o meio natural:
"desenvolver, aprimorar e implantar modelos de uso sustentado dos recursos
naturais disponíveis, de forma a consolidar a conservação e a melhor qualidade
de vida da população local" (SPVS, 1995a). Aqui se observa a incorporação das
diretrizes internacionais para unidades de conservação, que estabeleciam o uso
sustentável como saída para a ocupação humana.
O Plano de Gerenciamento constituiu-se de duas fases: a elaboração do
Diagnóstico da Situação Físico-Biológica e Sócio-Econômica da Região e a
elaboração do Plano Integrado de Conservação para a Região de Guaraqueçaba,
concluído em 1992.
Contudo, o Plano Integrado afirmava que "a grande maioria das atividades
antrópicas desenvolvidas na região eram, senão incompatíveis, conflitantes com
os objetivos de conservação de um dos últimos remanescentes da Floresta
Atlântica e do complexo estuarino" (Idem, p. 19). Diversamente dos anos de
1980, quando se atribuiu responsabilidade diferenciada aos grupos sociais sobre
a degradação ambiental, o Plano Integrado atribuiu a mesma responsabilidade a
toda sociedade local. Nesse caso, a pequena agricultura passou a ser, também,
uma ameaça àquela "vocação" de Guaraqueçaba. Não havia um grupo social mais ou
menos responsável pela degradação ou pela conservação, mas práticas de uso mais
ou menos responsáveis pela degradação ou pela conservação. Nesse sentido, as
ações junto à população deveriam desenvolver a racionalização do uso dos
recursos naturais, e a população deveria "receber preparação adequada para esse
convívio em novas bases com a natureza" (Idem, p. 12), o que justificou o
empenho no desenvolvimento da educação ambiental.
É importante observar que a SPVS é uma ONG voltada à conservação ambiental7 que
se deparou com a necessidade de considerar a sociedade local como parte deste
processo. Os financiadores de seus projetos e seus parceiros exigiam a
avaliação dos múltiplos aspectos envolvidos na gestão da conservação,
particularmente dos aspectos socioeconômicos e culturais da população local. O
Diagnósticoe o Plano de Gestão assim o fizeram. Eles abrangeram em sua pesquisa
a história da ocupação de Guaraqueçaba, a pobreza local, a legislação ambiental
inadequada e a falta de regularização fundiária, mas, ao trazer a população
para o processo de proteção na APA, os aspectos sociais foram diluídos dentro
do contexto prioritário da conservação do meio natural. O desenvolvimento
socioeconômico, a melhoria da qualidade de vida e a regularização fundiária são
mudanças que deveriam ocorrer para o sucesso da conservação, de acordo com as
observações relativas à sustentabilidade limitada. No entanto, deixou-se de dar
atenção à pobreza e/ou à exclusão social em si, essas questões passaram a ser
referidas em função da conservação ambiental. As soluções restringiram-se,
dessa forma, à apropriação de técnicas de uso dos recursos naturais.
Na medida em que as características que definem a especificidade da sociedade
não foram consideradas devidamente, submeteu-se o que era singular ao rol de
soluções técnicas para a conservação ambiental. Não houve uma concepção
construída sobre a inter-relação que se estabelece entre sociedade e natureza,
na perspectiva da interdependência e da autonomia desses sistemas. Ou seja, ao
não ser considerada em sua especificidade, a sociedade tornou-se
"naturalizada".
A partir do Plano Integrado, a SPVS elaborou o Programa Guaraqueçaba, o qual
fez parte do convênio estabelecido entre o Ibama e a SPVS em 1994, para a co-
gestão da APA de Guaraqueçaba (Convênio 14/94).8 Ele foi constituído por
projetos distintos que atuavam na pesquisa e na implantação de tecnologias
visando à conservação, na articulação institucional para planejamento e
execução das ações, além de desenvolver ações comunitárias e de educação
ambiental (SPVS, 1995a e b). Tais projetos atendiam, também, aos objetivos
estabelecidos nos Planos Operacionais Anuais (POA) do Ibama (educação
ambiental, diagnóstico cultural, desenvolvimento comunitário e conservação do
estuário).
Outros projetos ainda foram realizados, envolvendo parcerias e recursos de
programas nacionais, como o PROBIO, ou internacionais (TNC, Philipp Moris,
WWF), em que se previam a organização comunitária para a execução de soluções
técnicas, a ostreicultura, a recuperação florestal, a proteção de espécies em
extinção, a sistematização de informação, entre outras ações.
Vale dizer que a ação voltada à população mais significativa e aceita pela SPVS
era a educação ambiental. Elaborado por biólogos (SPVS, 1995b), o projeto
educacional refletia os objetivos definidos desde o início, ou seja, a
preparação da população para aceitar as bases de constituição da APA. Em
contrapartida, a auto-organização das comunidades era vista com reservas, uma
vez que a elaboração da solução técnica, a partir do conhecimento científico,
não requeria participação da população, que, assim deveria se adequar às
soluções propostas (Teixeira, 2004). No entanto, por exigências contratuais,
foram executados projetos relativos a estudos e organização de populações
tradicionais localizadas nas ilhas, mas os resultados e as discussões sobre o
papel da população local na proteção ambiental se realizaram de maneira não
articulada às principais ações de conservação. Em virtude da própria
constituição e dos objetivos da ONG em questão, havia dificuldade em aceitar a
sociedade (cultura, interesses de grupos sociais) como agente, e não somente
como subordinada, da conservação. Essa visão estendia-se ao trabalho de
cientistas sociais, e suas propostas no quadro técnico não eram muito aceitas
(Idem).
Considerando em particular a pequena agricultura, as ações propostas pelo Plano
Integradoenvolviam desde a revisão da legislação, especialmente o Decreto Mata
Atlântica, até pesquisas sobre os sistemas de produção. O único projeto voltado
exclusivamente à pequena agricultura foi o projeto "Viabilidade Agropecuária",
que, posteriromente, recebeu uma outra denominação: "Difusão de tecnologias na
região de Guaraqueçaba". Em relação às práticas agrícolas tradicionais, a
posição do Plano Integrado foi taxativa: "o desmatamento e a intensificação do
solo, como elementos predominantes dos modelos tradicionais de desenvolvimento
são absolutamente rejeitados como formas de atividade econômica" (SPVS, 1992,
p. 12). A saída proposta, realizada em convênio com outras ONGs, foi a difusão
de alternativas tecnológicas para a produção orgânica e agroflorestal, com o
objetivo de melhorar a produtividade da banana e a renda monetária dos
agricultores. O projeto foi desenvolvido junto aos agricultores da Associação
dos Moradores e Pequenos Produtores Rurais de Batuva, que possuíam melhores
condições de produção e comercialização de produtos agrícolas (SPVS, 1995b),
além de uma organização comunitária mais estruturada. O principal resultado foi
a certificação da banana orgânica.
Estabelecidos os referenciais para pensar ações de conservação para
Guaraqueçaba, definidos pela SPVS em parceria com o Ibama, o próximo passo do
Ibama foi a elaboração de um Plano de Gestão9 para a APA, em conjunto com a
Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) do Paraná, em 1994. Com a
participação de 26 instituições governamentais e não-governamentais, realizou-
se uma Oficina de Planejamento de Projetos, na qual se procurou articular o
desenvolvimento socioeconômico à conservação através do uso sustentável dos
recursos naturais.
No Plano de Gestão foi dada maior atenção às questões sociais do que àquelas
presentes no Plano Integrado, o que se justifica pela participação de órgãos
estaduais de desenvolvimento e do órgão estadual ambiental. Vale lembrar que o
debate em torno da relação entre desenvolvimento e conservação estava
fortalecido tanto na esfera nacional como internacional, e na Rio-92 a noção de
desenvolvimento sustentável foi oficializada, refletindo-se nas diretrizes para
a implantação de unidades de conservação sob a perspectiva de uso sustentável
dos recursos naturais.
A idéia de que a pobreza da população local era anterior à proteção ambiental,
por ausência de programas de desenvolvimento e pelo isolamento da região de
Guaraqueçaba, foi enfaticamente introduzida no Plano de Gestão. A conservação
foi considerada, pela primeira vez, mais um obstáculo ao desenvolvimento local:
"Foi imposta à população e empresários locais [receberam] ao longo dos últimos
10 anos o estigma das precárias condições socioeconômicas às quais a população
local [estava] submetida" (Paraná, Sema, 1995, p. 50).
Observa-se, contudo, que esse documento não representou um consenso em torno da
conservação em Guaraqueçaba, mas uma sobreposição de interesses das
instituições envolvidas. O "objetivo superior" do Plano de Gestão era
"conservar a diversidade de ambientes, de espécies, de processos naturais e do
patrimônio cultural, visando o desenvolvimento econômico ambientalmente
sustentado das comunidades humanas locais e a melhoria da qualidade de vida"
(Idem, p. 59). O "objetivo da gestão" retoma sutilmente o sentimento de justiça
social dos anos de 1980: a "gestão ambiental integrada" deveria estimular
"atividades econômicas ambientalmente sustentáveis e socialmente justas" (Idem,
ibidem). Para isso, propôs um Programa de Desenvolvimento Sustentável, seguindo
as diretrizes internacionais e nacionais sobre o tema.
Esta foi a primeira vez que um programa para Guaraqueçaba utilizou a noção de
desenvolvimento sustentável que não se restringia ao uso sustentável, mas
incluía dimensões como a sustentabilidade econômica e social e a participação
social, como consta na Agenda 21 Global.
O Programa de Desenvolvimento Sustentável previa regularização fundiária,
modificações e complementações na legislação, estímulo aos nichos de mercado
(selo, atestado verde, indústria caseira), práticas de manejo agrícola
integradas, linha de crédito para os pequenos produtores e incentivo à pesquisa
para o desenvolvimento de tecnologias compatíveis com a proteção. De certa
forma, a pequena agricultura não foi tratada como uma prática incompatível, mas
como uma atividade produtiva que requeria condições estruturais para o seu
desenvolvimento, ainda que subordinado à conservação.
O sentido de desenvolvimento pode ser observado também na proposição do
ecoturismo e nas demais propostas para a viabilização de alternativas de
trabalho, a manutenção da população tradicional, a qualificação de serviços
sociais e infra-estrutura, para as quais se poderiam usar os recursos advindos
do ICMS ecológico.
Contudo, o Plano de Gestão, incluindo o Programa de Desenvolvimento
Sustentável, não foi executado por falta de recursos humanos e financeiros das
instituições que deveriam arcar com a sua execução, inclusive dos órgãos
estaduais voltados ao desenvolvimento. Assim, as ações de desenvolvimento
permanecem até hoje restritas ao Ibama/SPVS.
A única ação prevista e realizada pelo Plano de Gestãofoi o Zoneamento da APA
de Guaraqueçaba, a cargo do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Paraná
(Ipardes), no período de 1994 a 1997, com recursos do Ibama. Demonstrando maior
atenção à sociedade local, o zoneamento possui um capítulo sobre a população
tradicional local elaborado a partir de dois estudos anteriormente realizados
para o projeto de co-gestão Ibama/SPVS. Seu resultado foi considerado por essas
instituições, muito amplo e pouco diretivo, uma vez que não definia os usos
possíveis das diferentes "zonas" da APA (Teixeira, 2004). Publicado em 2001, o
zoneamento não foi ainda normatizado.
Para substituir o Plano de Gestão de 1995, em 1999 o governo do Paraná e o
Ibama, em parceria com a SPVS, elaboraram o programa Guaraqueçaba pra frente,
Guaraqueçaba sempre: programa de desenvolvimento sustentável para a Área de
Proteção Ambiental de Guaraqueçaba. Retirando as referências à justiça social,
este programa redefiniu os papéis das instituições atuantes, cabendo ao Ibama/
SPVS o controle da gestão e das pesquisas e a produção de técnicas adaptadas
aos objetivos da conservação (Paraná/Sema/IAP, 1999). Este programa também não
foi ainda executado.
Dado o fracasso dessas duas propostas de ação conjunta (órgãos ambientais e de
desenvolvimento), não houve distribuição de funções entre os órgãos ambientais
e demais instituições voltadas ao desenvolvimento socioeconômico da região.
Paralelamente, as raras iniciativas de desenvolvimento da pequena agricultura
por parte do governo do estado que chegaram a Guaraqueçaba obtiveram resultados
pífios (Rodrigues, 2002).
A distribuição de funções e as ações articuladas não garantiriam, por si só,
uma outra perspectiva que não a da "naturalização" da sociedade; as condições
para a sua superação residiriam para além da idéia de uso sustentável dos
recursos naturais.
Restritas aos agentes da conservação, as ações que foram desenvolvidas junto à
pequena agricultura se mantiveram na esfera das soluções técnicas para a
produção, ainda que fizessem referência ao aumento da renda e da qualidade de
vida dos agricultores envolvidos. Não houve uma articulação efetiva com
análises antropológicas ou sociológicas sobre sociedade local, o que levou a um
segundo plano a preocupação com os efeitos (ambientais e sociais) perversos da
conservação, os quais variam de práticas clandestinas de uso dos recursos
naturais ao aumento da situação de pobreza de alguns agricultores. Como
exemplo, a pesquisa realizada por Francisco (2002) descreve as conseqüências da
introdução da produção de banana orgânica para nichos de mercado sobre uma
comunidade de Guaraqueçaba. Romperam-se laços e práticas de sociabilidade que
garantiam a sobrevivência daqueles agricultores, cujas condições de produção
foram consideradas insuficientes para a inclusão na produção orgânica.
A partir de 2000, novos elementos foram introduzidos na condução da gestão da
APA de Guaraqueçaba e, definitivamente, o desenvolvimento sustentável passou a
ser considerado a solução para a ocupação humana nessa unidade de conservação.
Reiterando, isso ocorreu sob a perspectiva da "naturalização" da sociedade.
No mesmo ano, independentemente do Ibama, a SPVS adquiriu propriedades em
Guaraqueçaba, formando uma reserva particular para o desenvolvimento do projeto
de seqüestro de carbono. Ao lado das ações de controle, o plano de ação
elaborado pelas ONGs TNC e SPVS exigia que esta última se responsabilizasse por
programas de desenvolvimento sustentável visando à integração das comunidades
do entorno das reservas ao projeto de seqüestro de carbono, além da eliminação
das atividades produtivas e extrativas incompatíveis com os objetivos do
projeto (TNC/SPVS, 2000).
A SPVS não desenvolveu projeto próprio de desenvolvimento sustentável, mas
incrementou as ações do Pólo de Agroecologia do Litoral do Paraná, desenvolvido
pela Emater e pela Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento, em
parceria com ONGs e outros segmentos da sociedade, a partir de 2000. Seus
principais objetivos são: "viabilizar a agricultura familiar através do
desenvolvimento de tecnologias adaptadas para a região, buscando a integração
das atividades agrícolas, conservação do meio ambiente e desenvolvimento
social" (Emater, 2003). Observa-se que nesse projeto a agricultura familiar, e
portanto a sociedade, aparece em primeiro plano se comparada às idéias de
conservação ambiental.
Considera-se que a SPVS impulsionou as ações do Pólo, com recursos captados por
ela mesma (Bona, 2003 apud Chang, 2004) e introduziu a técnica do Diagnóstico
Rural Participativo (DRP), cujo objetivo é "saber como essas pessoas se
relacionam com a floresta e somar ao nosso conhecimento técnico-científico, já
que é mais fácil os agricultores adotarem técnicas que estejam próximas à sua
realidade" (O Estado de S. Paulo, 2002). Em uma comunidade agrícola, a SPVS
propôs associar a banana ao manejo comunitário do palmito, como já havia sido
sugerido por estudos não vinculados ao Ibama/SPVS no início dos anos de 1990
(Miguel e Zanoni, 1998). Segundo Chang (2004), a SPVS estaria redefinindo a sua
identidade institucional ao incluir tais dimensões em suas ações
conservacionistas. Esta redefinição pode ser explicada a partir da necessidade
de adequação das ações às exigências de seus parceiros e à sociedade local
(Teixeira, 2004). Sob o ângulo da "naturalização" da sociedade evidenciou-se,
por exemplo, que o sucesso do "desenvolvimento local" e da conservação depende
de condições materiais e organizacionais de produção, o que a maior parte da
pequena agricultura em Guaraqueçaba não possui, como mostram os estudos de
Miguel (1997) e Rodrigues (2002).
Em 2002, as determinações do SNUC começaram a ser implementadas na APA de
Guaraqueçaba, dentre elas, aquelas cuja orientação era a promoção do
desenvolvimento sustentável. A grande transformação ficou por conta da criação
do Conselho Deliberativo que vem sendo realizado pelo Ibama/SPVS. Esse conselho
inclui os representantes das comunidades por bacias hidrográficas, as
instituições presentes na APA, assim como ONGs e universidades (Idem).
A partir das novas propostas e dos programas implantados em Guaraqueçaba nos
últimos anos, e a partir das experiências realizadas anteriormente com a
pequena agricultura, a noção de desenvolvimento sustentável foi definitivamente
apropriada pelos agentes responsáveis pela gestão da APA. O desenvolvimento
sustentável aqui empregado é o mesmo legitimado na Rio-92, e se enquadra na
perspectiva da sustentabilidade limitada ou sustentabilidade ponte (Foladori e
Tommasino, 2000), ponte para a conservação ambiental e ponte para assegurar o
sucesso do projeto de seqüestro de carbono. Tanto este projeto como o próprio
SNUC, ao incorporarem o desenvolvimento sustentável, extrapolando a idéia de
uso sustentável, proporcionaram uma nova situação à gestão da APA (Teixeira,
2004), ainda que não problematizassem a noção de desenvolvimento sustentável.
Na APA de Guaraqueçaba, os novos rumos podem modificar a relação entre a
conservação e a sociedade local, situando a população como um elemento não só a
ser controlado, mas também a ser reconhecido e considerado em sua
especificidade e na sua inter-relação com o ambiente, além de ter garantidos
seus direitos de decisão sobre o futuro. Contudo, essa mudança ainda está
subjugada à "vocação" de Guaraqueçaba, para a qual a população deve ser
preparada. O que surgirá com a participação da sociedade local neste processo,
está em construção.
Considerações finais
Para alcançar a conservação ambiental na APA de Guaraqueçaba, além do controle
da fiscalização e do licenciamento, a solução encontrada para a pequena
agricultura local, por suas instâncias co-gestoras, partiu da perspectiva da
"naturalização" da sociedade e se restringiu à implantação de técnicas
produtivas adequadas aos objetivos da conservação. Assim, os problemas
decorrentes das práticas de uso dos recursos naturais da população local sobre
a conservação foram reduzidos aos efeitos negativos das primeiras sobre a
segunda.
Diante de diretrizes internacionais no contexto do debate sobre a
sustentabilidade e seguindo princípios conservacionistas e exigências impostas
por parcerias e financiamentos, o desenvolvimento sustentável foi apresentado
como objetivo para a APA de Guaraqueçaba, ainda que subordinado à sua "vocação"
de conservação da APA. Além das exigências contratuais, as reações da própria
população à conservação e aos projetos de uso sustentável ou de geração de
renda indicavam que uma nova postura seria necessária para lidar com a ocupação
humana nesta unidade de conservação, abrindo outras perspectivas para realizar
o desenvolvimento local.
A pequena agricultura em Guaraqueçaba não alterou estruturalmente sua precária
condição de reprodução e, conseqüentemente, não alterou práticas consideradas
contrárias aos objetivos da conservação. Os poucos resultados positivos de
programas de desenvolvimento para a pequena agricultura foram localizados e
restritos. Mas isto vem se expandindo com as ações do Pólo de Agroecologia, nas
quais os órgãos de desenvolvimento do estado estão presentes de forma mais
efetiva e articulada à conservação.
A visibilidade da conservação é o meio natural. A ocupação humana é considerada
um problema e não parte ' inter-relacionada ' da proteção ambiental. As
questões mais estruturais, que efetivamente constroem uma visão da
sociedadelocal ' a partir de características que definem uma sociedade e,
conseqüentemente, suas relações com o meio natural ' e não somente da população
local, ainda não são fundamentais nos projetos que pretendem alterar técnicas
de uso dos recursos naturais.
Identificar a "naturalização" do social como característica do desenvolvimento
sustentável na APA de Guaraqueçaba, o que talvez possa ser extrapolado para
outras unidades de conservação, contribuiu para a reflexão sobre a relação
entre desenvolvimento econômico e conservação ambiental e sobre desenvolvimento
sustentável como solução para ocupação humana em unidades de conservação, o que
implica, em última instância, refletir sobre a inter-relação entre a sociedade
e seu ambiente. Além disso, e relacionado a esses fatores, podemos pensar o
papel do profissional das ciências sociais nas discussões e nas ações de
desenvolvimento articuladas à conservação ambiental.
Para esses profissionais interessa saber quais as conseqüências de projetos de
desenvolvimento sustentável fundamentados na "naturalização" da sociedade. Ao
propor soluções técnicas, deve-se observar primeiramente se a sociedade que
recebe as propostas é considerada como tal. A implantação de novas técnicas
para produção ou de programas de geração de renda muitas vezes encontraram seus
limites quando efetivamente executados, uma vez que as condições sociais foram
secundarizadas ou negligenciadas nas soluções propostas.
Ademais, os efeitos das transformações nas técnicas de produção sobre a
sociedade geralmente não são levados em consideração, inclusive em se tratando
de sustentabilidade social, pré-requisito para o pretendido desenvolvimento
sustentável. O caso da agricultura orgânica em ecossistemas como o encontrado
em Guaraqueçaba, por exemplo, suscitam questões como: Qual o acréscimo de força
de trabalho é necessário para produzir arroz orgânico? Quantas faltas na escola
serão necessárias para que o filho do agricultor possa retirar com as mãos as
ervas daninhas da cultura do arroz? Que mudanças ocorrem nas relações sociais
de uma comunidade com a introdução de técnicas de produção que dispensam o
mutirão? Enfim, qual o custo social das ações propostas em nome da
sustentabilidade ecológica?
Se considerarmos a abordagem interdisciplinar do meio ambiente, caberia às
ciências sociais a responsabilidade de pensar essas questões, ajudando
inclusive em programas e propostas de desenvolvimento sustentável em unidades
de conservação. De certa forma, deve-se resistir à sedução e conseqüente
apropriação de conceitos e modelos de sustentabilidade oriundos de outras áreas
de conhecimento mais vinculadas à conservação. Os modelos devem ser enfrentados
na construção interdisciplinar do conhecimento, e as ciências sociais devem
manter a "identidade" do conceito de sociedade. Assim, o desenvolvimento pode
sair da esfera técnica, ou seja, da procura de melhores técnicas adaptadas à
conservação, para um debate mais amplo que envolve, em última instância, a
discussão sempre recorrente sobre a relação sociedade e natureza.
Notas
1 No zoneamento, a área protegida é dividida em zonas, de acordo com critérios
"ambientais", para as quais são definidas as formas de ocupação humana
possíveis.
2 A Agenda 21 Global é um programa de ação que define diretrizes para o
desenvolvimento "conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e
eficiência econômica" (http://www.agenda21.org.br/intro.htm).
3 As Unidades de Proteção Integral- Estação Ecológica e Parque Nacional -
admitem apenas o uso indireto dos recursos naturais, como pesquisa e educação
ambiental (Lei nº 9.985/2000, Art. 7º § 1º).
4 Além dessa Área de Proteção Ambiental, a região possui um Parque Nacional,
uma Estação Ecológica e duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural
(RPPN).
5 Atualmente, mesmo os ganhos elevados de arrecadação graças ao recebimento do
ICMS ecológico, o município possui um dos dez piores IDH - Índice de
Desenvolvimento Humano do estado do Paraná.
6 Ano em que terminou o levantamento de dados que subsidiou a elaboração deste
artigo.
7 Formada inicialmente por zoólogos e um veterinário, seu nome define seus
objetivos iniciais (pesquisa em vida silvestre), o que, posteriormente, se
expande para a pesquisa e as soluções técnicas para a conservação ambiental.
8 Além dos recursos do PNMA e da FNMA - Fundo Nacional do Meio Ambiente, esses
projetos constaram com um pool de financiadores: O Boticário, Unibanco,
MacArthur Foundation, e USDA Forest Service.
9 Elaborar um plano de gestão com a participação das demais instituições
envolvidas na unidade de conservação (prefeitura, secretarias de estado etc.) é
uma exigência a ser cumprida para implantação da APA.
BILBIOGRAFIA
BRITO, M. C. W. (2000), Unidades de conservação: intenções e resultados. São
Paulo, Anablume/Fapesp.
BECKER, D. F. (1999), "Sustentabilidade: um novo (velho) paradigma de
desenvolvimento regional", in D. F. Becker (org.), Desenvolvimento sustentável:
necessidade ou possibilidade, 2 ed., Santa Cruz do Sul, Edunisc.
CASTELLS, M. (2000), A era da informação: economia, sociedade e cultura (vol.
2: O poder da identidade). São Paulo, Paz e Terra.
CHANG, M. (2004), Seqüestro de carbono florestal no Brasil: dimensões
políticas, socioeconômicas e ambientais. Tese de doutorado em Meio Ambiente e
Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
DIEGUES, A. C. (1998), O mito da natureza intocada. 2 ed. São Paulo,
Hucitec.
_________. (2000), "Etnoconservação da natureza: enfoques alternativos", in
_________ (org.), Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos
trópicos. São Paulo/Hucitec/NUPAUB-USP.
EMATER ' Agricultura orgânica/agroecológica. (2003), "Seminário interno de
troca de experiências". Disponível em http://www.emater.or.gov/agrorg/Seminar/
Pg35.html (acesso em 20 dez.).
FRANCISCO, E. C. (2003), Agricultura familiar em área de proteção ambiental:
estratégias de reprodução de um modo de vida. Dissertação de mestrado.
Curitiba, Universidade Federal do Paraná.
FOLADORI, G. (1999), Los límites del desarrollo sustentable. Montevidéu,
Ediciones de la Banda Oriental ' Revista Trabajo e Capital.
FOLADORI, G. & TOMMASINO, H. (2000), "El concepto de desarollo sustentable
treinta años después". Desenvolvimento e Meio Ambiente, 1, Curitiba, Editora da
UFPR.
FUNDAÇÃO SOS PRÓ-MATA ATLÂNTICA. (1986), Dossiê complexo estuarino lagunar de
Iguape, Cananéia e Paranaguá de 1986. São Paulo, s. e.
IPARDES ' Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. (2001),
Zoneamento da APA de Guaraqueçaba. Curitiba, Ipardes.
LEFF, E. (2000), Ecologia, capital e cultura: racionalidade ambiental,
democracia participativa e desenvolvimento sustentável. Blumenau,
Edifurb.
LEIS, H. R. (1999), A modernidade insustentável: as críticas do ambientalismo à
sociedade contemporânea. Petrópolis/Florianópolis, Vozes/Editora da
UFSC.
LEIS, H. R. & VIOLA, E. (1996), "A emergência e evolução do ambientalismo
no Brasil", in H. R. Leis, O labirinto: ensaios sobre ambientalismo e
globalização, São Paulo/Blumenau, Gaia/Fundação Universidade de
Blumenau.
LÉLÉ, S. M. (1991), "Sustainable development: a critical review". World
Development, 19 (6):607-621, jun.
MIDDLETON, N. & O'KEEFE, P. (2001), Redefining sustainable development.
Londres/Sterling, Pluto Press.
MIGUEL, L. de A. (1997), Formation, evolution et transformation d'un système
agraire dans le sud du Brésil (Litoral Nord de l'état du Paraná). Une
paysannerie face à une politique de protection de l'environnment: "Cronique
d'une mort annoncée?". Tese de doutorado, Institut National Agronomique, Paris/
Grignon.
MIGUEL, L. & ZANONI, M. (1998), "Práticas agroflorestais ' políticas
públicas e meio ambiente: o caso do litoral do estado do Paraná. Extensão
Rural, ano 5, jan.-dez., Santa Maria, DEAR/CPGExR-CCR-UFSM.
MIRANDA, R. B. (2003), "As relações sociedade/natureza sob a perspectiva da co-
evolução". Desenvolvimento e Meio Ambiente, 8, jul.-dez., Curitiba, Editora da
UFPR.
NOBRE, M. (2002), "Desenvolvimento sustentável: origens e significado atual",
in NOBRE, M. Nobre e M. C. Amazonas (orgs.), Desenvolvimento sustentável: a
institucionalização de um conceito, Brasília, Ibama.
O ESTADO DE S. PAULO. (2002), 13 set. Disponível em http://www.estadao.com.br/
ciencia/noticias/2002/set/13/88.htm (acesso em 20 abril de 2003).
PARANÁ ' Governo do Estado do Paraná; SEMA ' Secretaria de Estado do Meio
Ambiente & IAP ' Instituto Ambiental do Paraná. (1999), Programa de
desenvolvimento sustentável da área de proteção ambiental de Guaraqueçaba.
Curitiba, IAP.
_________. (1995), Plano de gestão ambiental de Guaraqueçaba: área de proteção
ambiental de Guaraqueçaba. Curitiba, IAP.
RAYNAUT, C. (1994), "O desenvolvimento e as lógicas de mudança: a necessidade
de uma abordagem holística". Cadernos de Desenvolvimento e Meio Ambiente, 1,
Curitiba/Bordeaux, Editora da UFPR/GRID.
_________. (1997), Les Sahels: diversité et dynamiques des relations sociétés-
natures. Paris, Kartjal.
RAYNAUT, C.; LANA, P. & ZANONI, M. (2000), "Pesquisa e formação na área de
meio ambiente e desenvolvimento: novos quadros de pensamento, novas formas de
avaliação". Desenvolvimento e Meio Ambiente, 1, jul.-dez., Curitiba, Editora da
UFPR.
RODRIGUES, A. (2002), A sustentabilidade da agricultura em Guaraqueçaba: o caso
da produção vegetal. Tese de doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da
Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
SPVS ' Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental. (1995a),
"Relatório anual 1994", in SPVS, Programa Guaraqueçaba, Curitiba, mar.
_________. (1995b), "Informe técnico: de 1 de janeiro a 31 de agosto de 1995",
in SPVS, Programa Floresta Atlântica Guaraqueçaba, Curitiba, out.
SPVS ' Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e educação Ambiental & TNC '
The Nature Conservancy. (1992), "Relatório anual", in SPVS, Plano integrado de
conservação para a região de Guaraqueçaba. Curitiba.
TEIXEIRA, C. (20004), A proteção ambiental em Guaraqueçaba: uma construção
social. Tese de doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade
Federal do Paraná, Curitiba.
TNC ' The Nature Conservancy & SPVS ' Sociedade de Pesquisa em Vida
Silvestre e Educação Ambiental. (2000), Central and South West Corporation '
Guaraqueçaba Climate Action Project. Project Plan. Curitiba, mar.
TOMMASINO, H. (2002), Insustentabilidad o sustentabilidad "puente"? Análisis de
La Producción Animal en el Municipio (APA) de Guaraqueçaba, Paraná, Br.
Curitiba. Tese de doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade
Federal do Paraná, Curitiba.
VARGAS, P. R. (1999), "O insustentável discurso da sustentabilidade"in D. F.
Becker (org.), Desenvolvimento sustentável: necessidade ou possibilidade, 2
ed., Santa Cruz do Sul, Edunisc.
ZANONI, M. & RAYNAUT, C. (1994), "Meio ambiente e desenvolvimento:
imperativos para a pesquisa e a formação. Reflexões em torno do doutorado da
UFPR". Desenvolvimento e Meio Ambiente, 1, Curitiba/Bordeaux, Editora da UFPR/
GRID.