Perspetiva dos Diretores de Curso sobre a Escolha do Curso e Instituição dos
Estudantes da Área de Engenharia em Portugal
1. Introdução
Todos os anos ingressam nas universidades milhares de estudantes provenientes
do concurso nacional de acesso ao ensino superior, o que se traduz num evento
de enorme impacto social. Estes estudantes são posteriormente alocados de
acordo com a sua nota de candidatura e as suas preferências no que toca ao par
estabelecimento-curso. Os acessos ao ensino superior irão influenciar
sobremaneira as tomadas de decisão por parte da gestão universitária/direção de
curso, nomeadamente o número de vagas a oferecer para cada curso, a estratégia
de definição de cursos, o regime do curso, a tipologia do ciclo de estudos e a
publicitação do mesmo nos variados níveis de âmbito geográfico. Apesar das
estatísticas oficiais fornecidas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior (MCTES), nem sempre é possível retirar os indicadores
relevantes para uma boa tomada de decisão, pelo que esse processo não deverá
ser feito manualmente devido à sua complexidade e extensão. Apesar de úteis, os
dados oficiais são deveras insuficientes e não se coadunam com as necessidades
das instituições e sobretudo dos diretores e responsáveis dos diversos cursos
em fundamentar os seus processos de tomada de decisão. As instituições que
oferecem cursos de ensino superior possuem necessidades específicas no que
concerne à otimização dos cursos, tais como alocação de recursos e cumprimento
de enquadramentos legais.
Torna-se assim premente avaliar os fatores que irão influenciar os estudantes
na sua escolha por um par estabelecimento-curso assim como compreender as
diferentes variáveis que estão relacionadas com essa mesma atribuição de
influência. Por outro lado, torna-se útil avaliar a influência atribuída aos
diferentes métodos de divulgação sobre o par estabelecimento-curso bem como
avaliar a influência das diferentes fontes de informação no qual a gestão
universitária se baseia aquando dos seus processos de tomada de decisão
(Barros, 2013).
Neste artigo apresenta-se a análise realizada às entrevistas realizadas a seis
diretores de curso de cursos na área da Engenharia em reputadas instituições
portuguesas. O resto do artigo é organizado como se segue. Na segunda secção
são apresentadas a motivação e questões em investigação. Na terceira secção é
apresentada a metodologia do estudo incluindo literatura relevante que a
justifica. Na quarta secção é apresentada a técnica de análise de conteúdo,
usada para a análise das entrevistas (quinta secção). Na sexta secção são
apresentadas as principais conclusões do trabalho, assim como perspetivas de
trabalho futuro.
2. Motivação e Questões de Investigação
O ingresso num curso conducente a um grau académico constitui um marco
significativo na vida de qualquer estudante, bem como da sua família, pois é
encarado como o culminar de um longo percurso escolar. Numa sociedade que
valoriza o conhecimento, e do ponto de vista das instituições de ensino
superior, os estudantes não são apenas clientes, mas também stakeholders que
simultaneamente constituem um ativo que deverá ser rentabilizado. Dado que
todos os anos novos estudantes ingressam no ensino superior, torna-se premente
analisar novos dados e usá-los para adequar a oferta formativa, estando cientes
de novas oportunidades bem como de ameaças que possam surgir (Barros, 2013;
Barros et al., 2014).
Todos os anos são disponibilizadas estatísticas relevantes sobre o concurso
nacional de acesso, mas tais estatísticas carecem de individualização, estando
depois ao encargo da gestão universitária/direção de curso uma análise mais
profunda de modo a suportar os processos de tomada de decisão. Tal processo é
moroso pois há uma falta de automação desta tipologia de análises, e no âmbito
dos sistemas de informação, afigura-se aqui uma janela de oportunidade de modo
a retirar os melhores dividendos das novas tecnologias.
Neste âmbito, é crucial entender os fatores que exercem influência nos
estudantes aquando da sua escolha por um par estabelecimento-curso, assim como
qual a influência atribuída por estes aos diferentes métodos de divulgação. Do
mesmo modo, no que concerne a uma adequação da oferta formativa bem como de uma
correta divulgação, a gestão universitária/ direção de curso necessita de se
alinhar com as expetativas dos estudantes, para que através dessa compreensão
surja o conhecimento necessário para fundamentar os processos de tomada de
decisão. Através de um levantamento de fatores que exercem influência na
escolha por um par estabelecimento-curso, é possível testá-los de forma a
verificar a influência atribuída a cada um, numa perspetiva bipartida, isto é,
atribuições por parte de estudantes mas também por parte de diretores de cursos
(ou ex-diretores), permitindo assim a sua comparação entre estes dois agentes
distintos presentes no sistema de ensino superior.
Com o crescimento contínuo e sustentado da tecnologia, muitas são as
possibilidades que se afiguram para vários setores de atividade, entre os quais
o setor da educação, nomeadamente o ensino superior. Uma melhoria na qualidade
e celeridade dos processos de tomada de decisão, ou na sustentação da mesma
serão sem dúvida, algo de valor acrescentado para a gestão universitária ou
administrativa.
O que motiva os estudantes a escolher certo estabelecimento de ensino e
determinado curso? Como procuram eles informar-se para essa escolha? Como é que
as instituições pretendem cativar os estudantes? Em que se baseiam as
instituições para adequar a sua oferta formativa? Qual a opinião dos diretores
de curso sobre estas matérias? Como melhorar os processos atuais de tomada de
decisão no âmbito da gestão universitária? Será que todas as instituições e
seus respetivos decisores se focam no mesmo tipo de indicadores? Estas são
apenas algumas das preocupações que motivam e justificam a escolha desta
temática.
A automatização de processos ocorreu e ainda ocorre para quase todos os setores
de atividade, tais como comércio, agricultura e serviços, mas também para as
mais variadas áreas, entre elas a educação. No caso particular dos sistemas de
informação, será possível potenciar o negócio da educação, melhorando a oferta
de serviços e a qualidade dos recursos que se inserem na esfera das
instituições de ensino superior.
Procurou-se deste modo efetuar o levantamento de dados estatísticos relevantes
sobre o acesso ao Ensino Superior em Portugal e de fontes de informação e
indicadores estatísticos já existentes e reconhecidos como relevantes para
fundamentar a tomada de decisão por parte das universidades. Baseado nesse
levantamento procurou-se identificar as razões e motivações que os diretores de
curso pensam que levam um estudante, de cursos da área de engenharias, a
efetuar uma candidatura a certo par estabelecimento-curso. Neste contexto são
de particular relevância as opinião dos docentes que exercem, ou exerceram
funções diretivas, acerca do mesmo assunto. Estas opiniões foram recolhidas
através de um conjunto de entrevistas e de um inquérito alargado realizado
através da Internet e posteriormente comparadas com as opiniões dos estudantes
(recolhidas também através de um inquérito alargado na Internet).
A questão principal de investigação principal estipulada para este estudo foi:
Quais os fatores que exercem influência na escolha por um par estabelecimento-
curso, para os estudantes de cursos da área de engenharia?. Associada a esta
questão foi analisada a opinião dos diretores de curso sobre este assunto e o
modo como a opinião entre diretores de curso (ou docentes que já exerceram este
tipo de funções).
3. Opção Metodológica
De modo a atingir os objetivos propostos, achou-se pertinente a utilização de
uma abordagem metodológica que utilize as valências dos métodos qualitativos e
quantitativos, uma prática comum e bastante em voga na área das ciências
sociais. No entender de Pope e Mays (1995), os dois métodos não se excluem,
apesar de diferirem na forma e na ênfase, e a adição de métodos qualitativos
contribui para uma melhor compreensão dos fenómenos por via de um cunho
racional e intuitivo bem como do estudo de relações de nexo causal.
Jick (1979) designa a combinação de métodos quantitativos e qualitativos de
triangulação, fazendo referência a outros autores, como Campbell e Fiske que já
tinham avançado com a denominação validação convergente ou multimétodo, como
sendo de sentido semelhante. Por seu turno, Morse (1991), propõe o uso da
expressão triangulação simultânea para designar a utilização simultânea de
ambos métodos. A utilização destes métodos de análise permite estabelecer as
ligações entre descobertas obtidas por diferentes fontes, tornando a pesquisa
mais forte enquanto reduz as limitações inerentes pelo uso exclusivo de apenas
um método. Trata-se assim de uma investigação empírica, que segundo Andrew Hill
e Manuela Hill (2008) é uma investigação em que se fazem observações para
compreender melhor o fenómeno a estudar.
No âmbito deste estudo definiu-se primariamente dois segmentos diferentes que
se pretende investigar, são eles: 1) estudantes de licenciatura, mestrado ou
mestrado integrado, de cursos pertencentes à área de engenharia; 2) diretores
(ou ex-diretores) de cursos pertencentes à área de engenharias. De agora em
diante, trataremos o primeiro unicamente por estudantes, e o segundo apenas por
diretores, de modo a evitar um alongamento do texto bem como ajudar à
compreensão visual do documento. Neste artigo é analisada em maior detalhe a
parte correspondente à análise qualitativa dos inquéritos e entrevistas
realizadas a diretores (ou ex-diretores) de curso.
A elaboração do inquérito requer muita ponderação, e usou-se como linhas
orientadoras o sugerido por Andrew Hill e Manuela Hill (2008) que afirmam ser
preciso atentar no tipo de respostas mais adequado para cada pergunta bem como
no tipo de escala associado às respostas e os métodos mais corretos para as
analisar. De acordo com a mesma publicação, torna-se essencial escolher entre
os quatro tipos de respostas seguintes: 1) qualitativas descritas por palavras
pelo respondente; 2) qualitativas escolhidas pelo respondente a partir de um
conjunto de respostas alternativas fornecido pelo autor do questionário; 3)
respostas quantitativas apresentadas em números pelo respondente; 4) respostas
quantitativas escolhidas pelo respondente a partir de um conjunto de respostas
alternativas fornecido pelo autor do questionário.
Os diretores foram inquiridos para atribuir graus de influência à listagem quer
dos fatores que influenciam a escolha do par estabelecimento-curso, quer aos
métodos de divulgação do par estabelecimento-curso, sempre na ótica do
estudante, isto é, para permitir uma melhor comparação pretende-se que os
diretores exprimam aquilo que, na sua opinião, mais irá influenciar os
estudantes. Foram também inquiridos sobre a utilização de meios de divulgação
sobre o par estabelecimento-curso, e em caso afirmativo, para expressarem o
âmbito geográfico dessa aposta na divulgação.
Os diretores foram alvo de entrevistas semiestruturadas. Estas entrevistas
foram efetuadas com a ajuda de um guião de entrevista, que consiste em nada
mais do que uma linha de perguntas orientadoras, e a sua utilização advém da
necessidade de aprofundar algumas perguntas presentes do questionário '
tentando obter respostas que de outra forma não seriam possíveis obter por
escrito - bem como enveredar por outras demandas de conhecimento que possam
surgir com a oportunidade momentânea.
O guião que foi criado para a entrevista semi-estruturada continha as seguintes
questões que permitiram guiar estas entrevistas (Barros, 2013):
* Há quanto tempo é diretor do seu curso atual?
* Quantos anos de experiência acumula na totalidade das suas funções diretivas?
* Qual o numerus clausus que o curso tem vindo a oferecer? Consegue preencher a
totalidade das vagas?
* Já contemplou alguma mudança de nome ou do ciclo de estudos do curso?
* Já contemplou algum ajustamento ao plano curricular?
* Com a passagem ao regime de Bolonha notou algumas melhorias na procura pelos
alunos ou na aceitação do curso pelo mercado de trabalho?
* Tem conhecimento de como os alunos ouviram falar do curso ou porque o
escolheram?
* Qual o maior veículo de promoção dos cursos?
* Acha importante a promoção de cursos que conseguem encher as suas vagas sem
dificuldades?
* Acha que as ações de promoção do curso têm impacto nos estudantes?
* Tem conhecimento de outros cursos ou instituições que possam alienar alunos?
* Que tipo de decisões precisa de tomar, seja no quotidiano ou anualmente, no
seu cargo de diretor?
* Que fontes de informação consulta para as tomadas de decisão universitárias?
* Considera o estado social e económico do país relevante nas tomadas de
decisão?
As entrevistas foram gravadas com o consentimento dos entrevistados, para a
finalidade de transcrição, e utilizou-se a aplicação Smart Voice Recorder '
disponível na plataforma Google Play - para a tarefa de gravar a entrevista.
Novamente, todos os métodos tem as suas limitações e este não foge à regra. Uma
entrevista presencial pode estar condicionada pela predisposição do
entrevistado, pela opinião pessoal acerca do entrevistador, por ideias pré-
concebidas ou até pela demanda por informação sensível ou de cariz privado.
Tal método de recolha de dados, pressupõe o uso de técnicas de análise de dados
qualitativos, no caso concreto, análise de conteúdo. A análise de conteúdo é
uma técnica aplicada em diversas áreas do conhecimento, tida como uma
ferramenta bastante útil para atingir uma compreensão de toda a classe de
documentos, que vai muito além da simples leitura. Optou-se por se limitar o
estudo ao conteúdo manifesto dos documentos, isto é, dar ênfase à inferência
direta do que o autor quis dizer, de modo a enfatizar a objetividade.
Dada a unicidade de cada curso, decidiu-se apenas analisar as questões que
figuravam do guião de entrevista semiestruturada que eram comuns para todos os
entrevistados, e para a respetiva análise, o texto foi codificado de modo a
esclarecer acerca das suas caraterísticas.
4. Técnica de Análise de Conteúdo
Dada a recolha de dados qualitativos através da utilização de entrevistas
semiestruturadas como técnica de recolha de dados, pressupõe-se a utilização de
técnicas de análise de dados qualitativas, como é o caso da técnica de análise
de conteúdo (Amado, Costa & Crusoé, 2013; Bardin, 2013). Para Olabuenaga e
Ispízua (1989) análise de conteúdo é uma técnica para ler e interpretar o
conteúdo de toda a classe dos documentos, que ao serem analisados adequadamente
permitem obter o conhecimento de aspetos de outro modo inacessíveis. Moraes
(1999) vai mais longe afirmando que esta técnica tem um significado especial na
investigação em ciências sociais pois ajuda a reinterpretar mensagens e a
atingir uma compreensão de significado que vai muito além de uma simples
leitura. Para o mesmo autor, a análise de conteúdo é uma ferramenta, um guia
prático para a ação, sempre renovada em função dos problemas cada vez mais
diversificados que se propõe a investigar, além de que tem um campo de
aplicação muito vasto em virtude das várias áreas do conhecimento em que pode
ser aplicada, bem como usufrui de uma diversa panóplia de objetos de estudo.
Através de uma limitação do estudo ao conteúdo manifesto dos documentos, no
qual se procura a inferência direta do que o autor quis dizer, pretende-se
enfatizar a objetividade em detrimento de uma análise de conteúdo latente, mais
propensa à subjetividade.
Segundo Bardin (2013) tratar o material é codificá-lo. A codificação
corresponde a uma transformação dos dados em bruto do texto, transformação esta
que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do
conteúdo, ou da sua expressão, suscetível de esclarecer o analista acerca das
características do texto. Para efetuar esta análise, decidiu-se dividir a
análise de conteúdo em cinco aspetos distintos, tais como: 1) categoria ' aonde
se refere o tema tratado na entrevista; 2) subcategoria ' aonde se tratam as
questões que se englobam no tema; 3) unidade de registo ' aonde se organizam os
segmentos de conteúdo a considerar como unidade base; 4) unidades de contexto '
aonde são referidas as questões colocadas e as respostas obtidas; 5) enumeração
' contabilização do registo. Neste último aspeto, muito subjetivo, foi
considerada uma escala do tipo intensidade, pois pretendem-se obter fatos novos
por parte dos entrevistados, e de modo a medir a sua frequência utilizar-se-á
uma escala de zero a cinco, em que o zero constituiu uma falta de ocorrência de
novos fatos enquanto os restantes valores, crescem em função da ocorrência de
novos fatos.
Importa referir que dada a unicidade de cada curso bem como a própria
personalidade e o conhecimento de cada diretor, nem sempre tem nexo colocar as
mesmas questões a diferentes entrevistados. A análise de conteúdo tenta focar-
se nas questões mais fulcrais, mas acima de tudo, nas questões que constituem
uma base comum para todos os entrevistados (sempre que possível). Alguns outros
excertos considerados como relevantes serão analisados individualmente e a sua
contextualização estará também assegurada.
5. Análise de Dados
Esta seção apresenta a análise efetuada às entrevistas realizadas aos seis
diretores. Para tal, conta-se com o auxílio da técnica de análise de conteúdo
(Amado, Costa & Crusoé, 2013; Bardin, 2013), que irá englobar a maioria das
perguntas que eram comuns a todos os entrevistados e incide sobre a inferência
direta do que os entrevistados quiseram dizer. Todas as entrevistas foram
realizadas presencialmente e tiveram a duração de 10 a 28 minutos.
De seguida apresenta-se uma matriz de análise para contextualizar a entrevista
e a respetiva análise de conteúdo sobre a entrevista realizada ao Professor 1
(tabela_1).
A matriz de análise e análise de conteúdo permitem-nos verificar que a
entrevista presencial foi realizada num curso de licenciatura num prestigiada
Universidade e um curso com bastante ocupação e prestígio, pois não tem
dificuldade em preencher as suas vagas e parte como favorito aos olhos dos
estudantes que têm como preferência obter uma colocação neste curso. Foram
colocadas perguntas que se enquadravam em duas principais categorias, gestão
universitária e análise dos acessos ao Ensino Superior, subdivididas nas
subcategorias, ajustamento ao plano curricular, fundamentar tomada de decisão,
divulgação do curso e concorrência. Dado o intuito das entrevistas realizadas
consistir no levantamento de novos factos que nos permitam ter um melhor
entendimento da temática em estudo, pretende-se com a análise das respostas
verificar a existência desses novos factos. A enumeração pretende ser a
representação visual desse mesmo levantamento, sumariando o número de novos
factos que se podem retirar sobre as respostas dos entrevistados. Em relação à
pergunta ' Já efetuou alguma alteração ao plano curricular? ' verifica-se uma
pontuação de 1, atribuída pela enumeração de uma alteração ao plano curricular,
no caso concreto, a introdução de uma nova unidade curricular que visa colmatar
a perda do estágio curricular (que era obrigatório quando o curso era lecionado
no período Pré-Bolonha).
A pergunta ' Aonde se baseia para a tomada de decisão universitária? ' obtém
também uma pontuação igual a 1, em virtude da enumeração de uma fonte de
informação para a tomada de decisão universitária, no caso concreto, reuniões
no início de cada semestre com os outros docentes do curso. Quando confrontada
com a pergunta ' Que esforços faz para publicitar o curso? ' cuja resposta
obtém uma pontuação igual a 1, a entrevistada decidiu salientar que se fazem
esforços para perceber como os estudantes tiveram conhecimento do curso e que
se chega à conclusão que tiveram conhecimento do curso por intermédio de outra
pessoa. Em relação à pergunta ' Tem noção de outros cursos ou instituições que
possam alienar alunos? ' cuja resposta obtém uma pontuação igual a 3, a
entrevistada não só sugere que o curso não tem sofrido alienação de estudantes
por parte de outros cursos ou instituições como também discorre sobre alguns
dos motivos que influenciam o estudante a escolher este par estabelecimento-
curso em detrimento de outros. Dos motivos enumerados constam o reconhecimento
do curso, a média de entrada, o maior número de estudantes e o preenchimento
das vagas oferecidas.
A matriz de análise e análise de conteúdo seguintes (tabela_2) demonstram-nos
que a entrevista recaiu sobre o Professor 2, professor universitário e diretor
de um reputado mestrado integrado. As especificidades deste curso consistem num
curso bastante conceituado dentro da sua área de estudos e que não consegue
alocar todos os candidatos devido à elevada procura.
A primeira pergunta ' Já efetuou alguma alteração ao plano curricular? ' obteve
uma pontuação de 2, atribuída devido à enumeração de uma alteração referente à
criação de uma unidade curricular que visava preparar os estudantes para o
processo de dissertação, bem como pela adição de que essas mudanças no plano
curricular podem não visar exclusivamente a mudança de unidades curriculares
mas sim uma atualização por parte dos docentes. Durante a realização da
entrevista foi recolhida a informação que o curso em questão iria aumentar a
oferta de vagas no ano letivo seguinte, pelo que se colocou a pergunta ' Aonde
se baseia para aumentar o numerus clausus do curso? A resposta a esta pergunta
obteve uma pontuação igual a 0 dado que não relevou nenhum facto novo que
permitisse atingir um maior relevo na investigação desta temática. No que toca
à pergunta ' Que esforços faz para publicitar o curso? ' são revelados esforços
que apontam para a presença em ações de divulgação da faculdade e da
universidade bem como visitas de estudo, pelo que a esta resposta atribui-se
uma pontuação igual a 2 em virtude da enumeração de novos factos que contribuem
para o desenvolvimento da temática em estudo. A última pergunta ' Tem noção de
outros cursos ou instituições que possam alienar alunos? ' suscitou várias
respostas contendo novos factos em relação ao que se pretendia estudar, pelo
que obteve uma pontuação igual a 5. Entre estas respostas encontram-se a
enumeração de outras universidades concorrentes, como a Universidade do Minho,
Universidade de Aveiro e o Instituto Politécnico do Porto, outros cursos
concorrentes, como a licenciatura em ciências de computadores e ainda a
existência de concorrência interna (dentro da mesma faculdade) de outros cursos
tais como ciência da informação, engenharia de informação e engenharia
eletrotecnia.
A seguinte matriz de análise e de análise de conteúdo (tabela_3) permitem
verificar que foi efetuada uma entrevista ao Professor 3, professor
universitário e diretor de um mestrado integrado novo, em regime pós-laboral. O
curso em questão trata-se de um curso a funcionar num regime pós-laboral, e que
não consegue encher a totalidade das suas vagas, visto não usufruir de tanta
procura como o mesmo curso mas no regime diurno.
A primeira pergunta efetuada ' Aonde se baseia para a tomada de decisão
universitária? ' retorna uma resposta a que é atribuída uma pontuação igual a
1, em virtude de explicitar a importância dos órgãos de gestão superiores, que
transmitem regulamentação, normas e diretivas. A segunda pergunta ' Que
esforços faz para publicitar o curso? ' origina uma resposta a que é atribuída
uma pontuação igual a 4, já que salienta a importância da internet e do boca-a-
boca além da enumeração da importância das listas de contactos pessoais e
contactos com outras pessoas ou instituições. Também é mencionada a importância
dos atuais estudantes, que de um ano para o seguinte, publicitam o curso e
acabam por angariar novos estudantes para este mestrado integrado. Em relação à
última pergunta ' Tem noção de outros cursos ou instituições que possam alienar
alunos? ' é referido como resposta a existência de concorrência por parte de
outra instituição pelo que a pontuação atribuída a esta questão é igual a 1.
A matriz de análise e análise de conteúdo seguintes dizem respeito à entrevista
efetuada ao Professor 4 e diretor de um mestrado (segundo ciclo) em fase de
reformulação devido a falta de alunos. O curso em questão reveste-se de
unicidade pois trata-se de um curso atualmente em reformulação e que já não
ofereceu vagas no ano letivo atual. O curso atravessa esta reformulação em
virtude da sua escassa procura por parte dos estudantes.
Quando é perguntado ao entrevistador ' Já efetuou alguma alteração ao plano
curricular? ' este retribui enumerando algumas causas que propiciaram a
alteração que se encontra a decorrer, tais como a falta de identidade própria
por parte do curso bem como a existência de muitas áreas de sobreposição com
outros cursos do próprio departamento. Posto isto, à resposta a esta questão é
atribuída uma pontuação igual a 2, em virtude do levantamento de novos factos
para ajudar à compreensão da temática. É também perguntado ' Que esforços faz
para publicitar o curso? ' que contempla uma resposta a que lhe é conferida uma
pontuação igual a 1, em virtude da nomeação de criação de materiais apelativos
de suporte e divulgação. A última pergunta ' Tem noção de outros cursos ou
instituições que possam alienar alunos? ' foi precedida de uma resposta à qual
foi atribuída uma pontuação igual a 1, dada a falta de clareza em enumerar
concorrência específica, no entanto, é referida a existência de outras ofertas
nesta área pertencentes à esfera da Universidade do Porto.
A tabela_5 seguinte representa a matriz de análise e a análise de conteúdo
respeitantes à entrevista efetuada ao Professor 5, professor universitário e
diretor de um mestrado integrado novo e numa área única mas que conseguiu
encher as suas vagas com boa média. O mestrado integrado sofreu recentemente
alterações que o levaram a alterar o seu ciclo de estudos de licenciatura para
mestrado integrado, bem como o seu nome.
Confrontado com a primeira pergunta ' Já efetuou alguma alteração ao plano
curricular? ' o entrevistado enumera a mudança de nome do curso, de modo a ser
mais chamativo e refletir melhor os conteúdos do curso além da mudança do ciclo
de estudos, pelo que granjeia uma pontuação igual a 2, em virtude da enumeração
de novos factos. Foi também perguntado ' Aonde se baseia para a tomada de
decisão universitária? ' cuja resposta foi bastante esclarecedora merecendo uma
pontuação igual a 5. Foram enumeradas fontes de informação tais como a análise
dos acessos dos anos anteriores, as opiniões dos alunos, opiniões dos ex-
alunos, opinião do mercado e opiniões de vários níveis da universidade. Em
relação aos métodos de divulgação do curso, foi perguntado ' Que esforços faz
para publicitar o curso? ' e obteve-se uma resposta classificada com uma
pontuação igual a 2, em virtude da enumeração da exposição do curso em
programas televisivos e ainda uma iniciativa, o tsi2market, um evento que reúne
os estudantes, a direção de curso e as empresas de modo a permitir tomar o
pulso ao mercado. Por último, inquirindo acerca da existência de concorrência,
como atesta a pergunta ' Tem noção de outros cursos ou instituições que possam
alienar alunos? ' obteve-se uma resposta classificada com uma pontuação igual a
5, dado que foi levantada a existência de uma concorrência interna e externa.
Encontram-se representadas seguidamente a matriz de análise e análise de
conteúdo respeitantes à entrevista efetuada ao Professor 6, professor
universitário e ex-diretor de uma reputada licenciatura em área pouco típica,
entrevista essa que foi realizada pessoalmente. Contextualizando a situação
profissional do docente entrevistado, verifica-se que atualmente não exerce
funções no âmbito da direção de curso, no entanto já as exerceu no passado, com
vasta experiência, contabilizando ainda direções de cursos em edições em Timor
e Moçambique.
Primeiramente opta-se por efetuar a pergunta ' Aonde se baseia para a tomada de
decisão universitária? ' que nos traz uma resposta classificada com uma
pontuação igual a 1, dado que foi levantado um novo facto, tal como o
conhecimento da rede informal. No que concerne à pergunta ' Que esforços faz
para divulgar o curso? ' verifica-se a enumeração de publicidade em fóruns
estudantes e revistas, a criação e divulgação de brochuras ou panfletos
desdobráveis (que antes da sua banalização eram percebidos como transmissores
de uma imagem moderna), a utilização da internet como sendo uma evolução do
passa a palavra e ainda a constatação da importância da realização das
jornadas, organizadas pelos estudantes mas com a ajuda do departamento. Por
tudo isto, à resposta foi atribuída uma pontuação igual a 4. Por último, quando
confrontado com a questão ' Tem noção de outros cursos ou instituições que
possam alienar alunos? ' o entrevistado apenas refere a existência de dois
tipos de concorrência, concorrência interna e concorrência externa, pelo que se
atribui uma pontuação igual a 0. Através da realização das entrevistas e a sua
respetiva materialização que conduziu às anteriores matrizes de análise e
análises de conteúdo, foi possível recolher um leque alargado de respostas, que
seriam à partida inatingíveis usando exclusivamente os inquéritos efetuados
como método de recolha de dados
6. Conclusões e Trabalho Futuro
A análise dos acessos ao ensino superior é um processo não só complexo mas
também extenso e muito trabalhoso. Por tais razões, torna-se impraticável a sua
execução por processos exclusivamente manuais. Torna-se também indubitável,
pela análise do documento, que os processos de tomada de decisão por parte da
gestão universitária estão devidamente avalizados e obedecem a vários
condicionamentos legais.
A importância de fundamentar a tomada de decisão no âmbito da gestão
universitária é enorme e está nas mãos dos diretores de curso e direções das
Universidades. Como tal afigura-se como essencial que estes estejam munidos de
referenciais e informação fidedigna. Tal veio-se a verificar e não só os
diretores estão cientes do enquadramento legal a que devem obedecer, como têm
conhecimento de bastantes fontes de informação nas quais podem basear os seus
processos de tomada de decisão. Por outro lado, os diretores de curso também
devem ter presentes as expetativas dos estudantes ' que são não só clientes mas
também stakeholders das instituições de ensino superior ' de modo a adequar e
divulgar apropriadamente a oferta formativa na qual se inserem.
Analisando mais concretamente as entrevistas realizadas aos diretores, ou ex-
diretores de cursos pertencentes à área de engenharia, que estão na origem da
análise presente no artigo, foi possível, até pela convivência presencial,
verificar a importância conferida pelos entrevistados aos enquadramentos
legais, nomeadamente as acreditações pela A3ES. Outro aspeto bastante
ressaltado, é a concorrência interna, isto é, cursos pertencentes ao próprio
departamento, faculdade ou à própria instituição de ensino superior, que
conseguem alienar alunos. Por estas razões, alguns entrevistados estão na
origem, ou então acompanharam de perto, um processo de reformulação dos cursos
em questão, de modo a garantir a sua sustentabilidade e melhorar a imagem
percebida dos cursos, quer pelos atuais estudantes, mas principalmente com o
escopo fixado no longo prazo, isto é, os futuros estudantes.
Num meio tão volátil, mas ao mesmo tempo tão regulado, a figura do diretor de
curso acaba por assumir um papel de relevo na tomada de decisão universitária,
apesar de existirem outros órgãos de gestão pertencentes às instituições de
ensino superior. Curiosamente, a informação fornecida por esses mesmos órgãos
de gestão - materializados em relatórios, -constava da listagem de fontes de
informação para fundamentar as tomadas de decisão, à qual o segmento dos
diretores acedeu a atribuir uma classificação quanto à sua influência. Nessa
mesma classificação, esta fonte de informação não obteve um lugar de destaque,
sendo suplantada, por exemplo, pela fonte de informação denominada por análise
própria.
Por todos estes motivos, as conclusões deste estudo julgam-se essenciais, e,
embora os novos factos levantados não representem a totalidade de informação
valiosa que seria possível recolher, são, não obstante, uma componente
importante e que merece maior ponderação e análise, pelo que a sua
materialização num sistema de informação apresenta-se como totalmente
plausível.
Trabalho futuro estará relacionado com o cruzamento da informação deste estudo
qualitativo com os resultados de um estudo de caráter qualitativo realizados a
inquéritos realizados a diretores de curso e estudantes (Barros et al., 2014).
O trabalho futuro está também relacionado com a realização de um conjunto mais
vasto de entrevistas a diretores de curso e órgãos de gestão de Departamentos,
Faculdades/Escolas e Universidades e ao cruzamento desses dados com dados de
origem quantitativa relativos a preferências dos estudantes quanto ao acesso ao
ensino superior. Estes dados foram já recolhidos, através de uma aplicação
específica construída para o efeito e que permitiu a recolha automática de
dados nas páginas web da Direção Geral do Ensino Superior em Portugal.