MICROPLANO – Um sistema de apoio à decisão
para o planeamento da produção na indústria dos
plásticos
Introdução
Este caso de estudo foi conduzido numa PME portuguesa que produz componentes de plástico
por injecção, essencialmente para a indústria eléctrica/electrónica. Estes componentes são
obtidos num “shop-floor” composto por 32 máquinas de injecção em paralelo e não idênticas.
Alguns dos componentes fabricados necessitam de sofrer apenas a operação de injecção, enquanto outros têm de ser sujeitos a operações de acabamento ou de montagem realizadas
manualmente. Os planos de produção desta empresa costumavam ser obtidos manualmente,
mas devido ao seu rápido crescimento os responsáveis sentiram a necessidade de melhorar o
processo de planeamento da produção. Neste artigo apresenta-se um sistema de apoio à decisão desenvolvido para a empresa acima referida. Esse sistema foi desenvolvido para elaborar
os planos de produção para o departamento de injecção da empresa, para o qual se pretendiam
dois objectivos:
• Respeitar as datas de entrega, ou pelo menos, minimizar os atrasos verificados.
• Minimizar o número de mudanças de molde.
O sistema de apoio à decisão foi implementado na empresa, onde tem sido utilizado com
sucesso para a obtenção de planos de produção.
2
O caso de estudo
A empresa seleccionada para caso de estudo produz pequenos componentes de plástico para
a indústria eléctrica/electrónica, sendo a maioria destinados ao mercado externo. Os maiores
clientes desta empresa colocam, duas vezes por ano, um conjunto de reservas a seis meses, que
representam uma previsão das suas necessidades para o semestre. Essa informação é actualizada mensalmente com a procura provável para o próximo mês. Finalmente, quinzenalmente
os clientes colocam encomendas firmes, indicando a quantidade e a data de entrega requerida
para cada produto. A empresa fabrica uma grande gama de produtos injectados em mais de
600 moldes diferentes, que são propriedade dos clientes, mas são geridos pela empresa. Para
satisfazer a procura, a empresa tem de planear a produção de cerca de 300 encomendas por
semana.
Os componentes requeridos são fabricados por injecção de plástico num molde composto por
duas partes metálicas. Quando essas duas partes se encontram fechadas, formam uma cavidade
com a forma requerida para o produto. Em cada ciclo a máquina fecha o molde, injecta plástico
para a(s) sua(s) cavidade(s), abre o molde e ejecta os componentes. Após a operação de
injecção alguns produtos estão acabados ao passo que outros necessitam de algumas operações
de acabamento. Essas operações são conduzidas no departamento de montagem da empresa
e consistem essencialmente na montagem de dois ou mais componentes para obter o produto
acabado ou na adição de componentes metálicos (pinos e enrolamentos) aos itens obtidos por
injecção.
Um molde pode ter mais do que uma cavidade, e essas cavidades podem ter a mesma forma
ou formas diferentes. Assim, em cada ciclo uma máquina pode injectar um componente, vários
componentes iguais ou vários componentes diferentes. Vários componentes, obtidos em moldes
diferentes, podem ser necessários para a obtenção de um produto acabado.
O sistema produtivo desta empresa é composto por 32 equipamentos em paralelo. As
máquinas não são todas idênticas e consequentemente cada molde só pode ser montado num
grupo restrito de equipamentos. As máquinas diferem na pressão que podem exercer e na
capacidade de introduzir automaticamente pequenos componentes metálicos nos produtos. O
problema de sequenciamento ocorre no departamento de injecção onde o planeador deve decidir
em que máquina montar cada molde necessário à satisfação das encomendas, e a sequência de
processamento de todas as ordens de produção afectas ao mesmo equipamento.
Antes da implementação do sistema de apoio à decisão, o planeador gerava os planos
manualmente. As sequências resultantes eram introduzidas no “Microsoft Project” para gerar
os diagramas de Gantt entregues aos operadores dos equipamentos.
3
3.1
Os algoritmos
Revisão bibliográfica
O problema descrito na secção anterior é geralmente designado por “lot size scheduling problem”, que passaremos a referir por problema de loteamento e sequenciamento. Neste tipo
de problema os produtos são fabricados por lotes aos quais se encontra associada uma data
de entrega. Quando se passa do fabrico de um lote de um tipo de produto para um lote de
um produto de tipo diferente é necessário modificar as configurações dos equipamentos. Como
essas mudanças acarretam custos e consomem tempo, o objectivo consiste em minimizar o
número de mudanças necessárias, sem prejuı́zo para o cumprimento das datas de entrega. Assim, neste tipo de problemas deve-se procurar sequenciar a produção de modo a que o fabrico
de lotes do mesmo tipo de produtos possa ser realizado sem paragens.
Para o caso em consideração neste artigo os lotes são do mesmo tipo quando correspondem
a produtos fabricados no mesmo molde. Sempre que se passa de um lote para um lote de tipo
diferente é necessário parar o equipamento para mudar de molde, operação essa que tem uma
duração de cerca de 2 horas.
Existem muitas variantes do problema de loteamento e sequenciamento. Encontram-se modelos para máquinas únicas ou múltiplas. Neste último caso existem modelos para máquinas
paralelas ou em sequência. Na formulação deste tipo de problema podem ainda considerar-se
custos de “setup”, que podem ser fixos, dependentes do produto ou dependentes da sequência.
Outra das caracterı́sticas que varia de modelo para modelo é o tratamento que é dado ao
horizonte de planeamento, que pode ser dividido ou não em micro perı́odos. Para uma descrição mais detalhada e uma classificação dos diferentes tipos de problemas de loteamento e
sequenciamento, remete-se o leitor para Drexl and Kimms (1997).
O problema acima referido tem sido estudado por vários autores para o caso em que o
horizonte de planeamento é dividido em micro perı́odos e a capacidade cumulativa até cada
perı́odo é igual ou superior a procura existente até esse perı́odo. Nessa situação, e para o caso
de uma máquina única, referem-se a tı́tulo de exemplo os trabalhos de Glassey (1968), Gascon
and Leachman (1988) ou Blocher and Chand (1996). Em Blazewicz et al (1996) apresenta-se
um algoritmo polinomial para a obtenção da solução óptima para o caso de uma máquina
única. No mesmo livro os autores generalizam esse algoritmo para o caso de várias máquinas
idênticas em paralelo. Pattloch et al (2001) desenvolvem uma heurı́stica, baseada nos modelos
propostos em Blazewicz et al (1996), avaliando-a recorrendo a um caso industrial. Em todos
estes trabalhos os custos de posse e de produção são ignorados.
Meyer (2002) propõe um algoritmo para resolver um problema de loteamento e sequenciamento mais genérico que o referido no parágrafo anterior, continuando no entanto a considerar
que a capacidade disponı́vel até um dado instante é superior à procura cumulativa até esse
instante. Esse algoritmo resolve o problema combinando as meta heurı́sticas de pesquisa local
“treshold acceptance” e “simulated anealing”, com reoptimização dual. Em Santos-Meza et al
(2002) é apresentada um problema de loteamento e sequenciamento encontrado numa fundição,
cuja estrutura se aproxima bastante da verificada para o nosso caso de estudo. Os autores
desenvolvem um algoritmo, baseado na metodologia “branch and bound”, comparando-o com
uma heurı́stica mais simples direccionada para o problema em causa. Os autores concluem que
algoritmos genéricos, como o apresentado no artigo, são pouco melhores que procedimentos
heurı́sticos mais direccionados para o problema em causa para obter uma solução satisfatória
em tempo útil.
Para uma revisão das metodologias seguidas por diferentes autores para a resolução de
diferentes problemas de loteamento e sequenciamento propõe-se a leitura de Staggemeier and
Clark (2001).
Tendo em conta a especificidade do problema analisado neste artigo e os resultados apresentados em Santos-Meza et al (2002), optámos por desenvolver um procedimento heurı́stico
que permitisse obter uma solução aceitável em tempo útil. Esta opção deveu-se essencialmente ao facto de se pretender implementar a metodologia desenvolvida numa empresa, o que
implicava:
• procedimentos simples de entender para facilitar a aceitação, por parte dos utilizadores,
do sistema de apoio à decisão a desenvolver,
• necessidade de obter rapidamente uma solução satisfatória, que poderia ser posteriormente manipulada com a ajuda do sistema de apoio à decisão,
• dificuldade em quantificar alguns parâmetros do problema. Por exemplo, para algumas
encomendas pode ser aceitável atrasar a entrega por algum tempo se isso permitir poupar
uma paragem, não sendo no entanto aceitável para outras encomendas.
Assim, pareceu-nos que a abordagem mais correcta ao problema que nos era colocado consistia
em desenvolver uma metodologia simples, que permitisse obter uma solução satisfatória em
tempo útil. Pensamos que essa metodologia, devidamente suportada por um sistema de apoio
à decisão, poderia ajudar na resolução do problema de planeamento da produção colocado
pela empresa que nos serviu de caso de estudo.
A metodologia que implementamos assenta em duas heurı́sticas, apresentadas em Sule
(1997), e descritas nas secções 3.3 e 3.4. Essas heurı́sticas, não tendo sido desenvolvidas para o
problema de loteamento e sequenciamento em máquinas paralelas não idênticas, podem, como
se verá, conduzir a uma solução para o problema quando usadas sequencialmente.
Nas três secções seguintes descrevemos os três passos que compõem a metodologia que
implementámos para o planeamento da produção tratado neste artigo.
3.2
Preparação do sequenciamento
As encomendas não são sequenciadas tal como são recebidas do cliente, é necessário proceder
a algumas operações preliminares para gerar as ordens de produção e as suas caracterı́sticas.
Essas operações devem-se ao facto de:
• existir stock de produtos intermédios e acabados,
• haver diferentes produtos injectados em simultâneo no mesmo molde,
• existirem produtos que são obtidos com componentes fabricados em moldes diferentes,
• haver diferentes encomendas para o mesmo produto e data de entrega.
Num primeiro passo as quantidades de material existente no stock de produtos acabados é
descontada às necessidades impostas pelas encomendas, gerando-se uma lista de todos os produtos acabados requeridos para satisfazer as encomendas. Essa lista é “explodida”, obtendo-se
uma segunda lista contendo as necessidades dos componentes. A essa segunda lista subtrai-se
as existências de componentes existentes em armazém, obtendo-se uma terceira lista contendo
todos os componentes que devem ser injectados para satisfazer as encomendas dos clientes.
No passo seguinte essa lista é analisada, de modo a encontrar ordens de produção que são
processadas em simultâneo no mesmo molde. A existência de ordens de produção desse tipo
pode implicar um reajuste das quantidades a fabricar. Suponha-se por exemplo duas ordens
de produção referentes a produtos fabricados no mesmo molde: uma ordem para 200 unidades
de X e outra de 50 unidades de Y. O molde onde X e Y são injectados possui duas cavidades
para X e uma cavidade para Y. Neste caso a segunda ordem de produção deve ser ajustada
para 100 unidades de Y, sendo 50 utilizadas para satisfazer as encomendas dos clientes e as
restantes para stock.
As ordens de produção referentes a produtos processados no mesmo molde para a mesma
data de entrega são agrupadas numa tarefa. Assim, uma tarefa pode satisfazer uma ou mais
ordens de produção.
O último passo consiste em determinar o tempo de processamento de cada tarefa, que é
função do tempo de ciclo do molde, quantidade requerida e número de cavidades.
Após estes passos as tarefas geradas têm de ser sequenciadas no departamento de injecção.
De modo a simplificar o problema decidiu-se originar as sequências de fabrico em dois passos.
• No primeiro passo os moldes são afectos aos equipamentos, procurando equilibrar a carga
de trabalho imposta às diferentes máquinas
• No segundo passo as tarefas impostas pelos moldes afectos a uma máquina são sequenciadas, procurando-se minimizar os atrasos e o número de paragens para mudança de
molde.
Para realizar estes dois passos recorre-se a duas heurı́sticas referidas em Sule (1997) que se
descrevem nas secções seguintes.
3.3
Heurı́stica 1 – Afectação dos moldes aos equipamentos
Considera-se que quando se afecta um molde a um determinado equipamento todas as tarefas
correspondentes a produtos processados por esse molde são afectas a esse equipamento. Assim,
cada molde irá impor uma carga ao equipamento onde é afecto igual ao somatório dos tempos
de processamento de todas as tarefas que necessitam desse molde. A afectação dos moldes pelos
equipamentos é realizada recorrendo ao algoritmo abaixo apresentado, que procura equilibrar
a carga de trabalho, medida em horas, imposta aos diferentes equipamentos.
Passo 1: Calcular o ı́ndice de flexibilidade de cada molde (número de máquinas onde este
pode ser montado) e para cada máquina (número de moldes que podem ser montados nessa
máquina).
Passo 2: Seleccionar o molde (I) menos flexı́vel, em caso de empate escolher o molde
associado à máquina menos flexı́vel. Do conjunto de máquinas onde o molde I pode ser
montado, escolher a máquina (J) com menor carga e afectar-lhe o molde I.
Passo 3: Recalcular a carga do equipamento J, considerando a carga imposta pelo molde
I.
Passo 4: Recalcular os ı́ndices de flexibilidade para todas as máquinas onde esse molde
poderia ter sido montado. Repetir o passo 2, 3 e 4 até que todos os moldes tenham sido
afectados a algum equipamento.
3.4
Heurı́stica 2 – Sequenciamento das tarefas
Após a execução da heurı́stica 1 todas as tarefas encontram-se afectas a um determinado equipamento. Com a heurı́stica que se apresenta neste ponto pretende-se determinar a sequência
pela qual devem ser processadas as tarefas afectas ao mesmo equipamento, procurando minimizar o número de mudanças de molde e garantir o cumprimento das datas de entrega. Para
tal recorre-se a heurı́stica que se apresenta de seguida.
Passo 1: Agrupar as tarefas por tipo – tarefas referentes a produtos fabricados no mesmo
molde – e dentro de cada grupo ordená-las por ordem crescente das suas datas de entrega.
Passo 2: Calcular o instante de inı́cio mais próximo (IIP) de cada tarefa. O IIP de uma
tarefa é definido como sendo a data de entrega – (tempo de processamento + tempo de “setup”
+ tempo requerido por operações posteriores à injecção)
Passo 3: Começar a sequência com uma das tarefas com menor IIP e calcular a duração
da sequência.
Passo 4: Continuar a sequência afectando-lhe a tarefa seguinte do mesmo grupo até
que todas as tarefas do grupo tenham sido sequenciadas ou até que a duração da sequência
ultrapasse o IIP de alguma tarefa não sequenciada de outro grupo. Denote essa tarefa por k
e passe ao passo 5
Passo 5: Se todas as tarefas foram afectadas pare. Se não, remova a tarefa que levou
a duração da sequência a exceder o IIP de k e afecte a tarefa k. Calcule o novo valor da
sequência e volte ao passo 4.
Verifica-se que esta heurı́stica procura minimizar o número de paragens para mudança de
moldes e não o tempo total dessas paragens. Esta opção é adequada para este problema, uma
vez que o tempo de montagem associado aos diferentes moldes nos diferentes equipamentos
não se encontra sujeito a grande variabilidade.
Os dois algoritmos acima descritos e as operações referidas para a preparação das ordens
de produção foram implementados num sistema de apoio à decisão que se descreve na secção
seguinte.
4
MICROPLANO: O sistema de apoio à decisão
Cada vez que o planeador pretende realizar um plano de produção, todas as encomendas
são descarregadas do sistema de informação da empresa. Esse ficheiro representa todas as
encomendas inseridas pelo departamento de vendas desde o último plano de produção. Essas
encomendas são adicionadas à base de dados do Microplano gerando um ficheiro com todas as
encomendas por satisfazer.
4.1
Preparação das ordens de fabrico
O primeiro passo realizado pelo Microplano consiste em analisar o ficheiro das encomendas,
gerando as ordens de produção e as suas caracterı́sticas de acordo com o que foi descrito em
§3.1. Nesta fase o Microplano apresenta num conjunto de ecrãs, a informação relevante para a
realização do plano de produção: disponibilidade dos moldes e das máquinas (algumas podem
estar inoperacionais por motivo de manutenção), a matriz molde/máquinas, e as ordens de
produção que devem ser sequenciadas. Após esta operação o utilizador pode aceder a dois
ecrãs que lhe permitem preparar o plano pretendido. No primeiro são apresentadas todas as
ordens de produção, dando-se ao utilizador a hipótese de apagar ou adicionar novas ordens de
produção (ver Figura 1). Esta capacidade tem sido utilizada para eliminar ordens de produção
correspondente a encomendas canceladas pelos clientes, ou para criar novas ordens quando a
carga imposta ao sistema é baixa e o utilizador decide aproveitar este facto para produzir
alguns itens para stock.
O utilizador pode ainda aceder à matriz molde/máquina, apresentada na figura 2, alterandoa. Neste ecrã o utilizador pode ainda definir os perı́odos de disponibilidade dos moldes e dos
equipamentos. Quando todas as ordens de produção foram geradas o Microplano passa ao
passo seguinte que consiste no carregamento dos equipamentos.
4.2
Carregamento dos equipamentos
Nesta fase o Microplano afecta cada molde a uma máquina, recorrendo à heurı́stica apresentada
na secção § 3.2. O resultado desta afectação é apresentado sob a forma de uma tabela onde se
apresenta a carga imposta a cada equipamento, bem como sob a forma de um gráfico de barras
Figura 1: Ecrã dados, apresentando a lista de ordens de produção geradas pelo Microplano.
Figura 2: Pormenor da matriz molde/máquina com indicação dos equipamentos indisponı́veis (colunas
amarelas).
Figura 3: Ecrã onde se apresenta o resultado da afectação dos moldes aos equipamentos.
que permite avaliar rapidamente possı́veis desequilı́brios entre a carga imposta às diferentes
máquinas (Figura 3).
Neste ecrã o utilizador pode ainda definir uma carga mı́nima para os equipamentos. Por
exemplo, pode não ser conveniente preparar um equipamento para que este esteja a produzir
durante um perı́odo muito curto. Geralmente, nesta empresa não há interesse em arrancar
com um equipamento se este não estiver a produzir pelo menos durante um turno completo.
Quando esta opção é seleccionada a carga dos equipamentos que não atinjam a carga
mı́nima pretendida é, se possı́vel, transferida para outros equipamentos, procurando-se sempre
garantir um equilı́brio da carga imposta às diferentes máquinas.
4.3
Sequenciamento das ordens de produção
Nesta fase o Microplano obtém a sequência de produção que deve ser seguida em cada equipamento, apresentando o resultado sob a forma de uma tabela. As tarefas que serão concluı́das
com atraso são apresentadas a vermelho. Quando a execução de uma tarefa implica a paragem
da máquina para se montar o molde requerido, o seu código é apresentado a bold.
O número total de ordens de produção concluı́das com atraso e o número de mudança de
moldes são apresentados em duas caixas de texto, para permitir um conhecimento rápido das
medidas de desempenho. O ecrã onde é apresentada a sequência obtida para um determinado
equipamento é apresentado na Figura 4.
O utilizador pode alterar a sequência proposta pelo Microplano, trocando a posição de uma
ou mais ordens de produção. O planeador tem recorrido a esta possibilidade para procurar
uma redução no número de mudanças de molde, movendo tarefas para posições adjacentes a
Figura 4: Ecrã onde se apresenta o sequenciamento obtido para uma determinada máquina.
tarefas que requerem o mesmo molde.
Estas trocas conduzem, geralmente a sequências com menor número de mudanças de molde,
mas com um maior número de ordens de produção concluı́das com atraso. O utilizador pode
conhecer rapidamente o efeito que as trocas efectuadas têm sobre o plano obtido, podendo
decidir se pretende mantê-las ou não.
4.4
Relatórios
Quando o utilizador considera que obteve um plano de produção satisfatório, pode utilizar o
Microplano para gerar uma série de relatórios. O plano obtido é apresentado sob a forma de
uma tabela onde, para cada máquina se refere a lista das ordens de produção a processar. Para
cada uma dessas ordens é dada a data de inı́cio e fim de processamento e a data de entrega.
Essa informação pode ser automaticamente transferida para o MicrosoftProject que irá gerar
os diagramas de Gantt a fornecer aos operadores.
O Microplano também gera relatórios, contendo informação acerca das matérias-primas,
componentes e material de embalagem, necessários para satisfazer o plano obtido. Esta informação pode ser utilizada pelo departamento comercial para definir polı́ticas de aquisição
correctas.
Na figura 5 apresentam-se dois relatórios gerados pelo Microplano: o plano de produção
obtido e o consumo de matérias-primas necessárias à sua satisfação.
Operação do Microplano
O Microplano pode ser utilizado de duas formas distintas:
• Considerar que não existem actualmente tarefas afectas às máquinas, i.e., ignorando o
plano de produção anterior.
• Considerando o plano de produção anterior, i.e., considerando as tarefas que se encontram
em processamento nos equipamentos.
A segunda maneira de utilizar o Microplano é a mais frequente e a mais adequada à geração
de planos semanais de produção. Neste caso o Microplano acede ao Microsoft Project, onde
o plano de produção anterior está a ser actualizado e analisa o estado actual das tarefas
sequenciadas na semana anterior. O Microplano analisa o plano anterior, fixando em cada
máquina a tarefa que se encontra em processamento e a que lhe sucede. As restantes tarefas
retornam para a base de dados do Microplano para serem sequenciadas com as tarefas que
entretanto resultaram das novas encomendas. O Microplano calcula o tempo necessário à
conclusão das ordens de produção fixadas obtendo assim o instante inicial da sequência para
cada máquina no novo plano.
Este procedimento tem duas implicações no procedimento seguido para obter os planos de
produção:
• Todos os moldes requeridos para processar as tarefas do plano anterior que foram fixadas,
são mantidos nas máquinas onde estavam afectos. Isso implica que todas as novas tarefas
que necessitam desse molde serão afectas a esses equipamentos.
• Quando a sequência de produção obtida é apresentada ao utilizador, o código do molde
actualmente em utilização no equipamento é apresentado numa caixa de texto. O utilizador, com essa informação, pode procurar alterações na sequência proposta pelo Microplano, que permitam passar do plano anterior para o plano actual sem necessitar de
parar o equipamento.
A outra forma de operar o Microplano ignora o que se está a passar nos equipamentos,
considerando que no inı́cio do planeamento todas as máquinas estão com carga nula. Este modo
é mais simples dando menos trabalho ao planeador, mas é inadequado ao estabelecimento
de planos de produção semanais. Este modo de operação está a ser utilizado para gerar
planos de médio prazo. Para tal o Microplano considera, não apenas as encomendas firmes,
mas todas as reservas colocadas pelos clientes, que poderão ou não vir a transformar-se em
encomendas firmes. Este procedimento permite ter uma previsão da carga que será imposta
aos equipamentos nos próximos meses permitindo a identificação de possı́veis problemas de
capacidade.
5
Avaliação do MICROPLANO
O Microplano encontra-se implementado na empresa referida neste artigo e está a ser utilizado
para planear a produção no departamento de injecção. A sua avaliação em termos quantitati-
vos, redução de tarefas concluı́das com atraso ou redução do número de mudanças de molde,
tem sido impossı́vel devido a vários factores:
• Não existem dados históricos relativos aos planos de produção. Com efeito, o que existe
são os diagramas de Gantt resultantes da actividade dos operadores, i.e., existe um
registo do trabalho efectuado que pode não corresponder ao que tinha sido planeado.
• Em muitas situações não é possı́vel estabelecer uma relação entre a produção de um
determinado perı́odo e as encomendas que geraram essa produção.
• Não é possı́vel reproduzir os passos realizados pelo planeador, uma vez que existem
decisões que obedecem a critérios subjectivos.
Apesar destas dificuldades a avaliação do Microplano é positiva. O Microplano está implementado na empresa e está a ser utilizado para elaborar os planos de produção. Isto indicia que
os planos obtidos com a sua utilização são, pelo menos, tão bons quanto os que eram obtidos
antes da sua implementação. A qualidade dos planos obtidos deve-se essencialmente à rapidez
com que é possı́vel obter planos, o que permite disponibilizar tempo para manipular os planos
gerados, testando várias alternativas e obtendo um “feedback” imediato acerca da influência
das alterações realizadas sobre as medidas de desempenho.
Além disso, como em qualquer implementação de sistemas de apoio à decisão, as melhorias para a empresa não se limitam às melhorias dos planos obtidos ou à redução do tempo
necessário à sua geração. No caso deste trabalho podem destacar-se as seguintes vantagens:
• Definição de regras de planeamento claras. A tı́tulo de exemplo, foi o desenvolvimento
e implementação do Microplano que obrigou os responsáveis a decidir como lidar com
as tarefas não concluı́das de planos anteriores quando se inicia a realização de um novo
plano.
• Possibilidade de realizar planos de mais longo prazo, considerando as reservas em vez das
encomendas firmes, que permitem uma antecipação na detecção de eventuais problemas e
permitem coordenar mais facilmente as tarefas de diferentes departamentos da empresa,
nomeadamente a coordenação produção/compras.
• A implementação do Microplano obrigou a uma revisão do sistema de informação da
empresa. Essa revisão consistiu numa actualização da informação e numa redefinição das
fichas dos produtos, onde foi adicionada informação relevante quer para os responsáveis
do departamento de produção quer para outros departamentos.
• Manutenção de um histórico de planos de produção e das encomendas que o geraram, o
que associado a um histórico da produção efectivamente realizada, facilita as tarefas de
controlo da produção.
6
Conclusões
Neste artigo apresenta-se um problema de planeamento da produção encontrado numa PME
portuguesa do ramo dos plásticos. Descrevem-se as heurı́sticas escolhidas para realizar o
planeamento e o sistema de apoio à decisão, o Microplano, desenvolvido para as suportar.
O Microplano foi implementado na empresa descrita neste artigo e tem sido utilizado
regularmente para a obtenção dos planos de produção. O planeador tem seguido os planos
obtidos com o Microplano, que parecem ser melhores que os que eram obtidos manualmente.
Isto deve-se ao facto de o planeador perder menos tempo na geração dos planos, podendo
aproveitá-lo para manipular os planos obtidos tendo um “feedback” imediato sobre as medidas
de desempenho.
Pretende-se desenvolver o Microplano, procurando melhorar o seu desempenho. Os desenvolvimentos pretendidos prendem-se essencialmente com a introdução de novos algoritmos de
planeamento, procurando melhorar as soluções iniciais. Os novos algoritmos que pretendemos
implementar e testar são de três tipos:
• Algoritmos que permitam o carregamento e o sequenciamento dos equipamentos em
simultâneo e não em dois passos distintos como o que se verifica na versão actual.
• Pretende-se ainda permitir que ordens de produção fabricadas no mesmo molde possam
ser afectas a diferentes equipamentos.
• Meta heurı́sticas para procurar automaticamente trocas que possam melhorar os planos
obtidos.