EFEITO DA DATA DE SEMENTEIRA NA PRODUTIVIDADE
DE TRIGO MOLE (TRITICUM AESTIVUM L.)
EM CONDIÇÕES MEDITERRÂNICAS
INTRODUÇÃO
A escolha da data de sementeira dos cereais cultivados no período de Outono-Inverno
depende das condições climáticas da região e
da precocidade da variedade (Bellido, 1991).
Ela será tanto mais antecipada quanto maior
for a latitude ou altitude do lugar (zonas frias).
Na região mediterrânea, a época decorre desde
Outubro a Dezembro e a sua escolha deve ser
adequada, a fim de aproveitar os condicionalismos ambientais mais favoráveis ao desenvolvimento das plantas.
Ao encurtar o ciclo vegetativo através do
avanço da data de sementeira pode acelerarse o processo de senescência das folhas,
afectando o desenvolvimento das plantas e
reduzindo-lhes a capacidade produtiva
(Benbella & Paulsen, 1998). Isto porque o
atraso da sementeira pode afectar componentes
da produção, como o número de inflorescências por unidade de área (Kerr et al., 1992;
Donaldson et al., 2001), e a consequente
produção de grão (Kerr et al., 1992; Coventry
et al., 1993; Donaldson et al., 2001). Além
destes parâmetros, o seu efeito parece prejudicar, igualmente, a quantidade de palha produzida por hectare (Kerr et al., 1992; Donaldson et al., 2001).
Todavia, alguns mecanismos de compensação permitem diminuir as diferenças entre
datas. Por exemplo, Spink et al. (2000) referem
que o decréscimo da taxa de afilhamento
causado pelas sementeiras tardias, pode ser
compensado por um acréscimo da densidade
populacional, permitindo este, estabelecer o
equilíbrio adequado do número de espigas por
unidade de área.
Apesar dos inconvenientes referidos,
existem algumas vantagens quando se espera
por um período mais avançado no tempo para
realizar a sementeira, como por exemplo,
poder garantir um teor de humidade do solo
mais favorável para semear a cultura e, simultanemente, controlar uma grande proporção da
infestação potencial na preparação da cama da
semente (Kerr et al., 1992; Carvalho, 1994;
Calado et al., 2002).
Por outro lado, a antecipação da sementeira para permitir uma senescência mais lenta,
também pode causar prejuízos. Por exemplo,
quando a precipitação abundante garante um
grande crescimento inicial das plantas e,
posteriormente, é insuficiente para manter toda
a área fotossinteticamente activa, principalmente nas fases reprodutiva e de maturação
(Benbella & Paulsen, 1998). Além disso, as
plantas podem apresentar um grande desenvolvimento quando as temperaturas são mais
baixas, ficando mais sujeitas à acama e, em
consequência, é prejudicada a formação de
caules.
Assim, o período mais favorável para a
sementeira de uma determinada cultivar em
qualquer local, pode ser definido, como o que
proporciona à planta adequada acumulação de
biomassa e apropriado número de grãos (Kerr
et al., 1992). Deve ainda, evitar a redução da
população potencial devido às geadas, às
doenças foliares, ao défice hídrico no solo e
aos golpes de calor e ventos quentes, durante
o intervalo crítico, que decorre desde a floração até à formação e enchimento do grão (Kerr
et al., 1992). Simultaneamente, pode contribuir
para facilitar o uso de algumas técnicas culturais mais adequadas à sustentabilidade dos
sistemas.
Devido à importância do período de
sementeira, resultante dos condicionalismos
mencionados, procurou-se, neste trabalho,
verificar a data de sementeira mais adequada
à produtividade da cultura do trigo sob condições mediterrânicas. A partir deste objectivo,
realizaram-se diferentes datas de sementeira
de quinze genótipos de trigo mole entre 1994/
95 e 1999/00 na região Alentejo.
MATERIAL E MÉTODOS
No início desta experimentação, que
decorreu no ano de 1994/95, instalou-se o
ensaio em dois locais diferentes: um foi na
Herdade do Louseiro, que pertence ao concelho de Évora, distrito de Évora, a uma
latitude de 38º 31’ 44’’ N e uma longitude de
7º 48’ 22’’ W do meridiano de Greenwich, e
outro na Herdade de Almocreva, no concelho
de Beja, distrito de Beja, a uma latitude de 37º
59’ 9’’ N e uma longitude de 7º 55’ 40’’ W do
meridiano de Greenwich. Posteriormente, nos
anos de 1996/97 a 1999/00, este estudo
realizou-se na Herdade da Revelheira da
Direcção Regional de Agricultura do Alentejo,
concelho de Reguengos de Monsaraz, distrito
de Évora, localizada a uma latitude de 38º 27’
54’’ N e uma longitude de 7º 28’ W do
meridiano de Greenwich.
No ano de 1994/1995, o ensaio foi instalado
na região de Beja num solo Barro CastanhoAvermelhado Calcário Muito Descarbonatado
de dioritos ou gabros ou rochas cristalofílicas
básicas (Bvc) e na de Évora num solo Mediterrâneo Pardo Para-Hidromórfico de quartzodioritos ou dioritos (Pmh). Para os restantes quatro anos, as condições edáficas
sobre as quais decorreu o estudo, foram o
solo Mediterrâneo Pardo de dioritos ou
quartzodioritos ou rochas microfaneríticas ou
cristalofílicas afins (Pm) nos anos de 1996/97
e 1998/99, e o solo Mediterrâneo Vermelho ou
Amarelo de dioritos ou quartzodioritos ou
rochas microfaneríticas ou cristalofílicas afins
(Vm) em 1997/98 e 1999/00. Qualquer destes
solos é caracterizado por Cardoso (1965).
Quanto às condições climáticas do primeiro ano (1994/95), registaram-se os valores mensais da precipitação e da média das
temperaturas médias, máximas e mínimas do
ar, nas estações meteorológicas de Beja e
Évora (Figura 1). Os do ano (1994/95) foram
cedidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica e os referentes à média da
precipitação de trinta anos (1951/80) obtidos
por consulta da publicação do Instituto
Nacional de Meteorologia e Geofísica (1991).
Relativamente às condições climáticas
verificadas nos outros quatro anos em que
decorreu a experimentação, apresentam-se nas
Figuras 2 e 3 os valores mensais da precipitação e da média das temperaturas médias,
máximas e mínimas do ar. Estes foram registados na estação meteorológica de Reguengos
de Monsaraz do Instituto de Ciências Agrárias
Mediterrânicas (ICAM), instalada na Herdade
da Revelheira, onde decorreram os trabalhos
de campo. Por sua vez, a precipitação mensal
referente à média da precipitação ocorrida em
trinta anos, foi obtida do Instituto Nacional de
Meteorologia e Geofísica (1991), a partir de
valores registados na estação udométrica de
Reguengos de Monsaraz.
Tratamentos e delineamento experimental
Os tratamentos realizados neste ensaio
foram os seguintes:
- Datas de sementeira (talhão principal).
- Quinze genótios de trigo mole (talhão
dividido).
O delineamento experimental foi em
blocos casualizados com divisão dos talhões
(“split-plot”) e quatro repetições. Cada talhão
era constituído por seis linhas distanciadas 20
cm e com um comprimento de 10,5 m, sendo
a área à colheita de aproximadamente 11 m2.
Em cada um destes talhões, marcou-se um
subtalhão com as seis linhas e um comprimento
de 0,5 m, ou seja, uma área de 0,6 m2, para
efectuar observações e verificações. Devido às
condições termopluviométricas verificadas
durante os anos em que decorreu o ensaio
(Figuras 1, 2 e 3), semearam-se quatro datas
no primeiro (1994/95), duas no segundo
(1996/97), uma no terceiro (1997/98), três no
quarto (1998/99) e três no quinto ano (1999/
00) desta experimentação.
Quanto aos genótipos utilizados e aos
hábitos de crescimento que os caracterizam de
acordo com a informação dada pela Estação
Nacional de Melhoramento de Plantas, estão
indicados a seguir:
TE 9202 (Sever) - alternativo; Anza Primavera; TE 93043 - alternativo; TX/AMI
(Jordão) - alternativo; Centauro - alternativo;
TE 9009 (Eufrates) - alternativo; TE 9111
(Nabão) - Primavera; TE 9104 - Primavera;
TE 9301 - Primavera; TE 9113 - Primavera;
TE 9114 - Primavera; TE 9112 - Primavera;
TE 9403 - Primavera; TE 9405 - Primavera;
HAHN”S”*2/PRL”S” - Primavera.
Técnicas culturais
Como este ensaio decorreu nas folhas
destinadas à cultura do trigo nas Herdades
de Almocreva e do Louseiro (ano 1994/95), e
na Herdade da Revelheira (1996/97 a 1999/00),
foi efectuada uma mobilização primária com
a charrua de aivecas ou com o escarificador
pesado (“chisel”) na Primavera ou no Verão
do ano agrícola anterior ao das sementeiras
das diferentes datas deste ensaio. Para
preparar a cama da semente efectuaram-se
mobilizações superficiais do solo com grade
de discos ou escarificador mais vibrocultor
nos quatro anos de ensaios e nas diferentes
datas de sementeira. A densidade de sementeira
foi de 300 grãos·m-2 e utilizou-se o semeador
de ensaios “Wintersteiger”, que permite realizá-la em pequenos talhões. Por sua vez, a
adubação de fundo foi efectuada a lanço, com
40 kg N·ha-1 e 100 kg P2O5· ha-1. As restantes
técnicas culturais utilizadas durante o ensaio,
encontram-se sintetisadas no Quadro 1,
excepto as colheitas, manual (subtalhão de
0,6 m2) e mecânica (talhão de 11 m2) realizada
pela ceifeira debulhadora automotriz de pequenas parcelas, que se efectuaram no mês de
Junho de cada um dos anos agrícolas indicados.
Observações e determinações
As observações e verificações foram da
produção e das suas componentes nos quinze
genótipos de trigo mole. Para as contagens de
plantas, caules e espigas, foram usados
pequenos talhões de 0,6 m2 (seis linhas distanciadas 0,2 m com 0,5 m de comprimento),
um por cada talhão de 11 m2 (área colhida),
tendo sido verificada nestes subtalhões, a
produção de grão e de matéria seca do trigo
(peso seco em estufa 65 ºC ± 48 horas). A
produção de grão também foi verificada no
talhão principal, o peso do grão obtido por
contagem e pesagem de 500 grãos e calcularam-se os números de grãos por espiga e
por metro quadrado, e o índice de colheita.
As diferenças entre tratamentos, foram
comparadas usando o teste múltiplo de médias
(“Duncan Multiple Range Tests”) para um
nível de probabilidade de 5% (intervalo de
confiança de 95%), tendo sido utilizado o
programa MSTAT-C versão 1.42 (Michigan
State University) para efectuar as análises de
variância de acordo com o delineamento
experimental. Nos quadros apresentados no
capítulo seguinte (análise e discussão dos resultados), as letras diferentes indicam valores
médios diferentes. As análises de variância
foram efectuadas a partir das verificações
realizadas em três anos (1996/97, 1998/99 e
1999/00) e, não se utilizaram as do ano 1997/98
porque só foi realizada uma data de sementeira
devido à elevada precipitação ocorrida no mês
de Novembro de 1997 (Figura 2 (b)).
Para relacionar as datas de sementeira
com o número de grãos e a produção de grão,
usaram-se equações de regressão, que
foram calculadas com o auxílio do programa
SPSS 11.0 e do Excel versão 2000.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
Como o clima mediterrânico é caracterizado por uma distribuição errática da
precipitação, sendo assim, variável de ano para
ano, também o crescimento, o desenvolvimento e a resposta produtiva de qualquer
cultura, oscilarão devido ao efeito ano. Além
disso, o local pode influenciar o comportamento das culturas, através da própria heterogeneidade dos solos cultivados no Sul de
Portugal com cereais de Outono-Inverno,
nomeadamente com a cultura do trigo.
No Quadro 2, constata-se o efeito do local,
embora seja referente a um só ano, que foi seco
(Figura 1). Essa escassez de precipitação foi
mais acentuada em Beja (Figura 1 (a)), e
limitou a produtividade do trigo. A partir desta
restrição, mesmo que as condições edáficas
sejam mais favoráveis, a produtividade
potencial da cultura fica limitada pelo factor
água (Maçãs et al., 1996; Reeves et al., 1999).
Por isso, apesar do rendimento ter sido em
geral baixo, o local de Beja apresentou uma
produção de trigo inferior, resultante de
valores mais baixos para o número de grãos
por unidade de superfície e para o peso do grão
(Quadro 2).
Quanto ao efeito do ano no local da
Revelheira, é igualmente significativo, quer
na análise de três anos com duas datas de
sementeira quer na de dois anos em que se
realizaram três datas (Quadros 3 e 4).
A influência do ano faz-se sentir logo no
estabelecimento da população, tendo sido
obtido um número de plantas de trigo significativamente superior em 1996/97 (Quadro 3)
e até maior que a população pretendida, devido
a condições excepcionalmente favoráveis para
a germinação das sementes e emergência das
plântulas.
Por outro lado, no ano de 1999/00 ocorreu
um extenso período seco na fase vegetativa e
início da fase reprodutiva, condicionando o
número de espigas potenciais na transição dos
estados de encanamento para emborrachamento (Quadro 3). Todavia, a elevada precipitação caída na Primavera, nomeadamente em
Abril, associada à descida da temperatura
(Figura 3 (b)), permitiu uma renovação e
rebentação bastante significativa de caules
e, por isso, a quantificação do número de
espigas produtivas foi superior ao que tinha
sido verificado para as potenciais (Quadros
3 e 4). Isto reflecte a irregularidade do nosso
clima, sendo, no entanto, baixa a
probabilidade de ocorrerem condições
atmosféricas como as de 1999/00.
Porém, essa humidade durante a Primavera
favoreceu a formação de uma componente
determinante da produção, que é o número de
grãos por unidade de superfície (Fischer,
2001), o qual foi significativamente superior
e, consequentemente, também a produção de
grão (Quadros 3 e 4).
Importância da época de sementeira
Perante as nossas condições climáticas, as
sementeiras de trigo realizadas após meados
de Dezembro podem limitar a produção de
grão da cultura, particularmente em sistemas
de sequeiro e, sobretudo, em anos secos. Este
facto é verificado a partir das quatro datas
realizadas no ano de 1994/95 em Évora e Beja
(Quadros 5 e 6).
Embora haja diferenças significativas entre
as médias da produção de grão das duas datas
iniciais, devido aos valores de algumas
componentes, particularmente do peso do
grão, poder-se-á considerar, que o intervalo de
variação é muito pequeno, sendo o rendimento
em biomassa similar e não diferente, estatisticamente (Quadro 5).
A diferença significativa da produção de
grão deve-se ao local de Évora, registando-se
um decréscimo de 326,8 kg·ha-1 da primeira
para a segunda data (Quadro 6).
Quanto às duas últimas datas (terceira e
quarta), são caracterizadas por perdas significativas ao nível do rendimento relativamente
às duas primeiras, quer seja considerada a
produção de grão quer outras componentes da
produção, principalmente o menor número de
espigas produtivas, verificado nestas duas
datas, e o consequente número de grãos por
unidade de superfície (Quadro 5). O atraso
para esta época de sementeira limita a fase
vegetativa, havendo um decréscimo significativo das espigas potenciais, conforme também
verificaram Spink et al. (2000), resultante de
uma quebra significativa da taxa de afilhamento (Quadro 5), devido ao encurtamento do
perído temporal com condições favoráveis
para o respectivo estado vegetativo (afilhamento).
Qualquer dos locais apresenta esta tendência (Quadro 6), tendo sido a quarta data
(29-12-1994) em Beja ainda mais limitativa e
até com uma produção de grão significativamente inferior à da terceira (15-12-1994),
devido a um reduzido número de grãos por
unidade de superfície (Quadro 6). Todavia, no
local de Évora, as duas últimas datas (terceira
e quarta) apresentaram um comportamento
semelhante, com pequena variação nos valores
médios da produção e das suas componentes
e similares aos que foram verificados na
terceira data (15-12-1994) em Beja (Quadro
6). Porém, neste período de sementeira de
meados a fim de Dezembro, os rendimentos
foram baixos e condicionam qualquer estratégia agronómica.
No entanto, como estes resultados são
referentes a quatro datas realizadas num só
ano, caracterizado por condições de secura,
poder-se-ão verificar respostas diferentes do
trigo em anos chuvosos e a sua produtividade
ser superior no solo de Beja, mesmo em datas
de sementeira mais tardias.
Ao analisarmos duas datas de sementeira
realizadas em três anos (1996/97, 1998/99 e
1999/00) na região de Reguengos de Monsaraz
(herdade da Revelheira), confirma-se a
diferença significativa na produção de trigo
entre datas (Quadro 7), mas com uma pequena
amplitude (232,2 kg·ha -1). A matéria seca
também apresenta uma tendência semelhante
e a variação entre os valores verificados é
igualmente baixa (Quadro 7). Destaca-se,
ainda, a compensação do menor número de
plantas emergidas na primeira data pelo
afilhamento, garantindo que as diferenças
entre as duas datas na quantidade de espigas
potenciais e produtivas não seja significativa.
Assim, a variabilidade das condições de
cada ano, sobretudo as atmosféricas, exercem
um efeito bastante acentuado no desenvolvi-
mento da cultura desde os estados iniciais
(Carvalho, 1994), sendo determinantes na
formação do seu rendimento. Em 1996/97, a
escassez de precipitação no fim do Inverno e
no início da Primavera, particularmente nos
meses de Fevereiro e Março (Figura 2 (a)),
prejudicou o número de grãos e o peso do grão
de trigo na sementeira realizada no fim de
Novembro relativamente ao início deste mês
(Quadro 8). No ano de 1998/99, houve um
melhor comportamento da cultura na segunda
data de sementeira, porque a fraca precipitação
nos meses de Outubro e de Novembro (Figura
3 (a)) prejudicou a emergência da população
pretendida na primeira data, sendo este, um
condicionalismo, referido por Kerr et al.
(1992) e Carvalho (1994), para o estabelecimento adequado da cultura. Apesar de uma
maior taxa de afilhamento, esta não foi
suficiente para compensar o número de plantas
por unidade de superfície, resultando uma
menor quantidade tanto de espigas potenciais
e produtivas como de grãos (Quadro 8).
Quanto ao ano de 1999/00, a elevada precipitação caída na Primavera, principalmente no
mês de Abril, em que duplicou o valor médio
de trinta anos (Figura 3(b)), parece ter sido
bastante favorável ao trigo, que apresentou
um bom rendimento, mesmo numa data de
sementeira já dentro da segunda quinzena
de Dezembro.
Dentro dos três anos referidos, houve dois
com três datas de sementeira de trigo, tendo
sido obtido um rendimento similar nas duas
primeiras (aproximadamente 2500 kg·ha-1) e
diferente, estatisticamente, da terceira data
(Quadro 9). Nesta, a produção de grão teve
um decréscimo de aproximadamente 700
kg·ha-1 e este menor rendimento foi também
influenciado pela formação de menos grãos
por unidade de superfície (Quadro 9).
Na interacção dos dois anos com as três
datas de sementeira, verificamos que na terceira e última, o rendimento do trigo foi
significativamente inferior em relação ao das
duas primeiras (Quadro 10). Todavia, não
houve diferenças na densidade de espigas por
metro quadrado e a ocorrência de precipitação
nos meses de Março, Abril e Maio, foi semelhante à média de trinta anos em 1998/99 e até
superior em 1999/00 (Figura 3).
Sendo o número de grãos por unidade
de superfície determinante para a produção
de grão (Carvalho et al., 1991), na Figura 4,
relacionam-se as datas de sementeira
realizadas até ao fim de Dezembro com os
valores médios da componente número de
grãos (a) e com os da produção de grão da
cultura (b). Apesar de não haver uma grande
qualidade nos ajustamentos (coeficiente de
determinação baixo e significativo somente
para P<0,1, precisamente P≤0,06, devido à
própria variabilidade anual, quando as datas
de sementeira permitiram uma melhor
formação do número de grãos (Figura 4 (a)),
obtiveram-se produções mais elevadas (Figura
4 (b)).
Conforme se demonstrou nesta análise dos
resultados, em geral, parece haver condições
para uma resposta produtiva mais favorável
da cultura do trigo, quando a sua sementeira
nas regiões alentejanas é realizada desde o fim
de Outubro até ao fim da primeira quinzena
de Novembro, tendo sido este, o período em
que foram semeadas as primeiras datas nos três
anos (30-10-1996, 10-11-1998 e 15-11-1999).
Contudo, nas segundas datas que decorreram
no fim de Novembro (26-11-1996 e 30-111998) e mesmo na segunda quinzena de
Dezembro (20-12-1999), a produção de grão
atingiu ainda limiares que parecem ser
viáveis (aproximadamente ≥ 2000 kg·ha-1).
CONCLUSÕES
Perante a variação anual das condicionantes climáticas, sobretudo a distribuição da
precipitação (Maçãs et al., 1996), fez-se sentir
a influência significativa do ano na produção
de grão de trigo mole e nas suas componentes.
Devido a essa irregularidade climática e à
heterogeneidade das condições edáficas, existiu igualmente o efeito significativo do local.
Ao optar por diferentes datas de sementeira, submeteu-se o desenvolvimento da
cultura a diferentes condições ambientais. Por
isso, conforme também referem Benbella e
Paulsen (1998), o período de sementeira
influenciou significativamente o rendimento
do trigo. No entanto, a influência diminuiu à
medida que decresceu o intervalo de tempo
entre as datas iniciais e finais e, consequentemente, entre datas sucessivas, nomeadamente nas componentes determinantes da
produção de grão.
Apesar do efeito significativo da data
de sementeira na produção de grão, constatase que o trigo semeado entre os fins de
Outubro e de Novembro, se caracterizou,
geralmente, por uma boa resposta produtiva.
O rendimento diminuiu ao avançar a
sementeira para o mês de Dezembro e quando
foi realizada em Janeiro acentuou-se, ainda
mais, o decréscimo da produtividade. Porém,
o efeito negativo destas sementeiras tardias
sobre a produtividade, será minimizado,
quando ocorrem Primaveras húmidas.
Em síntese, a variação da época de sementeira em quase um mês (fim de Outubro a
fim de Novembro) pode permitir um desenvolvimento adequado ao trigo, expresso por
rendimentos viáveis para as zonas cerealíferas
de regiões mediterrâneas, particularmente da
região Alentejo. No entanto, as produções mais
elevadas tendem a ser obtidas quando a sementeira do trigo decorre na primeira quinzena de
Novembro, conforme foi verificado nas primeiras datas de sementeira deste trabalho.