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EuPTCVAg0871-018X2008000100006

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National varietyEu
Year2008
SourceScielo

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EFEITO DA DATA DE SEMENTEIRA NA PRODUTIVIDADE DE TRIGO MOLE (TRITICUM AESTIVUM L.) EM CONDIÇÕES MEDITERRÂNICAS

INTRODUÇÃO A escolha da data de sementeira dos cereais cultivados no período de Outono-Inverno depende das condições climáticas da região e da precocidade da variedade (Bellido, 1991).

Ela será tanto mais antecipada quanto maior for a latitude ou altitude do lugar (zonas frias).

Na região mediterrânea, a época decorre desde Outubro a Dezembro e a sua escolha deve ser adequada, a fim de aproveitar os condicionalismos ambientais mais favoráveis ao desenvolvimento das plantas.

Ao encurtar o ciclo vegetativo através do avanço da data de sementeira pode acelerarse o processo de senescência das folhas, afectando o desenvolvimento das plantas e reduzindo-lhes a capacidade produtiva (Benbella & Paulsen, 1998). Isto porque o atraso da sementeira pode afectar componentes da produção, como o número de inflorescências por unidade de área (Kerr et al., 1992; Donaldson et al., 2001), e a consequente produção de grão (Kerr et al., 1992; Coventry et al., 1993; Donaldson et al., 2001). Além destes parâmetros, o seu efeito parece prejudicar, igualmente, a quantidade de palha produzida por hectare (Kerr et al., 1992; Donaldson et al., 2001).

Todavia, alguns mecanismos de compensação permitem diminuir as diferenças entre datas. Por exemplo, Spink et al. (2000) referem que o decréscimo da taxa de afilhamento causado pelas sementeiras tardias, pode ser compensado por um acréscimo da densidade populacional, permitindo este, estabelecer o equilíbrio adequado do número de espigas por unidade de área.

Apesar dos inconvenientes referidos, existem algumas vantagens quando se espera por um período mais avançado no tempo para realizar a sementeira, como por exemplo, poder garantir um teor de humidade do solo mais favorável para semear a cultura e, simultanemente, controlar uma grande proporção da infestação potencial na preparação da cama da semente (Kerr et al., 1992; Carvalho, 1994; Calado et al., 2002).

Por outro lado, a antecipação da sementeira para permitir uma senescência mais lenta, também pode causar prejuízos. Por exemplo, quando a precipitação abundante garante um grande crescimento inicial das plantas e, posteriormente, é insuficiente para manter toda a área fotossinteticamente activa, principalmente nas fases reprodutiva e de maturação (Benbella & Paulsen, 1998). Além disso, as plantas podem apresentar um grande desenvolvimento quando as temperaturas são mais baixas, ficando mais sujeitas à acama e, em consequência, é prejudicada a formação de caules.

Assim, o período mais favorável para a sementeira de uma determinada cultivar em qualquer local, pode ser definido, como o que proporciona à planta adequada acumulação de biomassa e apropriado número de grãos (Kerr et al., 1992). Deve ainda, evitar a redução da população potencial devido às geadas, às doenças foliares, ao défice hídrico no solo e aos golpes de calor e ventos quentes, durante o intervalo crítico, que decorre desde a floração até à formação e enchimento do grão (Kerr et al., 1992). Simultaneamente, pode contribuir para facilitar o uso de algumas técnicas culturais mais adequadas à sustentabilidade dos sistemas.

Devido à importância do período de sementeira, resultante dos condicionalismos mencionados, procurou-se, neste trabalho, verificar a data de sementeira mais adequada à produtividade da cultura do trigo sob condições mediterrânicas. A partir deste objectivo, realizaram-se diferentes datas de sementeira de quinze genótipos de trigo mole entre 1994/ 95 e 1999/00 na região Alentejo.

MATERIAL E MÉTODOS No início desta experimentação, que decorreu no ano de 1994/95, instalou-se o ensaio em dois locais diferentes: um foi na Herdade do Louseiro, que pertence ao concelho de Évora, distrito de Évora, a uma latitude de 38º 31 44 N e uma longitude de 48 22 W do meridiano de Greenwich, e outro na Herdade de Almocreva, no concelho de Beja, distrito de Beja, a uma latitude de 37º 59 9 N e uma longitude de 55 40 W do meridiano de Greenwich. Posteriormente, nos anos de 1996/97 a 1999/00, este estudo realizou-se na Herdade da Revelheira da Direcção Regional de Agricultura do Alentejo, concelho de Reguengos de Monsaraz, distrito de Évora, localizada a uma latitude de 38º 27 54 N e uma longitude de 28 W do meridiano de Greenwich.

No ano de 1994/1995, o ensaio foi instalado na região de Beja num solo Barro CastanhoAvermelhado Calcário Muito Descarbonatado de dioritos ou gabros ou rochas cristalofílicas básicas (Bvc) e na de Évora num solo Mediterrâneo Pardo Para-Hidromórfico de quartzodioritos ou dioritos (Pmh). Para os restantes quatro anos, as condições edáficas sobre as quais decorreu o estudo, foram o solo Mediterrâneo Pardo de dioritos ou quartzodioritos ou rochas microfaneríticas ou cristalofílicas afins (Pm) nos anos de 1996/97 e 1998/99, e o solo Mediterrâneo Vermelho ou Amarelo de dioritos ou quartzodioritos ou rochas microfaneríticas ou cristalofílicas afins (Vm) em 1997/98 e 1999/00. Qualquer destes solos é caracterizado por Cardoso (1965).

Quanto às condições climáticas do primeiro ano (1994/95), registaram-se os valores mensais da precipitação e da média das temperaturas médias, máximas e mínimas do ar, nas estações meteorológicas de Beja e Évora (Figura 1). Os do ano (1994/95) foram cedidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica e os referentes à média da precipitação de trinta anos (1951/80) obtidos por consulta da publicação do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (1991).

Relativamente às condições climáticas verificadas nos outros quatro anos em que decorreu a experimentação, apresentam-se nas Figuras 2 e 3 os valores mensais da precipitação e da média das temperaturas médias, máximas e mínimas do ar. Estes foram registados na estação meteorológica de Reguengos de Monsaraz do Instituto de Ciências Agrárias Mediterrânicas (ICAM), instalada na Herdade da Revelheira, onde decorreram os trabalhos de campo. Por sua vez, a precipitação mensal referente à média da precipitação ocorrida em trinta anos, foi obtida do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (1991), a partir de valores registados na estação udométrica de Reguengos de Monsaraz.

Tratamentos e delineamento experimental Os tratamentos realizados neste ensaio foram os seguintes: - Datas de sementeira (talhão principal).

- Quinze genótios de trigo mole (talhão dividido).

O delineamento experimental foi em blocos casualizados com divisão dos talhões (split-plot) e quatro repetições. Cada talhão era constituído por seis linhas distanciadas 20 cm e com um comprimento de 10,5 m, sendo a área à colheita de aproximadamente 11 m2.

Em cada um destes talhões, marcou-se um subtalhão com as seis linhas e um comprimento de 0,5 m, ou seja, uma área de 0,6 m2, para efectuar observações e verificações. Devido às condições termopluviométricas verificadas durante os anos em que decorreu o ensaio (Figuras 1, 2 e 3), semearam-se quatro datas no primeiro (1994/95), duas no segundo (1996/97), uma no terceiro (1997/98), três no quarto (1998/99) e três no quinto ano (1999/ 00) desta experimentação.

Quanto aos genótipos utilizados e aos hábitos de crescimento que os caracterizam de acordo com a informação dada pela Estação Nacional de Melhoramento de Plantas, estão indicados a seguir: TE 9202 (Sever) - alternativo; Anza Primavera; TE 93043 - alternativo; TX/AMI (Jordão) - alternativo; Centauro - alternativo; TE 9009 (Eufrates) - alternativo; TE 9111 (Nabão) - Primavera; TE 9104 - Primavera; TE 9301 - Primavera; TE 9113 - Primavera; TE 9114 - Primavera; TE 9112 - Primavera; TE 9403 - Primavera; TE 9405 - Primavera; HAHN”S”*2/PRL”S - Primavera.

Técnicas culturais Como este ensaio decorreu nas folhas destinadas à cultura do trigo nas Herdades de Almocreva e do Louseiro (ano 1994/95), e na Herdade da Revelheira (1996/97 a 1999/00), foi efectuada uma mobilização primária com a charrua de aivecas ou com o escarificador pesado (chisel) na Primavera ou no Verão do ano agrícola anterior ao das sementeiras das diferentes datas deste ensaio. Para preparar a cama da semente efectuaram-se mobilizações superficiais do solo com grade de discos ou escarificador mais vibrocultor nos quatro anos de ensaios e nas diferentes datas de sementeira. A densidade de sementeira foi de 300 grãos·m-2 e utilizou-se o semeador de ensaios Wintersteiger, que permite realizá-la em pequenos talhões. Por sua vez, a adubação de fundo foi efectuada a lanço, com 40 kg N·ha-1 e 100 kg P2O5· ha-1. As restantes técnicas culturais utilizadas durante o ensaio, encontram-se sintetisadas no Quadro 1, excepto as colheitas, manual (subtalhão de 0,6 m2) e mecânica (talhão de 11 m2) realizada pela ceifeira debulhadora automotriz de pequenas parcelas, que se efectuaram no mês de Junho de cada um dos anos agrícolas indicados.

Observações e determinações As observações e verificações foram da produção e das suas componentes nos quinze genótipos de trigo mole. Para as contagens de plantas, caules e espigas, foram usados pequenos talhões de 0,6 m2 (seis linhas distanciadas 0,2 m com 0,5 m de comprimento), um por cada talhão de 11 m2 (área colhida), tendo sido verificada nestes subtalhões, a produção de grão e de matéria seca do trigo (peso seco em estufa 65 ºC ± 48 horas). A produção de grão também foi verificada no talhão principal, o peso do grão obtido por contagem e pesagem de 500 grãos e calcularam-se os números de grãos por espiga e por metro quadrado, e o índice de colheita.

As diferenças entre tratamentos, foram comparadas usando o teste múltiplo de médias (Duncan Multiple Range Tests) para um nível de probabilidade de 5% (intervalo de confiança de 95%), tendo sido utilizado o programa MSTAT-C versão 1.42 (Michigan State University) para efectuar as análises de variância de acordo com o delineamento experimental. Nos quadros apresentados no capítulo seguinte (análise e discussão dos resultados), as letras diferentes indicam valores médios diferentes. As análises de variância foram efectuadas a partir das verificações realizadas em três anos (1996/97, 1998/99 e 1999/00) e, não se utilizaram as do ano 1997/98 porque foi realizada uma data de sementeira devido à elevada precipitação ocorrida no mês de Novembro de 1997 (Figura 2 (b)).

Para relacionar as datas de sementeira com o número de grãos e a produção de grão, usaram-se equações de regressão, que foram calculadas com o auxílio do programa SPSS 11.0 e do Excel versão 2000.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Como o clima mediterrânico é caracterizado por uma distribuição errática da precipitação, sendo assim, variável de ano para ano, também o crescimento, o desenvolvimento e a resposta produtiva de qualquer cultura, oscilarão devido ao efeito ano. Além disso, o local pode influenciar o comportamento das culturas, através da própria heterogeneidade dos solos cultivados no Sul de Portugal com cereais de Outono-Inverno, nomeadamente com a cultura do trigo.

No Quadro 2, constata-se o efeito do local, embora seja referente a um ano, que foi seco (Figura 1). Essa escassez de precipitação foi mais acentuada em Beja (Figura 1 (a)), e limitou a produtividade do trigo. A partir desta restrição, mesmo que as condições edáficas sejam mais favoráveis, a produtividade potencial da cultura fica limitada pelo factor água (Maçãs et al., 1996; Reeves et al., 1999).

Por isso, apesar do rendimento ter sido em geral baixo, o local de Beja apresentou uma produção de trigo inferior, resultante de valores mais baixos para o número de grãos por unidade de superfície e para o peso do grão (Quadro 2).

Quanto ao efeito do ano no local da Revelheira, é igualmente significativo, quer na análise de três anos com duas datas de sementeira quer na de dois anos em que se realizaram três datas (Quadros 3 e 4).

A influência do ano faz-se sentir logo no estabelecimento da população, tendo sido obtido um número de plantas de trigo significativamente superior em 1996/97 (Quadro 3) e até maior que a população pretendida, devido a condições excepcionalmente favoráveis para a germinação das sementes e emergência das plântulas.

Por outro lado, no ano de 1999/00 ocorreu um extenso período seco na fase vegetativa e início da fase reprodutiva, condicionando o número de espigas potenciais na transição dos estados de encanamento para emborrachamento (Quadro 3). Todavia, a elevada precipitação caída na Primavera, nomeadamente em Abril, associada à descida da temperatura (Figura 3 (b)), permitiu uma renovação e rebentação bastante significativa de caules e, por isso, a quantificação do número de espigas produtivas foi superior ao que tinha sido verificado para as potenciais (Quadros 3 e 4). Isto reflecte a irregularidade do nosso clima, sendo, no entanto, baixa a probabilidade de ocorrerem condições atmosféricas como as de 1999/00.

Porém, essa humidade durante a Primavera favoreceu a formação de uma componente determinante da produção, que é o número de grãos por unidade de superfície (Fischer, 2001), o qual foi significativamente superior e, consequentemente, também a produção de grão (Quadros 3 e 4).

Importância da época de sementeira Perante as nossas condições climáticas, as sementeiras de trigo realizadas após meados de Dezembro podem limitar a produção de grão da cultura, particularmente em sistemas de sequeiro e, sobretudo, em anos secos. Este facto é verificado a partir das quatro datas realizadas no ano de 1994/95 em Évora e Beja (Quadros 5 e 6).

Embora haja diferenças significativas entre as médias da produção de grão das duas datas iniciais, devido aos valores de algumas componentes, particularmente do peso do grão, poder-se-á considerar, que o intervalo de variação é muito pequeno, sendo o rendimento em biomassa similar e não diferente, estatisticamente (Quadro 5).

A diferença significativa da produção de grão deve-se ao local de Évora, registando-se um decréscimo de 326,8 kg·ha-1 da primeira para a segunda data (Quadro 6).

Quanto às duas últimas datas (terceira e quarta), são caracterizadas por perdas significativas ao nível do rendimento relativamente às duas primeiras, quer seja considerada a produção de grão quer outras componentes da produção, principalmente o menor número de espigas produtivas, verificado nestas duas datas, e o consequente número de grãos por unidade de superfície (Quadro 5). O atraso para esta época de sementeira limita a fase vegetativa, havendo um decréscimo significativo das espigas potenciais, conforme também verificaram Spink et al. (2000), resultante de uma quebra significativa da taxa de afilhamento (Quadro 5), devido ao encurtamento do perído temporal com condições favoráveis para o respectivo estado vegetativo (afilhamento).

Qualquer dos locais apresenta esta tendência (Quadro 6), tendo sido a quarta data (29-12-1994) em Beja ainda mais limitativa e até com uma produção de grão significativamente inferior à da terceira (15-12-1994), devido a um reduzido número de grãos por unidade de superfície (Quadro 6). Todavia, no local de Évora, as duas últimas datas (terceira e quarta) apresentaram um comportamento semelhante, com pequena variação nos valores médios da produção e das suas componentes e similares aos que foram verificados na terceira data (15-12-1994) em Beja (Quadro 6). Porém, neste período de sementeira de meados a fim de Dezembro, os rendimentos foram baixos e condicionam qualquer estratégia agronómica.

No entanto, como estes resultados são referentes a quatro datas realizadas num ano, caracterizado por condições de secura, poder-se-ão verificar respostas diferentes do trigo em anos chuvosos e a sua produtividade ser superior no solo de Beja, mesmo em datas de sementeira mais tardias.

Ao analisarmos duas datas de sementeira realizadas em três anos (1996/97, 1998/99 e 1999/00) na região de Reguengos de Monsaraz (herdade da Revelheira), confirma-se a diferença significativa na produção de trigo entre datas (Quadro 7), mas com uma pequena amplitude (232,2 kg·ha -1). A matéria seca também apresenta uma tendência semelhante e a variação entre os valores verificados é igualmente baixa (Quadro 7). Destaca-se, ainda, a compensação do menor número de plantas emergidas na primeira data pelo afilhamento, garantindo que as diferenças entre as duas datas na quantidade de espigas potenciais e produtivas não seja significativa.

Assim, a variabilidade das condições de cada ano, sobretudo as atmosféricas, exercem um efeito bastante acentuado no desenvolvi- mento da cultura desde os estados iniciais (Carvalho, 1994), sendo determinantes na formação do seu rendimento. Em 1996/97, a escassez de precipitação no fim do Inverno e no início da Primavera, particularmente nos meses de Fevereiro e Março (Figura 2 (a)), prejudicou o número de grãos e o peso do grão de trigo na sementeira realizada no fim de Novembro relativamente ao início deste mês (Quadro 8). No ano de 1998/99, houve um melhor comportamento da cultura na segunda data de sementeira, porque a fraca precipitação nos meses de Outubro e de Novembro (Figura 3 (a)) prejudicou a emergência da população pretendida na primeira data, sendo este, um condicionalismo, referido por Kerr et al.

(1992) e Carvalho (1994), para o estabelecimento adequado da cultura. Apesar de uma maior taxa de afilhamento, esta não foi suficiente para compensar o número de plantas por unidade de superfície, resultando uma menor quantidade tanto de espigas potenciais e produtivas como de grãos (Quadro 8).

Quanto ao ano de 1999/00, a elevada precipitação caída na Primavera, principalmente no mês de Abril, em que duplicou o valor médio de trinta anos (Figura 3(b)), parece ter sido bastante favorável ao trigo, que apresentou um bom rendimento, mesmo numa data de sementeira dentro da segunda quinzena de Dezembro.

Dentro dos três anos referidos, houve dois com três datas de sementeira de trigo, tendo sido obtido um rendimento similar nas duas primeiras (aproximadamente 2500 kg·ha-1) e diferente, estatisticamente, da terceira data (Quadro 9). Nesta, a produção de grão teve um decréscimo de aproximadamente 700 kg·ha-1 e este menor rendimento foi também influenciado pela formação de menos grãos por unidade de superfície (Quadro 9).

Na interacção dos dois anos com as três datas de sementeira, verificamos que na terceira e última, o rendimento do trigo foi significativamente inferior em relação ao das duas primeiras (Quadro 10). Todavia, não houve diferenças na densidade de espigas por metro quadrado e a ocorrência de precipitação nos meses de Março, Abril e Maio, foi semelhante à média de trinta anos em 1998/99 e até superior em 1999/00 (Figura 3).

Sendo o número de grãos por unidade de superfície determinante para a produção de grão (Carvalho et al., 1991), na Figura 4, relacionam-se as datas de sementeira realizadas até ao fim de Dezembro com os valores médios da componente número de grãos (a) e com os da produção de grão da cultura (b). Apesar de não haver uma grande qualidade nos ajustamentos (coeficiente de determinação baixo e significativo somente para P<0,1, precisamente P≤0,06, devido à própria variabilidade anual, quando as datas de sementeira permitiram uma melhor formação do número de grãos (Figura 4 (a)), obtiveram-se produções mais elevadas (Figura 4 (b)).

Conforme se demonstrou nesta análise dos resultados, em geral, parece haver condições para uma resposta produtiva mais favorável da cultura do trigo, quando a sua sementeira nas regiões alentejanas é realizada desde o fim de Outubro até ao fim da primeira quinzena de Novembro, tendo sido este, o período em que foram semeadas as primeiras datas nos três anos (30-10-1996, 10-11-1998 e 15-11-1999).

Contudo, nas segundas datas que decorreram no fim de Novembro (26-11-1996 e 30-111998) e mesmo na segunda quinzena de Dezembro (20-12-1999), a produção de grão atingiu ainda limiares que parecem ser viáveis (aproximadamente 2000 kg·ha-1).

CONCLUSÕES Perante a variação anual das condicionantes climáticas, sobretudo a distribuição da precipitação (Maçãs et al., 1996), fez-se sentir a influência significativa do ano na produção de grão de trigo mole e nas suas componentes.

Devido a essa irregularidade climática e à heterogeneidade das condições edáficas, existiu igualmente o efeito significativo do local.

Ao optar por diferentes datas de sementeira, submeteu-se o desenvolvimento da cultura a diferentes condições ambientais. Por isso, conforme também referem Benbella e Paulsen (1998), o período de sementeira influenciou significativamente o rendimento do trigo. No entanto, a influência diminuiu à medida que decresceu o intervalo de tempo entre as datas iniciais e finais e, consequentemente, entre datas sucessivas, nomeadamente nas componentes determinantes da produção de grão.

Apesar do efeito significativo da data de sementeira na produção de grão, constatase que o trigo semeado entre os fins de Outubro e de Novembro, se caracterizou, geralmente, por uma boa resposta produtiva.

O rendimento diminuiu ao avançar a sementeira para o mês de Dezembro e quando foi realizada em Janeiro acentuou-se, ainda mais, o decréscimo da produtividade. Porém, o efeito negativo destas sementeiras tardias sobre a produtividade, será minimizado, quando ocorrem Primaveras húmidas.

Em síntese, a variação da época de sementeira em quase um mês (fim de Outubro a fim de Novembro) pode permitir um desenvolvimento adequado ao trigo, expresso por rendimentos viáveis para as zonas cerealíferas de regiões mediterrâneas, particularmente da região Alentejo. No entanto, as produções mais elevadas tendem a ser obtidas quando a sementeira do trigo decorre na primeira quinzena de Novembro, conforme foi verificado nas primeiras datas de sementeira deste trabalho.


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