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EuPTCVAg0871-018X2008000100011

EuPTCVAg0871-018X2008000100011

National varietyEu
Year2008
SourceScielo

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PRODUÇÃO DE TRIGO E TRITICALE EM ROTAÇÕES DE SEQUEIRO

INTRODUÇÃO Rotação, na definição mais usual, é a repetição de uma série ordenada de culturas num dado terreno (Terron, 1989). Em grandes áreas e no decurso do século XX, esta sequência repetida de culturas foi substituída pela monocultura, provocando desequilíbrios de vária ordem que põem em causa a sustentabilidade das práticas agrícolas. As monoculturas conduzem, em geral, a menores produções do que quando em rotação; o que foi constatado em condições tão variadas como na Europa com trigo e cevada (Johnston, 1994; Izaurralde et al., 1995) ou milho (Odell et al. , 1984), nos Estados Unidos com trigo, milho ou aveia (Brown, 1994), na Austrália com trigo (Grace & Oades, 1994) ou na Polónia com batata ou centeio (Mercik, 1994). Antes do aparecimento dos adubos, o pousio sem cultura funcionava como restaurador da fertilidade (Triplett, 1986), conseguindo manter produções de cereais, em alguns solos, ao nível das obtidas actualmente à custa de adubos (Amir & Sinclair, 1994). O encurtamento da duração do pousio ou o aumento do período de cultivo podem reduzir os efeitos do sistema tradicional (Greenland, 1994).

Nem sempre convergência de opiniões no que respeita aos efeitos das rotações no comportamento das culturas. A mesma rotação pode ter impactos diversos de acordo com as técnicas culturais envolvidas (Fenster et al., 1969; Camberato & Frederick, 1994), ou mesmo as condições ambientais prevalecentes (Heenan et al., 1994; Porter et al., 1997), dificultando a avaliação do seu efeito. Daí que a extrapolação, no tempo e no espaço, do efeito das rotações se torne difícil e que a mesma rotação possa mesmo ter efeitos antagónicos (Azevedo, 1992). As rotações podem afectar as características do solo, alterando a evolução do teor de água no solo (Harris, 1963) e a estrutura (Barber, 1972), modificando a densidade do solo (Griffith et al., 1986), afectando a erosão e armazenamento de água no solo (Shanahan et al., 1988), o valor do pH (Coventry & Slattery, 1991) e a textura (Gantzer et al., 1991), os teores de Ca, Mg, K e Al (Karimian, 1990; Chan & Heenan, 1993), os teores de matéria orgânica, carbono e azoto do solo (Alves, 1961; White et al., 1994). O efeito das rotações na produção das culturas também é referido com muita frequência (Shanahan et al., 1988; Dick et al., 1991).

A prática do alqueive na rotação com cereal é vulgar em regiões de escassa precipitação, atribuindo-se-lhe uma regeneração da fertilidade do solo, entretanto perdida pelo cultivo continuado. No Nordeste Transmontano, a rotação cereal-alqueive é um dos elementos fundamentais que Moreira (s.d.) utiliza para a caracterização de dois dos sistemas de agricultura da região. Orlando Ribeiro (1991) recorre, com frequência, ao pousio como elemento chave da caracterização da paisagem agrária portuguesa, em particular no Alentejo, onde a cultura cerealífera predominava e as chuvas são menos abundantes.

No que respeita ao cereal-prado de sequeiro, justifica-se não pelo seu efeito sobre a fertilidade do solo, como pelo seu contributo para a alimentação animal; dado o excesso de cereal que hoje em dia se verifica na Europa Comunitária, sendo o seu destino cada vez mais a nutrição animal. A consociação forrageira de Outono-Inverno terá o mesmo destino mas a tecnologia do seu aproveitamento e exploração (tal como o prado) pode implicar, por si , diferenças no comportamento do cereal; acresce o facto de ser sugerida a sua adopção em alguns trabalhos (DRTM, 1982; Moreira, 1985) e ser praticada em algumas das explorações da região (Sousa, 1991). A inclusão da leguminosa (tremocilha) pode alterar também os níveis de azoto a aplicar ao cereal e proporciona uma produção, de grão proteaginoso, na qual a UE é deficitária.

Em Portugal se tentou, sem sucesso prolongado, manter ensaios de campo incluindo rotações de sequeiro (Sampaio, 1985). Regista-se como excepção os ensaios da responsabilidade de Almeida Alves (Alves, 1961; Azevedo, 1973). O facto de se relegar para segundo plano o estudo de rotações tem a ver com a complexidade e demora da experimentação que versa este tema. Pretendeu-se com o ensaio de campo, instalado a partir de 1986, retirar dados que quantificassem os efeitos de quatro rotações, cereal-alqueive, cereal-consociação forrageira, cereal-leguminosa e cerealprado de sequeiro. Trata-se de estudar o pressuposto de que a vegetação modifica o ambiente e este, pela sua vez, a vegetação (Powers & Cleve, 1991). Ou seja, em que medida diferentes rotações, instaladas nas mesmas condições, influenciam vários parâmetros, neste caso os relacionados com características edáficas, por um lado, e de produção das culturas, por outro.

MATERIAL E MÉTODOS O ensaio foi instalado na Quinta de Prados da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro em Vila Real, à latitude de 41° 19´ N, longitude de 44´ W e altitude de 470 m. O campo de ensaio apresentava um ligeiro declive, pelo que foi dividido em duas partes que designaremos por folha 1 (parte superior) e folha 2 (parte inferior). Trata-se de uma encosta de declive ligeiro, situada no complexo xisto-grauváquico, tendo sido ocupada com olival e vinha dispersos e, a partir de 1978, com cereais praganosos estremes ou consociados com ervilhaca. O solo do local de ensaio pode classificar-se como cambissolo dístrico órtico derivado de xisto, com influência antrópica (Agroconsultores & COBA, 1991). Como principais características do solo do ensaio saliente-se os teores baixos de matéria orgânica (8 g kg-1) e fósforo extraível (27 mg kg-1), altos de potássio extraível (115 mg kg-1), elevados de alumínio (1,40 cmol kg-1) e acidez de troca (1,44 cmol kg-1) e a baixa capacidade de troca (soma de bases de troca 2,26 cmol kg-1; grau de saturação 61,3%); os teores elevados de areia fina (634 g kg-1) e limo (228 g kg-1) conferem a este solo um elevado volume de água utilizável (59,8 mm) e baixa capacidade de arejamento.

O clima da região de implantação do ensaio classifica-se, segundo Albuquerque (1954), como Sub-montano - SA x MA x AM - zona da transição entre a Terra Fria Transmontana e a Terra Quente Duriense. De acordo com a classificação de Thorthwaite (Gonçalves, 1976/77), o clima de Vila Real é considerado como húmido, mesotérmico, com grande deficiência de água no Verão e pequena concentração da eficiência térmica na estação quente.

As rotações ensaiadas neste trabalho foram as seguintes: TC, cereal consociação (aveia x ervilhaca); TL, cereal - leguminosa (tremocilha); TA, cereal - alqueive; TP, cereal - pastagem de sequeiro (4 anos na folha 1 e 5 anos na folha 2). As espécies cultivadas nestas rotações foram: cereal, trigo (Triticum aestivum L.) cv.

Barbela e posteriormente triticale Presto; leguminosa, tremocilha (Lupinus luteus L.) população regional; consociação, aveia (Avena sativa L.) cv. Boa com ervilhaca (Vicia villosa Roth.) cv. Amoreiras; pastagem de sequeiro com mistura de trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum L.) cv. Nungarin, cv. Seaton Park, cv. Woogenellup, cv.

Clare, trevo branco (Trifolium repens L.) cv.

Huia, azevém perene (Lolium perenne L.) cv. Victorian e festuca alta (Festuca arundinacea Schreb.) cv. Clarine. O esquema experimental constou de quatro tratamentos (rotações bienais), dispostos em blocos casualizados com duas repetições (folhas 1 e 2). As duas culturas de cada rotação foram instaladas, alternadamente, em talhões com 240 m2, na folha 1 e folha 2.

Apenas em 1986, e precedendo a implantação do ensaio, aplicaram-se, a todos os tratamentos, os seguintes fertilizantes: calcário dolomítico agrícola (4 t.ha-1), superfosfato de cálcio 18% (150 kg P 2O5 ha-1), cloreto de potássio 60% (90 kg K2O ha-1) e, excepto no alqueive e na pastagem, sulfato de amónio 20,5% (30 kg N ha-1). Todos os trabalhos foram executados por tractor e alfaias em condições idênticas ao trabalho em cultura extensiva.

Aplicaram-se, anualmente, à sementeira do cereal e à consociação (de meados a fins de Outubro) 30 kg N ha-1 usando o sulfato de amónio 20,5% N, e em cobertura (ao afilhamento, em meados de Fevereiro) 60 kg N ha-1 de uma diluição de nitrato de amónio com calcário (20,5% N). A fertilização com fósforo e potássio foi efectuada de molde a compensar, anualmente e imediatamente antes da sementeira, as exportações da cultura antecedente, avaliadas pela produção total e análise dos respectivos teores no grão e palha.

As sementeiras foram efectuadas na segunda quinzena de Outubro. A entrelinha utilizada foi de 0,25 m, à excepção da tremocilha para a qual o espaçamento usado foi de 0,5 m.

As densidades de sementeira previstas foram: 160 kg ha-1 de cereal (275 plantas.m-2), 80 kg ha-1 de tremocilha (72 plantas.m-2), 80 kg ha-1 de aveia (190 plantas.m -2), 20 kg ha -1 de ervilhaca (42 plantas.m-2), 8 kg ha-1 da mistura de trevos subterrâneos (88 plantas.m-2), 1 kg ha-1 de trevo branco (155 plantas.m-2), 4 kg ha-1 de azevém perene (222 plantas.m-2) e 4 kg ha -1 de festuca alta (160 plantas.m -2).

Amostragens efectuadas em Abril de 1990 revelaram a seguinte composição florística dos prados, em termos de matéria seca: 40% de trevos, 57% de gramíneas e 3% de outras espécies, o que parece traduzir uma boa composição do prado.

A amostragem das produções das culturas foi efectuada através da colheita manual de 4 amostras de 1 m2, no caso da consociação e do prado, ou de 4 m2, no caso do cereal e da tremocilha. Após a amostragem das produções, a parte aérea das culturas anuais foi retirada do ensaio; a pastagem foi aproveitada por ovinos ao longo do ano, de forma a realizar um correcto pastoreio. Todos os valores de produção apresentados referem-se a matéria seca. Após a colheita de amostras, estas foram pesadas e posteriormente debulhadas determinando-se a produção total e a produção de grão (G); por diferença obteve-se a produção de palha (P). De cada uma das amostras retirou-se uma subamostra na qual se determinou, após secagem em estufa a 60 °C até peso constante, o teor de humidade, de modo a avaliar a produção de matéria seca de grão e palha. A produção da consociação (rotação TC) foi amostrada procedendo à colheita de amostras no estado de grão leitoso da aveia.

As amostras foram pesadas, secas a 60 °C e novamente pesadas, determinando-se a produção verde e seca total.

No caso da pastagem, a produção foi amostrada imediatamente antes da entrada dos ovinos; as amostras foram pesadas, secas a 60 °C e novamente pesadas. O pastoreio foi feito intensivamente logo a seguir aos cortes para amostragem, os quais procuraram cumprir o seguinte calendário: corte (Outono, 25 a 30 de Novembro), corte (Inverno, 20 a 25 de Fevereiro), corte ( da Primavera, 15 a 20 de Abril, corte ( da Primavera, 15 a 20 de Junho).

As amostras de grão e palha, após pesagem e secagem, foram moídas (crivo de 1mm) e analisadas segundo os métodos em rotina do Laboratório de Solos e Fertilidade da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro obtendo-se os teores em nutrientes do grão (G) e palha (P) para o azoto (GN e PN), fósforo (GP e PP), potássio (GK e PK), cálcio (GCa e PCa), magnésio (GMg e PMg), cobre (GCu e PCu) e zinco (GZn e PZn).

Com vista a avaliar a evolução da fertilidade do solo, após a colheita das culturas anuais e antes das mobilizações, colheram-se amostras da terra de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm de profundidade em todas as modalidades em ensaio. Nestas amostras determinaram-se, anualmente, as seguintes variáveis: catiões de troca (Ca, Mg, K, Na, Al), matéria orgânica (MO), P2O5 e K2O assimiláveis, pH em água (pHH2O) e em cloreto de potássio (pHKCl).

Os resultados foram sujeitos a análise de variância através dos programas informáticos SYSTAT 5.0 e MSTAT. Quando obtidos valores significativos (p < 0,05) na análise de variância fizeram-se comparações das médias através do teste de Student-Newman-Keul’s.

Na análise multivariada optou-se por aplicar o protocolo previsto por Santos et al. (2004) e Martins et al. (2004). Deste modo sobre as respectivas matrizes de caracterização edáfica e de biomassa é realizada uma estandardização, que facilite a comparação de cada uma das variáveis (Ludwig & Reynolds, 1988), a partir da qual são realizadas análises canónicas discriminantes (CDA) forward stepwise e ANOVAs sobre as variáveis mais discriminantes. Tendo em consideração que a rotação com pastagem permitiu a obtenção de produção de cereal em apenas dois anos, os resultados obtidos serão expostos com e sem a inclusão deste tratamento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização edáfica No Quadro 1 apresentam-se os valores médios de 10 anos das rotações, incluindo a pré-instalação.

A análise de variância dos parâmetros relativos ao solo (profundidade até 20 cm) evidenciou um efeito significativo das rotações no teor de fósforo, no pH em H2O e em KCl, bem como nos teores de cálcio de troca (Quadro 1).

O teor em fósforo da rotação com prado, significativamente superior ao das restantes rotações, dever-se-á às dejecções dos ovinos que pastorearam o prado e cujo quantitativo não foi descontado nas exportações e respectivas restituições com adubos.

Na profundidade de 20 a 40 cm foram significativos os efeitos das rotações nos teores de matéria orgânica e pH em água; o valor mais elevado do teor em matéria orgânica (médias de 10 anos) verificou-se na rotação com consociação (6,8 g kg-1) e o mais baixo na rotação com leguminosa de grão (5,6 g kg-1).

A variação do teor de matéria orgânica no solo está dependente, para além da adição de fertilizantes orgânicos, das mobilizações (Alves, 1986), rotações, culturas que integram as rotações e sua duração (Kanal & Kolli, 1996), e parece estar omnipresente quando se discute a influência das culturas e/ou rotações sobre as características físicas do solo. Em geral, a inclusão de prados de longa duração (Adams et al., 1970), doses elevadas de azoto (Morachan et al., 1972), rotações mais longas (Bowman et al., 1990) e mobilizações reduzidas (Dick et al., 1991) conduzem a teores mais elevados de matéria orgânica. Os ensaios de Rothamsted mostram que a evolução do teor de matéria orgânica de um solo sujeito a cultivo depende ainda do seu teor inicial; sendo baixo esse valor, é mais facilmente mantido mesmo quando se sujeita o solo a cultivos que noutras circunstâncias diminuiriam o teor de matéria orgânica do solo (Carvalho & Azevedo, 1991). A duração do prado (4 a 5 anos) e o baixo teor de matéria orgânica do solo não terão sido suficientes para tornar os resultados mais evidentes.

As rotações podem afectar a variação do pH do solo, não porque as culturas que as integram exigem adubações azotadas diversas (Mahler & Harder, 1984), mas também porque diferentes plantas afectam por si a acidez do solo (Reeves & Ewing, 1993; McLay et al., 1997). A acidificação do solo provocada pelo cultivo de leguminosas é referida com frequência pela bibliografia; dado que as partes verdes doseiam, em geral, mais catiões (Ca, K), a exportação apenas do grão reduz a acidificação; a diminuição do pH ocorrerá também em profundidade, podendo ser agravado pelo facto de a deposição de partes verdes ocorrer, sobretudo, à superfície (McLay et al., 1997).

A exportação da totalidade da biomassa aérea da tremocilha na rotação TL terá contribuído, embora de forma reduzida, para a acidificação constatada. O menor teor de cálcio verificado em TL (e TP2) dever-se-á ao balanço de cálcio da rotação com tremocilha, a única em que a restituição ao solo por via do superfosfato de cálcio foi inferior à exportação na biomassa.

Os resultados das análises multivariadas sobre a matriz edáfica são expostos na Figura 1, onde está representada a CDA relativa a cada um dos tratamentos, a partir da matriz numérica edáfica.

Da observação destes resultados, e tendo em consideração os valores de cada repetição para a Raiz 1, verifica-se uma aparente divergência entre o TL e o TP, ocupando o TC e o TA uma posição intermédia entre os dois primeiros. Para a Raiz 2 a maior diferenciação ocorre entre TA e TP. Por esta razão, são detectadas duas tendências de comportamento diferencial, a existente entre TC e TL, de um lado, e a apresentada entre TA e TP, doutro.

Os resultados numéricos desta análise estão recolhidos no Quadro 2. De acordo com os quais, as variáveis mais discriminantes são, na profundidade até 20 cm, o teor de fósforo (P2O5), teor de potássio (K2O), alumínio de troca (Al 3+), pH em KCl (KCl) e magnésio de troca (Mg 2+), na profundidade de 20 a 40 cm, o teor de cálcio (Ca 2+).

A variação dos valores médios das variáveis mais discriminantes (P2O5(1) e K2O(1), resultantes da análise anterior, é representada na Figura 2. Através da observação desta figura é perceptível a aparente divergência no comportamento destes parâmetros em TL e em TP, comparativamente com TC e TA.

Em relação à variação dos valores médios para as duas primeiras variáveis mais discriminantes, confirma-se a observação anterior, segundo a qual é visível a divergência tendencial entre TC e TL, em contraste com TA e TP. Contudo, TP constitui um tipo de tratamento bem diferenciado do TA, uma vez que os valores médios das duas variáveis mais discriminantes expõem resultados muito diferentes do tratamento com alqueive.

Com o objectivo de caracterizar o comportamento entre os tratamentos que não incluem a introdução de pastagens, a seguir são expostos os resultados da mesma análise multivariada para TC, TL e TA. Os resultados obtidos na análise discriminante, para a matriz edafológica sem o tratamento TP, mostram uma clara diferenciação entre o TA e os restantes tratamentos, sustentada especialmente em duas variáveis, KCl(1) e Ca 2+(2) (ver Figura 3 e Quadro 3).

A representação dos valores médios para as duas variáveis mais discriminantes (KCl(1) e Ca2+(2)) confirma os resultados obtidos, uma vez que para ambas são registados os valores médios mais altos no tratamento TA (ver Figura 4).

Produção A análise de variância dos resultados não evidenciou diferenças significativas entre os diversos teores de elementos no grão e palha do cereal das rotações TA, TC e TL (Quadro 4). Também a produção de grão e de palha não diferiu significativamente entre as rotações; No entanto, e como está exposto na Figura 5, em média dos 10 anos em estudo, as produções do cereal na rotação com leguminosa (TL) foram de 2,68 t ha-1 (grão) e 6,75 t ha-1 (palha), superiores às das rotações com alqueive (2,35 e 5,85 t ha-1) e com consociação (2,34 e 5,69 t ha-1).

Cereais e outras não leguminosas em geral necessitam, para obterem a mesma produção, de menos adubação azotada quando em rotação com leguminosas (Lory et al., 1995), graças à mineralização de azoto pela decomposição da biomassa de folhas, raízes e nódulos de leguminosas, que se acentua a partir da floração (Meyer et al., 1983; Lockhart & Wiseman, 1988). A maior produção de uma cultura após leguminosas chega a manifestarse num segundo ano da cultura (Papastylianou & Samios, 1987). A produção e qualidade das restantes culturas da rotação variam com a leguminosa em causa; Alves (1961, 1983), Papastylianou (1987) e López-Bellido et al.

(1996) conseguiram maiores produções de trigo na rotação com fava e alqueive, e com grãode-bico as menores; quando contabilizados os anos de ausência de produção da rotação com alqueive, esta passa a ser a menos produtiva.

Também neste ensaio, a produção de biomassa da rotação com alqueive foi bastante inferior à das restantes rotações, dada a ausência de produção no ano de alqueive.

As condições ambientais podem também condicionar a influência das leguminosas; estas, em situações de stress hídrico ou baixas temperaturas, podem ser mais afectadas e, por isso, produzirem menos matéria seca e fixarem menos azoto. Nestes casos, a produção destas pode ser ultrapassada por gramíneas cultivadas nas mesmas condições (Papastylianou & Samios, 1987), sem introduzirem qualquer vantagem relativa, mesmo em relação à monocultura de cereal (Tucker et al., 1971; Johnston, 1994). Nos ensaios de Armstrong et al. (1997) compararam-se tremoço, ervilha, grão-de-bico e cevada como precedentes do trigo; o tremoço ultrapassou sempre a cevada e grão-de-bico e, em alguns casos, a ervilha.

Os resultados evidenciaram que, para além da produção de biomassa ou de azoto da cultura precedente, interessa considerar, para a avaliação dos efeitos no sistema e na produção da cultura seguinte, o índice de colheita; plantas com índice de colheita elevado, ou circunstâncias que a isso conduzem, podem originar balanços de azoto negativos, apesar de potencialmente poderem fixar muito azoto.

Além disso, rotações curtas podem originar problemas de natureza fitossanitária; no presente ensaio, o e anos da tremocilha foram afectados por uma praga (curculionídeo, género Sitona) que atacou os nódulos radiculares, diminuindo para 0,40 t ha-1 a produção de grão, quando a média dos restantes anos foi de 1,61 t ha-1.

O alqueive, apesar de ser considerado pouco eficiente na conservação da água, pode conduzir a produções mais estáveis em regiões onde a distribuição da precipitação é irregular (Harris, 1963) sobretudo devido à sua acção no controlo da vegetação espontânea (Shanahan et al., 1988). A influência do alqueive pode ainda ser confundida pela ocorrência de anomalias na condução e colheita da cultura principal (McEwen et al., 1989). Reddy et al.

(1986) testaram várias leguminosas para sideração antecedendo centeio, azevém, milho ou trigo; em qualquer dos casos a produção foi superior na rotação com as leguminosas do que com alqueive.

Em média dos dois anos, o cereal após prado e adubado com azoto produziu menos grão e palha do que o trigo após leguminosa e praticamente o mesmo grão que após consociação (Quadro 5). A produção obtida em 1991 foi inferior à de 1992 devido, nomeadamente, à escassez da precipitação ocorrida nos meses de Abril a Junho.

Também Johnston et al. (1994) obtiveram resposta à adubação azotada do trigo que se seguiu a um prado de 4 anos; entre a modalidade sem adubação e a que recebeu 100 kg N ha-1, a produção de grão aumentou 0,48 t ha-1, enquanto que no nosso caso o aumento (média dos dois anos), com 90 kg N ha-1, foi de 0,94 t ha-1. Nas condições do ensaio parece, por isso, justificar-se a adubação azotada ao trigo que segue um prado.

O estudo multivariado da biomassa cerealífera por tratamento não mostrou comportamentos significativamente diferenciais para qualquer um dos quatro tratamentos. Contudo, a comparação de TA, TC e TL com TP deixa ver uma diferença tendencial, especialmente pelos valores mais extremos recolhidos para TP (Figura 6).

Os valores numéricos resultantes desta análise (Quadro 6) apontam às variáveis Ca grão e palha como as mais discriminantes, mas com valores não significativos. Observando o comportamento dos valores médios para estas duas variáveis (Figura 7), verifica-se um comportamento diferencial da rotação TP em ambos os casos.

Em qualquer caso, estes resultados não podem ser considerados como significativos e sim como tendenciais, tendo em consideração os resultados da análise discriminante anterior. Na sequência do esquema metodológico proposto, foi realizada a análise de biomassa sem o TP. Porém, a eliminação deste tratamento não permitiu a realização da CDA, uma vez que não foram detectadas quaisquer variáveis discriminantes (de modo significativo ou tendencial).

Os resultados obtidos teriam beneficiado caso se incluísse a repetição, em todos os anos, de todas as fases das rotações. Também a inclusão da rotação cereal-cereal beneficiaria a análise dos resultados obtidos.

Um aspecto que se crê merecer investigação futura é o que respeita à monitorização adequada da incorporação de resíduos nas diferentes alternativas em estudo, nomeadamente, restolho e raízes das diversas culturas e vegetação espontânea do ano de alqueive.

CONCLUSÕES Nas condições deste ensaio, as diferentes rotações testadas não influenciaram significativamente a produção de cereal. A rotação com alqueive não origina benefícios à cultura de cereal e conduz a produções de biomassa total que, no longo prazo, são sensivelmente metade das rotações alternativas em ensaio.

O trigo cultivado após prado de sequeiro não dispensa a adubação azotada.

A rotação com tremocilha consegue manter produções de cereal superiores às das restantes rotações, embora a diferença não seja estatisticamente significativa. Apesar desta vantagem, o cultivo de tremocilha em anos alternados no mesmo terreno levanta problemas de natureza fitossanitária que, não obstante a solução possível, criam uma desvantagem relativamente a outras rotações. Além disso, a rotação com tremocilha, nas condições do ensaio, parece ter efeitos a nível da fertilidade do solo que, a manterem-se, exigirão uma atenção especial. As diversas rotações influenciam a evolução de algumas características químicas do solo, nomeadamente, o valor do pH e os teores de P2O5, matéria orgânica e Ca de troca, que indiciam alguma desvantagem para a rotação cereal-leguminosa de grão.

A escolha da variedade de cereal mostrou ser um aspecto importante na condução do ensaio e valor dos resultados obtidos. O trigo Barbela, inicialmente semeado por ser o mais cultivado na região, criou em alguns anos problemas na colheita e mostrou ser um factor limitativo para a obtenção de maiores produções e variabilidade da resposta às diferentes condições em ensaio.


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