Comportamento de cultivares de milho quanto ao rendimento e susceptibilidade a
pragas e doenças na província do Huambo (Angola)
INTRODUÇÃO
Em Angola, a cultura do milho (Zea mays L.) foi sempre notável, embora com
produtividades muito baixas, sem que por isso tenha deixado de ter sido um país
exportador. De acordo com Sardinha & Carriço (1975), no período colonial a
área cultivada com milho alcançava os 1 459 300 hectares com produções
unitárias inferiores a meia tonelada por hectare (466 kg ha-1).
As zonas tradicionais da cultura foram demarcadas por Diniz (1991), e podem ser
consultadas num Atlas preparado pelo Ministério da Educação (1982). As zonas
favoráveis à produção do milho, que inclui o Planalto Central, foram estudadas
por Marcelino (1973) e Diniz (1991), com algumas divergências entre eles,
segundo Henriques (2008). A possibilidade de regadio permite o alargamento
substancial das zonagens propostas por aqueles autores. Marcelino (1973)
afirmou que em praticamente nenhum ponto de Angola haveria impedimento térmico
para a cultura do milho desde que as necessidades hídricas e nutricionais
fossem as exigidas para a cultura.
Após a independência, como refere Neto (2008), começou a diminuição acentuada
e vertiginosa da produção de bens alimentares. Esta diminuição foi influenciada
pela guerra civil e pelas graves deficiências na transformação da estrutura
agrária capitalista colonial (sectores empresarial e tradicional) ao novo
modelo socializante constituído por um sector estatal agrário forte e dominante
(Complexos Agrários e Agro-industriais, Agrupamentos de Unidades de Produção),
pelas Cooperativas Agrícolas e Associações de Camponeses. A produção mercantil
controlada pelo Estado não evoluiu substancialmente em anos posteriores. Neto
(2008) lembra a instabilidade a seguir ao processo eleitoral de 1992, o
conflito armado até ao ano de 2002 e a ausência generalizada de empresários
agrícolas com conhecimentos e capitais para o investimento, justificativas para
a reduzida produção de bens alimentares, referente às quantidades da produção
de milho, nos anos agrícolas de 93/4 a 2002/3, embora com alguma tendência de
crescimento nos últimos anos. Aquele autor anota estatísticas indicadoras do
aumento da produção da ordem dos 200 milhares de toneladas para mais de 600
milhares de 1993/4 até 2002/3, substancialmente ultrapassadas nos anos recentes
como se pode apreciar adiante, mas ainda notoriamente insuficientes para
satisfazer o consumo. A escassez destas produções é melhor compreendida quando
se observam as quantidades de milho usadas pela população na sua alimentação.
Efectivamente, aquele último valor era sensivelmente o do início da década de
70, mas em que a população de então era cerca de um terço da actual, de acordo
com as estatísticas indicadas por Neto (2008).
Embora a mandioca pareça ter um maior peso no consumo de produtos alimentares
em Angola, não restam dúvidas sobre a importância do milho em grão. A
deficiência da produção nacional de milho é bem patente e, consequentemente, a
enorme dependência de Angola, ainda recentemente (1999-2003), das doações do
milho em grão e da importação da farinha de milho. De acordo com Neto (2008),
neste período, a produção nacional ficou-se por cerca de 1/5 do consumo.
A situação da baixa produtividade unitária que se verificava na época colonial
não se terá modificado substancialmente e as áreas semeadas têm sido ainda
bastante inferiores. Por exemplo, de acordo com indicações do MINADER (2005),
para o ano agrícola 2004/5 estimou-se a área plantada de milho de 1 094
milhares de hectares. Todavia, é notório o esforço de aumento da produção dos
últimos anos. ANGOP (2010) refere que os agricultores empresariais e
familiares angolanos, estimados em dois milhões e 500 mil, produziram na
campanha agrícola 2006/2007 cerca de um milhão e 37 mil toneladas de milho,
contra as 800 mil toneladas do produto colhidas na safra de 2005/2006.
Quanto à produtividade da cultura do milho, Nuñgulu et al.(2006) constata a sua
predominância no Planalto Central e, baseando-se em relatórios oficiais (IIA-
DBMP, 2003), assume que o rendimento médio obtido pelos camponeses '
responsáveis por 90 a 95% da produção ' e pelos agricultores varia entre 250 a
700 kg ha-1e de 1 500 a 2 500 kg ha-1, respectivamente.
De acordo com relatório da FAO (2006) e do MINADER (2005), a produtividade
unitária na Província do Huambo foi estimada em 0,7 t ha-1. Para o ano 2007/8,
o relatório do Ministério da Agricultura (2006) indicava a produção de milho,
nesta província, de 0,98 t ha-1.
Em regadio, como no Vale do Cavaco, como é compreensível, obtêm-se melhores
produções se efectuadas as adequadas práticas agrícolas. Melo-e-Abreu et al.
(2006) anotaram para esta região, durante o Projecto NovoMilho, apreciável
subida da produtividade unitária do milho-grão, tendo sido quantificada em 6,3
t ha-1nos campos dos camponeses e em 8,4 t ha-1 nos dos agricultores. A
variedade híbrida 'SNK2682' alcançou a média de 6,6 t ha-1 e a variedade de
polinização livre 'ZM521' de 6,0 t ha-1. A cultivar regional 'Mondombe'
produziu em média 4,6 t ha-1, tendo também alcançado mais do que 4 t ha-1 a
cultivar regional 'Canjala' e a de polinização livre 'Matuba'.
Embora a enorme dependência das doações de milho, atrás referida, tenha ficado
actualmente ultrapassada, é evidente a importância do aumento não só da área
semeada mas sobretudo do aumento da produtividade unitária, que passa pela
melhoria das práticas culturais, designadamente fertilização e disponibilidade
de cultivares produtivas e resistentes a pragas e doenças.
Em Angola, há tradição de melhoramento de milho. Távora (1951), um dos
primeiros melhoradores, estabeleceu as linhas de rumo a seguir e relatou os
trabalhos desenvolvidos na década de 40 e os seus resultados. Alertava para os
riscos de introdução de milhos muito produtivos poderem dar produções iguais ou
inferiores às das cultivares regionais melhoradas, quase sempre muito rústicas,
se não se precavessem os níveis de fertilidade do solo. No dizer do autor As
terras planálticas já de si de média fertilidade, estragadas pela agricultura
nómada, erosão e queimadas, encontram-se ainda empobrecidas pela falta de
fertilizações orgânicas. De modo algum estas terras estão preparadas para
receber semente mais produtiva e como tal muito exigente.
Em 1963, Marcelino divulgava os resultados de ensaios conduzidos no Planalto
Central, para comparação de cultivares de polinização livre, cultivares
melhoradas e milhos híbridos duplos (cruzamentos manuais efectuados no Centro
de Estudos), em que se afigurou compensadora a cultura de milhos híbridos e
eficaz a selecção de linhas autofecundadas, para a obtenção de híbridos duplos
com um grau de resistência satisfatório ao Setosphaeria turcica (Luttr.) K.J.
Leonard & Suggs. Já em 1951, Távora salientara a importância desta doença
na Zona Planáltica e anotara que a cultivar 'Branco redondo' era de todas, de
entre a colecção, a que manifestava maior resistência.
Em relatório do Banco de Angola (1974), relativamente ao milho no ano agrícola
1973/4, escreveu-se que sob a égide do Instituto de Investigação Agronómica,
foi produzido o primeiro milho híbrido de Angola e que propiciava entre 5 a 6 t
ha-1, enquanto com o milho normal se obtinham apenas cerca de 3 t ha-1.
No Instituto de Investigação Agrária de Angola (IIAA), na Chianga, sob
orientação daquele investigador, manteve-se um valioso Banco de Germoplasma
Vegetal, com colecções de sementes de várias culturas, incluindo milho, que
veio a perder-se, no início dos anos 90, devido à guerra civil. Posteriormente,
foram desenvolvidas acções para a recuperação dos recursos genéticos, no Banco
de Germoplasma de Luanda. Rocha (2006), com base em informações verbais de
Elisabeth Matos e de Pedro Moçambique, informa que, em 2005, existiam neste
Banco 823 acessões conservadas de milho das quais haviam sido caracterizadas
135. Citando Rocha (2006), deve-se ter em conta que as produções locais não
são, em geral, de alta produtividade, mas foram seleccionadas para fazerem face
ao clima local e às suas variações a curto, médio e longo prazo, e a grande
quantidade de diversidade genética que apresentam, confere‑lhes uma maior
resistência a epidemias de pragas e doenças. Neves-Martins (2006), numa
exaustiva revisão dos métodos de conservação genética de germoplasma, menciona
a advertência de Matos (2003) de haver que atentar nas espécies introduzidas em
Angola com 400 anos de evolução adaptativa, em que se inclui o milho.
Várias prospecções às principais pragas e doenças do milho foram efectuadas em
Angola, de que se destacam os trabalhos, respectivamente, de Ferrão &
Cardoso (1972) e de Serafim & Serafim (1968).
Pelo seu interesse prático, salienta-se o manual preparado por Melo-e-Abreu
(2000) sobre as doenças do milho. No regadio de Vale de Cavaco foi notória a
incidência do vírus do raiado fino, tendo as cultivares 'Matuba', 'SNK2682' e
'ZM521' apresentado uma maior resistência ao vírus do que outras ensaiadas. A
percentagem de plantas afectadas foi inferior nas sementeiras da época seca, de
temperaturas e humidade baixas, relativamente às efectuadas na estação das
chuvas (Melo-e-Abreu et al., 2006). A incidência das viroses é também
considerada muito importante no Planalto Central de Angola (Henriques 2008).
Quanto às pragas, de acordo com Nuñgulu et al.(2006), os inimigos da cultura do
milho mais importantes, a par das infestações das plantas-parasita
(StrigaLour.), são as brocas do colmo (Busseola fuscaFuller, Sesamia calamistis
Hampson, Chilo partellusSwinhoe) e da espiga (Mussidia nigrivenellaRagonot).
Estes autores passam em revista os métodos de prevenção e controlo e relatam
ensaios para combate com plantas-isco (Pennisetum purpureumSchumach.) e plantas
repelentes [Desmodium uncinatum (Jacq.) DC.,Melinis minutifloraP. Beauv.]. As
brocas do colmo Busseola fuscae Sesamiaspp. também foram consideradas como as
principais pragas do milho por ERA (1974). A controversa utilização de plantas
transgénicas resistentes às brocas, não permitidas até agora em Angola, tem
merecido numerosos trabalhos, indicando-se, a título de exemplo, o de Moreira
(2004) que procurou reunir menções sobre as suas vantagens e utilização em
países africanos mas também os seus riscos.
Entende-se, pois, a importância das cultivares de milho melhoradas localmente.
Felizmente que não estão perdidas as cultivares melhoradas durante longo
período no Instituto de Investigação Agrária de Angola, sob orientação do Eng.º
Marcelino, como a 'Branco redondo' e a 'SAM3', de grande aceitação pelos
camponeses e agricultores.
Em face da debilidade económica destes agentes, com dificuldades para a
aquisição de produtos fitofarmacêuticos, a resistência aos inimigos da cultura,
particularmente às brocas e viroses, é também um aspecto primordial a ter em
conta no melhoramento, como sempre o foi na actividade do IIAA. E, actualmente,
continuam-se trabalhos de melhoramento de milho no IIA-Instituto de
Investigação Agrária, no Huambo, com o que se espera melhorar substancialmente
a obtenção de boas sementes pelos agricultores.
Perante o exposto, interessava comparar o comportamento de cultivares regionais
com o de cultivares melhoradas importadas, eventualmente mais produtivas,
objectivo principal do trabalho agora apresentado, tendo em atenção a sua
produção e, muito particularmente, a sua susceptibilidade a pragas e doenças.
Nesse sentido, desenvolveram-se estudos com duas cultivares regionais ' 'Branco
redondo' e 'SAM3' ' e cinco cultivares importadas ' 'ZM423', 'ZM521', 'ZM523',
'ZM611', 'ZM621' ‑ no ano agrícola de 2004/5. A escolha das cultivares
estudadas teve em consideração as preferências dos agricultores e as
facilidades de aquisição das sementes.
MATERIAL E MÉTODOS
Os ensaios decorreram em três regiões da Província do Huambo (Angola):
Bailundo, Chianga e Calenga, distanciados de cerca de 50 km. A localização dos
ensaios e as características edafo-climáticas dos locais escolhidos foram
anotadas em Henriques et al.(2009). No Bailundo, na Chianga e na Calenga, os
solos apresentam texturas areno-limosa, argilosa e argilo-limosa,
respectivamente, e o pH variou, nos 3 locais, entre 5,2 e 5,5. A riqueza dos
solos em fósforo, antes dos ensaios, era, respectivamente, de 3, 43 e 21 mg L-
1. Esta região abrange uma área de 29,827 km2, e apresenta duas estações
climáticas ' das chuvas e de seca ' por ano, com ventos fracos. Devido à sua
altitude, o clima é temperado-tropical, com uma temperatura média anual
inferior a 20 ºC (Diniz, 1991) e precipitação anual média de 1200 mm (Fig. 1).
Figura 1 ' Pluviosidade mensal, em 2004/5, registada na Estação Experimental da
Chianga.
Em cada um dos locais foram conduzidos ensaios em duas épocas. A primeira
correspondente à época chuvosa, entre Outubro e Maio, e a segunda à época seca,
de Maio a Setembro, com recurso a regas.
Cada ensaio, com uma área total de 380,8 m2 (22,4 m x 17,0 m) foi dividido em
21 parcelas de 16 m2 (3,2 m x 5,0 m). As observações e registos foram
realizados na área central de cada parcela, correspondendo a uma área útil de 8
m2.
Técnicas culturais
A semente das cultivares (OPV) melhoradas ' 'ZM423', 'ZM521', 'ZM523', 'ZM611',
'ZM621' ' utilizadas nos ensaios, foi adquirida à empresa zimbabwiana SeedCo,
produtora de semente certificada, e a semente de cultivares locais ' 'Branco
redondo' e 'SAM3' ' no mercado da Província e no IIA, respectivamente. Das
cultivares locais a primeira, possivelmente, é resultado de cruzamento de
cultivares introduzidas no período colonial e a segunda, a única de coloração
amarela, foi obtida através de trabalhos de investigação do IIA na década de
80.
O compasso de plantação foi de 25 cm na linha e 80 cm na entrelinha. Em cada
local foram conduzidos ensaios em duas épocas. A primeira correspondente a
época chuvosa, sementeira a 22 de Outubro de 2004, e a segunda à época seca,
sementeira a 15 Maio de 2005, com recurso a rega. Foram efectuadas três
adubações, uma de fundo (na altura da sementeira) e duas de cobertura (30 e 60
dias após sementeira). Utilizou-se para o efeito a dose N150-P100-K50,
correspondendo a 417 kg ha-1 do adubo composto 12-24-12 na adubação de fundo e
70 kg ha-1 de ureia em cada uma das adubações de cobertura. Tanto na época
chuvosa como na época seca não foi feito qualquer tratamento fitossanitário
contra doenças e pragas. As infestantes foram controladas manualmente, mantendo
as parcelas sempre limpas.
Delineamento estatístico e análise de dados
O delineamento experimental escolhido foi o de blocos casualizados completos
com 3 repetições, em que cada tratamento corresponde a uma cultivar em estudo.
Observaram-se ainda os ataques de brocas e da virose MSV (Maize Streak
Virus), sendo avaliada a incidência (% de plantas atacadas em relação ao total
da parcela) e severidade de acordo com uma escala de zero a cinco (zero = todas
as plantas sãs; 5 = todas as plantas atacadas).
Em cada repetição determinaram-se os seguintes parâmetros: (a) o peso fresco
total das espigas na área útil (8 m-2); (B) o peso fresco de 10 espigas
escolhidas ao acaso por repetição; (C) o peso fresco em grão (cariopses) das 10
espigas colhidas ao acaso por repetição e (D) o em teor de humidade (%) do grão
obtido nas 10 espigas colhidas ao acaso.
A análise preliminar da variância dos dados combinados relativos às produções,
indicou interacções significativas do tratamento x época e do tratamento x
local para todas as variáveis. Em consequência, os dados são apresentados
separadamente para época e local de ensaio.
O rendimento (Y kg ha-1) foi calculado utilizando a seguinte equação:
Y = A x (1 - D) x E
A = peso fresco das espigas (kg ha-1)
E= C/B, factor de correcção entre o peso de 10 espigas vs peso em grão das
mesmas 10 espigas (valor calculado para cada repetição).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise preliminar da variância dos dados combinados relativos à incidência e
severidade da broca e de virose não indicou interacção significativa do
tratamento x época e tratamento x local, para todas as variáveis. Assim sendo,
os resultados da observação da incidência e da severidade destes inimigos da
cultura são apresentados em conjunto de todos os ensaios, no Quadro 1.
Quadro 1 ' Incidência e severidade* médias das brocas e de vírus MSV, nos
ensaios realizados em duas épocas e em três locais.
As cultivares regionais 'Branco redondo' e 'SAM3' parecem menos atreitas à
virose do que as importadas, pois nelas não se registou qualquer incidência. As
cultivares importadas evidenciaram sintomas de ataque, embora pouco
pronunciados, com valores de severidade sempre inferiores a 1 e de incidência
inferiores a 5%. Os ataques da broca foram também baixos, com valores de
severidade média que variaram entre 0,5 e 1, não se registando diferenças
significativas entre cultivares.
Nas figuras 2 a 4 apresentam-se os rendimentos de cada cultivar de acordo com o
local e a época.
Figura 2 ' Rendimento das sete cultivares de milho durante a época das chuvas e
na de seca, no Bailundo.
Figura 3 ' Rendimento das sete cultivares de milho, durante a época das chuvas
e na de seca, na Chianga.
Figura 4 ' Rendimento das sete cultivares de milho, durante a época chuvosa e
na de seca, na Calenga.
Os resultados obtidos confirmam que com cultivares importadas as produções em
regadio são muito apreciáveis. A cultivar 'ZM521' mostrou, nestes ensaios no
Planalto, produções bem superiores às registadas no regadio do Cavaco (Melo-e-
Abreu et al., 2006), evidenciando a importância dos ensaios de adaptação de
variedades às diferentes regiões agrícolas angolanas.
Os resultados mostram diferenças relevantes no rendimento em função da época,
sendo a cultivar 'ZM521' a que maior diferença apresenta em todos os locais. De
entre as cultivares importadas foi a que menor rendimento demonstrou durante a
época chuvosa e maior durante a época seca.
Para as cultivares importadas, o rendimento durante a época seca foi
significativamente superior ao da época chuvosa (P< 0,002), no Bailundo e na
Chianga.
Durante a época seca, a cultivar 'ZM521' foi a que maior rendimento obteve em
todos os locais, com um máximo de 8 505 kg ha-1 no Bailundo. Durante a época
chuvosa a cultivar mais produtiva foi a 'ZM523' na Calenga, com 4 354 kg ha-1,
não apresentando diferenças significativas em relação às cultivares 'ZM611',
com 4 228 kg ha-1, e 'ZM423', com 4 207 kg ha-1.
Quanto às cultivares locais, a 'SAM3' mostrou sempre produções superiores às da
'Branco redondo', da ordem das 2 t ha-1na Calenga, um pouco superiores no
Bailundo e bem maiores na Chianga, atingindo 4 310 kg ha-1. Esta cultivar,
durante a época chuvosa, foi a que obteve maior rendimento na Chianga, e, mesmo
na época seca, teve uma produção pouco inferior à das importadas 'ZM616' e
'ZM621'.
De forma geral, a cultivar 'Branco redondo' foi a que menor rendimento
apresentou em todos os locais e durante as duas épocas, o que pode ser devido à
qualidade da semente, pois usou-se grão de milho para consumo como semente.
Salienta-se que as produções obtidas ultrapassam substancialmente as 3
toneladas por hectare, valor que o trabalho dos peritos da FAO (2004) previu
como alcançável pelos campesinos com a adopção de técnicas culturais
convenientes. Lembrando que, nestes ensaios, não se efectuaram tratamentos
fitossanitários, é legítimo concluir que, se forem efectuadas as fertilizações
adequadas e o devido controlo de infestantes, se podem alcançar produções,
mesmo com cultivares locais, bem superiores às médias registadas para o país.
A duração média do período vegetativo em cada um dos ensaios é registada no
Quadro 2, sendo bem patente a maior duração nas duas cultivares locais
relativamente ao das importadas, de cerca de uma a duas dezenas de dias na
época chuvosa e, na época seca, bem mais expressiva, cinco a oito dezenas de
dias, ou melhor dito, a nítida precocidade, nesta época, das cultivares
importadas.
Quadro 2 ' Duração do período vegetativo (número de dias) para cada cultivar e
local, nas duas épocas em estudo.
CONCLUSÕES
A produção das cultivares importadas, com destaque para a 'ZM521', é
substancialmente superior na época seca, em regadio, sendo obtida num período
de desenvolvimento bastante mais curto. Aquela cultivar apresentou um
rendimento médio de 8 t ha-1, nos três locais e em apenas quatro meses nesta
época. Em sequeiro (época das chuvas) as cultivares importadas produziram, em
média, 3 t ha-1no Bailundo e na Chianga, e cerca de 4 t ha-1na Calenga. As
cultivares locais não mostraram uma variação tão acentuada no rendimento entre
as duas épocas de cultura, mas o rendimento foi baixo. Em geral, os valores
médios do rendimento nas cultivares 'Branco Redondo' e 'SAM3' foram de 2 t ha-
1, com excepção desta última na Chianga, que atingiu as 4 t ha-1 em sequeiro.
A supremacia da cultivar 'SAM3', na época chuvosa na Chianga, deve-se
certamente a ter sido aí seleccionada, portanto bem adaptada às condições
edafo-climáticas do local. O sucesso relativo desta cultivar local demonstra
bem a importância do melhoramento das plantas, tão longamente seguido no
passado no IIAA e prosseguido actualmente, sendo certo que compensa continuar a
ser acarinhado.
A aparente maior resistência das cultivares locais a pragas e doenças é de
registar e constitui um incentivo ao seu melhoramento. Em contrapartida, o
ciclo vegetativo das cultivares locais, bem mais longo do que o das importadas,
mormente na época seca, pode ser um inconveniente a considerar.
As diferenças notáveis da produção de algumas cultivares importadas, entre as
épocas, reforça a ponderação necessária na sua escolha em função da época e,
eventualmente dos locais de sementeira, bem como a vantagem do incremento de
ensaios de adaptação de cultivares.