Resumo das Comunicações Orais
INTERNAMENTOS POR GRIPE A EM CRIANÇAS COM DOENÇA CRÓNICA
Introdução: A infecção pelo vírus influenza A (H1N1) foi declarada pela OMS como
a primeira pandemia de influenza do século XXI. As séries publicadas documentam
uma baixa morbilidade e mortalidade. Contudo, existem poucos estudos que
avaliem o impacto desta infecção nas crianças com doença crónica, nomeadamente
nas que necessitaram de admissão hospitalar.
Objectivos: Caracterizar os internamentos por Gripe A em crianças com doença
crónica.
Material e métodos: Estudo retrospectivo dos pacientes com doença crónica
internados por Gripe A no período de 1 de Novembro de 2009 a 31 de Janeiro de
2010. Avaliaram-se dados epidemiológicos, apresentação clínica, exames
complementares realizados, tratamento efectuado e evolução.
Resultados: Necessitaram de internamento 14 crianças com doença crónica,
correspondendo a 82% do total de internamentos por Gripe A. A maioria dos casos
(57%) verificou-se na segunda quinzena de Novembro. Sete (50%) eram do sexo
feminino, com mediana de idade de 8,5 anos (3 meses -18 anos). Das patologias
associadas, destaca-se a imunodepressão (4): imunodeficiência primária,
transplante renal, ataxia-telangiectasia, anemia de Fanconi; a asma (3), e as
doenças metabólicas (2). Os sintomas mais frequentes foram: febre (100%), tosse
(57%), rinorreia (43%), vómitos (43%), pieira (21%). Em 50% a duração de
sintomas antes do internamento foi =24 horas.
Na admissão, a maioria (86%) apresentava gravidade clínica ligeira. O motivo de
internamento mais frequente foi intolerância alimentar (50%) e hipoxemia
(28,5%). Doze (86%) realizaram estudo analítico: leucócitos7360/ul (3250 -
17710); neutrófilos 67,5% (33 -88); linfócitos 27,0% (6-59); PCR 13,9mg/L (1 -
156). A radiografia de tórax foi realizada em 9 (64%): em 7 (78%) apresentava
infiltrado intersticial bilateral e 2 (22%) eram normais. Foi instituída
antibioterapia em 2 crianças por sobreinfecção bacteriana. A duração mediana do
internamento foi 7 dias (2-30). Não houve admissão na unidade de cuidados
intensivos e não foi registado nenhum óbito.
Conclusão: A infecção pelo vírus influenza H1N1 neste grupo de crianças com
patologia crónica apresentou uma epidemiologia semelhante à descrita em séries
que englobam maioritariamente crianças saudáveis. As manifestações clínicas e
analíticas foram ligeiras. Em nenhum caso houve descompensação da patologia de
base e a evolução clínica foi favorável.
VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA COM nCPAP NO TRATAMENTO DA BRONQUIOLITE AGUDA
Helena M. Silva1, Telma Barbosa1, Carlos Duarte1, Ana Ramos1
1 CHPorto, UHMPia
Introdução: A bronquiolite aguda é uma forma de infecção respiratória frequente
no primeiro ano de vida, e uma causa de morbilidade e mortalidade infantil. A
Ventilação Não Invasiva (VNI) é um modo de ventilação cada vez mais utilizado
pela sua baixa agressividade, grande eficácia e escassas complicações.
Objectivos: Analisar as características, evolução e eficácia da VNI com nCPAP
em crianças com bronquiolite aguda.
População e métodos: Estudo retrospectivo dos internamentos por bronquiolite
aguda em crianças<12meses de idade, durante 6 períodos epidémicos consecutivos:
Outubro 2004 a Março 2010. Foram analisados dados sociodemográficos, analíticos,
imagiológicos, e dados clínicos prévios ao início da VNI e às horas 6, 12, 24 e
48 desde o início da VNI. Análise estatística através do programa SPSS®v.17,
nível de significância 0,05.
Resultados: No período referido, 34 crianças foram internadas por bronquiolite
aguda com necessidade de apoio ventilatório com VNI; 24 (70,6%) do sexo
masculino, idade mediana de 44 dias (10 -300). Dos factores de risco de
evolução grave destaca-se: 17 (50%) antecedentes de prematuridade; 29 (85,3%)
idade<3meses, dos quais 10 (29,4%) eram recém-nascidos; 15 (44,1%) com doença
subjacente, das quais 10 (55,5%) com cardiopatia congénita. O agente mais
frequentemente implicado foi o VSR (73,5%). Na admissão, o score Wood-Downes
(WD) teve um valor mediano de 6 (3-8); 25 (73,5%) apresentou radiografia de
tórax compatível com bronquiolite não complicada (hiperinsuflação ou infiltrado
intersticial). A mediana de tempo até iniciar VNI foi de 24 horas (2-94),
coincidente com agravamento clínico e radiológico: WD mediano de 9; 61,7%
apresentou alterações radiográficas de novo: 47% apresentaram atelectasia do
lobo superior direito. A principal indicação foi SDR grave (41,2%), seguida de
apneia (29,4%) e Insuficiência Respiratória Aguda hipercápnica (29,4%).
Observou-se melhoria clínica nas primeiras 6 horas após o início de VNI, com
diminuição da frequência cardíaca (163vs152;p=0,005), frequência respiratória
(65vs.55;p=0,005), pCo2 (53,0vs.43,9;p=0,013) e pH (7,33vs7,39; p=0,001). Um
total de 3 crianças necessitou de Ventilação Mecânica (VM).
Conclusão: Salientamos que a grande maioria (91%) destes pacientes apresentava
pelo menos um factor de risco de evolução grave, podendo ocorrer uma rápida
deterioração clínico-laboratorial, num período mediano de 24 horas. A VNI
introduzida numa fase precoce parece estar associada a uma melhor evolução
clínica e gasimétrica desde as primeiras horas, evitando o recurso à VM.
TUBERCULOSE PULMONAR EM ADOLESCENTE - CASO CLÍNICO
Sofia Águeda1, Leonilde Machado2, Eunice Moreira2, Luísa Vaz1
1 HSJoão
2 CHTâmega e Sousa, HPAmérico
Introdução: A tuberculose constitui um grave problema de saúde pública. As
medidas para conter o avanço da doença passam pelo diagnóstico precoce e
instituição atempada do tratamento. Nas crianças assume características
particulares, dado o quadro clínico ser inespecífico e o diagnóstico difícil.
Nos adolescentes as manifestações clínicas aproximam-se das descritas em
adultos.
Caso clínico: Adolescente de 15 anos, previamente saudável. Sem história de
contacto com conviventes doentes. Admitida para estudo de febre, odinofagia e
tosse produtiva com menos de uma semana de evolução. Apresentava radiografia
torácica realizada em ambulatório com hipotransparência no lobo superior
direito. História de hemoptise isolada 6 meses antes da admissão. Na altura
realizou radiografia de tórax, estudo analítico e baciloscopia, sem alterações.
Na semana prévia à admissão teve novo episódio de hemoptise, sem outras
queixas. À observação sem alterações excepto crepitações bibasais na
auscultação pulmonar. A tomografia computorizada de tórax revelou lesões
cavitadas no lobo superior do pulmão direito, consolidação nos lobos superior e
médio do pulmão direito, opacidades centrilobulares configurando aspecto de
árvore em botão ' tuberculose pós-primária com disseminação endobrônquica - e
gânglios no mediastino. Analiticamente com anemia microcítica, elevação dos
marcadores inflamatórios e da adenosina deaminase sérica. Após confirmação do
diagnóstico de tuberculose pulmonar iniciou rifampicina, isoniazida,
pirazinamida, etambutol e piridoxina. Dos restantes exames salienta -se exame
directo e cultural para Mycobacterium tuberculosis positivo nas secreções em
D1, sensível aos anti-tuberculosos testados e negativo em D17. Manteve-se
assintomática durante o internamento, com melhoria progressiva do quadro
clínico. O exame oftalmológico revelou lesões compatíveis com tubérculos
coroideus em cicatrização, tendo efectuado punção lombar, não se verificando
disseminação meníngea.
Conclusão: Dada esta faixa etária diferir da população infantil em termos de
factores de risco e manifestações clínicas são necessárias recomendações
específicas. A apresentação clínica frustre e a ausência de história
epidemiológica mostra a importância da vigilância e rastreio da doença em
populações de risco ou em zonas cuja incidência de tuberculose é elevada. O
rastreio de formas de tuberculose extra-pulmonar é importante e o seguimento em
ambulatório é parte fundamental na minimização das sequelas.
QUANDO A TEMPESTADE COMEÇA COM UM CHUVISCO
Joana Monteiro1, Sónia Aires1, Susana Tavares1, Helena Sousa2, M. Guilhermina
Reis2, Paula Ferreira2, Virgínia Monteiro1
1 CHEDVouga
2 CHPorto
Introdução: As celulites periorbitária e orbitária ocorrem com frequência na
idade pediátrica podendo apresentar-se com dor ocular e edema palpebral, sendo
difícil a sua distinção clínica. No entanto, dado a última apresentar maior
gravidade e risco de complicações, torna-se imperativo o diagnóstico atempado e
monitorização clínica próxima.
Caso clínico: Adolescente de 13 anos, sexo masculino, sem antecedentes pessoais
ou familiares de relevo, recorre ao SU por febre e edema da pálpebra direita
com 48h de evolução. Salienta-se no exame objectivo edema com rubor e calor
periorbitários exuberantes, sem dor à mobilização ocular ou oftalmoplegia, sem
quaisquer outras alterações relevantes. No contexto da avaliação por ORL e
oftalmologia realizou TAC, revelando pansinusite aguda e celulite peri-
orbitária com eventual extensão pós-septal. Cerca de 6h após admissão observou-
se agravamento clínico com prostração e sonolência marcadas, cefaleias intensas
com fono e fotofobia. Ao exame objectivo mostrava-se pouco reactivo, ECG 9, má
perfusão periférica, sinais meníngeos positivos e olho direito em abdução.
Efectuou punção lombar que revelou meningite de provável etiologia bacteriana,
motivo pelo qual inicia ceftriaxone, vancomicina e dexametasona EV;
analiticamente denotou-se leucocitose com neutrofilia, tempo de protrombina
prolongado e PCR aumentada. Apesar da antibioterapia instituída, apresentou nas
primeiras 24h, agravamento clínico progressivo, com tendência para atingimento
multi-órgão, pelo que é transferido para SCIN Pediátricos do CHP. Após se
constatar presença de edema cerebral difuso, iniciou ventilação mecânica com
monitor de PIC, manitol e soro hipertónico, com evolução clínica favorável. Na
hemocultura e bacteriológico de LCR isolou-se S. pyogenes sensível à
Penicilina, após o que, ao 11.º dia, foi alterada antibioterapia para
Penicilina G e Clindamicina. Ao 15.º dia de doença realizou RMN-CE que revelou
presença de pús intra-ventricular, motivo pelo qual cumpriu 6 semanas de
antibioterapia. A sua recuperação clínica foi completa e sem lesões sequelares.
Conclusão: Com este caso clínico os autores pretendem chamar a atenção para a
importância e dificuldade na distinção clínica entre celulite orbitária e pré-
septal, dado o risco elevado de rápido desenvolvimento de complicações graves.
De salientar também que 11% dos casos podem resultar em cegueira permanente,
apresentado uma mortalidade de 1 -2%.
URTICÁRIA AO FRIO EM IDADE PEDIÁTRICA ' SÉRIE DE CASOS
Mónica Tavares1, Leonor Cunha2, Eva Gomes2, Fernanda Teixeira1, Helena Falcão2
1CHPorto, HMPia
2Serviço de Imunoalergologia, CHPorto
Introdução: A urticária ao frio ou a urticária de contacto ao frio é um subtipo
das urticárias físicas com uma incidência estimada de 0.05%. Caracteriza-se
pelo aparecimento de lesões maculopapulares pruriginosas e ou angioedema após a
exposição ao frio.
Material e métodos: Estudo retrospectivo dos processos clínicos de crianças e
adolescentes até aos 18 anos com clínica sugestiva de urticária ao frio.
Variáveis analisadas: idade, sexo, idade de início dos sintomas,
caracterização, história familiar de urticária ao frio, exames complementares
de diagnóstico, tratamento, tempo de seguimento.
Resultados: Foram estudadas 8 crianças e adolescentes com idades compreendidas
entre os 8 e os 18 anos (média de 12,8 anos) com idade de início dos sintomas
que variou entre o ano e os 14 anos (média de 7,3 anos). A urticária
generalizada foi o sintoma de apresentação em sete doentes, associado em quatro
destes a angioedema localizado e em três a anafilaxia. Seguindo os critérios de
classificação de Wonderer encontramos um caso de urticária tipo 1, com urticária
localizada e/ou angioedema; quatro casos de urticária tipo 2, com urticária
generalizada e/ou angioedema sem hipotensão ou sintomas respiratórios e três
casos de urticária de tipo 3, com reacção sistémica severa. O teste do cubo de
gelo foi realizado em sete destes doentes, sendo positivo em todos os casos,
com reacção local, na maioria com positividade após 3 minutos de exposição com
tamanho da reacção urticarifome que variou entre os 3 e os 8 cm de diâmetro. As
crioglobulinas e o estudo do complemento foram normais, incluindo a função e
doseamento do C1 inibidor. O estudo etiológico das urticárias crónicas não
revelou em nenhum dos casos evidência de infecção recente (CMV, EBV, Herpes,
Parvovírus, Toxoplasmose, HIV, VDRL, Varicela, Rubéola, Hepatite, Micoplasma,
HP) potencialmente responsável pelo início da urticária. Os factores
desencadeantes da urticária foram: em sete nadar em água fria e exposição a
temperaturas baixas no exterior, e em seis tocar objectos frios. Os doentes
foram tratados com anti-histamínico diário, associado em dois casos a um
inibidor dos leucotrienos. Quando indicado foi prescrita adrenalina para auto-
administração. Em seis crianças verificou-se uma melhoria significativa dos
sintomas. Nenhum doente apresentou reacção anafilática após seguimento em
consulta. Todos estes doentes mantêm seguimento.
Conclusão: Apesar de ser uma patologia pouco frequente parece-nos muito
importante estar atento à sua existência, dado que pode apresentar-se como uma
reacção anafilática grave. A medicação e principalmente as medidas de evicção
tornam-se fundamentais no seguimento destes doentes. A prescrição de adrenalina
auto-administrada deve ser sempre ponderada.
ADOLESCENTES NO SERVIÇO DE URGÊNCIA DE PEDIATRIA, UMA NOVA REALIDADE
Tânia Monteiro1, Nilza Ferreira2, Eurico Gaspar2
1 CH Barlavento Algarvio, 2 CH Trás-os-Montes e Alto Douro
Introdução: A Pediatria tem como objectivo prestar cuidados apropriados aos
lactentes, crianças e adolescentes. Nesse âmbito, o Serviço de Pediatria do
Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) desde 1 Janeiro de
2010 concluiu o processo de alargamento de atendimento, no Serviço de Urgência
(SU) de Pediatria, até aos 17 anos e 364 dias. Os adolescentes em geral são
saudáveis, mas as especificidades do seu desenvolvimento associadas a
necessidades e morbilidades próprias, colocam novos desafios ao pediatra.
Objectivos: Caracterizar as necessidades de saúde dos adolescentes entre os 15
e 17 anos e 364 dias, observados no SU de Pediatria do CHTMAD, no primeiro
semestre de 2010 e avaliar o impacto do alargamento da idade de atendimento
pediátrico, no funcionamento do serviço.
Material e métodos: Análise retrospectiva descritiva, através da consulta dos
episódios de urgência no programa SAM e / ou respectivas folhas de registo do
episódio de urgência.
Resultados: De um total de 4903 episódios, 296 corresponderam ao grupo etário
estudado (6,0%), com uma média de 49,3 episódios/mês. A idade que predominou
foi os 16 anos (n=102; 34,5%) e a maioria pertencia ao sexo feminino (n=180;
60,8%). 51,0% (n=151) foram atendidos entre as 8-16h00. Recorreram ao SU sem
referenciação 65,5% casos (n=194). Em 28 episódios (9,5%) foram observados por
outras especialidades. Foram realizados exames complementares de diagnóstico
em 52,0% dos casos (154), sendo os exames laboratoriais os mais utilizados.
Foram internados 20 doentes e 60 (20,3%) foram orientados para a Consulta
Externa, sendo a maioria para a Pediatria (n=51; 17,2%). Os principais motivos
de admissão foram: sintomas gastrointestinais (n=68;23,0%), com predomínio da
dor abdominal (36); seguido de queixas respiratórias (n=34; 11,5%); cefaleias
7,4% (22), toracalgia 6,1% (18) e lipotimia 5,7% (17). Os diagnósticos mais
frequentes foram: patologia gastrointestinal com 58 casos (19,6%), seguido da
infecciosa (n=48; 16,2%). De salientar os 8 casos de intoxicação alcoólica e os
22 casos de perturbações da ansiedade.
Comentários: O alargamento da idade pediátrica, veio fazer com que o pediatra
se depare com problemas novos, tais como as intoxicações e perturbações da
ansiedade. Estas situações obrigam a novas abordagens de diagnóstico e
terapêutica, sendo fundamental a formação específica e trabalho
multidisciplinar. E por fim, é necessário criar condições logísticas adequadas a
este acréscimo de urgências.
NEUROBLASTOMA ' APRESENTAÇÃO CERVICAL EM RN
António Salgado1, Ana Caldeira1, Eduarda Sousa1, José Guimarães1
1CHLOcidental, HSFXavier
Caso Clínico: Recém-nascido do sexo masculino, 23 dias de vida, com
antecedentes pessoais irrelevantes, que 5 dias antes do internamento evidencia
uma tumefacção latero-cervical direita, de crescimento progressivo, sem sinais
inflamatórios locais ou outra sintomatologia. À entrada, com bom estado geral,
estridor, sem outros sinais de dificuldade respiratória, Sat O2 100% a ar
ambiente, massa latero-cervical direita com 3cm de maior diâmetro, consistência
petrea, bem delimitada, sem sinais inflamatórios, não aderente aos planos e sem
limitação da mobilidade do pescoço. Analiticamente sem alterações relevantes.
Ecografia cervical de parte moles: massa sem relação com o
esternocleidomastoideu, postero-externa ao eixo jugulo-carotideo,
40x30x20mm,bem delimitada, sólida, ecoestrutura heterogénea. Algumas formações
ganglionares jugulo-carotideas. Pelo risco de agravamento do quadro de
obstrucção respiratória alta, foi internado. Durante o internamento verificou-
se aumento das dimensões da massa e agravamento do estridor, sem condicionar
dificuldade respiratória. Foi observado no IPO Lisboa, onde realizou RMN,
cintigrafia com MIBG, citologia aspirativa por agulha fina e marcadores AHV e AVM
compatíveis com o diagnóstico de Neuroblastoma.
Conclusão: O Neuroblastoma é uma patologia em que o diagnóstico, estadiamento e
terapia precoce influenciam o prognóstico, assim a apresentação deste caso
destina-se a alertar para a necessidade de o considerar no diagnóstico
diferencial de massa cervical em recém-nascido. Os Neuroblastomas constituem a
3ª neoplasia e o tumor sólido extracraneano mais comum em crianças. Podem
surgir ao longo de todo o sistema nervoso simpático, por ordem de frequência
nas supra-renais (40%), cadeias ganglionares abdominais (25%), torácicas (15%),
pélvicas (5%) e cervicais (5%); 40% são diagnosticados no primeiro ano de vida.
WHAT YOU SEE IS NOT WHAT YOU GET
Rita Jorge1, Maria Inês Monteiro1, Joana Monteiro1, Catarina Carvalho1, Ana
Luísa Pinto1, Elizabeth Marques1, Miguel Costa1, Lúcia Gomes1
1 S. Pediatria Médica, CHEDV, UOAzeméis
Introdução: A obesidade em jovens tem aumentado drasticamente nas últimas duas
décadas, nos países ocidentais. Além das complicações médicas, a obesidade em
adolescentes tem importantes consequências psicossociais. Estudos recentes
mostram uma tendência crescente para subestimar o próprio peso, provavelmente
resultado da incidência cada vez maior de excesso de peso na população geral,
\normalizando\ esse estado.
Objectivos: Avaliar a percepção que as crianças/adolescentes com excesso de
peso/obesidade têm da sua imagem corporal, determinar o tipo de imagem corporal
que estes jovens desejam alcançar e se essa imagem desejada corresponde aos
seus padrões de normalidade.
População e métodos: Foram avaliadas 114 crianças seguidas na consulta de
Nutrição Pediátrica desta instituição por excesso de peso/obesidade, através da
aplicação de um questionário associado a uma escala de silhuetas para crianças
(Kakeshita, 2008). O questionário pretendia avaliar a auto-imagem (\Qual a
silhueta mais parecida contigo?\), a imagem desejada (\Qual a silhueta que
gostavas de ter?\) e a imagem considerada normal/saudável (\Qual a silhueta
que as crianças da tua idade deveriam ter para serem saudáveis?\).
Resultados: Os jovens avaliados tinham entre 6 e 17 anos (média: 12), sendo
56,1% do sexo masculino. Em relação à auto-imagem, apenas 20,2% escolheram uma
imagem correspondente ao IMC real, tendo a maioria (65,8%) seleccionado imagens
com IMC inferior. Embora 53,5% das crianças apresentassem IMC superior ao P95,
apenas 29,8% escolheram silhuetas que representavam obesidade. Relativamente à
imagem desejada, a maioria (83,3%) escolheu uma imagem correspondente a um IMC
normal, correspondendo essa imagem, geralmente (94,7%), a um IMC inferior ao da
auto-imagem. Em cerca de metade dos casos (54,4%) a silhueta que desejavam ter
correspondia à imagem escolhida como sendo \normal\ e em 32,5% correspondia a
imagens com IMC superior.
Discussão: Grande parte dos jovens com excesso de peso/obesidade não têm uma
percepção real do seu problema, embora manifestem vontade de melhorar a sua
imagem. Muitos têm baixas expectativas em relação à perda de peso, uma vez que
a imagem que pretendem obter nem sempre corresponde à que consideram mais
saudável. O acompanhamento psicológico destes jovens é fundamental, podendo
contribuir para que compreendam a importância e dimensão do seu problema de
saúde e aumentar o optimismo e, consequentemente, a motivação, relativamente à
perda de peso.
IMPORTÂNCIA DA DETERMINAÇÃO DA TENSÃO ARTERIAL EM PEDIATRIA
Isabel Pinto Pais1, Daniel Gonçalves1, Ana Novo1, Margarida Figueiredo1, Clara
Vieira1, Rafael Bindi1, Paulo Teixeira1, Maria Conceição Mota2
1 Serviços de Pediatria, CHMA/F
2 S. Nefrologia Pediátrica, CHP, HMPia
Introdução: Na população pediátrica a prevalência de hipertensão arterial (HTA)
é de 3% e a de HTA grave de 0,1%. Quando não controlada é causa de morbilidade
e mortalidade significativa. Em pediatria é habitualmente secundária, sendo a
etiologia renal a mais frequente. A Glomeruloesclerose Segmental Focal (GESF)
manifesta-se em qualquer idade com proteinúria, habitualmente nefrótica. O
diagnóstico é histológico pelo que a sua verdadeira incidência é desconhecida.
É classificada como GESF primária ou idiopática quando não se identifica uma
etiologia. A GESF secundária tem por base um factor infeccioso, inflamatório,
tóxico ou hemodinâmico. A GESF familiar deve ser considerada em crianças com
história sugestiva. O prognóstico é habitualmente reservado.
Caso clínico: Adolescente internada por HTA grave. Apresentava cefaleias
recorrentes, com vómitos esporádicos, com 1 mês de evolução e de agravamento
súbito nas 48 horas prévias ao internamento. Sem outros sinais de alarme ou
outra sintomatologia associada. Negava consumo de tabaco/ álcool/outras drogas
de abuso, assim como de medicamentos/suplementos nutricionais. Antecedentes
pessoais de albuminúria 3+, não valorizada. Familiar falecido por IRC com
inicio em idade pediátrica. À admissão no SU apresentava TA MSE=200/147mmHg (>
P99 + 5mmHg), sem diferencial entre os 4 membros. Glasgow 15, pupilas
isocóricas e fotoreactivas, sem défices focais. Edemas maleolares discretos,
restante exame objectivo sem alterações. Tanner M2/P3. IMC <P5. Perante o
diagnóstico de emergência hipertensiva foi internada para tratamento,
investigação etiológica, das repercussões nos órgãos-alvo e estratificação do
risco cardiovascular. Esta investigação revelou Síndrome nefrótico com HTA
estadio 2 secundários a GESF, com insuficiência renal, retinopatia hipertensiva
e cardiomiopatia hipertrófica ligeiras. Pesquisa de mutação no gene NPHS2 em
curso. TA e função renal estáveis com IECA, ARA e Bloqueador dos canais de
cálcio bem como normalização do perfil lipídico com medidas dietéticas e
Estatina.
Conclusão: A desvalorização da albuminúria e dos antecedentes familiares
associados à ausência de pesquisa prévia de um valor tensional, levaram a um
atraso no diagnóstico desta criança. Os autores alertam para a importância de
uma anamnese cuidada e reafirmam a pertinência da avaliação de rotina da tensão
arterial na medida em que a detecção em tempo útil de HTA subclínica pode
reduzir a morbilidade e a mortalidade inerentes a formas de HTA graves em idade
pediátrica.
DERRAMES PLEURAIS PARAPNEUMÓNICOS COMPLICADOS ' AVALIAÇÃO DE UM PROTOCOLO DE
ABORDAGEM COM ALTEPLASE INTRA-PLEURAL
Vasco Lavrador1, João Moreira -Pinto2,3, Joana Pereira2, Berta Bonet2, Fátima
Carvalho2, Lurdes Morais1, Ana Ramos1, Virgílio Senra1
1 CHPorto, UHMPia
2 Serviço de Cirurgia Pediátrica, CHP, UHMPia
3 Domínio Ciências Cirúrgicas, IICVS, UMinho
Enquadramento: A incidência dos derrames parapneumónicos complicados tem vindo
a aumentar nas últimas décadas. Embora a sua abordagem permaneça controversa, a
instilação de agentes fibrinolíticos intra-pleurais tem demonstrado resultados
equivalentes aos métodos cirúrgicos.
Objectivos: O presente estudo tem por objectivo avaliar os resultados do
protocolo de utilização de alteplase intrapleural implementado em 2005 no
Hospital Maria Pia.
Material e métodos: Estudo retrospectivo dos doentes internados com diagnóstico
de derrame pleural parapneumónico complicado submetidos a colocação de dreno
torácico e instilação intrapleural de alteplase entre Janeiro de 2005 e
Dezembro de 2009.
Resultados: Foram identificados 21 doentes, 11 do sexo masculino, com idade
média de 64 meses (16 ' 197). À admissão apresentavam doença com evolução média
de 6.1 dias e 81.0% já tinham iniciado antibioterapia, 58.8% dos quais em
regime de internamento. Na abordagem inicial, a radiografia de tórax era
compatível com derrame pleural em 95.2% dos casos, confirmado por ecografia
torácica em 90.5%; o derrame apresentava septação em 81.0% dos doentes.
Após colocação de dreno torácico todos os doentes iniciaram instilação de
fibrinolítico, com 95.2% a completar os três dias de tratamento preconizados. O
tempo de drenagem torácica foi de 6 dias (3 ' 9) verificando-se, como
complicações, pneumotórax (3) e enfisema subcutâneo (1). Houve necessidade de
recolocação do dreno em quatro doentes. Não houve complicações major associadas
à instilação de fibrinolítico.
A antibioterapia mais frequentemente instituída à admissão foi cefuroxima
(14.3%) e a associação de ceftriaxone e clindamicina (14.3%), tendo sido
alterada em 6 doentes por resposta clínica desfavorável. A duração média da
antibioterapia endovenosa foi de 18 dias (9 -28).
O agente etiológico foi identificado em 33.3% dos casos: S. pneumoniae (4), S.
beta-hemolítico (1), M. tuberculosis (1) e S. aureus (1).
Apenas um doente necessitou de admissão em unidade de cuidados intensivos sob
ventilação não invasiva; um doente teve alta contra parecer médico e verificou-
se um reinternamento mas sem recidiva do derrame. Nenhum doente necessitou de
toracoscopia ou toractomia e não se registaram óbitos na amostra avaliada.
Conclusão: A utilização precoce protocolada de alteplase na abordagem da
pneumonia complicada por derrame pleural demonstrou ser um método eficaz, sem
complicações major associadas ou necessidade de abordagem cirúrgica posterior.
ASMA NA ADOLESCÊNCIA: PERCEPÇÃO DO IMPACTO NAS FUTURAS ESCOLHAS PROFISSIONAIS
Gisela Silva1, Eva R. Gomes2
1 S. Pediatria Médica, CHPorto
2 S. Imunoalergologia Pediátrica, CHPorto
Introdução: A asma brônquica é uma das doenças crónicas mais prevalentes na
adolescência. Os jovens asmáticos devem saber que a sua condição pode sofrer
agravamento por exposição profissional a alergénios ou irritantes e, portanto,
deve ser tida em conta aquando da escolha profissional.
Objectivos: Avaliar o conhecimento de uma amostra de adolescentes asmáticos
sobre o potencial risco para a asma de algumas escolhas profissionais e
analisar a sua percepção sobre a limitação de escolhas imposta pela doença.
Analisar o controlo da doença e correlação entre os resultados dos 2
instrumentos utilizados.
Material e métodos: Amostra de 25 adolescentes seguidos em consulta de
Imunoalergologia Pediátrica com diagnóstico de asma brônquica. Foram aplicados
questionários para avaliação de possíveis escolhas profissionais, conhecimento
dos riscos de exposição profissional e recolha de dados para avaliação do
controlo da asma através do questionário CARAT 10.
Resultados: A idade média foi de 15,68 anos (14-18) e 52% eram do sexo
masculino. Todos os doentes tinham um bom controlo da doença com valores iguais
ou superiores a 16 no questionário CARAT 10. 60% dos doentes conseguiu
identificar ocupações profissionais que poderiam causar um agravamento da sua
patologia, mas a maior parte não considera a sua condição de asmático um factor
importante a ter em conta nos seus possíveis planos profissionais. Os rapazes
parecem ser mais conhecedores da eventual influência da asma na escolha
profissional com 10 dos 16 doentes do sexo masculino a considerar que a asma
pode afectar a sua escolha, enquanto apenas 5 dos 12 do sexo feminino manifesta
esta preocupação. 64% da amostra referiu que a possível influência da doença na
escolha profissional já foi discutida em família e 40% com amigos. Só 36%
referiu ter abordado esse assunto com profissionais de saúde, nomeadamente o
seu médico assistente.
Conclusão: Todos os doentes asmáticos avaliados estavam bem controlados. Apesar
do reduzido tamanho da amostra, verificámos que o conhecimento dos possíveis
condicionalismos que esta patologia acarreta em termos de escolhas
profissionais e os riscos associados a certas ocupações não está optimizado
sendo esta uma vertente a melhorar no acompanhamento dos jovens asmáticos.
FENÓMENO DE RAYNAUD EM IDADE PEDIÁTRICA
Mónica Tavares1, Ana Novo1, Helena Sofia1, Ivone Silva2, Isabel Almeida3,
Margarida Guedes1
1 CHPorto, UHMPia
2 Serviço de Cirurgia Vascular, CHPorto
3 Serviço de Medicina Interna, CHPorto
Introdução: O fenómeno de Raynaud (FR), caracterizado por alterações da cor das
extremidades, de palidez a cianose e eritema, tem uma prevalência que varia na
idade adulta entre os 3 e os 20%. Em idade pediátrica, os estudos são
limitados. A presença de FR em crianças com menos de 12 anos ou em rapazes
parece estar mais associado à forma secundária, implicando exclusão de doença
do tecido conjuntivo. A capilaroscopia é um exame fundamental nestes doentes
uma vez que a presença de alterações capilaroscopicas sugere a presença de uma
doença reumática subjacente.
Objectivo: Caracterização do fenómeno de Raynaud nas crianças e adolescentes
orientadas para o Centro Hospitalar do Porto ' Hospital de Santo António, de
01/01/2000 a 31/08/2010.
Métodos: Estudo retrospectivo dos processos clínicos das crianças e
adolescentes orientadas por Fenómeno de Raynaud. Avaliação da história clínica,
duração dos sintomas, idade, história familiar, pesquisa de anticorpos
antinucleares e capilaroscopia. Critérios de inclusão: menores que 18 anos à
data de referenciação, com FR como motivo de consulta. Critérios de exclusão:
jovens com idade superior a 18 anos ou que apresentavam outro motivo de
referenciação.
Resultados: Foram seleccionados 60 processos clínicos que cumpriam os critérios
de inclusão. Idade média de aparecimento dos sintomas 12,6 anos, actualmente
com uma média de idades de 16,3 anos, sendo 72% do sexo feminino. Mais de
metade (53%) destas crianças ou jovens encontrava-se em seguimento em consulta
de Reumatologia Pediátrica, quatro em Medicina Interna, 18 em Cirurgia Vascular
e seis nas outras subespecialidades pediátricas. Todas as crianças
apresentavam fenómeno de Raynaud, associada em a eritema pérnio, 26,7% com
edema das mãos e a mesma percentagem com dor ao nível das articulações inter-
falângicas proximais, 21,7% com acrocianose, 10% com alterações tróficas das
polpas ungueais e 8,3% apresentavam hipersudorese. Oitenta e oito por cento
referiam o frio como factor agravante, sendo que 50% referiam ter sintomas
apenas no Inverno. Em 15% dos casos havia história familiar positiva de
Fenómeno de Raynaud e 23,3% tinham história familiar positiva para doenças do
tecido conjuntivo. Os anticorpos anti-nucleares foram pesquisados em 58 doentes
(97%), sendo positivos em 15,5%: 1:160 (4); 1: 320 (1); 1: 640 (4). A
capilaroscopia foi efectuada em 40 (67%) casos, tendo 30 (75%) alterações
ligeiras (tortuosidade dos capilares, alargamento segmentar), três (7,5%)
alterações significativas com megacapilares, áreas de hemorragias, áreas
avasculares/padrão esclerodérmico e sete (17,5%) sido considerados normais.
Destes quarenta doentes com estudo completo, quatro (10%) foram considerados
com FR secundário, diagnosticando-se dois casos de Esclerodermia Sistémica
Juvenil, um caso de provável doença mista do tecido conjuntivo e um outro caso
em caracterização.
Conclusão: O FR pode ocorrer em idade pediátrica e, tal como nos adultos, é na
maioria dos casos um FR primário. A positividade dos anticorpos antinucleares e
as alterações na capilaroscopia foram, neste estudo, factores preditivos de FR
secundário, estando de acordo com o referido na literatura.
ANEMIA NUM PEQUENO LACTENTE
Emília Costa1, Judite Marques2, Manuela Ferreira2, Esmeralda Cleto1, Inês
Freitas1, José Barbot1
1 Unidade Hematologia Pediátrica, CHPorto
2 Serviço Pediatria, CHNordeste, UHBragança
Introdução: Uma anemia num pequeno lactente coloca questões diagnosticas que
são exclusivas desta faixa etária. Causas relacionadas com a interacção recente
entre as circulações materna e fetal devem ser ponderadas para além de outras
de natureza adquirida/ hereditária.
Caso clínico: Os autores apresentam o caso clínico de um lactente actualmente
com 15 meses de idade, que surge aos 2 meses de vida com uma anemia grave (Hb:
6,2g/dl) normocítica e normocromica. A anemia tinha um carácter arregenerativo
(Retic: 19.000/mm3) apesar de níveis de eritropoietina elevados. Clinicamente
apresentava bom estado geral, sem dismorfias e com exame normal à excepção de
palidez cutâneo-mucosa.
Os diagnósticos diferenciais inicialmente evocados foram a eritroblastopenia
transitória da infância e a anemia de Blackfan-Diamond, sendo que a idade da
criança era mais compatível com o segundo.
O aparecimento de neutropenia significativa (valor mínimo de 490/mm3) durante o
internamento, e a visualização de proeritroblastos gigantes na medula óssea
direccionaram o diagnóstico no sentido de uma infecção por Parvovirus B19. Este
diagnóstico foi confi rmado tanto serologicamente (IgM positiva) como
molecularmente (DNA viral com título 740000 UI/ml). A detecção de DNA do
Parvovirus B19 em sangue do cartão de Guthrie apontou para uma infecção
ocorrida durante o desenvolvimento fetal.
Do ponto de vista terapêutico, por agravamento da anemia (Hb:5,9g/dl) com
aparecimento de sopro sistólico realizou transfusão de CE em D3 internamento
(5ml/kg). Efectuou imunoglobulina G em D10 e D11 numa perspectiva de contrariar
a evolução da infecção para cronicidade. A contagem de neutrófilos normalizou
imediatamente após a terapêutica e a reticulocitose verificou-se ao 10º dia de
internamento. A situação evoluiu para uma normalização do quadro hematológico.
Aos 9 meses de vida, embora ainda detectável, o DNA viral era residual.
Conclusão: A descrição clássica de infecção por Parvovirus B19 na vida intra-
uterina permanece associada a hidropsia fetal e abortamento. Existem, no
entanto, raras descrições de anemias congénitas sem repercussão hemodinamica
que mimetizam outras formas de anemia hipoplasica congénita colocando
dificuldades diagnosticas que podem condicionar o tratamento e o seguimento.
IRIDA ' UMA ENTIDADE CLÍNICA DE DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR RECENTES
Marco Pereira1, Emília Costa2, Esmeralda Cleto2, Teresa Melo3, Inês Freitas2,
Graça Porto4, José Barbot2
1Dep. da Mulher, da Criança e do Jovem, ULSMatosinhos, HPHispano
2U. Hematologia Pediátrica, CHPorto
3Serviço de Hematologia, HSJoão
4Dep. de Patologia e Imunologia Molecular, ICBASalazar
Introdução: IRIDA (Iron-Refractory, Iron-Deficiency Anemia) é uma entidade
clínica de descrição e caracterização molecular recentes que veio elucidar
situações raras de anemia ferripriva, de etiologia obscura e refractária à
terapêutica com ferro oral e endovenoso. A sua hereditariedade é autossómica
recessiva e a sua fisiopatologia caracteriza-se por um excesso de hepcidina,
resultado de mutações no gene da matriptase-2 (TMPRSS6), seu regulador
negativo.
Caso clínico: Apresentámos os casos clínicos de duas crianças do sexo feminino,
primas em 2º grau. A primeira, actualmente com 17 anos, é seguida em consulta
desde os nove meses por anemia moderada/grave (Hb: 7,3 g/dl), microcítica e
hipocrómica (MCV: 55,8fL, MCH:12,9pg). Os parâmetros de ferro eram de algum
modo discrepantes. A saturação da transferrina assim como o doseamento da
protoporfi rina eritrocitária livre e do receptor solúvel da transferrina eram
indicativos de eritropoiese ferripriva, enquanto que a ferritina sérica
revelava um valor limiar. A terapêutica com ferro endovenoso acentuava esta
discrepância, na medida em que a ferritina sérica subia para valores
preocupantes enquanto que os outros parâmetros permaneciam inalterados, com
excepção da hemoglobina que revelava ligeiro acréscimo (média de 1,3 g/dl). Com
o decorrer dos meses (média de 11,6 meses) estes parâmetros regressavam aos
valores iniciais.
A convicção de tratar-se de um erro do metabolismo de carácter hereditário foi
reforçada quando, dez anos mais tarde, nos foi enviada a segunda criança, na
altura com treze meses de idade, e com um quadro clínico similar.
Adicionalmente, a descrição da molécula de hepcidina como principal reguladora
humoral do metabolismo de ferro, em meados da presente década, sugeria que esse
erro do metabolismo fosse consequência do seu excesso de produção.
O esclarecimento definitivo desta situação só foi possível a partir de Abril de
2008, data da primeira publicação descrevendo esta entidade clínica, que
denominou de IRIDA.
Conclusão: As duas primas revelaram-se homozigoticas para a mutação cDNA 1795
C>T no exon 15 do gene TMPRSS6. Ambas apresentam desenvolvimento normal e
toleram razoavelmente bem a anemia, recebendo de forma intermitente pequenas
doses de ferro endovenoso.
ANEMIA DE FANCONI: ACUIDADE PARA O DIAGNÓSTICO
Patrícia Nascimento1, Emília Costa1, íris Maia1, Cláudia Neto1, Beatriz Porto2,
José Barbot1
1 U. Hematologia, S. Pediatria, CHP, HMPia
2 Laboratório de Citogenética, ICBAS, UP
Introdução: A Anemia de Fanconi (AF) foi durante muitos anos diagnosticada com
base na insuficiência medular e nas malformações somáticas que permitiam
configurar um padrão característico. Actualmente sabe-se que apresenta grande
variabilidade fenotípica, podendo as manifestações hematológicas estar ausentes
durante vários anos. A Fanconi Anemia Research Foundation (FARF) procurou
minorar o atraso no diagnóstico elaborando indicadores de suspeita, com base em
elementos clínicos e laboratoriais. Define 2 índices de suspeita, médio e alto,
sendo o estudo citogenético mandatório no secundo e de ponderar no primeiro.
Objectivos: Avaliar o percurso clínico prévio ao diagnóstico dos doentes com AF
e a evolução clínica posterior.
Métodos: Análise retrospectiva dos processos das crianças com AF seguidos na
consulta de hematologia pediátrica nos últimos 17 anos.
Resultados: Foram seguidas 17 crianças com mediana de idade ao diagnóstico de 6
anos. A maioria das crianças foi orientada de consultas de pediatria, tendo 12
sido previamente seguidas por 2 especialidades e 10 submetidas a cirurgias
correctoras de anomalias feno-típicas. Duas foram orientadas para a hematologia
por suspeita clínica de AF, 4 foram-no por história familiar positiva e os
restantes por alterações hematológicas de 1 ou mais linhas celulares. De acordo
com os indicadores de suspeita da FARF, 14/17 crianças apresentavam elevado
grau de suspeição, tendo indicação para avaliação citogenética para AF desde os
1ºs dias de vida. Três crianças atingiram idade adulta e 3 faleceram ainda em
idade pediátrica (1 por complicação infecciosa após transplante de medula óssea
(TMO) e 2 por hemorragia SNC), permanecendo actualmente em seguimento 11.
Destas, por pancitopenia grave foi instituída terapêutica em 4: 1 fez TMO e 3,
por ausência de dador compatível, iniciaram tratamento com androgeneos. Os
restantes 7 mantêm-se em vigilância.
Conclusões: A análise dos dados permite concluir da baixa acuidade diagnóstica
para esta patologia, suportando a opinião de que é uma doença subdiagnosticada.
Os autores consideram importante a divulgação da AF entre todas as
especialidades que com ela contactam através das suas co-morbilidades, de modo
a atingir um diagnóstico cada vez mais precoce, essencial para uma abordagem a
longo prazo da insuficiência medular, antecipando cuidados, e programando
atitudes.
ANEMIA FERRIPRIVA REFRACTÁRIA DE ETIOLOGIA OBSCURA EM IDADE PEDIÁTRICA ' NOVAS
ABORDAGENS TERAPÊUTICAS
N. Miguel1, E. Costa2, M. Binni2, R. Lima 3, F. Pereira3, R. Vizcaíno4, J.
Barbot2
1 S. Pediatria, CHTMAD, Unid. Vila Real
2Unidade de Hematologia, CHPorto, HCMPia
3S. Gastroenterologia, CHPorto, HCMPia
4S. Anatomo-Patologia, CHPorto, HSAntónio
Objectivo: O objectivo do nosso trabalho foi o de pesquisar patologia não
hemorrágica, outra que não a doença Celíaca, interferindo na absorção do ferro
em doentes em idade pediátrica, com anemia ferropénica (AF) refractária ao
ferro (Fe) oral e de etiologia obscura.
Métodos: Em nove doentes com AF refractária foi investigada, de forma não
invasiva, a Gastrite Atrófica Auto-imune (GAAI) e a infecção a Helicobacter
Pilory (HP). Testes efectuados: gastrina sérica, anticorpos anti-célula
parietal gástrica, teste respiratório c-urease e ou serolologia para HP.
Em segunda linha foi realizada biopsia gástrica. As alterações anatomo-
patológicas foram graduadas, de 0 a 3 (critérios de Sydney).
Resultados: Todos (n=9), apresentavam hipergastrinemia. Sete deles, revelaram
critérios serológicos de GAAI (GAAI+). Destes sete, três eram GAAI+/ HP+ e
quatro GAAI+ /HP -. Dois doentes revelaram-se GAAI -/HP+.
Todos (n=9), apresentaram critérios anatomo-patológicos de atrofi a gástrica. Em
dois, (um GAAI -/HP+ e outro GAAI + /HP -) associava-se metaplasia intestinal
na mucosa antral, revertida no primeiro, com terapêutica tripla para
erradicação do HP. No segundo não foi efectuada terapêutica.
Todos mostraram resposta a terapêutica com Fe alternativo. Quatro com Fe Ev e
cinco com sulfato de glicina ferroso.
Conclusões: À luz dos novos desenvolvimentos da fi siopatologia da AF
refractária, torna-se mandatório o estudo protocolado de patologia da absorção,
nomeadamente nos casos de etiologia obscura. A hipergastrinemia constitui um
indicador indirecto de acloridria, resultado de atrofia gástrica. A GAAI é
reconhecida, nos dias de hoje, como patologia podendo atingir grupos etários
pediátricos. A interferência do HP, na etiopatogenia da GAAI e da AF
refractaria é esclarecimento mais difícil.
ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS E ERROS INATOS DO METABOLISMO
Patrícia Nascimento1, Anabela Bandeira1, Emília Costa2, José Barbot2, Esmeralda
Martins1
1 U. Metabolismo, S. Pediatria, CHP, HMPia
2 U. Hematologia, S. Pediatria, CHP, HMPia
Introdução: Uma grande variedade de erros inatos do metabolismo (EIM) pode
causar alterações hematológicas, que podem atingir uma ou mais linhas celulares
ou determinar alterações na coagulação. Os mecanismos subjacentes são variados
podendo as alterações hematológicas constituir a primeira pista para o
diagnóstico de um EIM.
Objectivos: Determinar a prevalência de alterações hematológicas nos doentes
com EIM; Caracterizar essas alterações e comparar com os dados da literatura;
Estabelecer protocolo de seguimento hematológico destes doentes.
Material e métodos: Estudo retrospectivo. Consulta do processo clínico de todos
os doentes com EIM seguidos na consulta de doenças metabólicas, com doença
metabólica nas quais estão descritas alterações hematológicas associadas. Foram
excluídas as crianças com doença metabólica cuja manifestação é puramente
hematológica bem como as crianças com alterações hematológicas em contexto de
doença aguda ou associadas a ingestão de fármacos.
Resultados: Foram identificados 71 doentes com susceptibilidade de ter alteração
hematológica pela doença metabólica de base, tendo sido detectada alguma
alteração em 28 deles (39,4%); em 1 caso como primeira manifestação da doença
de base. As alterações da série rubra foram as mais frequentemente
identificadas: 9 crianças com anemia normocitica e normocromica, 5 com anemia
microcitica e hipocromica e 1 com anemia macrocitica. Quatro doentes
apresentavam alterações da linha branca: 3 casos de neutropenia em doentes com
aciduria metilmalónica e 1 caso de linfopenia numa criança com aciduria
propiónica. Foi detectada trombocitopenia em 5 doentes e alterações no estudo
da coagulação em 4. O esfregaço de sangue periférico mostrou alterações em 5
casos, sendo que em 4 deles foi uma pista importante para o diagnóstico da
doença metabólica de base.
Conclusões: Existem poucos dados relativos à incidência de alterações
hematológicas nos doentes com EIM. Na nossa amostra cerca de 1/3 dos doentes
apresentavam algum tipo de alteração, pelo que é importante estar atento para
esta comorbilidade, que pode condicionar o prognóstico da doença de base.
HEMOGLOBINÚRIA PAROXÍSTICA AO FRIO: QUANDO SUSPEITAR?
Catarina Matos1, Sandra Teixeira1, Susana Lira1, Cristiana Ribeiro2, Emília
Costa3, José Barbot3
1 Serviço de Pediatria, CHTâmega e Sousa
2 Serviço de Pediatria, ULSAlto Minho
3 Serviço de Hematologia, CHPorto, HMPia
Introdução: A Hemoglobinúria paroxística ao frio (HPF) é uma forma rara de
anemia hemolítica auto-imune. Caracteriza-se por hemólise intravascular, anemia
e hemoglobinúria, minutos ou horas após exposição ao frio. A maioria dos
episódios são auto-limitados e associam-se a infecções viricas inespecíficas. O
diagnóstico é confi rmado pelo Teste de Donath-Landsteiner.
Caso clínico: Criança, sexo masculino, 23 meses de idade, previamente saudável,
que recorre ao serviço de urgência em Dezembro/2009, com quadro de icterícia,
anoxeria e irritabilidade com 24 horas de evolução a que posteriormente se
associou urina muito escura. Referencia a infecção das vias respiratórias
superiores. Sem história aparente de exposição ao frio. Os exames
complementares revelaram: hemoglobina - 6.9g/ dL, reticulócitos - 125.000/mm3,
bilirrubina total - 2.7mg/dL (directa -0.6mg/dL), AST-64U/L, ALT-18U/L, DHL -
2.290UI/L. O esfregaço de sangue periférico não apresentava alterações. A tira
teste urinária era reactiva para hemoglobinúria/ hematúria apesar do sedimento
urinário não apresentar eritrocitúria. O teste anti-globulina directo era
positivo, selectivamente para anticorpos monoespecíficos anti-C3d. As serologias
víricas foram negativas. O teste de Donath-Landsteiner foi positivo confirmando
a suspeita de HPF. Foi internado em ambiente aquecido, e iniciou reforço
hídrico com registo da diurese. Constatou-se normalização progressiva da
hemoglobina e marcadores de hemólise. Teve alta com indicação de evicção de
frio.
Conclusão: Os autores pretendem realçar a importância do reconhecimento desta
patologia que passa pela identificação do carácter intravascular do processo
hemolítico. A tríade clássica de hemólise estava presente. O aspecto fortemente
colúrico da urina - urina cor coca-cola - cuja causa se provou ser
hemoglobinúria e não hematúria e a significativa elevação de DHL em contraste
com o carácter ligeiro da hiperbilirrubinemia sugeriam um mecanismo de
hemólise intra-vascular. A elevação da AST contrastando com uma normalidade da
ALT reforçavam essa sugestão. O teste de Coombs positivo sugeria uma etiologia
auto-imune e a sua positividade selectiva para anticorpos monoespecíficos C3d
sugeria o diagnóstico de HPF. O teste de Donath-Landsteiner, ao demonstrar o
carácter bifásico do anticorpo em causa, confirmou o diagnóstico. A evicção do
frio e a fluidoterapia foram atitudes suficientes para a que o processo
hemolítico resolve-se espontaneamente sem lesão renal.
NEFRECTOMIA LAPAROSCÓPICA RETROPERITONEAL EM CRIANÇAS: ESTADO DA ARTE
João Moreira-Pinto1,3, Angélica Osório1, Joana Pereira1, Carlos Enes1, João
Ribeiro de Castro1,2, Armando Reis2
1 Serviço de Cirurgia Pediátrica, CHPorto
2 Serviço de Urologia Pediátrica, CHPorto
3 Domínio Ciências Cirúrgicas, ICSV, UMinho
Introdução e objectivos: Em Portugal, a experiência em retroperitoneoscopia
pediátrica é escassa. Os autores apresentam a primeira série portuguesa de
nefrectomias realizadas por esta via, em crianças com idade inferior a nove
anos, e uma revisão da literatura sobre o tema.
Material e métodos: Análise retrospectiva dos processos das crianças submetidas
a nefrectomia laparoscópica retroperitoneal (NLR), de Janeiro de 2009 e
Dezembro de 2009, num Departamento de Cirurgia Pediátrica. A revisão da
literatura foi realizada através de uma pesquisa na base de dados Medline.
Resultados: Foram realizadas oito NLR. A média de idades dos doentes operados
foi 4,5 anos (mínimo = 11 meses, máximo = 8,6 anos). As indicações cirúrgicas
encontradas foram: quatro rins multiquísticos, três nefropatias de refluxo, uma
nefropatia obstructiva. Quatro NLR foram realizadas à esquerda. O tempo
cirúrgico médio foi 99 minutos (mínimo = 50 minutos, máximo 180 minutos),
notando-se um encurtamento do mesmo à medida que aumenta a experiência da
equipa. Não houve nenhuma conversão para lombotomia. A média de tempo de
internamento foi 1,5 dias (mínimo = 1 dia, máximo = 2 dias). Não se registaram
complicações intra-operatórias nem pós-operatórias.
Conclusão: A NLR é exequível em crianças de idade inferior a nove anos e deve
ser considerado como tratamento de eleição na idade pediátrica.