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EuPTCVHe0872-81782009000500002

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National varietyEu
Year2009
SourceScielo

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A Hepatite E existe em Portugal? Claro que sim A Hepatite E existe em Portugal? Claro que sim

Rui Tato Marinho*

A hepatite E é uma das últimas hepatites E víricas em termos de alfabeto e classicamente uma das mais esquecidas. Tem sido considerada como de pouca relevância clínica e epidemiológica nos países ocidentais.

1 Algo votada ao esquecimento nos curricula das Faculdades de Medicina, vindo a seguir às hepatites mais importantes (nomeadamente a A, B, C) a informação que lhe diz respeito tem acentado em meia dúzia de ideias feitas: é de transmissão fecal-oral, logo semelhante à hepatite A, era uma das hepatites ditas não-A, não-B a par da hepatite C; o vírus da hepatite E (VHE), também um vírus RNA, tem sido responsável por algumas das grandes epidemias de hepatites víricas, mas bem longe de nós, para o continente asiático, África e México.

Era referido também que não evoluiria para a cronicidade, em tudo semelhante à hepatite A. O risco de complicações é, no entanto, mais elevado nas grávidas, com evolução para hepatite fulminante em cerca de 20-25% dos casos. Além do mais, não havia referência à vacina.

Os primeiros testes comercializados, cerca de 15 anos, revelaram que afinal a hepatite E poderia existir também no Mundo Ocidental. Estes testes tinham alguns problemas de sensibilidade e especificidade.2,3 Os primeiros resultados em Portugal seriam apresentados em 1994 no Congresso Nacional de Gastrenterologia. Nesse estudo foram avaliados 360 soros, incluindo 50 alunos da Faculdade de Medicina. Curiosamente, nos alunos a prevalência foi de 4% (2/ 50). Os testes de primeira geração, em conjugação com a aparente raridade da doença, não chegaram a entrar de forma clara na marcha diagnóstica, mesmo pela maioria dos que se dedicam à hepatologia.

No entanto, nos últimos anos têm surgido algumas novidades relacionadas com a hepatite E não no que diz respeito à sero-epidemiologia, forma de transmissão, como também história natural e vacinação.

Com efeito a hepatite E não está confinada aos continentes de maior risco.

Estudos recentes descrevem casos esporádicos de hepatite E em indivíduos de países da Europa Ocidental, sem história de viagens a áreas endémicas. O interessante estudo de Sara Folgado e colaboradores 4 é exemplo deste facto. Foram seleccionados 237 indivíduos (152 doentes do Departamento de Gastrenterologia e 85 dadores de sangue saudáveis) para doseamento do anti-VHE total: 10 foram positivos para o anti-VHE (7 do grupo de doentes ' 4,6% e 3 do grupo de dadores saudáveis ' 3,5%). Apenas dois dos sete do primeiro grupo de doentes (20%) tinham história de viagens a países endémicos. O teste empregue foi um teste imunoenzimático, de terceira geração. Neste estudo, alguns dos doentes que tinham o anti-VHE positivo eram seguidos por cirrose hepática alcoólica. Desconhece-se em pormenor a sua história epidemiológica, mas é de chamar a atenção para o facto de que a hepatite E pode desencadear formas graves de descompensação neste grupo de doentes. Na discussão, muito actual, do trabalho de Sara Folgado são abordados alguns tópicos da maior pertinência, não a questão da evolução para a cronicidade, 5 inclusivé cirrose hepática bem como a classificação da hepatite E como sendo uma zoonose porcina. Será a hepatite suína, correspondente hepática da gripe suína (H1N1)? Como se sabe, um dos países de elevada prevalência é o México, e para as duas infecções, hepatite E e gripe A (suína). A hepatite E é comprovadamente uma zoonose, sendo transmissível do porco para o Homem, particularmente o genótipo 3. Curiosamente, os criadores de porcos e javalis registam valores de positividade para o anti- VHE superiores à população em geral.

6,7 Nos porcos a hepatite E cursa habitualmente de forma assintomática.

Teve lugar recentemente em Antuérpia, em Março de 2009, uma importante reunião, no âmbito dos encontros do grupo Viral Hepatitis Prevention Board hepatitis A and E. Update  on prevention and epidemiology. Nela estiveram presentes epidemiologistas, virologistas, biólogos, intensivistas, especialistas em vacinas e clínicos com larga experiência na hepatite E. Os estudos revelam que a seroprevalência na Europa oscila entre 2-3% (Norte da França) e 16% (Sul da França), e na hepatite aguda ronda os 6% de casos. A prevalência é superior naqueles que lidam com porcos (11-55% na Holanda) mais elevado do que na população geral. Nesta reunião foi debatida também a questão da vacina. Existem dois laboratórios, com capacidade de a produzir, ambas por recombinação genética. A vacinação consta de três doses. Algumas das comunicações estão disponíveis no site 8 .

Em conclusão, o estudo de Sara Folgado, vem demonstrar que:  • À semelhança do que se tem encontrado nos países Europeus, incluindo os da orla mediterrânica (Espanha,9 França, Itália, Holanda, 10 Reino Unido 11 ), existem casos de hepatite E em Portugal. A hepatite E existe de forma evidente nos países da Europa Ocidental.

• Este estudo demonstrou que, em Portugal, país não  endémico, 4,2% da população estudada era seropositivapara o anti-VHE.

• Nem sempre se encontra a presença dos factores epidemiológicos clássicos (i.e. viagem a países endémicos). Os testes correntes, de geração, têm uma boa acuidade diagnóstica. Estão disponíveis em Portugal o anti-VHE total, o IGM anti-VHE, o ARN VHE.

Existe vacina para a hepatite E, testada no Homem, eficaz e segura. A vacina não está ainda comercializada, pensamos que por dificuldades na viabilização económica da sua produção.

12 Outra das novidades mais recentes é o facto de que, no contexto de imunossupressão (e.g transplantados), a hepatite E pode evoluir para a cronicidade (hepatite crónica) e mesmo para cirrose hepática.


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