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EuPTCVHe0874-02832011000200012

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National varietyEu
Year2011
SourceScielo

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Qualidade de vida de docentes do ensino fundamental de um município brasileiro Introdução A presente investigação trata dos resultados de uma pesquisa vinculada ao Projeto de Extensão Protagonismo Juvenil como estratégia de Intervenção Familiar e Comunitária no Residencial 2000, realizado por académicos e docentes da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), com fomento da Fundação de Ensino e Pesquisa de Uberaba, Minas Gerais, Brasil (FUNEPU). A iniciativa teve como propósito aproximar as fronteiras da Universidade para a Educação e Investigação da Saúde em âmbito escolar.

No decorrer do projeto, se observou um distanciamento do profissional da educação e aluno, bem como situações adversas de relacionamento interpessoal, condições de vida, trabalho e respeito dentro e fora da sala de aula; que nos instigaram a questionar: Quem são os docentes que compartilham esta realidade (local) e qual seu perfil socioeconómico? Quais são suas reais condições de vida e trabalho e como estes percebem estas condições? O professor, em especial aquele trabalhador do ensino público, vivencia um acúmulo de funções como a construção de hábitos de saúde, assessoramento psicológico dos alunos, e tarefas burocráticas que, associadas à falta de autonomia, infraestrutura e baixa remuneração, configuram uma situação de vulnerabilidade social, psicológica e biológica deste profissional, de acordo com Linhares (2001) e Gomes (2002). As queixas mais comuns dos professores relacionam-se com o uso da voz, com a postura corporal, problemas psicossomáticos e de saúde mental, agravados pela indisciplina dos alunos e falta de reconhecimento e valorização perante a sociedade ( Vedovato e Monteiro, 2008).

Ainda, considera-se que estes profissionais muitas vezes subestimam suas reais necessidades de saúde, o que ressalta a importância do desenvolvimento de ações de promoção da saúde e prevenção de agravos para este grupo de trabalhadores, a partir do conhecimento de suas carências (Rocha e Fernandes, 2008). Por entender o professor como principal canal de comunicação entre conhecimento e alunos e também, enquanto profissional envolvido com a formação do senso crítico e a construção da cidadania, sentiu-se a necessidade de explorar tais questões.

Objetivo A presente investigação pretende conhecer alguns aspectos da multidimensionalidade da Qualidade de Vida, tendo como público-alvo professores do ensino fundamental de uma escola municipal de Uberaba, Minas Gerais, Brasil, através de um questionário estruturado e validado para português do Brasil (SF- 36).

Quadro teórico Nas últimas décadas, os avanços das ciências sociais e da saúde têm oferecido melhores condições de vida à população em geral. Neste contexto, a Qualidade de Vida é de fundamental importância ao se considerar um indivíduo saudável (Minayo, Hartz e Buss, 2000; Jardim, Barreto e Assunção, 2007; Rocha e Fernandes, 2008; Santos et al., 2008).

De acordo com Minayo, Hartz e Buss (2000, p. 8), a Qualidade de Vida (QV ) pode ser entendida como: (...) grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e a própria estética existencial. A esta definição, somam-se dois aspectos relevantes da QV: a subjetividade, enquanto percepção individual (própria) do estado de saúde e a multidimensionalidade, relacionada às diferentes dimensões do bem-estar sobre os aspectos não médicos do seu contexto de vida (Seidl e Zannon, 2004; Pereira e Dal Vecchio, 2006).

O acelerado processo de globalização dos últimos anos tem configurado novas demandas no processo de formação de crianças e jovens. Com isto a escola e, mais profundamente, os docentes experimentam o impacto destas mudanças que determinam considerável queda em sua QV (Rocha e Fernandes, 2008). Para descrever esta problemática, várias investigações têm sido realizadas com foco na Qualidade de Vida do professor, sobretudo aquele trabalhador do ensino público.

No estudo de Batista et al. (2010), realizado com professores do Ensino Fundamental das escolas municipais de João Pessoa (Brasil), evidenciou-se que 33,6% apresentaram alto nível de Exaustão Emocional e 43,4% baixo nível de Realização Profissional. o estudo de Vedovato e Monteiro (2008) que avaliou 258 professores de São Paulo, no tocante à saúde, demonstrou que 20,9% daqueles não dormiam bem à noite; 82,1% possuíam alguma doença de origem musculoesquelética ou respiratória (27,1%) e 20,9% apresentavam transtornos mentais.

Nesta perspetiva, muitos instrumentos têm sido utilizados para mensurar a autoavaliação das condições de vida e saúde deste profissional. Entretanto, ainda existe pouco conhecimento sobre tais aspectos, arraigados às condições de vida e trabalho em âmbito escolar.

Um destes instrumentos, o Short Form (SF) 36 do Medical Outcomes Study (MOS), vem sendo utilizado numa grande leva de estudos. Trata-se de um questionário multidimensional composto por 36 itens, criado com a finalidade de avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde de maneira genérica, que foi traduzido e validado em português do Brasil por Ciconelli et al. (1999). Assim, tal instrumento foi utilizado para o alcance dos objetivos da presente investigação.

Metodologia Estudo quantitativo, observacional, de recorte transversal. A pesquisa foi desenvolvida na Escola Municipal Esther Limirio Brigagão, localizada no Bairro Residencial 2000, bairro este possuidor dos maiores índices de criminalidade e vulnerabilidade social do município de Uberaba, Minas Gerais, Brasil. Os critérios de exclusão se referiram aos indivíduos que estivessem trabalhando menos de seis meses na referida escola, bem como aqueles que não apresentaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado. Desta forma, a amostra foi constituída por vinte e três docentes.

Como instrumento de pesquisa, utilizou-se o Short Form (SF) 36 do instrumento Medical Outcomes Study (MOS), versão em português do Brasil (Ciconelli et al., 1999). O SF-36 é formado por oito componentes que avaliam: capacidade funcional (dez itens); aspectos físicos (quatro itens); dor (dois itens); estado geral de saúde (cinco itens); vitalidade (quatro itens); aspectos sociais (dois itens); aspectos emocionais (três itens); saúde mental (cinco itens); e mais uma questão de avaliação comparativa entre as condições da saúde atual àquela de um ano antes. Para avaliar os resultados, foi atribuído um escore para cada questão, objetivando transformá-lo numa escala graduada de 0 a 100, porquanto o zero (0) corresponda a um pior estado de saúde e cem (100) a um melhor estado, possibilitando a análise individual de cada dimensão. As variáveis incluíram ainda, sexo, idade e tempo que exerce a profissão.

Todas as informações coletadas foram armazenadas num banco de dados construído nos softwares de domínio público Microsoft Excel v.2007 TabWin v.3.06b. A partir dos resultados, procedeu-se análise descritiva a partir de frequências absolutas e percentuais para as variáveis categóricas e medidas de centralidade (média, mediana e moda) e de dispersão (desvio padrão, coeficiente de variação, mínimo e máximo) para as variáveis numéricas.

A coleta de dados decorreu no mês de setembro de 2010 e os questionários foram entregues presencialmente, mediante assinatura do termo de consentimento esclarecido e posteriormente devolvidos por correspondência. A presente investigação foi submetida ao Comité de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Triângulo Mineiro e aprovada pelo protocolo 1736.

Resultados e discussão A escola escolhida para esta investigação possui uma infraestrutura de 3 pavimentos, com algumas carências estruturais como a falta de um local para recreação e quadra para prática de atividades físicas. Possui um quadro de professores que inclui cerca de 30 profissionais que ministram as disciplinas no Ensino Fundamental. Desta forma, estes profissionais estão expostos a fatores stressantes atrelados aos contextos sociais e económicos daquela comunidade que vão desde a dificuldade de transporte e acesso ao bairro a problemas de saúde de um modo geral.

Vinte e três docentes aceitaram participar do estudo. Destes, 73,90% eram dos turnos matutino e vespertino e o restante do período noturno, considerando todo o ciclo do ensino fundamental. O universo amostral concentrou mais de 90,00% de pessoas do sexo feminino, apesar de haver uma diferença relevante (94-83,00%) comparando-se os turnos diurno e noturno (Tabela 1).

TABELA_1 ' Distribuição dos professores segundo idade, sexo e tempo de serviço em função do tipo de turno. Residencial 2000, Uberaba, setembro de 2010.

Alguns estudos retratam esta realidade nas escolas públicas de nível básico e fundamental brasileiras, fato que está associado ao processo histórico de expansão do setor educacional ocorrido no Brasil e da entrada das mulheres no mercado de trabalho (Rocha e Fernandes, 2008).

Ainda na Tabela_1, pode-se observar um maior número de pessoas na faixa de 40 a 50 anos de idade, com média de 43,00 anos (s=9,71 anos), o que se aproxima da literatura. Os valores máximos e mínimos ficaram m 62 e 27 anos, respetivamente. Em investigação realizada com 258 docentes de nove escolas estaduais de duas cidades do interior de São Paulo, identificou-se uma maioria de mulheres (81,8%), com média idade de 41,40 anos (s=9,20 anos) ( Vedovato e de Monteiro, 2008). Com relação ao tempo de trabalho na profissão, os resultados variaram de 8 meses a 28 anos, com cerca de 48,00% concentrados entre 10 e e 20 anos.

As percepções dos professores com relação à Qualidade de Vida autorreferida são demonstradas nas Tabela 2 e 3. Entre os professores do turno Diurno, o domínio mais prejudicado foi o de Vitalidade (60,00), seguido de Saúde Mental (69,20) e Aspectos Sociais (70,44). Com relação aos valores mínimos e máximos, o domínio que teve menor pontuação foi o de Limitações por Aspectos Emocionais (0,00), como demonstrado na Tabela 2.

TABELA 2 ' Estatísticas resumo dos scores obtidos pelos domínios da SF-36 no turno Diurno de trabalho

TABELA 3 ' Estatísticas resumo dos scores obtidos pelos domínios da SF-36 no período noturno de trabalho. Residencial 2000, Uberaba, setembro de 2010.

Com relação aos professores do período noturno, genericamente, foram alcançados melhores valores em relação ao turno diurno. O domínio mais prejudicado foi a Limitação por Aspectos Emocionais, seguido por Aspectos Sociais e Dor (66,83; 72,91 e 75,00, respetivamente), como se observa na Tabela 3. Comparando-se as médias obtidas nos domínios, pela razão diurno/noturno, obteve-se associação positiva apenas nos aspectos de Limitação Física (r=1,10) e Limitação por Aspectos Emocionais (r=1,17), que tiveram melhores resultados entre os docentes que trabalham durante o dia. Entre os demais domínios, aqueles mais prejudicados frente aos professores do noturno, foram Vitalidade (r=0,77), Capacidade Funcional (r=0,87) e Saúde Mental (r=0,88). Em ambos os turnos, a pontuação mínima foi obtida no domínio de aspectos emocionais.

Algumas características distanciam os dois turnos, por exemplo, docentes mais jovens e alunos com mais idade são predominantes no turno noturno. A este fato pode-se associar uma maior Vitalidade e Capacidade Funcional. Ainda, muitos dos docentes e alunos envolvidos nos processos de ensino noturnos, muitas vezes trabalham durante o dia, fato que pode ser aproximado a uma possível limitação advinda de cansaço físico e declínio de fatores emocionais.

Estudo realizado com 142 professores do ensino fundamental de São Paulo evidenciou que os domínios Dor (59,60) e Vitalidade (59,80) foram os mais prejudicados, seguidos de Aspectos Sociais, Saúde Mental e Limitação por Aspectos Emocionais (66,60) (Carvalho e Alexandre, 2006). Outra investigação com 91 docentes de Jequié-Bahia, Brasil, demonstrou menores escores para Vitalidade (46,26), Dor (53,00), seguido de Saúde Mental e Limitações por Aspectos Físicos (Rocha e Fernandes, 2008). Ambos utilizaram o questionário SF- 36 como instrumento de avaliação". Nesta perspectiva pode-se inferir um melhor índice de qualidade de vida entre os professores de Uberaba, em relação aos docentes de Jequié, uma vez que entre aqueles de São Paulo, os escores de Capacidade Funcional (79,30), Aspectos Físicos (76,00) e Estado Geral de Saúde (75,60) estavam acima de 70,00%.

A capacidade funcional está intimamente ligada à aptidão física do indivíduo, concernentes as suas interações com o meio ambiente na realização de suas atividades diárias, e sua reação frente a situações desafiadoras ou stressantes. Assim, considerando os aspectos que envolvem os domínios Limitação Física e Capacidade Funcional, os professores, entre aqueles profissionais que utilizam a voz como sua principal ferramenta de trabalho, são aqueles mais frequentemente acometidos por distúrbios vocais (Penteado e Pereira, 2007; Rocha e Fernandes, 2008). Estudo realizado em 2007 com 2.133 professoras da rede municipal de ensino fundamental de Belo Horizonte-Minas Gerais, Brasil, identificou problemas como menor criatividade no trabalho e relacionamento ruim com os alunos associados a uma pior qualidade de vida relacionada à voz nos domínios social, emocional e físico. Outros fatores como transtorno mental e ruídos na sala de aula também apresentaram índices relevantes ( Jardim, Barreto e Assunção, 2007).

Outro estudo em Rio Claro- São Paulo, Brasil, investigou 128 professores de ensino médio de quatro escolas estaduais pelos instrumentos Whoqol-brefe Qualidade de Vida e Voz. O escore médio do questionário de avaliação de qualidade de vida foi 66,00, com maiores valores do domínio relações sociais e menores nas relações com o meio ambiente. Apesar de razoavelmente satisfeitos com a voz e a qualidade de vida, os professores mostraram dificuldades na percepção do processo saúde-doença (Penteado e Pereira, 2007).

Nessa linha, deve-se considerar a síndrome de Burnout, caracterizada por exaustão física e emocional que pode ser associada à ausência de alguns fatores motivacionais, como entusiasmo, energia, interesse, satisfação, concentração, autoconfiança e humor (Lussier, 2006). Estudo realizado nos Estados Unidos revelou que entre as grandes causas de stresse estava a falta de recursos; a falta de tempo; reuniões em excesso; grande número de alunos por sala de aula; falta de assistência; falta de apoio e pais hostis. Tais causas culminavam em frustração, exaustão e incapacidade, além de que estes profissionais carregam o stresse e a raiva para casa (Lussier, 2006). Estudo realizado em Portugal, com 211 professores, identificou que 30 (14,20%) dos participantes apresentavam níveis elevados para a Síndrome de Burnout (Figueiredo-Ferraz, Gil-Monte e Grau-Alberola, 2009).

Ressalta-se o domínio Vitalidade, enquanto aquele mais prejudicado, apresentando os menores escores entre os docentes do turno diurno avaliados neste estudo e como aparece nos demais estudos que avaliaram a QV de professores do ensino fundamental (Carvalho e Alexandre, 2006; Rocha e Fernandes, 2008). Alguns fatores podem ser associados a tal desempenho, enquanto Aspectos Intrínsecos (ritmo de trabalho inadequado, posicionamento inadequado e incómodo intenso, além de concentração em uma única tarefa) e Extrínsecos ( remuneração e número excessivo de alunos em sala); condicionantes de um menor índice de Qualidade de Vida (Figueiredo-Ferraz, Gil- Monte e Grau-Alberola, 2009).

Na presente investigação, os professores consideraram sua integridade física boa, com escores acima de 79,00% em ambos os turnos, em contraposição a outros estudos que apontam a permanência em por muitas horas e postura corporal como limitantes físicos a um bom desempenho profissional (Silvany-Neto et al., 2002; Rocha e Fernandes, 2008; Fernandes e Rocha, 2009).

Outro estudo que remete às condições relatadas de saúde identificou-se que os docentes não dormiam bem à noite (20,90%); 82,10% possuíam alguma doença de origem musculoesquelética e 20,90% transtornos mentais. Tais agravos foram relacionados pelos próprios professores a: movimentos repetitivos; poeira de giz; trabalho stressante; longas jornadas; atividade em mais de uma escola; e baixa remuneração (Unesco, 2006).

Estudo realizado na China, que avaliou 3570 professores de escolas públicas primárias através do questionário SF-36, demonstrou escores médios para inferiores aos da população geral chinesa para todas as dimensões da qualidade de vida. Idade, sobrecarga de trabalho, pressão psicológica, tensão física e incapacidade de enfrentamento destas situações foram significativamente associados aos componentes mental e físico do SF-36 (P <0,05) ( Yang et al., 2009). O domínio Dor também apresentou índices que se contrapuseram a outros estudos, considerando índices variando entre 71,00 e 75,00% neste escore entre os docentes de Uberaba-Minas Gerais, Brasil. Quadros álgicos intensos são a principal causa de absenteísmo em diversas instituições, associados a afeções musculoesqueléticas e psicológicas (Silvany-Neto et al., 2002). A dor foi o aspecto mais prejudicado em outro estudo, representando escore de 59,60% (Carvalho e Alexandre, 2006) e o segundo índice mais prejudicado na investigação de Rocha e Fernandes (2008), com 53,00%.

Nesta investigação, o Estado Geral de Saúde oscilou entre 74 anos (s=16,01 anos) e 79,17 anos (s=11,85 anos). Este item do formulário SF-36 relaciona-se à perceção individual de todos os fatores inerentes à concepção individual de saúde num período de quatro semanas, e é consequência da relação complexa que se estabelece entre o professor, ambiente de trabalho e seus alunos (Rocha e Fernandes, 2008).

os domínios Limitação por Aspectos Emocionais e Aspectos Sociais referem-se aos relacionamentos experimentados em âmbito familiar, locais de convívio coletivo e no trabalho. Apresentaram-se valores regulares nos dois turnos estudados, entretanto, os valores mínimos destes escores variaram entre 0,00 e 37,50%, o que indica que alguns profissionais praticamente anulam seu convívio social e, por conseguinte, podem estar mais expostos a alterações em sua Saúde Mental.

O estudo de Fernandes e Rocha (2009) avaliou o impacto dos aspectos psicossociais sobre a qualidade de vida de 242 docentes da rede básica municipal de Natal-Rio Grande do Norte, Brasil, com o instrumento Whoqol-bref.

Os domínios físico e meio ambiente foram os que apresentaram menores escores e, quanto aos aspectos psicossociais, aqueles empregados em trabalhos que exigissem alta demanda e controle (32,10%), seguidos daqueles com alta demanda e baixo controle (25,80%), apresentaram maior comprometimento na avaliação dos domínios físico (p < 0,001), psicológico (p < 0,001) e meio ambiente (p < 0,001) da qualidade de vida.

Cabe a ressalva de que as características stressantes como trabalho intenso e repetitivo, baixa remuneração, falta de continuidade de perspectivas de carreira, hostilidades e conflitos, entre outros, tem condicionado distúrbios psíquicos em docentes que podem alcançar 41,50% desta classe trabalhadora (Silvany-Neto et al., 2002).

Inerente à sua profissão e aos contextos institucionais também ligados ao modelo educacional perpetuado no país, o professor enfrenta diversas dificuldades dentro e fora da sala de aula. Com isto, o docente, sobretudo aquele que trabalha na rede pública de ensino ensino, deve estar cada vez mais consciente das suas condições de trabalho e vida, a fim de assegurar uma melhor Qualidade de Vida. Vale a ressalva de que a preocupação com os fatores associados às condições de vida e saúde de professores ganhou expressão no meio científico a partir da década de 1960 na Europa e em 1970 no Brasil e a partir de então, a busca pelas causas e consequências dos agravos à saúde de docentes passou a ser investigada de maneira direcionada, utilizando-se de instrumentos específicos, como o utilizado neste estudo (SF-36) (Unesco, 2006).

Conclusão O presente estudo permitiu a discussão das impressões de vida e saúde de 23 docentes de uma escola pública municipal que trabalha com o ensino fundamental ( a série), do município de Uberaba. Nesta realidade predominaram as professoras, representado 90% do corpo docente. Grande parte destes professores tinha idade entre 40 e 49 anos (43,46%) e lecionava no ensino fundamental por 10 a 19 anos (47,86%).

Percebe-se uma situação mais preocupante entre os professores do período diurno, que apresentou valores percentuais menores que aqueles apresentados pelo turno da noite. No período diurno o limite de menor escore foi o de vitalidade (60,00), seguido de saúde mental (69,20); enquanto no período noturno, limitações por aspecto emocional (66,83%) e aspectos sociais (72, 91%) foram os mais prejudicados.

Diante do quadro apresentado, pode-se inferir que fatores como a sobrecarga de trabalho, pouca prática de atividades físicas e lazer, além de dificuldades no convívio social com colegas e alunos repercutem no quotidiano deste profissional, em termos de vitalidade, capacidade funcional e saúde mental, podendo interferir no desempenho profissional destes docentes. O entendimento e reconhecimento dessa realidade se fazem necessários para uma inclusão do professor nas medidas de políticas públicas voltadas para a saúde e bem-estar da categoria.

Sob a ótica da saúde coletiva, o cidadão e a comunidade em geral devem ser encorajados a avaliarem e prover melhores condições de vida e saúde nos âmbitos familiares e sociais. O professor, uma vez capacitado a cuidar de si e agir em conjunto para a promoção da qualidade de vida, deve utilizar o espaço da escola para possibilitar transformações individuais e sociais. As estratégias de enfrentamento das frustrações e situações stressantes que podem ser utilizadas pelos professores devem incluir: atividades de relaxamento; organização de tempo e prioridades; dieta balanceada acompanhada de atividade física; compartilhamento de vivências e discussão das dificuldades com colegas e direção da escola; além de buscar auxílio profissional na medicina convencional ou terapias alternativas, quando julgar necessário. Destaca-se também o papel da escola, ao envolver os professores nas tomadas de decisão que busquem melhorias, sejam estas estruturais, organizacionais ou na interação entre os diferentes atores daquela realidade (Martinez, Paraguai e Latorre, 2004; Lussier, 2006; Santos et al., 2008).

Ainda, pode-se citar a escassez de estudos que investiguem as condições de trabalho e saúde sob o aspecto de Qualidade de Vida de docentes do Ensino Fundamental no Brasil. A avaliação distinta entre os turnos de aula da escola também se configura como um parâmetro importante, uma vez que, cada turno possui características específicas.

As discussões suscitadas sobre Educação e Promoção da Saúde no ambiente escolar, devem ser associadas a intervenções que configurem melhores perspectivas de trabalho, enquanto incentivos e valorização do profissional. A cargo das Políticas Públicas devem estar o desenvolvimento adequado da profissão pelos docentes (através de remuneração adequada, estrutura física apropriada, jornada de trabalho fixa, por exemplo) e adequado acesso aos serviços de saúde, enquanto estratégias que podem melhorar a Qualidade de Vida destes profissionais.

Este estudo tem como limitações o fato de ter sido desenvolvido em uma única escola de uma cidade e estado brasileiro, mas seus resultados podem possibilitar inferências no sentido de que a realidade de professores no Brasil não estar fora destes padrões, tais como baixos salários, elevada carga horária de trabalho pelo fato de se trabalhar em mais de uma instituição de ensino, falta de ações de capacitação continuada entre outros.

A inexistência de estudos similares para devidas comparações pode também ser um fator limitante. Por outro lado, esta investigação permitiu suscitar várias reflexões sobre o papel do professor e o seu desgaste profissional e gerou também a ampliação de propostas de intervenção que envolveu a participação da universidade e a instituição pesquisada, bem como a ampliação do projeto para outras escolas.

Por outro lado, tanto a experiência de pesquisa para os estudantes universitários, a compreensão da realidade pelos atores envolvidos na escola pesquisada, assim como, as intervenções suscitadas após o estudo, foram importantes na realidade vivida pelos professores pesquisados.


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