Acidentes de trabalho com exposição a material biológico entre os profissionais
de Enfermagem
Introdução
Os acidentes ocupacionais constituem um problema de saúde pública, pois
representam uma preocupação constante das instituições e dos profissionais de
saúde visto que o ambiente de trabalho propicia o surgimento desses eventos
(Oliveira et al., 2009).
O risco para a ocorrência de acidentes durante o exercício das atividades do
profissional muda de acordo com o processo de trabalho, as características
específicas do atendimento, a infraestrutura e os recursos disponíveis
(Oliveira e Gonçalves, 2010). Devido à elevada manipulação de materiais
perfurocortantes, os acidentes ocupacionais são uma vivência comum entre os
profissionais da equipe de Enfermagem durante a sua prática (Cardoso e
Figueiredo, 2010), sendo uma das principais categorias sujeitas a exposições a
material biológico (Pinheiro e Zeitoune, 2008).
Trabalhadores da área da saúde possuem um risco maior de adquirir infecções do
que o resto da população em geral, entre as quais se destacam o vírus da
hepatite B (HBV), o hepatite C (HVC) e do HIV (Monteiro, Benatti e Rodrigues,
2009; Manetti et al., 2007), as quais podem ser prevenidas imunologicamente com
vacinas (hepatites) e com ações de educação em saúde (Simão et al., 2010).
Segundo os dados do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), destaca-
se um risco de contaminação de 0,3% para o HIV, 6% a 30% para o HBV e de 0,5% a
2% para o HCV nos 384.325 acidentes percutâneos envolvendo trabalhadores da
saúde que ocorrem anualmente nos hospitais (Oliveira e Gonçalves, 2010).
Em uma assistência contínua, os profissionais de enfermagem desempenham o seu
papel de cuidar durante vinte e quatro horas por dia, representando o maior
grupo prestador de assistência ininterrupta ao paciente, sendo responsável por
cerca de 60% da execução de procedimentos de saúde (Santos et al., 2008),
estando constantemente em contato direto com o doente ao realizar diversas
ações, entre as quais se incluem os procedimentos invasivos, principais fatores
de risco para a ocorrência de um acidente ocupacional por necessitarem do
manuseio de materiais biológicos (Oliveira et al., 2009).
As medidas de biossegurança trazem alternativas que previnem os profissionais
da saúde dos possíveis riscos de exposição aos materiais biológicos, sendo
definida como aplicação do conhecimento, técnica e equipamentos com o objetivo
de prevenir a exposição do profissional, laboratório e ambiente a organismos
potencialmente infecciosos (Mastroeni, 2006).
A notificação dos casos de acidentes de trabalho é essencial para que haja
tomada de decisão e ações preventivas. Entretanto sabe-se que ainda existe um
elevado índice de subnotificação, sendo, provavelmente, em decorrência da falta
de informação quanto à necessidade ou mesmo devido ao receio por parte do
acidentado, medo de ser demitido ou de ser alvo de críticas. Este também,
geralmente, não está totalmente consciente dos riscos provenientes desses
eventos e das doenças que podem trazer, considera muito distante de sua
realidade, o que o leva a não notificar (Murofuse, Marziale e Gemelli, 2005).
Diante do exposto, o objetivo desse estudo procurou identificar os tipos de
acidentes que envolveram material biológico, o perfil dos acidentados, o tipo
de exposição e as circunstâncias em que ocorreram os acidentes com os
trabalhadores de enfermagem em um hospital de doenças infectocontagiosas no
Estado do Ceará/Brasil.
Método
Trata-se de uma pesquisa de campo de caráter documental e retrospectivo com uma
abordagem quantitativa realizada no Núcleo Hospitalar de Epidemiologia de um
hospital referência em doenças infecciosas, localizado no município de
Fortaleza-Ceará/Brasil. A população foi constituída de fichas de notificação de
acidente de trabalho do referido hospital dos anos de 2005 a 2007. Após a
avaliação das fichas, foi constituída a amostra com notificações registradas
com os profissionais de enfermagem nas diversas categorias e com acidente com
material biológico. A amostra foi composta por 777 fichas de profissionais de
enfermagem, as quais foram vítimas de acidente ocupacional, que tiveram os
acidentes registrados na ficha do Sistema de Informação de Agravos de
Notificados (SINAN).
A coleta de dados ocorreu no primeiro semestre de 2008. Para isso, foram
utilizadas as fichas de notificação do SINAN, sendo identificado o tipo de
acidente, o tipo de exposição, as circunstâncias em que ocorreu o acidente, as
causas e as providências realizadas. Para a análise e discussão dos resultados,
os dados foram processados e tabulados no Excel e foi criado um banco de dados
com a utilização do Programa Epi-Info. O estudo obedeceu às recomendações da
Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde que regulamenta a pesquisa com
seres humanos no Brasil e teve aprovação do Comitê de ética da instituição com
Protocolo 20/2008.
Resultados
Em relação aos profissionais de enfermagem e à ocorrência dos acidentes, 57,5%
eram auxiliares de enfermagem, seguindo de 20% de técnicos e 12,6% de
enfermeiros. Em referência à variável sexo, 94,7% eram do sexo feminino. A
maior parte (39,7%) situava-se entre a faixa etária de 19 a 30 anos, seguida de
25,3% na faixa etária de 31 a 40 anos, 17,3% na faixa etária de 41 a 50 anos e
5,4% na faixa acima de 50 anos. É importante destacar o alto índice (12%)
apresentado no item "ignorado", onde se relaciona ao não-
preenchimento ou elegibilidade.
Na tabela 1 destaca-se que 60,3% dos acidentados procuraram atendimento
especializado no mesmo dia do ocorrido. Dos acidentes registrados, o percutâneo
predominou com 88,0%. Desses, 87,3 % foram pelo contato com sangue e 70,1%
foram ocasionados por agulha com lúmen, enquanto 10% por outros agentes,
incluindo tampa plástica, respingos etc. Observando ainda a mesma tabela pode-
se concluir que 8,2% dos campos relacionados ao material orgânico se
encontravam não preenchido ou não legibilidade.
Tabela 1 ' Distribuição dos acidentes de trabalho com material biológico entre
os profissionais de enfermagem, segundo o intervalo entre o acidente e o
atendimento especializado, tipo de exposição, tipo de material orgânico e
agente (2005-2007). Fortaleza/CE ' Brasil, 2010.
Foi observado que 13,7% dos acidentes ocorreram relacionados ao descarte
inadequado de perfurocortantes na bancada, cama, chão, entre outros (tabela 2).
Um índice de 13,3% foi relacionado a glicemia capilar. Além deste, o re-encape
de agulha (9,0%) também teve significativa presença. Uma porcentagem menor, mas
ainda presente, foi observado durante o procedimento da administração de
medicação endovenosa (EV) e intramuscular (IM), de 7,9% e 7,7%,
respectivamente. A punção venosa/arterial não especificada (6,0%) e a
manipulação de caixa com material perfurocortante (6,1%) foram observados.
Tabela 2 ' Distribuição dos acidentes de trabalho com material biológico entre
os profissionais de enfermagem, segundo a circunstância do acidente (2005-
2007). Fortaleza/CE ' Brasil, 2010.
Quanto ao uso de Equipamentos de Proteção Individuais (EPI), no momento da
exposição, 21,2% dos acidentados usavam luvas, enquanto 11,5% estavam de
máscara, seguidos de 7,8% com uso de avental. Dentre todas as fichas avaliadas,
48,3% manteve os dados ignorados quanto à utilização ou não dos EPI durante o
acidente ocupacional (tabela 2).
Quanto à situação vacinal do acidentado em relação à hepatite B, 64,7% estavam
com o esquema vacinal completo no momento do acidente, entretanto, 27,6% se
encontravam não vacinados ou com o esquema incompleto (menos de três doses).
Neste campo, tiveram-se 7,6% dos dados ignorados.
Entre os acidentes biológicos, foram identificados 575 pacientes que estavam
envolvidos na ocorrência com testes sorológicos registrados no SINAN. A tabela
3 mostra que 17,3%, 10,9% e 17,4% não realizaram testes de HbsAg, Anti-HIV e
Anti-HCV, respectivamente. Quanto à positividade dos testes foram encontrados
1,2%, 11,4% e 1,2% (HbsAg, Anti-HIV e Anti-HCV, respectivos).
Tabela 3 ' Distribuição dos acidentes de trabalho com material biológico entre
os profissionais de enfermagem, segundo o resultado dos testes sorológicos do
Paciente Fonte Conhecido ' (2005-2007). Fortaleza/CE ' Brasil, 2010.
Dentro das condutas oferecidas aos acidentados após a exposição ao material
biológico, encontra-se o índice de 31,4% dos que não tiveram indicação de
quimioprofilaxia. Quanto ao uso de método de prevenção de infecção pós-
exposição, 26,3% fizeram uso da vacina contrahepatite B, 24,9% usaram a
combinação de Zidovudina (AZT) mais Lamivudine (3TC) em profissionais
atendidos, 14,1% usaram a Imunoglobulina humana contra a hepatite B (HBIG),
15,0% das fichas usadas não havia preenchido o registro das condutas pós-
exposicional, 10% usaram outros esquema de Antirretroviral e 2,9% utilizaram
combinação de AZT, 3TC e Nelfinavir.
Discussão
Em relação aos profissionais de enfermagem, o elevado número de auxiliares de
enfermagem acidentados é confirmado por estudos já realizados (Oliveira, Lopes
e Paiva, 2009; Murofuse, Marziale e Gemelli, 2005).
Essa categoria está em maior número nas instituições de saúde e tem, como
característica profissional, a realização de grande quantidade de tarefas/
procedimentos e um maior e mais intenso contato com o paciente e,
consequentemente, aos fluidos e secreções provenientes destes. Em um estado do
sudeste brasileiro, um estudo mostrou as características dos acidentes e das
exposições ocupacionais, onde a maioria ocorreu com trabalhadores do sexo
feminino 78,9% (Oliveira, Lopes e Paiva, 2009). O tipo de exposição foi
majoritariamente percutâneo, tendo como principal agente causador as agulhas
com lúmen. O material orgânico da maioria das exposições foi o sangue (87,3%).
Verificou-se que a faixa etária predominante foi entre 19 a 30 anos na
ocorrência dos acidentes, podendo este índice estar ligado ao tempo reduzido de
exercício da profissão.
Estudos confirmam a alta incidência de acidentes perfurocortantes em que a
maioria acontece durante o manuseio de agulhas (Focaccia e Veronesi, 2005),
sendo esse instrumento responsável por 80% a 90% das transmissões de doenças
infecciosas como hepatites B e C e o vírus HIV (Murofuse, Marziale e Gemelli,
2005). Nos Estados Unidos, existe um risco sugerido de 30 acidentes com agulha
por cem leitos/ano (Melo et al., 2004). Diante disso, salienta-se o
desenvolvimento de dispositivos agulhados com mecanismos de proteção, a fim de
reduzir o elevado índice desses acidentes ocupacionais.
Entre os tipos de exposição, houve a predominância do percutâneo (88%). O
sangue foi o principal material orgânico e a agulha com lúmen como o principal
agente causador dos acidentes notificados. Esses índices confirmam a grande
preocupação aos profissionais de saúde, os quais temem a aquisição de infecções
(Tomazin e Benatti, 2001).
A alta prevalência dos acidentes relacionada ao descarte inadequado de
perfurocortantes em locais indevidos ressalta a negligência ou o descuido
quanto ao destino e armazenamento de agulhas e outros perfurocortantes.
Destaca-se ainda a importância do uso dos EPI (luvas, gorros, óculos, entre
outros) durante a manipulação e descarte desses materiais visto que diminuem os
riscos de exposição a sangue e aos fluidos corporais (Pinheiro e Zeitoune,
2008).
O teste de glicemia capilar esteve envolvido nos acidentes em 13,3%. Esse
procedimento é considerado relativamente simples e, talvez por isso, não se
priorize os cuidados necessários quanto ao uso de EPI. É correto afirmar que as
precauções básicas são essenciais para a diminuição dos riscos ocupacionais,
seja qual for a situação de assistência ao cliente (Colombrini et al., 2004).
Verificou-se no estudo que o re-encape de agulha se fez presente em número alto
ainda, estando de acordo com o estudo feito por Simão et al. (2010) em que essa
fonte de risco para acidentes ocupacionais também foi predominante, o que
contribui para o alto índice de acidentes entre a equipe de enfermagem.
No Brasil, foram estabelecidas, pelo Ministério da Saúde, normas
regulamentadoras que preconizam precauções padrão em diversas profissões. Essas
normas enfatizam a obrigatoriedade de todas as empresas a fornecer aos
trabalhadores, sem custos, EPI adequado ao risco, em bom estado de conservação
e funcionamento (Mastroeni, 2006).
É importante que o profissional de enfermagem receba o atendimento necessário e
as orientações devidas sobre as medidas preventivas, como vacinação para
Hepatite B e uso de EPI, além de receber orientações também sobre os
procedimentos após a exposição a material biológico, como a quimioprofilaxia
para HIV e profilaxia para Hepatite B.
O risco de exposição ao HBV originado de uma única perfuração por agulha ou
corte varia entre 6% a 30%, podendo atingir até 40% em exposição relacionada
com o paciente-fonte que apresenta o antígeno de superfície HbsAg presente e
quando nenhuma medida profilática é tomada. Já o risco de infecção por HCV é de
aproximadamente 1,8%, enquanto que o risco do HIV varia de 0,1% na exposição de
mucosas, como olhos, nariz ou boca, a 0,3% na exposição por perfuração ou corte
(Manetti et al., 2007).
Mais da metade dos profissionais de enfermagem (64,7%) estava com esquema
vacinal completo no momento do acidente. Entretanto, 27,6% dos acidentados
estavam com esquema vacinal contra hepatite B incompleto ou não-realizado,
sendo um índice elevado, frente ao conhecimento do risco de se contrair o vírus
e da disponibilidade da vacina gratuitamente no país.
Um estudo realizado no estado brasileiro de São Paulo identificou que os
trabalhadores de saúde acidentados tinham uma cobertura vacinal em torno de
72,8%. Os resultados mostraram o risco de adquirir a infecção pelo HBV, uma vez
que 27,2% deles não tinham recebido o esquema vacinal completo contra a doença.
Apesar do conhecimento dos pacientes-fonte, o teste para o vírus da hepatite B
não foi realizado ou não teve seu resultado conhecido em 78,9% dos casos,
aumentando assim a vulnerabilidade dos trabalhadores acidentados (Oliveira,
Lopes e Paiva, 2009).
Sabe-se que o cuidado imediato durante um acidente com exposição a material
biológico consiste em lavar bem o local com água e sabão ou soro fisiológico
0,9% nas mucosas. Porém, dependendo da gravidade do acidente avaliada de acordo
com critérios individuais, são necessárias condutas mais específicas e que
requerem certos limites de tempo para seres executadas, e por isso é primordial
a notificação imediata do acidente ao setor responsável (Focaccia e Veronesi,
2005). A maior parte dos acidentes foi notificada no mesmo dia do ocorrido,
sendo ponto favorável para o início de condutas pós-exposição. Entretanto, um
elevado número notificou o acidente apenas entre o terceiro e décimo dia, o que
prejudica a eficácia ou a possibilidade de algumas condutas, como o uso de
imunoglobulina específica para agentes virais.
A ocorrência da exposição ocupacional com presença de sangue ou fluidos
corpóreos implica a necessidade de se avaliar os riscos de transmissão do vírus
HIV, HBV e HCV, considerando o tipo de acidente sofrido e a toxicidade das
medicações utilizadas na quimioprofilaxia (Murofuse, Marziale e Gemelli, 2005).
Os acidentes acontecem em situações em que as medidas preventivas nem sempre
são atendidas, destaca a pesquisa realizada no estado brasileiro de São Paulo,
tendo em vista que os pacientes-fonte são desconhecidos em 44,9% das
ocorrências. O maior problema está relacionado ao descarte ou acondicionamento
inadequado dos resíduos, sendo que os dados demonstram que a maioria (79,4%)
dos acidentes foi causada por agulhas (Oliveira, Lopes e Paiva, 2009).
A identificação do estado sorológico do paciente-fonte é uma das medidas
iniciais para condutas pós-exposição, servindo como base para indicação de
quimioprofilaxia, profilaxia da hepatite B e para o acompanhamento sorológico
do acidentado (Melo et al., 2004).
Dos exames solicitados ao paciente-fonte, o HBsAg esclarece que o paciente se
encontra infectado, pois refere-se ao primeiro marcador que surge no processo
de infecção e sua presença por tempo superior a seis meses é característica de
hepatite B crónica. Já o marcador anti-HCV indica contato prévio com o vírus da
hepatite C, não dizendo se existe infecção aguda, curada ou se houve
cronificação da doença (Brasil, 2008). O anti-HIV pode detectar anticorpos,
caracterizando a presença ou não do HIV. O grau de risco depende da
intensidade, do tipo, da frequência e da carga viral do paciente-fonte, sendo
preocupantes os índices encontrados nesse estudo com soropositividade do
paciente-fonte em 11,4% (Focaccia e Veronesi, 2005).
Das doenças adquiridas através do acidente com material biológico contaminado,
a hepatite B e C são as mais presentes, as quais podem ser transmitidas através
de material biológico contaminado com o vírus e, frequentemente, estão
envolvidas em acidentes percutâneos com agulhas (Souza, 2006). As recomendações
estabelecidas pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) preconizam
que sempre que os profissionais da área da saúde forem expostos a sangue ou aos
outros fluidos que tragam risco, deve-se considerar a possível contaminação por
vírus HBV, HVC e HIV (Duncan e Schmidt, 2006).
A avaliação médica e os exames laboratoriais após o acidente devem ocorrer em
todos os casos para proposição da conduta adequada quanto a quimioprofilaxia,
vacinação e acompanhamento pelo profissional médico habilitado da instituição
(Oliveira e Gonçalves, 2010). Dessa forma, é essencial a avaliação concreta do
acidente ocupacional com exposição a material biológico, para que sejam tomadas
medidas de prevenção.
Em relação às condutas oferecidas aos profissionais de enfermagem, destacou-se
o uso da vacina contra hepatite B (26,3%), a quimioprofilaxia combinada de AZT
+ 3TC (20%) e a HBIG (14,1%), respectivamente, tendo a não-indicação
quimioprofilática em 31,4% dos acidentes ocorridos.
Quando recomendada, a quimioprofilaxia para evitar a infecção pelo vírus HIV
deve ser iniciada em até três dias após a exposição, o que favorece a eficácia
da mesma. No caso de acidentes ocupacionais, o início imediato da
quimioprofilaxia nas primeiras duas horas após a exposição reduz, em pelo menos
80%, o risco da aquisição à infecção ao HIV (Focaccia e Veronesi, 2005; Vieira
e Padilha, 2008).
Uma das principais medidas de prevenção da hepatite B é a vacinação pré-
exposição. Em caso de exposição ocupacional, pode-se obter uma eficácia de até
95% na profilaxia com o uso precoce da Gamaglobulina Hiperimune (HBIG), se
aplicada no período preconizado de 24 a 48 horas após o acidente (Murofuse,
Marziale e Gemelli, 2005; Melo et al., 2004).
Existe a necessidade de uma maior atenção por parte dos profissionais de
enfermagem na execução de suas atividades. Orienta-se levar material adequado
para descarte e não exceder o conteúdo da caixa de perfurocortante. Podemos
minimizar os acidentes com exposição aos fluidos biológicos realizando ações
com maior atenção, sendo necessário treinamento e sensibilização para práticas
seguras, objetivando normatizar as condutas frente aos procedimentos de
enfermagem (Balsamo e Felli, 2006).
Conclusão
Esse estudo possibilitou identificar os acidentes ocupacionais ocorridos com os
profissionais de enfermagem, correlacionando-os com o perfil epidemiológico do
acidentado e do acidente, o qual ficou caracterizado por pessoas jovens, do
sexo feminino, sendo a maioria auxiliares de enfermagem. O grau de instrução
dos profissionais está relacionado diretamente com os acidentes com material
biológico, onde quanto menor o grau de formação maior a ocorrência de
acidentes. Embora estudos apontem que o tempo de experiência profissional não
interfira nos acidentes de trabalho, em nosso estudo, os sujeitos mais jovens
prevaleceram, o que indica um fator de risco.
Os acidentes ocorreram, principalmente, com exposição a sangue por agulha com
lúmen e por lesão percutânea. Ainda foi possível verificar a circunstância em
que mais ocorreram esses acidentes com destaque para o descarte inadequado de
material perfurocortante. A educação continuada dos profissionais de enfermagem
deve estar associada às circunstâncias do dia a dia desses profissionais, como
atualização sobre mecanismo de proteção e sensibilização sobre os riscos na
manipulação de dispositivos e seu descarte.
A população estudada necessita de uma maior sensibilização quanto às medidas
preventivas e ao uso de EPI, embora já saibamos que os profissionais de
enfermagem já conhecem algumas das medidas de biossegurança, porém não
empregadas de forma sistemática e constante. Neste contexto, cabe aos serviços
de saúde planejar e implementar orientações específicas para os profissionais
de enfermagem a fim de adotarem comportamentos seguros.
O nosso estudo encontra limitações entre as informações decorrente do não-
preenchimento ou falhas no registro das fichas dos acidentes ocupacionais. A
subnotificação das informações retarda a real dimensão do problema destacado
nesse estudo. Os dados referentes ao acompanhamento desses casos também são
necessários para comprovação de uma realidade pouco conhecida, assim é
necessário conhecer quantos profissionais de enfermagem se encontram
contaminados após acidentes com material biológico. O desfecho das ações
realizadas durante esse processo poderá ser objeto de estudo de outras
pesquisas.