Algumas reflexões esparsas sobre temas actuais
Algumas reflexões esparsas sobre temas actuais:
O discurso social sobre as drogas e as toxicodependências em Portugal não
permite elaborar uma imagem consistente do que se passa de facto. Com efeito,
dispomos de um conjunto de dados que têm sido publicados sobre a evolução do
fenómeno no nosso país, graças fundamentalmente ao IDT; no entanto, talvez
devido à sua restrita circulação, o discurso social não se baseia neles (ou em
outros), sendo antes resultado de especulações gratuitas ou interessadas que
exprimem um conjunto de apreciações da realidade contraditórias. É tempo de
procurar intervir nesta situação, produzindo trabalhos que, de uma forma
acessível e rigorosa, permitam a formação duma opinião pública mais
esclarecida.
Uma organização viva e actuante, sempre em transformação para poder responder
aos desafios da realidade e que vai envelhecendo como todas as organizações
humanas, encontra-se muitas vezes exposta a riscos que podem e devem ser
acautelados. A desejável renovação dos quadros tem que ser acompanhada de uma
actividade formativa permanente, que tenha em conta o lastro positivo da
instituição e as novas intervenções e desafios. Essa formação, feita de muitas
formas, desde a formação ombro a ombroaté à nossa revista, deveria ter também
uma componente institucionalizada.
Em tempos não muito distantes, o então SPTT executou, durante 6 anos (1996-
2002), o Programa de Formação Permanente em Prevenção das Toxicodependências.
Mais de duas centenas de profissionais com vínculo ao Serviço concluíram com
sucesso esse programa de formação de 375 horas, sendo 60 % de formação prática.
Na hora actual, outros modelos programáticos seriam recomendáveis, que
integrassem novos saberes – nomeadamente na área das Neurociências – e em
parceria com Instituições Universitárias, rentabilizando as potencialidades da
valorização curricular e da circulação do conhecimento científico que decorrem
da implementação da estratégia europeia vertida na Declaração de Bolonha. O IDT
deveria ter, nessa perspectiva, um papel preponderante para garantir rigor e
coerência na intervenção dos seus profissionais na comunidade.
A investigação na área das toxicodependências tem-se desenvolvido
consistentemente nos últimos anos, embora mais lentamente do que seria
desejável. E só esse desenvolvimento tem permitido que Toxicodependênciasse
mantenha. Refira-se, a este propósito, o que escreveram em 2009 (*) GONZALEZ-
ALCAIDE, G. ET AL: “Apenas uma revista especializada no âmbito do Abuso de
Substâncias (Toxicodependências) aglutina a maior parte da inves-tigação
nacional (41,14 % dos trabalhos)”.
Mas gostaríamos que o rigor destes trabalhos fosse cada vez maior e que
pudessem existir locais diferentes dos congressos tradicionais, vocacionados
para a discussão desses trabalhos, em que a crítica pudesse ser encarada como
um contributo positivo para a melhoria da investigação.
(*) Gregorio Gonzalez-Alcaide et al. “A investigação sobre toxicodependências
em Portugal: produtividade, colaboração cientí-fica, grupos de trabalho e
âmbitos de investigação abordados”, Toxicodependências, 15, 2, 13-34.
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