Percurso profissional dos licenciados em educação física e desporto, com opção
de futebol, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, entre 1992 e 2006
INTRODUÇÃO
As saídas profissionais dos alunos do ensino superior são alvo das preocupações
de todos os envolvidos neste processo, desde os alunos e respectivas famílias,
as instituições de ensino, o mercado de trabalho, os responsáveis políticos e a
sociedade em geral. Esta é uma questão cada vez mais actual, tendo como
referência os últimos dados estatísticos do desemprego em Portugal, onde os
jovens licenciados ocupam um destaque especial.
A inserção profissional pode ser entendida “como um processo segundo o qual um
indivíduo ou um grupo de indivíduos que nunca pertenceu à população activa
deseja uma posição estabilizada no sistema de emprego”. Esta resulta de uma
consolidação de vários factores, podendo culminar numa boa ou má integração,
tanto no mercado de trabalho, como a nível social
(16)
.
Estudos relacionados com a inserção profissional dos agentes de desporto, quer
no domínio da educação física, quer no domínio do desporto, enquanto
treinadores, gestores ou outra actividade profissional, não são usuais,
tratando-se de um tema pouco aprofundado. No entanto, noutras áreas é frequente
existirem estudos desta natureza e estão descritos na literatura
(1, 5, 9, 4, 13)
.
Os percursos profissionais dos jovens licenciados podem ser alvo de análise e
reflexão profunda, no sentido de compreendermos a receptividade e a integração
destes quadros no mercado de trabalho, bem como instrumento de reorientação das
competências a desenvolver nos alunos para uma melhor capacidade de resposta às
exigências que a vida profissional activa vai colocando. Esta deve ser uma das
preocupações dos sistemas de formação e qualificação de recursos humanos, como
contributo decisivo para a melhoria do capital humano das organizações da
sociedade dos nossos dias.
O ensino superior é actualmente reconhecido como um factor estrutural para o
desenvolvimento económico e social, bem como para o reforço da própria
competitividade. Nesta perspectiva, vários autores
(10, 15)
afirmam que as entidades empregadoras valorizam uma boa formação de base,
condição para o desenvolvimento de capacidades de natureza superior, a
disciplina e o rigor do pensamento. A ênfase é assim colocada nas capacidades e
competências transversais necessárias à maioria dos novos postos de trabalho.
Sabemos que as questões da empregabilidade e da relevância das formações no
Ensino Superior ganharam uma nova visibilidade política com a Declaração de
Sorbonne
[1]
e Declaração de Bolonha
[2]
. Daí resultou um alinhamento de políticas nacionais com vista à adopção de um
quadro comum de referência para os diferentes sistemas de graus académicos, por
um lado; e, por outro, a definição de instrumentos que facilitem esse
movimento, com vista a promover a empregabilidade e a mobilidade dos cidadãos,
bem como melhorar a competitividade internacional do ensino superior europeu
(8)
.
Esta linha de pensamento induziu a várias mudanças na estruturação do ciclo de
estudos no ensino superior, que culminaram na adesão ao Tratado de Bolonha,
cujos reflexos operacionais estão em execução.
Longe de se conceber que a função da Universidade se reduz à formação
profissional e à colocação da “mão de obra” qualificada no mercado de trabalho,
de acordo com a sua necessidade, esta não pode ficar indiferente a essa
realidade e à real inserção dos seus licenciados no mundo do trabalho(1).
As universidades deverão proporcionar uma boa preparação de base, tendo em
vista o encarar de uma grande variedade de situações novas. Não obstante, de
acordo com as orientações do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas
(2)
e do Observatório Permanente para a Qualidade de Ensino (Universidade do
Algarve)
(14)
, esta opção não deve ser impeditiva de se desenvolver um ensino vocacional que
transmita os conhecimentos necessários para a execução de tarefas específicas
de uma dada profissão. O Conselho de Reitores tem vindo a alertar para a
necessidade de transformar as universidades em parceiros de entidades públicas,
de empresas, de estruturas de desenvolvimento local, regional e nacional
(10)
. É nesta linha de pensamento que são apontadas novas responsabilidades não só
em termos de formação e de educação, mas também no que se refere à
empregabilidade e à investigação para o desenvolvimento.
Na educação física e desporto, o desenvolvimento e aplicação da formação tem
assinalado um progresso considerável ao nível do ensino superior. Contudo, o
facto de estar profundamente associada ao sistema educativo constitui um
entrave à criação de uma interdisciplinaridade na matriz do desporto, ficando
esta condicionada aos conceitos (ou mesmo preconceitos) da “ginástica” e
“educação física”
(11)
, ficando assim esquecidas ou desvalorizadas as responsabilidades no domínio do
desenvolvimento do desporto. Urge assim a necessidade de cooperação entre o
sistema de formação e as entidades responsáveis pelo desporto, permitindo a
formação e a integração de quadros técnicos especializados.
No final dos anos oitenta, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
ampliou as suas ofertas educativas, com a criação
[3]
da licenciatura em educação física e desporto, que funcionou a partir do ano
lectivo de 1988/89, cujo lema se orientava para (i) levar para a escola o
clube; (ii) levar o clube para a escola; (iii) levar para a comunidade, o
desporto
(7)
.
No ano lectivo 1990/91, face ao plano curricular da licenciatura, surgiram os
percursos formativos de especialização no âmbito das modalidades desportivas,
onde naturalmente aparece o futebol. Pelos aspectos sociais, culturais,
económicos e impacto mediático desta modalidade, espontaneamente se verificou
que os alunos escolheram o futebol como disciplina opcional, na esperança de
uma futura inserção profissional no “mundo do futebol”.
Apesar deste sonho poucas vezes declarado, os alunos ao longo dos anos foram
apreendendo que “uma opção pelo futebol pressupõe uma motivação profunda que
nos conduz, implica uma paixão intensa (…) mas exige também uma coragem sem fim
e uma resistência a todas as adversidades porque o caminho é longo e quase
sempre agreste.”
(3, pp. 60)
.
Neste contexto, o conhecimento dos percursos sócio-profissionais dos
licenciados em educação física e desporto pela Universidade de Trás-os-Montes e
Alto Douro, com especialização em futebol e as respectivas percepções sobre a
formação adquirida, revelam-se como um factor importante para justificar a
pertinência deste estudo.
Nesta linha definimos os seguintes objectivos:
(i) Avaliar a opinião dos ex-alunos em relação à licenciatura e opção de
futebol;
(ii) Avaliar as condições de inserção profissional dos licenciados;
(iii) Caracterizar o percurso profissional dos licenciados em termos de
situação contratual, remuneração, tipo de instituição empregadora e função
exercida no mercado de trabalho do Futebol;
(iv) Identificar as necessidades de contacto com a instituição de formação
inicial, após licenciatura.
MATERIAL E MÉTODOS
A população do nosso estudo é constituída pelos licenciados em educação física
e desporto, com especialização em futebol, pela Universidade de Trás-os-Montes
e Alto Douro. Este universo representa um conjunto de 174 licenciados.
A amostra utilizada foi constituída por 59 antigos alunos da opção de futebol
(os que responderam ao questionário), representando os alunos que concluíram a
licenciatura entre 1993 e 2006, correspondendo a 34% do universo. O Quadro 1
apresenta a caracterização da amostra por ano de licenciatura e sexo.
Quadro 1. Respostas ao questionário, por ano de licenciatura e sexo
(Env –número de questionários enviados; Resp –número de questionários
respondidos)
O instrumento utilizado foi construído com base no questionário utilizado pelo
gabinete de saídas profissionais (GASP) da Universidade de Trás-os-Montes e
Alto Douro, adaptado aos objectivos do estudo e ao grupo alvo a que se dirigiu.
Elaborámos uma primeira versão do questionário que foi aplicada num grupo de 15
indivíduos, licenciados com opção de futebol e 3 professores da universidade
com experiência em trabalhos de campo através da utilização destes
instrumentos.
A versão final do questionário contempla perguntas de escolha múltipla,
perguntas fechadas e uma única pergunta aberta. A estrutura do questionário
está organizada em sete tópicos: (i) identificação do licenciado; (ii) questões
relacionadas com a licenciatura; (iii) questões relacionadas com a opção de
futebol; (iv) questões relacionadas com a situação perante o emprego; (v)
questões sobre o percurso profissional; (vi) posicionamento do licenciado
perante os estudos de pós-graduação; (vii) questão aberta sobre eventuais
observações, comentários ou sugestões.
Os questionários foram distribuídos por correio postal e correio electrónico,
havendo casos em que o entregámos pessoalmente. A recolha de informação
processou-se entre Março e Julho de 2007. A análise exploratória dos dados foi
realizada recorrendo à estatística descritiva, através do software SPSS (versão
15.0).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A apresentação dos resultados segue a estrutura do questionário. Começaremos
por apresentar os resultados relativos à opinião dos licenciados sobre a
licenciatura e opção de futebol, depois destacaremos os dados sobre a situação
perante o emprego e por fim, as necessidades de contacto com a instituição de
formação inicial.
Opinião sobre a licenciatura e opção de futebol
Os factores apontados como decisivos na escolha da licenciatura foram o “gosto
pessoal” com 41,5%, seguindo-se “saídas profissionais” com 21,1% e “boa
componente prática” (13%). A positividade do primeiro factor poderá revelar uma
mais-valia, uma vez que a maioria dos licenciados entraram por gostarem da
licenciatura em causa, o que aumenta a sua motivação na frequência do curso. Os
outros dois factores revelam uma preocupação mais profunda na escolha do curso,
pois reportam-se às expectativas dos licenciados aquando a sua entrada no
curso, o que poderá indicar que houve uma pesquisa prévia sobre o curso.
Contudo, é de salientar que as respostas obtidas para o factor “Saídas
profissionais” foram obtidas, na sua maioria, pelos licenciados mais antigos,
pelas facilidades encontradas em ingressar no ensino publico, já que os recém-
licenciados sentem mais dificuldades, na actualidade, para iniciar a actividade
profissional.
A opinião positiva dos licenciados sobre a licenciatura, recaiu nos factores
“formação teórica” com uma percentagem de 95%, seguido de “qualidade
pedagógica” com 91%, “qualidade científica” e “formação prática” com
percentagens muito próximas de 89% e 88%, respectivamente. Os factores com
opiniões menos favoráveis foram a “divulgação no mercado de trabalho” (46%) e o
“contacto com a realidade exterior” (35%).
Em relação à opção de futebol, os factores determinantes na decisão de
ingresso, no 3º ano da Licenciatura, continuou a vigorar o “gosto pessoal” com
um valor de 39,4%. O “contacto com mundo do futebol” foi outro dos factores
mais respondido (23,6%) e a “boa componente prática” com 15,7%.
A avaliação dos licenciados em relação aos aspectos positivos e negativos da
opção foram as qualidades pedagógicas e científicas (96%), formação teórica
(95%) e formação prática (91%).
Tal como na opinião sobre a licenciatura, os factores apontados como menos
favoráveis, foram a “divulgação no mercado de trabalho” e o “contacto com a
realidade exterior” com valores de 47% e 23%. Em função destes resultados, as
sugestões apresentadas para aperfeiçoamento da opção, por 40% dos licenciados,
apontaram para uma melhoria do contacto com o mundo do futebol e melhorias nos
apoios aos centros de treino, nomeadamente na supervisão do processo de
condução das equipas, bem como na possibilidade de existir apoio financeiro ao
trabalho desenvolvido. Os licenciados destacam ainda a necessidade de existir
um reforço nas competências práticas dos alunos.
Situação perante o emprego
A situação de emprego dos licenciados inquiridos, relativamente ao Futebol, é
bastante clara, dado que 93.2% (n = 55) dos licenciados já trabalharam nesta
área e 6.8% (n = 4) nunca o fizeram após a licenciatura.
Os dados sobre a avaliação do emprego actual dos licenciados, podem ser
observados no Quadro 2.
Quadro 2. Como os licenciados avaliam o seu emprego actual
Com o intuito de caracterizar o percurso profissional dos licenciados que
responderam, passaremos a analisar as profissões e entidades empregadoras,
tanto no sector da educação como no mundo do futebol.
Antes de passar a qualquer análise do ponto de vista profissional, é importante
mencionar que o intervalo do “1º emprego” ao “4º emprego” é abordado de duas
formas diferentes. Os licenciados mais antigos definem um trajecto de
profissões, onde houve mudança de entidade empregadora e (principalmente) de
emprego; ao passo que os licenciados mais recentes apresentam uma acumulação de
empregos que pode chegar a quatro ou mais, juntando os sectores de educação e
do futebol.
Com o apoio da literatura, Marques(9) afirma que a configuração de mercados de
entrada e de transição, a partir dos licenciados que declaram um ou mais
empregos, permite-nos replicar algumas das principais tendências associadas às
dificuldades de acesso ao primeiro emprego, ao prolongamento deste período de
inserção e ao facto de a estabilização no emprego ser menos rápida no início,
mas também no decurso da carreira.
Quanto às denominações dos empregos, nota-se um claro domínio da profissão de
“professor de educação física”, representando uma elevada procura, tanto no
início do processo de inserção profissional, como em processo de consolidação
de uma carreira profissional, ao longo dos vários empregos relatados. Estes
valores não constituem grande novidade para nós, uma vez se tratar de uma
licenciatura via ensino e assim apresenta como principal objectivo a formação
de professores de educação física para o 2º e 3º ciclos do ensino básico e
ensino secundário.
Outras das profissões foram agrupadas como “monitor de actividade física”.
Considerámos neste âmbito, os licenciados que exercem funções de professor de
actividades físicas e/ou desportivas em autarquias (ou através destas), em
associações ou em instituições privadas.
Na categoria profissional denominada de “outro”, cabem as profissões de
vereador do desporto; técnico superior de educação física e desporto;
coordenador técnico e pedagógico e professor universitário.
No âmbito do futebol verificámos que a maioria dos licenciados na área do
futebol, referiram o desempenho da função de “treinador” com percentagens
elevadas (64% a 77%), nos diferentes empregos vivenciados.
No nosso entender estes dados são bastante positivos, visto que vão de encontro
às expectativas e experiências adquiridas na formação alcançada na opção.
Todavia, é importante realçar que apenas 2 (3,3%) dos 59 inquiridos têm
profissões exclusivamente ligadas ao Futebol, os restantes (96,6%) acumulam as
profissões da área do futebol com as da área da educação física.
É importante referir ainda, outras denominações de profissões que estes
licenciados desempenham, como treinador adjunto, coordenador técnico, jogador
profissional; preparador físico; dirigente desportivo e scout’s (Observação e
análise do jogo).
Quanto às entidades empregadoras mais referenciadas, surge o estado, através do
Ministério da Educação. Nos últimos anos, também a administração pública local
tem assumido um papel de relevo, no enquadramento dos jovens licenciados, nas
actividades de enriquecimento curricular (disciplina de expressão físico-
motora) do 1º ciclo do ensino básico.
No futebol, verificámos que a liderança do mercado de emprego está a cargo dos
clubes, com valores percentuais de (73% a 87%), desde o 1º ao 4º emprego. As
outras entidades empregadoras que se destacam como alternativas, são as
associações de futebol, as escolas de futebol e até o desporto escolar.
No entanto, é importante referir que os empregos nas associações estão a cargo
dos licenciados mais antigos, por cumprirem os normativos legais necessários
para serem requisitados ao quadro das escolas.
O vínculo contratual que os licenciados mantêm com as entidades empregadoras
são na sua maioria, através de “contrato a prazo”. Observa-se ainda que muitos
licenciados exercem as suas funções em regime de prestação de serviços (recibos
verdes), na ordem dos 25%, o que revela um vínculo débil.
A remuneração auferida por estes licenciados no emprego principal, em 38% dos
inquiridos situa-se nos valores “De 1000 a menos de 1500 euros”. Nos empregos
complementares, a maioria dos licenciados respondeu que auferem “de 250 a menos
de 500 euros”.
Após a análise do questionário, podemos constatar que a maioria dos empregos
com remuneração de “menos de 250 euros”, estão relacionados com a área do
futebol, que surge como uma actividade complementar, mais no âmbito da
realização pessoal, do que propriamente os benefícios salariais. Esta leitura
deve ser salvaguardada pelo facto de muitos licenciados, especialmente os mais
recentes e ainda aqueles que conjugam as profissões de professor e treinador,
complementarem as suas remunerações através do exercício de vários empregos.
Outro dado que procurámos saber foi o tempo de espera para os licenciados
obterem o seu primeiro emprego. De acordo com o Instituto do Emprego e Formação
Profissional
(6)
o tempo de procura de emprego após a licenciatura implica indiscutivelmente um
forte envolvimento e actividade dos candidatos.
No caso do nosso estudo, dos licenciados inquiridos, 57 (96.6%) estão
empregados e apenas 2 (3.3%) não exercem nenhuma actividade profissional.
Constatámos ainda que 50% dos licenciados já tinham emprego mesmo antes de
concluírem o curso, devendo referir que estes dados dizem respeito aos
licenciados mais antigos. Actualmente o cenário é diferente, havendo mais
dificuldade na procura do primeiro emprego, mas os dados apontam para uma boa
inserção profissional, havendo casos em que esperam dois a três meses pela
colocação (estamos a falar de empregos temporários e sem grandes condições de
estabilidade profissional).
O processo de obtenção de emprego mais referido foi através de concurso público
(Diário da República / Ministério da Educação). Parece-nos um dado esperado
porque se trata de um curso via ensino e como tal uma das saídas naturais é
(foi) a escola pública.
Por outro lado, os inquiridos referiram que o factor “conhecimentos pessoais”
teve uma grande influência na obtenção dos empregos, com valores que variam
entre os 27%, 41%, 44% e 50%, respectivamente para os 1º, 2º, 3º e 4º empregos.
Por estes dados, este factor assume-se como preponderante na inserção
profissional dos licenciados do estudo. Reparamos que este factor tem a mesma
preponderância noutros cursos, através de outras investigações(1, 5, 9).
É importante realçar que o factor que ocupa o terceiro lugar no pódio do
conhecimento dos empregos é o “contacto directo com os empregadores” com
valores de 10% no 1º emprego; 22% no 2º; 25% no 3º; e 21% no 4º emprego.
Parece-nos então que os licenciados pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto
Douro demonstram uma forte auto-iniciativa na procura dos seus empregos.
No que diz respeito aos factores que influenciaram a obtenção de empregos por
parte dos licenciados referiram os seguintes factores favoráveis:
Os factores favoráveis destacados pela nossa amostra foram o “grau de
licenciatura” como preponderante na obtenção dos seus empregos, auferindo 16,6%
do total das respostas. O facto de ser um “curso específico” (13,4%),
nomeadamente a opção de futebol, teve o seu peso na influência dos empregos dos
licenciados, seguido do “bom relacionamento social” com 12,7%.
Relativamente às razões que conduzem à mudança de emprego, houve uma grande
variedade de respostas. Dos licenciados que afirmaram ter mudado de emprego, o
factor “realização profissional” foi o mais assinalado (27,5%), seguindo-se
“perspectivas de progressão na carreira” com 21,7% e “salário/remuneração com
14,5%.
É compreensível que a tentativa de mudança de emprego seja orientada segundo a
realização profissional, ao mesmo tempo que se procura a possibilidade de
conseguir empregos mais estáveis. No entanto, é curioso que o “salário/
remuneração” não tenha maior peso nos resultados. Provavelmente, os mais
preocupados com este factor são os recém-licenciados na procura da
independência financeira. É neste sentido que Marques(9) diz que outros
factores “não económicos” interferem nas decisões dos licenciados, que obedecem
a motivações sociais, contemplando o emprego como um processo de concretização
de aspirações e de realização profissional. Ao mesmo tempo, o conceito
tradicional de carreira profissional começa a ser inconsistente, na medida em
que muitos jovens não estão a trabalhar em empregos especificamente
relacionados com a sua formação(1).
Necessidades de contacto com instituição de formação inicial
No que respeita à frequência de estudos pós-licenciatura, deparamos com uma
grande percentagem de licenciados que não pretendem frequentar qualquer tipo de
estudos posteriores, “pós-graduação” com 64% das respostas; “mestrado” com 26%;
e “doutoramento” com 70%.
Ao contrário, o mestrado assume-se como a pós graduação que os alunos mais
pretendem frequentar ou já frequentam, quer na universidade de formação inicial
ou em outra.
Na investigação de Marques(9), em circunstâncias idênticas, a autora associa
este investimento de formação, por parte dos recém-licenciados e finalistas,
não só com a necessidade dos licenciados aperfeiçoarem e actualizarem
conhecimentos adquiridos na universidade, mas também por terem receio de
enfrentar o mercado de trabalho.
Em relação à formação extra na área do futebol, verificámos que praticamente
todos os inquiridos frequentaram ou pretendem frequentar cursos de treinador,
acções de formação, entre outros.
O processo de inserção na actividade profissional não é tarefa fácil, é repleto
de obstáculos e estados de espírito que variam em função de se concretizarem
(ou não) as expectativas criadas(4). Deste modo, apercebemo-nos que alguns
licenciados regressam à instituição formadora para procurar apoio, melhorando
as suas qualificações e apetências na esperança de virem a ingressar no mercado
de emprego.
Algumas das razões apontadas pelos licenciados, como necessidade de contacto
com a instituição de formação inicial foram: "contacto com docentes"
com a maioria da percentagem de respostas (32%), seguido da "utilização da
biblioteca" com 17%. Em terceiro lugar está "exercício da sua
actividade profissional", a par do "contacto com gabinete de
futebol" com 16% do total das respostas.
CONCLUSÕES
Destacamos agora os aspectos mais importantes deste estudo:
Cerca de metade dos alunos inquiridos, ingressaram na licenciatura em educação
física e desporto por gosto pessoal, associado às boas expectativas de saídas
profissionais. Uma vez decididos pela licenciatura em causa, no 3º ano da
estrutura curricular, os licenciados escolheram o futebol como especialização,
devido à possibilidade de vir a trabalhar no “mundo do futebol”.
Os licenciados apresentaram uma opinião positiva em relação ao curso, bem como
à opção de futebol. Neste último caso, manifestaram a necessidade de uma melhor
divulgação no mercado de trabalho, um melhor contacto com a realidade exterior
e melhorias no processo de supervisão dos centros de prática pedagógica,
vulgarmente conhecidos por centros de treino.
Ao longo do seu percurso profissional, quase todos os licenciados exerceram ou
exercem funções relacionadas com a sua especialização no futebol.
Relativamente ao seu emprego actual, a amostra inquirida está satisfeita com as
funções que desempenha no seio das entidades empregadoras, apesar da sua
insatisfação perante as hipóteses de melhorias salariais e as perspectivas de
progressão na carreira.
Os licenciados mais antigos não dão tanta ênfase ao emprego na área do futebol,
uma vez que a sua solidez profissional há muito que passa pelos quadros do
Ministério da Educação. Contudo, sentem-se bem a realizar funções adequadas à
sua especialização, pondo em prática os conhecimentos relativos à opção de
futebol.
Por outro lado, os recém-licenciados valorizam os empregos menos estáveis, em
particular, no âmbito do futebol, pois sabe-se que a inserção profissional no
ensino revela bastantes entraves. Assim, conciliam diversos empregos com o
intuito de obter algumas contrapartidas, nomeadamente económicas.
As principais denominações profissionais dos licenciados são, professor de
educação física e treinador, nas áreas da licenciatura e da opção,
respectivamente. Quanto às entidades empregadoras, a esmagadora maioria fica a
cargo do Ministério da Educação e dos clubes, nas referidas áreas.
Nas profissões, o principal tipo de vínculo é o contrato a prazo e quanto às
remunerações, a maioria dos licenciados que trabalham na escola afirmaram
receber ente os 1000 e os 1500 euros. No caso dos que trabalham no futebol
referiram valores inferiores a 250 euros e entre 250 e 500 euros. Notamos ainda
que metade dos inquiridos conseguiram o 1º emprego ainda antes do término da
licenciatura.
No que concerne ao investimento em estudos posteriores constatamos que a
maioria dos licenciados não pretende realizar qualquer tipo de formação pós-
licenciatura. Já no contexto do futebol, a realidade é bem diferente, visto que
praticamente toda a amostra frequentou ou pretende frequentar cursos de
treinador ou formações adjacentes. De qualquer modo, alguns licenciados mantêm
o contacto com a instituição formadora, especialmente para o contacto com
docentes.
A conclusão geral desta investigação prende-se com o facto global dos
licenciados com opção de futebol estarem inseridos profissionalmente no mundo
do futebol, exercendo cargos relacionados com a formação adquirida. Contudo,
esta inserção profissional não se revela plenamente compensada, uma vez que
necessitam de exercer funções noutros sectores do desporto para complemento do
salário mensal.
NOTAS
1
A declaração de Sorbonne, precede a declaração de Bolonha, com vista à
harmonização do ensino superior, assinada em Paris, a 25 de Maio de 1998, pela
Alemanha, França, Itália e Reino Unido. http://www.aic.lv/rec/Eng/new_d_en/
bologna/sorbon.html
2
A Declaração de Bolonha foi assinada em 19 de Junho de 1999, com o objectivo
de introduzir um conjunto de reformas no ensino superior, permitindo uma maior
harmonização, competitividade e atractividade para os estudantes europeus e de
outros continentes, nomeadamente dos Estados Unidos da América e da Ásia. http:
//ec.europa.eu/education/policies/educ/bologna/bologna_en.html
3
Na sequência do Desp. 1/ME/88, surge a Portaria nº 464-A/88, de 15 de Julho
(suplemento nº 162, I série do Diário da Republica) que fundamenta a criação
legal da licenciatura.