Golfe: os hábitos alimentares dos jogadores séniores
Golfe: os hábitos alimentares dos jogadores séniores
Ferreira de Brito, A.P. ¹
Ruben Gonçalves Pereira ²
¹Facultade de Ciencias da Educación. Universidade de Vigo. Espanha,
anapaulabrito08@gmail.com;
²Universidade Lusófona do Porto, anagolf@netcabo.pt
Palavras ' chave: golfe, alimentação, saúde.
INTRODUÇÃO
O objectivo deste estudo é apresentar o contexto que justifica a ligação das
performances dos jogadores de golfe com os seus hábitos alimentares. A
alimentação influencia inequivocamente a saúde e o desempenho desportivo dos
jogadores. Uma ingestão nutricional adequada contribui para optimizar a
composição corporal e reservas energéticas em função do desporto. A ausência de
estudos nesta área, despoletou o interesse da investigação, de forma a
contribuir cientificamente para um aplanar de conhecimentos e uma abertura para
a intervenção da abordagem por outras áreas científicas tais como a nutrição.
O interesse do tema, surgiu da vivência com os jogadores de golfe e da
modalidade em si, que embora sendo um tema importante no nosso estudo, poderá
ser apenas um indicador da performance.
METODOLOGIA
Este estudo exploratório configurou-se a partir da caracterização dos hábitos
alimentares dos jogadores de golfe com idades iguais ou superiores a 50 anos,
bem como em observações e medições directas dos campos e jogadores. Os
jogadores foram avaliados momentos antes da competição e as seguintes variáveis
determinadas: peso, estatura, envergadura, quatro pregas cutâneas (bicipital,
tricipital, subescapular, supraespinal), conforme a metodologia proposta. Foram
também mensurados os valores da bio impedância e aplicados
cardiofrequenciométros durante a volta. No que concerne à constituição da
amostra dos jogadores, esta foi do tipo aleatória por aglomerados e, por ser
estrategicamente plausível, representativa e viável, optamos por uma população
160 de jogadores, de idade média de 58 anos, em 45 campos de golfe. Os
critérios que estiveram subjacentes à selecção dos jogadores para objecto do
estudo foram:
- Serem jogadores com idade igual ou superior a 50 anos.
- Serem sócios da Federação Portuguesa de Golfe e praticantes regulares de
golfe.
- Terem Handicap homologado pelo respectivo clube.
Procedimentos Estatísticos
Variáveis descritivas e tabelas de frequência; Testes de independência do Qui '
Quadrado; Ró de Spearman e R de Pearson ' Medir o grau de dependência das
variáveis; t de Student e Anova ' Comparação de médias em cada nível de
variável; Análise Factorial ' Resumo de informação contida num conjunto mais
lato de variáveis.
RESULTADOS
A alimentação pode influenciar positiva ou negativamente o rendimento de um
jogador, devendo ser orientada de modo a melhorar a capacidade desportiva e uma
boa saúde a longo prazo. Uma selecção adequada dos alimentos, quanto à
quantidade, composição e momento de ingestão, influencia a saúde e performance
dos jogadores (ADA et al., 2000; Maughan & Burke, 2000). A alimentação dos
jogadores de golfe, deverá ser individualizada e adaptada a cada situação,
proporcionando a satisfação das necessidades energéticas e fisiológicas,
através de um adequado fornecimento em calorias, hidratos de carbono, gorduras,
proteínas, água, minerais e vitaminas e, por outro lado, um correcto
enquadramento destes alimentos em: ração de treino, ração de competição e ração
de recuperação. O gasto energético com o exercício depende da natureza,
duração, intensidade e frequência deste, e das características do jogador (peso
e composição corporal, altura, sexo e idade) (ADA et al., 2000). Uma correcta
nutrição promove melhores adaptações ao estimulo do treino, diminui o risco de
lesão ou de doença, uma vez que ao manter a função imunológica, colabora na
obtenção e manutenção de um peso e composição corporais adequados, preservando
as massas ósseas e musculares, modulando a disponibilidade dos substratos
energéticos, contribuindo também para melhoria significativa da recuperação
após o exercício (ADA et al., 2000).
Analisando os dados que nos são dados a interpretar, deparamos que não diferem
da normalidade, uma vez que 76,4% dos jogadores consideraram um factor
determinante uma correcta alimentação. Assim e, considerando que um jogador
deverá fazer 5-6 refeições diárias: pequeno-almoço, meio da manhã, almoço,
lanche, jantar e eventualmente ceia, os nossos dados encontram similitudes,
pois para 47,2% o número de refeições está distribuído pelas três principais,
sendo a refeição fundamental o pequeno-almoço para 75,9%, situando-se para
43,5% dos jogadores entre as 7 e as 8 horas, em dias de treinos ou torneios.
A alimentação condiciona o rendimento desportivo, para 84,9% dos jogadores.
A nível de consumo de lacticínios, podemos considerar dentro dos padrões
normais, uma vez que os jogadores que não os consomem de uma forma, os ingere
de outra. Assim, apenas 13,9% dos jogadores não tem hábito de ingerir leite e
25,8% não ingere iogurtes e apenas 3,8% não inclui nos seus hábitos alimentares
o consumo de queijo. É factor de preocupação para 77,9% dos jogadores a
selecção de meio gordo aquando da sua aquisição.
Os jogadores, preferem as suas refeições confeccionadas de modo à obtenção de
uma fácil digestão (cozidos e grelhados), promovendo o bom aproveitamento dos
seus nutrientes, com pouca gordura (azeite), e que não provoque flatulência,
evitando assim o feijão seco, o grão de bico, as favas e a batata.
Fora das refeições, o consumo de bebidas alcoólicas é reduzido sendo a água a
bebida de excelência para 87,3% dos jogadores, sendo que 91,7% dos jogadores
considera fundamental uma correcta hidratação ao longo do dia, tendo de novo a
primazia de 95,5%, para saciar a sede. A água é a bebida preferida por 48,4%
dos jogadores, sendo o vinho o eleito de 34,6% dos jogadores.
As bebidas alcoólicas, são consumidas com moderação ± 250 ml de vinho / 2
cervejas. As bebidas brancas, são consumidas por vezes com o café, por 46,2%
dos jogadores, porém 34,6% nunca as ingerem. Dois cafés são a quantidade
ingerida por 30,2% dos jogadores e três cafés por 27%. A ingestão de uma bebida
com cafeína em quantidade equivalente às perdas hídricas permite repor apenas
54% destas e aumentar a excreção de sódio e potássio (Gonzalez-Alonso et al.,
1992).
A sopa, é o alimento essencial e preferido por 77,4% dos jogadores e, 47,2%
afirmam ingerir na maioria das refeições, carne e peixe, na sua dieta semanal.
A carne é a preferida por 30,8% dos jogadores, sendo porém para 41,5% dos
jogadores incluída tantas vezes carne como peixe nas refeições. Na confecção
48,4% dos jogadores prefere os alimentos grelhados e 44% cozidos.
O azeite é a gordura escolhida para 90,5% dos jogadores, para a confecção dos
alimentos:
- Nos grelhados de novo o azeite é o escolhido por 50,6% dos jogadores optando
21,8% pelo sumo de limão e manteiga.
- Nas saladas, o tempero tradicional (azeite e vinagre) é utilizado por 63,5%
dos jogadores e somente 34% utiliza azeite e limão, de referir que 45,6% dos
jogadores ingerem a todas as refeições saladas ou legumes, e 45% na maioria das
refeições.
A moderação do consumo do sal começa a ser notório, assim 82,5% dos jogadores
não coloca sal após a confecção dos alimentos.
A ingestão de fibras é fundamental para 82,4% dos jogadores.
As leguminosas são consumidas frequentemente por 48,3% dos jogadores e 48,8%
inclui por vezes na sua dieta mediterrânica. O arroz é ingerido na maioria das
refeições por 41% dos jogadores.
Apenas 1,2% dos jogadores ingerem massas alimentícias a todas as refeições, e
os alimentos integrais, estão incluídos nos hábitos alimentares de 61% dos
jogadores.
O pão é excluído dos hábitos alimentares de 21,5% dos jogadores, sendo banido o
pão com manteiga por 74,4% dos jogadores às refeições.
Relativamente há existência de alimentos que procuram não ingerir antes da
competição 88,3% dos jogadores, não apresenta qualquer impedimento alimentar no
período pré competitivo. Antes da competição, um pequeno bife com pouco arroz e
salada é a escolha de 58,5% dos jogadores, massa com bife 30,4%, e, um bom bife
com pouco arroz e salada para 11,1% dos jogadores.
Para 50,9% dos jogadores dá preferência à fruta relativamente ao doce, e 34,9%
escolhe sempre fruta como sobremesa. Apenas 2,9% dos jogadores ingerem
guloseimas diariamente fora das refeições.
Entre a última refeição e a competição 94% dos jogadores não ingere alimentos.
Durante a competição, nos tempos mortos, os abastecimentos são realizados por
78,9% dos jogadores. A toma do abastecimento, acontece sempre para 67,5% dos
jogadores a qual, é executada a meio da competição por 85,7% dos jogadores, por
4,5% no final e apenas 1,3% não realiza qualquer toma. É inquestionável o
beneficio da ingestão nutricional durante o exercício físico na melhoria da
performance e/ou redução do stress dos sistemas cardiovascular, nervoso e
muscular (Casa et al., 2000). Não há uma composição e taxa de ingestão ideais,
uma vez que dependerá do stress fisiológico imposto, sendo este em função do
exercício, das características do jogador, condições climatéricas e do campo.
A última refeição antes da competição deverá ser uma refeição hipo calórico.
A refeição deverá ser ingerida no mínimo 3 horas e o máximo 4 horas antes da
competição.
Se o clima está quente, 86,6% dos jogadores procura beber mais líquidos. A
ingestão voluntária de fluídos repõe apenas 30 a 70% das perdas hídricas
(Hubbard et al., 1984), devendo assim os jogadores basear a sua hidratação em
regras e não no seu impulso fisiológico de beber. Um jogador deve iniciar o
exercício devidamente hidratados, particularmente quando é inevitável uma
desidratação significativa, pelo que se recomenda a ingestão de 400-600mL de
fluídos antes do seu início (Shirreffs et al., 2004).
Durante a competição os jogadores apresentam a necessidade de ingerir bebidas
açucaradas, isotónicas e energéticas, com o objectivo de evitar hipoglicémias e
proceder à reparação das perdas do organismo provocadas pelo esforço. A
presença de concentrações adequadas de sódio numa bebida melhora o seu sabor e
estimula a sede, sendo este facto benéfico para a promoção da ingestão
voluntária (Wemple et al., 1997). A concentração de sódio habitualmente perdida
pela transpiração (20-80mmol/L) é superior à habitualmente encontrada nas
bebidas desportivas (10-25mmol/L), devendo os jogadores ingerir um volume de
fluido equivalente a 150% do peso perdido (Shirreffs et al., 2004). Uma boa
hidratação não só é fundamental para o rendimento do jogador, mas também para
prevenção de lesões desportivas. A quantidade de água a ingerir depende do
trabalho muscular (tipo de campo, percurso a pé/buggy), temperatura, humidade e
altitude, sendo considerado ideal 1,5L como bebida e 1,5L incorporada nos
alimentos (sopa). Durante o exercício, os jogadores são encorajados a ingerir a
máxima quantidade de fluidos que tolerem sem desconforto gástrico ate igualarem
as perdas hídricas, tendo o cuidado de não as ultrapassarem para não aumentar o
peso corporal (Coyle, 2004). O consumo de alimentos ou refeições ligeiramente
salgadas com água, pode ser ainda mais eficiente para uma correcta rehidratação
que a ingestão de bebidas desportivas, água ou ambas (Ray et al., 1998).
Após a competição 43% ingere bebidas alcoólicas na refeição e 37%, exclui-as da
mesma.
Embora uma alimentação equilibrada deva fornecer as quantidades necessárias dos
nutrientes básicos, os suplementos podem por vezes ser aconselhados,
constatando-se que 82,2% de jogadores não toma medicamentos vitamínicos, apesar
da suplementação pós-exercício de glícidos (1g/kg), diminuir a proteólise,
tornando o balanço proteico mais positivo às 24h(Roy et al., 1997). Por atrasar
a sensação de fadiga central e servirem como substracto energético, a
suplementação com aminoácidos, apresentou resultados inconsistentes em humanos
(Blomstrand et al., 1991). A toma produtos farmacêutica para melhorar o
rendimento físico é realizada por 4,8% dos jogadores.
A média do gasto energético numa volta de golfe situa-se entre 622 e 960 Kcal
para os 18 buracos, dependendo do traçado do percurso (Magnusson, 1999),
estando o valor do nosso estudo, dentro destes valores, uma vez que apresenta
uma média de 821 Kcal. Os jogadores no nosso estudo indicam um valor de 104.5
b.p.m, o que nos permite concluir, que o traçado dos campos de golfe
portugueses, reúnem as características recomendáveis para a prática da
modalidade
CONCLUSÃO
A qualidade dos alimentos, é determinada pelos seus ingredientes químicos, uma
vez que são necessários compostos e elementos específicos, para uma nutrição
das células individuais. São pelo menos 45 compostos químicos e elementos
encontrados nos alimentos sendo considerados essenciais para as células
humanas, apesar de os mesmos não serem sintetizados pelo organismo, devendo
como tal estarem presentes na dieta evitando assim a doença ou a morte
provocada pela sua ausência.
Os glícidos são um nutriente primordial para os jogadores, devendo estar
presente em quantidades significativas na sua dieta alimentar (5-12g/kg/d).
A nível proteico, os jogadores não necessitam de aumentar o seu consumo nos
dias de competição, uma vez que os seus hábitos alimentares já superam as
recomendações (1,2 a 1,4/7 g/kg/d).
Relativamente aos lípidos, devem apresentar uma contribuição de cerca 20 a 25%
da energia ingerida.
Através de uma alimentação equilibrada, os jogadores ingerem as quantidades
necessárias para assegurar as exigências energéticas de vitaminas e minerais.
A suplementação não é considerada como factor preponderante não tendo
justificação como factor ergogénico.
A alimentação no dia da competição deve apresentar especificidades
nutricionais, nomeadamente a nível de glícidos e fluidos visando beneficiar o
desempenho e a recuperação dos jogadores.
A ingestão nutricional durante o exercício físico promove a melhoria da
performance uma vez que reduz o stress dos sistemas cardiovascular, muscular e
nervoso.
A alimentação dos jogadores, deve assim ter características nutricionais
especificas, de acordo com o quadro competitivo, torneio, fase de competição,
clima, momento de ingestão, entre outros, uma vez que a prioridade do jogador
deverá ser a optimização da sua composição corporal e reservas de substractos
energéticos e não de um garantir de balanço energético.
A superfície corporal e a actividade física de um indivíduo, determinam as suas
necessidades calóricas reais, considerando que a massa magra corporal, a taxa
metabólica em repouso e a actividade física, diminuem com o aumento da idade
pelo que os jogadores seniores deverão reduzir a ingestão calórica, para
compensar estas alterações, tendo em atenção que as necessidades dos nutrientes
essenciais não diminuem com a idade.
As necessidades calóricas, devem suprir a quantidade de energia necessária para
a manutenção das funções fisiológicas do organismo, metabolismo em repouso e as
consumidas através da actividade física. (Baker, 1983). Assim as doses diárias
recomendadas de ingestão calórica, sugerem uma redução de 10% em indivíduos a
partir dos 50 anos. (Schlienger et al, 1995).