Relação entre exercício físico, depressão e índice de massa corporal
Relação entre exercício físico, depressão e índice de massa corporal
J. Vasconcelos-Raposo
1
, H.M. Fernandes
2
, M. Mano
3
, E. Martins
3
O objectivo deste estudo é conhecer a relação entre o exercício físico, a
depressão e o índice de massa corporal (IMC). A amostra do estudo foi
constituída por 175 participantes (43 do sexo masculino e 132 do sexo feminino)
com idades compreendidas entre os 18 e 27 anos. Os instrumentos utilizados
foram o Inventário de Depressão de Beck (BDI), numa versão adaptada e validada
para a língua portuguesa, e uma adaptação da escala de exercício físico
proposta por Prochaska, Sallis, e Long (2001). Os resultados apontam para um
correlação negativa entre o exercício físico e a depressão, com significância
estatística. O grupo que não atinge a prática de exercício físico recomendado
apresenta valores médios de depressão superiores. Em conclusão, este estudo
permitiu confirmar estudos prévios que evidenciaram os efeitos positivos do
exercício físico sobre a depressão.
Palavras-chave: exercício físico, depressão, índice de massa corporal
Relation between exercise, depression and body mass index
The purpose of this study is to determine the relationship between physical
exercise, depression, and body mass index (BMI). The sample of the study
consisted of 175 participants (43 male and 132 female) with ages between the 18
and 27 years. The used instruments were: an adapted and validated Portuguese
version of the Beck Depressive Inventory (BDI) and an adaptation of the
physical exercise scale developed by Prochaska, Sallis and Long (2001). The
results suggested a negative correlation between the physical exercise and
depression, with statistical significance. The group that does not reach the
recommended level of physical exercise presents higher scores of depression in
comparison with the group that reaches. This study corroborates previous
studies that suggested positive effects of physical exercise on depression.
Key words: exercise, depression, body mass index
Ao longo dos últimos anos, verificou-se um aumento do número de sujeitos com
quadro clínico de depressão e segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em
2020, a depressão será das doenças com maior prevalência na população em geral
(McKendree-Smith, Floyd, & Scogin, 2003). Em Portugal, a sintomatologia
depressiva é significativamente menos intensa nos estudantes universitários do
sexo masculino do que nos estudantes do sexo feminino (Campos & Gonçalves,
2004).
Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-IV-
TR) (APA, 2000) a depressão major é descrita como um período de pelo menos duas
semanas durante o qual existe humor depressivo ou perda de interesse em quase
todas as actividades. Os indivíduos devem, também, experimentar pelo menos um
sintoma adicional de uma lista que inclui alterações no apetite ou peso, sono e
actividade psicomotora, diminuição da energia, sentimentos de desvalorização
pessoal ou culpa, dificuldades em pensar, concentrar-se ou tomar decisões, ou
pensamentos recorrentes a propósito da morte ou ideação, planos ou tentativas
suicidas.
No que se refere ao exercício físico este pode ser definido como uma forma de
actividade física, que corresponde ao conjunto de movimentos corporais
planificados, estruturados e repetitivos e à qual o individuo adere com o
objectivo de implementar ou manter uma ou mais componentes da condição física e
da sua saúde (Buckworth & Dishman, 2002).
Neste sentido, estudos recentes têm-se debruçado sobre o potencial papel da
actividade física na prevenção e/ou tratamento da depressão e dos sintomas
depressivos (Paluska & Schwenk, 2000). Vasconcelos-Raposo e Rodrigues
(2006) com o propósito de analisar o bem-estar psicológico, a auto-estima e a
depressão em indivíduos praticantes de actividade física regular, questionaram
110 indivíduos. Verificaram que metades destes acreditavam que a actividade
física pode contribuir para um melhor bem-estar psicológico; sendo estes
resultados mais acentuados nas mulheres, nos idosos e nos atletas. Deste modo,
os indivíduos optam pelo exercício físico como estratégia para regular os seus
estados depressivos e de forma a aumentarem os seus níveis de energia.
Os tratamentos de depressão são, frequentemente, desenvolvidos por
profissionais clínicos tais como: médicos de clínica geral, psiquiatras e
psicólogos, recorrendo a aconselhamento e anti-depressivos (Teychenne, Ball,
& Salmon, 2008).
Estes últimos autores com o objectivo de estudar a relação entre a duração, a
frequência e a intensidade da actividade física e a depressão observaram que
existe uma associação inversa entre actividade física e a probabilidade dos
adultos sofrerem de depressão. Com o mesmo propósito, Brown, Fond, Burton,
Marshall e Dobson (2005), num estudo que contou com a participação de 9207
mulheres de meia-idade, constataram que existe uma clara relação entre
actividade física e a diminuição de sintomas depressivos. O exercício ajuda a
reduzir os sintomas depressivos consequentes dos acidentes vasculares
cerebrais, contribuindo para uma melhoria na qualidade de vida destes
indivíduos (Lai, Studenski, Richards, Perera, Reker, Rigler et al., 2006).
Fukukawa, Nakashima, Tsuboi, Kozakai, Doyo, Niino et al. (2004), examinaram a
associação entre a actividade física e os sintomas depressivos em 1151 adultos
no Japão, verificando que actividade física exerce um efeito protector no
surgimento de sintomas depressivos.
Mais tarde, também Harris, Cronkite e Moos (2006) examinaram a relação entre
actividade física, estratégias de exercício e depressão em pacientes
inicialmente deprimidos. Os resultados sugeriram que a actividade física está
associada à redução da depressão, ajudando a resolver problemas de saúde e as
situações stressantes do quotidiano. Um estudo que comparou o efeito de dois
programas de exercício, estruturado clinicamente e actividades domésticas, em
32 mulheres depressivas na área de Boston, concluíu que ambos estavam
associados à redução de sintomas depressivos e que o programa das actividades
domésticas aumentava o envolvimento das mulheres na prática desportiva (Craft,
Freund, Culpepper, & Perna, 2007).
Com o objectivo de estudar se o exercício regular está associado à ansiedade,
depressão e personalidade em função da idade e do género numa população de
19288 indivíduos, Moor, Beem, Stubbe, Boomsma e Geus (2006) verificaram que os
praticantes de exercício regular encontram-se em média menos deprimidos, menos
neuróticos, menos ansiosos, mais extrovertidos e procuravam mais emoção e
aventura, sendo mais desinibidos que os não praticantes. Hales, Dishman,
Pfeiffer, Felton, Saunders Hales et al. (2006) testaram a relação entre auto-
conceito, auto-estima, actividade física e sintomas depressivos, em 1250
adolescentes, sendo que os resultados mostraram evidências de que a actividade
física e a participação desportiva podem reduzir o risco de sintomas
depressivos nas adolescentes.
Babyak, Blumenthal, Herman, Khatri, Doraiswamy, Moore e colaboradores (1999)
avaliaram o estado da perturbação depressiva major em 156 adultos no final da
realização de três tipos de actividades: exercício aeróbio, terapia
farmacológica ou a combinação dos dois. Concluíram que após 4 meses de
tratamento, os três grupos apresentavam melhorias significativas. Após 10
meses, o grupo do exercício aeróbio apresentou taxas de recaídas
significativamente mais baixas do que no grupo dos indivíduos medicados. A
terapia do exercício está associada, significativamente, ao benefício
terapêutico de indivíduos com perturbação depressiva major, especialmente se
este for contínuo e duradouro. Mais tarde, um estudo mostrou que, apesar de não
existir um efeito anti-depressivo directo do exercício físico sobre a
depressão, o facto de treinar envolveu os indivíduos num programa de tratamento
cognitivo-comportamental, associado a mudanças positivas no funcionamento dos
indivíduos e aumentando as estratégias, os esforços para continuar a praticar e
melhorando a consciência de bem-estar físico (Vliet, Auweele, Knapen,
Rzewnicki, Onghena, & Coppenolle, 2004)
Juarbe, Gutiérrez, Gilliss e Lee (2005) investigaram as mudanças e a associação
entre os sintomas depressivos, actividade física e índice de massa corporal,
concluindo que os sintomas depressivos, o aumento de peso e a inactividade
física em 232 mulheres na pré-menopausa requerem intervenções focalizadas
devido às alterações hormonais que ocorrem nesta fase. Deste modo, a promoção
de altos níveis de actividade física e a identificação dos riscos de depressão
pode trazer melhorias significativas na saúde mental e física. McLarem, Beck,
Patten, Fick e Adair (2008) estudaram a relação entre o índice de massa
corporal e a saúde mental numa população adulta com indivíduos entre 18 e os 64
anos com cerca de 5383 indivíduos. Constataram que é importante considerar o
tipo de doença mental, nível de severidade relativamente ao IMC, sexo e idade
ao examinar a relação entre o IMC e a saúde mental. Do estudo constataram não
existir uma associação global entre estas 2 variáveis, no entanto, constataram
uma diversidade de associações aquando de uma análise detalhada das várias
doenças ao nível da severidade.
Num estudo que contou com a participação de 4655 mulheres com idades
compreendidas entre os 40 e 65 anos, estudou-se a associação entre a obesidade
e sintomas depressivos através de uma população epidemiológica, observando-se
que a obesidade e a depressão se encontram positivamente associadas (Linde,
Jeffery, Finch, Simon, Ludman, Operskalski et al., 2007).
Na mesma perspectiva, Dragan e Akhtar-Danesh (2007), estudaram a relação entre
o índice de massa corporal e depressão numa amostra de 12376 indivíduos,
verificando-se uma forte associação entre estas duas variáveis e diferenças de
género. Nos homens, altos níveis de índice de massa corporal encontram-se
associados a níveis severos de depressão, e ainda que, altos níveis de
depressão encontram-se associados a índices de massa corporal baixos. Na maior
parte das mulheres, não se verificou uma relação directa, nem estatisticamente
significativa, entre obesidade e depressão. De realçar, a relação inversa entre
a actividade física e o índice de massa corporal que se traduz na expressão
mais actividade física ' menos problemas de peso.
No sentido de estudar a depressão em áreas rurais e urbanas, Colla, Buka,
Harrington e Murphy (2006) constataram que a depressão era mais baixa nas áreas
rurais da Nigéria e mais alta nos sujeitos residentes nas áreas urbanas dos
Estados Unidos. As mulheres, com idades entre os 45 anos, que residem desde a
infância, em meio urbano apresentam níveis de depressão mais altos. Hauenstein,
Petterson, Rovnyak, Merwin, Heise e Wagner (2007), investigaram os tratamentos
mentais facultados em meio rural e urbano. Os resultados evidenciaram que os
residentes em áreas rurais recebem menos tratamentos de saúde mental quando
comparados com indivíduos de áreas metropolitanas, numa amostra de 108983
sujeitos, com idade superior a 18 anos.
Em síntese, pela análise dos artigos revistos, constatamos que existe um
consenso sobre a temática pois os estudos apontam para a existência de relações
entre o exercício físico e a depressão e entre o IMC e a depressão, enquanto a
relação conjunta entre estas três dimensões tem sido algo negligenciado na
literatura.
Deste modo, este trabalho tem por objectivo conhecer a relação entre a
depressão, o exercício físico e o IMC. Pretende-se ainda, compreender a
diferença entre os praticantes de exercício físico e os não praticantes ao
nível de sintomatologia depressiva; comparar o nível de depressão nos
indivíduos que praticam os níveis de actividade física recomendado (no adulto,
30 minutos consecutivos ou fraccionados diariamente em cinco ou mais dias por
semana, Haskell et al., 2007; Pate et al., 1995); compreender a relação entre
os indivíduos que habitam em meio rural ou urbano e os níveis de depressão; e,
por último, entender a relação entre os níveis de depressão e o índice de massa
corporal da amostra recolhida.
Metodologia
Amostra
A amostra deste estudo foi constituída por 175 sujeitos. Inicialmente foram
aplicados 200 questionários, mas 25 destes foram anulados, pois verificou-se
que não eram válidos por ausência de resposta ou por incompreensão da resposta
assinalada.
Deste modo, este estudo envolveu 43 elementos do sexo masculino (24,6%) e 132
elementos do sexo feminino (75,4%) dos distritos de Bragança, Porto e Vila
Real, com idades compreendidas entre os 18 e os 27 anos de idade (20.95±2.27).
Quanto ao estado civil, 97,7% dos indivíduos eram solteiros e 2,3% eram
casados. No que diz respeito às habilitações literárias, o ensino secundário
predomina com 61,7% do total da amostra enquanto os restantes 38,3% têm uma
formação superior. Relativamente à profissão, a totalidade da amostra era
estudante.
Quadro 1: Caracterização da amostra
n %
Sexo
Masculino 43 24,57
Feminino 132 75,43
Estado civil
Solteiro 171 97,70
Casado 4 2,30
Habilitação literár
Ensino Secundári 108 61,71
Ensino Superior 67 38,29
Relativamente à prática de actividade física (AF), as recomendações actuais
envolvem o mínimo de 30 minutos consecutivos ou fraccionados em cinco ou mais
dias da semana (Haskell et al., 2007; Pate et al., 1995). Perante o exposto, na
nossa amostra constata-se que 13,1% da amostra (n=23) atinge as recomendações,
enquanto 86,9% (n=152) não atinge. Quando diferenciados por níveis de AF, cerca
de 26,9% são inactivos, 36,6% praticam entre 1 a 2 dias por semana
(insuficientemente activos), 23,4% foram considerados moderadamente activos
(3 a 4 vezes por semana) e os 13,1% que atingiam as recomendações foram
considerados como muito activos
Procedimentos
Utilizámos o Beck Depressive Inventory (Beck, Ward, Mendelson, Mock, &
Erbaugh, 1961; BDI), adaptado para língua portuguesa na versão do Brasil por
Gorestein e Andrade (1998), que por sua vez foi adaptado para português de
Portugal por Pinto e Vasconcelos-Raposo (no prelo) para avaliar a depressão e
sintomas depressivos. Este inventário é constituído por 21 itens sendo que cada
item contém 4 frases, que descrevem 4 possibilidades ordenadas por gravidade
depressão sintomática com cotação de 0 a 3. No presente estudo, as respostas
foram dadas numa escala de tipo Likert, representando 1 ' discordo, 2- nem
concordo nem discordo e 3 ' concordo. Os itens referem-se a tristeza,
pessimismo, sensação de fracasso, falta de satisfação, sensação de culpa,
sensação de punição, auto-depreciação, auto-acusação, ideias suicidas, crises
de choro, irritabilidade, retracção social, indecisão, distorção da imagem
corporal, inibição no trabalho, distúrbio de sono, perda de apetite, perda de
peso, preocupação somática, diminuição de libido. De acordo com Pinto e
Vasconcelos-Raposo (no prelo), a BDI apresenta uma estrutura factorial com 3
constructos. O factor 1 representa a dimensão auto-depreciação e inclui os
itens 1, 4, 12, 13 e 14; o factor 2 designado cognição-afecto é constituído
pelos itens 3, 5, 6, 7, 15 e 17; e o factor 3 representa a dimensão somática e
engloba os itens 16,18, 19 e 21. Aquando da utilização destes factores para a
amostra em estudo, verificou-se que os coeficientes alpha de Cronbach foram
muito baixos, isto é 0.54 para os factores 1 e 2 e 0.28 para o factor 3. Tendo
em conta estes valores de consistência interna medíocres e ainda, o facto da
dimensão depressão global (somatório total dos itens) apresentar um valor de
consistência interna de 0.79, decidiu-se tratar esta variável
unidimensionalmente, visto este atingir um valor satisfatório.
Utilizaram-se também, duas variáveis para avaliar a frequência do exercício
físico habitual numa semana normal e na última semana, com base numa escala
intervalar que varia entre zero e sete dias. Para isso efectuámos uma adaptação
da escala de exercício físico de Prochaska, Sallis e Long (2001), apresentando
a duração de 30 minutos como valor mínimo de prática de AF por dia.
Resultados
Relativamente à análise inicial descritiva (dados não apresentados) verificou-
se que o valor de skewness(assimetria da curva) para a depressão geral
encontra-se dentro do intervalo considerado para uma distribuição normal;
quanto ao valor de kurtosis(achatamento da curva), este encontra-se
ligeiramente acima do intervalo, porém tendo em conta a dimensão da nossa
amostra, foram estudados os dados como seguindo uma distribuição normal,
recorrendo à estatística paramétrica.
No quadro_2 são apresentados os resultados de análises comparativas, onde se
constata que o sexo feminino e os indivíduos que não atingem as recomendações
de AF reportam níveis médios superiores de depressão, sendo essas diferenças
significativas (p<0.05).
Quadro_2. Análise comparativa por sexo, recomendações de AF e local de
residência
Depressão Geral t p
Feminino 6.48 (0.50) 2.59 0.01
Masculino 6.24 (0.55)
Não atinge 6.46 (0.52) 2.65 0.01
Atinge 6.16 (0.44)
Rural 6.37 (0.51) 1.40 0.10
Urbano 6.48 (0.52)
Da análise comparativa das categorias da prática de exercício físico,
constatou-se que a depressão não apresenta valores significativos (p>0.05); os
valores médios vão diminuindo à medida que se passa para uma categoria em que o
sujeito é mais activo no que diz respeito à prática desportiva: inactivo
(6.42±0.53), insuficientemente activo (6.36±0.61), moderadamente activo
(6.37±0.51) e muito activo (6.08±0.48).
A análise comparativa das categorias do IMC, revelou que a depressão geral não
apresenta valores significativos (p>0.05), mas apesar disso, os valores médios
tendem a diminuir à medida que se passa para uma categoria em que o IMC é
superior: magreza (6.32 ±0.28), peso normal (6.35 ±0.57), peso excessivo
(6.41±0.55).
De acordo com os valores apresentado no quadro_3, quanto ao índice de massa
corporal, constatamos que 6,3% (n= 11) da amostra encontra-se no intervalo da
magreza (IMC<18.5), 83,4% dentro do peso normal (IMC 18.5> <25)e 10,3% (n= 18)
com peso excessivo (IMC>25).
Quadro_3. Análise dos participantes por categoria e dos valores médios (ANOVA)
das categorias da frequência de prática de exercício físico, e do IMC
_____________________________________________________________________________
| _______________|____N_____|Depressão_Gera|_______F_______|_______p________|
|Inactivo_________|____47____|__6.42_(0.53)__| _____________| ______________|
|Insuficientemente| 64 | 6.36 (0.61) | 2.062| 0.107|
|activo___________|__________|_______________|_______________|________________|
|Moderadamente | 41 | 6.37 (0.51) | | |
|activo___________|__________|_______________|_______________|________________|
|Muito_activo_____|____23____|__6.08_(0.48)__|_______________|________________|
|Magreza__________|____11____|__6.32_(0.28)__|_______________|________________|
|Peso_Normal______|___146____|__6.35_(0.57)__|__________0.400|___________0.960|
|Peso_Excessivo___|____18____|__6.41_(0.55)__| _____________| ______________|
Discussão
De acordo com os nossos resultados, a depressão e o exercício físico são duas
variáveis que apresentam uma relação inversa. Quando uma das variáveis aumenta,
a outra tende a diminuir significativamente. Esta associação já tinha sido
apontada por Teychenne e colaboradores (2008), Brown e colaboradores (2005),
Lai e colaboradores (2006), Fukukawa e colaboradores (2004), Harris e
colaboradores (2006), Hales e colaboradores (2006), Babyak e colaboradores
(1999) que concluíram que a prática de exercício físico contribui para a
diminuição dos sintomas depressivos.
Apesar da relação entre a depressão e o IMC não sugerir valores significativos,
convém referir que o comportamento das médias sugere um aumento das médias da
variável depressão conforme cresce o IMC. Mc Larem e colaboradores (2008)
também tinham verificado a inexistência de relação estatisticamente
significativa entre a depressão geral e o IMC. Porém, chamavam atenção para o
facto de se ter em conta outros factores como o nível de severidade
relativamente ao IMC, a idade e o tipo de doença mental no qual se verificavam
associações. No entanto, a nossa amostra para cada categoria do IMC não
apresenta dimensões que permitam a comparação, a fim de obter resultados
generalizáveis à população portuguesa. Contudo, Linde e colaboradores (2007)
tinham observado uma associação positiva entre a depressão e a obesidade, o que
não é verificado no presente estudo. É de realçar que 83.4% da nossa amostra
apresentou peso normal, enquanto 10.3% apresenta peso excessivo e 6.3% magreza.
Estes valores, de algum modo vão ao encontro dos argumentos apresentados pelo
grupo de trabalho da APA (American Psychological Association) que participa no
processo de redefinição dos critérios de diagnóstico das perturbações
alimentares a serem implementados com o DSM-V, previsto para 2012.
Num estudo deste tipo, com populações clinicamente diagnosticadas, importa ter
em consideração a terapêutica medicamentosa a que os sujeitos possam estar
submetidos, pois é necessário controlar os efeitos de uma relação positiva
entre a ingestão de medicamentos e o IMC.
Hauenstein e colaboradores (2007) observaram que os residentes nas áreas rurais
recebem menos tratamentos de saúde mental em comparação com os residentes em
áreas metropolitanas. No mesmo sentido. Colla e colaboradores (2006) mostraram
que a depressão era mais baixa nas áreas rurais da Nigéria do que nas áreas
urbanas dos Estados Unidos da América. Os resultados do nosso estudo vão ao
encontro do que se verifica na literatura internacional, assim como se aplicam
os argumentos de carácter sociocultural, avançados naquele estudo, pois as
desigualdades político-ecómicas que explicam a desigualdade de acesso a
serviços de saúde, existentes entre as zonas rurais e urbanas, são também
verdade na realidade por nós estudada. Porém, deve-se ter em conta que a nossa
amostra foi constituída apenas por estudantes universitários, e apesar de serem
provenientes do meio rural, a vida académica envolve-os, maioritariamente, num
contexto urbano, ou seja, os habitantes que se indentificaram como residentes
no meio rural não são verdadeiramente representantes dessa zona de residência,
uma vez que já foram aculturados ao ethos da vida urbana e em particular da
vida inerente à condição de estudante universitário.
De acordo com os nossos resultados, a depressão é, em média, superior nos
indivíduos que não atingem os níveis de exercício físico recomendado em relação
aos que atingem os níveis recomendados. O nosso estudo vai ao encontro das
conclusões de Moor e colaboradores (2006) tendo em conta que os autores
verificaram que em média os praticantes de exercício regular encontravam-se
menos ansiosos, menos deprimidos, mais extrovertidos e desinibidos, procurando
mais a emoção e a aventura. Também constatamos que os valores médios de
depressão diminuem à medida que se passa para uma categoria do exercício físico
no qual o indivíduo é mais activo, podendo-se concluir que o exercício físico
contribui, significativamente, na redução ou prevenção da depressão ou sintomas
depressivos.
A depressão e o IMC não apresentam uma associação significativa, embora os
valores médios tendem a diminuir e chegam mesmo a ser inferiores para os
indivíduos com peso excessivo, enquanto o valor médio superior se verifica para
a categoria magreza, mas como referimos anteriormente, a dimensão da nossa
amostra não permite retirar conclusões adequadas pelas categorias do IMC. Pelo
contrário, Dragan e colaboradores (2007) tinham verificado uma forte associação
entre o IMC e a depressão, sendo que altos níveis de depressão estavam
associados a baixos e altos níveis de IMC nos homens. No caso das mulheres não
se verificaram diferenças estatisticamente significativas.
Em média, as mulheres apresentam valores superiores de depressão quando
comparados com os homens, o que confirma o estudo de Campos e Gonçalves (2004)
realizado em Portugal, e igualmente com uma amostra de estudantes
universitários. Aquando da comparação dos níveis de exercício físico com as
diferentes categorias de depressão verificou-se que o exercício físico tem um
efeito de prevenção ao nível da sintomatologia depressiva, porém, no nosso
estudo, não se apresentou estatisticamente significativo. Já anteriormente,
Teychenne e colaboradores (2008) tinham observado uma associação
estatisticamente significativa quanto ao efeito preventivo da actividade física
sobre a depressão.
Conclusão
Os nossos resultados demonstram que à medida que se aumenta a prática de
exercício físico, os sintomas depressivos tendem a diminuir, não se verificando
nenhuma associação entre a depressão e o IMC geral. Porém verificou-se que os
indivíduos que praticam os níveis de exercício físico recomendado apresentam
níveis médios de depressão inferiores aos que não atingem. De notar que os
estudantes universitários do sexo feminino apresentam valores médios superiores
de depressão em comparação com o sexo masculino. Constatámos que o que a
prática desportiva poderá ter um carácter positivo na prevenção ou redução da
depressão nos adultos.
Em investigações futuras, sugerimos a realização de estudos que procurem
comparar o efeito de programas de actividade na melhoria dos estados de humor
devendo ser preocupação identificar as diferenças entre as actividade de
carácter aeróbio e anaeróbio, que poderá ter efeitos mais eficazes na melhoria
da depressão.
A literatura existente está, fundamentalmente, dirigida para a população idosa
levando-nos a alertar para que futuras investigações sobre esta problemática
incidam nas faixas etárias de adolescentes e adultos.