Desenvolvimento motor de crianças entre 0 e 18 meses de idade: Diferenças entre
os sexos
Os possíveis fatores de risco que influenciam nas aquisições comportamentais da
criança têm sido alvo de diversas pesquisas (Eikmann et al., 2007; Halpern,
Giuliani, Victora, Barros, & Horta, 2000; Pierce, Munier, & Myers,
2009; Pretti, Milan, & Foschiani, 2010; To et al., 2004). Dentre estes, se
destacam os fatores relacionados à especificidade das tarefas ofertadas à
criança (Haydari, Askari, & Nezhad, 2009; Nobre et al., 2009), assim como
os fatores sócioeconômicos e ambientais pobres em oportunidades, os quais
potencializam atrasos no crescimento e desenvolvimento infantil (Eikmann et
al., 2007; Hamadani et al., 2010).
Considerando os tipos de estímulos ofertados as crianças, pesquisadores
demonstram esforços para identificar as consequências do tipo de tarefas e
atividades as quais a criança é exposta (Pin, Eldridge, & Galea, 2007).
Frente a isso, as diferenças no desempenho e habilidades motoras entre meninos
e meninas, se tornavam alvo de preocupações, pois a indução de atividades
específicas para cada sexo pode influenciar as aquisições motoras das crianças.
Essas distinções, na maioria das vezes são determinadas pelo contexto e pelas
atividades que são propostas a criança, através de brinquedos e atividades
impostas pelo padrão cultural considerado mais apropriado para cada um deles
(Schwengber, 2009).
Teóricos do desenvolvimento humano ressaltam que as diferenças entre os sexos
estão relacionadas às expectativas pessoais e sociais vivenciadas pela criança
desde o seu nascimento, as quais podem direcionar seus comportamentos (Papalia,
Olds, & Feldman, 2010; Haywood & Getchell, 2010). Esta influência na
formação do indivíduo se refere a três aspectos fundamentais: papeis de gênero
(atitudes, habilidades e traços de personalidade considerados apropriados para
meninos e meninas segundo contexto sócio cultural); tipificação de gênero
(crianças passam a aprender características consideradas apropriadas a cada
sexo); e estereótipos de gênero (generalizações predeterminadas sobre o
comportamento adequado ao masculino e feminino) (Papalia et al., 2010). Sendo
assim, a abordagem desenvolvimentista afirma que todos os seres humanos são
seres sociais, ou seja, desde o período pré-natal se desenvolvem dentro de um
contexto histórico, social e cultural preestabelecido (Papalia et al., 2010;
Gallahue & Ozmun, 2005; Haywood & Getchell, 2010).
Assim, as crianças aprendem os papeis relacionados aos gêneros, masculino e
feminino, por meio da socialização (Papalia et al., 2010). Diante disto, não há
dúvidas de que os indivíduos apresentam diferenças sexuais determinadas
biologicamente, no entanto, as características de cada um não estão
relacionadas apenas ao sexo, mas sim aos valores familiares, bem como a fatores
sociais, econômicos e culturais. Consequentemente, as disparidades no
comportamento motor entre os sexos surgem com o avançar da idade (Gallahue
& Ozmum, 2005).
Estudos recentes com crianças acima dos 4 anos demonstram que fatores
ambientais influenciam nas aptidões de cada criança (Cardoso, 2008; Schwengber,
2009). Outras pesquisas com crianças em idade escolar, constaram diferenças de
desempenho entre meninos e meninas em diversos testes motores analisados e
associam essa discrepância, principalmente, às oportunidades propiciadas para
cada sexo (Valentini, 2002; Carvalhal & Vasconcelos-Raposo, 2007). Porém,
estudos na primeira infância sugerem que meninos e meninas apresentam
desenvolvimento motor semelhante durante os primeiros 2 anos de vida (Saccani
& Valentini, 2010; Eikmann et al., 2007).
É fundamental diagnosticar, precocemente, se o desenvolvimento esta ocorrendo
de forma típica ou se nos primeiros anos de vida, já está sendo influenciado
pelo contexto e as tarefas ofertadas às crianças. Uma das preocupações,
portanto, é detectar em que período do desenvolvimento as diferenças na
trajetória são observadas, para uma posterior investigação das causas destas
diferenças. O estudo das diferenças entre meninos e meninas tem sido conduzido
por décadas (Thomas & French, 1985). Embora, considerando o desenvolvimento
motor, se observa maior incidência de estudos direcionados a faixas etárias
acima dos 4 anos de idade (Cardoso, 2008; Miranda, Resegue, & Figueiras,
2003; Schwengber, 2009) e poucos estudos em crianças com menos de 2 anos
enfocando no desenvolvimento motor (Eikmann et al., 2007; To et al., 2004; Lung
et al., 2011). Além disso, os resultados, em geral, são parciais e
contraditórios quanto as diferenças motoras nos primeiros 2 anos de vida. Ainda
mais, muitos estudos não contemplam todas as faixas etárias (Lung et al., 2011;
WHO Multicenter Growth Reference Study & Onis, 2006) ou não consideram
aspectos motores (Eikmann et al., 2007; Gabbard, Caçola, & Rodrigues,
2009), embora indiretamente, indicam semelhanças motoras entre os sexos até os
dois anos de idade (Eikmann et al., 2007; Saccani & Valentini, 2010).
Considerando que a literatura assegura que as brincadeiras e tarefas oferecidas
para meninos e meninas predispõem a um crescimento e desenvolvimento
diferenciado entre eles (Wanderlind, Martins, Hansen, Macarini, & Vieira,
2006) a investigação das diferenças motoras entre sexos se torna essencial
mesmo antes dos dois anos; porém, em delineamentos que contemplem as diferentes
idades em meses (exemplos: transversal e longitudinal) uma vez que as mudanças
no desenvolvimento motor são observadas cotidianamente (Clark & Metcalfe,
2002). Sendo assim, esta pesquisa se propôs a avançar o conhecimento atual na
área, investigando as diferenças entre os sexos no que se refere ao
desenvolvimento motor de meninos e meninas, do nascimento até o caminhar
independente. Foi estabelecida como hipótese a não observação de diferenças
significativas entre os sexos no desenvolvimento motor amplo nas faixas etárias
investigadas.
MÉTODO
Amostra
Estudo descritivo e observacional de caráter associativo e comparativo com
delineamento transversal, onde foi observado o desempenho dos bebês em um único
momento avaliativo e feita associação entre variáveis qualitativas e correlação
entre variáveis quantitativas (Thomas & Nelson, 2007). Foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (nº
2002018).
Os participantes foram crianças (N=90) de 0 a 18 meses de idade, de ambos os
sexos, provenientes de Escolas de Educação Infantil Particulares (EEIP's) do
Município de Caxias do Sul, no sul do Brasil. Foram excluídas crianças com: 1)
Baixo peso ao nascer (< 1500g); 2) Prematuridade; 3) Alterações neurológicas;
4) Problemas osteomioarticulares (fraturas; lesões nervosas periféricas,
infecção osteomuscular, entre outras citadas pelos cuidadores); 5) Idade
materna precoce e avançada. Além disso, foram excluídos do estudo crianças
participantes de programas de intervenção. Os grupos, masculino (GM, N = 45) e
feminino (GF, N = 45) foram pareados por idade. A renda familiar dos
participantes variou entre 1 e 5 ou mais salários mínimos, sendo que a maior
porcentagem da amostra (50%) apresentava 5 ou mais salários mínimos (GM: 57.8%;
GF:42.2%). A escolaridade dos pais também foi considerada, onde se observou
maior porcentagem de pais com ensino superior (38.9) e de mães com ensino médio
completo (42.2%).
Instrumentos
Para avaliar o desenvolvimento motor foi utilizada a Alberta Infant Motor Scale
(AIMS) com a versão adaptada e validada para crianças brasileiras (Valentini
& Saccani, 2011). A AIMS é uma escala de avaliação observacional, empregada
para medir a evolução das aquisições motoras amplas em bebês, a partir de seu
nascimento até o alcance da marcha independente (0 a 18 meses de idade),
através de manuseios mínimos, com duração média de vinte minutos.
A AIMS enfatiza a sequência do desenvolvimento do controle postural quando em
quatro posturas básicas: prono, supino, sentado e em pé. É composta por
cinquenta e oito itens, divididos nas quatro posições posturais das crianças,
21 posturas em prono; 9 em supino; 12 sentado e 16 na posição em pé, avaliando
em cada item três aspectos do comportamento motor: postura, movimentação
antigravitacional e a superfície corporal em que ocorre a sustentação do peso.
Durante a avaliação deve ser observado o desempenho motor da criança nas
posturas, atribuindo 1 ponto para cada critério motor observado e 0 ponto para
cada critério não observado. A escala disponibiliza investigar o desempenho da
criança por meio de escore bruto, percentil e categorização do desempenho. O
escore total bruto varia de 0 a 58 pontos e resulta da soma de itens nas 4
posturas. A curva percentílica é obtida a partir da relação do valor bruto com
a idade da criança. Além disso, os percentis permitem inferir o status do
desempenho motor do bebê, categorizando os resultados de acordo com os
seguintes critérios: a) desempenho motor normal/esperado quando o resultado no
teste estiver acima de 25% na curva percentílica; b) desempenho motor suspeito
quando a o resultado estiver entre 25% e 6% na curva percentilica; c)
desempenho motor anormal quando o resultado for menor ou igual a 5% na curva
poercentilica (Piper, Pinnell, Darrah, Maguire, & Byrne, 1992)
O questionário referente às condições biológicas e sócio-ambientais do bebê
pesquisou os seguintes aspectos: data de nascimento; semanas de gestação;
índice de APGAR no 1º e 5º minuto; idade materna; peso ao nascer; comprimento
ao nascer; renda familiar e escolaridade dos pais.
Procedimentos
Inicialmente, foram apresentados os objetivos e as propostas deste estudo aos
diretores e/ou coordenadores das escolas. Após o consentimento das escolas, os
pais ou responsáveis legais das crianças foram contatados quanto ao interesse
de seus filhos participarem do estudo. As crianças foram avaliadas somente após
a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Foram agendados horários com as EEIP's para realizar as avaliações, e enviado
os questionários aos pais sobre informações socioeconômicas. Durante as
avaliações, conduzidas por dois avaliadores independentes, treinados no uso da
AIMS, os bebês se encontravam vestidos com roupas confortáveis que garantiam a
livre movimentação. As avaliações ocorreram nas dependências das instituições,
sobre colchonetes ou dispositivos fornecidos pelo local. Todas as avaliações
foram registradas em filmagem (câmera SONY w80), as quais foram usadas
unicamente para fins científicos, sem exposição dos participantes, os quais
tiveram sua identidade preservada. As crianças foram avaliadas por meio da
observação dos 58 itens da AIMS distribuídos nas quatro posturas, com o mínimo
de manuseios e facilitações. Durante a avaliação, o examinador observou a
movimentação da criança em cada uma das 4 posições, considerando nesta
observação, como a criança apoia a superfície do corpo, ou seja, como sustenta
seu peso, além da qualidade da postura e dos movimentos antigravitacionais.
Foram oferecidos estímulos visuais, auditivos e verbais para encorajar a
criança a adquirir as posturas desejadas, não sendo indicado a manipulação da
criança. Após avaliar os itens pertencentes aquelas janelas do estágio de
desenvolvimento motor, o examinador somou os pontos creditados nas quatro
posturas para obter o escore total da AIMS.
Após coleta de dados, as filmagens foram utilizadas para análise da
objetividade entre os dois avaliadores. Os coeficientes de correlação oscilaram
entre α= .86 e α= .99. Estes resultados são considerados adequados, e estão de
acordo com o proposto pelas autoras do teste que sugerem adequados os valores
acima de 80% (Piper et al., 1992).
Análise Estatística
Os dados dessa pesquisa foram organizados e analisados no programa estatístico
SPSS 17.0 (Statistical Package to Social Sciences for Windows). Foi utilizada
estatística descritiva (frequência simples e relativa, medidas de tendência
central e de variabilidade) para descrever o desenvolvimento motor dos bebês
participantes. Para as associações e correlações do desempenho foi utilizado o
Teste qui-quadrado de Pearson (Chi2), teste Eta2 e Correlação de Pearson. Como
critério de decisão, para o Chi2, foi considerado p≤ .05 e para o Eta2 e
Correlação de Pearson foi considerado: associações/correlações fraca valores
entre abaixo e iguais a 0.30; associações/correlações moderadas incluíram
valores entre 0.30 e 0.60; e associações/correlações fortes quando os valores
incidissem acima de 0.60. A distribuição dos dados foi investigada,
inicialmente, com o teste Shapiro-Wilk. Teste t student foi utilizado na
comparacão dos grupos e o teste U Mann-Whitney na comparação entre os sexos,
por trimestres, devida amostra reduzida. Como critério de decisão, o nível de
significância adotado foi p ≤ .05 (Callegari-Jaques, 2003).
RESULTADOS
Descrição da amostra
A amostra do presente estudo foi composta por 90 crianças, sendo 45 (50%) do
sexo masculino e 45 (50%) do sexo feminino, cuja média de idade, foi de 10.36
( ± 4.70), entre 0 a 18 meses. Nos agrupamentos por faixa etária (trimestres),
a amostra se distribuiu nas seguintes frequências: 6 bebês (6.7%) no primeiro
trimestre (0 a 3 meses), 16 bebês (17.8%) no segundo (4 a 6 meses), 16 bebês
(17.8%) no terceiro trimestre (7 a 9 meses), 16 bebês (17.8%) no quarto (10 a
12 meses), 20 bebês (22.2%) no quinto trimestre (13 a 15 meses) e 16 bebês
(17.8%) no sexto (16 a 18 meses); equivalentemente distribuídos nos grupos (GM
e GF).
Com relação às características biológicas, não foram encontradas diferenças
significativas entre os sexos, conforme demonstrado na Tabela_1, assim como se
observa padrão de normalidade para cada uma das variáveis analisadas.
Comparação do desempenho motor de meninos e meninas
Os dados referentes ao desenvolvimento motor geral das crianças, nas diferentes
posturas analisadas da AIMS, estão dispostos na Tabela_2, assim como o escore
total e percentil da amostra estudada. Ao comparar o desenvolvimento motor
entre os sexos, não foram observadas diferenças significativas (p ≤ .05) nas
posturas analisadas, nem no escore total e no percentil (pprono= .71; p supino=
.49; psentado= .71; pempé= .97; p esc.total= .76; ppercentil= .38).
A análise do desenvolvimento com base no critério de categorização de
desempenho motor, está disposta do Gráfico_1, onde se observa que grande número
das crianças analisadas apresentou desenvolvimento motor normal (73.30%). No
grupo GM, nenhum caso de atraso motor foi observado e apenas 1 criança do GF
foi classificada com atraso no desenvolvimento motor. No Gráfico_1, estão
dispostos os dados referentes a categorização da amostra de forma geral e
segundo sexo.
Foi realizada comparação do desempenho motor apresentado por meninos e meninas
nas diferentes faixas etárias (Tabela_3), embora tenha sido observada
correlação fraca do desempenho motor dos participantes com o fator idade (r=
.22; p= .04). Em cada um dos trimestres analisados, não foram encontradas
diferenças significativas em nenhuma das variáveis, como pode ser observado na
Tabela_3.
Reafirmando os resultados acima citados, de igualdade entre meninos e meninas,
a análise associativa entre o sexo da criança e o percentil da AIMS, não
revelou resultados significativos (Eta = .093; Eta2 = .008), assim como, o
tratamento estatístico não detectou associação significativa entre os sexos
masculino e feminino, com o escore total AIMS (Eta= .033; Eta2= .108). Ao
considerar o critério de classificação, também não foi detectada associação
estatisticamente significativa entre o sexo do bebê e a classificação de
desempenho motor AIMS (Chi2 = 1.634; p = .442), ou seja, esses resultados
demonstram que, na faixa etária avaliada, o sexo da criança não influenciou no
desempenho motor.
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
A análise do desempenho dos participantes demonstrou que a maioria (73,30%)
apresentou desenvolvimento motor adequado; congruente com resultados de estudos
nacionais utilizando o mesmo instrumento (Manacero & Nunes, 2008; Zanini et
al., 2002). Entretanto, contrapõem outros estudos brasileiros com crianças na
mesma faixa etária que demonstraram desempenho motor inferior ao esperado para
idade (Formiga & Linhares, 2011; Halpern et al., 2000; Lopes, Lima, &
Tudella, 2009; Saccani & Valentini, 2010; Santos et al., 2004).
A hipótese inicial desta pesquisa foi confirmada. Não foram encontradas
diferenças significativas entre o desempenho motor de meninos e meninas até os
18 meses em nenhum dos trimestres. A semelhança entre os sexos nas diferentes
posturas analisadas estão de acordo com outros estudos prévios que evidenciam
poucas diferenças no desenvolvimento motor nessa fase (Eikmann et al., 2007;
Fleuren, Smit, Stijnen, & Hartman, 2007; Lung et al., 2011; Saccani &
Valentini, 2010; WHO Multicenter Growth Reference Study & Onis, 2006). Cabe
ressaltar, que muitos estudos não contemplam, especificamente, diferentes
faixas etárias nos dois primeiros anos de vida; e/ou, não utilizaram pareamento
amostral. Estudos considerando diferentes faixas etárias e com amostras
grandes, por exemplo, Saccani e Valentini (2010), avaliaram 561 crianças
brasileiras e Fleuren et al. (2007) na Holanda, através de estudo com 100
crianças de 0 a 12 meses, utilizando o mesmo instrumento, reportaram
semelhanças no desempenho de meninos e meninas.
Ainda mais, em um estudo em larga escala, recentemente conduzido em Taiwan,
acompanhando 1620 crianças dos 6 aos 60 meses, com avaliações aos 6, 18, 36 e
60 meses não observaram associações significativas entre o sexo e o
desenvolvimento motor amplo e fino, embora os autores reportem associações
positivas e significantes entre os sexos na linguagem, aos 18, 36 e 60 meses,
assim como para os aspectos sociais aos 18 e 60 meses e motores finos, aos 36 e
60 meses (Lung et al., 2011). A Organização Mundial da Saúde, desde 2006,
demonstra a preocupação com esta linha investigativa, e reporta também
semelhança na aquisição de marcos motores de meninos e meninas de diferentes
países (Gana, Índia, Noruega e USA) até 24 meses de idade (WHO Multicenter
Growth Reference Study & Onis, 2006).
A influência do contexto e da tarefa tem sido discutida em vários modelos
teóricos de desenvolvimento (Clark & Metcalfe, 2002; Gallahue & Ozmun,
2005) e comprovada em muitos estudos pesquisando os pais e agentes
socializadores que frequentemente induzem as crianças a atividades consideradas
adequadas a meninos e meninas, considerando suas características biológicas
(Haywood & Getchell, 2010). Os estudos relacionados com as diferenças entre
os sexos apresentam resultados de grande variabilidade interindividual, mas com
uma tendência dos meninos serem mais hábeis motoramente do que as meninas.
Estas diferenças têm sido atribuídas às influências culturais que predominam na
sociedade. Meninos são incentivados as vivências motoras mais amplas, vigorosas
e expansivas; as meninas as práticas motoras restritas e sedentárias que
envolvem predominantemente motricidade fina e que podem limitar seu desempenho
motor (Haywood & Getchell, 2010; Papalia et al., 2010).
Assim, considerando a importância de iguais oportunidades de desenvolvimento,
estudos demonstraram que com o avançar da idade, as disparidades no desempenho
motor vão se acentuando, se tornando mais expressivas na puberdade (Carvalhal
& Vasconcelos-Raposo, 2007; Valentini, 2002). A diferenciação observada em
algumas habilidades ocorre principalmente porque o contexto ambiental e as
práticas propostas para cada sexo diferem entre si, de acordo com as
expectativas dos pais, dos educadores e do grupo etário do qual as crianças
pertencem. Argumenta-se que esta diferenciação é ocasionada pelo padrão
sóciocultural, onde os fatores educacionais, as perspectivas culturais e as
tarefas oportunizadas às crianças levam à distinção de papeis para meninos e
meninas (Carvalhal & Vasconcelos-Raposo, 2007). Portanto, se acredita que
na faixa etária estudada ainda não ocorra tanta diferenciação nos tipos de
atividades ofertadas, devendo esta, aumentar a partir da aquisição da locomoção
independente. Ou ainda, embora diferenciações na qualidade e tipo de
estimulação possam ter ocorrido, esta não foi suficiente para gerar diferenças
nos desempenhos motores.
As crianças nascem capacitadas para o desenvolvimento de diversas habilidades
sensório-motoras, que lhes permitem atingir controle sobre seus corpos,
movimentos e emoções (Clark & Metcalfe, 2002; Haywood & Getchell,
2010). Contudo o resultado deste controle dependerá não apenas das
características do indivíduo, mas também da qualidade de sua interação com o
ambiente e com as experiências e tarefas que são oferecidas nestes contextos
(Clark & Metcalfe, 2002; Gabbard et al., 2008).
Considerando os resultados do presente estudo e os achados contraditórios da
literatura na mesma faixa etária investigada, se reforça a importância de
estudos voltados à identificação precoce de possíveis diferenças entre os
sexos, em outras regiões do Brasil, bem como em diferentes classes sociais.
Ainda mais, considerar os fatores socioeconômicos e as praticas parentais,
assim como sua possível associação com o desenvolvimento motor se faz essência
para provar o cuidado adequado na primeira infância. Portanto, se ressalta a
importância da inserção de profissionais especializados nessa área de
intervenção e diagnóstico precoce das trajetórias de desenvolvimento.
Fica como sugestão a criação e a implantação de programas sociais que atendam
as essas questões, assim como, se percebe a necessidade de investimentos em
infraestrutura e capacitação pedagógica qualificada, que viabilizem o
diagnóstico de um maior número de crianças e o encaminhamento de crianças para
avaliações complementares quando detectado o risco ao desenvolvimento.
Treinamento de profissionais e programas educativos para os familiares, bem
como, das educadoras de escolas infantis é imprescindível para o sucesso da
identificação do risco e para as ações concomitantemente às necessidades de
desenvolvimento do bebê.