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EuPTCVHe1646-21222013000100010

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National varietyEu
Year2013
SourceScielo

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Artroplastia total invertida do ombro em doente com quisto acrómio-clavicular

INTRODUÇÃO Os quistos acromioclaviculares (AC) são entidades clínicas pouco frequentes, tendo, desde a sua descoberta por Craig em 1984, sido identificados cerca de 45 casos na literatura actual (tabela 1), estando muitas vezes associados a patologia degenerativa do ombro[1].Clinicamente a forma mais frequente de apresentação consiste no aparecimento de uma tumefacção indolor sobre a articulação AC. O aumento de tamanho progressivo, por um lado, e a mobilidade articular limitada e dolorosa, por outro, levam ao diagnóstico diferencial com lesão neoplásica[2], e rotura da rotura da coifa dos rotadores, respectivamente. Na artrografia por ressonância magnética (Artro RMN) apresentam o típico sinal de Geyser (patognómico desta patologia), mas esta técnica tem vindo a ser substituída pela RMN simples, sendo este o exame complementar ideal para o diagnóstico[3].Saber a etiologia é fundamental para a estratégia cirúrgica, podendo variar de uma simples ressecção cirúrgica do quisto, para uma ressecção cirúrgica associado a tratamento da patologia de base[4].

CASO CLÍNICO Doente do sexo masculino, de 75 anos, com quadro de omalgia direita associado à presença de tumefacção volumosa, de aparecimento progressivo, sobre a articulação acrómio-clavicular, com cerca de 1 mês e meio de evolução. Ao exame físico apresentava tumefacção volumosa, indolor e mole à palpação, não pulsátil no ombro direito (Figura_1). A mobilidade articular do ombro era bastante limitada e dolorosa, apresentando um score de Constant de 29. Ao Rx apresentava diminuição do espaço sub-acromial, com migração cefálica da cabeça umeral e evidência de omartrose (Figura_2_A). A ressonância magnética (RMN) realizada demonstrou existência de um volumoso quisto AC degenerativo (6,5cm x 2,9cm), notando-se também rotura maciça da coifa dos rotadores, com marcada degenerescência gorda, elevação da cabeça umeral e alterações degenerativas da articulação gleno-umeral, destacando-se um volumoso osteófito na margem inferior da cabeça umeral (Figura_2_B_e_C).

Figura_2

Pelas queixas e quadro clínico apresentado, procedeu-se à exérese do quisto AC, com ressecção cirúrgica da bursa sub-acromial e artroplastia total invertida do ombro direito. Durante o período intra-operatório e internamento não se verificou qualquer intercorrência, tendo o estudo anatomo-patológico confirmado o diagnóstico de quisto sinovial (Figura_3).

Ao fim de 22 meses de follow up, o doente encontra-se sem queixas álgicas e com mobilidade do ombro direito bastante satisfatória (flexão anterior 150-180º, abducção > 90º) (Figura_4), com score de Constant actual de 68, apresentando no controlo imagiológico, boa implementação da prótese, sem sinais de descelagem ou desgaste (Figura_5).

Figura_4

DISCUSSÃO

Os quistos AC são entidades clínicas raras, estando definidos, etiologicamente, 2 tipos de quistos AC. O tipo 1, menos frequente, está associado à degeneração isolada da articulação acromioclavicular. O tipo 2 encontra-se associado à rotura da coifa dos rotadores (sobretudo à avulsão do supraespinhoso) e consequente artropatia da coifa dos rotadores. A artropatia da coifa provocará uma migração cefálica do úmero e instabilidade gleno-umeral com desgaste da porção inferior da cápsula articular da AC. Posteriormente ocorrerá rotura da cápsula e migração do líquido articular gleno-umeral para o interior da articulação AC (sinal de Geyser) originando o quisto AC[5].

O tratamento dos quistos tanto pode ser conservador ou cirúrgico, dependendo a escolha dos sintomas, idade do doente e da função articular do ombro. Doentes com idade avançada, leve sintomatologia e boa função articular, o tratamento conservador, com vigilância e, posterior, aspiração do quisto, produz excelentes resultados, mesmo na presença de lesão da coifa dos rotadores[6,7].

De referir que a aspiração crónica do quisto AC encontra-se associada a uma alta taxa de recorrência, havendo referência a um caso de fistulização asséptica de quisto AC após múltiplas aspirações[8]. Em doentes com omalgia crónica e compromisso de função do ombro devem ser submetidos a tratamento cirúrgico, com excisão do quisto e tratamento da rotura da coifa[4]. Vários tratamentos cirúrgicos têm sido propostos, sendo necessário ter em conta a etiologia do quisto. Nos quistos simples ou tipo 1, a ressecção cirúrgica simples produz bons resultados[9], mas é recomendado efetuar a ressecção cirúrgica do quisto com excisão da extremidade distal da clavícula e da bursa subacromial[10-11]. Nos quistos AC tipo 2, o tratamento ideal permanece controverso. Para além da ressecção cirúrgica do quisto, o tramento a artropatia da coifa dos rotadores inclui a ressecção da clavícula distal, lavagem e desbridamento artroscópico, artrodese acromioclavicular, hemiartroplastia, artroplastia total do ombro e artroplastia total invertida do ombro[12].

Relativamente à artroplastia total invertida, Werner et al comparou doentes com artropatia da coifa que foram submetidos a artroplastia total invertida do ombro como opção primária versus os doentes que foram submetidos ao mesmo procedimento como revisão de cirurgia prévia ao ombro. Ambos os grupos apresentavam melhorias na mobilidade articular e nas queixas álgicas, mas o grupo apresentava mobilidade superior e valores maiores do score de Constant[13].

O candidato ideal para artroplastia total invertida do ombro consiste num doente com idade avançada (> 65 anos), pouco ativos com capacidade de aderirem aos programas de reabilitação, pois apesar da prótese total invertida do ombro melhorar a abducção e elevação, pode ocorrer limitações à mobilidade. Com o aumento da força e mobilidade articular do ombro, os doentes podem esperar regressar à sua atividade laboral e lúdica diária. É necessário contudo evitar pegar em objetos pesados e esforços extenuantes de forma a prevenir desgaste, descelagem e respetiva cirurgia de revisão protésica[14].

CONCLUSÃO Os quistos acromio-claviculares constituem complicações raras de roturas completas da coifa dos rotadores, ocorrendo geralmente em paciente idosos, não sendo de esquecer que o quisto AC deve ser um diagnóstico de exclusão, sendo necessário efectuar o diagnóstico diferencial de malignidade, fractura, artrite inflamatória, infecção e aneurisma da artéria subclávia. No caso clínico apresentado, verificava-se presença de artropatia da coifa dos rotadores bastante avançada, com limitação marcada da mobilidade articular decidiu-se pela artroplastia total invertida do ombro, tendo o doente apresentado melhorias significativas da mobilidade e ausência de queixas álgicas, encontrando-se muito satisfeito com a cirurgia efectuada, após 22 meses de follow up.


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